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Sumário

Prefácio..................................................................................... 9
Agradecimentos .......................................................................... 11
Introdução: Vamos virar as cadeiras ............................................ 15

Parte I
Uma maneira de considerar a comunidade espiritual .............. 21
Capítulo 1: Pelo amor de Deus, não pense que vai ser
fácil .................................................................... 23
Capítulo 2: Não é fácil, mas vale a pena ................................ 33
Capítulo 3: Comunidade espiritual: o que é .......................... 45
Capítulo 4: É preciso um Armando ....................................... 53
Capítulo 5: A comunidade não-espiritual .............................. 61
Capítulo 6: Por que a comunidade não-espiritual não é
espiritual? ........................................................... 69

Parte II
Uma maneira de compreender nossos problemas.................... 83
Capítulo 7: Dois recintos ...................................................... 85
Capítulo 8: Existe um Recinto Inferior .................................. 99
Capítulo 9: A mobília do Recinto Inferior ............................. 107
Capítulo 10: Existe mesmo um Recinto Superior ...................... 123
Capítulo 11: A mobília do Recinto Superior ........................... 133

Parte III
Uma maneira de se relacionar neste mundo ............................ 149
Capítulo 12: Voltando nossa alma para o outro: três
convicções fundamentais ..................................... 151
Capítulo 13: A bifurcação na estrada rumo à comunidade
espiritual............................................................. 163
Capítulo 14: Gerentes ou místicos: o mistério da comunidade .... 179
Capítulo 15: O risco vale a pena .............................................. 189
Capítulo 16: ENTRE. VEJA. TOQUE: Um modo de cultivar
a comunidade espiritual ...................................... 197
Capítulo 17: Formando uma comunidade espiritual ................ 213

Perguntas para reflexão e discussão .............................................. 221


Notas ........................................................................................ 277
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 151

Capítulo 12

Voltando nossa alma para o outro:


três convicções fundamentais

As pessoas anseiam redescobrir a verdadeira comunidade. Já estamos


fartos de solidão, independência e competição.
Jean Vanier

E m Moradas do Castelo Interior, Teresa de Ávila escreve: “Este Senhor


nosso anseia tanto que o desejemos e que busquemos sua companhia
que nos chama constantemente, vez após outra, a nos aproximar dele; e
sua voz é tão doce que a pobre alma se consome de pesar por ser incapaz
de atender ao chamado imediatamente”.1
Imagine por um instante como seria passar uma hora de joe-
lhos com outro cristão chorando pela sua obediência imperfeita e
chorando ainda mais alto — com a grande alegria que dissolve todo
orgulho — pela certeza de que o Senhor ainda quer você. Será que
realmente temos lá no fundo do coração paixões como essa? Debai-
xo do nosso desejo por coisas, honra e realização, será que há fome
de Deus?
Se nossa vida desmorona, se a vida nos aflige, será que mesmo
assim desejamos adorar, desfrutando da companhia de Deus como não
desfrutamos de ninguém mais e de nada mais? Por acaso encontramos
dentro de nós o anseio de confiar em nosso Pai celeste mesmo se as
lembranças das incoerências, da indiferença até, do nosso pai terreno
152 O LUGAR MAIS SEGURO DA TERRA

