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1 Introdução
O objetivo das notas de aula é orientar o aluno sobre os temos cobertos em sala de aula. De
forma alguma, substitui a leitura das referências indicadas no plano de ensino.
Como está em constante evolução, quaisquer comentários, críticas ou sugestões serão muito
bem vindos.
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2 Teoria do Consumidor
Nesse curso, estudamos a teoria da decisão individual. Como vimos na aulas introdutórias, o
problema do agente econômico se resume a escolhas diante da escassez de recursos. Assim, pre-
cisamos caracterizar o problema do consumidor sob a ótica econômica tradicional (abordagem
marginalista/neoclássica). Nesse sentido, faz-se necessário entender:
1. Como os agentes econômicos descrevem suas preferências (que são consideradas estáveis)
em relação a objetos disponíveis;
2. Dado que os objetos disponíveis são escassos (existem restrições financeiras, físicas, e
sociais/políticas), como isso se reflete em restrições às escolhas dos agentes.
De forma simples, podemos considerar que o problema do consumidor é o seguinte: Qual a me-
lhor cesta de consumo desejada (de acordo com suas "preferências/utilidade") que o consumidor
é capaz de consumir? Ser capaz de consumir significa ter recursos, especialmente financeiros,
que o permitam comprar os bens desejados ("restrição orçamentária").
• Preferências
Seja X ⊆ Rn+ o conjunto de todas as cestas que podem ser consumidas (cestas factíveis)
denominado por Conjunto de Consumo. Esse conjunto contém todas as possibilidades
de consumo que um agente pode vir a ter. Um elemento desse conjunto, x ∈ X, é chamado
de cesta de consumo e é representado por um vetor x = (x1 , x2 , ..., xn ). Por exemplo,
quando n = 2 e daí X ⊆ R2+ , sejam duas cestas de consumo denotadas por x = (x1 , x2 ) e
y = (y1 , y2 ), onde cada elemento do vetor representa a quantidade consumível de um bem
de consumo distinto, isto é, x1 e y1 representam diferentes quantidades de um mesmo
bem.
Precisamos definir como um consumidor pode exprimir sua preferência em relação a di-
ferentes cestas que lhe são apresentadas.
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Utilizamos uma relação binária denominada Relação de Preferências, representada
pelo símbolo , onde os desejos dos indivíduos se dão da seguinte forma: x é fracamente
preferível a y, x y, se para o indivíduo a cesta x é "pelo menos tão boa quanto"a cesta
y.
Dessa definição, decorrem o seguinte
Note que quando um consumidor, ao se deparar com duas cestas x e y, exprime a seguinte
relação de preferências x y, não podemos afirmar de pronto se a cesta x é indiferente a
cesta y ou se x é estritamente preferível a y!
Modelamos o comportamento de um indivíduo a partir de um conceito de escolha racio-
nal, isto é, queremos que o agente apresente uma certa noção de consistência entre suas
preferências. Para tal, adotamos dois axiomas: completude e transitividade.
Definition 2.1. Dizemos que uma relação de preferências () é completa se dadas
quaisquer duas cestas de consumo x e y ∈ X é possível compará-las, isto é, temos uma
das seguintes possibilidades:
1. x é preferível a y, (x y) ou
2. y é preferível a x, (y x) ou
3. x é indiferente a y, (x ∼ y)
Definition 2.2. Dizemos que uma relação de preferências é transitiva se dadas quaisquer
três cestas de consumo x, y e z ∈ X, se x é preferível a y e y é preferível a z, então devemos
ter que x é preferível a z.
Isto é, sob completude sempre é possível comparar quaisquer duas cestas e sob transi-
tividade, adicionamos um certo grau de consistência na ordenação das preferências do
indivíduo.
Definition 2.3. Dizemos que uma relação de preferências é racional se ela é completa
e transitiva.
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Remark. A Reflexividade, x ∼ x, é uma consequência direta dos axiomas da transitivi-
dade e da completude. Tentem como exercício demonstrar.
• Curvas de Indiferença
As curvas de indiferença são uma forma gráfica de descrever as preferências de um con-
sumidor. Seja X o conjunto de todas as cestas disponíveis de consumo. Definimos os
seguintes conjuntos:
A figura a seguir ilustra uma curva de indiferença, onde nos eixos temos as quantidades
consumidas do bem 1 e do bem 2. Todas as cestas de consumo que se localizam sobre a
mesma curva de indiferença são indiferentes para o consumidror.
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CCI(x), isto é, para qualquer y no conjunto de contorno inferior, temos que x é pelo
menos tão boa quanto y.
A transitividade das preferências implica em uma importante propriedade das curvas
de indiferença: duas curvas de indiferença distintas (que denotam diferentes níveis de
preferências) nunca se cruzam.
