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Ciência da Informação

e Filosofia da Linguagem:
da pragmática informacional à
web pragmática
Ciência da Informação
e Filosofia da Linguagem:
da pragmática informacional à
web pragmática

Luciana de Souza Gracioso


Gustavo Silva Saldanha

junqueira&marin
editores
...........................................................................................................................................
Coordenação: Prof. Dr. Dinael Marin
Capa: ZEROCRIATIVA
Editoração: Bernardo Vaz
Revisões: João Dalberto Gracioso e Autores
Impressão: Gráfica Viena
...........................................................................................................................................
Conselho Editorial da Junqueira&Marin:

Profa. Dra. Alda Junqueira Marin


Prof. Dr. Antonio Flavio Barbosa Moreira
Profa. Dra. Dirce Charara Monteiro
Prof. Dr. José Geraldo Silveira Bueno
Profa. Dra. Luciana Maria Giovanni
Profa. Dra. Maria das Mercês Ferreira Sampaio
Profa. Dra. Maria Isabel da Cunha
Prof. Dr. Odair Sass
Profa. Dra. Paula Perin Vicentini
Profa. Dra. Suely Amaral Mello
...........................................................................................................................................
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
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G758c
Gracioso, Luciana de Souza, 1977-

Ciência da informação e Filosofia da linguagem : da pragmática informacional à


web pragmática / Luciana de Souza Gracioso, Gustavo Silva Saldanha. -
Araraquara, SP : Junqueira&Marin, 2011.

160p. : 21 cm

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-86305-91-7

1. Ciência da informação. 2. Linguagem e línguas - Filosofia. 3. Pragmática. I.


Saldanha, Gustavo Silva, 1982-. II. Título.
11-2695. CDD: 020
CDU: 007
13.05.11 13.05.11 026357
...........................................................................................................................................
DIREITOS RESERVADOS:
JUNQUEIRA&MARIN EDITORES
J.M. Editora e Comercial Ltda.
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CEP 14802-205
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www.junqueiraemarin.com.br
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Esta edição recebeu apoio institucional.
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Proibida a reprodução total ou parcial desta edição, por qualquer meio ou forma, em
língua portuguesa ou qualquer outro idioma, sem a prévia e expressa autorização da
editora.
...........................................................................................................................................
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
...........................................................................................................................................
À Maria Nélida González de Gómez
Agradecemos aos orientadores e mestres que abriram
nossos caminhos para o conhecimento, especialmente
Solange Puntel Mostafa e Maria Aparecida Moura.
... é um erro afirmar que em filosofia
consideramos uma linguagem ideal
em contraste com a nossa linguagem comum.
Isto poderia levar-nos a crer que podíamos
fazer coisa melhor que a linguagem comum.

Ludwig Wittgenstein
Sumário

Apresentação - Solange Puntel Mostafa................................................................ 13


Prefácio - Maria Nélida González de Gómez........................................................ 17
Introdução ................................................................................................................................ 19

1 A caminho dos becos e travessas


da Ciência da Informação...........................................................................27

2 Pragmatismo e Ciência da Informação:


indícios de uma tradição.............................................................................43
2.1 Pragmatismo: teias conceituais............................................................................. 45
2.2 O pragmatismo na epistemologia da Ciência da Informação........... 51
2.2.1 Algumas categorias fundamentais.................................................................. 51
2.2.2 Uma filosofia pragmática por trás dos estudos de organização
do conhecimento: a forma de vida dos contextos........................................... 54
2.2.3 Wittgenstein: os jogos de linguagem
dentre as redes informacionais...................................................................................... 55

3 Investigando a significação
em Wittgenstein...............................................................................................63
3.1 Jogos de linguagem: pluralidade e diferença.............................................. 66
3.2 A questão da significação......................................................................................... 68
3.3 Jogo de linguagem e significação ...................................................................... 76
3.4 Regras e significação.................................................................................................... 78
3.5 Gramática e significação ........................................................................................... 84
3.6 Semelhança de família e significação................................................................ 89
3.7 Forma de vida e significação................................................................................... 94

4 A pragmática dos jogos


de linguagem no virtual.............................................................................99
4.1 Olhares pragmáticos sobre a Ciência da Informação............................106

5 Um olhar sobre a Ciência da


Informação sem informação..................................................................119
Posfácio - Pragmática dos diálogos: relato de um encontro....................128
Referências..............................................................................................................................136
Referências Indicativas...................................................................................................144
Apresentação

As primeiras páginas deste livro contam uma história muito es-


pecial: era uma vez dois jovens do sudeste brasileiro, ele de Minas
e ela do interior de São Paulo, ambos chegando ao Rio de Janeiro
e indo para o mesmo lugar. Mas o melhor estava para aconte-
cer: os jovens trazem na mala, tratados antigos de Investigações
Filosóficas! É quando a história, contada neste livro, começa...
A cena nos leva imediatamente à pergunta de Agamben sobre
o que é ser contemporâneo. Gustavo e Luciana, com suas malas
forradas com pano forte, brim cáqui, abrigando as Investigações
Filosóficas, vão participar de muitos seminários neste lugar em
que se encontram. Também o filósofo italiano Agamben ministra
um seminário recente na cidade italiana de Veneza, no qual recor-
da que pensadores apartados por longos períodos de tempo, serão
lidos, em conjunto, naquele seminário. Pergunta então se estes au-
tores são nossos contemporâneos e se falam para o nosso tempo.
Como podem falar ao nosso presente, se estão tão distantes uns
dos outros e de nós. Mas, então, o que é ser contemporâneo? Eis a
questão colocada...
Giorgio Agamben faz duas considerações sobre a contem-
poraneidade. A primeira diz respeito ao conceito de Nietzsche
de Inatual. Nas suas “Considerações intempestivas” Nietzsche
entende que há que se acertar contas com o seu tempo. A “cul-
tura histórica” foi considerada por Nietzsche como algo vergo-
nhoso, um “inconveniente e um defeito”. Para ele, como esclarece
Agamben, pertencer a seu tempo é conseguir dissociar-se deste

13
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

tempo; não coincidir com adequação perfeita ao seu tempo, ser


inatual! Nas palavras de Giorgio Agamben: “[...] exatamente por
isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo,
ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e apreender o seu
tempo”. (p. 59)
A segunda consideração, de riqueza conceitual e poética é a
de que o Contemporâneo é aquele capaz de abstrair as luzes de
seu tempo e enxergar na escuridão aquilo que poucos veem. Este
contemporâneo existe no tempo presente. Ele urge e tem a capa-
cidade de transformar. O contemporâneo está num tempo fora do
tempo. Nas palavras de Agamben “um “muito cedo” que é, tam-
bém, um “muito tarde” de um “já” que é, também, um “ainda não”.
Nas palavras de Deleuze, poderia ser: algo que está colocado num
entretempo – intermezzo. E, aqui, a imagem trazida é saborosa e
muito didática. A moda. Em que tempo a moda se coloca? Não
era moda e logo não será moda, mas, neste ainda não e já foi, a
moda se instaura. Assim chegou, para mim, o livro de Gustavo e
Luciana, como numa brecha do tempo. Um livro-acontecimento,
um livro-encontro de malas vindas do interior – que festa!
É em meio à festa que formulo minha provocação aos autores:
se é verdade que, para Wittgenstein, o “dado” não é o conteúdo da
experiência imediata, mas as formas de vida que tornam possível a
experiência, não estaríamos então diante de um empirismo transcen-
dental, tal como Deleuze nomeia a filosofia de Hume?
Parece que tanto Deleuze quanto Wittgenstein entendem que
para filosofar é preciso um certo construtivismo, única maneira de
fugir da representação, dos universais ou do platonismo. E nesse
sentido a construção do plano ou da imagem do pensamento per-
passa o fazer filosófico de ambos. Mas atenção: imagem do pen-
samento ou plano de imanência é algo bem diferente de visões de
mundo, essas, sim, interpretativas e histórico-culturais. O plano de
imanência é pré-filosófico e nele não há sujeitos ou objetos e muito

14
Apresentação

menos interpretação, como supõem as visões de mundo. A constru-


ção do plano de pensamento é necessariamente um enfrentamento
ao caos. E há tantas imagens de pensamento se lançando contra o
caos e fixando um plano ou um estilo de vida quanto jogos de lin-
guagem ou formas de vida. Há uma frase de Wittgenstein trazida
por Bento Prado Jr. que diz assim: “através da filosofia devemos
mergulhar no caos arcaico e lá sentirmo-nos bem”.
A relação entre a filosofia e o caos tem a vantagem, no dizer
de Bento Prado Jr., de nos desviar de uma Epistemologia ou da
Teoria do conhecimento facilitando nossa permanência nas rela-
ções da Filosofia com a pré-filosofia e com a não filosofia (as artes
e as ciências). Se assim é, o virtual não seria apenas uma questão
de plataformas tecnológicas. Mas seria um antídoto ao mundo
da representação, presente nas filosofias pragmáticas e empíricas
transcendentais. Pois são filosofias identificadas a um fazer, a uma
construção. Constrói-se o plano e os conceitos; o plano de ima-
nência é o campo onde se produzem e circulam os conceitos.
Gustavo e Luciana trazem com propriedade a imprevisibili-
dade dos jogos de linguagem e, em vários momentos, tocam nas
teses empiristas clássicas, presentes em Wittgenstein. O leitor per-
ceberá um acento mais forte na questão dos usos da linguagem,
ou nas condições histórico-sociais das formas de vida, apesar de
reconhecerem que as formas de vida não são fruto de uma evolu-
ção histórica. Definem formas de vida, esse importante conceito
wittgensteiniano, como o conjunto de hábitos, comportamentos e
ações, compartilhadas situacionalmente, por meio da linguagem.
Reconhecem, entretanto, que o conceito é pouco abordado pelo
filósofo austríaco. Aqui retomo a surpreendente aproximação
que o filósofo brasileiro Bento Prado Jr. oferece entre Deleuze e
Wittgenstein: filosofar é cortar o caos, crivando-o com uma ordem
ou um mínimo de consistência: esse corte significa a instauração de
um plano de pensamento que Deleuze nomeia plano de imanência.

15
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Mas é, ao mesmo tempo, que construímos o plano e os conceitos


que virão habitá-lo. O plano é horizonte e é solo. Horizonte absolu-
to e independente do observador. Os jogos de linguagem também
cortam o caos segundo um plano e, ao fazê-lo, criam esse espaço
no qual as proposições podem tornar-se significativas. Cada jogo
de linguagem funciona como um crivo no caos, pois é certo que há
qualquer coisa de virtual na linguagem. Aliás, Wittgenstein iden-
tifica os jogos de linguagem com nossa própria vida, ao dizer que
eles são imprevisíveis, nem verdadeiros, nem falsos e estão aí, como
nossa vida. A vida também aparece no último texto testamento de
Deleuze chamado Imanência... uma vida , quando o filósofo ex-
plica o empirismo radical (e transcendental) exigido pelo plano
de imanência na experiência primordial da vida. É sempre através
da literatura e das artes os exemplos sugeridos para entendermos
o plano de imanência e o empirismo transcendental, pois aí os
personagens saem da história ou do vivido e podem alçar em sua
embriaguez ou loucura, o campo do transcendental. Um campo
impessoal, e quase sem história, apenas vida. Talvez seja por isso
que Gustavo e Luciana nos ensinam que as formas de vida não pas-
sam por evolução histórica. Pois é esta aproximação oferecida por
Bento Prado Jr., no texto chamado A idéia de Plano de Imanência,
que deixo ao leitor e aos autores deste livro-acontecimento.
Não bastasse essas questões de fundo que nos tomam uma
vida para entender, este livro traz saborosos conceitos no capítulo
quatro, e sou fã de um: a web pragmática. Até lá o leitor percor-
rerá capítulos imperdíveis e inovadores de nossos jovens contem-
porâneos. O bom da história é quando lemos um livro que traz
conceitos inovadores para movimentar a Ciência da Informação.
É aí nesse terreno relacional entre a filosofia e a ciência que vemos
ressoar os esforços de uma e de outra.

Solange Puntel Mostafa

16
Prefácio

Em diferentes campos disciplinares e áreas do conhecimento, se


admite hoje considerar a linguagem como princípio paradigmáti-
co para o entendimento de ações e processos de caráter social ou
coletivo: na Economia, no Direito, nos Estudos Sociais da Ciência,
na Comunicação.
É interessante lembrar a complexa trilha de compreensão da
relação entre linguagem e informação, que tem antecedentes tão
importantes como as referências ao estruturalismo de Suzanne
Briet, na década de 50, ou as referências de Bar Hillel ao papel da
semântica, nas abordagens formalistas da tradução automática, já
na década de 60.
No cenário contemporâneo, temos reconhecido duas princi-
pais orientações na Ciência da Informação. Uma retoma a relação
entre códigos especializados e as linguagens cotidianas ou “lin-
guagens naturais”, focalizando a linguagem como dimensão dos
dispositivos de tratamento da informação, onde à releitura das
linguagens documentárias tradicionais, agregam-se: os estudos
da terminologia, da linguística computacional e do processamen-
to da linguagem natural (além de Bar Hillel, Sparck Jones, entre
os iniciadores); as ontologias, numa importante interface com as
Ciências da Computação. Podemos incluir, nessa mesma catego-
ria, os estudos críticos e as reformulações que buscam novos pon-
tos de partida em Wittgenstein e a Filosofia da linguagem (Blair,
Frohmann). Outra orientação consideraria a linguagem e a infor-
mação como dimensão das práticas e ações de informação dos

17
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

sujeitos e das organizações, como formas primárias de produção


de saberes e discursos, tal como na abordagem da produção de
sentido (Brenda Dervin), os estudos da significação incorporados
à “análise de domínio” (Hjorland, Albrechtsen), o uso metodoló-
gico da análise do discurso (Frohmann) e as abordagens socio-
antropológicas das redes sociais e informacionais (Star, Bowker,
Agree, entre outros). A teoria da ação comunicativa de Habermas,
por sua vez, oferece um arcabouço conceitual que tem sido objeto
de experimentação em diversos contextos analíticos, tanto dos es-
tudos de Organização do conhecimento como nos de epistemolo-
gia, ética, política e economia da Informação (Lyntinnien, Benoit,
Dervin, Wersig, entre outros).
O presente trabalho é um indicativo da necessidade de cruzar
cada vez mais as diferentes linhas de indagação, e pode caracteri-
zar-se como um esforço nessa direção. A abordagem pragmática
à qual aderem os autores, sem a demarcação disciplinar estricta
da linguística nem os referênciais utilitaristas de algumas ver-
tentes do Pragmatismo, antes bem organizada pelas referências a
Wittgenstein e a Filosofia da linguagem, atualiza no horizonte in-
telectual brasileiro algumas dessas premissas contemporâneas que
fazem, dos usos da linguagem, um plano de virtualização da ação
coletiva e individual. Isto permite assim pensar em figuras com-
plexas de autonomia e de controle, de codificação estruturante e
interações criativas e reflexivas, para reconstruir as atuais inter-
mediações e mediações infocomunicacionais, com vigor indagati-
vo, além de apriorismos transcendentais ou históricos.
É nessa direção que consideramos o aporte desta linha de
pesquisa, agora formalmente iniciada, além das obrigações aca-
dêmicas formativas, com a dimensão prospectiva de uma vontade
temática e argumentativa que busca desenhar seu próprio espaço
intelectual.
Maria Nélida González de Gómez

18
Introdução

Matéria de discussão contemporânea no campo que trata da or-


ganização do conhecimento, o conjunto de abordagens nesta obra
apresentado e problematizado representa o produto de duas pes-
quisas orientadas para uma interpretação de manifestações dis-
cursivas e práticas informacionais. Neste sentido, a Epistemologia
da Biblioteconomia & Ciência da Informação, bem como alguns
de seus pressupostos filosóficos, refletem nossa plataforma de dis-
cussão, onde desenvolvemos as análises e as aproximações con-
ceituais entre a Filosofia da linguagem, a abordagem pragmática,
Wittgenstein e as intervenções no trato da informação.
A presença da epistemologia histórica de Gaston Bachelard
(1974) em nosso percurso tem papel fundamental para o reco-
nhecimento crítico dos conceitos e das instituições envolvidas no
campo. Diante da forte presença de uma historiografia baseada em
Thomas Kuhn, nos estudos informacionais, o olhar interpretativo
bachelardiano nos alerta para uma defesa da necessidade de inda-
gações permanentes ao longo de todo o processo de construção
do olhar investigativo. No encalço da epistemologia de Bachelard
(1974), encontramos, por trás da idéia de uma “ciência” para a “in-
formação”, duas tradições filosóficas que orientam aquilo que está
aquém e além do termo, noção ou conceito – muito antes da idéia
de instituição científica. Trata-se de dois ângulos ou panoramas
de pensamento voltados para a organização do conhecimento que
apontam para horizontes diferentes na prática de elaboração do
acesso e da edificação da salvaguarda do livro do mundo. Apesar

19
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

de díspares em suas argumentações fundamentais, ambas as abor-


dagens se interpenetram ao longo de todo o pensamento voltado
para ordenar e disponibilizar o conhecimento produzido, regis-
trado e compartilhado pelo homem.
Para a empresa sugerida, carecemos de uma linha para cons-
trução do discurso que sustente os passos de nossa travessia.
Pensamos que aquilo que nos move é oriundo, como mencio-
nado, de uma epistemologia histórica e de uma filosofia do não,
retiradas de Gaston Bachelard. Em outras palavras, trata-se de
uma maneira de abordar a filosofia da ciência voltada não apenas
para a racionalidade fechada, mas, também, para o sonho – não
o sonho que se enfeitiça, mas aquele que interroga -, convivendo
com a diversidade intrínseca e extrínseca do objeto analisado, ou
seja, buscando o equilíbrio entre o entendimento e a sensibilidade
(BACHELARD, 1974, p. 224). Com esta epistemologia, identifica-
mos que, mesmo tendo por companheiro imediato na passagem o
Wittgenstein das Investigações Filosóficas, caminhamos também
pelos becos e travessas do campo com outros guias.
Percebemos como, ao eleger um olhar filosófico e, deste, privi-
legiar, em nosso recorte metodológico, a Filosofia da linguagem, e,
ainda, propor o manejo conceitual desta sob a plataforma discursiva
de Ludwig Wittgenstein, reencontramos ambas as escolas de pensa-
mento na história das idéias biblioteconômico-informacionais: de
um lado, uma visão representacionista – rapidamente abordada em
nosso capítulo segundo; de outro, uma visão pragmatista. Estas for-
mas de perceber Biblioteconomia & Ciência da Informação refle-
tem, para muito além do mero posicionamento teórico de pesqui-
sadores e profissionais, modelos de estruturação e formalização do
campo, indo de encontro e transformando esquemas curriculares e
intervenções didáticas no terreno acadêmico, mobilizando agentes
e linhas de atuação diferentes no mercado de trabalho.
Nossa linha metodológica esclarece o itinerário que a obra

20
Introdução
Introdução

propõe. Sua visualização panorâmica pode ser apreendida a partir


do esquema a seguir.

Filosofia da Biblioteconomia
& Ciência da Informação


Filosofia da linguagem nos estudos
biblioteconômico-informacionais

Epistemologia biblioteconômico-informacional

Epistemologia contemporânea
em Biblioteconomia & Ciência da Informação

Leitura wittgensteiniana da epistemologia


biblioteconômico-informacional

Filosofia da linguagem, Biblioteconomia


& Ciência da Informação e web

A partir desta linha seletiva, o objetivo do primeiro passo é


problematizar o plano filosófico e epistemológico do complexo
Biblioteconomia & Ciência da Informação, adentrando para tal
o que tratamos como “becos e travessas”, ou seja, territórios sem
saída, ou desembocaduras estreitas, e pontos de encontro, praças
de deliberação e conflito dentro do campo. Trata-se a) das narra-
tivas epistemológicas e filosóficas dos estudos biblioteconômico-
-informacionais, suas comunicações, artigos, livros e outros dis-
cursos que manifestam-se como meta reflexões; b) dos próprios
espaços sociais de pesquisa em CI, que vão de salas de aula a

21
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

corredores de universidades, encontros científicos, reunindo seus


diálogos, encontros e desencontros.
Após o posicionamento da filosofia de Wittgenstein no tempo e
no espaço, junto de sua contextualização na epistemologia informa-
cional, seguimos para o esclarecimento, em nosso capítulo terceiro,
dos principais conceitos do filósofo austríaco. Percebemos como,
neste momento, é possível identificar a presença wittgensteiniana
em diferentes campos de atuação e perspectivas de abordagens hoje
anunciadas em nossos becos e travessas. A idéia de “uso” - e, como
desdobramento, de “significado a partir do uso” -, leva-nos a recu-
perar uma linha histórica de formação humanista do ator que se
interpreta e se reconhece no trato com os artefatos informacionais,
seus conteúdos e suas formas. A comunhão da noção liberta “jogos
de linguagem” e da noção aparentemente manipuladora “regras” no
léxico de Wittgenstein igualmente nos permite retomar a trajetória
filosófica do campo, visitando uma epistemologia deweyana e con-
trapondo-a à epistemologia ranganathiana, esta, tão íntima – como
contemporânea – ao pragmatismo do filósofo austríaco.
O conceito de gramática, matéria tão cara às estacas da insti-
tucionalização dos estudos biblioteconômcos na virada do século
XIX para o século XX, é revigorado com a abordagem wittgens-
teiniana. Neste passo de nossa travessia podemos ampliar a noção
do campo, que se viu influenciada pelas explorações medievais da
gramática especulativa, e atravessa os últimos dois séculos cons-
truindo linguagens artificiais nos trilhos da utopia de uma biblio-
teca ideal, onde o conhecimento viesse experenciar seus duplos
da leitura biblioteconômico-informacional sobre o saber: um co-
nhecimento que é ao mesmo tempo matéria – artefato preservado
– e virtualidade – potência de tornar-se a partir de sua presença
simbólica na atmosfera imaterial dos jogos de linguagem.
É sob este último e breve “lance de dados” histórico de nossa
filosofia – a virtualidade enquanto saber em vias de atualização

22
Introdução
Introdução

– que a visita seguinte de nosso trabalho se desenvolve. Desta ma-


neira, o quarto capítulo procura compreender a idéia do virtual
no contexto contemporâneo, sem desligá-lo da própria problema-
tização retrospectiva dos estudos biblioteconômico-informacio-
nais. Ao apontar para a web e todas as manifestações hodiernas
provindas de suas apropriações, podemos nesta etapa recuperar
as provocações dos leitores-produtores – receptores-emissores –
espalhados pelo mundo, agora com ferramentas cada vez mais di-
nâmicas para sua presentificação na teia discursiva de uma forma
de vida. Sob a abordagem pragmática, podemos conviver com ou-
tras traduções da ação informacional coletiva que se multiplica no
meio digital, ou seja, pensar uma pragmática digital.
A retomada de nosso cais no capítulo seguinte apresenta uma
revisão crítica, para aquém e além dos temas abordados, sob a rele-
vância de um ponto de vista pragmático, em paralelo com outros,
sediados em nossa literatura. Abordar o pragmatismo no contexto
contemporâneo nos permite não apenas reinterpretar as práticas
informacionais claramente identificadas na web, o que nossa visita
anterior busca demonstrar, mas, também, repensar a historiografia
e a própria formalização de uma “ciência” da e/ou para “a” “infor-
mação”. Antes disso, a partir do “não” bachelardiano e da noção de
“enfeitiçamento” wittgensteiniana, propomos um olhar provocati-
vo e reflexivo sobre a “Ciência da Informação sem informação”.
Em outras palavras, tanto ao observar a plataforma pragmáti-
ca de nosso campo no passado, como perceber as transformações
nos gestos de apropriação das novas tecnologias no universo di-
gital no contexto atual, podemos antever o campo de estudos que
hoje tratamos pelo neologismo “Ciência da Informação” como
território que vai muito além dos feitiços da expressão tecida
em meados do século XX, principalmente da noção consagrada
de “informação”. Antes de pretender reconceituar o neologismo
– em momento algum nosso intuito aqui -, o trabalho procura

23
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

demonstrar, a partir da pragmática aplicada ao campo, tanto sua


amplitude quanto suas fragilidades. Em outras palavras, ao invés
de propor mais acidentes ao conceito, trata-se, segundo um prag-
matismo wittgensteiniano, de desconstruí-lo a partir daquilo que
seu uso lhe impregna como significado.
Não procuramos, naturalmente, neste trabalho, afirmar que a
Filosofia da linguagem se apresenta como o principal e mais ade-
quado guia para uma leitura filosófica e epistemológica da CI –
muito menos que sua vertente pragmática expressa-se como supe-
rior. Tampouco afirmamos ser Wittgenstein um filósofo ideal para
tal empresa. Ao contrário, o tecido textual que se segue é resultado
de experiências sobre as possibilidades de uma interpretação do
campo, ontem e hoje, através de parte de extrema relevância dos
estudos filosóficos orientados para a linguagem. Trata-se apenas
de um olhar a partir do pragmatismo filosófico, que resulta na
análise pragmática sobre a linguagem, apreendido no âmbito do
desenvolvimento discursivo da CI.
Deste modo, nossa orientação epistemológica repousa sobre a
narrativa, forma artesanal do discurso “substituída” pela informa-
ção na ciência moderna (BENJAMIN, 1985). Chamamos de nar-
rativa a) os fragmentos discursivos, b) os discursos e c) os coletivos
de discursos dentro da epistemologia da CI. Nesta perspectiva, con-
trapomos alguns pontos de vista usualmente apropriados pela pes-
quisa em CI no contexto historiográfico do campo, tão carente de
revisões hermenêuticas, a saber: a) a noção de que a área caminha a
partir de paradigmas, b) a noção de que o campo é necessariamente
uma constituição oriunda das transformações que cercam os anos
1940 e 1950, no contexto da Segunda Guerra Mundial, c) a noção
de que a informação é “o” objeto do campo, d) a noção de que a CI
tanto nasceu como é interdisciplinar por natureza.
Em razão das escolhas metodológicas, não há espaço propício
na presente obra para desenvolver cada aspecto de forma pontual.

24
Introdução
Introdução

A breve indicação se dá, contudo, em primeiro lugar, para visu-


alizar o posicionamento do trabalho que se propõe, bem como
para alertar e convocar olhares críticos sobre as arenas de tensão
no universo discursivo do campo. Chamaremos a atenção, no en-
tanto, ao longo da obra, de alguns aspectos, inerentes à nossa in-
vestigação, necessários para a compreensão de um ponto de vista
pragmático em nossa trajetória de pesquisa. Compreender o ter-
ritório que compartilhamos e disputamos simbolicamente como
solo de estudos que se encontra em um panorama voltado para
a representação, a transmissão e a preservação do conhecimento
compartilhado pelos indivíduos nos posiciona em um contexto
espaço-temporal mais claro de compreensão da CI, para além das
transformações que cercam a Segunda Guerra Mundial, para além
da idéia da tecnologia como força de transformação e não signo
de apropriação e uso do homem, posicionamentos estes que con-
duziram escolas, institutos e centros de pesquisa em Bibliografia,
Biblioteconomia e Documentação a alterarem seus nomes nas
últimas décadas do século XX e reformularem seus currículos
apressadamente nos últimos 40 anos.
É esta epistemologia, pois, que nos permitirá, na viagem, a)
justificar não apenas o porquê desta empresa, como também ou-
tras problematizações, como o próprio ser-fazer da CI, b) definir
o pragmatismo e sua vertente informacional, c) apresentar e apro-
priar-se de Wittgenstein para realizar a leitura pragmática do pró-
prio pensar-intervir pragmático da CI, d) identificar o pragmatis-
mo no âmbito do campo e iluminar as consequências sensíveis de
sua manifestação e as possíveis reorientações metodológicas que
esta outra gramática imprime no cotidiano das relações informa-
cionais, e) traçar os apontamentos conclusivos sobre os desdobra-
mentos epistemológicos e filosóficos da tradição pragmática em
construção no campo, diante da apropriação e dos processos de
significação dos artefatos digitais.

25
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Convidamos, pois, Wittgenstein – cuja obra nos apresenta


uma rigorosa hermenêutica da linguagem – e Bachelard – cujo
pensamento nos propõe uma vasta e complexa hermenêutica da
ciência – e os leitores que agora tomam com o olhar nossa narra-
tiva para uma travessia já iniciada por outros epistemólogos do
campo, aqui apenas continuada, e, do mesmo modo, não findada.
Sabemos que atualmente o termo “Ciência da Informação”, insti-
tucionalizado no Brasil, passou a representar o complexo da pós-
-graduação na área de organização do conhecimento, envolvendo
os estudos biblioteconômico-informacionais. Alguns trabalhos
utilizam a sigla BCI, Biblioteconomia & Ciência da Informação,
para tratar de temas relacionados à área, traduzindo a expressão
LIS – “library and information science” -, que aparece no mundo
anglófono, onde a área-campo que hoje conhecemos se desenvol-
veu rapidamente a partir de meados do século XX. Desta maneira,
apenas elucidando o uso conceitual que fazemos a seguir, a paisa-
gem social que adentramos, os becos e travessas que tateamos, vão
muito além das fronteiras ainda tênues do neologismo “Ciência
da Informação” – de tantos outros termos cunhados para definir
as fronteiras de nossa paisagem de pesquisa e de intervenção. É
necessário pontuar esta questão de modo a evitar os enfeitiçamen-
tos terminológicos, problematizados pela filosofia wittgensteinia-
na, que podem nos levar a amplificar um campo para terrenos
absolutamente vazios, ou mesmo reduzi-lo a confins que são, na
verdade, solos de uma cultura histórica de ocupação e produção
de saberes de um campo que se desenvolve rapidamente para além
dos últimos 100 anos.