teimam em nos assombrar? Quando pensamos em nossos anos de ado-


lescência, nos momentos em que afundávamos na depressão e em gra-
ves problemas alimentares e nosso pai nem notava, será que mesmo
assim sentimos um forte desejo de confiar a Deus tudo o que mais nos
importa?
Se a vida fica difícil, se coisas importantes dão errado e os fardos
que carregamos estão prestes a nos oprimir depois de já nos ter rou-
bado toda a alegria, será que ainda vamos querer crescer? Se pudésse-
mos escolher, será que realmente preferiríamos crescimento a alívio?
Será que optaríamos por uma maior semelhança a Cristo em detri-
mento de bênçãos legítimas que tornariam nossa vida tão mais feliz?
Quando nos entregamos a impulsos pecaminosos, aos prazeres da
maledicência, do poder e da vingança, quando organizamos os nossos
gastos de tempo e dinheiro tendo como prioridade nosso bem-estar,
será que em nós ainda persiste um desejo de obedecer que possa ser
revigorado? Acaso ansiamos por mudar o modo como vivemos?
Será que existe de fato um Recinto Superior? Será a Nova Aliança feita
de palavras agradáveis? Ou são suas condições uma dura verdade? Acaso
somos puros, definidos agora como santos, inclinados a amar a Deus e a
amar como Deus, e estimulados a uma real transformação? Se as coisas
que falei nas Partes I e II deste livro não forem verdadeiras, a comunidade
espiritual não está ao nosso alcance. Se forem verdadeiras — e eu acredito
que são —, algo maravilhoso é possível.
Um grande amigo meu caiu de uma escada portátil há mais de um
ano. Depois de cinco horas de operação para rejuntar ossos esmigalhados,
ele saiu da sala de cirurgia com a perna esquerda razoavelmente boa, mas
o braço direito ficou em mau estado. O osso que liga o ombro ao coto-
velo não voltou ao lugar correto.
Recentemente ele fez uma segunda cirurgia para recuperar esse
braço. Uma semana depois da operação, o médico lhe disse o seguin-
te, após examinar as radiografias: “As notícias não são boas. Você vai
precisar usar gesso durante três meses e depois vamos ver. Talvez pre-
cisemos de uma terceira cirurgia, ainda mais radical. Na melhor das
hipóteses, você vai ficar ainda um ano sem poder fazer nada com esse
braço”.
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 153

O Al é destro. Ele acabou de vender sua casa e vai se mudar dentro


de três meses. Não consegue nem usar o computador, muito menos
carregar caixas. Está se sentindo inútil. Mas ainda no hospital, descen-
do de elevador até o térreo depois de ouvir a triste notícia, as palavras
de Paulo martelavam na sua cabeça: “Se Deus é por nós, quem será
contra nós?” (Rm 8:31). Em meio a seu sofrimento, ele quase cantou.
Ouviu a música celestial, a voz de Deus, e a paixão por Deus vibrava
dentro dele.
Esse meu amigo mal conseguiu falar ao contar sua história a algu-
mas pessoas da sua comunidade. A emoção transbordante vinha da
consciência de que Deus é por ele, do vislumbre do quanto isso signi-
fica. Mesmo com as más notícias chegando exatamente na hora erra-
da, ele se surpreendeu adorando, confiando em Deus, ansioso por
crescer e continuar fazendo o bem.
Minhas paixões por adorar, confiar, crescer e obedecer sem dúvida
nenhuma estão lá. As outras paixões estão também lá — o meu Recin-
to Inferior ainda não foi destruído. E as boas paixões muitas vezes são
fracas e difíceis de achar, mas estão lá. De joelhos hoje de manhã,
orando por uma longa lista de problemas que assolam a minha vida e
a dos meus amigos, senti essas boas paixões. Eu realmente anseio por
adorar a Deus. Desejo desesperadamente confiar nele e me tornar mais
semelhante a Jesus, vivendo segundo seus mandamentos.
Domingo passado na igreja, enquanto cantávamos As Pessoas
Precisam do Senhor, lágrimas correram pelo meu rosto pois ouvi
meu coração bradar: “Eu quero o Senhor”. Naquele momento, tive
a certeza de acreditar que os sonhos despedaçados realmente são
portas abertas para a esperança. O calor da alegria difundiu-se pela
minha alma.
A comunidade com Deus em adoração invocou as santas paixões
que ocupam meu Recinto Superior. E a comunidade com o meu ami-
go Al — comunidade espiritual que formamos ontem na companhia
um do outro, algo que simplesmente não poderia ter acontecido se o
Espírito não estivesse presente — estimulou ainda mais essas mesmas
paixões em nós dois.
É verdade que as serpentes do Recinto Inferior (detesto chamá-lo
de meu Recinto Inferior; ainda está em mim e me causa problemas,
154 O LUGAR MAIS SEGURO DA TERRA

