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O futuro humano
Álvaro Kassab,

O impacto das novas tecnologias na sociedade ocupa


um papel fundamental nas pesquisas desenvolvidas pelo sociólogo
Laymert Garcia dos Santos, professor do Departamento de
Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp
(IFCH). A centralidade da tecnociência, as implicações sociais da
biotecnologia, a propriedade intelectual, o meio ambiente, e as
relações entre cultura e novas ferramentas tecnológicas, entre
outros temas, figuram em seu trabalho. Na matéria que segue,
Laymert antecipa algumas das idéias que vai expor dia 17 durante o
simpósio “Ambiente, Tecnologia e Sociedade”, que integra a
programação da 60ª Reunião Anual da SBPC.

Biotecnologia

Trabalho atualmente em uma pesquisa cujo foco é o futuro do


humano. Tenho particular interesse pela incidência da biotecnologia
sobre aquilo que se considera a natureza humana. Sempre fico
bastante espantado com a espécie de “esquiso” ou de separação
que existe na cabeça de muitos especialistas da genética sobre os
efeitos que as transformações biotecnológicas podem exercer no
entendimento do que é o humano, do que é a psique humana, do
que é e pode ser conhecimento humano e do que são e podem ser
as relações humanas. Participei de várias mesas com especialistas
que dão de barato que essas transformações se encaixam numa
espécie de continuidade do nosso modo de existência e do nosso
modo de pensar.

A ruptura

Acho que há, nessa questão, uma ruptura importante de ordem


epistemológica, mas que, na medida em que pode se transformar
numa modificação de células germinativas, pode também se
transformar numa modificação
ontológica, ou seja, do modo de ser
humano. Essa questão precisa ser
discutida com a sociedade em todas as
frentes.

Efeitos colaterais

Na minha opinião há uma espécie de euforia generalizada com


aquilo que seria o chamado progresso da genética, sem uma
consideração efetiva dos efeitos colaterais deste progresso na
transformação do humano. Será que a sociedade quer e sabe do
que se trata? Existe no campo da filosofia uma discussão já
bastante intensa sobre isso. Ocorre que esse debate não é
repercutido talvez por causa de sua própria complexidade. Não é
repercutido e considerado pela mídia da maneira como deveria ser.
A mídia é aberta e permeável demais a um único ponto de vista,
que é o do progresso da ciência. Não sou contra o progresso, mas
estamos numa fase da humanidade em que isso precisa ser
discutido do ponto de vista político, e não apenas do ponto de vista
científico.

O pós-humano

Muitos autores trabalham hoje na perspectiva do avanço das


mutações. Basta levar em consideração o que diz a chamada
Escola da Singularidade acerca do modo como as novas
tecnologias vão impactar o humano. Estamos entrando naquela que
pode ser considerada a era do pós-humano, na qual fato e ficção
científica se misturam.

Para onde vamos?

Acho que, no Brasil, a discussão ainda é incipiente, em parte,


porque o país não é de ponta em termos tecnocientíficos. O
pensamento prioritário é voltado para uma espécie de consolidação
da tecnociência. Não podemos discutir a fundo porque, argumenta-
se, atrapalharíamos o seu fortalecimento. Além de não ser muito
bem-vinda, a crítica é considerada sempre regressiva. Sua origem é
sempre atribuída a alguma espécie de fundamentalismo humanista
ou religioso, ou seria derivada de uma certa nostalgia. Não é nada
disso. Trata-se justamente de considerar que a sociedade deve ter
o direito de saber onde estamos e para onde vamos.
Aceleração

Vivemos um processo denominado pelos especialistas de


aceleração da aceleração, ou seja, de aceleração exponencial.
Essa aceleração da tecnociência entra em compasso com a
aceleração econômica, que é propulsada pela globalização. Mas
nem sempre as duas acelerações andam juntas. Pode haver
conflito e diferenças de ritmo entre elas. Quando surge esse
descompasso, passam a existir situações interessantes como, por
exemplo, conflitos em torno da questão da apropriação da nova
riqueza. Trata-se, evidentemente, da riqueza promovida pela força
produtiva-ciência.