26
1
A caminho dos
becos e travessas da
Ciência da Informação

Os limites do universo de uma escola científica são os limites


de sua linguagem: assim poderíamos estender a relação entre o
homem e seu conhecimento apresentada por Ludwig Wittgenstein
– os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem
(WITTGENSTEIN, 2002, p. 114) - à epistemologia da Ciência da
Informação – CI –, ou seja, às comunidades científicas e seus sa-
beres em construção. Partindo da compreensão da construção do
vocabulário e da gramática de uso das palavras dentro da episte-
mologia informacional podemos identificar as possibilidades de
reconhecimento dos horizontes do campo que envolve os estudos
orientados para a organização dos saberes. É necessária uma cam-
panha permanente de expedições ao interior das disciplinas, até
seus núcleos históricos e sedimentados – ou em vias de solidifica-
ção –, além da investigação de suas fronteiras – estas, tão explo-
radas ao longo do desenvolvimento dos estudos informacionais.
Tornou-se discurso comum na CI declarar fragmentos narra-
tivos como “a natureza da CI é interdisciplinar” ou “a CI nasceu in-
terdisciplinar”, ou o “objeto da CI é a informação”. No entanto, há,
como em toda disciplina ou em toda formação discursiva, um nú-
cleo filosófico comungado, um panorama compartilhado; há um
vocabulário inicial que parte das disciplinas-base, de práticas que se
sedimentaram em discursos, e de autores que não necessariamente

27
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

existiam no contexto de institucionalização da área. Discutir os li-


mites de um campo de pesquisa é, antes, desvelar suas narrativas,
os discursos que compõem os mitos de sua origem. Do mesmo
modo, este debate se presta também à análise dos desdobramentos
linguísticos, ou seja, investigar uma Ciência da Informação é ex-
plorar a constituição da própria expressão Ciência da Informação.
Os viajantes do movimento das grandes navegações, nos sécu-
los XIV, XV e XVI enfrentaram um imaginário de monstros oce-
ânicos, assim como os bandeirantes no bojo da interiorização do
território brasileiro desafiaram o imaginário de índios antropófa-
gos e feras desconhecidas, assim como os utópicos informacionais,
como Paul Otlet, enfrentaram a avalanche de produção de textos e
re-definição de contextos em seu tempo. Nos três exemplos ilustra-
tivos, o processo de conquista – termo intimamente positivista –,
como o processo de construção do conhecimento destes atores, se
deu através de uma marcha para o interior – o interior do oceano,
para desvelar os monstros, o interior do Brasil, para desvelar seus
mistérios, o interior do conhecimento, para desvelar seu controle.
Nas três abordagens, para alcançar a justificativa de suas em-
presas, os viajantes estiveram em permanente deslocamento para
dentro de um universo aparentemente obscuro – no caso dos na-
vegantes e dos bandeirantes, mais misterioso que obscuro; no caso
de Paul Otlet, também poderíamos dizer o mesmo, guardadas as
proporções da analogia, pois a grande produção documental de-
flagrada na passagem do oitocentos para o novecentos fez com
que a sociedade se visse ameaçada pela possibilidade de uma pan-
demia de documentos, que terminaria, em algum momento, por
se transformar em um entrave para as novas civilizações urbanas
que se constituíam rapidamente.
Buscamos a aproximação destas três abordagens para refle-
tir sobre o seguinte aspecto: em todos os casos, o imaginário dos
contextos de vivência dos personagens – navegantes, bandeirantes

28
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

e bibliotecários/documentalistas, como Paul Otlet –, seus sonhos,


sentimentos, receios, seus objetivos, projetos, perspectivas, jun-
tos, impulsionaram e patrocinaram campanhas de conquista e
de construção do conhecimento. Ainda que possuíssem técnicas
e tecnologias disponíveis para seus empreendimentos, estes ato-
res, suas técnicas e suas tecnologias, estavam sob a sombra de
um complexo de narrativas e silêncios que não só influenciavam
como orientavam o uso e a inscrição de significados. E os três gru-
pos de personagens, fazendo uso destas ferramentas conhecidas
em seu meio – como as naus, os barcos e teorias e métodos de or-
ganização do conhecimento, respectivamente –, sob a gramática
de imaginários constituídos – somatória de textos sociais que dão
origem a tradições –, iniciaram uma campanha de interiorização,
a caminhada em direção até um núcleo possível de demarcação,
ainda que dificilmente atingível. Assim se apresenta nosso convite
nesta obra: uma viagem para dentro.
As justificativas da empresa – como as justificativas para uma
existência epistemológica – vêm antes da demarcação. A justifi-
cativa – de forma mais leve e clara demonstrada na obra Conto
da Ilha Desconhecida, de José Saramago (1998) – constitui um
processo permanente de revisão e crítica dos becos e travessas,
dos interiores da produção científica, e o resultado desta traves-
sia – ou seja, até onde navegantes, bandeirantes e pesquisadores
conseguem vislumbrar horizontes – nos concede as noções de
demarcação, isto é, até onde vão oceanos, continentes e discipli-
nas. A justificativa epistemológica é um desbravamento, o reco-
nhecimento reflexivo da área em seu permanente ciclo de revi-
sitações. A demarcação diz respeito apenas aos limites que este
esbravamento permitiu contemplar – e, principalmente, imaginar.
Retomando Wittgenstein (1979), uma ciência não pode ir além
dos limites que sua linguagem – conjunto de discursos coerentes
– lhe permite conhecer.

29
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

A grande produção de documentos possibilitada pelos desen-


volvimentos tecnológicos do século XIX e XX, fundamentalmente
evidenciada a partir da Segunda Guerra Mundial e historicamente
vinculada à urbanização propiciada pela Revolução Industrial, fez
a quantidade de suportes de registros do conhecimento vigentes
no mundo ganhar dimensões imensuráveis, assim como multipli-
cou as possibilidades de produção e reprodução individual dos
mesmos suportes1. Os problemas resultantes deste crescimento
estão, de um modo geral, diretamente ligados à impossibilidade
de controle de produção, recuperação, reconhecimento, tratamen-
to e disponibilização contextualizada de todo o conteúdo imerso
nos suportes multiplicáveis. Para além destas evidências, o dilema
mais profundo está na tessitura das possibilidades de interpreta-
ção dos mesmos conteúdos, pois o controle não pode dispensar a
compreensão.
Nesta grande produção, a informação ganha, simultaneamen-
te, o status de fenômeno social, objeto científico e fetiche global,
e uma ciência para a informação parece assumir – ou propor-se
assumir – um papel estratégico na busca de soluções para sua re-
cuperação, visando o acesso irrestrito, dimensionado pela prática
da cidadania. Como argumenta D’Aléssio Ferrara (1994/95),

a globalização do mundo exige saber selecionar e


operar com informações, porém este processo é
longo, doloroso e de aprendizagem constante: ao

1
Esta grande produção, ou, no vocabulário de Brookes (1981), vasto crescimento
do conhecimento objetivo do mundo 3 popperiano, ou “explosão informacional”,
apreenderemos, a partir do olhar histórico de Peter Burke (2003), como o grande
crescimento documental resultante da urbanização do conhecimento e os desdo-
bramentos desta ampliação. Além do termo “explosão da informação”, outros termos
indicarão a mesma evidência de um ineditismo, daquilo nunca antes visto, um fenô-
meno que, para muitos, é responsável pela emergência de uma nova área de pesqui-
sa, outra “gênese”, a CI. Por exemplo, Wersig (1993, p. 230) fala em literature flood, ou
dilúvio literário. Pinheiro (2002, p. 72), por sua vez, trata como “explosão bibliográfica”
e “caos documentário”.

30
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

mundializar-se, a cultura não se torna homogênea,


ao contrário, diversifica-se permitindo encontrar,
no geral, dimensões particulares que correspon-
dem aquelas escolhas e são responsáveis pelos
traços/índices de tradição local das tendências
globais.

Desta forma, caberia a uma Ciência da Informação enfren-


tar uma crise ligada à incerteza do excesso, à super-natalidade
documental e à miscigenação de conteúdos, que fundamentam a
informação como fenômeno social – contexto este que D’Aléssio
Ferrara (1994/95) denominará “sincretismo cultural responsável
pela troca de informações e experiências múltiplas”. Este sincretis-
mo, e seu enraizamento dentro das comunidades e sua penetração
nos grupos científicos, terminarão por provocar – ou, no mínimo,
contribuir com profundos sintomas – importantes transforma-
ções no modo de ver, descrever, conceituar e prognosticar os estu-
dos voltados para organização dos saberes, que então assumem a
informação como objeto científico.
Vê-se também, como nos alertará D’Aléssio Ferrara (1994/95),
que uma chamada globalização vigente exige do ator o conheci-
mento de movimentação de ferramentas de informação, o que
registra que a informação é, também, um fetiche, ou seja, é con-
ferida à noção de informação um valor de culto que ultrapassa
a relação social(fenômeno)/científica(objeto): a informação deve
ser adorada e “praticada” diariamente, caso contrário a condição
de sobrevivência do sujeito está sob risco permanente. As palavras
de Queirós (1999, p. 47) identificam este fetiche: “apenas o indi-
víduo que puder gerar um valor-informação para o capital – cada
vez mais informacional – é que terá voz e voto na sociedade da in-
formação”. Logo, a organização do conhecimento assume também
a tecnologia e a habilidade tecnológica como elemento identitário
de sua justificativa epistêmico-social.

31
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Este olhar nos levaria a pensar que apenas a “habilidade in-


formacional adquirida” – controle das técnicas e tecnologias in-
formacionais – permite a interação sujeito-realidade dentro do
mundo chamado globalizado; que apenas esta habilidade poderia
levar o sujeito a desfrutar de sua cultura. Diante dos riscos alerta-
dos de um novo encantamento do mundo, é necessário compre-
ender que o fenômeno da informação não responde pelo mundo,
mas apenas por parte dele, assim também como o conceito de in-
formação não responde pela CI, mas, do mesmo modo, somente
por parte de sua epistemologia.
O olhar sobre o fetiche informação desconsidera, com
frequência, que as manifestações culturais que localizam o
indivíduo dentro de uma comunidade são também construtoras de
conhecimento e que, muito aquém das tecnologias informacionais,
há um intercâmbio de textos coletivos que integram homem e
realidade em seus ambientes de movimentação. Esta divisão,
que pode ser ilustrada, respectivamente, pelo informar e pelo
narrar (BENJAMIN, 1985) – ou, respectivamente, pela descrição
através dos mapas e pela descrição de itinerários (CERTEAU,
1994) -, demarca duas grandes tradições – ou cenários filosóficos,
ou panoramas - dentro da paisagem social dos estudos
informacionais ou estudos da organização do conhecimento:
uma ligada à filosofia do pragmatismo, outra ligada à filosofia
da representação. Esta última, sustentada pelo peso do termo
informação na contemporaneidade, parece, em determinados
discursos, ter ocultado a primeira, intimamente ligada ao olhar
humanista que antecede os desdobramentos do positivismo sobre
as ciências do homem.
É pontual lembrar que, se hoje a informação é incontrolável
pelo número de meios para armazená-la, produzi-la e disseminá-
-la, antes da computação e da Internet também o era, mas pelas
condições inversas. Nesta idade passada, a informação estava em

32
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

um estado de inabarcabilidade por não possuir meios de armaze-


namento, produção e disseminação, por viver na volátil impreci-
são da narrativa oral. Isto nos leva a dizer que não há nada de novo
no front. Em ambas as tradições, a missão é a mesma: organizar o
conhecimento, ou os saberes. As formulações teóricas e o método
para chegar até esta organização, visando compreensão, acesso e
preservação, é que ganharão diferentes deslocamentos discursivos
no século XX.
Notamos que, ao eleger a informação como objeto científi-
co, a CI – uma outra disciplina, ou ciência, ou arte dos estudos
de organização do conhecimento – se tornou difusora de uma
angústia do imaginário de seu contexto, que profetizava a infor-
mação como elemento-chave para a sociedade contemporânea ao
seu desenvolvimento, por isso esta sociedade seria chamada “da
informação”. Desta forma, ao compreender, um fenômeno social
como um objeto científico em emancipação, uma vez verificada a
“explosão da informação” como um fato social – à moda durkhei-
miana –, também contribuiu para a emancipação da informação
como fetiche – como na crítica latouriana (LATOUR, 2002) –, ou
seja, da adoração da informação na sociedade atual. Assim, a pala-
vra – ou a representação - enfeitiça o organizador do conhecimen-
to pelo seu potencial representacionista. Ao cativá-lo com este po-
tencial, ela o leva a crer que a representação pode responder, por si
só, pela organização do livro do mundo.
A reprodução e discussão de expressões e conceitos como
“sociedade da informação”, “sociedade do conhecimento” e “glo-
balização” em seus periódicos científicos identifica a relação in-
tensa entre CI e o imaginário de seu tempo, ocorrência que tanto
pode ser vista como de extrema relevância – a ciência orientada
para soluções cotidianas, compartilhando com a sociedade angús-
tias e propostas – quanto como questão-problema – uma ciência
orientada apenas para a evidência (o fenômeno) que se apresenta

33
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

como entrave na atualidade, mas que tende a fragilizar-se assim


que for solucionada a barreira provocativa do tempo corrente.
Para refletir sobre estas evidências – informação como fenômeno
social, objeto científico e fetiche – que acreditamos ser necessária
uma viagem ao interior da CI, que acreditamos que apenas a epis-
temologia informacional em permanente processo de justificação,
antes que de demarcação, precisa ser visitada.
Como nos revela Auroux (1998, p. 294), as pesquisas em do-
cumentação automática aparecerão a partir dos anos 1950 devido
à necessidade de se gerir a grande massa de documentos escritos
“que se acumulavam no fio do tempo em todos os domínios da
atividade científica e técnica nas sociedades avançadas e de as-
segurar, em um mundo dominado pela concorrência, uma vigia
tecnológica [...]”. É neste instante, em meio às consequências da
investigação bélica – a Segunda Guerra Mundial como laborató-
rio de pesquisas –, que em geral se contextualiza o surgimento de
uma grande área dentro dos estudos de organização dos saberes,
a CI: um contexto de substituição de operadores humanos por
máquinas na atividade de controle de informação; um contexto
marcado pela multiplicação de nomes, noções, conceitos, dentre
os quais, o próprio termo “Ciência da Informação”. No entanto,
se sustentamos uma investigação epistemológica apenas sob a
sombra do simulacro Ciência da Informação, negligenciamos a
construção de uma história teórica da organização do conheci-
mento – e, principalmente, comprometemos nossa análise crítica
da realidade contemporânea da própria CI.
Naturalmente, o que se chamava – ou se pretendia chamar –
de Ciência da Informação nos anos 1960 e 1970, em geral, mesmo
tendo por base a preocupação com o controle bibliográfico-in-
formacional realizado pela Biblioteconomia, pela Bibliografia ou
pela Documentação, por exemplo, era uma ciência da tecnologia,
exata por orientação, voltada para formação de cientistas capazes

34
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

de construir máquinas que realizassem o que seres humanos já


não eram capazes de executar – ou, pelo menos, não conseguiriam
executar com a velocidade e a precisão necessária (AUROUX,
1998). Esta ciência apreendia o fenômeno social da informação
como objeto científico – tendo o conceito de fenômeno social
bastante próximo da teoria de Comte e Durkheim, de cunho po-
sitivista, preocupada com o controle/conquista de uma ordem na-
tural, ou seja, o documento e, por extensão, a informação, como
entidades coisificadas. Neste contexto de concorrências e emer-
gências, com uma sociedade burguesa plenamente estabelecida
e uma sociedade científica socialmente legitimada, o estudo da
narrativa é deslocado – a narrativa é retirada da cena social como
fonte de transmissão das tradições e retirada da cena científica
como fonte de conhecimento. Aqui, importa mais a informação, e
não os saberes, ou a compreensão.
Esta condição teórico-prática de uma possível nova ciência
em vias de nascimento está entre os aspectos que mais nos provo-
cam aqui: como, em seus becos e travessas, a CI se justifica?; qual
permanência – ou manifestação de longa duração – nos permite
identificar a coerência desta justificação? Para tal, é preciso viajar
por sua paisagem social epistemológica. Um dos recursos teórico-
-políticos adotados na justificação é identificar a área como retro-
alimentada por uma “natureza interdisciplinar”. Esta adoção res-
ponde por outra angústia de seu tempo: a crítica à especialização
das ciências a partir do século XIX. No entanto, no mesmo perío-
do de formalização da CI, em diferentes manifestações discursivas
de outras disciplinas a “reivindicação interdisciplinar surge como
uma panacéia epistemológica, chamada a curar todos os males
que afetam a consciência científica do nosso tempo” (GUSFORF,
1995, p. 7). Os usos do conceito de interdisciplinaridade torna-
ram-se abusos em muitas narrativas, contradizendo práticas
como também teorias posteriores à discussão aberta a partir dos

35
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

manifestos que eclodiram em 1968.


Neste período que muitos discursos conceituam como pós-
-modernidade somos permanentemente convidados a nomear. É
o grande espetáculo da representação, como colocado por Guy
Debord (1997), marcado por uma descontrolada produção de con-
ceitos (JIMENEZ, 1994). Há uma permanente corrida por iden-
tidades, por imagens que nos representem cada vez com maior
acuidade e precisão (ROLNIK, 1997). É neste estágio, dentro da
dinâmica de especialização na filosofia representacionista ocorri-
da nos estudos de organização do conhecimento, que a CI aparece
como nomenclatura institucionalizada para representar uma prá-
tica chamada de “nova” em diferentes narrativas – a informação
entra definitivamente para a epistemologia dos estudos voltados
para organização dos saberes como objeto científico; a expressão
“Ciência da Informação” é criada; na década de 1960, o American
Documentation Institute altera seu nome para American for
Information Science (ASIS); e em 1968, Borko define epistemo-
logicamente o conceito do termo “Ciência da Informação” como
significante que responde por uma disciplina científica. Antes de
pensar – e imaginar – a origem da CI pelo encontro de disciplinas
nos meados do século XX e de definir CI como ciência interdisci-
plinar – ou seja, definir a área pelas fronteiras e não pelos núcleos
–, ou como uma somatória de eventos paradigmáticos, acredita-
mos que o estudo exaustivo da epistemologia informacional pode
nos abrir possibilidades mais críticas e criativas para compreender
os mitos de origem que envolvem este nascimento. Acreditamos
que as dificuldades de demarcar a CI estão, em certa medida,
vinculadas à fragilidade de justificação da área. Esta fragilidade
está, em boa parte, em uma certa sonolência dos seus trabalhos
teóricos, na provável negligência de revisões críticas e provocati-
vas sobre os chamados trabalhos com aplicação imediata na so-
ciedade. A CI, desta maneira, preocupa-se mais em demarcar-se

36
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

politicamente que em justificar-se epistemologicamente.


Este olhar para dentro sugerido em nossa viagem reporta-se
na direção de um dos mais recentes debates na epistemologia e
nas práticas informacionais da CI. Trata-se do conjunto de abor-
dagens sociológicas e antropológicas, permeadas por um panora-
ma pragmatista, no processo de compreensão do homem e suas
relações. Aqui chamamos este complexo de narrativas, mais con-
juntamente identificado na década de 1990, de tradição pragmáti-
ca – desta forma, investigamos, antes, uma permanência, período
não abarcável matematicamente, mas apenas passível de uma reu-
nião de traços de similaridades, ou semelhanças de família, como
no olhar de Wittgenstein (1979).
Em outras palavras, investigamos uma “longa duração” nos
estudos de organização do conhecimento. Não se trata de um es-
tudo isolado na paisagem social contemporânea da epistemologia
da CI. Um conjunto de pesquisas vem buscando este olhar para
dentro nos últimos anos. Podemos identificar um levante de in-
vestigações epistemológicas a partir dos anos 1990 na área. São
exemplos, os trabalhos de Azevedo Netto (1999), que também
pontua a CI como ciência social e identifica a informação como
seu objeto; Loureiro (1999), que aponta a CI como área nem social
nem humana, mas uma ciência diferente, voltada para o fenôme-
no informacional; Silva (1999b), que também investiga o fenô-
meno da informação e os estudos informacionais como represen-
tantes das ciências sociais; Silva (1999a), que observa a CI como
ciência do paradigma emergente, recuperando a epistemologia de
Boaventura Santos; González de Gómez (2001), que se pergun-
ta qual a cientificidade da CI, imaginando a área como um com-
plexo de formações sociais de um meta-conhecimento; Francelin
(2003a, 2003b, 2005), que estuda os desdobramentos do olhar da
CI enquanto área pós-moderna, sua epistemologia e a filosofia da
informação; Day (2005), que demonstra, a partir da perspectiva

37
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

do estudo do pós-estruturalismo, elementos que aqui caracteri-


zamos como pragmatistas, como a constituição social e históri-
ca dos estudos informacionais. Além disto, este último observa a
relevância dos estudos da linguagem nos estudos de organização
do conhecimento, demonstrando a necessidade de uma via alter-
nativa para além da filosofia da representação, aproximando-se da
produção semiótica dos discursos, criticando a unilateralidade do
conceito de informação como objeto – o processo de constituição
do fetiche informacional no século XX - e enfatizando a historici-
dade do sujeito.
Acreditamos que as questões provocativas localizadas, como
fenômeno, objeto, fetiche dentro da CI – como o próprio termo
“Ciência da Informação”, que aparece, em geral, próximo dos
termos “interdisciplinaridade” e “pós-modernidade” – ganham
contornos mais claros e janelas alternativas para investigações no
contexto destas formulações. A tradição pragmática da epistemo-
logia informacional parece abrir com mais intensidade as discus-
sões sobre a fundação da CI e sobre os modos de conceber valor a
esta fundação e suas circunstâncias, desvelando – e/ou despertan-
do –, por isso, um conjunto considerável de narrativas epistemo-
lógicas discutindo o estatuto científico da área e suas perspectivas
sociológicas e antropológicas, como verificado nos trabalhos de
Pinheiro (1997), Júnia G. e Silva (1999), Rubens R. G. da Silva
(1999), Queirós (1999), Carvalho (1999), Araújo (2003), Renault
& Martins (2007), entre outros.
Os desdobramentos do pensamento sociológico e antropo-
lógico, desta maneira, influenciarão esta retomada de discussões
pragmáticas dentro dos estudos informacionais e nos permitem
caminhar com mais nitidez pelos discursos formadores da episte-
mologia da CI. Trata-se de um foco sensível de estudos culturais
que percebem a informação como um outro modo de conhecer,
mas não o único. Desta maneira, importa a estes estudos pensar

38
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

a informação não como representação, mas como gerador do


plural; a informação enquanto prática, ação, subvertendo, assim,
seu uso inicial dentro dos estudos de organização dos saberes.
Como afirma Peter Burke (2003, p. 41), em sua História Social
do Conhecimento, “de Durkheim em diante os antropólogos de-
senvolveram uma tradição de levar a sério as categorias ou classi-
ficações das outras pessoas, investigando seus contextos sociais”.
Neste deslocamento das ciências sociais, a idéia de uma realidade
pré-lógica é reorientada, e passa-se a pensar a ciência como uma
viagem às esquinas onde a realidade se faz experimentada e viven-
ciada, uma viagem às ambiências.
Não é, deste modo, uma ocorrência isolada dentro das ci-
ências esta reorientação argumentativa que passa a conferir, de
maneira geral, mais “cientificidade” às categorias como cotidiano,
contexto, imaginário, hábitos, costumes. Assim, podemos iden-
tificar, na História, Michel de Certeau e Chartier; na Sociologia,
Berger & Luckmann e Norbert Elias; na Psicologia, Gardner e
Piaget; na Comunicação, Mafesoli; na filosofia, a corrente de prag-
matistas e neo-pragmatistas, que vão de Peirce à Rorty, passando
por Wittgenstein.
Na viagem para o interior – uma empresa de esclarecimen-
to – atentamos para a segunda fase da trajetória filosófica de
Ludwig Wittgenstein, mais profundamente delimitada pela obra
Investigações Filosóficas. O pragmatismo wittgensteiniano em di-
álogo com este trabalho reencontra

a destituição do modelo de racionalidade dos fun-


damentos últimos e das essências para, em seu lu-
gar, adotar um modelo de racionalidade que surge
das relações, das interações. Para estabelecer crité-
rios de racionalidade é preciso compreender como
as semelhanças de família se distribuem nos jogos

39
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

de linguagem, na gramática. Portanto, tais critérios


se constituem não a partir de essências ou pontos
estáticos e específicos, mas na dinâmica das com-
plexas relações que articulamos a partir das seme-
lhanças de família entre as muitas características
dos jogos de linguagem (CONDÉ, 2001, p. 55-56).

A tradição pragmática, que aqui também chamaremos prag-


matismo informacional/pragmática informacional, quer signifi-
car, em nosso contexto de pesquisa, o conjunto de manifestações
teóricas que trocam semelhanças de família em torno da visão de
mundo pragmatista sobre a organização dos saberes, e vêm tecen-
do, neste corpo de estudos, uma determinada tradição, ou, como
chama Wittgenstein (1979), uma forma de vida. Convidamos,
assim, o autor para realizarmos a leitura do pragmatismo infor-
macional, tomando Wittgenstein tanto como influência, como
apontaram, por exemplo, Capurro (2003) e Brier (1996), como
elemento de esclarecimento para a compreensão desta linha de
pensamento na CI.
Ao propor, em uma de suas últimas imagens, uma análise so-
cial dos gestos coletivos de uso da informação – nas palavras de
Hjorland & Albrechtsen (1995), às comunidades discursivas, nas
palavras de Marteleto (1995), às relações e práticas dos sujeitos
–, aquilo que aqui consideramos uma tradição pragmática da CI
nos parece, antes, na mais distante de suas curvas, uma filosofia
informacional da linguagem ordinária, como aquela que pode ser
reconhecida na segunda fase do pensamento de Wittgenstein.
Ao preocupar-se com uma certa linguagem ordinária, ao
“retornar” ao senso comum compreendendo todo conhecimento
antes como um outro conhecimento comum, desmistificando a
certeza científica e fazendo com que os estudos informacionais
transpusessem os muros acadêmicos – lembremos, a CI e gran-
de parte de suas antigas denominações e/ou traços disciplinares

40
A caminho dos becos e travessas da Ciência da Informação

teriam nascido como um estudo da ciência, da comunicação cien-


tífica, da informação científica – a experiência discursiva de uma
tradição pragmática abrirá indubitavelmente margens para a crí-
tica e o convite a um revisionismo epistemológico de base, dos
becos e travessas das teorias informacionais, reencontrando/ilu-
minando indícios humanistas da organização do conhecimento.
É necessário, no entanto, abordar a palavra reencontro com
um olhar crítico. Em certos meandros, talvez ela possa aqui
ser pronunciada, como observamos ao fim de nossa viagem.
Reencontro, pois, diante da grande “fetichização” do termo infor-
mação, principalmente no âmbito dos estudos de organização do
conhecimento, a filosofia da representação parece ser a única que
rege esta área na virada do século XIX para o XX, o que ilustra um
afastamento do olhar humanista. Tanto que a Documentação apa-
rece como disciplina fundamentalmente positivista, voltada para
uma meta-representação objetiva e dinâmica dos artefatos cul-
turais, meta-representação que passará a ser identificada poste-
riormente pelo termo informação. Em níveis gerais, isto justifica,
do ponto de vista filosófico, a indicação de parte considerável de
pesquisadores identificando a Documentação (PINHEIRO, 1997;
ORTEGA, 2007) ou a Informática Documentária como uma das
fontes da CI. Suas bases filosóficas e metodológicas são pratica-
mente as mesmas; apenas as técnicas e tecnologias começam a so-
frer grandes mutações.
No entanto, não podemos pontuar este aspecto como um pa-
radigma, como o único caminho. O trabalho de Silveira (2007),
por exemplo, nos demonstra, através de currículos das áreas que
tinham por missão organizar o conhecimento, visando seu acesso
e preservação - como a Biblioteconomia - que esta linha de cunho
retórico e filológico permanecia nesta e naquela escola, ainda que
cada vez mais desfragmentada. Desta forma, é possível falar em
reencontro, mas, antes é necessário falar em uma permanência,

41
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

em uma longa duração. O aparente “reencontro” com um prag-


matismo fundacional – período chamado, por Capurro (1992), de
“virada pragmática” – ao pontuar a contextualidade de cada fenô-
meno, exigirá uma hermenêutica profunda dentro dos estudos de
organização do conhecimento.
Viajar é expressar uma experiência que visa, fundamental-
mente, a alteridade, o contato com o outro. Através deste contato,
recuperamos gestos da memória que guarda os significados das
ações e dos artefatos. Chegamos, assim, até um horizonte conhe-
cido por uma das tradições mais antigas dos estudos da informa-
ção, ainda que sob outros nomes: a Biblioteconomia humanista,
ou erudita. Ao “reencontrar-se” com a Retórica (CAPURRO,
1991), retomando também seus traços filológicos, a CI, sob o que
classificamos como tradição pragmática, apenas traz luz até uma
história ofuscada por outra tradição, de cunho representacionista,
e nos permite tecer, de forma mais coerente, uma colcha da me-
mória das experiências da organização do conhecimento muitas
vezes esfacelada por outras historiografias mais atentas às revolu-
ções, menos interessada nas permanências.

