Vous êtes sur la page 1sur 4

I – Relatório

1. Trata-se de julgamento conjunto de duas ações de natureza processual diferentes,


mas que versam sobre um mesmo fato e postulam um mesmo pedido.

2. Na primeira, o deputado Renan Machado questiona a legitimidade das votações


do projeto de lei geral 02/2010 e do projeto de lei comum 030/2010 por ofensa ao artigo
14 do Regimento Interno do Parlamento Nacional, que assim dispõe: “As votações
ocorrerão em enquete criada pelo Presidente do Parlamento e terão o prazo de 3 dias.”
A criação das enquetes de votação com prazo diverso da normativa regimental –
argumenta o autor – é suficiente para anulação das referidas enquetes. Por último,
acostou aos autos um print das votações e informou que o prazo foi menor que 48 horas.

Indeferi a liminar pleiteada por verificar a inexistência de urgência e a


impossibilidade de o Poder Judiciário intervir em projetos ainda sob análise do
Parlamento – àquela época.

3. A segunda ação foi impetrada como cível, mas convertida em ADI em razão da
impossibilidade de verificação de direito subjetivo violado. Alega-se nesta ação que a
desobediência ao prazo regimental, de observância obrigatória do presidente daquela
Casa, provou desordem e insegurança à nação e aos deputados e que, não obstante a
constitucionalidade material dos projetos retromencionados, são eles inconstitucionais
quanto à forma de processamento. Solicitada a concessão de liminar, o pedido foi
indeferido por razões semelhantes as que sustentaram a decisão denegatória da primeira
ação.

4. Chamado para defender os atos atacados, o presidente do Parlamento sustentou a


higidez do direito subjetivo do deputado Renan Machado, bem como dos demais
deputados, apesar de admitir o erro na dilação deliberativa. Quanto à ADI, argüiu a
impossibilidade de inconstitucionalidade formal por desobediência à norma regimental.
Refutou, sob sua ótica, os argumentos concernentes às conseqüências sociais dos atos
impugnados.

5. É o relatório. Passo ao voto.

6. Antes de decidir sobre o mérito da questão discutida nos processos sob


julgamento, faço uma pequena digressão para tratar dos aspectos processuais incidentais
– quiçá contingentes – das ações impetradas.

II – Questões processuais incidentais

7. A ação cível protocolada por Renan Machado discute, por sua natureza
subjetiva, a violação de direitos subjetivos. Isto é, o autor, como deputado, requer a
proteção jurídica a seus direitos subjetivos violados pela infringência do artigo 14 do
estatuto regimental legislativo. O cerne da questão não é o conflito entre normas, mas
unicamente verificar se houve violação de um direito de Renan Machado.

8. Já a ação protocolada por Victor Henrique não prosperaria se Ação Cível, pois
não demonstrou a existência de transgressão a um direito subjetivo. Por isso determinei
a sua conversão em Ação Direta de Inconstitucionalidade, ação de viés objetivo, que
discute conflito entre ato normativo – à época da impetração, os projetos de lei já
haviam sido aprovados, inclusive a lei geral já estava publicada – e a Constituição da
República.

São apenas estas considerações processuais que tenho a fazer, as quais me


conduzem a discutir o caso em dois aspectos: a ofensa a direito subjetivo e a
inconstitucionalidade formal das leis resultantes dos projetos de lei questionados.

III – Mérito

9. Quanto à Ação Direta de Inconstitucionalidade, não conheço da ação porque


fundamenta a inconstitucionalidade dos atos normativos unicamente em normas
regimentais, insuficientes à declaração de inconstitucionalidade, visto que, como
observam a doutrina e a jurisprudência desta Corte, só existe inconstitucionalidade por
ofensa à Constituição e, estritamente a partir da atual ordem constitucional, à lei geral
de status constitucional. O devido processo legislativo é matéria de natureza
constitucional que só pode ser prevista na própria Constituição ou na Lei Geral dos
Poderes da República. Nesse sentido, a Constituição reservou ao Regimento do
Parlamento apenas as normas de caráter procedimental relativas ao processo legislativo
(3§, art. 15).

10. No tocante à outra ação, Renan Machado informa-nos que as enquetes sequer
duraram dois dias. Isto não é verdadeiro porque as enquetes foram abertas no dia
21/12/2010 e terminaram no dia 23/12/2010. O print pode induzir ao erro na parte
“fechar data”, que não expressa o dia fixado para o término da votação, mas sim o prazo
restante para o fim dela.