O escape

Antigamente, o conhecimento não era apropriado. Era apropriada


apenas a aplicação do conhecimento. Hoje a informação é
apropriada; o mesmo ocorre com o conhecimento, por meio das
diferentes formas de propriedade intelectual. A própria propriedade
intelectual, tal como concebida por exemplo no início dos anos 90,
já se tornou problemática, em razão de desdobramentos da
velocidade da aceleração tecnológica. Vários desenvolvimentos
importantes dessa aceleração – e da produção de conhecimento e
de informação – começam a escapar.

Fora da moldura

Esse escape ocorre por meio de softwares livres e de uma série de


desenvolvimentos que não cabem mais na moldura legal da
propriedade intelectual. Com relação, por exemplo, à questão da
invenção, no terreno da informação hoje você tem software livre,
open source e propriedade intelectual. Somente a existência dessas
três diferentes modalidades, com a open soucer tentando se
inscrever entre um regime de propriedade duro e a total abertura do
código das informações e do conhecimento do software livre, já
mostra que o descompasso entre a aceleração tecnológica e a
aceleração do capital cria situações interessantíssimas que
complexificam o terreno como um todo.

Na periferia
Como fica essa situação na periferia do capitalismo, como é o
nosso caso? Trata-se de uma questão importante para ser discutida
no Brasil. Ela é interessantíssima não apenas porque temos
dificuldade em gerar conhecimento transformável em propriedade
intelectual. É relevante também porque precisamos saber em que
medida o software livre pode ajudar, ou não, o nosso
desenvolvimento. Ou, em última análise, de que maneira
dispositivos que escapam do regime de propriedade podem
favorecer países como o nosso?

No tabuleiro

Em que medida, nós devemos jogar simultaneamente em dois


tabuleiros, como faz a China na questão da propriedade intelectual,
ou como fez a Índia na questão dos medicamentos? São questões
contemporâneas, mas, ao mesmo tempo, dada a nossa
configuração periférica – ou semiperiférica como querem alguns, já
que o país é emergente – que precisam ser discutidas a fundo em
termos da especificidade da condição brasileira. Não deveríamos
pensar a questão da invenção e da inovação nos moldes de uma
imitação do que aconteceu no Primeiro Mundo. Estamos vendo
essa questão ser processada de um modo peculiar por dois
gigantes emergentes – a China e a Índia.

Outros olhares

Acompanho com muito interesse o trabalho que o Ministério da


Cultura vem fazendo na relação entre tecnologia e cultura. O
ministro Gilberto Gil tem uma posição interessante, por exemplo, na
questão do direito autoral. Esse trabalho contempla não apenas a
necessidade da reforma do direito autoral, como também o modo
como softwares livres e essa produção do conhecimento e da
informação, que escapam ao regime da propriedade, podem
favorecer setores que estão excluídos do mundo da cultura e da
economia.

Novas tecnologias

O país pode ter, com relação às novas tecnologias, um ponto de


vista diferente. Sua população é muito mais jovem do que a dos
países do Primeiro Mundo. Trata-se, além disso, de uma população
moderna, já que é pouco ligada ao passado – é voltada para o
presente e para o futuro, muito embora esse futuro, para nós, seja
bastante problemático. Esse contingente tem uma abertura para o
novo cujo potencial é muito grande. Portanto, a relação que ela tem
com as novas tecnologias já pode ser, de saída, bastante positiva, o
que não significa que ela deva ser eufórica.

O novo

É preciso considerar o modo de articulação da nossa cultura – que


é bastante vital – com as novas tecnologias. Isso pode ser
potencializado. Portanto, tecnologia e cultura precisam ser
pensadas conjuntamente, assim como economia e ambiente. No
nosso caso, tem que ser levada em conta a nossa perspectiva
diferenciada com relação aos países de Primeiro Mundo. Se não
tivermos uma estratégia, estaremos sempre voltados não para o
que a gente tem e para o que a gente pode, mas para o que a gente
não tem e para o que a gente quer. Se agirmos assim, estaremos
sempre começando pelo lado negativo, e não pelo positivo.

