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EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA - EaD
Mariana Pícaro Cerigatto
A evolução tecnológica
e a educação a
distância no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Ao longo dos anos, diferentes tecnologias e linguagens sustentaram
modelos de sociedade diversos. A educação a distância (EaD), modalidade
marcada por processos de ensino e aprendizagem realizados por meio das
tecnologias de informação e comunicação (TICs), tem evoluído conforme
progridem as tecnologias vigentes. Atualmente, têm sido priorizadas as
tecnologias digitais, em rede e colaborativas.
Neste capítulo, você vai ver como cada fase da educação a distância se
constituiu conforme as tecnologias “dominantes” de cada época. Também
vai ver como cada tecnologia influenciou o modo de ensinar e aprender.
Além disso, você vai conhecer os principais marcos da consolidação da
EaD no Brasil. Por fim, vai acompanhar uma discussão sobre os sentidos
de distância e presença, verificando como as tecnologias usadas para
mediar o conhecimento podem reforçar alguns desses sentidos.
ensino superior. A EaD passou por fases diferentes, de acordo com as tecno-
logias vigentes em cada época. Além disso, evoluiu conforme as necessidades
de atender a determinado perfil de estudante e as habilidades necessárias para
o ambiente digital, para o ambiente de trabalho, etc.
Hoje, os ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) utilizados nos sistemas
EaD voltam-se cada vez mais para desencadear a autonomia dos estudantes
no processo de ensino e aprendizagem. A ideia é que os AVAs contribuam
para desenvolver competências voltadas para o atual mercado de trabalho.
Como você sabe, o mercado preza, cada vez mais, por um trabalhador mais
informado, que saiba atuar de forma autônoma, tenha competências múltiplas,
saiba trabalhar em equipe e consiga adaptar-se facilmente a situações novas
(BELLONI, 1999). Com as mudanças socioeconômicas e tecnológicas a todo
vapor, o estudante tende a valorizar uma educação voltada para a sua formação
contínua, tendo a EaD como grande aliada.
Assim, a evolução da EaD resulta de mudanças significativas na própria
concepção da educação e no entendimento de como ela pode e deve ser (re)
organizada. Uma característica fundamental da EaD contemporânea, que
marca seu atual estágio de evolução, é a inclusão cada vez maior de um rol de
mídias, conteúdos e dispositivos em seus processos de ensino e aprendizagem:
games educativos, dispositivos móveis, televisão digital, etc. Tais dispositivos
atribuem novos valores ao ensino e ao aprendizado. Um aspecto importante
desse cenário é que os ambientes virtuais de aprendizagem estão cada vez mais
acessíveis e portáteis, reforçando a importância da EaD para a aprendizagem
contínua ao longo da vida.
É importante você notar que, apesar de essa modalidade estar em bastante
evidência nos dias de hoje, a educação a distância já é uma forma de ensino
e aprendizagem bastante antiga, mas que foi adquirindo características dife-
rentes ao longo do tempo. Belloni (1999) apresenta três gerações de modelos
diferentes de EaD, que você vai ver a seguir.
Primeira geração
Refere-se à educação a distância por correspondência, muito comum no final
do século XIX. Essa modalidade ganhou força com o desenvolvimento dos
serviços postais e a massificação dos suportes impressos. O aluno trocava
material impresso com o docente por meio do correio tradicional. Nessa
fase pioneira, a interação entre o professor e o aluno era lenta e limitada, e
o processo de educação era individual. Você pode tomar como exemplo os
primeiros cursos a distância realizados pelo Instituto Universal Brasileiro por
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 3
Segunda geração
Nos anos 1960, junto à expansão dos meios de comunicação audiovisuais,
surge a modalidade EaD que recorre a multimeios a distância. Essa modalidade
integra o uso do impresso aos meios de comunicação audiovisuais (antena
ou cassete) e, em certa medida, aos computadores. Belloni (1999) indica que
esse modelo se baseou em percepções behavioristas e industrialistas típicas
da época, produzindo um esquema de comunicação ainda unidirecional, com
pouca interatividade — limitada à troca de documentos escritos ou a chamadas
telefônicas. O processo de aprendizagem era ainda bastante individual.