mas não faz mais parte de mim) ainda rastejam, e às vezes picam, mas
seu veneno não pode destruir a vida de Cristo que está em mim.
Juntamente com todos os outros cristãos da Terra, estou vivo.
Anseio agradar ao Pai, ser semelhante a Cristo e ouvir e seguir o
Espírito. Sinto-me envolvido na vida da Trindade, empolgado pela
mesma energia que vibra em cada um deles. Quando essas paixões que
há em mim encontram as mesmas paixões em você, vivenciamos a comu-
nidade espiritual. E avançamos, lenta mas seguramente, na nossa jor-
nada rumo a Deus.
Na Parte III, apresento ao leitor minha idéia de como podemos
participar desse milagre, de como podemos fazer parte de uma comu-
nidade espiritual. Neste capítulo começo a análise ponderando três
convicções que, se nelas não acreditarmos com firmeza e paixão, nos
impedirão de virar nossa cadeira o suficiente para que nossa alma en-
contre outras almas.
Isso seria uma tragédia de enormes proporções, uma tragédia
distintamente humana. Somos seres humanos, criação singular de
uma comunidade divina de três Pessoas que apreciam a companhia
umas das outras mais que qualquer outra coisa, Pessoas que que-
rem partilhar sua alegria com outras. Ansiamos redescobrir a ver-
dadeira comunidade, conhecê-la por experiência própria; fomos
feitos para ela.
Em meio a batalhas contra o câncer, as cirurgias no braço, o divór-
cio, os problemas financeiros; em meio a lutas contra homossexualida-
de, bulimia, sentimentos autodestrutivos, solidão e depressão — em
meio a tudo isso ansiamos por intimidade. Não podemos evitar. É
mais forte do que nós. Tão certo quanto as aves foram feitas para voar
e os peixes para nadar, nós fomos feitos para a comunidade, para o
tipo de comunidade que a Trindade vivencia, para a comunidade espi-
ritual. E à medida que a vivenciamos, nós mudamos, crescemos, nos
curamos.
Queremos que nossos pequenos grupos tenham um significado
maior. Queremos significar mais para as pessoas que compõem esses
grupos, e queremos que elas signifiquem mais para nós. Queremos
que as conversas com nossos filhos, pequenos ou grandes, com nosso
cônjuge, primos, colegas de esporte e amigos do clube do livro nos
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 155

conduzam a uma comunidade mais profunda com eles, o tipo de co-


munidade que inflama santas paixões em nossa alma. Muitas vezes nos
contentamos com a mera sociabilidade, mas queremos mais.
Impulsionados por uma cobiça legítima, que é na verdade um dese-
jo gerado pelo Espírito, queremos que nossas sessões de aconselhamento,
quer sejamos o conselheiro quer o aconselhado, sejam vivificadas pela
presença de Deus, sejam lugares de segurança em que almas sinceras
encontram seu caminho rumo a Deus, independentemente do seu pas-
sado ou da sua dor.
E queremos perdoar. Queremos abençoar as pessoas que nos
traíram, que nos magoaram e nos deixaram com cicatrizes que ja-
mais serão curadas nessa vida. Queremos orar para que elas encon-
trem seu caminho rumo a Deus. O próprio fato de nossas fantasias
odiosas de vingança nos deixarem incomodados revela que algo con-
trário está em nós; queremos que Deus seja glorificado na vida dessa
pessoa.
Daríamos praticamente qualquer coisa para fazer parte de uma
comunidade que fosse profundamente segura, na qual as pessoas ja-
mais desistissem umas das outras, na qual a sabedoria do viver nascesse
das conversas, na qual aquilo que há de mais vivo em cada um de nós
fosse tocado. Há três convicções que precisam estar solidamente esta-
belecidas se pretendemos mesmo fazer algum progresso efetivo rumo a
esse tipo de comunidade. Primeiro vou apenas apresentá-las, depois
analiso cada uma delas separadamente.
Convicção Fundamental no 1: a formação da comunidade espiri-
tual é obra do Espírito. Não é obra nossa. Nossa contribuição é limita-
da. Nossa parte é abrir mão do controle, desobstruir o caminho e deixar
o Espírito tomar conta. Porém, mais do que qualquer outra coisa, cabe
a nós orar.
Convicção Fundamental no 2: as decisões que tomamos de viver
na energia de Cristo, mesmo as decisões privadas que ninguém vê, têm
um impacto positivo bem maior sobre a vida das outras pessoas (assim
como as decisões erradas têm impacto negativo) do que suspeitamos.
É a energia que sai de nós, aquilo em que cremos mais firmemente,
que estimula a paixão — e é essa dinâmica que alimenta ou obstrui a
156 O LUGAR MAIS SEGURO DA TERRA

comunidade espiritual. E a qualidade dessa energia depende do nosso


nível de comunhão com Deus.
Convicção Fundamental no 3: todo mau desejo é uma corrupção
de um bom desejo. E todo bom desejo é uma expressão deficiente do
nosso desejo mais caro: conhecer a Deus. Portanto, uma análise since-
ra de cada desejo, bom e mau, nos levará ao nosso Recinto Superior,
onde podemos desfrutar da intimidade com ele. Como toda fome, em
sua origem, se revela fome de Deus, é crucial que vivamos numa co-
munidade segura o suficiente para que possamos exprimir e explorar
todos os nossos desejos.

