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LEONARDO VINÍCIUS BRISOLA BARBOSA 2018

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T25 – HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA RÚSSIA NOS


SÉCULOS XIX E XX

Guerras Napoleônicas. O território onde hoje se encontra a Federação Russa, até o ano
de 1800, havia passado por diversos governos e sistemas, mantendo-se pela maior parte
do tempo, e inclusive, adentrando o século XIX com um sistema muito próximo ao
feudalismo, usando como base a mão de obra servil e a vassalagem para a família
imperial, os Romanov. Alexandre I, czar entre 1801 e 1825, ainda seguindo os passos de
sua predecessora, Catarina I, a Grande, aderia aos preceitos do absolutismo esclarecido e
tentou centralizar a administração do país. Seu reinado foi marcado pelas guerras
napoleônicas, e sua vitória foi considerada simbólica para a história do império russo,
uma vez que a vitória contra Napoleão e a ocupação contra a França lhe deram muito
prestigio e liderança internacional durante o Congresso de Viena em 1815 e na criação da
Santa Aliança. Morreu em 1825, vítima de um atentado terrorista contra a monarquia.
Início da historiografia russa. Historiador com uma grande bagagem cultural adquirida
através de viagens pela Europa entre 1789-90, Nikolai Karamzin, com o incentivo de uma
pensão oferecida pelo governo, escreveu a História do Estado Russo em doze volumes,
dando a ele a mitológica alcunha de “primeiro historiador russo”. Sem dar muita
importância ao senso crítico, e encarando a história mais como uma narrativa composta
por heróis do que por uma massa populacional, Karamzin enxerga a história da Rússia
como tendo sua própria glória, sem precisar se rebaixar perante a Europa Ocidental,
portanto, Karamzin enxerga a história da Rússia de uma perspectiva que pode ser
considerada “eslavófila”. Entre seus sucessores estiveram Polevoy e Pogodin.
Guerra da Crimeia. Conhecido como “czar de ferro”, Nicolau I governou entre 1825 e
1855. Por seu governo ter coincidido com uma época de grandes movimentos
revolucionários na Europa, e temendo que essas revoluções afetassem seu poder, Nicolau
acabou por se tornar um imperador consideravelmente mais conservador e menos
ilustrado que seus predecessores. Em sua época, o exército russo se tornaria o maior da
Europa em quantidade de soldados, contudo, ao travar a Guerra da Crimeia (1853-56)
contra exércitos mais desenvolvidos, como os da Inglaterra e da França, os problemas da
falta de eficiência e atraso das tecnologias militares vigentes na Rússia, foram
escancarados para toda a população europeia e russa. A Guerra da Crimeia iria se mostrar
muito importante por evidenciar que a Rússia, apesar de na época ser uma grande potência
econômica e militar, mostrava sinais de estar consideravelmente atrasada em relação aos
países mais desenvolvidos da Europa Ocidental, fato que se tornaria um fator decisivo em
sua história intelectual a partir de então.
Eslavófilos e ocidentalistas. As décadas de 30 e 40 foram palco de grandes debates na
sociedade russa sobre como o estado deveria reagir à suas falhas em se adequar aos
desenvolvimentos do Ocidente, e com um fortalecimento ainda maior desses debates após
a publicação da primeira Carta Filosófica de Peter Chaadayev, dois grandes
posicionamentos se fortaleceram: os ocidentalistas e os eslavófilos. Contra o atraso da
igreja ortodoxa (geralmente a favor do catolicismo), contra os barbarismos da sociedade
russa e inspirado na tecnologia e no estilo de vida dos países da Europa Ocidental, o
ocidentalismo, representado por autores como Belinskii e Granovskii, era contra o
czarismo e a favor de uma rápida modernização forçada da Rússia, em moldes
inteiramente ocidentais. Já eslavófilos como Khomiakov, os irmãos Aksakov e os irmãos
Kireevskii, idealizavam características que destacavam o povo russo dos demais, como a
ortodoxia cristã, as instituições da velha Moscou, a obediência e a harmonia entre o czar
e o povo. Durante esse período, ambas as escolas criticavam Nicolau I, em decorrência
principalmente de seu autoritarismo e sua ineficiência em lidar com os problemas que
afligiam a Rússia.
