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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ

UNIDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ CURSO DE


MEDICINA

PORTFÓLIO DE PEDIATRIA

FERNANDA GARCIA FLEURY

JATAÍ, GO

SETEMBRO, 2018
FERNANDA GARCIA FLEURY

PORTFÓLIO DE PEDIATRIA

Relatório de atividades como requisito do


módulo Saúde da Mulher e da Criança I,
desenvolvido pela discente Fernanda
Garcia Fleury do 7° período do curso de
Medicina da Universidade Federal de
Jataí.

PROF. BRUNO BORGES FERREIRA GOMES

JATAÍ, GO

SETEMBRO, 2018
No dia 12 de setembro de 2018, R. S. C., feminino, 10 anos,
estudante, nascida e procedente de Jataí-GO, comparece ao Hospital das
Clínicas Serafim de Carvalho acompanhada do pai, onde foi atendida pelos
acadêmicos de Medicina e pela Dra. Cristiane. A paciente se queixa de
“dor de cabeça”, referindo cefaleia em região frontal de início há 6
semanas, chegando a ser incapacitante, que melhora espontaneamente ou
com dipirona, não referindo fatores de piora. Nega vômitos, fotofobia ou
escotomas. Paciente associa a cefaleia com a leitura, referindo que ocorre
apenas quando está na escola. Relata que não sente dor ao assistir televisão
ou ao visualizar a lousa da sala de aula.

Nega febre, perda de peso e astenia. Hábitos intestinais e urinários


normais. Consome pouca água ao longo do dia, não sabendo referir a
quantidade com exatidão. Refere coriza, espirros e tosse produtiva há cerca
de 1 semana. Refere que as vacinas estão atualizadas. Nega a prática de
esportes, porém participa de atividades recreativas na escola. Consome
macarrão instantâneo com muita frequência, porém nega comer salgados,
frituras ou demais produtos industrializados. Também não consome com
frequência verduras, legumes ou frutas. Possui uma boa higiene do sono,
dormindo cerca de 10h por noite. A paciente refere que nunca realizou um
exame oftalmológico.

Ao exame físico:

BEG, LOTE, anictérica, acianótica, afebril ao toque, mucosas


normocoradas e úmidas.

Resp.: MV + bilateralmente, presença de roncos em bases


pulmonares bilateralmente.

Card.: RCR 2T BNF, sem sopros.


Abdome: Plano, normotenso, RHA +, timpânico, normal à palpação,
sem massas ou visceromegalias.

Orofaringe: parede posterior de orofaringe levemente hiperemiada,


sem pus.

Hipótese diagnóstica: cefaleia secundária à ametropia.

Conduta: paciente foi encaminhada ao serviço de oftalmologia.

A cefaleia associada a erros refracionais é caracterizada como uma


dor moderada em região frontal que está relacionada temporalmente a
atividades visuais, obtendo melhora dos sintomas quando a ametropia é
corrigida. Roth e colaboradores (2014) estudaram um total de 158 crianças
entre 3 a 12 anos, sendo que aproximadamente 14% relatavam queixa de
cefaleia associada a atividades visuais. No entanto, estudos demonstram
que, apesar dos erros refracionais contribuírem significativamente para as
queixas de cefaleia, essa contribuição é limitada, visto que ainda não há
evidências que justifiquem o mecanismo fisiopatológico. Mesmo assim, a
cefaleia secundária a erros refracionais consta na classificação da
International Headache Society (HENDRICKS et al., 2007).

Atividades como ler, estudar, usar o computador e assistir televisão


são consideradas como “near working behavior”, ou seja, que necessitam
de um esforço visual à curta distância. Em um estudo realizado no Vietnam
com alunos da faixa etária entre 12 e 15 anos, foi observado que a cada
hora que era gasta lendo, o risco de miopia crescia em 5% (PAUDEL et al.,
2014). Esse dado poderia ser aplicado para o contexto da nossa paciente,
apesar de ela negar que tenha dificuldades visuais ou cefaleia ao assistir à
televisão.
Em um estudo transversal, descritivo e retrospectivo realizado no
Centro de Referência em Oftalmologia (CEROF) da Universidade Federal
de Goiás, em Goiânia – GO, Rocha e colaboradores (2014) analisaram
2128 prontuários de crianças entre zero a 14 anos. Dentre as consultas
eletivas (88,4%), foram predominantes as crianças entre 6 e 10 anos (46,
30%) do sexo feminino (53,05%), sendo registrados 1433 casos de
ametropias. Esses dados são compatíveis não apenas com a região onde o
atendimento foi realizado como com as características da nossa paciente,
mostrando que a prevalência dessa população é relevante.

Cerca de 20% das crianças que estão em idade escolar – como é o


caso da nossa paciente – apresentam algum tipo de distúrbio visual, que
pode ter variadas causas (biológicas, sociais e ambientais). O motivo do
diagnóstico ser realizado apenas nessa faixa etária se deve ao fato que, no
Brasil, o exame oftalmológico não é rotina nas crianças. Isso, por sua vez,
pode acarretar em danos tanto no rendimento escolar quanto na
socialização da criança (ROCHA et al., 2014).