E os índios?

Nesse campo das novas tecnologias, temos uma péssima relação


com os povos indígenas, que são não apenas os maiores
preservadores como também produtores da floresta tropical. Não
caiu ainda a nossa ficha dando conta que o futuro dos povos
indígenas também é o futuro da floresta. Eles detêm tecnologias
bastante interessantes – desprezadas por nós – para poder
conviver com a floresta de um modo sustentável e produtivo. Essas
tecnologias passam por um outro tipo de saber e por um
questionamento forte do sentido que atribuímos ao
desenvolvimento.

Canetti e os mitos

Elias Canetti escreveu que era muito interessante observar que


somos capazes de desenvolver tecnologias, mas que todas elas
foram pensadas, primeiramente, no mundo do mito. O nosso
problema principal, dizia Canetti, é que nós não temos capacidade
de inventar mitos. Portanto, nós estamos produzindo tecnologias
agora em cima de mitos que foram produzidos antigamente, mas
não estamos produzindo as bases de tecnologias futuras em razão
dessa incapacidade de inventar mitos.

Vôos xamânicos
Quando você vê um xamã yanomami ou um xamã xavante, sem um
jamais ter falado com o outro, dizendo que “nós inventamos um
avião mas não o desenvolvemos”, a gente pensa que eles estão
com inveja – já que somos capazes de voar e eles não. Mas, se
pensarmos na perspectiva do Canetti e do ponto de vista dos mitos,
se os homens hoje voam é porque lá trás já estava sendo pensada
uma maneira de voar de uma outra forma. No caso brasileiro, temos
uma riqueza imensa que está em vias de extinção. Temos mais de
200 povos indígenas, para não falar na contribuição de outros
povos tradicionais. É preciso ver que tipo de relação eles têm com o
ambiente para pensarmos no desenvolvimento com eles – e não
contra eles.

Pós-IPCC

Acho a questão do ambiente muito complicada, já que no Brasil há


um pensamento, invariavelmente, muito simplista sobre a relação
entre desenvolvimento e ambiente. A questão é colocada em termos
de “ou-ou”. Ou desenvolvimento ou consideração de preservação
ambiental, sendo que já ingressamos numa época – pós-
aquecimento global e pós-IPCC – que não permite mais que a
questão seja postergada e colocada nesses termos. Nós – e todos
os países, sobretudo os detentores de megadiversidade – temos
que levar isso em consideração. O desenvolvimento não pode mais
ser considerado como uma prioridade sem quem se pense no fator
ambiental, sob pena de o futuro ficar comprometido de forma
irreversível.

Com a barriga

A oportunidade de se discutir a questão ambiental junto com


tecnologia e energia, nesta edição da SBPC, é muito importante.
Mas é preciso que seja levada a fundo uma discussão radical sobre
a relação entre desenvolvimento e ambiente. Do contrário, imagino,
vai se eternizar essa prática de empurrar com a barriga a questão
ambiental. Basta ver o modo como está sendo travada a discussão
sobre a Amazônia. E basta constatar como setores majoritários do
governo brasileiro consideram a questão do desenvolvimento. A
Amazônia é central nesse aspecto. Qualquer discussão passa pelo
desenvolvimento da Amazônia com consideração ambiental, sem o
que acho sinceramente que não há futuro para o Brasil.
Ouvidos moucos

A questão, portanto, precisa ser enfrentada. Isso não ocorreu até


agora, apesar dos diferentes alertas e da massa crítica existente no
país para mapear o problema, o que já ocorreu. Acontece que as
forças em campo ainda não levaram até às últimas conseqüências
a consideração desse mapeamento.