42
2
Pragmática e
Ciência da Informação:
indícios de uma tradição

A formação discursiva do pragmatismo parte de diferentes auto-


res e é fruto de inúmeras leituras filosóficas particulares e coleti-
vas. Diante de diferentes pensadores e correntes de pensamento
que sistematizaram o método, a filosofia ou o olhar pragmatista,
procuramos aqui entender este complexo de narrativas à maneira
de Santos (1989). Assim,

ao contrário do que à primeira vista se pode pen-


sar, uma concepção pragmática do conhecimento
científico desloca o centro da reflexão do conhe-
cimento feito para o conhecimento no processo
de se fazer, do conhecimento para o conhecer [...]
(SANTOS, 1989, p. 49).

A reflexão que se pretende com o pragmatismo – e os enfo-


ques tratados a partir da predicação “pragmática” - não é apenas
reformular ou revisar um certo “pensamento social” da informação,
mas problematizar os contornos da campanha teórica que antece-
de a expedição crítica até o “solo áspero” dos intercâmbios sociais
(WITTGENSTEIN, 1979), para usar a expressão wittgensteiniana,
procurando apreender os mecanismos subjetivos e multifacetados
de produção do conhecimento. Como afirma Capurro (1992), a “vi-
rada pragmática” realizada na CI pela hermenêutica e pela discussão

43
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

em torno das Investigações Filosóficas de Wittgenstein tem impli-


cações decisivas para os estudos de organização do conhecimento.
Costuma-se pensar, superficialmente, que o pragmatismo é
apenas uma reposta prática ao objetivo proposto. O adjetivo prag-
mático, por vezes, ganha uma configuração pejorativa nos dis-
cursos científicos e ordinários. No entanto, o pragmatismo, assim
pensado, pouco tem a contribuir em uma filosofia da ciência – e
nunca atingiria o nível de profundidade de discussões e o grau de
importância que conquistou durante o século XX. O pragmatismo
indica tanto um método científico quanto uma filosofia da ciên-
cia voltados para o esclarecimento de problemas do pensamento
a partir da análise dos usos aos quais os discursos são submetidos
na realidade específica em que são pronunciados – trata-se de re-
conhecer o discurso em sua apresentação, não em sua represen-
tação. Como método, o pragmatismo fundamentalmente volta-se
para a compreensão do significado das palavras no contexto de
atuação destas. Como filosofia, preocupa-se com a relação entre
conhecimento e comunidades que constroem social e cultural-
mente suas ferramentas e possibilidades de apreensão do mundo.
E, em resumo, como ponto de vista, relaciona-se com o conjunto
de abordagens voltadas para a compreensão do homem pela sua
construção coletiva das possibilidades do conhecer, a partir dos
usos da linguagem.
A orientação teórica pragmática na CI leva à substituição
da pergunta “o que é a informação?” para a indagação “o que é
a informação para?”. Segundo Capurro (1992), os campos prag-
máticos de possibilidades abertos ao conhecimento são contextos
compartilhados, isto é, da pré-compreensão compartilhada. O ho-
rizonte da CI, nesta linha filosófica, é a dimensão contextual que
investiga as formas de comunicação no cotidiano dos indivíduos
em suas comunidades específicas, comungando da multiplicidade
de jogos de linguagem que permitem suas trocas simbólicas.

44
Pragmática e Ciência da Informação

2.1 Pragmatismo: teias conceituais

Novellino (1996) apontará que “a partir de 1851 o termo


“pragmatismo” passa a designar a corrente filosófica predomi-
nante nos Estados Unidos, segundo a qual o valor prático de um
enunciado é considerado como critério de sua verdade ou, pelo
menos, de sua aceitabilidade” (NOVELLINO, 1996). Segundo
Novellino (1996):

no contexto da filosofia pragmatiscista america-


na, Peirce distinguiu três dimensões do signo, a
que Marvin daria nome de semântica, sintática e
pragmática. Enquanto a semântica diz respeito à
relação dos signos com os objetos aos quais estes
remetem e a sintática à relação dos signos entre si,
a pragmática diz respeito à relação de um signo
com os seus interpretantes (NOVELLINO, 1996).

O pragmatismo é um movimento filosófico basicamente


identificado a partir dos estudos de Peirce, que trabalhou com o
chamado “pragmatismo metodológico”. Este está estruturalmen-
te relacionado à linguagem. O trabalho de Peirce, como descreve
Novellino (1996), não pretendia definir a verdade ou a realidade,
mas apenas o significado dos termos, ou melhor, das proposições.
Este significado era dado pelo hábito de ação, ou crença veiculada
à vivência da proposição. Visto isso, temos que, de modo geral, o
pragmatismo metodológico pode ser entendido como uma teoria
do significado (ABBAGNANO, 2000, p. 784). Trata-se do mencio-
nado ângulo do pragmatismo mais voltado para a definição de um
método científico – análise dos conceitos na linguagem científica
– que para construção de uma filosofia da ciência. Neste mesmo
âmbito pragmático, encontra-se Dewey e os italianos Giovanni
Vailati e Mário Calderoni. Uma outra concepção de pragmatismo

45
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

é observável, oriunda de W. James e F. C. S. Schiller, chamado


“pragmatismo metafísico”. Aqui a verdade era reduzida a sua uti-
lidade e a realidade ao espírito (NOVELLINO, 1996). Neste outro
olhar sobre o pragmatismo, a racionalidade é entendida como
sentimento e todas as ações e desejos humanos são condicionan-
tes da verdade, incluindo a verdade científica.
Jacob & Albrechtsen (1999) problematizarão importantes li-
ções do pragmatismo. Dentre essas, estão o antidogmatismo, e o
“fallibilism”, que aborda o argumento que vai contra a rigidez do
racionalismo científico (JACOB & ALBRECHTSEN, 1999, p. 530).
Segundo as pesquisadoras, os princípios pragmáticos permitem
entender o mundo em sua instabilidade, o mundo como entidade
fadada à descontinuidade, considerando os indivíduos como ato-
res que convivem com o imprevisto e que conjugam com seu grupo
social o conhecimento que vivenciam e reconstroem, evidencian-
do assim o pluralismo da linguagem cotidiana, outra lição do prag-
matismo selecionada por Jacob & Albrechtsen (1999, p. 530).
Para Peirce (1974a, p. 12) o pragmatismo busca um “método
capaz de determinar o verdadeiro sentido de qualquer conceito,
doutrina, proposição, palavra, ou outro tipo de signo”. Trata-se,
desta maneira, de um método “arquitetônico”, capaz de ilustrar de
maneira anterior ao fato, o delineamento do uso que fazemos de
nossa linguagem – um método da filosofia, como indica o autor.
“O estudo da filosofia consiste portanto em reflexão, e o pragma-
tismo é aquele método de reflexão” que assume uma finalidade
que gira em torno da questão: tornar claras as idéias, expandir as
possibilidades de diálogo entre os discursos científicos.
Peirce (1974a) parte, em sua construção do método, de uma
leitura da Crítica da Razão Pura, de Kant2. A necessidade de clarifi-

2
Como citará Peirce (1974a, p. 11), “o horizonte pragmático é a adaptação do conheci-
mento geral com a finalidade de influenciar a moral”, assim, para Kant, “a antropologia
pragmática” é a “ética prática”.

46
Pragmática e Ciência da Informação

cação da metafísica no âmbito da profusão de idéias no século XIX


fez com que Peirce (1974a) vislumbrasse uma filosofia prática, ou
seja, uma teoria do método que interpretasse os efeitos práticos do
pensamento. O pragmatista compreende uma definição clara dentro
de um conjunto de pensamentos e idéias quando esta definição não
apresenta uma diferença prática – ou seja, ela justifica-se na atuação.
Dentro das categorias definidas por Peirce (1974a, p. 23)3 no
âmbito do método pragmático, temos a presentividade (present-
ness), ou seja, a faculdade de “ver o que estava diante dos olhos”,
ver o que se apresenta, não substituindo o fenômeno por uma
interpretação metafísica4. Quando o fenômeno surge, a primeira
característica que se nota é sua “presentidade”, seu caráter de pre-
sentificação na realidade em que o observador se encontra. Como
afirma o autor, o pragmatismo pode ser pré-definido como uma
“espécie de atração instintiva por fatos vivos”.
Como afirma Moura (2006, p. 6)5, para Peirce

a tarefa principal dos filósofos era criar uma doutri-


na capaz de, através de suas categorias, contribuir
3
Peirce (1974a) fala em uma fenomenologia, ou seja, a necessidade de descrição den-
tro da análise dos fenômenos.
4
As outras categorias universais são o conflito (struggle) e as leis, ou seja, o nomina-
lismo. Por conflito pode-se compreender a relação de ação e reação diante dos fenô-
menos da realidade vivenciados pelos indivíduos, para a análise do fenômeno, pois, “a
experiência é a nossa única mestra”. Nesta medida, é preciso compreender o fenôme-
no, e não perder-se para além dele (PEIRCE, 1974a, p. 27). A presença do nominalismo
como categoria universal indica a condição de cientificidade da linguagem aquém
de uma metafísica que limite a compreensão dos termos “em outras palavras, a partir
do nominalismo, só existem os homens e as palavras apontam para coisas singula-
res” (AUROUX, 1998). Peirce expande sua análise da tríade de categorias universais,
discutindo os conceitos de primeiridade, segundidade e terceiridade. A primeiridade
significa o “sentimento imediato” diante da realidade. “A secundidade se refere ao mo-
vimento de ação e reação. É uma categoria de relação entre ações, fatos, experiências
posicionadas no tempo e espaço”. “A terceiridade é a categoria da mediação que tem
por função relacionar um segundo a um terceiro numa síntese intelectual. Correspon-
de a inteligibilidade do pensamento em signos”. (MOURA, 2006)
5
Os trabalhos de Peirce no âmbito do pragmatismo conduzirão até a investigação da
teoria semiótica, semiótica esta retratada e analisada em CI, por exemplo, pela própria
pesquisadora Maria Aparecida Moura.

47
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

para a análise de todas as experiências possíveis.


Tendo como ponto de partida sua insatisfação com
as categorias aristotélicas, consideradas mais lin-
guísticas do que lógicas, Peirce dedicou-se à elabo-
ração de um novo complexo categorial.

Para Magalhães (2005), o pragmatismo de Peirce – o prag-


maticismo6 – “apoia-se numa filosofia crítica do senso comum, ou
na doutrina do senso comum crítico, e na doutrina escolástica do
realismo”. No pensamento peirceano, o realismo é indissociável
do pragmatismo. “A significação não pode ser concebida como o
ato em si, observável. Ela consiste em uma proposição condicional
concebida, e não nos resultados de um ato de verificação”.
Em Peirce (1974b) o significado só pode ser resolvido atra-
vés do estudo dos interpretantes, isto é, dos efeitos significados
dos signos. Tais efeitos – que não são signos, mas têm uma apli-
cação geral – participam de um certo acontecimento, chamado
mudança-de-hábito. Esta é “uma modificação nas tendências de
uma pessoa para a ação, que resulta de exercícios prévios da von-
tade ou dos atos, ou de um complexo de ambas as coisas”.
Os hábitos peirceanos têm “graus de força variados, que vão
desde a dissociação completa até associação inseparável”. Os ho-
mens, em sua vivência diária, constroem hábitos que influenciam
seu comportamento exterior. Não há uma lógica a priori que
defina o hábito. “Este hábito é que constitui a conclusão lógica
real e verdadeira”. Em outras palavras, o hábito é deliberadamen-
te constituído, auto-analisado, é uma definição viva. Assim, para
6
Peirce notaria criticamente um uso abusivo do termo pragmatismo em diferentes
revistas literárias e rebatizou o “seu” método, ou melhor, definiu a sua maneira de clas-
sificar e compreender o pragmatismo. A sílaba (ic) dentro de pragmaticismo indica a
restrição no sentido. Essa mudança postula sua noção de que o pragmatismo é um
método, e não uma filosofia ou sistema filosófico. Ver: MAGALHÃES, Thereza Calvet de.
Origens do pragmaticismo: o “anti-fundacionalismo” de C. S. Peirce e a sua defesa da
filosofia crítica do senso comum. Belo Horizonte, out, 2005. Disponível em: <http://
www.cspeirce.com/menu/library/aboutcsp/calvet/origins.pdf>. Acesso em: 18/06/07.

48
Pragmática e Ciência da Informação

descrever um hábito é necessária a descrição da ação que dá ori-


gem a ele (PEIRCE, 1974b). O pragmatismo, assim, cumpriria
duas funções estruturais dentro do contexto científico. Na pri-
meira, trabalharia para “desembaraçar-nos ativamente de todas as
idéias pouco claras” - nos dizeres wittgensteintianos, afastar-nos
do enfeitiçamento da linguagem. Na segunda função, atuaria para
“apoiar, e tornar distintas, idéias em si claras, mas de apreensão
mais ou menos difíceis” (PEIRCE, 1974b).
Richard Rorty7 (1997, p. 17) define o pragmatismo a partir de
diferentes ângulos. Dentre os principais, o anti-representacionis-
mo, ou a insistência na noção de que não há uma “determinida-
de” em questão no estudo do conhecimento e de nossas relações.
A linguagem foi constituída pela “ambiência na qual vivemos”
(1997, p. 18). O pragmático ou pragmatista não possui nenhuma
teoria da verdade (1997, p. 41), indo em direção contrária à tradi-
ção objetiva da ciência moderna, que buscava uma verdade sólida
– a verdade como correspondência da realidade.

De um ponto de vista pragmático, a racionalidade


não é o exercício de alguma faculdade chamada “ra-
zão” – uma faculdade que apresenta alguma relação

7
Rorty é considerado por muitos críticos como representante do neopragmatismo.
Leitor, dentre outros, de Dewey, James e Wittgenstein, abordamos aqui suas sínteses
e leituras fundamentais e panorâmicas do pragmatismo. Em “Será o neopragmatis-
mo pragmatista? Interpelando Richard Rorty”, Thamy Pogrebinschi (2006), levanta a
questão de diferença das abordagens de pragmatistas como James, Peirce e Rorty.
Nessa leitura, temos um Rorty minimizando o conceito de experiência, focado pelos
filósofos antecedentes, e focando a linguagem como primeira categoria. Para Pogre-
binschi (2006), Rorty não pode ser considerado, de fato, um pragmatista, uma vez
definida sua exacerbada defesa do antifundacionalismo, em detrimento de outras im-
portantes características que definem a filosofia pragmatista, como o contextualismo.
Partimos de uma outra leitura, principalmente por acreditarmos que cada pragmatis-
ta ou pragmático, a seu modo, focalizou um ângulo diferente do pragmatismo, sem
negá-lo por completo. O próprio contextualismo aparecerá com recorrência nas nar-
rativas de Rorty. Em outro olhar, lembramos também que a própria obra pragmatista
de Wittgenstein pode ser tomada como uma transição entre os primeiros teóricos do
pragmatismo, como James e Dewey, e os chamados neopragmatistas.

49
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

determinada com a realidade. Nem é o uso de um


método. Ela é simplesmente uma questão de estar
aberto e curioso, bem como de confiar antes na per-
suasão do que na força (RORTY, 1997, p. 87).

O contextualismo pragmático nega a possibilidade de rela-


ções de representação – “desde que se rejeite a oposição tradicio-
nal entre contexto e coisa contextualizada não há nenhum modo
de dividir as coisas naquelas que são o que são indenpendemente
do contexto, e aquelas que são dependentes do contexto” (RORTY,
1997, p. 136). Em outras palavras, não há nenhum modo de “divi-
dir o mundo em amostras concretas e textos ruidosos” (RORTY,
1997, p. 136). A hermenêutica, neste âmbito, aparece como a luz
para a leitura de mundo do pragmatismo: “toda investigação é
interpretação; todo pensamento consiste em recontextualização”
(RORTY, 1997, p. 140-141). A tradição representacionista conduz
permanentemente a labirintos de becos sem saída (1997, p. 209).
A procura por uma acuidade – a linguagem ideal, ou ponto de
vista do olhar de Deus – na designação de termos para determi-
nados significados, ou de significados para determinados termos,
leva sempre até um impasse. As palavras, sob os jogos de lingua-
gem, são vivas e deslocam-se eternamente – pelo menos, enquan-
to existirem comunidades interpretativas.
Se as palavras são construções vivas dentro da realidade, o
pragmatismo evita as tentativas de representar o real. Ao contrá-
rio, investiga as possibilidades de usar a realidade, pensando em
uma compreensão cultural da mesma, e não em uma relação re-
presentacionista. Esta causa é o tecido das crenças, que instituem
guias – referências – para compreendermos o mundo. A lingua-
gem, assim, não é um meio de representar as coisas. Antes, é um
“intercâmbio de sinais e ruídos”. (RORTY, 2000, p. 60)
Em resumo,

50
Pragmática e Ciência da Informação

assim como o proferimento de um substantivo


não veicula qualquer informação a quem não
tenha familiaridade com adjetivos e verbos, não há
nenhuma maneira de veicular informação que não
seja relacionando uma coisa a alguma outra coisa.
Somente no contexto de uma sentença [...] a pala-
vra tem significado (RORTY, 2000, p. 72).

2.2 - O pragmatismo na epistemologia


da Ciência da Informação

2.2.1 Algumas categorias fundamentais

Enquanto método ou enfoque, o pragmatismo, no âmbito da


CI, é construído, no olhar de diferentes autores, como Capurro
(1991, 2003) e Rendón Rojas (1996), por um lado, como uma res-
posta às limitações que as manifestações fisicalista e cognitivis-
ta apresentavam no estudo da informação – dito de outro modo,
um recurso às barreiras de uma filosofia representacionista; por
outro, como “reencontro” aos pressupostos de um “humanismo
perdido” com o avanço da tradição bibliotecária tecnicista, vol-
tada essencialmente para a classificação e o controle da produção
documental, e menos atenta à compreensão dos conteúdos en-
volvidos nesta produção. Esta abordagem coloca o livro, o docu-
mento e a informação como modelos de um objeto tangível, uma
entidade independente de contextos múltiplos e mutantes.
Os pressupostos do pragmatismo informacional vão em dire-
ção a um processo dialógico de construção de modelos de pesqui-
sa, um jogo de colaboração entre teorias e filosofias que correspon-
dam aos interesses e circunstâncias da pesquisa. Como afirmam
Jacob & Albrechtsen (1999), ao imaginar a informação como te-
cido instável imerso num processo dialógico de reorganização e

51
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

recontextualização legitimamos a variabilidade e a ambiguidade


que podem aparecer quando o conhecimento é gerado através de
ambientes organizacionais diversos.
Jacob & Albrechtsen8 (1999), como já mencionado, comen-
tam cinco lições do pragmatismo no âmbito geral de suas cor-
rentes. São elas: o antifundamentalismo; o fallibism; a natureza
social da comunidade; a contingência; e, por fim, o pluralismo. A
descrição e a análise destes elementos parecem levar a clarificação
dos motivos que justificam a presença e os desdobramentos do
pensamento pragmático dentro da epistemologia informacional, e
conduzirão ao ponto de vista aqui trabalhado, ou seja, o pragma-
tismo como uma linha que perpassa a história do campo.
O antifundamentalismo é o primeiro e mais básico princí-
pio pragmatista. Este princípio pode ser compreendido como a
aversão a qualquer modelo fixado de realidade, qualquer univer-
salismo nos usos da racionalidade. A “verdade platônica” contida
em uma essência é terminantemente descartada em prol do olhar
sistematizado para a complexidade de universos coexistentes
(JACOB; ALBRECHTSEN, 1999). Há, entre estes, fronteiras sen-
síveis, maleáveis, concorrentes, abertas ao diálogo, ao intercâm-
bio de experiências e descobertas que articula a sobrevivência das
sociedades.
O segundo elemento fundamental do pragmatismo é o falli-
bism, ou a “faculdade da falha”. Este amplia o argumento prag-
mático contra a dominação de modelos rígidos e formalizados de

8
E. K. Jacob e H. Albrechtsen partem de Bernstein para realizar tal comentário. O foco
destas lições é voltado, antes da epistemologia, para um território de prática especí-
fico na CI, a sub-disciplina da Classificação. Explicitamos este levantamento por acre-
ditarmos que, apesar desta visão específica, o discurso dos autores ter uma profun-
didade relevante, que, em seus horizontes, nos conduzem a uma leitura global para
os estudos informacionais. O texto de Bernstein está em: BERNSTEIN, R. J. Pragmatism,
pluralism and the healing of wounds. In: BERNSTEIN, R. J. The new constellation: the
ethical-political horizons of modernity/postmodernity. Cambridge: MA/MIT Press,
1992. p. 323-339.

52
Pragmática e Ciência da Informação

realidade. Isto significa pensar que toda interpretação da experi-


ência é uma tentativa de apreensão do mundo e está aberta a fa-
lhas, erros, ou seja, é sempre passível de reanálises dentro de con-
textos competitivos. Paralelo a esta categoria caminha um outro
elemento, a contingência. A noção pragmática de contingência
não colocará em evidência apenas a instabilidade do universo
em que os indivíduos operam, mas também o papel penetrante e
inescapável da possibilidade do imprevisto, da incerteza, do ines-
perado – e, principalmente, ilumina o elemento da contextuali-
dade, ou seja, cada evento tem seu contexto específico (JACOB;
ALBRECHTSEN, 1999).
Uma vez imersos em universos fragmentados, com suas expe-
riências peculiares de identificação e reivindicação, os indivíduos
devem ser estudados a partir de suas práticas sociais compartilha-
das. Isto quer dizer, o pragmatismo volta-se para a socialidade das
comunidades que se desenvolvem nos interditos do cotidiano, e
enxerga que, para superar o relativismo da contingência em suas
investigações, deve ir ao encontro de tais comunidades. É ali, no
estudo das relações sociais e suas formas de interpretação que o
pragmatismo acredita ser possível compreender os estratos míni-
mos de uma tradição. Para isso, a linguagem, ou seja, a tessitura
cultural do conhecimento, é objeto fundamental de análise.
O último elemento, o pluralismo, reafirma a visão humanis-
ta de uma proposta pragmática. A partir do pensamento plural a
corrente pragmática entende a constituição do mundo como algo
formado pela multiplicidade de tradições, perspectivas ideológicas,
utopias, instituições políticas e organizações sociais. O pluralismo
pode, em uma visão superficial, conduzir ao relativismo acima cita-
do. Contra isso, o olhar pragmático fundamenta uma análise crítica
a partir das três categorias iniciais de sua estrutura, ou seja, na for-
mação do diálogo entre teorias divergentes procura identificar as
tentativas de um fundamentalismo, as possibilidades de incerteza e

53
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

a dinâmica da contingência. Fronteiras entre as teorias divergentes


começam a ser derrubadas a partir da confrontação e da argumen-
tação. A quebra de tais fronteiras só pode vir – e aqui existe a provi-
dência pragmática crítica – com a criação permanente da platafor-
ma de disposição da comensurabilidade e da hermenêutica, isto é, o
espaço de deliberação para os sujeitos falarem, ouvirem e avaliarem
as consequências de seus projetos de intervenção científica.

2.2.2 Uma filosofia pragmática por trás dos estudos de


organização do conhecimento: a forma de vida dos contextos

Para Capurro (1992), como visto, a “virada pragmática” foi


proposta, nos anos 1980, por Roberts e por Wersig9, entre outros.
Trabalhos como aqueles de Rendón Rojas (1996) e González de
Gómez (1996) investigam os contextos e conceitos desta “virada”.
O pragmatismo informacional será caracterizado de diferentes
formas. Dentre os exemplos, temos: Capurro (2003a) chamou de
paradigma social, Rendón Rojas (1996) conceituou como enfoque
pragmático, Araújo (2003) abordou como a aproximação de enfo-
ques microssociológicos e interpretativos, e González de Gómez
(1996a) tratou como esfera comunicacional.
Na revisão dos estudos de Rendón Rojas (1996), González de
Gómez (1996a), e Hjorland & Albrechtsen (1995), por exemplo,
o conceito de pragmatismo surgirá como uma linha que perpassa
os pressupostos do debate social da informação e entrelaça estes
três trabalhos. Tanto em Hjorland & Albrechtsen (1995) quan-
to em Rendón Rojas (1996), seguidos por González de Gómez
(1996), a passagem pelo pragmatismo é uma hipótese estrutural

9
Os trabalhos referenciados por Capurro (1992) são, respectivamente: ROBERTS, N. A
search for information man. Social Science Information Studies, n. 2, p. 93-104, 1982;
WERSIG, G. et al. Information und Handeln. Berlin, 1982; WERSIG, G.; WINDEL, G. In-
formation science needs a theory of ‘information actions’. Social Science Information
Studies, n. 5, pp. 11-23, 1985.

54
Pragmática e Ciência da Informação

para se pensar os fundamentos sociais da CI em um outro enfo-


que epistemológico.
É no interior do campo da pragmática que Rendón Rojas
(1996) encontrará os elementos que escapam às teorias sintáti-
ca e semântica da informação – e desvelará o “social” esquecido
em uma epistemologia da CI, principalmente com o avanço da
tecnologia na plataforma de uma tradição representacionista. O
enfoque pragmático aborda a informação como uma síntese de
elementos objetivos e subjetivos. O acesso à informação apenas se
dá a partir da construção compartilhada do significado de um de-
terminado documento e seu conteúdo. Logo, acesso, para esta tra-
dição, não é representação, mas um coletivo de interpretações. Se
não são conhecidas as regras de estruturação de um determinado
mundo informacional – seus jogos de linguagem -, o documento
não dirá nada além de sua condição física ou virtual – sua forma
-, ficando seu conteúdo como uma abstração absoluta, ou seja,
atinge seu grau zero de ilegibilidade. Em outras palavras, apenas
o jogo de linguagem que faz uso do documento ou da informação
pode revelar o significado verdadeiro dos mesmos.