Abolição da servidão. Após a morte de Nicolau I em 1855, o maior legado deixado por
seu filho, Alexandre II, o “czar libertador” (reinou entre 1855-81), foram as suas reformas
nos sistemas jurídicos e agrícolas da Rússia, primeiramente moderadas, e posteriormente
mais radicais. Responsável pela lei de 1861, Alexandre libertou todos os camponeses de
suas obrigações feudais, trocando-as por obrigações fiscais formais, que eram
representadas pelo endividamento causado pela obrigatoriedade da compra de terras de
seus antigos senhores após 1881. Foi também durante seu reinado que a autonomia local
foi incrementada, a partir da criação dos zemstva, que funcionavam basicamente como
câmaras municipais. Ampliou também a liberdade de imprensa e os transportes
ferroviários, trazendo grandes progressos à cultura e economia durante esse período, além
disso, foi responsável por uma grande expansão territorial russa na Ásia Central. Sendo
confrontado com movimentos revolucionários anti-monarquistas e a favor de reformas
rurais, Alexandre se recrudesceu e voltou-se aos conservadores para se proteger, o que
acabou apenas contribuindo ainda mais com a insatisfação geral da população, resultando
em seu assassinato, em 1881.
Solovyev e Klyuchevsky. Sergey Solovyev (1820-79), determinado em acabar com as
periodizações na história da Rússia, como “o apanágio”, e o “período mongol”,
considerando-as enganadoras e erradas, acreditava que o historiador deveria abraçar o
passado como um todo e não dividi-lo arbitrariamente. Assim, Solovyev publicou em
1851, o primeiro de vinte e nove volumes da História da Rússia, baseando-se
exclusivamente em material de arquivos majoritariamente nunca antes explorados. Após
sua morte, seu aluno e sucessor, Vasily Klyuchevsky (1841-1911), pegou para si a tarefa
de refinar todo o material trabalhado por Solovyev, tornando-o mais literário e acadêmico,
adicionando suas características próprias de valorização da população camponesa, de uso
abrangente da psicanálise, da quebra de imagens idealizadas mantidas por muitos
eslavófilos quanto ao passado russo e aprofundando muito mais as características
econômicas e sociais dos trabalhos de seu mestre. Preenchendo os espaços vagos de
Klyuchevsky, um outro historiador de grande importância a seguir os ensinamentos de
Solovyev e digno de ser mencionado, foi Pavel Nikolayevich Milyukov.
Historiografia federalista. Os escritos sobre a história da Rússia haviam se debruçado,
até então, quase que exclusivamente sobre a “Grande Rússia”, e consequentemente
acabaram focando muito mais nas questões pertinente à Moscou e suas proximidades. Os
historiadores que decidiram romper com esse favoritismo, os chamados “federalistas”,
davam maior enfoque à importância das minorias étnicas e nacionais dentro do império,
notadamente os povos da Ucrânia, do Báltico, da Germânia, dos Urais e da Sibéria. Entre
a vanguarda dessa escola, esteve Nikolai Kostomarov (1817-85), que, ao preferir dar
ênfase maior à etnografia do povo ucraniano com grande entusiasmo, acabou enfurecendo
os eslavófilos e o governo, sendo então expulso da universidade onde lecionava. A figura
mais notável entre os federalistas, no entanto, foi Mikhail Hrushevsky (1866-1934), que
assim como Kostomarov, dava grande ênfase à diferenciação étnica entre os “pequeno-
russos” (ucranianos), “branco-russos” (bielorrussos), e “grande-russos”, os russos de
Moscou e São Petersburgo.
Revolução de 1905. Após o assassinato de seu pai, Alexandre III, tendo como base as
ideias de nacionalismo, autocracia e ortodoxia, manteve um governo altamente repressivo
e conservador. O reinado de seu sucessor, Nicolau II, iniciou-se em 1894, já de forma
conturbada. Durante o primeiro período de seu governo, que foi até 1905, as bases de seu
regime se firmaram sobre um abuso da autocracia, numerosas perseguições a minorias,
um regime rígido e burocrático e um sistema policial centralizado, mantendo grande parte
da tradição de seu pai igualmente controlador. Esse ambiente opressivo e inflexível
nutrido pelo seu governo, aliado à depressão de 1903-5, às más colheitas, às humilhantes
derrotas militares que o país estava sofrendo na Guerra Russo-japonesa de 1904-5,
criaram um clima propício para a revolta que desembocaria na Revolução de 1905. Em
meio a gigantescas greves, protestos e amotinações, o regime czarista não viu outra opção
a não ser prometer a elaboração de uma constituição, mais direitos de liberdade e um
parlamento nacional (duma), eleito por sufrágio amplo e com direito de veto ao
imperador. Em alguns meses, no entanto, o movimento havia diminuído sua potência e o
governo conseguiu se impor e sufocá-lo, reprimindo violentamente suas revoltas e
prendendo e executando diversos de seus líderes. Trotsky, um importante líder durante o
movimento, argumentou que a principal fraqueza dos Sovietes (órgãos governamentais
independentes que surgiram contra o regime durante as revoltas) foi não ter conseguido
estabelecer vínculos mais firmes com a massa camponesa da população. Além disso, uma
conclusão relativamente rápida e digna para a guerra contra o Japão, as concessões dadas
por Nicolau II que dividiram os liberais mais radicais dos moderados e a falta de
organização dos revoltosos contribuíram para a continuação da monarquia por ainda mais
alguns anos.
