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O Valor da Depressão

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“A depressão pertence à psicopatologia. Pode ser severa e incapacitante, e
durar a vida inteira, mas, nos indivíduos relativamente saudáveis, geralmente e
um estado de humor passageiro. No final, a depressão, fenômeno comum e
quase universal, se relaciona com o luto, com a capacidade de sentir culpa e
com o processo de maturação. A depressão sempre implica a força do ego;
assim, tende a sumir e a pessoa deprimida tende a se recuperar para a saúde
mental”.

Winnicott

Winnicott tem um jeito muito próprio de escrever, sempre partindo da


experiência clínica e baseado na sua forma pessoal de entender os fenômenos.
Apesar de discordar de várias ideias de Freud e de Klein, ele não ignorou a
importância para a Psicanálise da herança que foi deixada por eles. Não é diferente
em relação ao entendimento da depressão.
Para a psicanálise clássica a depressão estaria ligada ao medo da perda do
objeto e a consequente identificação ou reparação da agressividade. O pensamento
de Winnicott é mais complexo e paradoxal. Embora reconheça os aspectos
psicopatológicos da depressão, e todos os riscos relacionados a eles, inclusive o
suicídio, ele também ressalta o valor e a importância da aquisição da capacidade de
deprimir no desenvolvimento emocional. Para Winnicott a depressão é universal e
está presente em todos os indivíduos saudáveis. E está ligada à capacidade de
suportar o sofrimento ligado à culpa.
Lembrando que Winnicott foi supervisionando de Melanie Klein durante
cinco anos, entre 1935 e 1940. E foi em 1935 que Melanie Klein escreveu o texto
“Uma Contribuição à Psicogênese dos Estados Maníaco Depressivos, um divisor de
águas no desenvolvimento do pensamento de Klein, onde ela apresenta pela

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primeira vez um conceito inteiramente novo que ela chamou de “Posição
depressiva”.
Nessa época Winnicott estava próximo de Klein, sofrendo sua influência, pelo 2
menos parcialmente, influência esta que durou um certo tempo. Winnicott considera
que o trabalho de Klein sobre a posição depressiva foi a maior contribuição dela
para a psicanálise e revela toda sua genialidade. Entretanto, ele nunca gostou da
palavra depressão, e muito menos com do conceito de posição depressiva, para
explicar a organização emocional nos primeiros tempos da vida da criança. Quando
ele escreveu sobre este assunto preferiu utilizar o termo concernimento, em
substituição ao conceito de posição depressiva, tendo sempre como base a sua
própria teoria do desenvolvimento emocional primitivo.
Para Winnicott o espectro da depressão é bastante amplo. Pode estar mais
próxima da neurose ou da psicose. Vai desde manifestações normais, as depressões
puras, até quadros que ele designou como “quase psicóticos”, as depressões
impuras. A depressão pura está relacionada à saúde, é um sentimento universal de
tristeza que tem um aspecto saudável, um valor. Nessa linha de raciocínio ele retira
esse grupo das depressões do âmbito da psicopatologia e as insere no contexto do
desenvolvimento emocional normal. Já as depressões que ele chamou de impuras
seriam patológicas e fazem da depressão uma entidade mórbida. Ele fala de sete
categorias das depressões impuras.
Vamos começar falando da depressão pura e porque ela teria valor.
A proposta está baseada, principalmente, na ideia que para uma pessoa possa
deprimir é necessário que tenha atingido um certo grau de amadurecimento e de
integração do ego, no sentido de se sentir responsável por seus impulsos agressivos.
Ou seja, um grande caminho no desenvolvimento emocional foi percorrido até o
estágio do concernimento e já foram feitas inúmeras aquisições como o
estabelecimento de uma certa força do ego, uma relativa estabilidade do self, a
capacidade de concernimento e de percepção da ambivalência.
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Nas palavras de Winnicott: “Entrar em depressão representa uma aquisição e
implica um grau bem elevado de integração pessoal e também aceitação da
responsabilidade por toda a destrutividade vinculada ao ato de viver, à vida
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instintiva e à raiva decorrente da frustração”.
Winnicott ofereceu outra perspectiva para a observação dos fenômenos
depressivos quando propôs que a origem da depressão está associada ao estágio do
amadurecimento que ele chamou de concernimento, onde a tarefa fundamental do
bebê é lidar com as tensões instintuais reconhecidas como pertencentes a si mesmo
paralelamente aos sentimentos e afetos relativos às fantasias conscientes e
inconscientes decorrentes do relacionamento com a mãe, recentemente descoberta
como pessoa separada.
Na depressão pura é menor a dificuldade em reconhecer e assumir esses
conflitos do mundo interno, que são toleráveis e cuja resolução pode ser postergada
sem o uso de mecanismos de defesa massivos para se justificar ou se livrar mais
rapidamente do desconforto. Existe também uma maior capacidade de separar fatos
e fantasias, e da capacidade de tolerar a destrutividade, bem como a capacidade para
suportar a ambivalência na depressão pura. Em resumo, quando o indivíduo atingiu
o estágio do concernimento e, portanto, da experiência de depressão, o fato de poder
tolerar os conflitos aumenta as chances uma atitude criativa como resolução.
Podemos dizer que a ideia central de Winnicott a respeito da experiência da
depressão é que ela, por mais intolerável que seja, é sinal de saúde, porque revela
que a unidade da personalidade foi alcançada. Ele defende que, mesmo nos casos
nos quais uma pessoa deprimida apresenta um quadro clínico psiquiátrico e
distúrbios afetivos severos, a integração está assinalada pelo humor depressivo e
pelas defesas antidepressivas, que são um claro indício de um certo estado de
maturidade e força do ego. Afirma Winnicott: “a depressão, mesmo que terrível,
tem que ser respeitada como evidência de integração pessoal”