2.2.3 Wittgenstein: os jogos de linguagem dentre as redes


informacionais

O pragmatismo informacional encontra, no pensamento de


Wittgenstein, fonte coerente para construir suas justificações e de-
marcações. Como afirma Capurro (2003), encontramos no filóso-
fo vienense “antiepistemologias” ou “pragmatologias”, isto é, um
aprofundamento nas circunstâncias de ação de um pré-conheci-
mento prático e tácito. Esta aproximação é percebida por Rendón
Rojas (1996), que traz Wittgenstein para o bojo dos estudos epis-
temológicos da informação. No mesmo processo de aproximação,
González de Gómez (1996) entende que o enfoque pragmático vê

55
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

a elaboração e o desdobramento do conceito do contexto, além da


percepção da subjetividade, noção que encontraremos ecoada no
pragmatismo wittgensteiniano.
Inúmeros pesquisadores interpretaram através de diferentes
ângulos as Investigações Filosóficas – e as obras que, junto desta,
perfazem a trajetória pragmática wittgensteiniana – para a pes-
quisa científica. Dentre aqueles que abordaram a obra a partir
de sua contribuição pragmática está Mauro L. L. Condé. Condé
(1998) trabalhou, em sua dissertação, com a diferenciação entre
as duas fases do percurso filosófico de Wittgenstein, demarcadas
pelas seguintes obras: Tratado Lógico-Filosófico e Investigações
Filosóficas. Após delimitar o distanciamento e as proximidades
entre ambas, Condé (2001) partiu para sua tese, onde realizou
uma leitura do segundo momento do pensamento do filósofo,
buscando evidenciar as alternativas que esta diferente percepção
das relações sociais oferece para a construção de soluções para a
crise da racionalidade no mundo contemporâneo.
A análise wittgensteiniana de Condé (2001) se aproximará da
percepção de González de Gómez (1996a) e Rendón Rojas (1996)
acerca da ampliação semântica do conceito de contexto. No pensa-
mento dos três autores encontramos um consenso quanto à carac-
terização de profundo cunho sócio-cultural da noção pragmática
de Wittgenstein e das possibilidades que o pragmatismo proposto
a partir das Investigações Filosóficas e os textos wittgensteinianos
marginais, que cercam esta obra, abrem para a compreensão do
indivíduo como “sujeito” do conhecimento.
Partindo da noção de que a linguagem é, primordialmente,
o sistema de informação mais primário que possuímos – guarda
e permite o acesso à informação; da linguagem parte a constru-
ção social da oralidade e da escrita, estas tecnologias tradicionais
da informação – nos aproximamos da base do pragmatismo de
Wittgenstein e identificamos sua relação circunstancial com a

56
Pragmática e Ciência da Informação

epistemologia da CI e, principalmente, com a tradição pragmática


da epistemologia informacional. Há, como nas narrativas do prag-
matismo informacional, o desligamento de uma noção definitiva
de informação, e a busca por esta noção a partir dos contextos de
uso dos saberes.
Como afirma Condé (1998, p. 93), as Investigações Filosóficas
“interditam a possibilidade de uma linguagem universal, en-
fatizando, ao contrário, a dimensão particular dos jogos de lin-
guagem, pois eles não possuem uma propriedade comum, mas
simplesmente estão apresentados uns com os outros através de se-
melhanças de família”. Estas semelhanças indicam, acima de tudo,
traços mutáveis, em uma dinâmica que pode lembrar, metaforica-
mente, a constante transformação dos conceitos e das tecnologias
no mundo contemporâneo. Nesta formulação filosófica, a “gra-
mática” não é uma entidade normatizadora por princípio. Antes,
ela atua como um sistema de informação.
A gramática wittgensteiniana é “um instrumento que verifica
a pluralidade dos usos das palavras e diversas formações de pro-
posições”, “permite-nos analisar os diversos modos do discurso”
(CONDÉ, 1998, p. 99). O jogo de linguagem é definido em grande
medida pela “dinâmica das possibilidades de contraste” das carac-
terísticas que o constituem em relação a outros jogos (CONDÉ,
2001, p. 52). As semelhanças de família definem fundamental-
mente possibilidades de analogias. No entanto, mesmo que “uma
semelhança de família possibilite analogias, ela também permite
perceber as diferenças”, jogo de relações através do qual tecemos
diariamente os domínios de racionalidade (CONDÉ, 2001, p. 54).
A preocupação ligada mais ao consenso que à descoberta de
fundamentos lógicos é uma das problematizações-chave do prag-
matismo wittgensteiniano. As práticas, as atividades cotidianas –
como as trocas informacionais – é que conferem coerência às “ló-
gicas possíveis”, socialmente construídas. O mundo e suas relações

57
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

sociais, antes de serem conduzidos por uma exatidão pré-deter-


minável, circulam sobre permanentes incertezas, falhas, contin-
gências. “Tudo o que chamamos de nome”, nos fala Wittgenstein
(1979, p. 25), é “dito apenas num sentido inexato, aproximativo”. O
autor, desta maneira, reafirma o anti-dogmatismo como estrutura
comum do pragmatismo: “não há um método da filosofia, mas
sim métodos, como que diferentes terapias” (WITTGENSTEIN,
1979, p. 58).
Mais que a análise de decodificação da linguagem – dentro da
qual circula uma informação – Wittgenstein (1979) está voltado
para as possibilidades de compreensão desta linguagem. Assim,
“compreender uma frase significa compreender uma linguagem”;
“compreender uma linguagem significa dominar uma técnica”
(WITTGENSTEIN, 1979, p. 87). Há, diz o filósofo (1979, p. 131),
um “abismo” entre falar e praticar, entre a ordem e a execução.
É aqui que a compreensão deve estar, é este abismo que ela deve
preencher. Esta técnica, este domínio, só podem ser desvelados
no acompanhamento das formas de vida da palavra – das suas
vivências nos jogos de linguagem; “temos que ver seu emprego
e aprender com isso” (WITTGENSTEIN, 1979, p. 114). Daí a
profunda orientação sociológica e antropológica da filosofia de
Wittgenstein. O próprio conceito de semelhanças de família, nos
revela Condé (2001, p. 55), reafirma esta fundamentação da filo-
sofia pragmática de Wittgenstein: tais semelhanças podem ser re-
conhecidas como a “compreensão de diferenças possibilitada pela
própria semelhança”.
A racionalidade, no pragmatismo de Wittgenstein, não é
científica nem uma formulação essencial da lógica, de uma lógica
fundamental. Ela se dá a partir de uma forma de vida, ou seja,
uma “rede multidirecional flexível que se estende através de se-
melhanças de família”, uma teia que, ainda que flexível, “é sufi-
cientemente forte para possibilitar a constituição de critérios de

58
Pragmática e Ciência da Informação

racionalidade que, embora não sejam absolutamente precisos, são


suficientemente precisos para as nossas necessidades” (CONDÉ,
2001, p. 23). Uma gramática e seus incontáveis jogos de linguagem
constroem as possibilidades de estabelecimento destes “critérios
de racionalidade”, que permitem compreensões mútuas, compar-
tilhamento de interpretações e identificação por outras formas
de vida (CONDÉ, 2001, p. 25). As características fundamentais
da linguagem, percebe Condé (2001, p. 95), estão nas noções de
regra como “produto de uma práxis social”, convenção ou criação
social, ou seja, as regras surgem a partir de “padrões de comporta-
mento”, de “hábitos”, “costumes”, “instituições”.
O aparente ineditismo das novidades mundanas – tecnológi-
cas ou conceituais - nada mais é que a diferença de grau rortya-
na na filosofia de Wittgenstein (1979). Antes de uma distinção
de tipos históricos determinados universalmente, estas possíveis
transformações são distinções de graus contextuais tomadas a
partir da legitimação de discursos (RORTY, 2000, p. 98), ou seja,
só podem ser interpretadas como a comunhão de significados de
determinados jogos de linguagem, e não como transformações
objetivas pela simples identificação de elementos diferentes em
seus pronunciamentos, como o aparecimento de uma tecnologia
mais útil para dado contexto que outra. Não há “O novo”, diz o fi-
lósofo (WITTGENSTEIN, 1979, p. 217); há sempre um outro jogo
de linguagem. O inédito nada mais é que uma formulação consen-
sual de práticas discursivas que conferem outros significados a ve-
lhas palavras, outras palavras a velhos significados. Compartilhar
semelhanças de família entre formas de vida significa “compar-
tilhar não apenas jogos de linguagem, mas semelhanças de fa-
mília nos hábitos, costumes, visões de mundo, instituições etc”
(CONDÉ, 2001, p. 195-96).
A medida da racionalidade é o equilíbrio das experiências:
“a nossa compreensão das relações causais não se constitui na

59
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

observação, ou na experiência, como pretendeu o empirismo,


mas no complexo das relações pragmáticas”; “embora a gramáti-
ca, e não as relações causais, desempenhe o papel justificador das
nossas razões, em diferentes modos no jogo de linguagem ela se
modifica a partir das interações causais” (CONDÉ, 2001, p. 142).
Esta gramática, ainda, desvela “o abandono de uma perspectiva
semântica em função de uma predominante pragmática”; “uma
dimensão holista, embora não totalizante e hierárquica, caracte-
rizada pela sua peculiar concepção de sistema”; “sua postura an-
tiessencialista e anti-fundacionista, é possibilitada pela noção de
semelhanças de família” e “pelo papel da análise da gramática”
(CONDÉ, 2001, 168).
Wittgenstein, aprofunda Condé (2001, p. 169), “abandona a
racionalidade contemplativa do ver, presente no paradigma da
representação, para adotar uma racionalidade que se constitui a
partir da nossa gramática e do nosso atuar”. Na percepção da tra-
dição pragmática da CI o mesmo movimento do olhar sobre o
conhecimento pode ser observado. As manifestações que vêm te-
cendo esta tradição deixam de ater-se à possibilidade de conquista
de uma fórmula de controle da informação ideal, como também
deixam de concentrar-se na procura de uma imagem ideal da rea-
lidade do usuário que percebe a informação.
No pragmatismo dentro da CI a atuação da informação nas
comunidades que dela fazem uso é que indica a esfera a ser cien-
tificamente analisada. A racionalidade está aqui voltada para a
diversidade de apropriação da informação na realidade, realiza-
da por cada grupo de intérpretes e produtores do conhecimen-
to. Em suma, “os jogos de linguagem constituem exatamente a
tentativa de quebrar a idéia tradicional de categorização, que na
filosofia ocidental foi estabelecida desde Aristóteles, passando
por Kant e chegando ao pensamento contemporâneo” (CONDÉ,
2001, p. 152). “A racionalidade de Wittgenstein é assumidamente

60
Pragmática e Ciência da Informação

constituída na efemeridade das ações humanas”. É uma razão do


atrito, do cotidiano, das relações sociais, e não uma razão abstrata,
metafísico, universal (CONDÉ, 2001, p. 208).
As noções que se desdobram da filosofia pragmática de
Wittgenstein posicionam o filósofo austríaco como um dos mais
originais pensadores do século XX. Construções terminológicas
como jogo de linguagem, gramática, forma de vida e regra resul-
tam em perspectivas conceituais futuras que perpassam as noções
de rede, de informação, de sistema, dentre tantas outras, tão caras
à epistemologia informacional. Cabe-nos definir o vocabulário
wittgensteiniano e contextualizá-lo no discurso informacional.
Isto nos permitirá perceber um percurso que vai da pragmática
informacional à pragmática digital, identificando diferentes ma-
neiras de olhar o mundo orientado pelas redes digitais.

61
3
Investigando
a significação
em Wittgenstein

A Filosofia da linguagem coexiste com a Filosofia de modo geral;


entretanto, suas formas de abordar a linguagem foram repensa-
das ao longo do tempo. A Filosofia da linguagem é uma catego-
ria aberta que contempla todos os estudos filosóficos que tiverem
como objeto a linguagem e o significado. Cabrera (2003) parte
do princípio de que tudo aquilo que os filósofos pensaram e de-
senvolveram em termos de reflexão sobre a linguagem, indepen-
dente de sua perspectiva e sua metodologia de acesso (analítica,
hermenêutica, fenomenologia, filosofia transcendental, crítica de
ideologias, psicanálise), seria Filosofia da linguagem. O que jul-
gamos ser importante nesta obra é indicarmos um deslocamento
da questão da verdade, partindo do plano gnosiológico (pergunta
acerca dos modos de aferimento do conhecimento e das condi-
ções de sua verificação) para o plano da linguagem (a questão da
interpretação e da falta de sentido precede as questões da falsidade
ou não de uma afirmação) (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2004).
Diferentes pressupostos da Filosofia da linguagem ganham
força de acordo com o que se considera significativo e de como
essa significância poderia ser alcançada e reformulada. Para
Cabrera (2003), propiciar uma significação para o mundo é en-
contrar as condições para agir nele, interagir com ele e usufruir
dele, e não apenas encontrar condições linguístico-conceituais

63
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

para conhecê-lo. Essa defesa condiz com propósitos de uma ver-


tente de estudos da linguagem que poderíamos considerar inclusi-
ve como comunicacional. É na idéia da participação da linguagem
na constituição de conceitos, dos conceitos que lhe interessam para
relacionar-se com o mundo (não apenas cognitivamente), que o
filósofo está interessado. “Dessa atividade linguístico-conceitual
surgem as categorias de captação do real, algumas delas muito bá-
sicas, outras derivadas, não podendo traçar-se linhas totalmente
nítidas entre conceitos assim gerados e as suas articulações na lin-
guagem” (CABRERA, 2003, p. 17).
O interesse da Filosofia nessa vertente é entender a linguagem
não apenas como um veículo de conceitos, mas como o campo em
que esses conceitos – que permitem articular o mundo com o in-
tuito de torná-lo significativo para nós – são constituídos. Perante
isso, a filosofia com que nos ocupamos é aquela que indaga as
possibilidades, as validades e os limites da mediação linguística,
de modo que a questão do estatuto da verdade se desloca de uma
filosofia da consciência (que considera a supremacia do aparato
cognitivo, atribuindo a ele a produção das instâncias humanas de
juízos, valores, desejos, crenças e que, por conta disso também é
reconhecida como filosofia do sujeito) para uma análise da lin-
guagem em seu uso social. Para Habermas há vantagens objeti-
vas e metódicas na passagem da filosofia da consciência para a
Filosofia da linguagem. “Ela nos tira do círculo aporético onde
o pensamento metafísico, isto é, onde o idealismo é contraposto
ao materialismo, oferecendo ainda a possibilidade de podermos
atacar um problema que é insolúvel em termos metafísicos: o da
individualidade” (HABERMAS, 2002, p. 53).
É preciso retomar que o posicionamento teórico sinalizado é
decorrente de um intricado movimento filosófico estabelecido no
final do século XIX e que propôs, para a Filosofia, para a Ciência
e para a sociedade, um redirecionamento sobre a função da

64
Investigando a significação em Wittgenstein

linguagem. Começou-se a pensar que todo o processo de conhe-


cimento é mediado pela linguagem e, a partir disso, inicia-se uma
crítica ao psicologismo por meio do transcendentalismo. O pri-
meiro passo desse movimento foi arriscar romper com a função
exclusivamente representacional da linguagem do homem sobre o
mundo. Como consequência, foi instituída uma linguagem ideal
apurada, com finalidades específicas, e que poderia ser analisa-
da e calculada, sendo o cumprimento dessas ações operacionais
a condição de sua validação como verdade. Já no início do século
XX, estudos começam a rebater essas idéias e a linguagem começa
a ser entendida, então, de acordo com sua função comunicacio-
nal, de modo que a construção de seus sentidos se estabeleceria a
partir das trocas simbólicas praticadas por sujeitos participantes
de uma ação de comunicação. Essa última é que pensamos ser a
concepção que se aproxima do plano de significação nos espaços
de ações interativas virtuais.
Consideramos que a expressão mais significativa do posi-
cionamento pragmático filosófico tenha sido a de Wittgenstein
– autor que mais arduamente defendera a concepção analítica e
positivista da linguagem e da Filosofia em um primeiro momento
de sua filosofia. Wittgenstein reverteu seu ponto de vista passando
a criticar suas próprias convicções apresentadas e defendidas no
seu livro Tratado Lógico-Filosófico (1921), mencionado anterior-
mente. Para o autor, nesse seu segundo momento representado
nas Investigações Filosóficas (1953), a linguagem não poderia ser
entendida a partir da lógica – ela precisaria ser entendida a partir
de seu uso. Cometti (2005) mencionará, de modo um pouco mais
amplo, que foi a visão wittgensteiniana que permitiu esclarecer
um conceito da linguagem baseado numa dimensão pública e
pragmática. Os jogos de linguagem, nessa perspectiva pragmática,
implicam em uma crítica ao mentalismo que é próprio das teorias
mais antigas da racionalidade e da objetividade.

65
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Wittgenstein proporia que, para que se consiga compreender


a linguagem, suas funções práticas precisariam ser entendidas,
e não somente o significado isolado das expressões linguísticas.
Contudo, o autor diz que estas funções seriam imprevisíveis e
infinitas, visto que só se estabeleceriam em situações específicas
de comunicação. Alvarenga (2003, p. 20) sumariza as noções que
passam a ser criticadas por Wittgenstein nesse seu segundo mo-
mento: “representação, idéia, linguagem do pensamento, esque-
mas mentais, condições gerais de verdade, funções de verdade,
sintaxe lógica, forma proposicional geral” dentre outras. Sua crí-
tica iria do modelo mentalista a qualquer outro modelo de enten-
dimento da linguagem.

3.1 Jogos de linguagem: pluralidade e diferença

Diríamos que, nas Investigações, uma reconfiguração das re-


lações entre a filosofia, a linguagem e as ações foi proposta por
Wittgenstein. De certo modo, o filósofo inverte o ponto de partida
clássico da construção de sentidos dos conceitos, desvinculando-
-o exclusivamente dos processos mentais e condicionando-os a
processos interativos de uso da linguagem, mas sem atribuir va-
loração diferenciada às ações relacionadas a esse uso, sem esta-
belecer elementos universais a ele e, ainda, sem propor métodos
para tal ação. O que Wittgenstein nos apresenta são indicações
sobre como deveríamos entender a significação, as semelhanças
de família, as regras, a gramática, as formas de vida e os jogos de
linguagem. Para ele, esses seriam os pontos que permitiriam a tes-
situra do sentido da linguagem.
Esse complexo de relação entre usos situacionais e (ao mesmo
tempo) relacionados à linguagem seria o tear da concepção witt-
gensteiniana de significação e de entendimento de mundo. Alguns
fios são fundamentais para a urdidura e trama da significação

66
Investigando a significação em Wittgenstein

wittgensteiniana, que citamos anteriormente: semelhanças de fa-


mília, regra, gramática, forma de vida, jogos de linguagem. Sua
fiação se desenvolve e é desenvolvida considerando que o signifi-
cado das palavras não é descritivo nem figurativo, e sim uma cons-
trução prática. A semelhança de família sugere a não existência de
uma fundamentação única (ou um fio central) que possa alinha-
var as possibilidades de entendimentos dos conceitos - esse en-
trelaçamento de possibilidades de significação se daria de modo
dinâmico e interativo, pois haveria apenas parentescos de usos
entre conceitos que lhe permitiriam transitar de uma situação co-
municativa a outra. A regra, não se relaciona às regras gramaticais
estruturais da língua, mas às que envolvem e permitem o compor-
tamento e as ações sociais construídas coletivamente na vivência
dos sujeitos. A gramática, como a ferramenta que é acionada e
utilizada situacionalmente para possibilitar a interação no uso da
linguagem; a forma de vida que, mesmo sendo pouco abordada
por Wittgenstein, seria o conjunto de hábitos, comportamentos
e ações compartilhadas situacionalmente por meio do uso da lin-
guagem; os jogos de linguagem, que, de certo modo, são o lócus
onde as ações interativas ocorrem e onde emergem as significa-
ções intersubjetivamente.
Procuraremos, a partir de então, compreender um pouco esse
universo de significação proposto por Wittgenstein, reafirmando
que vimos essa abrangência da linguagem sob uma perspectiva
epistemológica que “liberta” nossas concepções estruturais de seu
entendimento quando pensamos as implicações sobre as condi-
ções de validação das ações informacionais (em quaisquer espa-
ços de ação, dentre eles, os tecnologicamente virtualizados, por
exemplo).

67
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

3.2 A questão da significação

O ponto de partida das Investigações Filosóficas, em que


Wittgenstein investe grande parte de suas explicações e de seus
exemplos, diz respeito ao processo de significação da linguagem.
O filósofo nos mostra como a consideração mentalista, ontológi-
ca, representativa da linguagem pode ser reducionista com rela-
ção às condições de significação da linguagem em uso. Todavia,
ele não anulará tais considerações anteriores, e sim irá defender
uma complementaridade. De modo geral, Wittgenstein não nos
proporá uma teoria da linguagem, mas um diferente entendimen-
to sobre ela, de modo que, a partir desse, possamos repensar as
teorias vigentes, e futuras, sobre os processos de significação.
Wittgenstein se pergunta “para que uma teoria do significa-
do?”, e não “o que é uma teoria do significado?”. Para ele, o elo
de significação da linguagem não seria a abstração, mas as ações,
sendo que essas, proferidas pela linguagem, geram e se equivalem
a ações no mundo. Para o autor, “as convenções linguísticas estão
ligadas às ações humanas que repousam sobre comportamentos
comuns ou formas de vida” (WITTGENSTEIN, af. 23, 1979). O
filósofo ainda diz, no aforismo 242: “Para uma comunicação por
meio da linguagem é preciso não apenas um acordo nas definições
(por estranho que pareça), mas também um acordo entre juízos”.
Por isso, haveria uma igualdade valorativa sobre todas as formas
de discurso. Todos os significados seriam acordos estabelecidos
sobre o uso da linguagem em dada situação. Contudo, isto não im-
plica em nenhuma forma de reducionismo, pelo contrário, sugere a
permanência da multiplicidade das formas de linguagem (PEARS,
1973; SPANIOL, 1989). Isso não significa que Wittgenstein defen-
de um relativismo na linguagem, como sugerem Apel e Rorty10,
10
Condé (2004) sintetiza o posicionamento desses dois filósofos sobre Wittgenstein,
e concordamos com seus apontamentos quando diz que “Rorty interpreta Wittgens-
tein como um filósofo edificante. [...] a gramática, como parte constitutiva do modelo

68
Investigando a significação em Wittgenstein

pois a racionalidade contingente ao processo seria constituída por


meio da possibilidade de interação da gramática com os jogos de
linguagem (CONDÉ, 2004).
O anti-relativismo de Wittgenstein pode ser conferido no
parágrafo 6 da parte II das Investigações: “Cada palavra – assim
gostaríamos de dizer – pode ter caráter diferente em contextos
diferentes, mas tem sempre um caráter – um rosto. Ela nos con-
templa. Mas o rosto de uma pintura também nos contempla”. Isso
deixa claro que Wittgenstein, em nenhum momento, prega uma
aleatoriedade na construção dos sentidos da linguagem. A signi-
ficação tem sempre um ponto de partida em uma forma de vida.
A questão é que este ponto não é fixo. Wittgenstein, a partir da
crítica à teoria semântica da verdade, descobre o caráter accio-
nal dos proferimentos linguísticos. Habermas considera que nessa
perspectiva, a função representativa da linguagem teria “perdido
seu lugar privilegiado em meio a uma variedade de modos de
uso.” Na interpretação do autor, “[...] a partir do momento em que
os participantes passam a dominar intuitivamente o contexto de
cooperação, eles podem subordinar objetos a palavras através de
definições implícitas.” Os vocábulos, segundo o filósofo, “parecem
extrair seu significado dos fins e das atividades dos sujeitos que
falam” (HABERMAS, 2002, p. 111).
A partir de um exemplo dado por Wittgenstein, podemos
perceber como a questão da significação da linguagem a partir
de seu uso perpassa (e, em algumas situações, sobrepõem-se) as
de racionalidade, pode ser entendida como um tipo peculiar de sistema, que com-
plementa e é complementado pelas interações dos jogos de linguagem. A gramática
é um sistema holista, mas não totalizante, sem fundamentos últimos, não hierárquico,
etc. Contudo, é um sistema aberto a outros, possibilitando, assim, lidar de forma efi-
caz com a diversidade das formas de vida (CONDÉ, 2004, p. 222). Sobre Apel, Condé
dirá que o filósofo “[...] ‘acusa’ Wittgenstein de ter esquecido o logos filosófico, a vali-
dade universal ou a própria razão, colocando em seu lugar os jogos de linguagem
contingentes e, consequentemente, com isso caindo no relativismo” (CONDÉ, 2004 p.
222). Entretanto, Condé afirmará que para Wittgenstein a razão não está assentada no
transcendental, sendo isso apenas uma ilusão gramatical.

69
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

amarras mentais de representação. Somente se conheceria um ob-


jeto simbólico por meio de suas convenções. A propósito disto,
Wittgenstein analisa a impossibilidade de chegarmos a um funda-
mento que explique a linguagem como um todo. Para ele, o que
interessa para a significação não é o tipo de signo, mas o seu uso
e as noções que compõem o contexto de uso. Para defender, justi-
ficar e entender algumas dificuldades desse processo de significa-
ção, Wittgenstein revê os modelos de construção de significados
que nos foram ensinados. A explicação de Gargani sobre o “novo”
posicionamento wittgensteiniano é que:

O significado não é um objeto coexistente com o


signo, mas uma condição que se revela atribuída
ao signo por força da sua presença em um sistema
linguístico [...] as imagens, as representações, tanto
mentais como físicas, não constituíam o significa-
do das expressões linguísticas, mas eram assumi-
das [...] como paradigmas da linguagem destina-
dos não a refletir os significados das palavras, mas
a cumprir, em concomitância com signos e dentro
de uma modalidade de uso, a função de comunica-
ção (GARGANI, 1973, p. 79).

Para Wittgenstein, apenas no entrelaçamento entre usos que


os sentidos dos conceitos seriam constituídos por semelhanças
com outros (entrecruzados e sobrepostos) e que, por conta disto,
estariam em constante construção. A clássica analogia do autor
reconhecendo a linguagem como uma velha cidade, sugere os
movimentos e imbricamentos possíveis da significação: “[...] uma
rede de ruelas e praças, casas novas e velhas, e casas construídas
em diferentes épocas; isto tudo cercado por uma quantidade de
novos subúrbios com ruas retas e regulares e com casas unifor-
mes.” (WITTGENSTEIN, af. 18, 1979). E como em uma velha

70
Investigando a significação em Wittgenstein

cidade, não há um único traço definidor comum que sustente a


construção dos sentidos na linguagem. As proposições se ligariam
por uma semelhança. A modalidade do uso do conceito dentro da
linguagem determinaria seu sentido em um dado contexto. Para
Wittgenstein, todas as palavras (concretas e abstratas, por exem-
plo) teriam a mesma natureza complexa de interpretação, dadas as
oscilações de seu uso cotidiano.
Quando Wittgenstein inicia as Investigações criticando a con-
cepção ostensiva de ensino da linguagem apresentada por Santo
Agostinho, de certa maneira, está propondo, não a exclusão dessa
possibilidade de aprendizado, mas sim a consideração de que esse
modo é um dos possíveis modos e que só faz sentido se entrelaça-
do aos demais. Segundo o modelo ostensivo, seríamos condicio-
nados a estabelecer significados fixos às palavras durante o nosso
próprio aprendizado linguístico, que é feito, na maioria das vezes,
a partir de treinamento. Usaríamos as palavras porque fomos trei-
nados a fazê-lo. “[...] a definição ostensiva não consegue, sozinha,
fundar univocidade, isto é, evitar mal-entendidos sobre o que de
fato está sendo indicado ostensivamente” (ALVARENGA, 2003,
p. 22). O sucesso ou o fracasso da interpretação dependeria da
tendência do aprendiz para recriar ou readaptar o seu uso. Esse
treinamento ostensivo faz com que vejamos o aprendizado da lin-
guagem como uma forma de tradução. Entretanto, Wittgenstein
aclara que “[...] aprender a significação de uma expressão não se
restringe a denominar objetos, mas também a operar, através de
regras gramaticais que possuem interações [...] com objetos (e que
não são mais objetos metafísicos)” (CONDÉ, 2004, p. 95).
Para Wittgenstein, não há como o signo ser entendido isola-
damente, pois esse entendimento só se estabelece com seu uso na
linguagem. Para o filósofo: “Não podemos adivinhar como uma
palavra funciona. Temos que ver seu emprego e aprender com
isso (WITTGENSTEIN, af. 349, 1979). Sobre a ostensividade,

71
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Wittgenstein a pensa como um possível jogo de linguagem, que só


resultaria em aprendizado, caso se conhecesse também o contex-
to do comunicativo que demandou a definição ostensiva. Apenas
para ilustrar esse contexto, podemos citar o exemplo dado por
Wittgenstein no aforismo 09: “[...] ‘ali’ e ‘isto’ são ensinados os-
tensivamente? – Imagine como se poderia ensinar seu uso! Serão
mostrados então lugares e coisas, - mas aqui esse mostrar acontece
na verdade também no uso das palavras e não apenas no aprender
do uso”. Grande parte das palavras não se referem a objetos, não
há a relação de nomeação, isto é, o ensino ostensivo da palavra
não conectará a linguagem à realidade.
De alguma maneira, fomos condicionados a atribuir significa-
dos previsíveis às palavras (inclusive pela ostensividade e pelo trei-
namento exposto por Santo Agostinho) e, por isso, nosso conheci-
mento dos modos de uso das expressões já estariam implícitos em
nosso comportamento. Portanto, confundiríamos os significados
e usaríamos uma expressão em um determinado jogo que servi-
ria a outro – o que geraria mal-entendidos semânticos (COSTA,
2002). “Tudo o que chamamos de ‘nome’ é dito apenas num sen-
tido inexato, aproximativo” (WITTGENSTEIN, af. 38, 1979).
Todavia, para Wittgenstein, “Não analisamos um fenômeno (por
exemplo, o pensar), mas um conceito (por exemplo, o do pensar)
e, portanto, o emprego de uma palavra” (WITTGENSTEIN, af.
383, 1979). Por exemplo, para responder a questão “O que é X?”,
perguntaríamos “Qual o significado de X?” e, ao invés de apontar
para X e vinculá-lo a algum objeto ou simplesmente descrevê-lo,
deveríamos explicá-lo. “O significado de uma palavra é o que a
explicação de seu significado explica [...] A explicação do signifi-
cado explica o uso da palavra” (WITTGENSTEIN, 2003, I af. 23).
Segundo as Investigações, “a significação da palavra é o que expli-
ca a explicação da significação. Isto é, se você quer compreender
o uso da palavra ‘significação’, então verifique o que se chama de

72
Investigando a significação em Wittgenstein

‘explicação da significação’” (WITTGENSTEIN, af. 560, 1979).