Monarquia constitucional e reformas de Stolypin. Nicolau II, após sobreviver como
czar após os acontecimentos de 1905, tentou minimizar o máximo que pode das perdas
que sua autocracia havia sofrido, não cumprindo suas promessas e concessões sempre que
possível. No entanto, a experiência de 1905 deixaria grandes marcas para o futuro, entre
elas, a experiência revolucionária e a liberdade de expressão temporária, e o
desenvolvimento dos movimentos socialistas marxistas do Partido Social Democrata, que
deu a luz à figuras como Lenin (líder dos bolcheviques revolucionários) e Plekhanov
(líder menchevique moderado). Durante o período entre a primeira e a segunda revolução,
uma figura acabou se destacando sob o governo de Nicolau II: o primeiro ministro
Stolypin. Responsável por tornar os partidos de esquerda ilegais, neutralizar o fervor
revolucionário e tornar a duma mais cooperativa com os anseios do czar, Stolypin realizou
uma reforma agrária que enfraqueceu fortemente a comuna rural russa (mir) e auxiliou
no boom industrial que tornou a Rússia no quinto maior PIB do mundo. Apesar disso, o
estourar da Primeira Guerra Mundial iria escancarar o despreparo do czar e o atraso da
técnica militar russa (tema controverso desde a derrota na Guerra da Crimeia), que mesmo
tendo começado a guerra com otimismo e contribuindo com mais de 15 milhões de tropas,
ou 37% do poderio das tropas aliadas, foi constantemente derrotado pelo exército alemão,
trazendo muitas baixas e insatisfação paras todas as camadas da população.
A questão do feudalismo russo. Até a segunda metade do século XIX, a predominância
dos eslavófilos na historiografia russa fazia com que a teoria mais aceita quanto à servidão
na Rússia fosse a de que ela teria sido uma instituição nacional particular, diferente de
qualquer experiência do Ocidente, fato que contribuía para o argumento de que
instituições avançadas europeias não poderiam ser aplicadas à especificidade da história
russa. Em 1898, no entanto, Nikolai Pavlov-Silvansky (1869-1908), publicou sua obra
Feudalismo na Rússia, argumentando a favor de que a servidão na Rússia nada mais do
que se espelhava à servidão vivida durante o feudalismo da Europa Ocidental, e que as
teorias de que a Rússia não poderia se basear em modelos europeus para se desenvolver
eram falhas, uma vez que há poucas centenas de anos, ambos estavam se desenvolvendo
igualmente, e uma vez que a Europa Ocidental se livrou do feudalismo, a Rússia deveria
seguir seus passos.
Historiografia marxiana. Alargando ainda mais os conceitos de Silvansky, a escola de
pensamento seguidora de Karl Marx via a história assim como seu mestre: um processo
com etapas econômicas e sociais rígidas e hierárquicas, sendo o comunismo a última e
única fase perfeita. Um dos primeiros, e definitivamente o mais importante expoente
dessa escola, Mikhail Pokrovsky (1868-1932) usou da teoria marxista para justificar a
necessidade de uma revolução de cunho socialista na Rússia, que acabaria finalmente com
o jugo do atraso feudal das instituições czaristas, ultrapassando a própria Europa
Ocidental na corrida desenvolvimentista, ao consolidar uma revolução socialista. Com os
acontecimentos que iriam ocorrer em 1917, Pokrovsky fundaria a escola marxista de
história da Rússia e deixaria seus diversos discípulos encarregados de aprofundar a nova
História Soviética.