A concepção da segunda fase se delimita por “pacotes” de conteúdos
instrucionais e público de massa, integrados às inovações tecnológicas de
comunicação e informação da época. As universidades, a partir da década de
1970, começaram a oferecer seus cursos em materiais impressos, combinando-
-os com meios audiovisuais de massa, como rádio e TV, ou conteúdos gravados
(fitas cassetes de áudio ou vídeo) como materiais de apoio (BELLONI, 1999).
4 A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil
Nessa fase da EaD, marcada por tecnologias como rádio, televisão e fitas
cassetes, os alunos ainda eram vistos como uma grande “massa”. Os conteúdos
eram produzidos de forma massiva e a comunicação era “de cima para baixo”,
com pouca interatividade e escassa participação dos estudantes. Por outro
lado, como você pode imaginar, o ensino ganhou mais dinamicidade com a
linguagem audiovisual. Além disso, os conteúdos se tornaram mais atrativos.
Contudo, a produção ainda era detida por grandes indústrias de informação e
comunicação. Assim, o professor não contribuía na elaboração dos conteúdos.
Terceira geração
Com a disseminação das tecnologias digitais, a EaD ganhou bastante im-
pulso a partir de 1985. A partir daí, aluno e docente pasaram a se conectar
especialmente por uma rede de computadores com acesso à internet. Assim,
se inicia a utilização de sistemas de comunicação bidirecionais, síncronos e
assíncronos. Nessa fase, a EaD começa a utilizar a multimídia interativa, além
de algumas ferramentas como correio eletrônico, fórum e chat. O processo de
aprendizagem ganha uma dimensão mais social.
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Fase atual
A fase atual — ou a quinta geração, conforme indicam Moore e Kearsley
(2007) — começa nos anos 2000. Nesse período, o uso da internet ganha
cada vez mais relevância na EaD, assim como as atividades em rede. Moore
e Kearsley (2007) destacam ainda a realização das videoconferências.
Os programas e suportes que geram os AVAs se aperfeiçoam e se mul-
tiplicam, assim como as ferramentas e as redes de computadores. Essa
fase se guia por uma perspectiva colaborativista, interativa, que valoriza a
participação dos alunos. Os estudantes constroem de forma colaborativa o
conhecimento, sendo o professor o mediador do processo. Há ainda forte
tendência à utilização dos dispositivos móveis, cada vez mais agregados às
propostas de EaD.
Com as tecnologias da web 2.0, a EaD propõe um ensino mais construtivista,
focado na participação do aluno e na construção conjunta do conhecimento.
Esse pensamento é reforçado pelas tecnologias de rede. Ferramentas como
wikis, fóruns e redes sociais ganham cada vez mais força, influenciando essa
perspectiva e incentivando o trabalho em grupo, bem como a participação
do aluno nos cursos com uma postura ativa, de coautoria. O cenário é muito
diferente se comparado com o da primeira geração da EaD. Como você viu,
as tecnologias dominantes na época permitiam um processo de aprendizagem
muito mais restrito e individual.
O professor, com as tecnologias digitais, ganha mais autonomia para
elaborar seus conteúdos e usar as ferramentas que mais favorecem suas
aulas. A rapidez com que se desenvolvem as tecnologias da era digital
contribui para o aperfeiçoamento de AVAs mais personalizados e que
atendam às necessidades dos alunos e docentes. No entanto, essa veloci-
dade cria também demandas de formação de docentes nas universidades.
Afinal, os professores precisam saber utilizar as novas tecnologias para o
ensino e a aprendizagem.
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 7
Você deve notar que, apesar de cada estágio da EaD ter suas tecnologias dominantes,
a tendência é que hoje haja a convergência de várias mídias no ensino, como ilustra
a figura a seguir.
Fonte: Elenabsl/Shutterstock.com.
https://goo.gl/aiGH1d
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 11
Presença virtual
Conforme Godoy (2009), a presença “virtual” é uma alternativa a outros
modos de presença e de relações entre humanos. Lévy (1999, p. 50) diz que
“[...] ainda que não possamos fixá-lo em nenhuma coordenada espaço-temporal,
o virtual é real. Uma palavra existe de fato. O virtual existe sem estar presente”.
Mesmo com a reformulação de conceitos de presença e distância na modalidade
da EaD, a legislação brasileira exige momentos presenciais (presença física em
sala de aula) nos cursos on-line. O Decreto nº. 5.622 (BRASIL, 2005), pontua a
necessidade de alguns momentos presenciais nos cursos a distância. As avaliações,
por exemplo, são realizadas nos polos presenciais dos cursos. Os estágios obriga-
tórios, as defesas de trabalhos de conclusão de curso e as atividades relacionadas
a laboratórios também devem ser realizadas presencialmente, quando for o caso.
