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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

DISCIPLINA: COLÓQUIOS DE DOUTORANO II – 2017.2


DOCENTE: FERNANDA PETRARCA
DISCENTE: ALINE PASSOS DE J. SANTANA

SEGURANÇA PÚBLICA X POLÍTICA PÚBLICA DE SEGURANÇA:

PERSPECTIVAS EM DISPUTA NA ANPOCS.

Resumo: Nas ciências sociais brasileiras, existe um distanciamento entre as pesquisas que
trabalham segurança pública e encarceramento sob a perspectiva das políticas públicas e as que
discutem estas temáticas pelo viés do controle social do crime e da violência. Este trabalho
procurou mapear, nos Grupos de Trabalho da ANPOCS, as principais questões envolvidas neste
distanciamento. Trata-se de um esforço para traçar os limites gerais do cenário onde se formulam
e se disputam conceitos, proposições e perspectivas sobre políticas de segurança pública e
encarceramento. Considera-se que este mapeamento pode fornecer pistas para compreensão de
novas questões colocadas aos pesquisadores de ambas perspectivas, tais como a incursão do setor
privado no campo destas políticas.

Palavras-chave: segurança pública; políticas públicas; GT's; ANPOCS.

Abstract: In Brazilian social sciences, there is a gap between researches that work public security
and imprisonment under the perspective of public policies and those that discuss these isues from
the perspective of social control of crime and violence. This work sought to map, in the working
groups of ANPOCS, the main issues involved in this gap. It is an effort to draw the general
boundaries of the scenario where concepts, propositions and perspectives on public security
policies and incarceration are formulated and contested. It is considered that this mapping may
provide clues for understanding new questionings posed to researchers from both perspectives such
as the private sector incursion in the field of these policies.

Keywords: public security; public policies; GT's; ANPOCS

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INTRODUÇÃO

Este artigo analisa a produção acadêmica sobre segurança pública e encarceramento no Brasil a
partir dos encontros anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais (ANPOCS). O objetivo é mapear a produção científica sobre segurança pública e gestão
prisional, as disciplinas que sustentam esta produção, os principais referenciais teóricos utilizados e
as problemáticas mais frequentes nas ciências sociais. Trata-se de um esforço em sistematizar e
analisar algumas das principais fontes primárias e secundárias da pesquisa de doutorado em curso,
provisoriamente intitulada “Gestão privada e segurança pública: uma análise das relações entre
oferta e demanda de encarceramento em Sergipe”. Posto que o conjunto de teses, dissertações,
relatórios de pesquisas e bancos de dados que subsidiam este doutoramento foi majoritariamente
produzido a partir de programas de pós-graduação em ciências sociais, tornou-se necessário traçar
os limites gerais do cenário onde se formulam e se disputam conceitos, proposições e perspectivas
sobre políticas de segurança pública e encarceramento. A escolha do encontro anual da ANPOCS se
deu em virtude de tratar-se de um dos principais encontros científicos das ciências sociais no Brasil,
cuja regularidade confere um caráter atual ao estudo, e a abrangência nacional, representatividade.

De início, pensou-se em apresentar e analisar os dados contidos nas fontes primárias e


secundárias de pesquisa já reunidas, tais como modelos contratuais para gerenciamento de unidades
carcerárias entre o setor público e o privado, entrevistas com gestores prisionais e pessoas em
privação de liberdade, indicadores de gestão privada produzidos a partir das experiências já
existentes no Brasil, estatísticas sobre criminalidade, reincidência e prisões provisórias. No entanto,
o andamento da pesquisa tornou necessário, neste momento, localizar as próprias fontes em um
contexto mais amplo de produção acadêmica nas ciências sociais. Entende-se este esforço como
condição de possibilidade para uma leitura mais precisa dos dados contidos em tais fontes. Assim, o
trabalho acabou se desdobrando como pesquisa empírica sobre as próprias fontes.

Para tanto, dividiu-se a análise em duas partes. A primeira se refere a um levantamento realizado
no Grupo de Trabalho (GT) sobre Políticas Públicas da ANPOCS, entre os anos de 2002 e 2015, no
sentido de averiguar a presença, a constância e os desdobramentos das temáticas sobre
encarceramento e segurança pública em um dos principais encontros acadêmicos das ciências
sociais no Brasil. A escolha do GT, por sua vez, derivou das inquietações trazidas por parte do corpo
docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-

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UFS), onde o doutorado em questão se desenvolve. Tais inquietações apontam para a necessidade
de subsidiar a pesquisa em andamento a partir dos referênciais construídos pelas políticas públicas
enquanto área das ciências sociais. Neste sentido, foram levantados, nos arquivos do GT de
políticas públicas da ANPOCS, disponíveis online, tanto papers que trabalham segurança pública
ou gestão prisional como políticas setoriais, quanto outros trabalhos, cujas abordagens, referenciais
téoricos ou temáticas se mostraram pertinentes, ainda que transversais, ao objeto e aos objetivos da
pesquisa de doutorado em curso. O trabalho não se propõe, no entanto, a adentrar estas questões
transversais, limitando-se a apontar quais são e de que maneira elas se revelaram pertinentes ao
presente estudo.