Revolução de Fevereiro de 1917. O peso da Primeira Guerra, aliado à falta de eficiência
e estabilidade interna com a constante troca de ministros do governo de Nicolau II, gerou
o clima para uma nova revolução, dessa vez, forte o suficiente para finalmente acabar
com o sistema czarista. Um movimento que começou como uma greve geral em
Petrogrado, fortemente reprimida pelo governo, conseguiu apoio de diversos setores da
sociedade, incluindo soldados que desertaram por não concordarem com os massacres
promovidos contra os trabalhadores e todas as facções políticas com exceção da direita.
A partir do suposto fim de restaurar a ordem na capital, esse movimento formou um
governo provisório e conseguiu pressionar Nicolau II a abdicar de seus poderes, o que
levaria, eventualmente, ao fim da dinastia Romanov no poder da Rússia. Segundo
Trotsky, após o golpe, o czarismo seria substituído por um governo dual entre uma
burguesia governamental fraca demais para se manter no poder, e o Soviete de
Petrogrado, um órgão dirigido por proletários que permitiu que a burguesia governasse.
Diante da fraqueza do governo provisório, o Soviete tomaria o controle da capital e do
exército, espalhando sovietes para outras cidades da Rússia, e a chegada de Lenin
incentivaria uma posição mais agressiva do Soviete, que, segundo ele, deveria retirar
qualquer apoio ao governo provisório burguês, com os camponeses e proletários no dever
de tomar as terras e as fábricas para si próprios.
Revolução de Outubro de 1917 e Leninismo. Após um período de ameaça de um golpe
de estado vindo do General de direita, Lavr Kornilov, os bolcheviques, liderados por
Lenin e com apoio de Trotsky, se radicalizaram em consonância com o descontentamento
da população, e aproveitaram um momento de descuido vindo do governo provisório no
controle dos exércitos e nas eleições para colocar o poder do governo do país
completamente nas mãos do Soviete. Em outubro de 1917, Lenin tornou-se presidente do
Conselho de Comissários do Povo, conclamou paz imediata na Grande Guerra, confiscou
todas as terras dos latifundiários e da Igreja, e decretou o fim da propriedade privada da
terra. O novo líder de facto da RSFSR, Vladimir Lenin, foi o fundador da ala dos
bolcheviques, em 1903, e apesar de ter permanecido em terras estrangeiras até 1917, foi
um grande mentor das ideias marxistas e revolucionárias desde a revolução de 1905,
trazendo diversas contribuições teóricas, como a necessidade de uma aliança operário-
camponesa, a ideia do centralismo democrático e a ideia de que a revolução socialista
poderia vir logo após a revolução democrático-burguesa, sendo essa última teoria posta
em prática por ele mesmo em 1917.
Historiografia da Revolução Russa: primeiras leituras. O primeiro movimento com o
intuito de analisar os acontecimentos da Revolução de Outubro de 1917 ocorreu
concomitantemente com a revolução. Com uma escrita de cunho jornalístico, autores
como John Reed e Louise Bryant, e memorialísticos, como Aleksandr Kerenskii e Pavel
Miliukov, essa prematura historiografia teve como principal característica sua tendência
partidária e seus poucos procedimentos históricos. Já nos anos 1920, principalmente após
o fim da guerra civil, destacaram-se três grandes esferas no debate historiográfico: os
debates internos durante a NEP, a historiografia de emigrantes branco-russos e
mencheviques no exterior, e os escritos jornalísticos e políticos, que ainda predominavam
no Ocidente. O principal debate interno na URSS dessa época foi entre a teoria da
revolução permanente, de Trotsky, contra a teoria do socialismo em um país só, de Stalin.