Essa é uma das grandes mudanças metodológicas indicadas por
Wittgenstein. Entendemos que o não linguístico é a ação, é a prá-
tica do uso do conceito apresentada na sua explicação.
Enquanto procuramos o significado de uma expressão recor-
rendo a uma definição ostensiva, essa nos dá a indicação de ‘algo’
não linguístico que pretensamente é o significado. Em resposta
à questão sobre significado de uma expressão, recorremos a algo
que seja dado sem a intervenção da linguagem (a pedra dura onde
a pá bate e entorta) – a ação. Por outro lado, quando buscamos
a explicação do significado, ela será dada dentro da linguagem.
Assim, a expressão sobre a qual se tem dúvidas é transposta para
outros termos familiares, isto é, para termos cujo uso está clara-
mente prescrito. Passamos da linguagem em que encontramos ‘x’
para a linguagem da explicação de ‘x’. No caso da explicação, a
linguagem fornece a clareza que essa reivindica e que advém jus-
tamente do fato de que a linguagem, agora, a linguagem da expli-
cação, está vinculada à prática do uso do conceito (ALVARENGA,
2003). Ao entrarmos no jogo, em uma situação interativa de uso
da linguagem, devemos estar aptos às mais variadas possibilidades
de construção de sentidos, como as descritas por Wittgenstein,
quando exemplifica o ensino de jogo de xadrez:

[...] elucido para alguém o jogo de xadrez; come-


ço apontando uma figura e dizendo: “Este é o rei.
Pode ser movimentado assim-assim, etc., etc.”-
Nesse caso, diremos: as palavras “Este é o rei” (ou
“isto chama-se ‘rei’”) são apenas uma elucidação de
palavras, se o que aprende já ‘sabe o que é uma fi-
gura do jogo’. Se acaso já jogou outros jogos, ou ob-
servou o jogo de outros ‘com compreensão’- e coi-
sas do gênero. E apenas então, no aprendizado do

73
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

jogo, poderá perguntar com relevância: “Como se


chama isto?”, a saber, essa figura do jogo. Podemos
também imaginar que o interrogado responda:
Determine você mesmo a denominação”- e aquele
que perguntou deverá então responsabilizar-se por
tudo” (WITTGENSTEIN, af. 31, 1979).

É a explicação do uso da palavra que oferecerá os elementos


que permitirão a sua significação, cuja certeza se dará pelo fato
de que podemos explicar o uso de uma palavra somente relacio-
nando-a a situações práticas, as ações. A explicação do uso práti-
co e social da palavra gera o seu significado. “Toda significação é
construída pela e na pragmática da linguagem, que, no entanto,
é peculiar à forma de vida que a pratica” (CONDÉ, 2004, p. 27).
Assim, a situação é que constituiria o “sistema de referência” para
o uso da palavra, logo, para sua significação. “[...] o uso determi-
na as significações dentro dos jogos de linguagem na medida que
esses diversos usos envolvem práticas sociais” (CONDÉ, 2004, p.
64). Uma expressão não deixa de ter significado por não se referir
a um objeto, assim como é um erro categorial tratar o objeto a que
uma palavra se refere como significado dessa.
O significado não determina o uso, e sim o inverso, mas não
causal nem relativamente. Enquanto a igualdade de significado
convive com a diferença de uso, cada diferença de significado
compõe uma diferença de uso. Dado o uso de uma palavra, po-
demos inferir seu significado e aprender tudo sobre esse, isso sig-
nifica que a análise conceitual diz respeito à investigação do uso
linguístico, à investigação das práticas sociais. Assim, é durante
o jogo de linguagem que as significações possíveis são cogitadas
e concordadas. Wittgenstein considera como jogo de linguagem
a situação em que usamos os signos, permutando e construindo
elementos que permitem sua significação. Para Spaniol (1989, p.
144), assim como para nós, é essa “inclusão da dimensão prática,

74
Investigando a significação em Wittgenstein

juntamente com o fato de o limite do sentido ser estabelecido não


por estruturas supratemporais, mas por ‘meras convenções’” que
justifica a autenticidade da mudança de consideração proposta
por Wittgenstein; “se significado e entendimento são uma práxis,
nenhum modelo ‘estático’ poderá dar conta exatamente de tudo o
que é necessário e suficiente para o significado e entendimento”
(ALVARENGA, 2003, p. 47). Nessa perspectiva, Spaniol (1989)
compreende que a clareza da Filosofia proposta por Wittgenstein
provém da compreensão de algo que já vemos, nas regras do
emprego de nossas palavras, estabelecidas em nossos diferentes
modos de vida, em nossas diferentes necessidades de uso da lin-
guagem, pois aí estaria a origem dos nossos problemas.
Wittgenstein critica a exclusividade do ensino ostensivo das
palavras no início das Investigações, e desenvolve essa critica a par-
tir do questionamento: O que designam as palavras da linguagem?
E a resposta a este questionamento viria a partir de oura indagação:
“– O que elas designam, como posso mostrar isso, a não ser na
maneira do seu uso? E este uso já descrevemos. A expressão ‘esta
palavra designa isso’ deveria, portanto, ser uma parte dessa des-
crição. Ou: a descrição deve levar à forma: ‘a palavra... designa...”
(WITTGENSTEIN, af.10, 1979). Situamos isso porque geralmente
nos ocupamos em desenvolver exaustivamente as interconexões
entre as especificidades da linguagem e abdicamos de pensá-la em
sua concepção mais comum. “O que devemos dizer para elucidar
a significação, isto é, a importância de um conceito, são frequen-
temente fatos naturais extraordinariamente gerais. Tais fatos não
são quase nunca mencionados devido a sua grande generalidade”
(WITTGENSTEIN, af. 143, 1979). No entanto, não é apenas a ex-
plicação do conceito que determinará como utilizá-lo em um jogo,
mas todos os elementos envolvidos na jogada.

75
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

3.3 Jogo de linguagem e significação

Wittgenstein, nos primeiros parágrafos das Investigações fi-


losóficas, “define” um jogo de linguagem (SPRACHSPIEL) como
uma combinação de palavras, atos, atitudes e formas de compor-
tamento, isto é, compreendendo o processo de uso da linguagem
em sua totalidade. Isso pode ser percebido em seu aforismo 07:
“Chamarei também de jogos de linguagem o conjunto da lingua-
gem e das atividades com as quais está interligada”. Wittgenstein
explica a consideração sobre os jogos de linguagem como ações
da vida: “Comandar, perguntar, tagarelar pertencem à mesma his-
tória de nossa natureza assim como andar, comer, beber, jogar”
(WITTGENSTEIN, af. 25, 1979). A relação das ações com o uso
da linguagem pode ser exemplificada pelo aforismo 486. “[...] Uma
conclusão é a passagem para uma afirmação; e também para o
comportamento que lhe corresponde. ‘Tiro as consequências não
apenas em palavras, mas também em ações’” (WITTGENSTEIN,
af. 486, 1979). Segundo Wittgenstein, a recíproca também seria
verdadeira: “[...] podemos frequentemente predizer a ação de uma
pessoa a partir da manifestação da decisão. Um jogo de linguagem
importante” (WITTGENSTEIN, af. 632, 1979). Diríamos então,
por exemplo, que uma ação proferida pela linguagem, de certo
modo, consolida-se em ações no mundo. Na medida em que or-
deno uma ação, se minha ordem for obedecida, quem a recebeu
poderá praticar essa ação. Mas isso não significa exclusivamente
que as ações só ocorrem pelo uso imperativo da linguagem.
Por meio de jogos de linguagem, os indivíduos aprendem a
usar certas palavras e expressões. Na realidade, o que o indivíduo
aprende não é pura e simplesmente uma palavra ou expressão,
mas um jogo de linguagem completo, isto é, como usar deter-
minada expressão linguística em um contexto determinado para
obter certos fins. Por isso, seríamos capazes de criar usos novos

76
Investigando a significação em Wittgenstein

em novas situações de interação. Uma das características que


Wittgenstein dá aos jogos de linguagem reais é enfatizar a nature-
za heterogênea das linguagens. Os jogos, por serem dependentes
e ao mesmo tempo constitutivos das formas de vida em que são
jogados, movimentam-se de acordo com a dinâmica dessas e, por
isto, não são fixos. As formas de vida que compartilhamos hoje
(conjunto de hábitos, crenças, comportamentos) não são neces-
sariamente frutos de uma evolução histórica e linear dos acon-
tecimentos – como também não o são os jogos de linguagem. As
formas de vida que poderemos vir a compartilhar, os juízos, os
consensos a que iremos chegar não são previsíveis em sua totali-
dade, da mesma maneira que os jogos de linguagem não o são. Em
cada época, formas de vida são estabelecidas e outras deixam de
ser seguidas, o que ocorre também com os jogos.
As peças que constituem os jogos de linguagem proveem de
nossas ações na vida. A autonomia de um jogo de linguagem está
no fato desse ser capaz de (e ao mesmo tempo a condição para)
nos relacionarmos com o mundo a partir do momento que con-
seguimos estabelecer significações compartilhadas em uma forma
de vida. A justificativa de cada jogo é relacionada à forma de vida
em que ele se constituiu. Dadas as infinitas possibilidades de nos
relacionarmos e interagirmos em uma situação de vida, haveria a
impossibilidade de tentarmos prever as ocorrências de determi-
nados jogos de linguagem. As formas de vida de que seguimos
participando não são impostas, são constantemente produzidas,
e sua configuração se estabelece intersubjetivamente a partir das
ações de uso da linguagem - que nos permitem fazer entender e
acordar sobre juízos, em uma ocasião. A constituição de um modo
de vida é dependente das ações de uso da linguagem que nela são
desenvolvidas. Ao mesmo tempo, esses usos são possíveis por fa-
zerem parte de um modo de vida em que regras e gramáticas são
desenvolvidas e compartilhadas concomitantemente.

77
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Por isso, diríamos que em um jogo de linguagem não estão in-


seridas somente as palavras, mas as ações, os objetos, o contexto em
que as expressões linguísticas são aferidas. No jogo de linguagem,
o significado é o modo de uso da palavra (relacionada à ação hu-
mana que se socializou e se consolidou como uma forma de vida);
esse jogo que estabeleceria o modo específico da aplicação de uma
expressão ao contexto em que ela ocorre (BLOOR, 1983). Para
Wittgenstein, há inúmeros jogos de linguagem em nossa prática
social: ordens, pedidos, perguntas e respostas, descrições, descul-
pas. Um jogo de linguagem é uma forma de atividade social, parte
de uma forma de vida, e, ao mesmo tempo, a constitui. Ao usar a
linguagem, estamos agindo em um contexto social, e nossos atos
são significativos e eficazes apenas na medida em que correspon-
dem às determinações destas formas de vida, destas práticas e das
instituições sociais. As regras, por sua vez, regeriam as ações nas
formas de vida ao mesmo tempo em que seriam estabelecidas nes-
sas por meio dos diferentes jogos de linguagem que a compõem.

3.4 Regras e significação

A regra é um dos elementos constitutivos do jogo de lingua-


gem que não está destinada a transmitir representações, idéias
interiores (como em alguns pressupostos lógicos, positivistas e
estruturalistas da linguagem). Essa regra seria um conjunto ora
geral, ora situacional de comportamentos humanos constituídos
dinamicamente nas práticas cotidianas. Seria uma condição de
uniformidade, ou de coletividade momentânea, que resulta da
organização dos fatos de um modo de vida. No entanto, não ha-
veria um ponto de partida mental ou social para constituição das
regras114; essas resultariam das interações ocorridas em formas de

Mesmo diante dessa inconstância da linguagem, Wittgenstein enfatiza que ela é


11

uma atividade guiada por regras e que nossos jogos de linguagem devem ser com-

78
Investigando a significação em Wittgenstein

vida e se conectariam e expandiriam via semelhança de família.


Desse modo, também não teríamos como antever todas as regras
que permeiam o uso da linguagem em um jogo, visto que elas
também são, em certa medida, situacionais. “[...] devemos dizer
então que não ligamos a esta palavra nenhuma significação, uma
vez que não estamos equipados com regras para todas as possi-
bilidades de seu emprego?” (WITTGENSTEIN, af. 80, 1979).
Responderíamos a Wittgenstein que sim; para ele, seguir uma
regra seria, de certo modo, uma capacidade de prática racional
de se ter atitudes performativas (de compreensão linguística) e,
diante disto, estabelecer a significação.
Dada a heterogeneidade dos jogos de linguagem, considera-
-se que a utilização de palavras de um jogo de linguagem con-
forme as regras de outro jogo origina uma confusão filosófica.
“Tanto os significados das palavras como a necessidade lógica
subsistem apenas nas práticas linguísticas das diferentes comuni-
dades. (...)Estas práticas, não são meramente arbitrárias, porque
concordamos em nossas interpretações das regras da linguagem”
(SPANIOL, 1989, p. 135). E nesse sentido, estas recebem certa es-
tabilidade. Não há, como analisa Spaniol (1989), pontos de apoio
fixos e independentes fora do pensamento, da fala e da atividade
humana.
A significação, antes de ser a descrição de objetos no mundo,
seria o domínio de uma técnica; além de ser objetiva é, sobretudo,
social, porque dependeria de uma série de usos compartilhados,
preendidos dentro de um contexto, pois eles estão interligados com atividades não
linguísticas. Esse contexto não linguístico, segundo Glock (1998), seria essencial para
a compreensão das atividades não linguísticas, pelo fato de que somente se pode
avaliar adequadamente um jogo de linguagem fictício, por exemplo, quando se é
explicitado o modo como se enquadram nas práticas gerais de uma comunidade
fictícia (GLOCK, 1998). Ainda, conforme Alvarenga (2003, p. 09), o não-linguístico é in-
corporado à linguagem como estados mentais, percepções, idealidades matemáticas
ou lógicas e também valores éticos, estéticos e religiosos. “Há nas múltiplas Formas de
vida, com suas múltiplas solicitações e exigências, limites, o não pensado, o incons-
ciente, o informado, o ambíguo”.

79
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

que têm por resultado e suporte as regras, caracteristicamente


indeterminadas, justamente por se constituírem conforme a de-
manda desses usos. Por isso, a linguagem não estaria mais sujeita
a regras rígidas. Por essa razão, não haveria como fundamentar
logicamente as modalidades processuais da linguagem. Seria pos-
sível apenas compreender as circunstâncias de fatos que fazem
com que os indivíduos operem utilizando as regras que lhe foram
dadas, no entanto, sem que saibam qual a razão que os levou à
escolha de uso de tal regra. Seguimos as regras às cegas, como diz
Wittgenstein. Não há métodos sobre como construir e seguir as
regras. A soma dessas é que delimita os lances possíveis nos jogos
de linguagem. Além disso, durante a jogada, as regras já estabe-
lecidas podem ser utilizadas de modo imprevisível e novas delas
podem ser criadas; não há métodos sobre como construí-las nem
segui-las.
A regra constitui as situações de vida e estas contemplam
ações que as ligam umas às outras (não de modo linear nem
hierárquico, mas por semelhanças). Essas trocas e esse compar-
tilhamento de regras e de formas de vida permitem que nos en-
tendamos ou aprendamos – e ajamos – em diferentes jogos de
linguagem. Wittgenstein, no aforismo 54 explica o que seria, ou
não, uma regra: “A regra pode ser um auxílio no ensino do jogo. É
comunicada àquele que aprende e sua aplicação é exercitada. Ou
é uma ferramenta do próprio jogo. Ou: uma regra não encontra
emprego nem no ensino nem no próprio jogo, nem está indicada
num catálogo das regras.” No mesmo aforismo o filósofo explica
a relação da aprendizagem do jogo, da regra. “Aprende-se o jogo
observando como os outros o jogam. Mas dizemos que se joga
segundo esta ou aquela regra, porque um observador pode ler
essas regras na práxis do jogo, como uma lei natural que as joga-
das seguem.” Além desses esclarecimentos, nesse mesmo aforismo
Wittgenstein questiona: “–Mas como o observador distingue, nesse

80
Investigando a significação em Wittgenstein

caso, entre o erro de quem joga e uma jogada certa?” E responde:


“Há para isso indícios no comportamento dos jogadores. Seria pos-
sível reconhecer que alguém faça isso, mesmo que não compreen-
damos sua linguagem” (WITTGENSTEIN, af. 54, 1979).
Uma das formas de entendermos como algumas regras são
constituídas a partir de nossas práticas cotidianas, mesmo que
vivenciadas isoladamente, é o fato de que há uma relativa cren-
ça na uniformidade dos acontecimentos da vida que nos faz agir
com expectativas sobre o que vivenciaremos (mesmo que comu-
nicacionalmente). “Nada me faria pôr a mão no fogo – embora eu
me tenha queimado apenas no passado” (WITTGENSTEIN, af.
472, 1979). Isso já delimita alguns pressupostos (embora desco-
nhecidos) para que nos envolvamos em dadas situações de vida,
de interação. Assim, buscaremos interagir, mas munidos de al-
gumas regras adquiridas em nossas práticas cotidianas. Hintikka
& Hintikka (1994) tratam essa relação entre linguagem e ação da
seguinte forma: “[...] é apenas o esquema comum de modos de
comportamento de que ele e eu partilhamos que pode dar respos-
ta (sobre quais regras e como as devemos seguir)”. E, para os auto-
res seria “[...] esse horizonte mais amplo de atividades governadas
por regras, necessárias à resposta a questões à cerca de observân-
cia da regra é o que Wittgenstein chama de jogo de linguagem”
(HINTIKKA; HINTIKKA, 1994, p. 251).
No jogo, cada termo possuiria uma multiplicidade de usos
e suas aplicações não precisariam de um elemento comum, mas
teriam significados relacionados por parentesco. Neste entrecru-
zamento de características comuns, dar-se-ia ao conceito uma
estabilidade em seu uso. No entanto, não há métodos fixos para
se seguir uma regra, pois ela se apresentaria, na forma de vida,
apenas como um indicador de direção de nossas ações e de uso
da linguagem.
A relação das ações de uso da linguagem com as ações cotidianas

81
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

e a aplicação da regra que, conforme o filósofo (WITTGENSTEIN,


af. 146, 1979), permaneceria como critério da compreensão. Frente
a isso, o significado de uma expressão seria a função do tipo de uso
do simbolismo dentro de uma forma de vida. “Apenas o recurso à
aceitação ou recusa da comunidade linguística seria, então, capaz
de diferenciar o procedimento correto do incorreto. As relações
do sujeito com o comportamento de uma comunidade permiti-
riam o critério para a aplicação da regra” (JOURDAN, 2005, p.
213). Assim, as regras gramaticais contemplam um número ili-
mitado de ocasiões (de formas de vida, diríamos), constituindo
padrões para o uso correto de expressões. Nós as acionamos para
justificar ou criticar empregos de palavras, o que significa que elas
constituem nossas razões para usar as palavras do modo que as
usamos. Ao indagarmos porque usamos as palavras, queremos es-
tabelecer as causas para termos adotado certas regras. Por isso, di-
zemos que o significado da palavra é o seu uso em conformidade
com regras gramaticais. No entanto, não conseguimos delimitar
procedimentos para segui-las e, assim, atribuir sentidos previsí-
veis à linguagem. “A linguagem é um labirinto de caminhos. Você
entra por um lado e sabe onde está; você chega por outro lado ao
mesmo lugar e não sabe mais onde está” (WITTGENSTEIN, af.
203, 1979). Isso porque, no uso da linguagem, os falantes seguem
regras não apenas linguísticas stricto sensu (isto é, gramaticais,
fonéticas, semânticas) mas, sobretudo, pragmáticas. Essas regras
devem ser compreendidas não apenas por possibilitar a ação e ex-
pressão do indivíduo, mas também sua interpretação dos diversos
universos de discurso que participa. “[...] regras gramaticais não
se constituem a priori de modo transcendental, mas configura-se
a partir dos usos nos jogos de linguagem” (CONDÉ, 2004, p. 149).
Por esse motivo, o uso da linguagem não seria indiscrimi-
nado, mesmo que seja conduzido pelas regras, que servirão para
indicar o que está acordado como certo e errado neste uso. A

82
Investigando a significação em Wittgenstein

gramática seria o conjunto dessas regras (dinâmicas e em movi-


mento), que, por sua vez, estão arraigadas nas práticas sociais. De
certo modo, como diz Wittgenstein, desvendaríamos os fenôme-
nos, não os analisando como se apresenta, mas como são ditas as
suas possibilidades de ocorrência. Assim, “[...] da mesma forma
que o uso condiciona a regra, essa regra, em contrapartida, de-
terminará se o uso está correto ou não”. A regra seria o produto
da práxis social, o que justificará a afirmação de Wittgenstein de
que “Quando sigo uma regra não escolho. Sigo a regra cegamente”
(WITTGENSTEIN, af. 219, 1979). Por ser uma convenção social,
ela pode ser inventada, criada socialmente, sem ter a pretensão de
refletir qualquer tipo de essência transcendental. “[...] as regras
surgem dos nossos ‘padrões de comportamento’, dos nossos hábi-
tos, costumes e instituições” (CONDÉ, 2004, p. 90).
Sobre a relação do condicionamento das nossas ações ao uso
de regras, Wittgenstein interroga, como método para construção
de suas afirmações: “Como pode uma regra ensinar-me o que
fazer neste momento?” Questiona-se em sequência: “Seja o que
quer que eu faça está, pois, de acordo com a regra? (...) o que tem
a ver a expressão da regra – digamos, o indicador de direção –
com minhas ações? Que espécie de ligação existe aí?” E uma das
respostas (teorias) levantadas pelo filósofo é que: “ – Ora, talvez
esta: fui treinado para reagir de uma determinada maneira a este
signo e agora reajo assim.” E na construção de suas explicações
Wittgenstein se contra argumenta: “Mas com isso você indicou
apenas uma relação causal, apenas explicou como aconteceu que
nós agora nos guiamos por um indicador de direção; não explicou
em que consiste na verdade este seguir-o-signo.” E finaliza expli-
cando: “Não; eu também apenas indiquei que alguém somente se
orienta por um indicador de direção na medida em que haja um
uso constante, um hábito” (WITTGENSTEIN, af. 198, 1979).
Com isso, Wittgenstein enfatizará que seguir uma regra é um

83
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

conjunto de hábitos e que não há normas para isso. Para se com-


preender uma linguagem, uma frase que seja, precisa-se dominar
uma técnica, que é adquirida no próprio viver. Com relação a esse
paradoxo, Wittgenstein diz que “[...] se cada modo de agir deve
estar em conformidade com a regra, pode também contradizê-la.
Disto resultaria não haver aqui nem conformidade nem contradi-
ções” (WITTGENSTEIN, af. 201, 1979). Isso justificaria porque
teríamos a competência de nos fazermos entender, mesmo par-
ticipando de comunidades discursivas diferentes, tendo em vista
que algumas ações básicas, que são o ponto de partida para o uso
da linguagem, são compartilhadas em diferentes formas de vida.
Quando não conseguimos mais explicar porque utilizamos deter-
minados conceitos e seguimos determinados caminhos para ex-
plicar seu respectivo sentido, achamos na ação o que antecedeu o
uso desse conceito. Conforme Alvarenga (2003), seguir uma regra
seria o entendimento de Wittgenstein sobre o conceito de comu-
nicação, e de Habermas sobre o conceito de razão.
Convém deixar claro que, para Wittgenstein, não há regras
universais que permitem a construção de jogos de modo previsí-
vel nas comunidades discursivas em que são usadas e elaboradas.
“[...] a concordância da comunidade não justifica a regra, nem
pode justificar, mas é a regra” (JOURDAN, 2005, p. 216). A regra
precisa ser compartilhada entre os jogadores para que estes pos-
sam utilizá-las na jogada, compartilhamento que é feito a partir de
uma gramática social.

3.5 Gramática e significação

A gramática se estabelece na forma de vida e, por meio dela,


interagimos com o mundo, seja regendo o uso de regras, seja de-
nominando situacionalmente um objeto “[...] a gramática diz que
tipo de objeto algo é (WITTGENSTEIN, af. 373, 1979). Nesse

84
Investigando a significação em Wittgenstein

contexto, o sujeito [...] constituído ‘na’ e ‘pela’ gramática da lingua-


gem, constitui-se necessariamente a partir de relações intersub-
jetivas realizadas em uma forma de vida” (CONDÉ, 2004, p. 80).
Por essa razão e por fazerem parte da mesma forma de vida, há
simultaneamente a gramática e a Pragmática. A gramática, a par-
tir das semelhanças de família, permite o transitar entre formas de
vida, logo entre jogos de linguagem. Entretanto, isso ocorre desde
que haja uma ação mínima compartilhada por alguns desses, a
qual configurará uma rede tecida com os pontos de ações comuns,
que são constituídos respeitando as regras e graças à gramática,
que, por sua vez, possibilita seu entendimento.
O compartilhamento entre gramáticas é possível graças à se-
melhança de família existente entre as formas de vida (entre as
ações sociais), por conseguinte, existente nos modos de uso de
linguagem, que permitem a transição e a re-significação de con-
ceitos em diferentes jogos. Apesar de nunca serem idênticas umas
às outras, as formas de vida compartilham semelhanças. Há zonas
de significação comuns entre algumas formas de vida e entre essas
e outras. Formas de vida podem ser compartilhadas porque não
se constituem na linguagem privada, por isso, uma gramática de
uma forma de vida pode comportar semelhanças com as gramá-
ticas de outras formas de vida; forma de vida é um sistema aberto
que possibilita interações entre aquelas e vice-versa. Condé (2004)
pode nos explicar melhor essas relações, visto que atribui a esse
complexo, toda a proposta de Wittgenstein para uma racionalida-
de interativa. Assim, ao considerar uma forma de vida um sistema
aberto, o autor dirá que: Linguagens diferentes possuem gramá-
ticas diferentes, mesmo que sejam próximas umas com as outras,
porque foram construídas em uma forma de vida pública e não
porque foram construídas a partir de uma ‘constância’ da natu-
reza humana (CONDÉ, 2004). Condé considera que mesmo que
este sistema aberto, através das interações nos jogos de linguagem,

85
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

articule suficientemente a produção de significações, “(...) isso não


implica dizer que a gramática peculiar a essa forma de vida não
possa incorporar novas significações, e nem que, reciprocamente,
outra forma de vida estrangeira não possa assimilar aspectos da
primeira” (CONDÉ, 2004, p. 144).
Sistema é uma palavra escolhida por Wittgenstein para carac-
terizar, a partir da gramática, a interação entre os jogos de modo
flexível e aberto, o que constitui, para Condé (2004), a raciona-
lidade de uma forma de vida. Entretanto, essas considerações
não preveem nenhum tipo de universalização nesses processos.
Talvez, o que poderíamos considerar como mais comum aos jogos
seria o movimento, o fluxo entre as formas de vida, logo, entre
as gramáticas, por estas serem abertas e, mesmo que comportem
racionalidades diferentes (isto é, gramáticas diferentes), estas
podem compartilhar práticas sociais comuns ou ações comuns
em formas de vida diferentes. Condé (2004) considera que isso
possibilita reconhecer em Wittgenstein uma teoria da racionali-
dade, a partir daquilo que haveria de comum nas práticas sociais –
que seria a teia de relações entre práticas e a produção de sentidos,
que permitiria a movimentação entre formas de vida por meio
da movimentação pela gramática das ações de uso das linguagens
cotidianas, ásperas. “[...] – Onde é feita a ligação entre o sentido
das palavras ‘joguemos uma partida de xadrez!’ e todas as regras
do jogo? Ora, nas instruções do jogo, na lição de xadrez, na práxis
diária do jogo” (WITTGENSTEIN, af. 197, 1979).
A gramática está diretamente relacionada às ações de uso
cotidiano da linguagem. Wittgenstein deixa de defender a pos-
sibilidade da existência de uma linguagem logicamente purifi-
cada e especializada, ou, ao menos, deixa de considerá-la como
a mais importante, porque passa a entender que essa linguagem,
logicamente perfeita, foi antes uma linguagem comum. “Quando
falo da linguagem (palavra, frase, etc.) devo falar a linguagem do

86
Investigando a significação em Wittgenstein

cotidiano. Seria essa linguagem talvez muito grosseira, material


para aquilo que queremos dizer? E como se forma então uma
outra? [...]” (WITTGENSTEIN, af. 120, 1979). Condé diz que
Wittgenstein teria abandonado a racionalidade contemplativa da
representação em função de uma racionalidade que se constitui
a partir da gramática, logo, do atuar e, com isso, nosso modo de
julgar estaria relacionado ao nosso modo de atuar. Diante disto,
“[...] na medida em que esse atuar é um atuar no jogo de lingua-
gem aberto a inúmeros outros jogos, o nosso julgar e os critérios
para fazê-lo se estabelecem a partir das regras que regem esses
vários jogos [...]” (CONDÉ, 2004, p. 155). Isso seria propriamente
a gramática de uma forma de vida. Neste compartilhamento de
sentidos propiciado pela movimentação e pela aproximação entre
formas de vida e regras, poder-se-ia, enfim, chegar a acordos, con-
venções, validação a partir da interação.
A gramática possibilita as regras, sendo que estas emergem
nas práticas sociais e, consequentemente, nas práticas de uso da
linguagem, tornando-se, assim, a referência para determinar o
que é certo ou errado. Por isso, “[...] aprender o significado de
uma palavra consistirá na aquisição de uma regra (ou um con-
junto de regras) que governa o seu uso” (CONDÉ, 2004, p. 241).
Desse modo, “[...] o que é certo ou errado é dito pela gramática,
o que está correto é aquilo que está de acordo com os usos e as
regras constituídas através da práxis social, da pragmática da lin-
guagem” (CONDÉ, 2004, p. 67). A gramática justificaria nossas
razões em diferentes modos no jogo de linguagem e se modifica-
ria de acordo com as interações causais desses jogos. Desse modo,
mesmo que “[...] as proposições empíricas tenham a função de
descrever relações causais, tais proposições ainda fazem parte da
gramática e ganham seu sentido específico a partir do todo da
gramática” (CONDÉ, 2004, p. 130).
A gramática seria a possibilidade de compartilhamento do

87
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

uso da palavra em jogo. “[...] a gramática é autônoma, isto é, não


existe uma essência exterior à linguagem, e suas regras gramaticais
funcionam sem a necessidade de fundamentar-se na adequação do
objeto [...]” É a partir do uso de expressões e não da denominação
de objetos que as regras gramaticais surgem. “A autonomia confe-
re à gramática o caráter de racionalidade que nos possibilita saber
o que é correto ou não.” (CONDÉ, 2004, p. 97). E sobre a interação
entre gramática e jogos de linguagem, é Wittgenstein quem nos
explica: “As regras de nossa gramática não são algo privado, mas
público, temos desde a origem, a presença da dimensão social. E
porque aquilo que precisa ser admitido, o dado, são formas de
vida” (WITTGENSTEIN, af. 222, 1979). O “falar da linguagem
é uma atividade, ou uma forma de vida” (WITTGENSTEIN, af.
23, 1979), como já mencionamos. A gramática não tem a função
de representar o mundo em si, mas suas interações, por isso ela
só existe em relações pragmáticas de uso da linguagem. Por essa
relação direta da gramática às ações no mundo, dizemos que há
a impossibilidade de hierarquização e valoração diferenciada na
linguagem. “Através da gramática dos jogos de linguagem explo-
ra-se a dimensão de um saber que serve de fundo, referente a um
mundo de vida e compartilhado intersubjetivamente, que é por-
tador das múltiplas funções da linguagem” (HABERMAS, 2002,
p. 112).
Os jogos de linguagem seriam campos das ações e práticas no
mundo, em que se seguem e produzem as regras que configuram
esse mundo (essa forma de vida), e a gramática, o trilho desen-
volvido na, e para, a construção dessas relações. É no movimento
de aproximação por semelhanças entre formas de vida, regras e
gramáticas que os jogos de linguagem são possíveis. A semelhança
familiar seria o fio condutor entre essas práticas.