Portanto, mesmo se valendo de ideais construtivistas, a EaD ainda se pauta
pela exigência da presença do aluno. Para Santos e Sabbatini (2013, p. 4), essas
exigências são “[...] resquícios do ensino tecnicista, behaviorista que visavam
ter controle do aluno. A EaD traz certa liberdade, na qual os professores não
sabem como o aluno está estudando, se é ele mesmo que está do outro lado”.
Sobre isso, Godoy (2009, p. 93) também faz suas considerações:
A busca por uma educação a distância de qualidade gira ainda muito em torno
da ausência (não há mais o velho professor, aquele tipo de aluno, aquela sala
de aula) e não em torno do que possa ser sua efetiva presença, uma presença-
-ação, cujos elementos para sua existência são a liberdade, o agir em conjunto
e o pertencimento. Isso sim seria um pressuposto muito mais importante para
enfrentar os inúmeros desafios que se desenvolvem hoje na educação brasileira.
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Ainda que exista certa discussão que coloca “em competição” situações
de distância e presença na EaD, Lévy (1999) diz que esse debate está sendo
superado aos poucos e que a diferença entre ensino presencial e a distância não
terá mais tanta importância nos próximos anos. Para Tori (2009), a procura por
cursos a distância tende a aumentar cada vez mais, tendo resultados positivos e
já comprovados. Ainda para o mesmo autor, tanto a educação presencial como
a educação a distância estão se descobrindo complementares — formando os
cursos de caráter híbrido. O sistema blended learning explora tanto o ambiente
virtual quanto o presencial. Ele considera a aplicação de recursos para gerencia-
mento de conteúdos e processos de ensino-aprendizagem na EaD, combinando
essa aplicação com o uso de tecnologias na educação presencial, na perspectiva
de agregar valor às atividades de ensino e aprendizagem tradicionais.
Godoy (2009) faz considerações sobre a concepção da autora Hannah Arent (1987) a
respeito da liberdade, do agir em conjunto e do pertencimento, três aspectos principais
que caracterizam o modo de presença-ação do sujeito na EaD. A liberdade se refere ao
fato de o aluno não desenvolver um comportamento estereotipado e já esperado; ele é
livre para criar o novo. O agir em conjunto se refere a agir e ter uma ação em um grupo;
e o pertencimento se refere ao fato de sentir-se parte de um grupo. Estar em rede — no
caso, no ciberespaço — produz um sentimento de pertencimento a um grupo.
A autora ainda fala da presença social nas aulas on-line, que se dá mediante a parti-
cipação do tutor ou mediador, que transmite um feedback para os alunos sobre o que
aprenderam, por exemplo. Enquanto a presença-ação está relacionada diretamente à
ação dos sujeitos no ambiente virtual, a presença social é voltada para a comunicação,
a troca e a interação entre os membros desse ambiente.
Leituras recomendadas
BELLONI, M. L. A televisão como ferramenta pedagógica na formação de professores.
Educação e Pesquisa, v. 29, n. 2, p. 287-301, jul./dez. 2003. Disponível em: <www.scielo.
br/pdf/ep/v29n2/a07v29n2>. Acesso em: 2 set. 2018.
BRASIL. Resolução CNE/CP nº. 1, de 15 de maio de 2006. Institui diretrizes curriculares
nacionais para o curso de graduação em pedagogia, licenciatura. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 2 set. 2018.
FARIA, A. A.; SALVADORI, Â. A educação a distância e seu movimento histórico no
Brasil. Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 8, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2010. Disponível em:
<http://santacruz.br/v4/download/revistaacademica/14/08-educacao-a-distancia-e-
-seu-movimento-historico-no-brasil.pdf>. Acesso em: 2 set. 2018.
PRETTO, N. de L.; BONILLA, M. H. S.; SARDEIRO, C. Rádio web na educação: possibilidades
e desafios. In: PRETTO, N. de L.; TOSTA , S. P. (Org.). Do MEB à WEB: o rádio na educação.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
RÁDIO EM REVISTA. Documentário da série educadores da tv escola sobre Edgar
Roquette Pinto. Youtube, 2 set. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=43kklhFtuLQ>. Acesso em: 2 set. 2018.