A segunda parte, por sua vez, deriva das conclusões parciais obtidas na primeira. Dada a
escassez de trabalhos sobre políticas setoriais de segurança pública e encarceramento no GT de
políticas públicas da ANPOCS, buscou-se, então, localizá-las entre os demais grupos de trabalho do
mesmo período para, em seguida, mapear dois conjuntos de variáveis: 1) as disciplinas às quais
pertencem os referenciais teóricos mais utilizados; 2) as principais temáticas levantadas por estes
trabalhos. O GT que se apresentou com maior concentração de análises sobre segurança pública e
encarceramento foi o intitulado Violência, criminalidade e punição no Brasil. A partir desta
constatação, foram catalogados e analisados 44 trabalhos ali expostos, durante o período de 2011 a
2015, marco temporal escolhido por razões que serão apresentadas mais adiante. Trata-se,
certamente, de um mapeamento ainda incompleto, posto que as variáveis escolhidas não resumem
as linhas a serem traçadas para elaborar uma espécie de quadro definitivo do atual estágio das
pesquisas sobre segurança pública e encarceramento nos encontros da ANPOCS. Outras questões,
como a formação acadêmica dos pesquisadores e as subdivisões das próprias políticas setoriais em
comento – não raro dando origem a GT's e Seminários Temáticos (ST's) sobre vitimização, acesso à
justiça, etc – embora igualmente importantes para compor o referido quadro, serão aqui apenas
tangenciadas, dados os limites deste trabalho.

Nas considerações finais, a partir do acúmulo e do confronto do que se apurou nos dois GT's
analisados, foram sistematizadas as considerações apresentadas no decorrer do trabalho para, assim,
apontar algumas reorientações na pesquisa de doutorado em curso enquanto efeito da produção
deste estudo.

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1. GT SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS NA ANPOCS (2002-2015).

Antes de passar à análise sobre a produção de trabalhos relacionados à segurança pública e


encarceramento no GT de políticas públicas da ANPOCS, uma observação se faz necessária. Dentre
as afirmações mais reiteradas nos papers apresentados neste contexto está a “dispersão tanto
temática quanto teórica” (SUDANO et al., 2015, p. 9) do campo das políticas públicas. Tanto os
pesquisadores que se debruçam sobre políticas setoriais (saúde, educação, etc), quanto os que se
dedicam a elaborações sobre os marcos teóricos e o instrumental analítico das políticas públicas,
reconhecem seu “caráter intrínseca e originariamente multidisciplinar” (FARIA, 2011, p. 2) e sua
“abordagem transversal a diversas áreas que lidam com problemas públicos” (SECCHI, 2013, p. 2).
Este diagnóstico acerca da multiplicidade disciplinar das políticas públicas, no entanto, longe de
pacificar as discussões acadêmicas, parece instaurar uma tensão permanente. De um lado,
encontram-se trabalhos que procuram se afastar dos estudos das políticas públicas baseados em
“grandes estruturas e funções prescritas” e, assim, privilegiar “interações contingentes” (LOTTA e
PAVEZ, 2008, p.2). De outro lado, estão aqueles que consideram o foco “nas estruturas e processos
de negociação das políticas setoriais específicas” como fragilidade e incipiência da área de
conhecimento no Brasil (SECCHI, 2013, p. 3). Para efeitos da análise que segue, considera-se
suficiente apontar a existência deste tensionamento, sem pretensão de torná-lo objeto de estudo.

Em 2015, no 39º Encontro Anual da ANPOCS, uma análise preliminar, a respeito das mudanças
e avanços ocorridos na produção científica sobre políticas públicas no Brasil, lançou algumas
conclusões parciais sobre o próprio GT referente a este campo de estudos. A primeira delas
concerne às políticas setoriais analisadas pelos papers apresentados no período de 2002 a 2014. No
total de 127 trabalhos completos publicados, depois de identificadas dezenove políticas setoriais, os
autores apontaram saúde (20%), educação (13%), participação (12%) e assistência social (11%)
como as mais frequentes (SUDANO et al., 2015, p. 12). Posto que segurança pública e/ou
administração carcerária não apareceram no referido estudo, mas a totalização dos dados incluiu
uma categoria denominada “outras políticas”, responsável por 17% dos trabalhos, fez-se necessário,
então, recorrer à listagem de todos os artigos para averiguar que, no período analisado, apenas 03 se
ocuparam especificamente de segurança pública. A estes, acrescentou-se mais um trabalho, em
2015.

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Tabela 1 – Trabalhos sobre segurança pública no GT de políticas públicas da ANPOCS (2002-
2015).

Ano Título Autor(es/as)


2010 Segurança pública e participação social em Belo Horizonte: que Letícia Godinho; Betânia
políticas “funcionam” e por quê? Peixoto
2010 Mobilização social e agenda: evolução da rede de atores e projetos Thais Pavez, Demétrio G. C.
relacionados à política de segurança pública no país. de Toledo e Renata da Rocha
Gonçalves
2012 Mulheres da Paz: um olhar a partir da teoria do reconhecimento. Maria Eduarda Ota
2015 A implementação da política de drogas pela polícia: Brasil, Chile e Tania Maria Pinc
Argentina em perspectiva comparada.

Fontes: SUDANO et al., 2015 e dados compilados pela autora

Uma das explicações para a escassez de trabalhos sobre segurança pública e gestão prisional no
GT de políticas públicas talvez seja a dinâmica do próprio evento anual ANPOCS. Uma vez que os
grupos de trabalho acontecem de forma simultânea, muitas vezes algumas temáticas acabam se
dispersando por dois ou mais grupos. No caso em questão, observou-se a presença dos seguintes
grupos: Violência, sociedade e cultura (2002, 2003); Violência, conflitos e práticas culturais (2005,
2006); Crime, violência e punição (2008, 2009); Violência, criminalidade e punição no Brasil (2011
a 2015). Em todos estes, a política de segurança pública e gestão do encarceramento foram centrais.