Dinheiro rápido

O que predomina são interesses de curto prazo – para fazer


dinheiro rápido. Se for considerado, por exemplo, o plano
estratégico do ministro Mangabeira Unger para a Amazônia, o modo
absolutamente primitivo com que ele considera a importância da
questão do futuro dos povos indígenas, você percebe que, até
quando há versões sofisticadas que tentam levar em consideração
a relação desenvolvimento-ambiente, ainda assim falta muito para
chegar lá. Essa é a questão principal.

E a sociedade?

O eixo temático desta edição da SBPC, energia, tecnologia e


ambiente, diz respeito à sociedade. Só podemos pensar nesses três
temas em razão do que eles trazem de benefício para a sociedade.
No entanto, desde os tempos de Margareth Thatcher, sociedade é
um termo que passou a ficar entre parênteses... Até porque
Thatcher disse, inaugurando o neoliberalismo numa escala maior,
que não existia a sociedade, mas sim indivíduos e mercado. E, no
Brasil de hoje, energia, ambiente e tecnologia se referem mais à
relação com o mercado do que com a sociedade. Acho isso
problemático.

Inovação

Estamos vivendo uma onda na qual a inovação é o que existe de


mais importante para o desenvolvimento. Cabe a pergunta:
desenvolvimento da sociedade ou do mercado? Ou de ambos? O
Brasil tem um problema com a invenção e com a inovação. Durante
muito tempo se acreditou que o nosso baixo índice de patentes –
em escala global nossa contribuição é de menos de 1% – era
decorrente da falta de massa crítica. Depois foi feito um estudo e
descobriu-se que o ponto de estrangulamento não é a produção de
conhecimento suficiente para a invenção. O gargalo está, em
primeiro lugar, no modo como isso não é transformado em patentes,
em parte por uma questão jurídica que, na minha opinião, tem a ver
com o modo como o Inpi é gerido.

Sem eco

Outro problema que diz respeito à inovação – o principal – é o fato


de o setor produtivo não se interessar por ela. Os empresários não
investem em pesquisa e desenvolvimento. O conhecimento gerado
nas universidades não encontra ressonância no setor produtivo. O
problema, portanto, não está na universidade, mas do outro lado.
Essa nova lei paulista que transforma a Fapesp numa plataforma
para a inovação está tentando ver se consegue estimular o setor
produtivo a se interessar por pesquisa e desenvolvimento e,
portanto, por inovação – e também, de certo modo, a dissolver esse
nó górdio. É o poder público fazendo a parte que, nos outros
países, é feita pelo setor privado, com todas as implicações que
isso tem.

Zona de sombra

Temos então, aí, uma zona de sombra. No caso brasileiro, o


aspecto subdesenvolvido da questão aparece justamente na falta
de apetite do setor produtivo em inovar. E, se ele não precisa inovar
é porque, de alguma maneira, a questão é resolvida – ou não – de
outro modo. Por que não há investimento? Por uma série de razões.
A primeira é porque se pode comprar tecnologia pronta. A segunda
deve-se ao fato de as grandes corporações concentrarem a sua
pesquisa e desenvolvimento nas matrizes. A terceira porque o setor
produtivo brasileiro ainda não acordou completamente para a
questão da inovação como fator de competitividade – ele não tem
ambição necessária para tentar dar o salto. Há, portanto, uma série
de fatores. O fato é que a gente tem uma situação que não é
facilmente sanável. Talvez devêssemos nos perguntar como é
possível ao mesmo tempo pensar que o mercado é tudo, e ficar
esperando que o Estado resolva a questão do desenvolvimento da
tecnologia...

Energia

A questão da energia é central hoje no Brasil. Por um lado, em


razão da relação entre economia e ambiente e, de outro, pelo papel
positivo que o biocombustível pode ter caso seja bem manejado. É
também uma questão central dadas as
descobertas novas em termos de petróleo,
que colocam o Brasil num outro patamar,
ou seja, o país passa ser uma potência em termos energéticos. Isso
muda bastante a posição do país no cenário internacional. Estamos
numa espécie de encruzilhada. Temos muitos trunfos na mão, mas
é preciso levar em consideração os chamados efeitos colaterais.
Como disse, não dá para não considerar a relação entre ambiente e
economia.