Convicção Fundamental no 1:
A comunidade espiritual é obra do Espírito.

Vejamos o que diz Eugene Peterson:

O Espírito Santo de Deus concebe e forma a vida de Cristo em


nós. Nosso espírito é formado pelo Espírito — isso é formação
espiritual. O crescimento, tanto biológico quanto espiritual, é
um mistério, um enorme mistério, intrincado e complexo, uma
obra do Espírito Santo. Sabemos muito pouco da maior parte
das coisas que acontecem. Podemos fazer muito pouco a respei-
to da maior parte daquilo que acontece. Nosso papel na forma-
ção espiritual é necessariamente um papel bem modesto. Jamais
devemos supor que podemos controlá-la. Se tentarmos, com
toda a certeza contribuiremos para a deformação, e não para a
formação.2

As ciências comportamentais, impelidas pela ambição da


modernidade, têm tentado penetrar nas coisas a fim de controlá-las.
Assumiram a tarefa de nos dizer como podemos nos relacionar melhor
uns com os outros. O treinamento de líderes de pequenos grupos muitas
vezes se ocupa mais de técnicas de liderança, administração de confli-
tos e estratégias para fazer pessoas caladas entrar na discussão do que
de confiança espiritual, caráter espiritual e sabedoria espiritual.
Na procura da praticidade, empurramos o Espírito para a mar-
gem e buscamos objetivos que podemos atingir sem ele. Aprende-
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 157

mos a ter empatia, a saber ouvir e a afirmar sem julgar, tudo isso a
fim de dar às pessoas a liberdade de serem elas mesmas, podendo
assim definir quem são e o que querem. A santidade foi expulsa do
centro e substituída pelo ajustamento saudável, pela auto-aceitação e
pelo alívio da dificuldade.
Peterson comenta: “Quando a formação espiritual se deixa domi-
nar pelas ciências comportamentais, é inevitavelmente secularizada e
individualizada com orações ocasionais que pedem ajuda na auto-rea-
lização. Narciso de joelhos”.3
Em todos os meus anos como terapeuta, acho que aprendi uma
lição mais do que qualquer outra. É a lição da paciência. Minha
falta de humildade me impediu de aprendê-la melhor, mas a reali-
dade da vida das pessoas, incluindo a minha, me forçou a esperar a
ação de Deus.
Dez sessões monótonas podem ser seguidas de um momento sobre-
natural na décima primeira, quando tudo muda. Meu paciente melho-
ra. Às vezes ocorre uma rápida e notável integração de múltiplas
personalidades depois de meses sem nenhum progresso visível. Sem o
Espírito e o Cristo que ele representa, não posso fazer nada de real valor.
Essa é uma lição que preciso aprender, se pretendo participar de uma
comunidade espiritual. É uma lição que só Deus pode me ensinar.
Quando os israelitas se preparavam para entrar em Canaã, Deus
lhes falou que expulsariam seus inimigos “pouco a pouco” (Êx 23:30).
O crescimento seria lento. Mas em outro lugar ele diz: “Assim os
desapossarás e, depressa, os farás perecer” (Dt 9:3).
A contradição desaparece quando percebemos que os inimigos a
que se referem as duas passagens são diferentes. Inimigos menores, os
jebuseus, heveus e outros, seriam conquistados devagar. Os inimigos
mais temíveis, os gigantes que fizeram tremer os espiões de pouca fé,
seriam expulsos depressa.
Mas isso introduz um novo problema. Porventura devemos de-
duzir que superaremos devagar os problemas pequenos, enquanto os
grandes não nos tomarão muito tempo? Isso só faz sentido quando
vemos o que aconteceu no momento em que Israel invadiu a terra.
O livro de Josué nos relata que Israel enfrentou primeiro o inimigo
menor, levando sete anos para expulsá-lo. Ao final dessa lenta conquis-
158 O LUGAR MAIS SEGURO DA TERRA