Apesar da referida dispersão, outras questões também parecem contribuir para o reduzido
número de papers sobre segurança e sistema prisional no espaço dedicado às políticas públicas.
Uma delas é abordagem teórica predominante. O estudo apresentado no 39º encontro constatou que
as principais abordagens são provenientes da ciência política, com enfoques em teorias sobre o
federalismo (19%), neoinstitucionalismo (15%) e democracia (5%) (SUDANO et al., 2015, p. 13).
Enquanto isto, nos debates dos grupos de trabalho voltados às questões de segurança pública e
encarceramento, destacam-se abordagens sociológicas e antropológicas, como demonstram os
trabalhos de Sérgio Adorno e Camila Dias (2013), Marcos César Alvarez e Fernando Salla (2010),
Karina Biondi (2008), André Zanetic (2006), dentre outros. Nestes trabalhos, muitos dos
referenciais teóricos são raros, periféricos, quando não totalmente estranhos aos debates travados no
GT de políticas públicas onde, aliás, teorias sociológicas foram encontradas em apenas 4% dos
trabalhos, ao lado de 1% de referenciais orinudos da antropologia (SUDANO et al., 2015, p. 13).

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Gráfico 1 – Distribuição das teorias por disciplinas das Ciências Sociais (GT Políticas
Públicas/ANPOCS – 2002-2014).

Fonte: SUDANO, et al., 2015.

Esta via de estranhamento, no entanto, constitui-se em mão dupla. Muitos dos papers
apresentados no GT de políticas públicas da ANPOCS trazem questões e referenciais teóricos que
se mostram atuais e pertinentes aos debates sobre segurança pública e gestão prisional e, no entanto,
permanecem pouco explorados pelos(as) pesquisadores(as) que se dedicam a estas políticas. É o
caso do neoinstitucionalismo, por exemplo, que vem sendo manejado para subsidiar debates sobre
privatização da gestão carcerária nos encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração – ANPAD (CABRAL e AZEVEDO, 2006), mas que na ANPOCS não
se encontra relacionado ao debate de segurança pública ou administração carcerária, nem no GT de
políticas públicas, nem no GT sobre violência, criminalidade e punição.

Outro exemplo da distância entre o GT de políticas públicas e a produção de trabalhos sobre


segurança pública e prisões pode ser observado na riqueza de papers que relacionam
descentralização administrativa e federalismo a políticas de saúde, assitência social e educação, em
um esforço significativo para analisar a agenda (FARIA e CUNHA, 2012), a formulação (SCHOTT
e GERSCHMAN, 2011), a implementação (LIMA, 2006) ou a avaliação (FARIAS E
FILGUEIRAS, 2003) destas últimas. Nem mesmo depois de 2007, com o surgimento do Programa

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Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), cujos eixos se distribuem pelas
mesmas etapas do ciclo geral de funcionamento das políticas públicas, surgiram tantos trabalhos
sobre segurança quanto se constata em relação às demais questões setoriais.

Em artigo publicado nos Cadernos Adenauer, da Fundação Konrad no Brasil, Sérgio Adorno
oferece uma explicação possível para o distanciamento apontado.

No Brasil, alguns analistas afirmam que nunca houve efetivamente políticas de


segurança pública e de justiça criminal, exceto recentemente a partir dos governos
civis que sucederam o último regime autoritário encerrado após 21 anos de
vigência (1964-1985). Sustentam que, no passado, o governo republicano, quer
durante os regimes de exceção quer durante os períodos de normalidade
institucional, jamais havia formulado um conjunto de ações coordenadas, com
metas e fins determinados e recursos próprios. Limitava-se, rotineiramente, a
manter suas forças e conter o crime segundo a cultura organizacional dominante
nas agências policiais, marcadas pelo propósito de “caçar bandidos” conhecidos.
Na esfera dos governos estaduais, esse cenário não era diferente (...) Uma coisa é
certa: o acelerado crescimento da criminalidade urbana – em torno dos roubos,
sequestros, homicídios e graves violações de direitos humanos representadas por
linchamentos, execuções sumárias praticadas por esquadrões da morte bem como
freqüentes abusos de poder e de uso indiscriminado de força física por agentes
policiais – pressionou por mudanças nesse âmbito da intervenção governamental.
Segurança pública passou a comparecer com maior intensidade na agenda política
governamental (2008, p. 14-5)

Assim, é possível que um dos motivos pelos quais segurança pública e questões sobre
encarceramento não tenham até hoje recebido maior atenção no espaço dedicado às políticas
públicas seja de cunho normativo-institucional, pois se trata de uma agenda relativamente recente
no país, cujos planos, metas e ações só começaram a ser delineados, segundo Adorno, no primeiro
mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Porém, uma outra hipótese parece se sustentar, sem exclusividade e ainda de maneira
preliminar. Trata-se da própria trajetória dos estudos sobre violência, punição, criminalidade e
encarceramento no Brasil, que parecem ter se constituído por fora dos referenciais mais habituais
mobilizados no campo das políticas públicas. Mesmo quando se observa a emergência de um curso
de graduação em segurança pública, como ocorreu na Universidade Federal Fluminense em 2012,
constata-se que um dos seus principais idealizadores, ao reconstruir sua própria trajetória
acadêmica, o faz na intersecção entre o direito e a antropologia.

Reconstituir a trajetória desse embate é refletir sobre como as diversas inflexões,


conexões e afastamentos que a Antropologia e o Direito, como campos
consolidados na tradição de ensino universitário, podem se articular para construir
um campo inovador nesse ensino, como é o da Segurança Pública (…) A ideia de

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criar um curso de segurança pública na UFF, assim, nasce (…) de uma experiência
etnográfica que suscita uma elaboração teórica sobre modelos jurídicos para a
sociedade, para a formulação e o exercício dos processos institucionais de controle
social, para administração institucional de conflitos (...) Como a nossa sociedade é
marcada por forte desigualdade social e jurídica, com o Direito reforçando uma
posição tutelar do Estado sobre a sociedade - representada como portadora de
inúmeras hipossuficiências - e, assim, assumindo um caráter propriamente estatal
para a sua área “Pública”, a forma privilegiada para exercício desse controle é a
repressão (LIMA, 2013).