Fonte:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/julho2008/ju402pa
g12-13.html
Jornal da Unicamp – página 12 – Edição Temática 402 – 14 de julho
a 02 de agosto de 2008

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Uma equação que não fecha


Luiz Sugimoto,

Apresentando-se como um químico preocupado em dar a devida


atenção a questões tidas como secundárias na discussão das
“novas tendências mundiais”, o professor Wilson de Figueiredo
Jardim vê a questão da sustentabilidade ambiental como um grande
mito. “Todas as leis da termodinâmica apontam para a
insustentabilidade do planeta. Nenhum processo é totalmente
reversível, em todos existe uma perda. A própria manutenção da
vida é uma atividade insustentável, pois todo ser vivo, enquanto
estrutura muito organizada, fere o princípio da entropia”, afirma o
docente do Instituto de Química (IQ) da Unicamp.

Wilson Jardim vai proferir no dia 18 conferência sobre os


“Combustíveis alternativos e o mito da sustentabilidade” na 60ª
Reunião da SBPC. Ele lembra que o planeta é finito em suas
características e que, tratado dentro de um modelo de
desenvolvimento insustentável, ilimitado, caminha para o caos.
“Acho que a capacidade de sustentação do planeta já está
esgotada por causa do próprio tamanho da população. Para que a
humanidade sobreviva, é preciso que um bilhão de pessoas
passem fome. Temos de conviver com este lado perverso”.

Na opinião do docente, hoje predomina um modelo de


desenvolvimento suicida, que levaria o mundo ao colapso em 15
anos, caso existissem dez países com o padrão de consumo dos
Estados Unidos. Por outro lado, o mundo suportaria mil países
como Cuba. “A dieta básica de um americano alimentaria vinte
pessoas na China, que ainda tem 200 milhões de famintos. Mas o
americano quer comer suas cinco mil calorias diárias e não se fala
mais nisso. É por isso que a equação não fecha”.

O professor de química não poupa os


economistas, atribuindo-lhes parcela da
culpa pela manutenção do atual modelo
econômico, em que países perdulários é
que são classificados como
desenvolvidos. “Se os economistas
mudassem seu discurso em torno desta
falsa sensação de riqueza, já teríamos
menos aquecimento global. Não há
riqueza no planeta que permita acumular a
fortuna de um Bill Gates ou oferecer
salários como os de Kaká e Ronaldinho
Gaúcho. Alguém está pagando por isso”.

Jardim recorre sempre ao exemplo da


criação de camarões em viveiros,
incentivada pela crença de que a aqüicultura pode amenizar o
impacto da pesca predatória nos oceanos. “Acontece que camarões
também comem muitos peixes. E a comunidade local, que não tem
condições de consumir camarões, abre mão de um estoque
importante de peixes para a própria alimentação, a fim de atender a
um requinte da parcela mais rica da população. Vista por este
ângulo, a iniciativa da carcinocultura parece piada”.

Outro exemplo citado pelo pesquisador é do atum, muito apreciado


pelos japoneses, que partiram então para a sua aqüicultura
intensiva. “Cada atum, até atingir a idade madura, alimenta-se com
o que mil japoneses consumiriam de peixe no mesmo período. Em
pouco tempo, teremos de nos conformar de que o atum é muito
saboroso, mas não podemos comê-lo; em sonhar com dois carros,
mas não possuir nenhum; em viver no planeta que temos e não no
que queremos”.

Biocombustíveis – Nos últimos 100 anos, informa Wilson Jardim, a


população mundial aumentou quatro vezes, ao passo que a
demanda por água cresceu nove e o consumo de energia, 16
vezes. “É outra equação que não fecha. Sabedor da atividade
degradante que exerce, devido a este estilo de vida, o ser humano
busca saídas para se sentir melhor. Leva o cachorro para passear
em carro a álcool e faz turismo ecológico, voltando para casa com a
consciência tranqüila depois de plantar uma árvore na trilha”.

