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Centro de Artes
Curso de bacharelado em música - violão
Vasco-Jean L. L. G. Azevedo
Pelotas, 2019
O bandolim é um instrumento da família dos cordofones e sua história nos
remonta há vários séculos atrás, sendo descendente do Alaúde, que por sua vez tem
suas raízes históricas no Rabât Arábe, bem como na Mandora Medieval e Renascentista.
Foi entre os séculos XVI e XVII, provindo de uma adaptação na construção do Alaúde que
o instrumentou toma uma estrutura física mais parecida com a que possui nos dias atuais.
Durante este período é possível observar sua inserção no repertório da música de câmara
europeia, como fez Vivaldi em seu Concerto RV 425 II em dó maior para “mandolino”. 1.
Nesta época o instrumento ainda possuía formato abaulado, similar ao alaúde, mas já
apresentava número de cordas e afinação similar a utilizada nos tempos atuais, com 4
pares de cordas afinadas em quintas, executado com o uso de palhetas.
A popularização do “mandolino” o levou a diversos lugares da Europa o que fez
com que a sua forma de construção se diversificasse, levando portanto ao
desenvolvimento de diversos instrumentosc om características parecidas mas com
algumas especificidades e diferenças, como a Guitarra portuguesa e a Mandola. Em
Portugal o instrumento sofre uma série de alterações em sua caixa, onde teria perdido o
seu formato abaulado (similar á forma de construição do bandolim moderno) originando a
guitarra portuguesa, instrumento muito utilizado na execução do repertório da música
típica do país como as modinhas, fados e outros ritmos.
A vinda da família real portuguesa em 1808 para o Brasil, trouxe também os
instrumentos musicais mais utilizados na Europa bem como o repertório das danças de
salão composto por Valsas, Mazurcas, Schottisches e Polcas. Esse repertório das danças
europeias teria sido o elemento chave para a construção da linguagem do Choro
Brasileiro, onde os músicos populares da época, em sua grande parte sem formação
musical formal, se apropriaram desse repertório e o adaptaram às suas práticas musicais
fortemente influenciadas pela música de matriz africana (como o jongo e o lundu) de
caráter mais rítmico, sincopado e lascivo.
Não se sabe ao certo, porém, quando o bandolim teria sido utilizado primeiramente
na prática do choro, que tinha por formação “original” cavaquinho, violão e instrumentos
de sopro, mas é notável a popularidade que o instrumento teve no Brasil a partir da
segunda metade do século XIX, como vemos em Duarte (2010):
“Considerando no entanto que a grande moda do instrumento no Brasil teria se
iniciado pelo menos por volta de 1893, é bem possível que o seu encontro com o
novo gênero musical (o choro) que então começava adelinear-se tenha sido antes
do início do século. Presumimos também que autilização do instrumento entre os
chorões tenha ocorrido por influência dos salões cariocas. Assim como a polca e
Com o fim de seus dois grupos Luperce então cria o Regional Luperce Miranda,
com o qual atuou na Rádio Clube Brasil e gravou ao lado de músicos como Carmen
Miranda, Almirante e Noel Rosa. Em 1932 parte em turnê com Carmen Miranda à
Argentina onde tiveram bastante sucesso de público.
Após o fim de seu regional, Luperce Cria o grupo Alma do Norte ao lado de Catulo
da Paixão Cearense porém não tiveram uma atuação e relevância tão intensa quanto os
conjuntos anteriores. Por volta de 1940 o músico já tinha uma carreira extremamente
consolidada no Rio de Janeiro e participava de inúmeros programas de Rádio, como na
rádio Mayrink Veiga” em seu programa Cazé. A partir desta emissora, nos anos de 1943
e 1944, Luperce integra o conjunto “Quarteto Brasil” ao lado do músico Zé menezes onde
executavam arranjos de amplo desenvolvimento técnico. Durante este período Luperce
teria tido contato próximo com diversos “chorões” influentes da época como Pixinguinha,
Luiz Americano, Tute, Benedito Lacerda dentre outros.
Com o fim de seu casamento em 1947 e outros problemas pessoais, Luperce
Retorna à Recife onde permanece alguns anos com uma atuação musical menos
expressiva. Alguns anos depois se casa novamente e decide retornar à cidade de Rio de
Janeiro para retomar sua ampla atividade musical. Porém ao chegar á cidade já não
possuiria mais a mesma visibilidade anterior. Durante este período Jacob do Bandolim
estaria em um momento de ampla produção e teria de certa forma “ocupado” a posição de
renome que o músico tinha anteriormente. Neste mesmo período há transformações na
dinâmica econômica do país, agora com o desenvolvimento da televisão sob maior
influência da cultura musical internacional que aos poucos foi substituindo o rádio e
deixando o choro num momento de menor visibilidade.