É neste sentido que se passa à segunda parte deste trabalho, com a intenção de averiguar,
também pela presença e regularidade dos trabalhos apresentados na ANPOCS, fora do GT de
políticas públicas, quais as disciplinas dos principais referenciais teóricos mobilizados pelos(as)
autores(as) que se dedicam às temáticas de segurança pública e encarceramento, e quais as
principais temáticas levantadas por eles(as).

2. GT SOBRE VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E PUNIÇÃO NA ANPOCS (2011-2015).

Embora trabalhos sobre segurança pública e gestão prisional possam ser encontrados de forma
dispersa em vários espaços da ANPOCS, o GT violência, criminalidade e punição no Brasil é o que
mais concentra estas duas temáticas. Com este título, o GT se firmou apenas recentemente, em
2011. É verdade que, conforme já apontado acima, grupos com denominações semelhantes o
precederam, no entanto, optou-se aqui por seguir estritamente o formtato atual. Além disto, é
importante advertir que, ao contrário do levantamento realizado quanto ao GT de políticas públicas,
esta parte do trabalho possui características ainda muito incipientes, posto que não partiu de um
estudo prévio já elaborado por outros pesquisadores. Seu caráter, portanto, é preliminar. O período
analisado foi de 2011 a 2015, com interrupção em 2013, quando o referido GT não aconteceu, dada
a dinâmica da própria ANPOCS1. Conforme o Anexo I, foram contabilizados 44 trabalhos
completos disponíveis nos anais online.

Neste universo, não foram encontrados trabalhos que não mesclassem duas ou mais disciplinas
das ciências sociais (sociologia, antropologia, ciência politica). Além destas, foram também
encontrados referenciais da filosofia, história, geografia e psicologia. Das chamadas ciências sociais
aplicadas, fizeram-se presentes o direito e a economia. Os principais probemas de classificação por
disciplina encontram-se na criminologia, amplamente utilizada como referencial distinto da

1 Em alguns anos, apenas acontecem Seminários Temáticos, organização que costuma dispersar os debates
concentrados nos GT's.

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sociologia, antropologia ou direito, e da emergente segurança pública como área do conhecimento
nas ciências sociais. Este trabalho não pretende discutir sobre tais fronteiras disciplinares e, assim,
os dados que seguem partem da identificação que os próprios autores dos papers apontaram ao
manejarem seus referenciais téoricos.

Dos 44 trabalhos analisados, 39 (88,6%) se situram a partir de teorias sociológicas. Como este
suporte teórico não se dá de forma exclusiva nas análises apresentadas no GT, 30 (68,1%) papers
também afirmaram se basear no campo da antropologia. A criminologia foi apontada como
disciplina referencial em 16 (36,3%) trabalhos, assim como o direito. Se existe algo que se pode
aferir no conjunto do GT violência, criminalidade e punição no Brasil, é uma espécie de
hetorodoxia que sustenta as elaborações dos autores. Mesmo as análises que se denominam
“sociológicas”, “antropológicas”, “criminológicas” ou “jurídicas”, utilizam autores como Giorgio
Agamben, Gilles Deleuze e Michel Foucault – amplamente rejeitados quando se trata de traçar
fronteiras disciplinares – como recurso teórico fundamental.

Para se ter uma ideia da mescla de referenciais teóricos entre as disciplinas, em 2013, ano em
que ocorreram apenas ST's na ANPOCS, Sérgio Adorno e Camila Dias apresentaram um trabalho
propondo a construção de um novo paradigma para a sociologia das prisões. Este paradigma,
segundo os autores, visa caracterizar a prisão como universo social sui generis, e se sustenta em três
conceitos-chave: o de cultura prisional, de Donald Clemmer, que destaca os efeitos psicológicos da
prisão sobre os encarcerados; o de sociedade dos cativos, desenvolvido por Gresham Sykes, em
uma das obras mais conhecidas da literatura em criminologia; e o de instituições totais, de Erving
Goffman, mais propriamente situado na sociologia (2013, p. 02). Independente de trabalhar ou não
segundo o paradigma proposto, o que se verifica é que ao tratar de questões como segurança pública
e/ou encarceramento, os pesquisadores, de forma geral, apoiam-se em uma combinação de
referenciais teóricos provenientes de variadas disciplinas das ciências sociais e, não raro, de outras
áreas do conhecimento, a exemplo do que fazem Adorno e Dias.

No que concerne às temáticas abordadas, embora os trabalhos do GT em questão tratem,


majoritamente, de segurança pública (17 papers) e gestão prisional (14), foram encontradas, ainda,
análises sobre discursos e representações sociais da punição; poder judiciário; direitos da criança e
do adolescente; dentre outros, menos frequentes, conforme gráfico abaixo.

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Gráfico 2 - Temáticas abordadas no GT violência, criminalidade e punição no Brasil/ANPOCS
(2011-2015).

11,60%

4,50%
Segurança pública
4,50%
38,60% Gestão prisional
Discursos e representações
sociais da punição
9,00% Poder Judiciário
Direitos da criança e do
adolescente
Outros

31,80%

Fonte: dados compilados pela autora

Dentre os trabalhos sobre segurança pública, os objetos de análise mais frequentes são a
organização do policiamento e a política de drogas. Quando se trata de gestão prisional,
predominam os trabalhos sobre relações de poder e ilegalismos, com destaque para a atuação dos
grupos conhecidos como organizações ou facções criminosas, conforme se pode aferir no Anexo I.