88
Investigando a significação em Wittgenstein

3.6 Semelhança de Família e significação

Diferentes autores atribuem pesos variados aos conceitos de


Wittgenstein na dinâmica de sua proposta sobre a significação.
Grande parte deles privilegia o jogo da linguagem como “funda-
mento” das demais ações de significação, alguns, a concepção da
gramática, por ser ela a articuladora da linguagem nos jogos, e ou-
tros evidenciam o papel das regras, como primeiros elementos so-
ciais que serão refletidos pela gramática nos jogos da linguagem.
Se nos ativermos a delimitar preferências, pontuamos apenas que
vemos na concepção de semelhança de família toda a liga que
permite o entendimento do mundo a partir das relações sociais
de uso da linguagem. Esse conceito, utilizado por Wittgenstein, é
mais empregado como analogia aos caminhos seguidos pelas con-
cepções entre diferentes jogos de linguagem para serem passíveis
de significação. Ao mesmo tempo, o autor diz, no aforismo 67,
que “[...] os ‘jogos’ formam uma família”. Porém, esse movimen-
to “genético” se estabeleceria em todas as instâncias discutidas por
Wittgenstein que perpassariam os jogos de linguagem. Assim, não
só os conceitos, como as regras, as gramáticas e as formas de vida se
constituiriam, se movimentariam e se modificariam por meio das
semelhanças de família. “[...] vemos uma rede complicada de seme-
lhanças, que se envolvem e se cruzam mutuamente. Semelhanças de
conjunto e de pormenor” (WITTGENSTEIN, af. 66, 1979).
No âmbito dos conceitos, seus significados seriam constitu-
ídos por semelhanças familiares (de uso) com outros conceitos
(entrecruzados e sobrepostos) e que, por conta disto, estariam em
constante construção. Wittgenstein para explicar a emergência do
sentido de um conceito pela identificação de sua familiaridade,
faz seguinte analogia: “O rosto familiar de uma palavra, a sensa-
ção de que absorveu sua significação, é um retrato de significação;
- poderia haver homens para os quais tudo isso é estranho (Não

89
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

seriam fiéis as suas palavras).” E para refutar e ao mesmo tempo


reforçar sua afirmação, questiona e, responde: “– E como se ma-
nifestam esses sentimentos em nós? Pelo modo como escolhemos
e avaliamos as palavras” (WITTGENSTEIN, parte II, parag.251,
1979).
A escolha dos conceitos e sua significação estão diretamen-
te vinculadas à forma de vida em que são utilizadas. A expansão
de sentidos de um conceito será tão ampla quanto as práticas de
vida em que ele poderá ser utilizado. Os conceitos podem seguir
o fluxo da vida, sendo re-significados e reformulados ao longo
das práticas emergentes. Esta extensão ilimitada de possibilidades
de significação é conduzida pela semelhança de família. As con-
dições para construirmos e validarmos essa significação, isto é,
usarmos o conceito, são a extensão de significação desse. As con-
dições de compreensão de um conceito são tão extensas quanto a
possibilidade de significação dele – essas o acompanham.
Os conceitos teriam potência para serem constantemente re-
-significados e poderem chegar a diferentes jogos de linguagem
pelo caminho da semelhança de família (mas não de modo di-
recionado, sedimentado e universal). Esta permitiria que estabe-
lecêssemos elos entre os usos dos conceitos em diferentes jogos
de linguagem (estabelecidos em seus usos anteriores em ações de
vida). Todavia, o uso de um conceito será entendido somente em
diferentes jogos de linguagem se estes tiverem também alguma
prática comum que conectará o uso ao jogo de onde provém o
conceito. Esse jogo, que recebeu o conceito, terá alguma outra prá-
tica em comum com um terceiro jogo e, por isso, possibilitará que
alguns de seus conceitos possam ser utilizados e significados nesse
terceiro, e assim sucessivamente. Para entendermos um pouco a
dinâmica relação familiar entre conceitos, valeria mencionar o
clássico exemplo dado por Wittgenstein:

90
Investigando a significação em Wittgenstein

Considere, por exemplo, os processos que chama-


mos de “jogo”. Refiro-me a jogos de tabuleiro, de
cartas, de bola, torneios esportivos, etc. O que é co-
mum a todos eles? Não diga: “Algo deve ser comum
a eles, senão não se chamariam ‘jogos’”, - mas veja
se algo é comum a eles todos. – Pois, se você os con-
templa, não verá na verdade algo comum a todos,
mas verá semelhanças, parentescos, e até toda uma
série deles [...] (WITTGENSTEIN, af. 66, 1979).

Mesmo assim, isso não seria uma categorização de jogos.


Seria apenas o conjunto de ações que têm algo em comum (porém,
este algo não perpassa igualmente todas as ações). Nesse sentido,
teríamos condições para co-classificarmos objetos, reaplicarmos
seus predicados e transitarmos entre seus usos. Entretanto, isso só
seria possível porque os conceitos manteriam algo em comum em
sua propriedade (todavia, não comum a todos) e que poderia ser
identificada a partir de sua explicação.
A entrada na jogada se daria pela existência da semelhança
familiar (de regra e de gramáticas), que permite participarmos
de diferentes jogos. Aqui, valeria a menção de mais uma análise
feita por Condé a partir da racionalidade gramatical proposta que
ele considera haver na “teoria” de Wittgenstein: “[...] mais do que
ser capaz de interagir em um jogo de linguagem ou até mesmo
dominar a sua linguagem, é fundamentalmente necessário com-
preender suas instituições” (CONDÉ, 2004, p. 177). Estas institui-
ções são os hábitos, as práticas e os costumes sociais que se ins-
tauram, a partir dos jogos de linguagem, nas formas de vida; são
elas que permitem a racionalidade de a gramática encontrar suas
justificativas. Desse modo, “todos os nossos critérios de julgamen-
to são gramaticais e surgem das interações nos jogos de lingua-
gem” (CONDÉ, 2004, p. 189). Seguimos, para tentar elucidar um
pouco mais essa associação, com outra análise de Condé: “Pela

91
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

aproximação através dos jogos de linguagem e pela existência de


semelhança de família entre as instituições, os hábitos e compor-
tamentos, entre gramáticas de diferentes formas de vida, pode
haver um “reconhecimento” recíproco entre elas” (CONDÉ, 2004,
p. 199). Seria possível, então, uma conversação intercultural, mas
sem relativismos e universalismos.
Semelhanças de família seriam, assim, como caracterizou
Condé, “[...] as semelhanças entre aspectos pertencentes aos di-
versos elementos que estão sendo comparados, mas de forma tal
que os aspectos semelhantes entrecruzam-se aleatoriamente, sem
repetir-se uniformemente” (CONDÉ, 2004 p. 53). Wittgenstein
defendendo o movimento das tramas possíveis de construção de
sentidos, indaga que: “Se alguém estabelecesse um limite rígido,
não poderia reconhecê-lo como sendo aquele que eu sempre de-
sejara estabelecer ou havia estabelecido mentalmente. Pois eu não
queria estabelecer nenhum.” O que o autor pondera é que, o que se
pode dizer do outro é que ele não é o mesmo que o seu, e sim, apa-
rentado com ele. “E o parentesco é o mesmo que o de duas figuras,
das quais uma consiste de manchas de cor fracamente delimitadas
e outra de manchas de cor com forma e distribuição semelhantes,
mas rigidamente delimitadas. A afinidade é tão inegável quanto a
diferença” (WITTGENSTEIN, af. 76, 1979).
Os jogos de linguagem reduziriam os tipos de fenômenos lin-
guísticos ao modelo invariável da denominação (aquilo que seria
comum aos conceitos da mesma família, sendo que este ponto in-
variável é que permite a transição de significados pelos conceitos
familiares), exaltando a multiplicidade de categorias de expres-
sões. Isso seria a alternativa funcional da linguagem estabeleci-
da por semelhanças e dessemelhanças. “Assim como ‘jogo’, ‘lin-
guagem’ é uma palavra determinada por semelhança de família:
não há um traço definidor único que todos os jogos tenham em
comum, incluindo-se aí os jogos que jogamos com as palavras”

92
Investigando a significação em Wittgenstein

(WITTGENSTEIN, af. 65, 1979). Wittgenstein diz que: “Em vez


de indicar algo que é comum a tudo aquilo que chamamos de lin-
guagem, digo que não há uma coisa comum a esses fenômenos, em
virtude da qual empregamos para todos a mesma palavra, - mas
sim que estão aparentados uns com os outros de muitos modos
diferentes.” (WITTGENSTEIN, af. 65, 1979). E tudo se chamaria
linguagem por causa desse parentesco.
As semelhanças de família fazem com que todos os jogos de
linguagem fiquem no mesmo patamar, não havendo hierarquias
entre eles. A partir dessa perspectiva, as palavras estarão sempre
abertas para serem “linkadas” e re-significadas, se assim o jogo de-
mandar. O funcionamento da linguagem se constitui como uma
rede polidirecional, flexível e aberta, que se movimenta por meio
ou a partir de semelhanças de família entre os conceitos. Não have-
ria uma ‘raiz’ comum na linguagem. Os jogos de linguagem pode-
riam ser agrupados somente por meio de semelhanças de família.
A gramática seria, inicialmente, um conjunto de possibilidades de
pontos de partida para o uso de conceitos em um jogo de lingua-
gem e, ao mesmo tempo, a teia que se formaria na medida em que
elos entre conceitos fossem estabelecidos no jogo.
Quando analisamos jogos (de lazer, por exemplo) pode-
mos perceber que eles possuem algo de comum que nos permite
chamá-los de jogos, mas não que haja algo comum a todos eles.
Haverá, sim, semelhanças entre eles, o que nos permite entender
que o mesmo se passa com os jogos de linguagem. Para esta con-
dição de não haver um fio condutor que pertença a todos os jogos,
Wittgenstein apresenta uma interessante analogia com uma corda.
“[...] a robustez do fio não está no fato de que uma fibra o percorre
em toda a sua longitude, mas sim que muitas fibras estão entrela-
çadas umas com as outras” (WITTGENSTEIN, af. 67, 1979). O que
Wittgenstein mais evidencia, a partir do conceito de semelhança
de família, é não haver supremacia e hierarquias na linguagem, nas

93
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

regras, nos jogos de linguagem e nas formas de vida. A significação


está, antes das estruturas e dos universais, nas ações da vida.

3.7 Forma de vida e significação

Nada aconteceria isoladamente no universo da linguagem,


diz Wittgenstein, pois sempre haverá o seu uso na vida (em uma
situação de vida) e, por isso, o uso que propicia a construção dos
significados da expressão linguística ocorrerá de maneiras diferen-
tes, ou seja, sem uma fórmula única. A regularidade de usos da
linguagem, em contextos similares, criaria a sensação equivocada
de que existiriam significados comuns. O significado, segundo
Gargani (1973), seria uma condição inserida em um contexto glo-
bal em que ocorrem operações simbólicas conexas com a atividade
extralinguística e com os tipos de comportamento social humano,
isto é, em uma forma de vida, a linguagem comum é o elemento
mais originário de nossa experiência, pois constitui seu horizonte
e é um pressuposto de nosso comportamento (GARGANI, 1973, p.
82). Em uma palavra usada em determinado jogo, a relação de sua
significação com a prática se estabeleceria durante a jogada.
Para Wittgenstein, “o significado das expressões não depen-
de essencialmente das intenções dos falantes, mas, na verdade, as
intenções são formadas e tornadas possíveis elas próprias a partir
dos hábitos, práticas e instituições de uma comunidade linguísti-
ca” (WITTGENSTEIN, af. 337-338, 1979). Um exemplo simples
é mencionado pelo filósofo para explicitar a complexidade e, ao
mesmo tempo, a simplicidade de um jogo de linguagem com rela-
ção à forma de vida. Um garoto que chega a uma mercearia com
um papel na mão escrito “5 maçãs vermelhas” sairá desta merce-
aria com as “5 maçãs vermelhas” porque a forma de vida em que
se institui a ação de linguagem e as regras que a perpassam são
conhecidas e foram sugestionadas socialmente aos participantes

94
Investigando a significação em Wittgenstein

desta ação. O domínio de uma técnica e a capacidade de seguir


uma regra, poderia possibilitar ou não a constituição do sentido
no uso da linguagem. Assim, esse sentido não se daria apenas
mentalmente pelo indivíduo, mas sim socialmente, a partir do
uso de regras estabelecidas e estabilizadas em uma forma de vida.
Portanto, tal sentido não seria transferível fora de suas situações
de ocorrência (CUTER, 2004). A similaridade familiar é que per-
mitiria a expansão de usos das palavras em contextos diferentes e
imprevisíveis (PEARS, 1973).
Os fragmentos de nossas práticas linguísticas são inter-rela-
cionados (ordenar e obedecer, por exemplo), fazendo parte de um
sistema global. Isso poderia explicar o não dizível, analisado por
Wittgenstein, que faria parte das formas de vida nas quais o dizível
se compõe. De posse dessas condições, o significado de uma pa-
lavra se constituiria a partir de um conjunto de ações e situações
que envolveriam o seu uso. As mudanças no curso de um jogo de
linguagem se realizariam somente a partir de uma demanda dos
participantes deste. Essas oscilações intrínsecas aos jogos de lin-
guagem gerariam, ou teriam embutidas nelas mesmas, anomalias
e irregularidades (mudanças conceituais) no uso da linguagem, e
é isso que serviria como uma justificação para buscarmos novas
apropriações e novos métodos para o seu uso (novas regras). Por
isso, se o significado de um conceito é dependente da forma de
vida em que ele se insere, e da própria movimentação dessa, então
seu uso é indefinido. “A linguagem se apresentaria como compre-
ensão estratificada em que se sedimentaram formações linguísti-
cas distintas, susceptíveis de ulteriores integrações” (GARGANI,
1973, p. 83). Sobre a relação entre jogo de linguagem e forma de
vida, Wittgenstein apenas menciona que: “Jogos de linguagem
‘fazem parte’ de uma forma de vida, encontram-se imersos nela”
(WITTGENSTEIN, af. 23-5, 1979). Portanto, o falar uma lin-
guagem faz parte de uma atividade ou de uma forma de vida e se

95
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

configura na variação do jogo linguístico, isto é, do entrelaçamento


de operações simbólicas e extra-simbólicas ocorridas caracteriza-
damente em formas de vida. “Todas nossas considerações sobre o
mundo serão feitas a partir da forma de vida” (CONDÉ, 2004, p.
65). Ela é uma atividade coletiva (guiada por regras), um conjun-
to de hábitos, práticas e saberes, em que ficam incluídas as ações
de fala; sendo assim, os jogos de linguagem estão imersos nessas
atividades linguísticas e não linguísticas. O acordo em formas de
vida estabelecido nos seus jogos de linguagem é que designará se
será considerado como correto ou não. Isso pode ser parcialmente
esclarecido pela resposta ao questionamento apresentado no afo-
rismo 378. “Antes de julgar que duas de minhas representações são
iguais, devo reconhecê-las como iguais. E se isto aconteceu, como
saberei então que a palavra “igual” descreve meu conhecimento?”
E Wittgenstein irá dizer que: “Apenas quando puder expressar esse
conhecimento de um outro modo e puder aprender de alguém que
aqui a palavra certa é “igual”” (WITTGENSTEIN, af. 378, 1979).
Ao adotar uma perspectiva pragmática encontramos, no uso
das palavras e nos jogos de linguagem, o ponto a partir do qual
podemos orientar nossa fala e nossas ações e, com isso, estrutu-
rarmos nossa racionalidade. Assim, Condé diria que “a pragmá-
tica da linguagem estabelece nossos parâmetros de racionalida-
de levando em consideração tudo o que está envolvido na forma
de vida” (CONDÉ, 2004, p.67). Por isso, podemos dizer que,
para Wittgenstein, o racional seria um modo de interagir com o
mundo e não uma mera descrição ou acordo neste. As argumen-
tações de Condé (2004) a partir da racionalidade proposta em
Wittgenstein estão diretamente relacionadas às ações gramaticais
que exercemos no mundo. A racionalidade se daria “nas relações
pragmáticas que constituem o sujeito na intersubjetividade. (...) O
sistema de informação de nosso conhecimento é dado como uma
construção social em uma forma de vida” (CONDÉ, 2004, p. 146).

96
Investigando a significação em Wittgenstein

Por esse motivo, pode-se dizer que “A racionalidade emerge da


gramática e das interações dos Jogos de linguagem em uma forma
de vida” (CONDÉ, 2004, p. 155).
Em Wittgenstein, não há hierarquias nem relações explicita-
mente delimitadas entre o viver, o seguir regras, o jogar e o inte-
ragir. Essas são todas ações relacionadas, e as interações ocorridas
no fluxo dessas relações é que nos permite entendermos uns aos
outros e ao mundo. Ao abstrairmos o mundo das práticas conven-
cionais cotidianas ás ações de informação no plano tecnológico
virtual, torna-se mais evidente a concatenação das ações de uso da
linguagem e seus desdobramentos “familiares”. A pragmática witt-
gensteiniana parece antever e alcançar esse mundo de ações virtu-
ais e ao mesmo tempo este mundo parece representar o complexo
dos jogos de linguagem e suas relações. Antes de sugerir qualquer
aplicabilidade da pragmática wittgensteiniana à rede, propõe-se
apresentá-la como um norte elucidador ao labirinto virtual das
relações de significação e validação da informação e das ações so-
ciais e culturais também estabelecidas e reconfiguradas via Web.

97
4
A pragmática
dos jogos de
linguagem no virtual

Ações informacionais são virtuais, poderíamos dizer, mesmo


quando não mediadas por tecnologias. A virtualidade (se pensada
de modo desvinculado das tecnologias) seria, de certo modo, a in-
tersubjetividade de Habermas, e até mesmo os jogos de linguagem
de Wittgenstein. Seguros de que estas conjecturas não cabem ao
nosso trabalho, fizemos somente um ensaio acerca do virtual sob
um plano bem amplo e nada fixo apenas para deixarmos mani-
festado o quanto dessas discussões demandam atenção de pensa-
dores envolvidos (ou não) com as tecnologias da informação e de
como uma ampliação sobre as concepções de significação e racio-
nalidade interativa da linguagem são necessárias ao entendimento
do contexto informacional.
Temos uma relativa dimensão do quão imbricado, complexo
e abstrato é o conceito de virtual. Não seguiremos fazendo recor-
tes históricos sobre suas origens nem tecendo argumentos e con-
tra-argumentos de autores que tratam de sua definição, mesmo
porque tudo ainda está em ebulição. Contudo, tomamos como
ponto de partida para a contemplação do virtual as indagações
de Deleuze, que expõe as relações entre o real, o simulacro das
representações do real e o virtual como representação do real e da
própria representação; sua obra Diferença e repetição (2006) trata
um pouco disso. Inicialmente pensemos na explicação de Deleuze

99
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

sobre o virtual desvinculando-o das tecnologias da informação:

[...] o virtual deve ser definido como uma parte


própria do objeto real – como se o objeto tivesse
uma de suas partes no virtual e aí mergulhasse
como uma dimensão objetiva. [...] a realidade do
virtual consiste nos elementos e relações diferen-
ciais e nos pontos singulares que lhes correspon-
dem. A estrutura é a realidade do virtual [...] em
vez de ser indeterminado, o virtual é completa-
mente determinado (DELEUZE, 2006, p. 294-295).

Assim, o virtual não seria somente uma potência de realiza-


ção, nem algo conceitual ou apenas uma simulação do real, mas
parte constitutiva do real e vice-versa. Compreendemos, então,
que o virtual teria uma relação com o real, mas não de forma
exclusivamente representativa ou especificamente descritiva, ele
seria excedente em relação ao atual e ao possível. Com isso, po-
sicionamo-nos com relação ao conceito entendendo-o não como
um mundo ascendente, embora ele compartilhe dessa concepção
na medida em que o real a contempla também. O virtual, para
nós, não é um ambiente paralelo de significações, e sim um plano
em que as significações podem vir a ser ampliadas, potencializa-
das, modificadas e redefinidas, tal qual acontece no real, mas com
algumas características distintas.
Ainda apoiando-nos em Deleuze, nos firmaremos a partir de
sua concepção sobre o virtual, mas o relacionaremos às tecnolo-
gias da informação. Nesse sentido, pensamos que o conceito de
Rizoma (discutido por ele e por Guatarri, em Mil Platôs, enquan-
to um conceito análogo a um novo modelo para o pensamento
filosófico) se aproximaria, em muitos aspectos, das implicações
inerentes às ações informacionais na Web. O conceito de Rizoma
é tido como ontológico e pragmático: aquilo que está sempre no

100
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

meio, não é exato, e sim um conjunto de elementos vagos, desor-


denado, sem pontos fixos ou de referência. De modo aleatório,
uma linha seria traçada e conduzida pelas múltiplas possibilida-
des de conexões entre as coisas. Caso se partisse, ela se “reconecta-
ria”, tanto ao que já era quanto às outras linhas, e continuaria. Isto
representaria mais um mapa aberto, como um quebra-cabeça pas-
sível de ser reconstruído de modo infinito conectando-se peças
sem que estas conexões sejam dadas pelo jogo, do que um mode-
lo gerativo. Nesse mapa, haveria abertura para o recebimento de
peças de outros jogos e para a adaptação a elas.
A representação do Rizoma é quase antônima às represen-
tações já usadas para estruturar o conhecimento enquanto árvo-
re ou enquanto raiz. O Rizoma de Deleuze parece representar o
movimento constitutivo da Web, e as abordagens pragmáticas de
Wittgenstein nos permitem entender algumas condições desse
movimento, pensando-o pela perspectiva de uso da linguagem
como recurso de significação. No plano estrutural aproximado
a uma tecnologia “rizomática” virtual da informação, situamos
três condições de produção e de uso informacional: as unidades
sistêmicas (como bases de dados especializadas, por exemplo),
o conjunto sintático de informações (que não compartilha siste-
matizações unívocas e é recuperado especificamente a partir de
buscadores computacionais sem filtros ou intermediações explíci-
tas – como o Google) e os conteúdos construídos interativamente
a partir de intervenções diretas ou indiretas de seus buscadores
(como wikis, blogs e outros). De modo geral, podemos dizer que
essas três circunstâncias informacionais são disponibilizadas por
meio de sites de busca abertos, mas cada uma irá se apresentar
conforme sua concepção de origem (sistêmica, sintática e semân-
tica, ou interativa - pragmática) perante o buscador. Com essas
possibilidades de significações, diferentes critérios de validação
informacional poderão ser acionados com relação aos conteúdos

101
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

recuperados em uma busca informacional aberta.


As práticas de descrição e discriminação dos conteúdos vir-
tuais se expandem e, em algumas situações, mesclam-se. Critérios
de validação institucional sintáticos, semânticos e interativos
compartilham um mesmo espaço de significação. O fato de os
critérios interativos pragmáticos comporem essa conjuntura de
descrição e de discriminação é que tornaria relativamente impre-
ciso qualquer método fixo de controle verticalizado na Web. Por
outro lado, os usuários dos conteúdos informacionais da rede, por
terem ampliadas as suas condições de busca e de interação, pude-
ram trazer para o ato de suas pesquisas (por sites de busca) o seu
universo de uso cotidiano da linguagem (assim como seus crité-
rios de validação). Por isso acreditamos que a Pragmática supõe
algumas aberturas para a reflexão sobre esse recente cenário que
transitamos.
A construção interativa de conteúdos na própria rede (e sua
respectiva disponibilização por meio de sites de busca, que tam-
bém recuperam conteúdos sistematizados) tem suscitado ainda
mais um repensar teórico que nos permita entender as condições
de validação informacional considerando os elementos que envol-
vem os processos de uso cotidiano da linguagem. A Web 2.0, ou
Web Pragmática como também pode ser denominada, nos chama
a atenção para uma pragmática digital. O conceito de Web prag-
mática, aqui indicado, tem sido analisado em diferentes frentes
de estudo tanto nos EUA como na Europa. Em 2006 foi lança-
do o manifesto da Web pragmática no qual se estabelecem tanto
os aportes teóricos pragmáticos estudados neste livro quanto as
metodologias de construção de instrumentos de análise e avalia-
ção das práticas sociais, comunicativas e interativas via internet,
no contexto do que até então também se nomeia Web 2.0. Essa
plataforma interativa, para sermos mais específicos, é basicamen-
te constituída a partir de uma rede de afinidades intersociais e o

102
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

processo de construção de seu conteúdo é multilateral e rizomáti-


co. O paradigma da comunicação unilateral emissor-receptor, ao
que pudemos notar, foi “rizomatizado”. O emissor da informação,
ou o construtor de conteúdos, não seria mais o dono da palavra
final, pois o usuário colaboraria na organização e na elaboração
do mesmo. Essa palavra final seria uma consequência do próprio
desenvolver da virtualização das ações de informação. Essa condi-
ção, ainda mais dinâmica, de tramitação e de construção de con-
teúdos ofereceria um modo diferente de relação entre informação
e usuários. Até onde nos cabe dizer, na Web tradicional (enquan-
to tecnologia virtual de transmissão bilateral de informação),
havia iniciativas de construção de conteúdos colaborativos (como
os fóruns de discussão por exemplo), mas tais conteúdos eram
dispostos em sites sem validarem explicitamente o papel crucial
da colaboração. A CI, ao que nos parece, está atenta a essa pers-
pectiva interativa de construção e de uso de conteúdos na rede
como campo para suas nvestigações. O Journal of Information and
Technology Association foi uma das primeiras publicações dedica-
das exclusivamente a essa discussão.
Identificamos a Web Pragmática, ou ainda, a pragmática di-
gital, como um plano em que o mundo da vida e o dos sistemas
(conceitos utilizados por J. Habermas, mais precisamente em sua
Teoria da Ação Comunicativa, 1981) podem se cruzar sem inter-
venções hierárquicas mediadoras exclusivas. O’Reilly diz que a
regra mais importante dessa plataforma virtual interativa, é man-
ter o foco no desenvolvimento de aplicativos que aproveitem o
uso da rede como sendo a sua retroalimentação. Entretanto, esse
modo de qualificar quantificando, que articula esta plataforma,
é alvo de críticas das mais diferentes frentes de investigação. Nós
mesmos, da CI, não podemos utilizar esse critério exclusivamente
como condição de validação das informações da rede. Por isso,
há o nosso intuito de reconhecer as pretensões que validam a

103
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

comunicação social, logo, a constituição do conhecimento (do


real virtual) neste espaço interativo. A este contexto articulamos
as ações a uma pragmática digital.
Daí nos perguntarmos se a Internet deve ser um ambiente
“selvagem”, em que vence sempre o mais forte (o mais acessado),
ou deve abranger condições de gestão do conhecimento regulada
por novas formas de agenciamentos temporários? Respondemos
que a Web comporta esses agenciamentos e é necessário caminhar
na busca de aportes teóricos que possam indicá-los.
Sunstein (2006) sistematiza um conjunto interessante de
informações sobre a reconfiguração de algumas ações informa-
cionais contemporâneas em seu livro Infotopia: how many minds
produce knowledge. A questão central de sua obra é se haveria um
caminho para que todas as pessoas conhecessem o que as outras
sabem. Conceitos como os de deliberação são retomados como
propulsores das ações informacionais no espaço colaborativo e
interativo da rede. O autor considera, inclusive, que esse espaço
se aproxima do ideal deliberativo social estudado por Habermas
em sua obra Entre fatos e normas: contribuições para a teoria do
discurso do direito e democracia. A ênfase é dada às formas de co-
operação, colaboração e associação que são estabelecidas na rede
em busca da validação de conhecimentos, mas não são destacados
os processos de validação em si. Todavia, os “filtros colaborativos”,
isto é, o resultado das trocas de opiniões entre os usuários das
informações, têm adquirido status de conteúdo e, ainda, de verda-
des construídas colaborativamente; o consenso seria o resultado
da “lógica” da colaboração. Entretanto, o que nos instiga está um
pouco antes do entendimento sobre as formas de colaboração. O
que se intenta é reconhecer quais critérios comunicativos estão
envolvidos no processo de obtenção de consenso ou, mesmo, de
entendimento mútuo, analisando como se estabelecem as regras,
as gramáticas dos jogos de linguagem estabelecidos. Isto tanto

104
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

para pensarmos a validação dos conteúdos constituídos colabora-


tivamente na rede como qualquer outro.
Nesse complexo virtual em que entrecruzam informações
sistematizadas, não-sistematizadas e interativamente constituí-
das, convém mencionarmos os esforços de articulação semântica
entre os conteúdos que têm sido estabelecidos pela programação
computacional que se configura como Web 3.0. A Web semânti-
ca12, assim dizendo, se propõe organizar e relacionar conteúdos a
partir das relações semânticas estabelecidas entre os conceitos (e
seus respectivos significados) utilizados na composição dos con-
teúdos (sejam esses sistêmicos ou interativos). Seria o virtual, em
um plano semiótico, como analisado por Pierre Lévy, que permi-
tiria codificar outras máquinas abstratas (no sentido de Deleuze).
Esta virtualidade reescreveria o ambiente por meio de signos. Nós
já diríamos que seria o movimento dos signos e seus significantes,
dados nas ações de uso da linguagem na rede, que reescreveriam
o ambiente tecnológico.
A Web tradicional seria sintática, e, por isso, as programa-
ções nos mostrariam somente as informações (os dados), ficando
a critério do usuário estabelecer os relacionamentos de sentido
que lhe são válidos. A Web 3.0 teria como intuito minimizar esse
esforço de discriminação de conteúdos demandado ao usuário da
rede no momento em que proporia estabelecer interoperacional-
mente dados sobre dados a partir de orientação semântica. Para
isso, trabalha-se com uma estruturação de conceitos coordenados
que permitiria, ao próprio sistema, identificar conteúdos eletrôni-
cos semanticamente similares e disponibilizá-los para o usuário.
Essa forma de organização semântica na rede parece ser a mais

12
No Brasil, valiosos trabalhos sobre esta temática têm sido desenvolvidos, mas situa-
remos apenas um deles, que no nosso entendimento, apresenta as diretrizes básicas,
porém não menos complexas, para essas discussões: SOUZA, R.; ALVARENGA, L. A Web
semântica e suas contribuições para a ciência da informação. Ciência da informação.
2004, v. 33, n. 1.