Guerra Civil e comunismo de guerra. Logo após a tomada do poder pelos bolcheviques
em outubro de 1917, Lenin, Trotsky e os outros líderes soviéticos ainda tiveram que
enfrentar um período de três anos de grande instabilidade em uma guerra civil contra os
“brancos” (conjunção de grupos heterogêneos entre monarquistas, socialistas moderados,
nacionalistas tchecos e direitistas, entre outros), e a invasão de diversos países
estrangeiros como a França, Reino Unido, Japão e Estados Unidos, além da guerra russo-
polonesa, onde a RSFSR acabou tendo que assinar um tratado de paz desfavorável. Todas
essas investidas militares foram contidas graças a disciplina e efetividade da Guarda
Vermelha, o exército revolucionário organizado por Trotsky para a revolução. Durante
esse período de incertezas, o Partido Bolchevique não tardou em começar a repressão
contrarrevolucionária a fim de impedir mais dissensões internas no partido, e
progressivamente, todos os partidos além do bolchevique foram proibidos e seus líderes
perseguidos, tudo através dos órgãos de segurança e repressão do estado, como a
CHEKA, e posteriormente, a GPU e NKVD. O período da guerra civil foi também
marcado por um programa nacional de “comunismo de guerra”, que, ao envolver uma
nacionalização e estatização em massa, requisições de grãos e mobilização da força de
trabalho, acabou criando um estado que basicamente emulava o comunismo, no entanto,
o catastrófico nível da produção desse período e a desorganização econômica que ele
causou levaram à criação de uma política diferente após o final da guerra.
A Nova Política Econômica. A NEP (1921-1928), plano apoiado principalmente por
Lenin, almejava colocar o Estado concentrado apenas nos setores mais estratégicos e
importantes da economia do país, como a indústria pesada, os bancos, entre outros,
deixando assim para a iniciativa privada a pequena e média produção, colhendo dela um
imposto em grãos. A NEP, no entanto, apesar de estimular a agricultura e indústria leve
e ter contribuído grandemente com o crescimento econômico da URSS, foi o suficiente
apenas para a recuperação da economia pré-guerra, e, além de aumentar as desigualdades
econômicas entre os kulaks (camponeses abastados) e os camponeses pobres, falhava
também brutalmente no incentivo à indústria pesada e sofisticada, muito importante
militarmente para a época e um dos pré-requisitos para a independência da Rússia quanto
aos países capitalistas hostis.
Grandes debates internos: Trotsky, Stalin e Bukharin. O fim da guerra civil em 1921
marcou, além do início da NEP, o fim dos partidos não-bolcheviques na URSS, a partir
de uma resolução promulgada por Lenin que previa a proibição de frações dentro do
partido, perseguindo assim diversos grupos que possuíam ambições sindicalistas e
anarquistas (como o influente grupo Oposição Operária). Muitos desses grupos de
oposição lutavam principalmente contra a centralização e burocratização do poder
governamental, que segundo eles, estava gradualmente deixando de representar fielmente
as massas proletárias e camponesas. Apesar dos esforços centralizadores de Lenin, em
1924, após sua morte, quatro grandes grupos pareciam disputar o seu legado: o de Stalin,
o de Trotsky (mais à esquerda), o de Bukharin (mais moderados), e o de Zinoviev e
Kamenev (de Leningrado). Ainda durante a década de 20, enquanto ocorriam os debates
sobre a NEP, esses grupos já haviam se mostrado discordantes: Trotsky esteve ao lado
dos “super-industrializadores” (contra a NEP), que defendiam um processo de
industrialização acelerada antes da estabilização da agricultura, enquanto que Bukharin
argumentava que era necessário primeiramente incentivar os agricultores a produzirem
mais a fim de usar seus impostos para financiar a industrialização (a favor da NEP), Stalin,
por sua vez, manteve-se na época equilibrando-se entre os dois lados. Já no período da
morte de Lenin, Stalin se uniria com Zinoviev e Kamenev a fim de isolar Trotsky para
concorrerem a liderança do partido, no entanto, isso deu impulso para Stalin consolidar
seu poder e se unir a Bukharin, expurgando ambos Zinoviev, Kamenev e Trotsky do
partido. Após derrotar a esquerda, Stalin passou a atacar seus próprios aliados defensores
da continuidade da NEP e do “socialismo internacional”, e ao derrubar finalmente seu
último oponente, Bukharin, Stalin ainda iria impor, surpreendentemente, um ritmo de
industrialização ainda mais forçado do que o defendido anteriormente por Trotsky.
Planos Quinquenais. A partir de 1928, Stalin determina que a NEP já havia concluído
seu papel de reconstrução da economia soviética e que agora seria necessário partir para
uma industrialização mais acelerada com os Planos Quinquenais (1928-1941). Tendo
como principal objetivo criar as bases da economia socialista, no período dos Planos
Quinquenais, partindo do princípio da coletivização da agricultura, criaram-se as
kholkozes (cooperativas de camponeses) e os sovkhozes (propriedades do Estado,
cultivadas por assalariados), enquanto a indústria pesada, eletrificação e siderurgia foram
priorizadas. Como resultado dessa política econômica defendida por Stalin, em 1937,
99% da terra cultivada e 93% dos camponeses já estavam “coletivizados”, reformas a
favor de maiores incentivos no trabalho e de valorização do individualismo haviam sido
implantadas, e nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, a URSS já havia alcançado sua
autossuficiência básica industrial e havia se tornado a segunda maior economia do mundo,
conforme idealizado pelos soviéticos mais otimistas. O Plano teve de ser pausado com o
início da Segunda Guerra.