Para retomar a relação com a primeira parte do trabalho, destaca-se que, entre os 17 papers que
abordam segurança pública, apenas 03 o fazem “no sentido de incorporar o debate sobre políticas
públicas no Brasil à reflexão sobre a área da segurança” (SOUZA, 2011, s/p). Destes três, um se
dedica à analise da agenda do PRONASCI (BATTIBUGLI, 2012), outro à formulação e
implementação de políticas de segurança pelas secretarias estaduais responsáveis (COSTA, 2011) e
um terceiro, a partir da constatação de que “estamos longe de ter, para a segurança, os marcos
referenciais das políticas voltadas para a saúde, educação e seguridade social” (SOUZA, 2011, s/p),
procura diagnosticar os motivos para a dissociação entre os debates sobre segurança e as
elaborações próprias do campo das políticas públicas, apontando algumas sugestões para superá-la.

A partir deste momento, volta-se a atenção para o último dos papers citados, posto que
apresenta uma inquietação similar a que justifica este trabalho. Uma das principais dificuldades

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apontadas pelo autor no debate sobre segurança pública enquanto política pública reside no que ele
identifica como “conceito escorregadio” da primeira. De um lado, a seguraça pública aparece em
fusão com o conceito de criminalidade, notadamente, a chamada criminalidade de rua (crimes
contra o patrimônio, contra a vida e o tráfico de drogas). De outro, não se sabe muito bem se o
conceito se refere à segurança do próprio Estado, modelo que o autor considera ainda predominante
no Brasil, ou à segurança dos cidadãos, projeto que ele identifica como emergente a partir do
processo de redemocratização, porém bastante incipiente. Para avançar na consolidação deste
projeto emergente, Souza assinala que é preciso equilibrar o reforço da segurança pública em certos
aspectos do monopólio da força, a exemplo das iniciativas federais como o PRONASCI, ao mesmo
tempo em que é necessário ampliar a participação da sociedade civil em todas as fases do ciclo
desta política. A partir deste diagnóstico, o autor se própõe a “fazer um esforço de abstração das
questões concretas presentes na bibliografia especializada em segurança pública” (Ibid., s/p), tais
como racismo, ineficiência e letalidade policial, para então elaborar sobre política pública.

Dois desdobramentos podem ser pensados a partir da análise de Souza. O primeiro, em


consonância com o autor, é que, de fato, as análises sobre segurança pública nas ciências sociais
brasileiras correspondem à própria política calcada nos princípios de uma concepção state-centered,
já há muito criticada por alguns pesquisadores do campo das políticas públicas. Estes pesquisadores
advogam uma concepção multicêntrica, segundo a qual o que define uma política como “pública”
não é o protagonismo nas fases de elaboração e/ou execução, mas o problema a ser enfrentado
(SECHHI, 2012, p. 20). Quando se trata de pensar segurança pública, portanto, admitem
participações não-estatais nas fases que compõem o ciclo da política e, junto com a aclamada
participação da sociedade civil, surgem os problemas de inserção do setor privado, numa questão
tradicionalmente pensada como monopólio estatal.

Dito isto, talvez a distribuição dos trabalhos sobre políticas públicas e segurança pública na
ANPOCS responda um pouco ao avanço da concepção multicêntrica em relação às primeiras, pois,
a princípio, o que se percebe em parte das elaborações sobre segurança e encarceramento no Brasil
é uma análise bastante profícua sobre suas deficiências, e ao mesmo tempo, uma tentativa de lançar
proposições que não ultrapassem muito a concepção da centralidade e do protagonismo estatal nesta
área, recepcionadas apenas as hipóteses de inclusão da sociedade civil (ZANETIC, 2006).

O segundo desdobramento que se pode pensar a partir das colocações de Souza é um pouco
mais complexo, posto que vai de encontro à sua análise. Para avançar no sentido mais propositivo
que caracteriza as políticas públicas, o autor explicitamente abstraiu questões como racismo,

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letalidade policial, e o que chamou de “paradoxos da cidadania”. Pode-se afirmar, inclusive, que foi
também abstraída a própria dificuldade em conceituar segurança pública, ainda que apontada no
início do seu paper. Numa linha muito próxima aos pesquisadores do GT de políticas públicas, o
autor afirma que, nos dias atuais, não se pode mais conceber segurança “sob os princípios
burocráticos do state building” (SOUZA, 2011, s/p). Assim, o trabalho parece sugerir aos
pesquisadores do GT violência, criminalidade e punição no Brasil que suas análises, em certa
medida, permanecem apegadas a um referencial ultrapassado de segurança pública. Não à toa,
várias páginas deste paper foram dedicadas a explicar o que são políticas públicas em um marco
democrático.

O problema, assim, parece ser um eterno retorno ao ponto de partida, pois é pertinente indagar
em que medida é possível pensar políticas públicas de segurança sem resolver minimamente a
conceituação desta última. Colocado de outra forma: será que os elementos que o autor precisou
abstrair de sua análise não são inextrincáveis da própria definição de segurança pública? E não seria
estes um dos motivos do estranhamento entre os pesquisadores desta área e os que se dedicam ao
campo das políticas públicas na ANPOCS? Ou ainda, será que os trabalhos dos pesquisadores
concentrados no GT violência, criminalidade e punição no Brasil só podem ser lidos, ao não
partilharem dos referenciais das políticas públicas, pela falta de acúmulo teórico, instrumental
analítico e outras modalidades de carência científica? Seria possível afirmar que, em pelo menos
uma dimensão deste debate, reside uma profunda divergência que parece não se resolver pela
redistribuição de protagonismo, embora este seja um ponto sensível da questão?