ta, Calebe pede permissão para perseguir os gigantes e os destrói num


único dia.
Talvez a lição seja esta: Deus quer que nós dependamos totalmente
dele para cada vitória. Depois de lutarmos durante anos contra peque-
nos problemas que o orgulho nos garantia que seriam facilmente re-
solvidos, ele nos dá o poder de solucionar depressa grandes problemas.
Estou aqui sentado escrevendo numa varanda envidraçada, de
onde ouço facilmente o telefone, embora fique em outro cômodo.
Nos últimos dez minutos, as duas linhas tocaram. Minha mulher
está em casa. Pensei que ela fosse atender. Afinal, tenho um prazo
curto para escrever este livro. Num rompante de energia do Recinto
Inferior, saí como um raio do meu abençoado e sagrado escritório
para silenciar a estridente campainha do telefone e ver o que estava
ocupando a minha esposa.
Ela me contou que a malandra da cadelinha de que estamos cui-
dando tinha acabado de fugir do seu cercado e que além disso um
projeto que ela está administrando estava com problemas e fora inter-
rompido. Rachael estava uma pilha de nervos. Enquanto ela levava as
duas mãos à cabeça como se fosse arrancar os cabelos (sua reação à
minha inocente pergunta: “Você não ouviu o telefone?”), senti novas
palavras prestes a saírem da minha boca: “Tenho de escrever alguma
coisa hoje”.
Não falei. Lembrei-me do que eu disse sobre o Espírito criar im-
pulsos melhores num suposto Recinto Superior. Então olhei para ela e
disse gentilmente: “Você já está muito ocupada agora”. Ouvindo meu
coração, percebi que era isso que eu queria dizer. Ela sorriu, não aber-
tamente, mas percebi o sorriso.
Venci uma pequena batalha. Quem sabe daqui a sete anos a vida
do Espírito vá jorrar de mim como água de um gêiser.
Nossa tarefa mais difícil na formação da comunidade espiritual é
parar de nos esforçar tanto. “Em vos converterdes e em sossegardes,
está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança a vossa força, mas
não o quisestes” (Is 30:15).
Se você quer se preparar para participar da comunidade espiritual,
saiba que nenhuma medida de conhecimento, habilidade e esforço
será decisiva, assim como uma pessoa baixa não cresce só com a pró-
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 159

pria vontade. O crescimento, tanto dentro de nós individualmente


como nos nossos relacionamentos, é uma obra misteriosa do Espírito.
Nenhum programa de treinamento — seja o aconselhamento pré-
conjugal, sejam reuniões de líderes de pequenos grupos, seja uma série
de aulas para conselheiros leigos na igreja — prepara ninguém ade-
quadamente para desenvolver a comunidade espiritual. O treinamen-
to tem, sim, sua importância, mas a oração é fundamental. Humildade
exige oração. A aflição, a sincera admissão que sem Cristo nada pode-
mos fazer, aprecia a oração.

Convicção Fundamental no 2:
A melhor maneira de promover a santidade de outra pessoa é buscar
nossa própria santidade. Nossas escolhas individuais afetam o tipo de
influência que exercemos sobre as pessoas.
Pascal certa vez escreveu: “O menor movimento afeta toda a natu-
reza; uma pedra pode alterar todo o oceano. Do mesmo modo, no
reino da graça, a menor ação afeta tudo por causa das suas conseqüên-
cias; portanto, tudo deve ser levado em conta”.4
Os comentários de Peter Kreeft sobre esse pensamento de Pascal
conduzem a uma conclusão incômoda, que fervilha de possibilida-
des assustadoras e maravilhosas. Ele sugere que quando alguém diz
uma palavra afável a outra pessoa, “um mártir a três mil quilômetros
e trezentos anos de distância pode receber graça suficiente para supe-
rar as próprias provações por sua causa. E se você pecar mais uma vez
hoje à tarde, esse mártir pode se enfraquecer, ceder e se abater”.5
Pergunto-me se minha decisão de falar lá de dentro do Recinto
Superior com minha mulher um momento atrás poderá de algum modo
fortalecer um membro do corpo de Cristo. Diante disso, não é demais
acreditar que a decisão do meu amigo de não assistir a um filme por-
nográfico no quarto do hotel duas semanas atrás poderá ajudar sua
filha a se casar virgem.
A preparação para fazer parte de uma comunidade espiritual não
só inclui a oração da aflição — “Senhor, sem ti eu nada posso fazer” —,
mas também a entrega pessoal a desejos santos: “Senhor, desejo muito
abençoar a minha esposa, a minha filha, o meu amigo. Portanto, vou
valorizar mais a santidade do que o prazer, o alívio da dor ou a satisfa-
160 O LUGAR MAIS SEGURO DA TERRA

