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CURADORIA PEDAGOGIAS DECOLONIAIS


30/04/2020 – COSMOLOGIAS OUTRAS
TEXTOS
 Isabelle Stengers – Reativar o animismo ([2012] 2017)
 Renato Sztutman – Reativar a feitiçaria e outras receitas de resistência – pensando
com Isabelle Stengers (2018)

Vou resumi-los sem distinção de um ou outro.

Quem é Isabelle Stengers?


Belga, é formada em Química, escreveu com o Prêmio Nobel Ilya Prigogine sobre teoria do caos.
Mais recentemente Stengers vem evocando palavras como feitiçaria e magia em seus textos,
dizendo que são questões que devem ser recuperadas pela ciência. Como exemplo, ela explica
que a psicanálise, menos que revolucionária, foi domesticadora da sobreposição entre hipnose,
magia e questões psíquicas, muito amalgamadas na compreensão de fenômenos no século XIX
(como a série Freud, da Netflix, mostra muito bem – ao menos isso é bom na série). Só
renunciando a hipnose a psicanálise pode se assumir como ciência (eu poderia dizer um milhão
de coisas contra isso, mas enfim...), assim como a química teve que fazer o mesmo com a
alquimia.
Nessa aproximação com os temas da magia, Stengers se aproximou de grupos de feministas,
como é o caso da escritora estadunidense Starhawk (nascida Miriam Simos, ativista neopagã e
ecofeminista, autodenominada bruxa wicca. Seu feminismo prega interconexão com a
epsiritualidade
Livros de Stengers traduzidos no Brasil:
 A Nova Aliança: a metamorfose da ciência, em coautoria com Ilya Prigogine, Brasília,
Editora Universidade de Brasília, 1997.
 Quem tem medo da ciência?: ciência e poderes, São Paulo, Siciliano, 1990.
 O coração e a razão: a hipnose de Lavoisier a Lacan, em coautoria com Leon Chertok,
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990.
 O Fim das Certezas: tempo, caos e as leis da Natureza, em coautoria com Ilya
Prigogine, Editora UNESP, 2011
 A invenção das Ciências Modernas, São Paulo, Editora 34, 2002.
 No Tempo das Catástrofes, São Paulo, Cosac Naify, Coleção EXIT, 2015.

Quem é Renato Sztutman?


Professor do Departamento de Antropologia da USP, pesquisador do Centro de Estudos
Ameríndios (CEstA) e do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA). Foi um dos
fundadores e coeditou, entre 1997 e 2007, a revista Sexta-Feira. Suas áreas de atuação são
etnologia e história indígena (com foco no problema das cosmopolíticas ameríndias), teoria
antropológica e antropologia e cinema. Seu projeto de pesquisa mais atual chama-se “O contra-
Estado indígena e a proposta cosmopolítica: diálogos entre a filosofia política da etnologia
indígena e dos estudos de ciência e tecnologia”, que parece ecoar o livro de Pierre Clastres sobre
a “sociedade contra o Estado”, que imagina uma cosmologia indígena que vê no estado não uma
instituição, mas uma força, um perigo de anulação dos possíveis e da multiplicidade.

Stengers e Sztuzman são deleuzianos. A primeira com Prigogine utilizou o filósofo francês como
fonte de explicação do universo como um sistema aberto. Ambos parecem referenciar a ideia
de uma ciência nômade de Deleuze, que leu Castres – , que com Guattari escrevem em Mil Platôs
um capítulo sobre a “máquina de guerra”, um contra-Estado do pensamento, trazendo a
pol´tiica para fora do campo da coerção, da representação e da unificação. Cosmopolítica é um
temro de Stengers – fazer o cosmos, o que não é reconhecidamente político, o mundo dos não
humanos e das indeterminações insistir sobre política ; fazer com que a construção do mundo e
do que chamamos de natureza – isto é o trabalho mesmo das ciência –sejam incluídos numa
pauta de luta política.
Aliás, muitos dizem que o pensamento nômade de Deleuze seria uma referência ao pensamento
indígena – porque ele leu Clastres.

VOU SER BEM SUCINTO...