Historiografia da Revolução Russa: década de 30. Durante essa época de apogeu
stalinista, grande parte dos debates presentes nas épocas anteriores, como o trotskismo e
a escola de Pokrovskii foram reprimidos e trocados por uma versão oficial aprovada por
Stalin do relato sobre a revolução bolchevique, o Kratkii Kurs (Breve Curso), que
pretendia “retirar as distorções oposicionistas da história”. Já no Ocidente algumas obras
de cunho historiográfico já começavam a despontar, sendo The Russian Revolution, 1917-
1921 de Willy Henry Chamberlin a maior e mais importante, e que apesar de não ter sido
escrita por um historiador, foi a maior organização de compilados de informações que se
possuía sobre a URRS, que na época eram extremamente difíceis de se adquirir.
Segunda Guerra e pós-Segunda Guerra. Com o início da Segunda Guerra Mundial, a
União Soviética de Stalin e a Alemanha Nazista de Hitler firmam um pacto de não-
agressão, onde se partilhava a soberania do Báltico e do Leste Europeu com a simbólica
divisão da Polônia ao meio. Em 1941, no entanto, Hitler cometeu o erro tático de tentar
invadir a URSS durante o inverno e acabou sofrendo uma decisiva contraofensiva que
reestabeleceu moralmente a União Soviética como uma potência mundial. Em 1945, na
Conferência de Yalta, Roosevelt, Churchill e Stalin, ao se reunirem para decidir os
desígnios da ordem mundial pós-Segunda Guerra, decidiram que a Europa Oriental se
manteria sob a esfera da URSS. Esse evento, que se passa de maneira supreendentemente
parecida com os acontecimentos das Guerras Napoleônicas, indica simbolicamente que a
Rússia entrava uma vez mais para o seleto grupo dos países mais influentes do mundo, e
isso iria trazer grandes consequências para a geopolítica mundial durante a segunda
metade do século XX.
Historiografia da Revolução Russa: o pós-Guerra. Após o fim da Segunda Guerra, a
historiografia sobre os acontecimentos de 1917 passa por um importante ponto de virada
no quesito crítico e metodológico, com as escolas soviéticas e ocidentais. No Ocidente,
uma das mais influentes escolas historiográficas sobre a URSS se dava no âmbito da
guerra fria e dos cold warriors, que travavam uma guerra ideológica contra a União
Soviética, gerando uma visão majoritariamente negativa e muito baseada em uma história
contada a partir do ponto de vista dos grandes líderes. Entre seus principais autores
estiveram Leonard Schapiro, Hugh Seton-Watson e Adam Ulam.
Desestalinização. Após a morte de Stalin, em março de 1953, houve um breve período
de efervescência dentro do partido, onde Malenkov subiu ao topo do poder soviético, no
entanto, já no mês de setembro, Nikita Khrushchev torna-se o primeiro-secretário do CC
e passa a governar de facto a União Soviética de acordo com seus desejos. Quanto às
políticas de relações exteriores de Khrushchev, logo nos primeiros anos de seu governo,
foi criado o Pacto de Varsóvia em oposição a OTAN, houve a reconciliação entre a URSS
e a Iugoslávia de Tito e, principalmente, durante o XX Congresso do Partido, Khrushchev
se voltou contra Stalin, denunciando o terror que seu período teria instalado dentro do
partido, causando grande convulsão em todos os movimentos comunistas que apoiavam
Stalin e a URSS ao redor do mundo. A partir de relações desiguais e muitas vezes
conturbadas, a URSS manteve sua esfera de influência sobre diversos países no Leste
Europeu durante a Guerra Fria e continuou progressivamente reformas de
descentralização na administração e incentivos na agricultura. O período posterior à
deposição de Khrushchev, com Brezhnev entre 1964 e 1982, apesar de estagiar uma
reabilitação parcial da figura de Stalin, manteve e radicalizou as reformas
descentralizadoras do poder econômico, dando cada vez mais uma maior autonomia e
mais estímulos às empresas privadas.
