Vous êtes sur la page 1sur 6

Curso: Licenciatura em Letras Português/Espanhol

Disciplina: História da Língua Portuguesa I

AULA 1

AS RAÍZES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Conteúdo da Aula:

Caros (as) alunos (as),

Os objetivos desta unidade são:

 Compreender os processos evolutivos das línguas, reconhecendo a


importância dos estudos diacrônicos para o entendimento da situação
linguística atual.
 Evidenciar os principais fatos sócio
sócio-histórico-culturais
culturais que contribuíram
para a formação das línguas românicas, entre elas, o português.

Para isso,, é fundamental que entendamos dois conceitos que serão basilares
para o desenvolvimento da nossa disciplina: mudança linguística e variação
linguística. O conceito de variação linguística talvez já tenha sido abordado no
primeiro semestre de curso, porém, imaginamos que o conceito de mudança
linguística seja algo ainda não estudado. Ao longo desta
a aula (e desta unidade)
aprofundaremos a relação e a diferença entre esses conceitos... mas, antes disso,
discutiremos a origem da língua portuguesa.
Quando nos perguntam a origem da língua portuguesa, logo respondemos que
ela veio do latim. Mas, enquanto professores de língua, essa resposta não basta. É
necessário ir além, ir mais longe nessa linha cronológica, até chegarmos ao
indoeuropeu, entendendo que em todo esse processo sempre se fizeram presentes
a variação linguística e a mudança.
A primeira teoria de origem das lílínguas
nguas é chamada de teoria monogenética
monogené ou
monogenista, segundo a qual todas as línguas se originaram do hebraico. Castilho,
no texto 1 desta unidade, trata dessa questão, afirmando que essa crença tem
origem na
a passagem bíblica da Torre de Babel. Contudo, essa teoria é refutada
pelos estudiosos de linguística histórica
histórica,, uma vez que a estrutura de certas línguas é
tão diferente que não podem ter a mesma origem.
A linguística histórica tem seus primeiros estudos com William Jones (1746-
(1746
1794),, cidadão inglês que exercia a função de juiz em Calcutá e que iniciou a
comparação entre o sânscrito,
nscrito, o latim e o grego
grego.. Segundo ele, “Nenhum filólogo
poderá, após ter examina
examinado estes três idiomas, eximir-se
se a reconhecer serem
derivados de uma qualquer fonte comum, que possivelmente já não existe”.
(FARACO, 2005, p. 132)
132).. A partir daí, os métodos de comparação entre as línguas
foram sendo refinados pelos linguistas históricos1.
Eles desenvolveram o método histórico
histórico-comparativo,
comparativo, por meio do qual foi
possível perceber a existência de várias famílias linguísticas, não apenas uma, como
explica a teoria monogenética. Castilho apresenta 21 famílias linguísticas, entre as
quais, ganha grande destaque a família linguística a que pertence a língua
portuguesa: a família do indoeuropeu ((também chamado indo-germânico
germânico ou ariano).
ariano)
Os povos indoeuropeus se deslocaram do norte do Mar Negro em direção às
planíciesdo Danúbio, entre 4000 e 3500 a
antes
ntes de Cristo. Desse modo, alguns deles
se concentraram no centro da Itáli
Itália,
a, onde se desenvolveu o latim por volta de 700
a.C. Se lermos atentamente o resumo da história da nossa língua, apresentado por
Castilho em um quadro na página 4 de seu texto, vere
veremos
mos que duas palavras
figuram entre as mais importantes nesse processo, são elas: migrações e
dominações.
Nós devemos ter em mente que, durante todo esse processo, estiveram
presentes distintas forças sociais relativas à língua. Bagno ((2014) divide essas
forças sociais em dois grupos: as centrípetas e as centrífugas. É só associarmos
com os estudos de física e perceberemos que as forças centrífugas agem de modo
que a língua se afaste cada vez mais do que é para se tornar o que será; já as
centrípetas buscam manter a língua na maior estabilidade e imutabilidade possível.
As principais forças centrífugas são a variação linguística e o contato
linguístico. Tendo isso em vista, podemos associar com a história do indoeuropeu (e,
mais tarde, com a do próp
próprio
rio latim, em todo o processo de formação do Império
Romano), entre as migrações e as dominações de outros povos houve muito contato
linguístico, de modo que, obviamente
obviamente, as línguas sofriam influências. Pensando em