A ironia serve como mote para o pesquisador passar às críticas


contra a política de biocombustíveis no país, começando pelo etanol
da cana. “Não há dúvida de que o álcool é excelente e será o
combustível do futuro, mas não engulo a pílula dourada. Ele está
muito longe de merecer o status de alternativa sustentável, pois o
cenário de produção é altamente impactante social, econômica e
ambientalmente”.

Jardim começa apontando o problema do uso e ocupação do solo,


endossando que os canaviais invadem, sim, áreas destinadas ao
cultivo de alimentos. “Arrendando a terra para a indústria
sucroalcooleira, ao invés de continuar plantando sua horta, o
proprietário tem muito mais lucro – e sem mover um dedo, a não ser
para contar o dinheiro no fim do mês, já que todo o cultivo é feito
pelo arrendatário. Obviamente, não foi isto que causou a alta no
preço dos alimentos, mas devemos assegurar terras para as duas
coisas”.

Igualmente preocupante, denuncia o professor da Unicamp, são as


condições de trabalho para a produção de álcool no Brasil, que na
sua visão segue o mesmo modelo dos senhores de engenho. “É
imprescindível que se mude este modelo. Não podemos produzir
energia como se produzia açúcar na época da escravidão, com as
mesmas mazelas. Necessitamos de um modelo muito similar, por
exemplo, ao de uma usina petroquímica”.

Wilson Jardim reitera que não é contrário ao programa do álcool,


que nos últimos 40 anos trouxe muitos ganhos ao país em termos
de tecnologia de produção, como por exemplo, na diminuição no
tempo de fermentação e no aumento de produtividade média por
hectare. “Promoveram-se maravilhas tecnológicas. A questão é que
o cortador de cana ainda trabalha em regime próximo da
escravidão, morrendo de exaustão, sendo que mesmo este meio de
sobrevivência encontra-se ameaçado pela mecanização crescente”.
Outros impactos – O pesquisador observa que as discussões sobre
combustíveis alternativos, geralmente, ocorrem sob o ponto de vista
do ciclo de carbono, sem considerar que a cana envolve fortemente
o ciclo do nitrogênio e também do enxofre. “Devemos considerar as
outras emissões, como das queimadas, responsáveis pelo grande
comprometimento da qualidade do ar nas cidades rodeadas por
canaviais. Está clara a relação entre a época de queimas e as
internações hospitalares. Seria de se perguntar: o álcool
combustível, afinal, é sustentável para quem?”.

Ainda sobre a produção de álcool, Jardim enumera outros aspectos


a serem resolvidos, como do aproveitamento da vinhaça para aliviar
seu impacto na saúde ambiental; do aprimoramento do ciclo hídrico,
devido à enorme quantidade de água exigida por metro cúbico de
etanol produzido; e, inclusive, do consumo intensivo de diesel de
petróleo no maquinário agrícola e no transporte, além de
fertilizantes e agrotóxicos.

Em relação ao biodiesel, o professor lembra que prevalece a idéia


de simplesmente trocar o carbono do petróleo enterrado há milhões
de anos, por outro que se possa renovar através da biomassa. “Não
se faz um cálculo fundamental, quando se troca um hectare de
mata por outro de dendê, soja ou pinhão manso para produzir
biodiesel: que para repor o carbono destruído naquela mata,
precisaremos de 100 anos no caso do dendê e de 320 anos com a
soja. O Brasil precisa, enfim, balizar melhor o modelo de produção
de biocombustíveis e discutir abertamente os problemas sociais e
ambientais dele decorrentes”.