Demonstração: Sejam três cestas dadas por x, y e z. Assuma que duas curvas de indife-
rença distintas se cruzam e considere as cestas x, y e z, conforme gráfico abaixo, sendo
z a cesta que se encontra exatamente no cruzamento das curvas de indiferença. Nessa
situação, as cestas x e z pertencem a mesma curva de indiferença, que podemos denomi-
nar de C1 e, ao mesmo tempo, as cestas z e y pertencem a outra curva de indiferença,
denominada por C2 . Como, por hipótese, as curvas de indiferença representam níveis
distintos de preferência, podemos considerar que necessariamente x y.
Por outro lado, sob a hipótese de transitividade e pela definição de curvas de indiferença,
temos que, z ∼ y e x ∼ z. Mas então, x ∼ y. Isso é uma contradição!!
Portanto, na presença de transitividade das preferências, curvas de indiferença dis-
tintas não podem se cruzar. CQD.
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2. podemos construir um mapa de indiferença formado por todas as curvas de indife-
rença que representam níveis distintos de preferências (são também conhecidas como
curvas de nível).
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• Propriedades Adicionais
1. Desejabilidade
É razaoável questionar se, ao oferecermos uma maior quantidade de um, ou mais
bens, de uma cesta a um consumidor, qual seria a preferência desse consumidor em
relação a essa nova cesta. Estritamente preferível ou indiferente? Por exemplo,dadas
duas cestas distintas (x1 , x2 ) e (y1 , y2 ) onde x1 6= y1 e x2 6= y2 como o consumidor
pode classificá-las de acordo com a sua preferência?
A desejabilidade é responsável por relacionar as quantidades dos bens consumidos
com as preferências do agente. É natural assumir que, em regra, maiores quantidades
de bens são preferíveis a menores quantidades. Essa noção é capturada pela definição
de monotonicidade.
Iremos assumir que sempre é possível o consumo de quantidades cada vez maiores
de uma cesta. Isto é, se x ∈ X e y ≥ x, então y ∈ X.
Definition 2.5. Dizemos que uma relação de preferências é estritamente mo-
nótona (monotônica), ou simplesmente monótona (monotônica), se x ∈ X e
y >> x implica que y x. Ou seja, se todo elemento da cesta y é de quantidade
estritamente maior que a da cesta x (y >> x), então y x.
Definition 2.6. Dizemos que uma relação de preferências é fortemente mo-
nótona se dadas as cestas x e y, tivermos que y ≥ x e pelo menos um bem com
quantidade estritamente maior (y 6= x), então temos que y x .1
Remark. O Varian define em seu livro o conceito de monotonicidade forte, mas
apenas o denomina de monotonicidade, sem fazer qualquer referência à definição
de monotonicidade estrita. Entretanto, estamos seguindo a convenção da maior
parte da literatura técnica nas definições 2.4 e 2.5 acima, monotonicidade estrita (ou
monotonicidade) e monotonicidade forte.
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Remark. Consequências das definições:
(a) Preferências estritamente monótonas e fortemente monótonas ⇒ curvas de in-
diferença não podem ser grossas e não podem ter inclinação positiva;
(b) Monotonicidade forte ⇒ monotonicidade estrita, mas a recíproca não é ver-
dadeira. Ou seja, monotonicade forte é uma hipótese mais restritiva do que
monotonicidade estrita.
Em palavras, a definição acima nos diz que para qualquer vizinhança de uma cesta
x (não importa o quão pequena seja essa vizinhança, uma vez que podemos escolher
ε o tão próximo de zero o quanto quisermos) sempre existirá uma cesta y na qual
o consumidor irá preferir y à x. Repare que diferentemente de monotonicidade,
não precisamos necessariamente aumentar o consumo de algum bem para expressar
preferência. A ideia está ilustrada no gráfico da figura 3.
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Remark. Se as preferências apresentam não-saciedade local, então as curvas de
indiferença não podem ser grossas. Mas elas podem ter inclinação positiva?
2. Convexidade
Esta propriedade está relacionada ao fato de o consumidor se deparar com trade-offs
ao desejar consumir diferentes cestas de bens. É natural pensarmos que o consumidor
prefira sempre diversificar seu consumo em detrimento a consumo extremo de certos
bens. Podemos pensar que sob convexas se misturarmos uma cesta x com uma
cesta pelo menos tão boa quanto ela y, devemos estar em situação pelo menos tão
boa quanto consumir apenas a cesta x. Formalmente, temos que:
Definition 2.9. Dizemos que uma é convexa se dados y x , z x e α ∈ [0, 1],
tivermos que αy + (1 − α)z x.
Definition 2.10. Dizemos que uma é estritamente convexa se dados y x ,
z x e α ∈ (0, 1), tivermos que αy + (1 − α)z x.
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Remark. Sob convexa, devemos ter o conjunto de contorno superior convexo.