1
Para quem se interessar em saber mais sobre a linguística histórica, há, no material complementar
da disciplina, o texto 4 que trata justamente do desenvolvimento dessa área da linguística.
nossa situação linguística atual, podemos associar esse fenômeno ao português de
fronteira, que, em muitos lugares, sofre influê
influência
ncia do espanhol, contudo, também
influencia o espanhol falado pelos países que fazem divisa com o Brasil.
Nesse sentido, podemos nos lembrar dos conceitos de substrato
substrato, superstrato
e adstrato apresentados pelo livro didático na unidade 1. Para aprofundar essa
questão, sugerimos a leitura do texto 3 desta unidade. Lá há vários exemplos
bastante curiosos de palavras que usamos cotidianamente e, muitas vezes, não têm
origem
m românica. Um exemplo bastante curioso é a origem de muitas palavras que
começam com al- no português, como alicate, algarismo, alecrim, álgebra. Esse
início da palavra não é coincidência, é que al
al- é um artigo no árabe, de modo que,
por desconhecimento, acabou sendo incorporado às palavras quando foram
apropriadas. Na página 6 do texto 3, está a explicação do porquê o árabe é um
adstrato do português...
Mas, voltemos, às forças sociais. Já tratamos do contato linguístico que é
uma força centrífuga. O out
outro
ro exemplo seria a própria variação linguística. Já
sabemos que toda língua é um conjunto heterogêneo de variedades (até a norma
culta é uma variedade linguística). A variedade que usamos em casa geralmente se
difere da variedade usada em uma entrevista de emprego. Segundo Faraco (2008),

[...] não existe língua para além ou acima do conjunto das suas
variedades constitutivas, nem existe a língua de um lado e a variação
do outro, como muitas vezes se acredita no senso comum:
empiricamente a língua é o próprio conjunto das variedades. Trata
Trata-
se, portanto, de uma realidade intrinsecamente heterogênea.
heterogênea
(FARACO, 2008, p.31p.31, grifos nossos).

Entre os muitos tipos de variação, há a variação diatópica, que é a variação


regional, como nos exemplos jerimum e abóbora (no vídeo da última unidade, há
muitos exemplos); a variação diafásica, que varia de acordo com o contexto; e a
variação diastrática, que é a variação entre grupos sociais distintos, em muito
influenciada pelo nível de escolarização – obviamente, é a que mais carrega
estigma. Não vamos nos
os aprofundar nessas nomenclaturas: o mais importante é
saber que elas são percebidas sincronicamente2. Já a variação histórica, que
chamaremos de mudança linguística, é percebida diacronicamente3.