Consciência individual – O professor Wilson Jardim considera que


o atual modelo de desenvolvimento, que chama de “suicida”, leva
os países a consumir os recursos naturais e finitos do planeta sem
planejar adequadamente o futuro. “A Noruega deposita parte do
lucro auferido com o petróleo em um fundo de pesquisas de longo
prazo visando energias alternativas. O petróleo descoberto na bacia
de Santos tem valor correspondente a 2% do nosso PIB. Como esta
reserva pertence à nação, gostaria que os 150 reais por ano a que
tenho direito fossem aplicados, por exemplo, em energia eólica, que
o país usa pouquíssimo”.
A despreocupação em gerar um lastro para as futuras gerações
deixa apreensivo o docente da Unicamp, que defende a mudança
deste conceito de desenvolvimento a partir de programas que
incentivem a colaboração individual. “Enfrentamos um paradigma:
como o petróleo é finito, produzimos carros mais econômicos, mas
que justamente por isso são mais vendidos e farão com que o
petróleo acabe mais rapidamente. Não se trata de devaneio, pois o
americano, que tinha dois carros grandes, comprou o terceiro por
ser econômico, colocando três nas ruas. Ele deveria se perguntar
por que sua família precisa de três carros”.

Dentro deste modelo, segundo Jardim, o mundo poderá produzir


energia mais barata e eficiente, mas cuidará logo de gastá-la, sem
se livrar da sina da insustentabilidade. “Na questão ambiental,
guardamos uma esperança messiânica de que algo ou alguém vai
nos salvar. É reconfortante pensar que, pessoalmente, nada
podemos fazer. Se o desenvolvimento sustentável embute a idéia
de legar aos filhos um mundo igual ao que temos, talvez estejamos
transferindo para eles o comprometimento no nível individual. Eles
terão de fazer o que não fizemos”.

Fonte:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/julho2008/ju402pa
g14.html
Jornal da Unicamp – página 14 – Edição Temática 402 – 14 de julho
a 02 de agosto de 2008

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Livros recomendados: >

“Fique mais jovem a cada ano” Chege aos 80 anos com a saúde,
o vigor e a forma física de um cinqüentão; Chris Croeley e Henry S.
Lodge, M.D. – Editora Sextante, 2007.

“O Leite que ameaça as mulheres”, um documento explosivo: o


consumo de derivados do leite teria uma influência preponderante
sobre os cânceres de mama; Raphaël Nogier, Ícone Editora Ltda,
São Paulo, 1999.
“As Alergias Ocultas nas Doenças da Mama”, Raphaël Nogier,
Organização Andrei Editora Ltda,1998.

“Leite: Alimento ou Veneno?” do pesquisador e cientista Robert


Cohen, Editora Ground, São Paulo, 2005.

Peter Rost, "The Whistleblower: Confessions of a Healthcare


Hitman" (O Denunciante: Confissões de um Combatente do
Sistema de Saúde), lançado em 2006 nos EUA e inédito no Brasil.

“Alimentação que evita o Câncer e outras doenças”,


Dr. Sidney Federmann/ Dra. Miriam Federmann – Editora
Minuano”

“Curas Naturais “Que” Eles Não Querem Que Você Saiba”,


Kevin Trudeau, Editora Alliance Publishing Group. Inc., 576
páginas, Spain, 2007 (Edição em português publicada pela LTVM,
S.A.) (pedidos pelo tel: 012-11-3527-1008 ou
www.gigashopping.com.br/ )

“Técnicas de Controle do Estresse”, Dr. Vernon Coleman, Imago


Editora, 116 páginas (O Livro Explica Como, Porque e Quando o
Estresse Causa Problemas Alem de Mostrar Formas Eficientes de
Controlar e Minimizá-lo em sua Empresa.)

“Fazendo as Pazes com Seu Peso”, Obesidade e


Emagrecimento: entendendo um dos grandes problemas deste
século, Dr. Wilson Rondó Jr., Editora Gaia, São Paulo, 3ª Edição,
2003.

“Prevenção: A Medicina do Século XXI”, A Guerra ao


Envelhecimento e às Doenças, A terapia molecular irá diminuir a
incidência de câncer, doenças cardiovasculares, envelhecimento e
muito mais; Dr. Wilson Rondó Junior, 240 páginas, Editora Gaia,
São Paulo, 2000.