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Mas as depressões puras só podem acontecer quando, como gosta de dizer
Winnicott, tudo dá certo. Se as etapas mais primitivas do desenvolvimento não
acontecem de forma satisfatória podem acontecer as depressões impuras.
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Winnicott denominou impurezas as imaturidades contidas nas integrações,
resultantes de adiamentos ou distorções no amadurecimento em razão da
necessidade de o bebê precisar reagir às intrusões ambientais ao invés de ser,
contexto no qual a doença psicótica, que inclui vários tipos de depressão, e o falso
self se organizam.
O problema da depressão impura está no fato de ela não poder ser
experienciada como um aspecto de fortalecimento da integração e totalidade da
pessoa e do enriquecimento das relações entre o mundo pessoal/interno e a realidade
compartilhada. Isso acontece porque a incapacidade de tolerar a destrutividade faz
com as tensões geradas na realidade interna evoquem o temor de que a integração do
eu e/ou da unidade psicossomática sejam rompidos.
Ocupar-se desses temores gera um estado de baixa vitalidade e de inibição
persistente dos instintos. Esse estado favorece a ocorrência de confusão interna, que
dificulta a separação entre fatos e fantasias e gera culpa intolerável em relação às
mais variadas experiências. A baixa vitalidade permanente também retira a
espontaneidade e limita o intercâmbio entre o mundo interno e externo e a riqueza
da experiência do viver compartilhado.
No âmbito das depressões impuras ele inclui todas as pessoas que tiveram o
amadurecimento perturbado e distorcido, acarretando problemas na estruturação da
personalidade, de modo a ser possível verificar aspectos esquizóides evidentes ou
até mesmo um distúrbio neurótico encobridor de uma estrutura psicótica. Ainda que
se possa observar o amadurecimento em razão da integração da unidade
psicossomática, as distorções na estrutura da personalidade e as dificuldades
relativas à consolidação do senso de ser e de existir no estágio da dependência

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relativa contribuem para que diferentes distúrbios depressivos e defesas
antidepressivas se organizem.
São sete as categorias de depressão impura para Winnicott: 5

Depressões esquizóides. Os fracassos da organização do eu que trazem uma


ameaça de desintegração. É uma ameaça, não a desintegração de fato, o que indica
que uma certa organização do eu ainda se mantém. As defesas são do tipo mais
primitivo, como a cisão, despersonalização, sentimentos de irrealidade, falta de
contado com a realidade interna.
Delírios persecutórios: Pessoas que pertencem a esta categoria tem uma
estrutura de eu que até suporta a depressão, porém, se defendem do conflito interno
projetando-o. Falando de outra forma: quando o indivíduo não consegue lidar com o
mal interno porque o ego não tem força para sustentar o humor depressivo, a
perseguição passa a ser útil porque coloca o mau fora;
Hipocondríacos: O alívio das tensões internas vem em termos hipocondríacos,
onde a destrutividade interna é colocada no corpo, seja no delírio de doença ou nos
desenvolvimentos de doenças somáticas;
Hipomania: a impureza desta categoria se expressa pela hipomania, que em
psicanálise é denominada de defesa maníaca. Neste quadro existe depressão, mas ela
é negada. Há uma substituição dos movimentos depressivos por movimentos
excitados, mas a depressão sempre retorna. A tristeza, a inércia, a sensação de peso,
os desânimos são substituídos pelos seus opostos, como a vivacidade, leveza,
atividade e outros. Esses são quadros bipolares.
Oscilação maníaco-depressiva: Há uma prevalência da dissociação entre os
estados depressivos e maníacos. A dissociação entre estes dois estados aumenta a
ilusão onipotente de que o sujeito tem o controle de tudo. E em cada oscilação de
humor, o paciente não está em contato com a condição relativa à oscilação contrária.

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Exagero das fronteiras de ego: Acontece quando o indivíduo se vê tomado
pelo medo da irrupção de mecanismos esquizoides de divisão. O resultado clínico é
uma robusta organização da personalidade num padrão depressivo, que pode
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persistir e se incorporar à personalidade e que socialmente é visto como um jeito de
ser da pessoa.
Melancolia: Quadro no qual há uma espécie de “retorno do reprimido”, em
que o ódio e a destruição existem, mas estão sob controle e o que aparece é um
estado de mal humor antissocial e destrutivo. Na melancolia o sujeito perde a noção
de tempo porque não existe futuro. O presente é para sempre. A melancolia é aquela
que contém o maior grau das impurezas da depressão.

Referências bibliográficas

Phillips, Adam. Winnicott. São Paulo, Aparecida, Ideias & Letras; 2006.
Winnicott, D. W. O Valor da Depressão. In: Tudo começa em casa. São Paulo, Martins Fontes;
1999.

--------------------- A Família Afetada Pela Patologia Depressiva de Um ou Ambos os Pais. In: A


Família e o Desenvolvimento Individual. São Paulo, Martins Fontes; 2001.

IDAL, Manola e LOWENKRON, Theodor. Sobre a depressão pura. Rev. bras. psicanál [online].
2008, vol.42, n.1 [citado 2020-04-23], pp. 52-59 . Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-
641X2008000100006&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0486-641X.

Moraes, Ariadne Alvarenga de Rezende Engelberg. A contribuição winnicottiana para a clínica


teoria e a clinica da depressão. Puc/São Paulo, 2005

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