2
Sincronia se refere ao estudo da língua em um momento específico.
3
Diacronia se refere ao estudo da língua através do tempo.
Para entendermos e exemplificarmos mudança linguística, p
podemos retomar
o texto “Lenda
Lenda do Rei Lear”, disponível na página 12 do livro didático. A primeira
oração dele (Este rreyLeyrnomouue filho), se “traduzida” para o português atual,
seria “Este rei Lear não teve filho”
filho”.. Outro exemplo seria a própria mudança que
q
resultou na palavra “você” a partir de “Vossa Mercê”. Sobre a palavra “você”,
podemos pensar em variação também, pois, muitas vezes, em função de sujeito,
apenas falamos “Cê”.
Já vimos que variação é sincrônica e mudança é diacrônica, mas qual seria a
relação entre elas? De acordo com Faraco (2005, p.23), ““nem
nem toda variação implica
mudança, mas toda mudança pressupõe variação”
variação”.. Explicando: toda mudança um
dia foi apenas variação, porém, com o tempo, acaba sendo tão usada que é
incorporada à escrita for
formal...
mal... assim, deixa de ser variação e se consolida. Porém,
nem toda variação tem essa “força” para se consolidar. Vamos exemplificar para
ficar mais claro.
Sabemos que a norma culta exige que não comecemos nenhuma oração com
pronome oblíquo átono, recomen
recomendando o uso de “Alcance-me”
me” e não de “Me
alcance”. Contudo, se prestarmos atenção, até os mais escolarizados e, às vezes,
em situações formais, já iniciam as frases com o pronome oblíquo... com o tempo, e
com o uso na escrita formal, pode ser que seja inco
incorporado
rporado à norma culta do
português brasileiro, tornando
tornando-se
se uma mudança consolidada. Por enquanto, é
apenas uma mudança em progresso (para entender as etapas de consolidação de
uma mudança, é só consultar a página 26 do texto 2 desta unidade).
Outro exemplo
o seria a palavra “poblema”. Se prestarmos atenção, ela é falada
por muitos brasileiros em situações informais, contudo, carrega muito estigma social,
assim, é uma variação que possivelmente ficará restrita a certos grupos sociais e
contextos, e não passará
á a ser mudança.
É importante entendermos isso para compreendermos que o latim era uma
língua muito variada. Há no nosso livro e no texto de Castilho a explicação das
variedades do latim. Mas o mais importante para nós, agora, é entendermos que o
latim, assim como qualquer outra língua, possuía variações de lugar para lugar (e o
Império era enorme, sem os meios de comuni
comunicação
cação que temos hoje, os quais,
queiramos ou não, garantem certa unidade), variação entre gerações e variações
entre estratos sociais dif
diferentes (e lembrem-se
se de que a escolarização era
baixíssima).
Nesse contexto extremamente variado, surgem os romances, que darão
origem às línguas românicas. Sobre isso, duas observações:
- Os romances só surgem quando o Império Romano perde força, porque,
porqu
enquanto um Estado é forte
forte, suas forças centrípetas também são. Vamos explicar:
as forças centrípetas são contrárias à variação e, portanto, à mudança. Entre os
mecanismos dessa força, Bagno (2014) destaca a escola, a tradição literária, as
instituições religiosas, as academias de língua e os meios de comunicação. Segundo
ele, as “Mudanças na língua ocorrem primeiro, e em ritmo mais acelerado, nas
comunidades menos sujeitas à pressão das instituições” (BAGNO, 2014, p. 77)
77). Ou
seja, não é por acaso que a queda do Império Romano coincide com o surgimento
das diferentes línguas românicas.
- A outra observação é bastante importante: não podemos nos esquecer de
que as línguas românicas não têm origem no latim clássico, mas, sim, no latim
vulgar, a língua falada pela maioria da população, que não tinha acesso à
escolarização4. Para que isso fique bem claro, é só prestarmos atenção nos
exemplos da página 24 do livro didático. Em latim clássico, temos ““Equus magnas
ores habet” – frase de difícil compreensão; já em
m latim vulgar a frase é
“Caballushabet
Caballushabet grandes auriculas.
auriculas.”” Só com essas frases, já podemos comprovar a
grande proximidade do português com o latim vulgar. Vale lembrar que o latim era
uma língua de caso, ou seja, a função sintática da palavra era marcada
marc por meio de
terminações específicas distribuídas em várias declinações. Já no português (e nas
demais línguas românicas), essas funções são marcadas pela ordem dos termos,
termos
geralmente, na ordem Sujeito/Verbo/Complemento
Sujeito/Verbo/Complemento.

Esperamos que esta aula tenha ajudado a estabelecer relações entre a


Unidade 1 e os textos complementares da disciplina, bem como auxiliado na
resolução das atividades propostas.

Bons estudos!

4
É importante esclarecer que o latim vulgar – assim como a norma popular da língua portuguesa –
era alvo de correção por parte dos puristas. Havia até um documento, chamado “AppendixProbi”, que
listava as formas incorretas usadas no latim vulgar, numa espécie de “[diga] X não Y”. Alguns
exemplos: umbilicus non imbilicus
bilicus(desde aquela época havia a forma umbigo x imbigo),
imbigo formica non
furmica (vejam que a troca do o pelo u na oralidade ainda é comum no português – dormir x durmir,
formiga x furmiga), e flagellum non fragellum (a troca do l pelo r também é comum no português
po –
balde x barde). Vamos entender um pouco melhor essas alterações na aula da próxima unidade.
Referências:

BAGNO, M. Língua, Linguagem, Linguística: pondo os pingos nos ii. São Paulo:
Parábola, 2014.
CASTILHO, Ataliba T. Como as línguas nascem e morrem? O que são famílias
linguísticas? 2005. Disponível em: http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp
eudalinguaportuguesa.org.br/wp-
content/uploads/2017/09/Como
content/uploads/2017/09/Como-as-linguas-nascem-e-morrem.pdf
morrem.pdf

FARACO, Carlos Alberto.


Alberto.Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da
história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

FARACO, Carlos Alberto. Norma Culta Brasileira: desatando alguns nós. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.

Vous aimerez peut-être aussi