Ainda correlacionando as deficiências visuais com a educação, cerca


de 90% das pessoas com ametropia vivem em países em desenvolvimento.
Erros de refração que não são diagnosticados ou corrigidos na infância
influenciam negativamente nos níveis educacionais, levando a baixo
desempenho escolar e até abandono da escola antes da graduação. Isso, por
sua vez, pode resultar em um impacto socioeconômico negativo para o país
(KIRAG et al., 2018).

Em nossa consulta, apesar de termos questionado sobre sua


capacidade de visualizar a lousa da sala de aula, deixamos de perguntar a
respeito de seu rendimento escolar, tampouco se há alguma dificuldade de
socialização. A ausência dessas perguntas importantes deixou nossa
investigação supérflua e nos impossibilitou de intervir nesses aspectos que
podem estar comprometendo sua qualidade de vida. Acredito que deixamos
de perguntar porque a natureza desses questionamentos não é tão relevante
para a população que realizamos a maior parte do nosso atendimento nesse
período (que são adultos e crianças no puerpério) e, por uma simples
questão de esquecimento – ou até mesmo de ignorância –, não
questionamos essa paciente em específico.

Apesar desse relapso, tentamos investigar mais profundamente sua


queixa ao perguntar mais sobre possíveis deficiências visuais, se havia
relação da cefaleia com a visualização objetos que a curta ou longa
distância, se havia uma perda do foco visual ou falta de nitidez dos objetos,
(comparando a uma foto desfocada para ver se haveria melhor
compreensão daquilo que foi questionado). Utilizamos uma linguagem
acessível e de fácil entendimento, o que acredito que foram pontos
positivos do nosso atendimento.

Nossa consulta também poderia ter sido mais completa caso


tivéssemos a tabela de Snellen à nossa disposição, já que é uma avaliação
rápida, prática, simples, barata e de fácil interpretação, que teria
corroborado ainda mais com nossa hipótese diagnóstica.

Considerando o grande impacto social, econômico, educacional e na


qualidade de vida causada por essa condição, seria interessante a realização
de medidas que visariam melhorar a assistência oftalmológica à população
infantil. De acordo com Rocha e colaboradores (2018), o ideal é que toda
criança seja analisada por oftalmologista antes do início da vida escolar.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP)
recomenda o exame ocular completo a cada 6 meses durante os 2 primeiros
anos de vida e depois anualmente até os 9 anos de idade. Uma revisão
sistemática Cochrane de 2018 observou que o rastreamento de erros
refracionais não causaria um impacto na prevalência da ametropia em si,
porém teria o objetivo de reduzir a prevalência de erros refracionais não
corrigidos. Além disso, Kirag e colaboradores (2018) observaram que a
promoção de saúde visual para crianças, pais e professores utilizando
materiais educacionais (jogos, livretos, CD), foram efetivos para promover
um comportamento de proteção à saúde visual no grupo experimental.

Desde que ingressei no curso de Medicina, essa foi a primeira


paciente que apresentou uma queixa relacionada a possíveis erros
refracionais e, através de toda a pesquisa realizada para a realização do
embasamento teórico desse portfólio, aprendi o quão importante seria
abordar esse assunto nos serviços básicos de saúde e nas escolas,
informando pais e crianças e exercendo a educação continuada dos
profissionais de saúde. Seria interessante, portanto, a realização de uma
devolutiva para levar essas informações a essa população alvo, através de
panfletos educativos, utilização de meios midiáticos para conscientização
da população, além da realização de palestras e campanhas que visam à
realização do exame oftalmológico na população pediátrica em idade
escolar. Acredito que tais medidas estratégicas seriam uma forma barata,
simples e efetiva de contribuir para a saúde das crianças de Jataí.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EVANS, J. R.; MORJARIA, P.; POWELL, C. Vision sreening for
correctable visual acuity deficits in school-age children and adolescentes.
Cochrane Database of Systematic Reviews, 2018.
HENDRICKS, T. J. W.; DE BRABANDER, J.; VAN DER HORST, F. G.;
HENDRIKSE, F.; KNOTTNERUS, J. A. Relantionship between habitual
refractive erros and headache complaints in schoolchildren. Optomery and
Vision Science, v. 82, n. 2, p.137-143, 2007.
KIRAG, N.; TEMEL, A. B. The effect of an eye health promotion program
on the health protective behaviors of primary school students. J. Educ.
Health Promot., v. 7, n.37, 2018.
PAUDEL, P.; RAMSON, P.; NADUVILATH, T.; WILSON, D.;
PHUONG, H. T.; HO, S. M.; GIAP, N. V. Prevalence of vision impairment
and refractive error in school children in Ba Ria – Vung Tau province,
Vietnam. Clin. Exp. Ophthalmol., v. 42, n. 3, p.217-226, 2014.
ROCHA, M. N. A. M.; DE ÁVILA, M. P.; ISAAC, D. L. C.;
MENDONÇA, L. S. DE M.; NAKANISHI, L.; AUAD, L. J. Prevalência
de doenças oculares e causas de comprometimento visual em crianças
atendidas em um centro de referência em oftalmologia do centro-oeste do
Brasil. Revista Brasileira de Oftalmologia, v.77, n.4, p.225-229, 2018.
ROTH, Z.; PANDOLFO, K. R.; SIMAN, J.; ZOBAL-RATNER, J.
Headache and refractive erros in children. J. Pediatr. Ophthalmol.
Strabismus, v. 51, n. 3, p.177-179, 2014.

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