11. Senhores ministros, o Regimento Interno é a norma máxima, depois da


Constituição, de organização do Poder Legislativo. Por meio dele o Parlamento
autonomamente organiza a sua estrutura, estabelece competências, prazos, regula
condutas, estabelece sanções, equilibra as forças entre maioria e minoria etc. É, na
verdade, uma garantia constitucional de exercício do poder legislativo frente aos demais
poderes, cumprimentando, por assim dizer, o próprio princípio da independência dos
poderes. O regimento do Parlamento é a sua garantia de independência e soberania.

12. Essa independência se manifesta de modo diferente quanto aos demais poderes
da República. O Executivo não pode interferir na normativa regimental porque, segundo
o parágrafo 4º do artigo 19 da Constituição da República, trata-se convencionalmente de
um decreto legislativo. Segundo o artigo 21 da Carta da República o Executivo só
exerce o poder de sanção sobre leis gerais e leis comuns.

O Judiciário é o poder responsável por garantir a aplicação do Ordenamento


Jurídico, proteger os direitos dos cidadãos e exercer a justiça. Na sua atividade, exerce o
papel de intérprete-final do direito, como afirmei em obra de minha autoria (“O Status
Constitucional das Leis Gerais”) no seguinte trecho:

“A interpretação constitucional pode ser legislativa, administrativa,


judicial ou doutrinária.
Os poderes Legislativo (interpretação legislativa) e Executivo
(interpretação administrativa) realizam, no exercício de suas funções,
a interpretação de normas jurídicas, notadamente as constitucionais,
já que são elas as que os estrutura.

A doutrina também realiza a interpretação das leis e da Constituição


como auxílio teórico aos demais intérpretes.

No entanto, é o Poder Judiciário quem pronuncia a interpretação


última e obrigatória relativamente aos demais poderes e aos
cidadãos. É o que se chama de função jurisdicional, exclusiva e
indelegável.”

A autonomia que quer a Constituição ao Parlamento relativamente ao Poder


Judiciário se manifesta no impedimento de os magistrados interpretarem e aplicarem a
norma regimental, com algumas exceções sobre as quais falarei daqui a pouco. É que se
o Poder Judiciário pudesse interpretar o Regimento Parlamentar como o faz com as
demais normas do Ordenamento Jurídico estaria ele entrando em seara alheia e
interferindo nos aspectos organizacionais e até mesmo políticos do Legislativo. Como
assinala Menezes Direito:

“O princípio da separação dos poderes está na raiz da chamada


questão interna corporis, com o que não pode ser ela desprezada pelo
rigor com que se deve aplicar o princípio do livre acesso ao Poder
Judiciário" (Manual do Mandado de Segurança, RENOVAR, 4ª Ed,
Menezes Direito)

Esta regra só comporta exceções quando se fala em violação a direito subjetivo,


posto que ao Judiciário compete apreciar lesão a direito, ou de conflito entre o
Regimento e a própria Constituição. Nesse último caso, a questão será decidida em sede
de controle concentrado de constitucionalidade, verificando-se a validade do
Regimento. Naquele caso, contudo, o Judiciário deverá analisar se o impetrante da ação
teve por violado um de seus direitos. O Judiciário não pode, entrementes, avaliar a
interpretação e a aplicação do Regimento por ser ato tipicamente político e da seara
interna do Poder Legislativo. Carlos Velloso, ao tratar de questão semelhante observou
que:

“Como a questão diz respeito à interpretação do regimento interno,


tem-se, no caso, matéria indiscutivelmente interna corporis, imune à
crítica judiciária, dado que não há alegação no sentido de que o ato
interna corporis estaria a violar direito subjetivo. É que, havendo
alegação em tal sentido, o ato submete-se, evidentemente, à crítica
judicial. (Carlos Velloso).”

13. Senhores ministros, o prazo regimental previsto de 3 dias para a votação dos
projetos do Parlamento tem como finalidade precípua permitir a todos os deputados o
direito constitucionalmente assegurado de deliberar sobre as propostas legislativas. Não
é ele mera burocracia ou um fim em si mesmo, mas uma garantia de que todos os
deputados tenham tempo hábil para votar, consideradas as questões circunstanciais que
sempre nos assombram na vida macronacional.
No presente caso, em que o deputado Renan Machado pleiteia a anulação das
votações dos supraditos projetos, não verifico a hipótese de violação a nenhum direito
subjetivo, pois todos os deputados do Parlamento, inclusive o autor, conseguiram
exercer o seu direito de votação, não obstante a alegada exigüidade e anormalidade do
prazo. Ao Judiciário compete analisar a violação ou a ameaça a direitos, jamais avançar
em questão estritamente de seara política, quando não verificada inconstitucionalidade
ou lesão a direito.

14. Pelo exposto, voto pela IMPROCEDÊNCIA da ação proposta por Renan
Machado, ratificando meu entendimento pelo NÃO-CONHECIMENTO da ADI
proposta por Victor Henrique.

É como voto.

Vous aimerez peut-être aussi