ção ilegítima que o pecado — como gritar com a minha esposa, por
exemplo — traz tão facilmente”.

Convicção Fundamental no 3:
Um lugar seguro para confessar nossos desejos e investigar sua origem
nos porá em contato com a nossa fome de Deus.
Jamais o salmista teve tanta consciência da sua alma do que quan-
do disse:

Uma cousa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na


casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a
beleza do Senhor, e meditar no seu templo.
Salmo 27:4

A Bíblia nos dá o seguinte conselho: “Sobre tudo o que se deve


guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”
(Pv 4:23). O coração é o centro exato da nossa personalidade, é a sede
do desejo, “o local de encontro entre as pessoas e Deus”.6
Somos uma geração que perdeu contato com o coração. As dis-
trações do dia-a-dia nos isolaram daquilo que mais desejamos.
Mantemo-nos distraídos por medo de descobrir desejos que ninguém
irá satisfazer.
Conversando com uma mulher afável e religiosa que foi estupra-
da, ouvi o seguinte: “Isso tirou algo de mim. Eu já não tenho certeza
da minha feminilidade. Os meus desejos mais íntimos de mulher
hoje parecem meus inimigos. Tenho medo de reconhecer quanto
quero estar segura, ser tratada com carinho”. Ela ama, mas se con-
tém. Um fosso cerca a sua alma. E ela encheu esse fosso com os jaca-
rés da distração.
Os vícios são a expressão dos desejos distraídos. Ficamos escravos
da satisfação imediata e arrebatadora porque temos medo de confessar
o que mais profundamente desejamos. Desejar ardentemente aquilo
que jamais virá é tortura, e tortura demanda alívio. Os vícios põem fim
à dor, pelo menos temporariamente. E as distrações impedem que en-
frentemos os desejos que o vício não consegue aplacar. Concordo in-
VOLTANDO NOSSA ALMA PARA O OUTRO 161

teiramente com James Houston quando ele diz: “O anseio insatisfeito


por Deus é o que move os seres humanos acima de tudo”.7
O terror se apodera de nós quando começamos a perceber quanto
queremos ser amados, respeitados, valorizados, como temos inveja
daqueles que são mais amados do que nós, ou pelo menos mais nota-
dos. Em vez de buscar a fonte do desejo, nos sentimos envergonhados
demais e ocultamos nossos desejos até de nós mesmos.
Precisamos de um lugar seguro para admitir e explorar nossos de-
sejos, uma comunidade de companheiros de jornada que acreditem
que os nossos desejos não são essencialmente vergonhosos, mas abso-
lutamente humanos e já satisfeitos em Jesus. Não sei se muitas pessoas
conseguem imaginar um grupo, mesmo pequeno, em que se sentissem
seguras bastante para investigar quem são e fazê-lo com tanta decisão e
confiança que no final houvesse um alegre encontro com Deus.
Quem sabe se notássemos que por trás de todo desejo existe o
anseio por Deus, conseguiríamos efetivamente proporcionar a segu-
rança da esperança. Talvez então percebêssemos que nossos desejos não
devem ser ridicularizados, escarnecidos nem descartados, mas investi-
gados até sua origem e, enfim, plenamente expressos.
Para iniciar nossa busca da comunidade espiritual abordamos três
convicções: reflita sobre elas, discuta-as em seu grupo e com seus ami-
gos, estude as Escrituras para ver se têm fundamento bíblico. Depois
siga em frente, sem deixar essas convicções para trás, e fundamente
nelas uma maneira de cultivar a comunidade espiritual.

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