Historiografia da Revolução Russa: os anos 60. Os anos 60, especificamente no fim da
década, foi um momento de diversas convulsões sociais nos países do Ocidente, que
formavam fortes grupos de protesto contra a Guerra do Vietnã e a ideologia da Guerra
Fria. Esse contexto, aliado à maior abertura dos arquivos da União Soviética para a o uso
de estudantes e pesquisadores estrangeiros, trouxe uma nova visão da Revolução de 1917,
que criticava principalmente a ortodoxia dos cold warriors e procurava traçar uma
história de cunho mais social e empática da Revolução. Alguns autores que seguiram
esses trilhos foram: Mark Mendel, Alan Wildman, Ronald Suny, Sheila Fitzpatrick,
Moshe Lewin, Alexander Rabinowitch, e Marc Ferro. Esse último, em sua obra La
Révolution de 1917, publicada exatos 50 anos após a revolução, dialogando bem com as
características dessa historiografia, fazia uma crítica a visão determinista da URSS, que
ignorava a importância das classes sociais e da radicalização das massas ocorrida em
1917. Enquanto isso, na própria URSS, a morte de Stalin traria um leve “degelo” nas
discussões e uma revisionismo controlado, com o pioneirismo de autores como E. N
Burdzhalov e Yurii Tokarev.
A Perestroika. O caráter descentralizador das reformas iria rapidamente entrar em
conflito com o caráter autoritário do sistema de governo da União Soviética, que até
então, era um Estado unipartidário em que as decisões políticas se encontravam
extremamente centralizadas e verticais, e onde cada vez mais aberturas econômicas foram
sendo concedidas pelo governo soviético cuja economia em plena estagnação desesperava
seus governantes.
Angelo Segrillo, em seu artigo As diferentes fases da Perestroika Soviética, argumenta a
favor de diferentes períodos de abertura da URSS, através da chamada “Perestroika”. No
período entre 1985 até 1987, o da ‘descentralização socialista’, é marcada a entrada de
Gorbachev no poder do secretariado geral do Partido Comunista da União Soviética e
suas políticas de aceleração da economia e do progresso técnico soviético. Usando sempre
de um discurso que privilegiava a visão de que as reformas adotadas seriam
imprescindíveis para o fortalecimento e desenvolvimento do socialismo na União
Soviética, Gorbachev pôs em prática o início da chamada perestroika econômica, em
defesa de um socialismo mais dinâmico, com uma economia bem menos centralizada, e
com maior autonomia para as iniciativas individuais e empresariais, a fim de recuperar
um desenvolvimento econômico a partir da evolução técnico-científica soviética.
A segunda fase, de transição entre a ‘descentralização socialista’ e a ‘economia de
mercado’, durou apenas entre o período de 1987-88 e foi marcada pela reconhecimento
de Gorbachev da insuficiência de uma perestroika econômica desacompanhada de uma
glasnost (transparência) e de uma perestroika política envolvendo todo o sistema
administrativo da URSS. O período foi marcado por grandes debates internos quanto a
liberalização ou não liberalização da economia. A terceira fase, de ‘economia de
mercado’, se passa entre 1989 e o primeiro semestre de 1990, e foi marcada pelas primeira
eleições com candidatos independentes legalizados, pelo maior esforço do estado em abrir
a economia para uma ‘de mercado’, pelos conflitos étnicos entre os países da URSS e
pelo baixo crescimento econômico, fatores que ajudavam a minar cada vez mais o poder
político e econômico do PCUS.
Na quarta e última fase, da ‘desintegração e reestruturação capitalista’, nos finais de 1990-
91, destacam-se a legalização da propriedade privada e partidos políticos além do PCUS,
a privatização (desestatização), o abandono da retórica socialista, os desentendimentos
entre os governos da Federação Russa e da URSS (Yeltsin vs Gorbachev), os movimentos
independentistas no Báltico e Cáucaso, e a catastrófica crise econômica. Todos esses
fatores auxiliaram na impossibilidade de se manter a União, culminando eventualmente
na criação da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) e na perda total de autoridade
da URSS. No dia 26 de dezembro de 1991, um dia após a renúncia de Gorbachev da
liderança do PCUS, é votada a extinção da União Soviética e adesão das federações ao
CEI.