Esses fatores dificultam a atuação de Luperce na cena local o que o leva a criar
uma Academia de Música, apesar do músico não possuir formação musical formal, onde
atuou por diversos anos enquanto professor e contribuiu na formação de diversos
músicos da época. Em 1977 grava o seu último disco, “Luperce Miranda Interpreta
Luperce Miranda”, no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. No mesmo ano, em
5 abril de 1977, sobre um ataque cardíaco e falece.
Luperce influenciou uma série de músicos como o próprio Jacob do bandolim, que,
como afirma Barreto (2006) “quando estava iniciando no bandolim, veio a acompanhar e
mesmo substituir Luperce que nesse período já era bastante conhecido no meio musical.”
O próprio Jacob afirmara em seu depoimento ao MIS a influência que Luperce teria
exercido sobre ele
Por que eu só tocava música de Benedito Lacerda e de Luperce Miranda, não
tocava mais, por que ele sempre foi pra mim um paradigma dos bandolinistas, como
é até hoje, invejo-lhe a agilidade até hoje, o conhecimento que ele tem do bandolim.
[...] E continuei a aprender as músicas dele pelo rádio, pelo rádio, tocava um
disquinho Luperce Miranda eu “pá”, “to” aprendendo e comecei até que chegou o
ponto, de 32 eu na rádio Guanabara começar a usar o repertório dele, sucede que
por uma questão de formação pessoal aquelas músicas de que exigiam maior
interpretação, diz ou dizem aqueles que me ouviam, que eu conseguia dar maior
sentimento, conseguia dar mais requinte, mais aprimoramento...” (Barreto (2008)
apud Jacob do Bandolim 1967)
3 Disponível em https://youtu.be/FOSvxYHQH8E?t=445
4 Disponível em https://youtu.be/kDhKumPb1rk Acesso 26/11
como já mencionado anteriormente, e presente ao longo de todas as partes de sua
execução neste tema.
Já na gravação no disco primas e bordões de 1962 5, é perceptível o uso que Jacob
faz em sua melodia uma rítmica mais fluida, com o uso constante de antecipações e
retardos, bem como o uso recorrente das mais diversas formas de ornamentação
possíveis no instrumento. Vemos que Jacob apresenta de fato um timbre mais aveludado,
e parece deixar soar mais cada nota individualmente se comparada à execução de
Luperce.
Essas diferenças interpretativas teriam inclusive criado desavenças entre os
músicos, já que Jacob afirmou (em seu depoimento ao MIS) que Luperce o havia proibido
de regravar as suas composições devido as séries de alterações rítmicas, ornamentações
e variações que Jacob utilizava em sua interpretação.
Apesar das diferentes formas interpretativas adotadas pelos instrumentistas, é
notável a influência que Luperce exerceu sobre Jacob do Bandolim, que, como afirmou o
último, estudara ao longo de sua formação diversos choros compostos pelo
pernambucano. Por mais que de fato Jacob tenha um tratamento mais especial e delicado
em sua interpretação, e notório que sem a prática de Luperce o repertório e os
idiomatismos do bandolim não teriam se estabelecidos com o mesmo vigor já na primeira
metade do século XX.
É importante destacar a importância que Luperce tem por introduzir ritmos
nordestinos que antes eram pouco gravados pela indústria fonográfica, gêneros como os
cocos, frevo, emboladas, batucadas e sambas nordestinos. Vale destacar também a
inserção desse “sotaque” nordestino no vasto repertório de choros compostos por
Luperce. Outro elemento que merece destaque é a inserção que os conjuntos de Luperce
fizeram de instrumentos de percussão em suas gravações, com o uso do pandeiro e do
surdo em alguns registros, fato inovador para os registros da época.
Luperce Miranda se apresentou e gravou com os mais influentes músicos de sua
época, deixando cerca de 900 gravações e cerca de 500 composições originais. Sua
atuação enquanto instrumentista contribuiu enormemente para a fixação do bandolim na
produção fonográfica brasileira, além de ter sido o primeiro instrumentista a dar
visibilidade ao instrumento dentro do choro, contribuindo enormemente, portanto, para a
construção da linguagem idiomática do instrumento dentro do gênero e abrindo caminho
para que outros músicos, como Jacob do Bandolim, desenvolvessem ainda mais a técnica
e ampliassem o repertório associado ao bandolim.
MCDonald, Graham. The Mandolim: A history. Independent Publishing Group, EUA, 2016
Links Adicionais
https://www.britannica.com/art/mandolin
https://www.britannica.com/art/mandora