105
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

estudada no âmbito da Ciência da Informação, e tais estudos têm


se voltado a delimitar elementos linguísticos – como as Ontologias
– para compor o pano de fundo dessas articulações semânticas.
Todavia, os critérios que estão envolvidos nesses “taggeamentos”
são estabelecidos, a priori, ao processo de busca informacional ou,
concomitante a esta. A Web semântica se fixaria apenas aos “tag-
geamentos” já dados e fixados na rede. Assim, perguntamo-nos:
não estaríamos mais uma vez excluindo o sujeito e sua capacidade
de inovação linguística e intelectual do processo de construção do
conhecimento? Não estaríamos, como teria ocorrido no campo
filosófico em um dado momento, considerando apenas as rela-
ções sintáticas e semânticas no processo de construção de conhe-
cimento? C. Morris, ao discutir as implicações da construção do
significado da linguagem em 1938, já nos alertou para além dessas
duas perspectivas (sintática e semântica), fazendo-nos pensar nas
relações pragmáticas que condicionam a construção dos sentidos,
que são estabelecidos a partir das situações de uso cotidiano da
linguagem.

4.1 Olhares pragmáticos sobre a Ciência da Informação

Todas essas concatenações até então sugeridas entre a


Pragmática e a Ciência da Informação, seja a partir do entendi-
mento da informação enquanto artefato cultural ou ainda, en-
quanto a manifestação das condições comunicativas e de aprendi-
zagem sujeitas aos modos antropológicos e sócio-culturais de usos
da linguagem, foram estruturadas, em certa medida, ao conceito
de organização do conhecimento. No entanto cabe-nos admitir
que essa estruturação não se fez justificada pelo desenvolvimen-
to argumentativo apresentado em nosso texto. A representação
deste conceito merece uma ampla e fundamentada discussão
sobre sua constituição e genealogia enquanto campo diferenciado

106
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

de práticas e saberes, ora atrelados à Ciência da Informação. No


entanto, nos convencemos que estruturar sua contextualização,
considerando seus deslocamentos e extensões, demandaria novos
e necessários desdobramentos a partir do que até então desenvol-
vemos, e diante disto, é que nos comprometemos em dar conti-
nuidade a esta empresa, através de trabalhos e pesquisas futuras,
ampliando e confirmando as relações da Pragmática com a orga-
nização do conhecimento.
Por ora, focamos nosso olhar a partir da perspectiva de
Wittgenstein, em que se propõe uma desconfiguração do estrutu-
ralismo da significação e, neste sentido, outros autores da CI inves-
tigaram as possibilidades de uma aproximação da Pragmática es-
pecificamente aos sistemas de informação. Encontramos em Blair
(2003, 2006) uma interessante discussão sobre a reconfiguração
pragmática nos processos de representação temática, repensando-
-os como ação de descrição e de discriminação, tanto em relação
aos conteúdos quanto aos usuários dos sistemas de informação.
De acordo com o autor (2006), representações de informação, as
quais chamamos de indexação, têm dois objetivos fundamentais:
descrição e discriminação. Elas devem mapear o “índice intelectu-
al”, quando similar, de um corpus particular de informação. O jul-
gamento da qualidade da representação da informação se encontra
primeiramente (embora não unicamente) com os pesquisadores.
Ainda, segundo o autor, há problemas relacionados à ação de des-
crição no processo de indexação. As baixas taxas de sucesso em
recuperação podem ser diretamente atribuídas à indeterminação
do significado da linguagem natural. É difícil para usuário de um
grande sistema de recuperação de textos completos delimitar, por
meio de suas buscas, as palavras exatas, ou ainda, a combinação
de palavras e frases exatas que são usadas para expressar o índi-
ce dos documentos que eles desejam e que não são usadas para
expressar o índice de documentos que eles não desejam. Não é

107
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

suficiente para o usuário simplesmente predizer as palavras que


ocorrem nos documentos que ele quer – esse é o “requerimento
de descrição” da procura. O usuário deve também predizer qual
daquelas palavras não ocorrem nos documentos que ele não quer
– esse é o “requerimento de discriminação” da procura (BLAIR,
2006). Diante disto, Blair (2006) rediscute a ação de discrimina-
ção pela perspectiva pragmática e considera que o poder de dis-
criminação de informações adicionais é diretamente voltado para
determinar o que essa informação é. O poder de discriminação
da linguagem, como significado, é ultimamente contingente nas
atividades do dia-a-dia (forma de vida em Wittgenstein) (BLAIR,
2006). Blair, ainda, analisa pela perspectiva pragmática as ações
do sujeito frente ao sistema de informação a partir do que ele des-
creve como necessidade informacional e a partir de como ele dis-
crimina o que lhe foi retornado pelo sistema, e considera que o
modo de ser pragmático interfere diretamente nessas ações do su-
jeito. Entendemos essas como ações comunicativas que refletem a
relação do sujeito com seu mundo de vida. Os problemas relacio-
nados às formas de descrição do sujeito sobre o que se quer buscar
também precisaram ser discutidos, visto que, em certa medida, a
equivalência das descrições entre o conteúdo do documento re-
presentado nos sistemas de informação e a necessidade do sujeito
buscador dessas informações ocasionaria recuperações precisas.
Blair avalia que a Pragmática poderia ajudar a compreen-
der esses entraves, cujo ponto central estaria no estabelecimen-
to de sentido daquilo que é descrito. O que realmente desejamos
quando descrevemos o que queremos (sentido)? A maneira como
descrevemos foi desenvolvida por nós ou fomos condicionados a
esse modo? Quando utilizamos a linguagem para descrever o que
queremos estamos representando aquilo que pensamos, mas isso
não significa que todo o pensamento utiliza a linguagem como
meio de expressão, pois essa não é um produto do pensamento

108
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

ou a expressão de alguma coisa que temos em mente. Tratando-


se da necessidade de discriminar o que é relevante frente ao que
foi recuperado, a identificação do conceito usado na busca com
seu equivalente no conteúdo resgatado não será indicador de que
o sentido procurado foi localizado. Os elementos que interferem
nessas ações, tanto de descrição como de discriminação de con-
ceitos e conteúdos, extrapolam as questões representacionais e
atingem configurações comunicacionais. Blair (2006) reforçará
que, diante de tudo o que até então mencionamos, o caminho a
ser seguido pela CI nos espaços virtuais comunicativos deverá
ser aquele voltado a fazer com que pesquisadores (buscadores de
informações) tenham a dimensão da indeterminação da relação
entre o que eles descreverão e o que, diante do que foi recupe-
rado, terão de discriminar. Nesse ponto, observamos a formação
de associações e cooperações sociais na rede (as redes sociais de
informação), que seriam uma forma distribuída de busca e dis-
criminação de conteúdos. Frente a isso, pressupomos que seriam
necessários critérios para validação de sentidos e significados re-
lacionados às ações informacionais nesses espaços virtuais, tam-
bém distribuídos.
Todavia, no ambiente sistêmico, outros autores pensaram
a pragmática na perspectiva informacional. Dentre esses estu-
dos, podemos destacar o de B. Frohmann (1990), que estabelece
uma análise crítica ao mentalismo proposto na primeira fase de
Wittgenstein enquanto condição para construção e uso da lin-
guagem pelo indivíduo, verificando as implicações dessa teoria
nas práticas de indexação no âmbito da Ciência da Informação.
Assim, o autor desenvolve um estudo mais direcionado aos prin-
cípios do segundo momento de Wittgenstein e considera que, para
fins de indexação, não bastaria a compreensão dos processos cog-
nitivos individuais, mesmo porque esses não existiriam isolada-
mente. Esse mentalismo proposto não estabeleceria as condições

109
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

necessárias para a compreensão do pensamento.


O mérito da proposta do segundo momento de Wittgenstein
estaria em demonstrar que a possibilidade de compreensão da
forma de pensar do homem está relacionada à sua forma de viver,
de se expressar e de se fazer entender pelos membros de sua co-
munidade. Essas convenções sociais delimitam a forma de pensar,
assim, esse se aprenderia apenas socialmente, com a prática. Ao
fazer parte dos jogos de linguagem, conhecemos as regras do pen-
sar, cujo estabelecimento para representação do pensamento expli-
citado precisaria considerar aquelas que fazem parte do processo de
construção de pensamento socialmente instituído. O autor acredita
que somente considerando esses princípios o indexador seria capaz
de representar conteúdo de maneira a atribuir-lhes relevância para
seus potenciais usuários (FROHMANN, 1990).
Outro estudo que articula os princípios do segundo momen-
to filosófico de Wittgenstein à análise terminológica em CI seria
o de W. Nedobity (1989), que procura avaliar os diferentes méto-
dos de investigação do significado da linguagem. É importante
mencionar que Wüster, analisado por Nedobity, foi o precursor
da Teoria da Terminologia, atualmente estudada pela Ciência da
Informação como um dos possíveis caminhos para compreensão
da construção de sentido do conceito, que busca aplicar os funda-
mentos da lógica e da epistemologia para resolver os problemas
de comunicação de assuntos entre especialistas. A epistemologia,
neste contexto, estaria atrelada à condição de um estudo concei-
tológico (conceitologia). Contudo, sua teoria seria somente um
avanço da semântica lexical, pois estaria restrita a linguagens es-
pecíficas. Em síntese, sua tese procura orientar o uso do concei-
to somente no contexto (previamente delimitado) que lhe é mais
apropriado.
Nedobity (1989) atribui o contraste da Teoria da Terminologia
à teoria de Wittgenstein, na medida em que o princípio da

110
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

Terminologia proposta por Wüster estaria em utilizar uma regra


central para a compreensão de uma linguagem especializada, e a
definição do conceito se daria a partir do uso desta regra. Wüster
analisaria o significado como sendo construído a partir da relação
entre conceitos. Já para Wittgenstein, não haveria possibilidade
de prever, estabelecer e reutilizar essas relações conceituais, tendo
em vista que elas se constituem exclusivamente em contextos es-
pecíficos de forma de vida. O segundo autor busca definir con-
dições gerais de construção da linguagem, enquanto o primeiro
busca estabelecer leis orientadas para a sistematização de concei-
tos em linguagens especializadas. Ao relacionar essas duas teorias,
Nedobity destaca que a Teoria da Terminologia promoveria con-
dições de sistematização conceitual, mas que, dadas as implica-
ções oscilantes de construção de significados, tal teoria, precisaria
buscar subsídios teóricos mais amplos para expandir suas possibi-
lidades de aplicação.
Ainda, para justificar um pouco mais a validez de se desen-
volver estudos teóricos pragmáticos por meio da CI, mencio-
namos o trabalho de Hjorland (1998). Especificamente, o autor
verifica o contraste das duas teorias semânticas trabalhadas por
Wittgenstein, sendo elas a Teoria da figuração (em seu primeiro
momento) e a Teoria dos jogos de linguagem (em seu segundo
momento), demonstrando as diferentes consequências de suas
aplicações nos sistemas de recuperação da informação. Assim, o
autor considera que as discussões da segunda fase de Wittgenstein,
a partir dos jogos de linguagem, poderiam sustentar algumas das
implicações inerentes aos processos de recuperação da informa-
ção por considerar não haver limites entre as observações, os
conceitos e as teorias. Todos esses itens estão inseridos em um
contexto social e histórico, que precisam ser analisados, e essas
condições de construção de significado são discutidas (porém
não operacionalizadas) por Wittgenstein. Hjorland afirma que

111
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

os sistemas de recuperação de informação requerem regras ope-


racionais para sua consolidação, mas mesmo não havendo, ini-
cialmente, uma aplicação direta dos princípios de construção de
significado propostos por Wittgenstein, eles precisariam ser con-
siderados durante os processos de desenvolvimento e aperfeiçoa-
mento desses sistemas, pois somente assim, acredita o autor, seria
possível providenciar conteúdos semânticos recuperáveis precisa-
mente (HJORLAND, 1998). Hjorland mais recentemente (2009,
2010) tem se dedicado a alargar o conceito de conceito a partir de
uma proposta de significação Pragmática.
No Brasil, o trabalho de Novellino (1998) também defende a
necessidade de convalidarmos questões pragmáticas para subsi-
diar a organização de conteúdos, propondo que sejam construídas
linguagens de “transferência da informação”, e não simplesmente
de representação temática de conteúdos. Na transferência, have-
ria a reconstrução e a contextualização dos conceitos e dos sig-
nificados utilizados na construção dos conteúdos na medida em
que estes fossem representados também pelas formas de uso pelos
quais foram buscados. Para autora, as linguagens de recuperação
da informação devem buscar o significado dos conceitos em seus
contextos de produção e de uso.
Tanto os trabalhos de B. Frohmann (1990) como os de
Nedobity (1989), Hjorland (1998) e Novellino (1998), que apre-
sentamos brevemente, discutem as implicações da necessidade e
as consequências da adoção da abordagem pragmática no contex-
to da representação e da recuperação da informação em sistemas
de informação. Nosso intuito é de pensarmos, na esfera das ações
informacionais, em espaços da informação abertos, interativos
e dinâmicos. Para podermos pensar o plano tecnológico virtual,
enquanto instância possivelmente amplificadora e até mesmo,
recriadora de significações, delimitaremos mais precisamente
a concepção de Wittgenstein sobre as condições envolvidas no

112
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

processo de significação. Não tencionamos achar respostas ou


equivalências da “realidade comunicativa virtual” com o mundo
wittgensteiniano da significação, mas percebemos o quanto seus
argumentos podem redimensionar nossa visão sobre as significa-
ções possíveis nesse espaço.
A referência mais inovadora em Wittgenstein com relação à
significação foi a de conduzir nosso olhar para a prática e, com
isso, para outra possibilidade de entendimento da significação
na linguagem – a partir de seu uso. No mundo das práticas, não
haveria universais para Wittgenstein, logo, no mundo da lingua-
gem (que rege as práticas), também não. A CI, ao longo de seu
percurso, fez investimentos opostos à concepção do segundo mo-
mento de Wittgenstein, tratando de identificar pontos de partida
universais, ou melhor, pontuando invariâncias a fim de sustentar
e garantir suas propostas de representação, de organização e de
recuperação da informação. As garantias indubitavelmente uti-
lizadas por essa ciência são reflexos da necessidade de apoiá-las
em pontos fixos para a representação do conhecimento registrado
enquanto objeto de estudo dessa área. Entretanto, a articulação e
a expansão das mudanças tecnológicas sobre os canais de comu-
nicação desarticulariam muitas das bases sedimentadas e previ-
síveis de produção do conhecimento. Por isso, os esforços para
a identificação de elementos universais nesse meio e sua repre-
sentação fixa se tornaram proporcionalmente dissonantes fora das
condições de controle e de precisão (que se buscava alcançar em
ambientes sistêmicos da informação).
Ainda, a desvinculação entre a significação da linguagem e
as relações exclusivamente mentalistas, cognitivas, representacio-
nais e descritivas, levantada por Wittgenstein nas Investigações,
também esbarraria em muitas das metodologias de organização e
de representação do conhecimento, desenvolvidas e aplicadas pela
Ciência da Informação. Atribuir o significado linguístico ao seu

113
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

uso em situações práticas da vida equivale a dizer que não seria


possível fixarmos significados, a priori, pois, para isso, teríamos
de fixar as ações da vida.
A CI, diante disto, teria de lidar com uma concepção de sig-
nificação aberta que permitisse sua constante reconstrução. Isso,
principalmente, se pensarmos as implicações informacionais des-
territorializadas na Web. O que Wittgenstein irá nos propor é que
entendamos a significação no âmbito da interação. Nesse quadro,
sustentamos a importância de a CI voltar seu olhar para as teorias,
os métodos e os conceitos que tenham maior potência e abran-
gência epistêmica, pois somente de posse desse entendimento ela
poderia transitar nos contextos de interação em que acontecem
o uso da linguagem e, consequentemente a construção dos signi-
ficados. Se tal área considera apenas premissas positivistas sobre
a significação descritiva de um conceito em um ambiente infor-
macional, ela pressupõe um conhecimento preliminar por parte
do buscador da informação sobre o conteúdo buscado. Todavia,
na rede, por exemplo, essa pressuposição sobre o conhecimento
prévio de quem busca informação seria amplamente complexo de
se verificar.
Mais especificamente, a partir do que entendemos sobre o
plano dos jogos de linguagem de Wittgenstein, arriscamos que, no
domínio sistêmico (mesmo que oferecido virtualmente), as práti-
cas de representação da informação poderiam incorporar, em seus
instrumentos de intermediação informacional, conceitos simples
de uso cotidiano (em vez de primar pelo conceito especializado e
comumente considerado como o mais preciso). Ainda se agrega-
ria a ele a explicação de alguns de seus usos em situações da vida.
Assim, estaríamos potencializando a representação, vinculando a
ela alguns contextos de ação relacionadas ao conceito. A partir
disso, seria possível, talvez, não só delimitar os significados possí-
veis de conceitos representados, mas também compreender como

114
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

o seu significado poderá ser restabelecido em diferentes situações


de uso prático. Na linguagem da explicação do uso do conceito,
seriam fornecidos mais conceitos e expressões familiares sob os
quais também estariam prescritos seus usos práticos. A linguagem
da explicação está atrelada à prática e isso vincula a certeza sobre
o significado situacional do conceito explicado. Talvez a análise
de Alvarenga possa elucidar um pouco mais o que tentamos dizer:

O que está factualmente implícito na fala poderá


ser explicitado da maneira mais clara possível não
enquanto uma ‘estrutura profunda’, que confun-
diria mais que esclareceria, mas como algo cuja
enunciação poderia ser plenamente reconhecida,
isto é, entendida por aqueles que usam a linguagem
(ALVARENGA, 2003, p.160).

A idéia seria explicitar não uma explicação teórica levada a


cabo por si mesma, e sim expor os conteúdos implícitos no uso de
uma linguagem para aqueles que precisam da explicação. Portanto,
a análise seria Pragmática, “[...] não apenas devido àquilo que há
de ser analisado (a saber, os usos concretos da linguagem), mas
pragmática no sentido de ser uma elucidação pragmaticamente
relevante (em contraste com uma elucidação apenas ‘teoricamente
relevante’)” (ALVARENGA, 2003, p.160). A linguagem deveria ter
repercussão direta para os próprios interessados na elucidação, a
saber, os seus próprios usuários (ALVARENGA, 2003).
Para Wittgenstein, a aproximação do modelo de cálculo à
linguagem é empobrecedora. A elaboração de listas exaustivas
de características descritivas e de equivalências para conceitos
gerais nem sempre poderão propiciar a geração de produtos de
representação completos ao mesmo tempo em que poderão ofus-
car algumas possibilidades de entendimento do conceito geral. A
nossa competência para construirmos significados de acordo com

115
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

as situações em que o uso do conceito é demandado viria de uma


competência de interação que nos consente a compreensão e o
compartilhamento de regras (enquanto modos de comportamen-
to e ação wittgensteiniana), a partir do uso da linguagem, em uma
forma de vida. As competências que desenvolvemos ao ‘aprender’
viver e ao ‘aprendermos’ a nos relacionar (de modo não linear,
imprevisível e dinâmico) são também as competências que temos
para significar. No campo das interações tecnológicas virtuais, co-
gitamos que, o que mais Wittgenstein nos esclarece diz respeito
à natureza significativa da linguagem, que se institui em seu uso
cotidiano, ao passo que esse uso cotidiano tem sido cada vez mais
presente nas buscas e na configuração dos conteúdos disponíveis
na rede a partir das relações dialogais argumentativas dentro de
jogos de linguagem. À luz das Investigações, podemos ter uma
dimensão da imprevisibilidade sobre o estabelecimento dos senti-
dos no ciberespaço.
No que diz respeito aos atuais estudos de Information seeking,
pensamos que a proposta de Wittgenstein seria a de atentarmos
para o “comportamento linguístico” dos buscadores da informação
(usuários da linguagem). Isso poderia ser feito a partir da análise
da explicação do uso de expressões linguísticas dentro de um jogo
de linguagem (o jogo da busca), pois nessa explicação apareceriam
as regras (de ações da vida) que regulam o uso das expressões.
Regras essas que, simultaneamente, regulam os comportamentos
e ações sociais, ao passo em que são apreendidas somente duran-
te a explicação sobre os usos da linguagem. Por isso, não haveria
como estabelecer ou antever comportamentos de busca da infor-
mação. Nesse processo, não haveria como se instituir verdades,
apenas construir certezas (situacionais). A própria dúvida, ineren-
te ao processo de busca informacional, já pressupõe um conjunto
de certezas (práticas). As certezas estariam relacionadas à apreen-
são de regras (wittgensteinianas). Por conta disso, não seria só por

116
A pragmática dos jogos de linguagem no virtual

meio da reflexibilidade que sanaríamos nossas dúvidas de ações


informacionais. Somente alcançaríamos esse estado na medida
em que algumas soluções práticas relacionadas a nossas dúvidas já
fossem encontradas. Se tivéssemos condições para analisarmos a
explicação de algumas dessas soluções práticas já encontradas, po-
deríamos identificar acordos no uso da linguagem ou em formas
de vida – teríamos condições para significar tanto a fim de definir
conceitos como de julgar e estabelecer certezas.
O panorama reflexivo traçado por Wittgenstein sobre a signi-
ficação da linguagem vinculada ao seu uso não nos dá um modelo
teórico metodológico para aplicamos as práticas da CI, mas nos
fornece conteúdos epistêmicos que estendem nosso juízo sobre as
implicações da significação, sendo que esta é uma questão central
nos esquadrinhamentos desenvolvidos por esta ciência. A partir
das Investigações de Wittgenstein, algumas perspectivas não tra-
dicionais acerca da significação com consequências importantes
para os processos de representação, de recuperação e de busca
da informação puderam ser repensadas. Queremos somar a isso
a possibilidade de uma aproximação às mediações tecnológicas
virtualizadas que rearticularam algumas das condições de uso e
de significação da linguagem (a partir das noções de uso da lin-
guagem). Nossa proposta foi a de atentarmos para as atitudes per-
formativas nos jogos de linguagem que se apresentam e se estabe-
lecem nesse universo. Estes jogos espelham e, ao mesmo tempo,
criam regras e formas de vida. Enquanto profissionais da informa-
ção, para tentarmos entender os sentidos desses jogos, teríamos
de compartilhar suas regras. Isso significaria, participar do jogo
(por meio de atitudes performativas).
A proposta de Wittgenstein sobre a significação da lingua-
gem enquanto uso é muito mais ampla e complexa do que a que
vislumbramos apresentar. A reunião dos pressupostos que ana-
lisamos, foi com o intuito de nos iniciarmos em sua Filosofia, e

117
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

justificar a relevância de suas premissas epistemológicas para as


questões informacionais. A luz de Wittgenstein, pudemos ter a
dimensão do não dimensionável em relação à significação infor-
macional. Mas isso não nos faz estagnar em nossas ações repre-
sentativas, ao contrário, nos faz ponderar elementos pouco cre-
ditados na concepção dessas representações ou intermediações e
que podem interferir positivamente nos processos de recuperação
da informação. Especificamente, o conceito de jogos de lingua-
gem apresentado pelo filósofo nos alertou para as sutilezas de uma
significação que se estabelece situacionalmente e é dependente
das formas de vida, das regras, da gramática, da semelhança de
família, enfim, de várias e simultâneas ações que tecem a trama
da significação.