De uma lado, pelo conjuntos das disciplinas e referenciais teóricos levantados neste trabalho a
partir do GT violência, criminalidade e punição no Brasil, é preciso considerar, pelo menos
enquanto hipótese, que os papers ali apresentados se orientam por uma concepção de segurança
pública que será sempre, em alguma medida, segurança do Estado, e por isto, são abundantes as
análises sobre racismo, letalidade policial, encarceramento em massa, dentre outras. Não cabe aqui
conferir ou não razão a esta perspectiva, mas apenas levantar um possível redimensionamento do
debate que parece não se resumir às fronteiras da cientificidade. Onde se lê carência, precariedade
ou inépcia, talvez exista divergência, recusa e afirmações que merecem ser analisadas ao invés de
interceptadas por uma suposta inadequação aos marcos disciplinares desta ou daquela ciência
social. Inclusive porque, a despeito de qualquer carência que se possa apontar, o problema está
representado na ANPOCS, espaço que se define, de qualquer forma, por sua científicidade.

Por outro lado, ainda que determinadas pesquisas voltadas para segurança pública e

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encarceramento possam ser lidas pelo prisma da recusa a certos referenciais das políticas públicas,
parece acertado afirmar que o distanciamento assim produzido afeta o próprio avanço destas
pesquisas, uma vez que não se dão ao trabalho de averiguar questões fundamentais, como por
exemplo, os limites da participação da sociedade civil frente à incursão do setor privado nestas
áreas, ou ainda, se for o caso, de demonstrar que uma concepção multicêntrica da segurança pública
não tem o condão de extirpar o que seria próprio da noção de segurança, ou seja, o racismo, a
seletividade criminal e outros problemas. O que este tipo de recusa à aproximação têm gerado
parece ser um engessamento dos pesquisadores em afirmações peremptórias que, em parte, pode
redundar na acusação de defasagem de suas análises. Um último exemplo pode ser elucidativo.

Em 2006, na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, o pesquisador Sandro


Cabral defendeu sua tese de doutorado intitulada “Além das grades”: uma análise comparada das
modalidades de gestão do sistema prisional. Baseado em uma concepção multicêntrica das políticas
públicas, e a partir de um referencial teórico neoinstitucionalista, o autor realizou uma importante e
exaustiva pesquisa de campo em duas unidades prisionais no estado da Bahia, uma gerida pelo
poder público e outra pela iniciativa privada. Ao final, Cabral comparou-as por meio de
determinados indicadores econômicos. De maneira resumida, pode-se dizer que a principal
conclusão desta pesquisa foi que setor privado possui maiores e melhores condições de administrar
unidades prisionais de pequeno e médio porte, enquanto a gestão estatal possui recursos mais
adequados ao gerenciamento de grandes unidades de segurança máxima (2006, p. 111).

O que interessa ao o trabalho ora apesentado, porém, não é o escrutínio dos dados ou das
conclusões de Cabral, mas apenas apontar que, em reitradas edições do GT violência, criminalidade
e punição no Brasil não surgiu um trabalho sequer sobre neoinstitucionalismo e políticas públicas,
seja para acatar ou refutar, no todo ou em parte, construções teóricas e empíricas que afetam
diretamente seu campo de pesquisa, e das quais a tese acima mencionada é apenas um exemplo.
Tampouco no GT de políticas públicas este debate apareceu. Desta forma, é possível afirmar que o
estranhamento, a distância e as recusas recíprocas apontadas aqui, entre os cientistas sociais que se
debruçam sobre segurança e encarceramento e os que pesquisam políticas públicas, em vários
sentidos, têm deixado sem resposta questões fundamentais para o objeto e objetivos de pesquisa na
qual esta análise preliminar se insere.

13
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se dedicou a mapear os debates sobre segurança pública e gestão prisional nos
encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
Trata-se de um esforço em compreender como se organizam e se distribuem os papers sobre estas
temáticas no espaço do encontro, posto que parte significativa das fontes secundárias que
constituem o doutoramento em curso, já referido, advém de pesquisas ali inseridas.

Pelas razões já expostas, foram escolhidos dois GT's da ANPOCS: o de políticas públicas e o de
violência, criminalidade e punição no Brasil. Constatou-se, assim, que onde se discute política
pública, pouco se fala em segurança e encarceramento, ao mesmo tempo, no espaço dedicado a
segurança e encarceramento, poucos das políticas públicas é acionado. Algumas razões para este
distanciamento foram elencadas ao longo do trabalho, dentre as quais, destacam-se:

1) A dinâmica do evento anual da ANPOCS pode dispersar temáticas e áreas de interesses por
vários grupos de trabalho ou seminários temáticos.

2) Os referenciais teóricos distribuídos por disciplinas das ciências sociais implicam no arranjo
dos GT's. Nas políticas públicas, as teorias trabalhadas são, em sua maioria, provenientes da ciência
política (federalismo, neoinstitucionalismo, etc), enquanto isto, quem trabalha com violência,
criminalidade e punição recorre com mais frequência a teorias sociológicas e antropológicas (teoria
das subculturas criminais; teoria do desvio; estruturalismo, cultura do controle do crime, etc).

3) Segurança pública, enquanto política pública, é uma construção histórica relativamente


recente no Brasil, atrelada ao processo de redemocratização, de maneira que o aspecto “público”,
não raro, é tomado como sinônimo de “estatal” e este último, por sua vez, é traduzido como
“repressão”.

4) A relação apontada no item anterior é menos uma questão de defasagem científica do que
uma divergência quanto ao conceito e às finalidades da política de segurança pública. Os recursos
mobilizados por uma abordagem multicêntrica abrem espaço para que se discuta o protagonismo da
política em questão, o que implica, dentre outras coisas, recepcionar os interesses de novos atores, a
exemplo das empresas privadas, sem que estejam muito claros em que termos, sob quais condições,
e menos ainda, quais os impactos desta recepção sobre a demanda por segurança e encarceramento.
Esta divergência se relaciona com o distanciamento verificado entre os GT's da ANPOCS
analisados.