Stengers fala sobre animismo (que tradicionalmente é visto como um estágio primitivo de
religião, em que se acredita que todas as coisas, orgânicas ou inorgânicas, têm vida, alma e
intencionalidade). Para isso parte do sistema de classificações das ciências – que eu preferiria
chamar de moderno-colonial, porque é próprio de uma episteme que vai para além das ciências:
existir o enunciado animismo já é em si um ato de categorização e classificação , que o põe no
passado, a partir da operação de conceitos filosóficos que justificam dualismo e divisão para
justificar a colonização por meio da qual uns se sentem livres para estudar e categorizar outros.
Sendo cientista, ela estaria do lado que caracteriza os “outros” como animistas. Um mundo dos
cientistas, marcado por uma narrativa épica: nós, os cientistas, somos aqueles que aceitam a
difícil verdade de que estamos sozinhos em um mundo mudo, cego, mas cognoscível, do qual
teríamos a tarefa de nos apropriar.
Como então o animismo pode se tornar não um objeto a ser conhecido, mas um objeto de
conhecimento?
Em primeiro lugar, ela parte do pressuposto que escrever, fazer filosofia, é uma forma de
animismo textual. A atividade de escrever (e não de anotar) é marcada pelo mesmo tipo de
indeterminação crucial que caracteriza a dança da lua que “realmente” nos ilumina . escrever é
uma experiência de transformação metafórica! Escrever nos faz sentir que as ideias não são do
autor, mas que exigem uma espécie de contorção cerebral, e, portanto, corporal, que frustra
intenções pré formadas.
Em segundo lugar, ela cita o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro (mais um
deleuziano), no que tange à sua defesa da “descolonização do pensamento” – a tentativa de
resistir a um poder colonizador que faz com que não possamos levar a sério senhorinhas que
dizem conversar com gatos, mas que faz com que o “mundo desencantado pela ciência” seja
apresentado como a grande narrativa época. A Ciência, para ela, é descrita como uma conquista
generalizada propensa a traduzir tudo o que existe em conhecimento racional e objetivo. Em
nome dela, julgamentos foram feitos à vida de outros povos, e esse julgamento também afetou
as relações daqueles dos povos que produziram esse enunciado.
Grosso modo, ela diz que a Ciência alega, baseada numa suposta objetividade que no fundo é
um acordo muito singular entre parceiros, que há um “natural” da qual tudo a Ciência se
encarregará de explicar. “Sobrenatural” seria então o que desastrosamente possa a vir a desafiar
tais explicações – ao que se inclui o animismo.
Magia é uma outra delas. Falamos de magia livremente, em sentidos metafóricos: a magia da
paisagem , de uma música... ela exige que nos privemos da proteção da metáfora. A magia
ultrapassa qualquer versão da narrativa épica da ciência. A magia, além disso, tem a conotação
do ilusionismo, fazer com que aceitemos o que sabemos ser impossível. E por isso a magia é a
arte da participação.
A magia pode atrair, sugerir, iludir, capturar, hipnotizar – tudo que atrai ou anima também pode
escravizar. E é por isso que ela entente que o capitalismo não eliminou a magia, mas forneceu
para si a exclusividade da feitiçaria (o que é bastante associável à ideia de “fetichismo da
mercadoria”, de Marx – o capitalismo que exibe um produto na vitrine que faz sumir os
trabalhadores e sua força explorada, além da extração da natureza, por trás de sua produção; o
capitalismo é um mestre de produzir ilusões, fazendo com que coisas tomem o lugar de pessoas.
Haveria então uma feitiçaria do capitalismo que se exerce contra todas as outras feitiçarioas
e feiticeiras/os. O capitalismo capturou toda a feitiçaria existente no mundo, tornando-se um
“sistema feiticeiro sem feiticeiros”.
Stengers nos fala então de um sentido de magia/feitiçaria que “tira a força” das pessoas – e que
por isso exigiria a intervenção de um outro mago especial. Esse seria o feitiço do capitalismo:
sua capacidade de seduzir, mostrar-se indestrutível, mas ao mesmo tempo nos tornar É preciso
desenfeitiçar, e é aí que ela passa a reclamar (no sentido de pedir para se ativarem) as conexões
com práticas tidas como marginais, que reativem aspectos experimentais, especulativos e
criativos e combativos que foram tolhidos das ciências modernas. Isso inclui o que foi chamado
de magia e de feitiço.

Reflexões do Leo:
 lembrando que feitiçaria e hechizaría, vem de feito e hecho – literalmente é o ato de se
fazer alguma coisa, sendo o feiticeiro quem o faz
 não à toa, em português e nas religiões de matriz africana, utilizamos o termo “trabalho
feito” (contra ou a favor de algo ou alguém).
 O capitalismo é um trabalho feito contra nós – para nos seduzir. E que nos obriga a fazer
algo, trabalhar, não para nosso próprio bem-estar, mas para o bem-estar de outros.
 O trabalho e o negócio (que vem a ser a negação do ócio, aliás), são o ato de fazer
alguma coisa nesse contexto da produção capitalista (e na física, trabalho, tau, é o
desprendimento de força para o deslocamento da matéria). Algo que é feito, mas que
se faz, encobrindo-se
 Na arquitetura tal trabalho que ao ser feito, encobre-se, tem representação literal no
ato do pedreiro que ao fazer algo na obra, está ao mesmo tempo escondendo todas as
marcas do que ele mesmo fez (tijolos, canos, vergalhões e conduítes por trás de
acabamentos), como já nos dizia Sérgio Ferro.
 Seria o cornonavírus o feitiço da floresta para nos desencantar do feitiço do capitalismo?

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