118
5
Um olhar sobre a
Ciência da Informação
sem informação

Voltando a Wittgenstein (2005, p. 149), não podemos traçar os


limites de nosso mundo a não ser a partir dos horizontes de nossa
linguagem. Para o filósofo pragmatista, há densas névoas de lin-
guagens sobre o ponto problemático, por isso é preciso mostrar
à mosca a saída da campânula – ou seja, uma ciência, para se de-
senvolver, precisa partir de sua própria linguagem, ela é a saída da
campânula, não as linguagens paralelas. Para o emprego de um
nome, muita coisa já deve estar preparada na linguagem - o pro-
blema da verdade científica não é o do aprendizado da palavra,
mas do emprego da palavra. Os critérios estão, para a tradição
pragmática, na ação dos usos da linguagem, e não na represen-
tação. Por becos e travessas chamamos os discursos e indícios de
manifestações discursivas que cercam a construção de uma tra-
dição de pesquisa fundamentalmente voltada para o social – o
homem em sua cultura – e a linguagem – a grande tecnologia de
preservação e acesso ao conhecimento.
Visitar os becos e travessas da epistemologia da organização
do conhecimento nos sensibiliza para uma percepção mais aguda
do próprio conceito de Ciência da Informação e da localização
desta na historiografia meta-científica. Ao nos revelar filosofias
profundas que estão na raiz dos estudos da organização do conhe-
cimento, hoje chamados de estudos informacionais, a expedição

119
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

epistemológica traz contribuições mais sólidas para classificar a


CI na árvore do conhecimento. A pesquisa em epistemologia per-
mite, enfim, vislumbrar uma justificativa mais coerente para a CI.
A partir desta, podemos analisar de forma mais ampla as proble-
máticas que emergem no mundo contemporâneo, como o caso da
web e de todas as suas multiplicidades.
Há um fascínio cultuado em falar de informação, de conhe-
cimento e de sociedade da informação e do conhecimento - e
mesmo, de uma Ciência da Informação -, nos alertará o pragma-
tismo, incluindo, pois, o pragmatismo informacional. Nas pala-
vras de Wittgenstein, há um enfeitiçamento da linguagem – tais
termos nos fazem acreditar que as palavras podem mudar a ordem
das coisas, e não os homens. O enfeitiçamento ou fascínio da lin-
guagem alertado por Wittgenstein (1979) se confunde, por vezes,
dentro da CI, com a apropriação do conceito de informação na
área. Uma série de afirmações como: nosso objeto é o fenômeno
da informação; a sociedade da informação precisa de uma Ciência
da Informação; ou, inversamente, a CI existe porque existe uma
sociedade da informação; representa, para o pragmatismo aplica-
do aos estudos de organização do conhecimento, a fragilidade de
se pensar que ciência é uma indústria de cânones, de paradigmas
para os grupos sociais se adequarem.
Pelo olhar pragmático, a informação no mundo contempo-
râneo é tão, menos ou mais importante quanto o foi na Grécia
Antiga, no Império Romano, nas comunidades medievais, nas
primeiras cidades do mundo industrial – a única diferença dorme
na emergência dos discursos de cada tempo, e na qualidade des-
tes discursos. Se hoje tanto adoramos a informação é porque,
antes, ela responde por fetiches e circunstâncias tanto políticas
quanto sociais – e não necessariamente científicas. Como nos
lembra Macias-Chapula (1998, p. 139), a urgência está mais em
identificar e tratar problemas como o de como conferimos valor

120
Um olhar sobre a Ciência da Informação sem informação

- confiabilidade – aos usos da informação que adotar irrestrita-


mente novas tecnologias de informação. Neste sentido, perceber
na web fundamentos de um olhar pragmático é antes, procurar a
compreensão de como se daria uma pragmática digital, quais são
seus potenciais e suas barreiras.
Por isso generalizamos nossa conceituação de Ciência da
Informação, nomenclatura atualmente muito adotada, no con-
texto brasileiro, para conceituar os estudos de organização do
conhecimento. Quando falamos em CI em nossas visitas e em in-
formação procuramos superar a unilateralidade filosófica a que
essas noções conduzem, reduzindo a área a apenas uma via de
apreensão do conhecimento. Através, por exemplo, do catálogo e
da base de dados, o profissional da informação não precisa conhe-
cer necessariamente as interpretações que levaram a classificação;
precisar saber manipular o catálogo. O conhecimento “sediado”
na mente dos bibliotecários-filósofos – que se perdia com a morte
destes indivíduos -, julgava-se, poderia ser materializado através
de técnicas padronizadas e tecnologias – o classificar e o catalogar
junto da micro-filmagem e da Internet. No entanto, este profissio-
nal da representação – ou seja, o documentalista e o profissional
da informação – é um mecânico de simulacros, não pode resolver
nada além das técnicas e tecnologias. O outro, o bibliotecário-filó-
sofo, pode reinventar as técnicas, pois está aquém das padroniza-
ções e tem a tecnologia apenas como matéria passageira – do ca-
tálogo passaremos para o microfilme, deste para a base de dados,
deste para a biblioteca digital.
É de extrema relevância estudar a sociedade dita da informa-
ção, como investigar as circunstâncias de produção e uso das tec-
nologias da informação, como a informação enquanto categoria
de vulto na contemporaneidade, mas isso não é o que faz a CI uma
ciência, nem o que faz dela uma ciência mais “contemporânea” -
ou ligada ao seu tempo - que as demais, nem mais interdisciplinar

121
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

que tantas outras. A cientificidade da informação – ou da organi-


zação do conhecimento, isto é, vista para além da representação
- está na secular sapiência de observação, anotação e discussão
sobre como podemos adequar nossos instrumentos de armazena-
mento e de circulação da memória contemporânea e retrospectiva
apreendida, para nos afastarmos da barbárie, da possibilidade de
um esquecimento sumário, a grande amnésia coletiva, que impeça
o homem de lembrar os caminhos que o levou – e que o levará - a
aprender.
No entanto, se falamos em reencontro ou reconciliação, é
preciso anotar a parcialidade de nossa observação, pois se é possí-
vel identificar uma linha de manifestações sob uma longa duração
– uma resistência que pode ser verificada em discursos e práticas,
como também em identidades curriculares - esta linha nos faz
perguntar permanentemente, como nos convoca a epistemologia
histórica de Bachelard (1968, 1974, 1983): porque reencontro, se
há permanências? Esta é a perspectiva que a “longa duração” nos
abre – a sensibilidade que tal historiografia nos provoca -: com-
preender a história em sua profundidade filosófica e cultural;
construir uma ciência interpretativa.
A CI pode ser, segundo uma visão da tradição pragmática,
pela sua história, pelos seus traços disciplinares, a primeira escola
de pensamento no criticismo contemporâneo a traçar as narrati-
vas esclarecedoras acerca do fetichismo da informação, a primeira
a recusar a informação como objeto científico, bem como do fe-
tichismo da interdisciplinaridade, bem como a unilateralidade de
uma filosofia da representação; a primeira escola do pensamen-
to hodierno a colocar a informação em um lugar crítico: o jogo
descontínuo dos lances de discursos múltiplos, da trama cultu-
ral, imersa nas categorias da ideologia, do poder, do público e do
privado, da ética e da tolerância. A recusa da informação não é
a recusa ao conhecimento – e muito menos à compreensão dos

122
Um olhar sobre a Ciência da Informação sem informação

usos que a sociedade faz da informação. O conhecimento não é


apenas o que se informa, ou o que informa, ou o que dá forma, ou
o que representa, mas o que se fragmenta e se compartilha, o que
se reparte – o que se deforma para trocar, o que se comunica, que
narra, que sensibiliza. A miríade de janelas para diálogo e delibe-
ração que um olhar pragmático nos provoca sobre a web demons-
tra como este conhecimento precisa ser contextualizado conforme
suas formas de produção e de apropriação.
A web, desta maneira, apenas intensifica nossa necessidade
de compreensão do pragmatismo enquanto filosofia e método.
Antes de se apresentar como território de abordagens pragmáti-
cas, o território digital nos alerta para a revisão da historiografia
e da epistemologia do campo orientados por um olhar que rela-
tiviza a realidade não para torná-la um discurso praticalista/uti-
litarista, mas para recompreendê-la permanentemente segundo
a discursividade de seus produtores e suas ambiências. Tratada
como pragmática, a informação tende a perder sua “potência”
conceitual, fundada e demarcada na idéia de representação.
Discursos, textos, narrativas, documentos, são todos estes exem-
plos de objetos-conceitos que emergem na paisagem de nossa dia-
lética epistemológica.
A recusa da informação jogaria por terra mais da metade das
narrativas científicas em CI, caracterizando-a como uma pseu-
do-ciência, como Thomas Kuhn poderia enxergá-la? Não. Pelo
menos para uma tradição pragmática da epistemologia da CI pa-
rece-nos que isso não ocorreria, pois esta forma de vida não tende
a vislumbrar paradigmas impositivos – que conseguem controlar
um grupo de pesquisadores dentro de uma ciência segura e satis-
fatória, a ciência normal -, mas assite semelhanças de família entre
jogos de linguagem que coexistem e se comunicam permanente-
mente, formal e informalmente, no cotidiano do fazer científico.
Para os que acreditam que a recusa da informação dá margens à

123
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

contestação da possibilidade da CI como ciência, poderemos con-


cluir que realmente a carta de justificação da área, que diz que sua
natureza é interdisciplinar, que é uma interdisciplina pós-moder-
na, cujo objeto é a informação, realmente estava sustentada sobre
um terreno que já afundava desde sua pré-história na névoa béli-
ca. Significaria dizer: em verdade, a CI nunca foi ciência.
Ao voltar-se para o estudo do homem em sua socialidade, o
estudo da linguagem cotidiana do homem segundo sua ação a tra-
dição pragmática, aqui e acolá, ao longo da história dos estudos da
organização dos saberes, convida o bibliotecário, bibliógrafo e os
demais profissionais que atuam no trato da guarda e da transmis-
são dos saberes registrados em seus diferentes formatos a atenta-
rem mais para as narrativas que para as representações. Em outras
palavras, a tradição pragmática possibilita a análise crítica acerca
da justificativa de uma CI pela condição do conceito de informa-
ção. A informação, por sua vez, aparece na cena epistemológica
do campo como, essencialmente, um ponto de justificativa para a
tradição representacionista. Há muito - desde Otlet, que buscava
um termo para substituir o conceito Bibliografia, chegando até o
termo Documentação – se procurava um significante para justi-
ficar com mais consistência a idéia da representação do conheci-
mento e a dispersão do termo informação no século XX apareceu
como uma luva para os intentos daqueles que militavam na cena
científica sob a égide da filosofia da representação.
A emancipação do conceito de informação foi tão forte que,
por vezes, se considerou a representação como única porta de saída
para os estudos da organização do conhecimento. Assim como se
popularizou rapidamente – nos dizeres de Wittgenstein (1979),
se primitivizou, tornando-se bem comum dentro de um jogo de
linguagem – na sociedade em geral, também na ciência o termo
informação passou a ser explorado de forma intensa, deflagrando,
por isso, até certo ponto, o fetiche pelo simulacro conceitual. A

124
Um olhar sobre a Ciência da Informação sem informação

presença nos estudos voltados para o acesso e a preservação dos


artefatos culturais foi tão profunda que, como mencionado, um
imenso número de escolas, institutos e centros de pesquisa pas-
saram a alterar seus nomes, de forma a incluir a “etiqueta” infor-
mação na entrada de seus edifícios. É este fetiche que faz com que
uma tradição pragmática em permanente construção e reelabora-
ção passe, por vezes, despercebida. Do mesmo modo, é o mesmo
fetiche que acaba por identificar, no olhar de alguns pesquisado-
res, a CI como uma ciência da representação – e somente da re-
presentação. É neste aspecto que o trabalho de Novellino (1996,
1998) em sua revisão das figuras que intervém na transmissão, e
não apenas na representação, tem papel fundamental.
A CI, nos conta a tradição pragmática, precisa, antes de dizer
há informação, ou há necessidades de informação, iluminar o de-
bate sobre os riscos de uma aurora informacional do pós-guerra e
os desafios da saturação desta aurora. Trata-se de um pensamento
sobre os modos do conhecer voltado para a reflexão e atento ao
fascínio que conceitos e tecnologias podem nos conduzir. Antes
de dizer há ciência para informação ou não há, o pragmatismo in-
formacional nos convida a explorar quais contribuições científicas
podem conduzir o estudo da informação para o solo das relações
sociais. Estas contribuições, independentes de seu método – lem-
bremos, o pragmatismo é estruturalmente anti-dogmático -, são
narrativas encontradas nos discursos dos atores que participam
da construção compartilhada do conhecimento. É neste aspecto
que a tradição pragmática nos permite contemplar uma CI sem
informação – em termos filosóficos, uma CI sem representação.
O foco de investigação do pragmatismo é a ação – o deslocamento
de linguagens e seus artefatos nas atmosferas culturais.
A informação não necessariamente é o conceito principal
dos estudos de organização do conhecimento – seu objeto por ex-
celência -, como muitos autores, apenas voltados para a filosofia

125
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

representacionista, afirmaram a partir dos anos 1960. A longa re-


visão de Hjorland & Capurro (2003) reflete a importância que é
dada ao conceito dentro dos estudos da organização do conheci-
mento. A análise crítica do conjunto de manifestações em torno
da noção de informação percebe como, ao conferir vida às possi-
bilidades de sua representação, o pesquisador tornou-o, paralela-
mente, seu fetiche.
A tradição pragmática sobrevive para atentar que uma ciência
para a informação estuda, antes, narrativas, e não necessariamente
delimita fenômenos, ou busca naturezas - mesmo sua meta-nature-
za. Para o pragmatismo informacional, a CI não precisa necessaria-
mente afirmar: o homem deve informar-se, se multi-informar-se,
se inter-informar-se. Antes, pode refletir com suas comunidades de
deliberação contextuais sobre os processos sociais que sedimentam
representações. Sob um olhar pragmatista, o homem deve ser crí-
tico à idéia de que a informação é bela, deve ser provocado sobre
como a informação é construída, deve ser lembrado de que a infor-
mação é apenas a esfera de narrativas múltiplas – demarcadamente
um fetiche do século XX - e nunca será a única pedra de toque que
soluciona as crises da racionalidade.
Entre as missões da CI em uma epistemologia da imaginação
é “mais” aumentar a incerteza – as possibilidades diversas de se
chegar ao conhecimento, o número incontável de rotas, itinerá-
rios – que reduzi-la, que mostrar o caminho que parece a priori
ideal, que informar é a melhor forma de aproximação à respos-
ta da pergunta da referência, através da cartografia ideal; mais
dialogar que medir; mais (inter)agir que mostrar; é mais facetar
saberes, a dança da recontextualização, que legitimar macro-clas-
sificações do conhecimento. A CI, em sua tradição pragmática,
não é uma ciência pura da representação. É também uma ciência
sem informação: uma ciência da transmissão, das narrativas, dos
jogos de linguagem, dos processos sociais. Neste sentido, a web se

126
Um olhar sobre a Ciência da Informação sem informação

apresenta, como demonstrado, como um amplo e ainda inexplo-


rado território de investigação da pragmática.
A tradição pragmática está preocupada com o homem em
ação em seu cotidiano. Esta ação é que revela os significados que as
palavras e os artefatos culturais podem ou não conter. A dinâmica
dos contextos – ou dos jogos de linguagem – faz com que a análise
pragmatista negue, a princípio, a representação – ou a informação
– como via do conhecimento. Isto se dá pois só a interpretação
de cada domínio, em sua especificidade, pode revelar as condi-
ções de construção e compartilhamento dos saberes. Neste ponto,
a hermenêutica se torna um fundamento da tradição pragmática:
é necessária uma interpretação profunda do homem para com-
preender suas formas de organizar o conhecimento. Se o conhe-
cimento só se dá através de uma linguagem, esta hermenêutica é,
por princípio, uma crítica da linguagem. Esta crítica se realiza pelo
estudo comparativo de jogos de linguagem – ou maneiras de usar
a linguagem, assim como a Bibliografia textual o fazia. Interpretar,
desta forma, é buscar as semelhanças de família de determinados
grupos sociais, e desvelar o complexo de significados que parte
destes domínios.

127
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Posfácio

Pragmática dos diálogos:


relato de um encontro

O resultado da obra apresentada se posiciona em uma plata-


forma histórica recente, mas de relevância contextual, não poden-
do ser ocultada pelos significados que traduz. A ciência se desen-
volve através de um conjunto de aproximações e distanciamentos,
em diálogos que se materializam e silêncios que se provocam,
afetando modos de perceber e modos de criar a trama do livro
do conhecimento. Biblioteconomia & Ciência da Informação, em
sua longa contribuição aos capítulos abertos deste livro, produ-
ziram e produzem diferentes olhares sobre a realidade mutante
do século XX e deste século que se segue. Perceber os percursos
recentes dos estudos orientados para organizar o conhecimento e
seus registros, sem desalinhá-los do passado histórico, é retomar
os discursos de fundação e de delineamento do campo, identifi-
cando suas margens abertas para diferentes escambos teóricos e
metodológicos.
Um livro não é produto uno de uma percepção histórica, mas
também de uma encruzilhada. Limite fotografado e no instantâ-
neo de sua figuração já ultrapassado, o livro científico – principal-
mente aquele que se propõe na atualidade – encontra-se em uma
esquina de referências multiplicadas, que se desdobram a partir

128
Posfácio

da experiência de escritura lançada entre fenômenos, instituições


e seus habitantes. Produto e produtores das transformações remo-
tas e, principalmente, daquelas movimentações contemporâneas
do campo, Luciana Gracioso e Gustavo Saldanha apresentam o
resultado de dois tecidos discursivos sobre a ciência em questão.
O horizonte apontado e explorado responde por uma série
de indícios para a compreensão de um solo de pesquisa biblio-
teconômico-informacional hodierno. Com trajetórias diferentes,
em tradições que se desenvolveram sob influências ora aproxi-
madas, ora afastadas, a saber, a escola biblioteconômica paulista
e a escola biblioteconômica mineira, os pesquisadores terão como
ponto de encontro aquele que pode ser representado como prin-
cipal locus de produção meta-reflexiva no contexto do campo no
país, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
– IBICT.
Bibliotecária-documentalista formada pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP -, especia-
lizada em “Uso estratégico em tecnologias da informação” pela
mesma instituição, Luciana Gracioso desenvolverá sua trajetória
de pesquisa no campo biblioteconômico-informacional a partir
do mestrado e do doutorado em Ciência da Informação. O primei-
ro, construído na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
O segundo, objeto diretamente envolvido nesta presente empresa,
manifestação de sua pesquisa em torno da Filosofia da lingua-
gem desenvolvida no IBICT. Chamada “Filosofia da linguagem e
Ciência da informação: jogos de linguagem e ação comunicativa
no contexto das ações de informação em tecnologias virtuais”, a
pesquisa, com resultados apresentados no ano de 2008, apresenta-
rá um estudo de vanguarda na análise entre filosofia, linguagem,
pragmática, web e Ciência da Informação, revisando, monitoran-
do e antecipando diferentes conceitos e perspectivas em foco no
discurso atual do campo.

129
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

Bibliotecário formado pela Universidade Federal de Minas


Gerais – UFMG -, especializado em Filosofia Medieval pela
Faculdade São Bento do Rio de Janeiro, Gustavo Saldanha desen-
volverá sua dissertação de mestrado também no âmbito epistemo-
lógico no contexto da Ciência da Informação na própria Escola de
Ciência da Informação – antiga Escola de Biblioteconomia – da
UFMG. “Viagem aos becos e travessas da tradição pragmática da
Ciência da Informação: uma leitura em diálogo com Wittgenstein”,
título da pesquisa, responderá por uma demanda de revisão da
Filosofia da linguagem, em sua vertente pragmática, no contexto
do campo biblioteconômico-informacional. Concluído em 2008,
o trabalho procurará reencontrar manifestações pragmáticas den-
tro do complexo Biblioteconomia & Ciência da Informação, in-
terpretando o campo sob a plataforma da Filosofia da linguagem
wittgensteiniana.
É necessário retomar alguns aspectos para posicionar no
tempo e no espaço a gestação e a luz destes trabalhos, que terão
por fruto, além de comunicações em eventos, resumos em anais e
publicações em periódicos científicos, a obra agora apresentada.
Alguns vislumbres – em seus sentidos de indício, vestígio, hipóte-
se, e não alumbramentos – sobre o horizonte remoto abandonado
pelos passos das instituições científicas orientadas para organiza-
ção do conhecimento nos últimos séculos devem ser resgatados,
para posteriormente apontarmos para as evidências imediatas,
que não podem escapar deste modo de contextualização. A pri-
meira evidência que nos chama a atenção está diretamente ligada
a toda a construção das gramáticas especulativas no âmbito da fi-
losofia medieval que atravessará o projeto humanista dos séculos
XIV e XV, junto da retomada da Retórica e da Filologia.
De um lado, o resultado desta reflexão sobre a linguagem apa-
recerá sob o signo das tentativas da construção de uma biblioteca
ideal – o livro do conhecimento logicamente categorizado – que

130
Posfácio

desembocará na virada do século XIX para o XX nas nascentes


escolas, institutos de pesquisa e associações de bibliotecários e
demais atores sociais preocupados com a organização dos grafi-
tos deixados pelo homem em sua travessia simbólica. De outro,
encontramos um pragmatismo – ou um olhar pragmático sobre
a linguagem - que conviverá com o idealismo de fundo teórico,
interpretado como posicionamento positivista biblioteconômico,
porém sustentando uma tentativa de construção de um bibliote-
cário generalista, com perfil que buscava recuperar o erudito filó-
logo que se desenvolveu do Renascimento até o oitocentos.
A Biblioteconomia – ou seja, um campo interessado na insti-
tucionalização de uma prática e de um pensamento para organi-
zar o painel de compilações da “tragédia” humana - nasce, deste
modo, exatamente no contexto de “tradução” da filosofia em uma
Filosofia da linguagem. Para além do paralelismo temporal e es-
pacial – pensando, neste caso, no rápido desenvolvimento simul-
tâneo da Filosofia da linguagem e da Biblioteconomia no mundo
anglófono, que calhará, a esta última, na discussão de uma “ciên-
cia” para “informação” nos departamentos biblioteconômicos em
meados do século XX -, percebemos uma aproximação filosófica
e epistemológica de base, uma vez que o estudo biblioteconômi-
co se baseará estruturalmente no desdobramento das gramáticas
especulativas e nas discussões sobre uma formação humanista, de
cunho filosófico-educacional pragmático, para seus agentes.
A presença das classificações de Melvil Dewey e Paul Otlet,
posicionadas no tempo filosófico, demarcam claras interse-
ções com os primeiros passos da Filosofia da linguagem com a
Biblioteconomia. O bibliotecário e matemático Shiyali Ramamrita
Ranganathan representará, no entanto, o principal elemento, sem-
pre carente de tantas e quantas investigações e interpretações,
para o elo impresso entre a Filosofia da linguagem e a filosofia da
biblioteconomia & Ciência da Informação.

131
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

No mesmo contexto tempo-espacial de aproximações, é tam-


bém importante demarcar a presença de Ludwig Wittgenstein en-
volvido com estudos paralelos, apresentando-se posteriormente
como um dos principais filósofos do século passado, represen-
tante modelar da Filosofia da linguagem. Wittgenstein pode ser
encontrado no âmbito biblioteconômico-informacional tanto em
seu desenvolvimento positivista e na construção de uma lingua-
gem essencial, na recuperação de uma epistemologia deweya-
na e otletiana, como em uma escola pragmática, demarcada na
educação bibliotecária e fundamentalmente nos desdobramen-
tos do pensamento ranganathaniano nos fins do novecentos.
Especificamente no que tange esta encruzilhada, ou seja, a pre-
sente obra, Wittgenstein se apresenta para além do filósofo – sua
posição pode ser tomada como de um território, um ponto de
encontro.
Iluminados pela Filosofia da linguagem, Gracioso e Saldanha
encontrarão no filósofo de Viena um veio comum para tecer suas
análises e reinterpretar os estudos biblioteconômico-informacio-
nais. O resultado: a matéria dialética fundada no entrelaçamento
da dissertação desenvolvida pelo último em Minas Gerais, sob a
orientação da Prof. Dra. Maria Aparecida Moura, e da tese constru-
ída no IBICT pela primeira, sob a orientação da prof. Dra. Maria
Nélida González de Gómez. O pensamento de Wittgenstein, fer-
ramenta metodológica e conceitual dos dois trabalhos, apresen-
tados em 2008, permite revisitar a história do campo e anunciar
criticamente suas perspectivas.
As vésperas da encruzilhada, as manifestações da litera-
tura e das instituições do campo, cada vez mais complexifica-
das pelo encontro de especialistas de outras áreas, demonstram
claramente o território em sedimentação e expansão sob o qual
este trabalho se desenrola. Os anos 1990 demarcam uma ampla
discussão em torno do pragmatismo no contexto dos estudos

132
Posfácio

biblioteconômico-informacionais. A revisão filosófica de Rafael


Capurro, publicada nos anais da Conferência Internacional para
Celebração do 20o aniversário do Departamento de Estudos da
Informação da Universidade de Tampere, em 1991, apontava para
uma evidência destes estudos, lançada nos anos 1980, orientada
para a retórica e para a hermenêutica, que retomava pressupostos
do pragmatismo de cunho humanista no campo.
A produtiva década de 1990 segue com uma problematização
cada vez mais aguçada sobre a ausência de estudos filosóficos no
campo – principalmente, a ausência de uma base epistemológica
que justificasse a presença de uma ciência para a informação no
seio da árvore do conhecimento que crescia rumo ao século XXI.
O pragmatismo ganha em observadores e observações no perío-
do. Trabalhos como o de Bernd Frohmann e Birger Hjorland, de
Maria Nélida González de Gómez e Miguel Ángel Rendón Rojas
comprovam a movimentação filosófica.
No contexto desta obra, os dois últimos pesquisadores ga-
nham em relevância por diferentes questões. A primeira destas
remete a importância de ambos para a pesquisa biblioteconômi-
co-informacional no contexto latino-americano. A segunda, pela
própria preocupação com a Filosofia da linguagem que percorre
os últimos vinte anos, resultando em um evento de pesquisa que
incidirá diretamente na presente obra. Trata-se do “I Seminário de
Pesquisa em Ciência da Informação: epistemologia, metodologia
e práticas”, ocorrido em 2007. A abordagem pragmática ganhará
destaque, marcada, dentre outras questões, pela proposta apre-
sentada pelo pesquisador mexicano, Rendón Rojas, de uma teoria
pragmática da informação.
O evento marca o primeiro contato entre os pesquisadores
Luciana Gracioso, relatora do seminário, e Gustavo Saldanha,
ouvinte, ambos com as pesquisas sobre Filosofia da linguagem,
Wittgenstein e Ciência da Informação em desenvolvimento – e

133
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

atentos à problematização da pragmática no campo na América


Latina e no contexto europeu e norte-americano. Realizado no
IBICT, casa de onde partiu grande parte do discurso epistemo-
lógico e filosófico do campo no contexto brasileiro, a partir das
pesquisadoras que colaboraram diretamente com a fundação do
grupo de trabalho dentro da Associação Nacional de Pesquisa em
Ciência da Informação – ANCIB – especializado em epistemolo-
gia e interdisciplinaridade da Ciência da Informação, o encontro
estabelece uma teia de significados que tenciona vínculos com
inúmeras histórias da história do complexo Biblioteconomia &
Ciência da Informação no Brasil e no mundo, representando um
cenário propício para o diálogo e, mais especificamente, um terri-
tório para discussão filosófica.
O contato inicial dos pesquisadores, dentro de uma atmos-
fera de produção e deliberação discursiva que acompanhava o
desenvolvimento internacional do campo, gerou a abertura dos
diálogos, a partir do colégio invisível e dinâmico dos agenciamen-
tos em linha, que se sedimentariam no IX Encontro Nacional de
Pesquisa em Ciência da Informação – ENANCIB – de São Paulo,
em outubro de 2008. O evento conta com a abertura do prof. dout.
Miguel Ángel Rendón Rojas, propiciando um espaço de amplia-
ção da análise filosófica no campo – principalmente, em sua ver-
tente fundada na Filosofia da linguagem e, dentro desta, no veio
pragmático. No mesmo, Gustavo Saldanha apresenta parte de sua
dissertação, orientada para a presença wittgensteiniana no âmbito
biblioteconômico-informacional.
A silenciosa comunicação científica atravessaria o ano se-
guinte até o encontro que marca definitivamente o intercruzamen-
to dos tecidos textuais produzidos “isoladamente”. Concluídas no
ano anterior, sugestivamente 40 anos após a apresentação do con-
ceito de “Ciência da Informação” produzido por Harold Borko que
tanto repercutiria nos estudos biblioteconômico-informacionais,

134
Posfácio

as pesquisas podiam ganhar o espaço de diálogo direto e os pes-


quisadores, no X ENANCIB, realizado em João Pessoa, Paraíba,
em 2009, estabeleceram a agenda para a costura conceitual dos
levantamentos obtidos nos últimos anos. Mais uma vez, diante do
território de deliberação filosófico-epistemológico do Grupo de
Trabalho 1, da ANCIB, o diálogo ganharia em fôlego e conteúdo.
O ano de 2010 demarca, pois, o delineamento das leituras co-
letivas e críticas entre as pesquisas, a procura pelas nuances, afasta-
mentos e desvios entre as narrativas, bem como pelas interseções,
elementos de sustentação de um discurso e de um ponto de vista
compartilhados. Resultado de uma rede de personagens, insti-
tuições e conceitos, a obra agora apresentada estabelece-se como
fruto de manifestações históricas e contemporâneas dos estudos
biblioteconômico-informacionais. Trata-se de outro nó de uma
rede de interações, sendo, então, tanto um artefato – e não uma
invenção – de uma história reconhecidamente rica –, e pretenden-
do, por sua vez, lançar-se como um acréscimo de sensibilidade ao
olhar sobre os fundamentos filosóficos de nosso campo.

135
Ciência da Informação e Filosofia da linguagem

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Referências Indicativas

O resultado deste trabalho, como mencionado, é fruto do diá-


logo de duas pesquisas da década que se encerra, ambas orientadas
para a epistemologia informacional e para tradição pragmática nos
estudos da organização do conhecimento. As referências selecio-
nadas a seguir compõem parte do quadro indicativo suplementar
das fontes consultadas para a realização da dissertação de Gustavo
Saldanha e da tese de Luciana Gracioso, abaixo referenciadas. As
fontes permitem ao leitor perceber, por outro ângulo, o itinerário
de construção do trabalho, a partir de suas influências e de suas
apropriações. Trata-se do conjunto de comentaristas, epistemoló-
gos, filósofos, pesquisadores e suas traduções, versões, adaptações
e revisões que sustentaram o percurso das investigações que re-
sultaram nesta obra. Acreditamos contribuir, com a seleção, para
o fomento da pesquisa em epistemologia da Biblioteconomia &
Ciência da Informação – principalmente no que se refere ao seu
potencial no terreno da pragmática.

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Este livro foi composto em Minion Pro com títulos e notas em Myriad Pro,
ambas projetadas por Robert Slimbach e editadas pela Adobe Systems.

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