14
5) No GT sobre violência, criminalidade e punição, os poucos trabalhos apresentados a partir
dos referenciais das politicas públicas reconhecem o distanciamento acima referido. No entanto,
suas próprias análises operam pela suspensão de questões específicas relacionadas à segurança e
encarceramento, tais como letalidade policial, autoritatismo e racismo. Assim, ao mesmo tempo em
que procuram assimilar a segurança pública aos marcos das políticas públicas, encontram
dificuldades em fazê-lo a partir dos principais problemas e caracterizações apontados pela
bibliografia especializada em segurança, criminalidade, controle do crime, etc.

6) Este distanciamento, nas ciências sociais, não favorece a produção de pesquisas sobre gestão
privada do encarceramento, posto que os processos de formulação, negociação e implementação
deste modelo, não raro, como já se pode encontrar em outras áreas do conhecimento, utilizam
referenciais teóricos das políticas públicas para redefinir os limites do protagonismo estatal neste
âmbito. Portanto, indepentende de ratificar, criticar ou rejeitar o modelo, analisá-lo passa a ser
fundamental para quem pesquisa segurança e encarceramento, áreas com forte tradição de
abordagens state-centered.

Tais considerações possuem caráter preliminar e incipiente, uma vez que, como apontado de
início, outras variáveis relevantes não foram consideradas neste momento. Porém, ao selecionar as
disciplinas que fornecem os principais referenciais téoricas e as temáticas mais abordadas, tanto no
GT de Políticas Públicas, quanto no GT sobre violência, criminalidade e punição no Brasil, buscou-
se responder, de forma prioritária, a questionamentos sobre a localização do doutorado em curso no
âmbito das ciências sociais.

A partir do levantamento e da análise realizada sobre estas variáveis, compreendeu-se que os


estudos sobre segurança pública e encarceramento no Brasil se constituíram sob marcos teóricos,
disciplinares e metodológicos que não são os das políticas públicas. Em ampla maioria, trata-se de
uma produção acadêmica que se dedica mais aos aspectos históricos, sociológicos e culturais do
crime, da violência e da punição, do que às questões de agenda, formulação, implementação ou
avaliação de políticas públicas. É mais frequente, portanto, encontrar trabalhos que se ocupam da
segurança pública como sinônimo de demanda de encarceramento e esta, por sua vez, como uma
relação de poder específica entre Estado e sociedade civil ou determinados grupos sociais. Assim,
destacam-se as pesquisas sobre as dinâmicas do tráfico de drogas, as subculturas criminais, as
relações sociais entre sujeitos encarcerados, letalidade policial, entre outras. Com isto, talvez seja
possível afirmar que existe, nas ciências sociais, uma diferença entre pesquisar segurança pública e
pesquisar política pública de segurança.

15
Ao elaborar os contornos gerais deste mapa sobre as pesquisas que abordam segurança pública e
encarcemento surgiram, portanto, para o doutorado em curso, questões que a princípio não haviam
sido levantadas. A primeira delas é em que medida é possível falar de política pública de segurança
sem superar os problemas da própria definição e dos limites do que se chama segurança pública. A
segunda, por sua vez, são as implicações de uma concepção de segurança pública state-centered
sobre os problemas frequentemente apontados (racismo, letalidade policial, seletividade penal, etc)
pelos pesquisadores ligados a esta tradição. E a terceira é como localizar e analisar a incursão de
gestores privados do encarceramento nas rupturas e continuidades entre a segurança pública como
segurança do Estado (ou ordem pública) e a política pública de segurança como segurança dos
cidadãos. Considera-se, por fim, que é necessário superar o distanciamento apontado neste estudo,
menos no sentido de se filiar a qualquer paradigma posto, e mais como forma reunir as
contribuições existentes, de ambos os lados, para avançar em novas formulações capazes de
responder às questões colocadas pelas novas práticas de segurança pública e encarceramento, agora,
também agenciadas pelo setor privado.

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17
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nov. 2017.

18
ANEXO I

GT VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E PUNIÇÃO NO BRASIL (2011-2015)

Nº Ano Título Autor

1 2011 Discurso antidrogas e biopoder: a constituição do homo sacer André Saldanha Costa
como forma punitiva

Cartografias do dispositivo carcerário contemporâneo: uma


2 2011 exploração do mundo social que se estrutura através Rafael Godoi
da prisão em São Paulo e na Catalunha

3 2011 Controle disciplinar e relações de poder nas prisões em São Fernando Salla; Camila Nunes
Paulo

Rosemary de Oliveira Almeida;


4 2011 Criminalidade e violência nos lugares e espaços da cidade de Maria Glauciria Mota Brasil;
Fortaleza Geovani Jacó de Freitas

Da ressocilização à punição: o percurso das políticas


5 2011 penitenciárias em São Paulo a partir do estudo de Giane Silvestre
Caso de Itirapina

Vivian Cristina da Silva Zampa;


6 2011 Oswaldo Munteal Filho; Vanessa
Debates sobre a Segurança Pública no Brasil
da Costa Dalcanal

Pedro Rodolpho Bodê de Moraes;


7 2011 Joyce Kelly Pescarolo; Samara
Escola, Polícia e Crimiminalização
Feitosa

Estado, Governança e Segurança Pública: uma análise das


8 2011 Secretarias Estaduais de Segurança Pública Arthur Trindade M. Costa

19
Fronteiras da Sanidade: “Periculosidade” e “Risco” na
9 2011 articulação dos discursos psiquiátrico forense e Francis Moraes de Almeida
jurídico no Instituto Psiquiátrico Forense Maurício
Cardoso de 1925 a 2003

10 2011 Políticas Públicas e a área da segurança no Brasil. Debate em Luís Antônio Francisco de Souza
torno de um novo paradigma