“O Atleta no Século XXI”, Dr. Wilson Rondó Junior, 158 páginas,


São Paulo, SP, Editora Gaia, 2000.

“A dieta do doutor Barcellos contra o Câncer” e todas as


alergias, Sonia Hirsch - uma publicação Hirsch & Mauad, Rio de
Janeiro, 2002, www.correcotia.com
“A Semente da Vitória”, Nuno Cobr, 223 páginas, Editora SENAC
São Paulo. www.sp.senac.br

"Atividade Física e Envelhecimento Saudável", Dr. Wilson Jacob


Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do
Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), Editora Atheneu.

“O Fator Homocisteína”, A revolucionária descoberta que mostra


como diminuir o risco da doença cardíaca, Dr. Kilmer McCully e
Martha McCully, 231 páginas, Editora Objetiva, Rio de Janeiro,
2000.

“O Elo Perdido da Medicina”O Afastamento da Noção de Vida e


Natureza, Dr. Eduardo Almeida & Luís Peazê, 250 páginas, Rio de
Janeiro, Imago, 2007.

“Nutrição Multifuncional Celular”, Naturopatia Holística e


Integral; Marcos Beraldo, Rpsangela Arnt & Willian Sales – Curitiba,
PR – Everest : Pure Essence, 2008.

“Alimentos, O melhor remédio para a boa saúde, Alimentação


que pode prevenir e curar Problemas Digestivos”, Jean Carper,
Rio de Janeiro, Elsevier, 2004

“Apague a Luz!”, durma melhor e: perca peso, diminua a pressão


arterial e reduza o estresse; T S Wiley e Bent Formby, Ph.D. –
Editora Campus, 2000.

“Homeopatia e Medicina, Um Novo Debate”, François Choffat,


326 páginas, Edições Loyola, São Paulo, SP, 1996.

“Tratado de Homeopatia”, Pierre Cornillot; tradução Jeni Wolf. –


616 páginas, Porto Alegre: Artmed, 2005.

“Homeopatia” Medicina para o Século XXI, Dana Ullman,


Prefaciado pelo Dr Ronald W. Davey Médico de S.M. a Rainha
Elizabeth II, Editora Cultrix, São Paulo, SP.

“Medicamentos: ameaça ou apoio à saúde?”, Marilene Cabral do


Nascimento, Rio de Janeiro, Editora Vieira & Lent 2003.
“A Menopausa e os Segredos dos Hormônios Femininos”, Dr.
José Carlos Brasil Peixoto (médico homeopata), 104 páginas.
Pedidos diretamente ao autor pelo e-mail swjcbp@portoweb.com.br

No final de 2004 foi publicado o livro A Menopausa e os Segredos dos


Hormônios Femininos, do médico gaúcho José Carlos Brasil Peixoto.
O autor, que compartilha da linha clínica e filosófica do falecido Dr. John
R. Lee, apresenta "uma visão à luz da ecologia humana", como ele
próprio descreve a obra em seu subtítulo. Pedidos: diretamente ao autor
(swjcbp@portoweb.com.br). Uma leitura imperdível. O livro também se
encontra à venda na livraria Bamboletras do Shopping Guion Center e na
farmácia Amplo Espectro (amploespectro@cpovo.net), de Porto Alegre.
A Menopausa e os Segredos dos Hormônios Femininos - 104 páginas,
ISBN 85-87455-54-0 (comentário do site: www.novatrh.cjb.net)
O livro pode ser solicitado para remessa para qualquer local do Brasil,
pelo correio, pelo preço de capa de R$ 22,00, mais taxas de remessa,
R$ 5,00, com entrega como carta registrada.

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"A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é


preciso se manter em movimento". (ALBERT EINSTEIN, em
carta ao filho Eduardo, em 5/2/1930)

“O mundo não está ameaçado pelas pessoas


más, mas por aquelas que permitem a
maldade.” Albert Einstein

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