A historiografia pós-sovética. Após a Perestroika e a queda do muro de Berlim
decretarem de uma vez por todas o fim da União Soviética, quatro principais escolas de
pensamento sobre a Revolução de Outubro se difundiram pelo mundo. A primeira,
inspirada pelos cold warriors, via, no fim do socialismo soviético, a prova de que o
Ocidente estava certo o tempo todo e reafirmava as alegações negativas de parte da
historiografia mais anterior. Em suas fileiras estavam autores como Richard Pipes, Robert
Conquest, e Martin Malia. O segundo caminho perseguido se inspirou na historiografia
revisionista mais recente, argumentando que os arquivos até então classificados
corroboravam para o entendimento da Revolução como um acontecimento plural e
complexo. Autores dessa escola, como Orlando Figes, Christopher Read e Rex Wade
aprofundavam mais a história social e tentavam fugir dos excessos da historiografia mais
tradicional. Uma terceira via, devido ao grande aumento de documentos disponibilizados
para pesquisa, passou a focar seus esforços em regiões específicas, alargando a
compreensão da vida social e política durante a Revolução. Contou com historiadores
como Donald Raleigh sobre o Volga, Michael Hickey em Smolensk e Sarah Badcock
sobre Kazan e Novgorod, entre muitos outros. O último caminho foi influenciado pela
incursão do pós-modernismo e da Virada Linguística nesse campo, com as obras de
autores como Orlando Figes, Boris Kolonitskii e Mark D. Steinberg, enfatizando questões
culturais e linguísticas em seus estudos.
Debates quanto ao colapso da URSS. Após o declínio e fim da União Soviética muitos
autores da ciência política, da economia e da história tentaram decifrar os motivos e as
causas que levaram para esse final trágico de abandono total da ideologia socialista e
desmembramento em diversos estados diferentes. Em sua obra Differing Interpretations:
Causes of the Collapse of the Soviet Union, Antony Kalashnikov traz uma boa
classificação para dividir os grupos que se debruçaram sobre essa questão. Os principais
fatores de colapso se dividem entre quatro categorias: econômicos, de nacionalidades,
político e sistêmico.
Os autores que preferem ver as razões econômicas, como Robert Knight e Victor
Kuznetsov, argumentam que os problemas econômicos do sistema planificado soviético
nunca foram corrigidos, havia uma baixa produtividade, um lento progresso da ciência e
tecnologia e um gasto militar excessivo que fizeram com que a economia deixasse de
crescer, levando eventualmente ao descontentamento em massa da população que
desejava o fim daquele sistema.
Já os autores que viam na causa da dissolução soviética as questões nacionais, tendiam a
focar mais nas políticas e estruturas do federalismo soviético e nos acontecimentos pós-
1985, que mostravam uma nova força dos movimentos nacionalistas e separatistas.
Autores como Edward Walke, Z.A. Stankevitch e S. V. Cheshko, viam na federação
soviética um sistema que emprisionava as diferentes etnias e nacionalidade em um
sistema centralizado, burocrático e opressor, o que impulsionou os movimentos a almejar
maior autonomia e até mesmo a independência.
A questão política, representada por autores como Nick Bisley, Yegor Ligachev,
enxergava a gradual falta de confronto externo como um fator que diminuiu a
legitimidade da necessidade de uma União, uma vez que ela era valiosa em um período
de guerra, mas em paz ela não trazia necessariamente grandes lucros. Além disso, os
autores apontam para problemas de coesão e fraccionamentos dentro do próprio partido,
causados por falhas políticas dos líderes soviéticos após Stalin, que também contribuíram
para o colapso.
A última linha de raciocínio encontrada nessa historiografia é a que enxerga que a derrota
do sistema soviético foi em razão da natureza falha de seu sistema. Essa tendência é
geralmente menos rigorosa academicamente e se sustenta argumentando que os fatores
citados acima eram algo necessariamente intrínsecos ao sistema soviético, e que, devido
a isso, esse sistema estava fadado à falha. George Neimanis, defensor dessa tese,
argumenta que, devido a esses problemas, restava à União Soviética apenas o uso de
propaganda e opressão física como meio de se legitimar dentro de um sistema inviável e
corrupto.
A União Soviética, apesar de ter acabado de uma maneira que extinguiu o poder político
e ideológico de seus líderes, deixou valiosas lições aos países do mundo, e o estudo de
seus percursos ainda são inestimáveis para o conhecimento e entendimento do
desenvolvimento histórico da humanidade.

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