11 2011 Positivismo Jurídico e Ceticismo: elementos de ficção e César Kiraly


acústica

Marcus Vinicius Gonçalves da


12 2011 Trajetória recente da política penitenciária: análise de Minas Cruz; Letícia Godinho de Souza;
Gerais e São Paulo Eduardo Cerqueira Batitucci

“Quem quer manter a ordem, quem quer criar desordem”: Luiz Claudio Lourenço; Odilza
13 2011 dinâmicas das gangues prisionais no estado da Lines de Almeida
Bahia

A economia das trocas por punição: um estudo do significado


14 2012 das penas alternativas aplicadas nos Jecrim's de São Carmen Sílvia Fullin
Bernardo do Campo/SP

A formulação de nova agenda para a segurança pública. As


15 2012 iniciativas federais e sua influência na política Thaís Battibugli
pública de segurança paulista

16 2012 As dinâmicas das fronteiras e os jovens vítimas de homicídios Eric Gustavo Cardin
no município de Foz do Iguaçu/PR (2001-2010)

Christiane Russomano Freire;


17 2012 As representações sociais sobre o castigo – magistrados,
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo
policiais e administradores penitenciários no RS

20
Jacqueline Sinhoretto; Giane
18 2012 Dinâmicas sociais do encarceramento em massa em São Silvestre; Felipe Athayde Lins de
Paulo Melo

19 2012 Disciplina, controle social e punição: o entrecruzamento das Camila Caldeira Nunes Dias
múltiplas redes de poder no espaço prisional

20 2012 Drogas e mecanismos de segurança em São Paulo (2004- Marcelo da Silveira Campos
2009)

21 2012 Economias criminais urbanas e gestão dos ilegalismos na Alessandra Teixeira


cidade de São Paulo

22 2012 Estado de Direito no Brasil e suas incongruências: os Dulcinea Duarte de Medeiros


“direitos humanos” em questão

Rodrigo Alisson Fernandes;


23 2012 Medo De Crime E Avaliação Da Polícia: Determinantes de
Valeria Cristina de Oliveira
Insegurança em Belo Horizonte

24 2012 Novas dimensões da militarização da segurança pública no Luís Antônio Francisco de Souza
Brasil

Marcos César Alvarez; Fernando


25 2012 Salla; Letícia Núñez Almeida
Violência e Fronteiras: uma análise da gestão dos espaços
fronteiriços no Brasil contemporâneo

Diego Coletti Oliva;


26 2014 Controle social e segregação: a vigilância perversa por trás Pedro Rodolfo Bodê de Moraes
das câmeras

Fernando Salla; Camila Nunes


27 2014 Crime e metamorfoses da construção da ordem nas prisões Dias

21
Drogas e sociedade carcerária no sistema prisional baiano:
Um estudo das condições para implantação do Herbert Toledo Martins;
28 2014
programa de redução de danos na Colônia Penal de Franklin da Silva Peixinho
Simões Filho – Bahia

Claudio Beato Filho;


29 2014 Milícias e a estruturação criminal: Práticas criminais sob uma Vinicius Assis Couto
análise de redes sociais

30 2014 Os adolescentes e a gestão do crime urbano: protagonismo ou Alessandra Teixeira


assujeitamento?

Os diferentes sentidos do termo mass incarceration e uma


31 2014 breve análise sobre a assimilação da expressão no Rodolfo Arruda Leite de Barros
debate sobre o sistema prisional no Brasil

32 2014 Pela metade: as representações sociais dos parlamentos sobre Marcelo da Silveira Campos
o uso e comércio de drogas na lei 11.343 de 2006

Marcus Vinicius Gonçalves da


33 2014 Cruz; Eduardo Cerqueira Batitucci;
Processo Investigativo: Desconexão Institucionalizada
Eduardo Cerqueira Batitucci

34 2014 Vidas em Jogo: Um Estudo sobre mulheres envolvidas com o Sinita Soares Helpes
tráfico de drogas

Violência na fronteira: representações sociais e políticas


35 2014 públicas de segurança na região da Grande André Luiz Faisting
Dourados, MS

36 2015 A centralidade da prisão provisória na gestão dos ilegalismos Fernanda Matsuda

22
37 2015 A inversão da ordem na vida policial: sociabilidade prisional Antônio Marcos Sousa Silva
e práticas ilegais

Democratização do Sistema de Justiça Criminal (SJC)? Uma Tacyana Karoline Araújo Lopes;
38 2015 análise da participação feminina no crime de tráfico Ludmila M. L. Ribeiro
de drogas em Montes Claros (MG).

Discutindo elementos para a definição e a atuação de Camila Nunes Dias; Luiz Claudio
39 2015 coletivos de internos do sistema prisional de São Lourenço
Paulo e da Bahia (1995-2015)

Excesso de prisão provisória no Brasil: um estudo empírico Rogerio Dultra Santos; Douglas
40 2015 sobre a duração da prisão nos crimes de furto, roubo Guimarães Leite
e tráfico

Jovens em conflito com a Lei e a maioridade penal: uma Izaura Rodrigues Nascimento; José
41 2015 reflexão sobre o Amazonas Vicente de Souza Aguiar

O Governo da Punição em São Paulo: os desafios teóricos-


42 2015 metodológicos para a estruturação da SAP como Rodolfo Arruda Leite de Barros
objeto de pesquisa (1993 – 2014).

43 2015 O lugar da mulher no funcionamento cotidiano do sistema Rafael Godoi


penitenciário paulista

Ana Claudia Cifali; Rodrigo


44 2015 Política criminal brasileira no Governo Lula (2003-2010): Ghiringhelli de Azevedo
diretrizes, reformas legais e impacto carcerário

23

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