A convexidade é uma hipótese forte, mas importante, em economia. Uma das con-
sequências dessa hipótese será vista quando tratarmos de taxa marginal de substi-
tuição. Uma segunda consequência é a preferência dos agentes pela diversificação.
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• Função Utilidade
A função utilidade é um modo útil, e mais tratável, de representar as preferências dos
agentes ao atribuir um número a cada possível cesta de consumo, de modo que se atribua
números maiores para as cestas mais preferidas. Por quê?
Como a relação de preferências é uma relação binária, o estudo do comportamento do
consumidor teria que ser realizado cesta por cesta, de cada vez. Esse tratamento não é
muito útil e pode consumir muito tempo de análise. Caso sejamos capazes de descrever
as preferências de um agente por intermédio de fórmulas matemáticas, poderíamos então
melhor instrumentalizar a análise, por meio de técnicas matemáticas de cálculo.
A ferramenta que surge, então, é a função utilidade.
De maneira mais formal, temos que a função utilidade é representada por U : X → R,
onde X representa o conjunto de consumo.
Embora atribua-se valores mais elevados de utilidade a cestas que mais se deseja, a te-
oria tradicional considera que o valor absoluto dos números atribuidos não é relevante,
isto é, somente nos interessa a ordenação que estes valores atribuem às cestas de con-
sumo. Dizemos, portanto, que a função de utilidade tem propriedades ordinais (Teoria
Ordinal).
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condição necessária para a existência da função utilidade. Isto quer dizer que a racio-
nalidade por si só não garante a existência de uma função utilidade que represente as
preferências. O exemplo tradicional é o das preferências lexicográficas, que são racionais,
mas não existe função utilidade que as represente! Veremos daqui a pouco.
Uma hipótese importante para a existência de uma função utilidade que represente é
de continuidade.
1. Existe bola de centro x tal que para toda cesta pertencente à bola, temos que ela
também é preferida a y.
2. Existe bola de centro y tal que para toda cesta pertencente a esta bola, temos que
x y.
Remark. 1. O teorema acima nos dá as condições suficientes para que exista uma
função de utilidade que represente as preferências. Note a importância da hipótese
de continuidade das preferências para garantir a existência de uma função utilidade.
Isto porque existem preferências que são racionais e estritamente monótonas mas não
existe função utilidade que represente tais preferências - preferências lexicográficas.
2. Podemos demonstrar que apenas as hipóteses de racionalidade e continuidade são
suficientes para a existência da função utilidade. No teorema acima, a hipótese de
monotonicidade estrita é útil para facilitar a prova do teorema.
Dado que estamos adotando a teoria ordinal (ordenação da função utilidade), pergunta-
se: existe apenas uma única função utilidade U (x) que representa as preferências de um
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agente? Mostraremos a seguir que a resposta ao questionamento anterior é que não, ou
seja, existe mais de uma forma de representar as preferências por meio da função utilidade,
segundo a teoria ordinal.
Para mostrarmos que existe mais de uma função de utilidade que representa as preferên-
cias, precisamos definir o conceito de transformação monotônica positiva.
Demonstração: Exercício.
também é uma função de utilidade que representa a mesma que a função Cobb-Douglas.
1. Substitutos Perfeitos:
Dois bens são substitutos perfeitos quando o consumidor deseja trocá-los a uma
taxa constante, de forma a manter um mesmo nível de utilidade.
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Example 2.18. considere que U (x1 , x2 ) = x1 + x2 representa uma certa relação
de preferências de um agente. As cestas dadas por (10, 10), (9, 11), (8, 12) forencem
o mesmo nível de utilidade (U = 20), e portanto pertencem a mesma curva de
indiferença.
A forma geral da função utilidade dos substitutos perfeitos é dado por: U (x1 , x2 ) =
a
ax1 + bx2 , onde a, b > 0, onde b
é a taxa de substituição do bem 1 pelo bem 2.
Graficamente:
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2. Complementares Perfeitos: Em uma situação completamente diferente do caso dos
substitutos perfeitos, temos os complementares perfeitos. Estes bens são consumidos
juntos a uma taxa constante (fixa).
Definition 2.19. Dois bens são complementares perfeitos se estes forem con-
sumidos a uma taxa constante, de modo a manter o mesmo nível de utilidade. A
função de utilidade que representa a preferências por bens que são complementares
perfeitos é dada por:
Figura 6: Curvas de indiferença de bens que são complementares perfeitos, onde os consumi-
dores tem que consumir os bens em proporções fixas.
3. Males e Neutros
(a) Males
Um mal é uma mercadoria que causa desutilidade para o consumidor. Mais
formalmente, dizemos que um "bem"é um mal para o consumidor se:
Definition 2.20. Um bem i é um mal se para todo xj = yj , j 6= i e x y, se
e somente se, yi ≥ xi .
Em palavras temos que, a cesta x é fracamente preferível a cesta y pois a quan-
tidade do bem i de males é menor/igual a quantidade contida na cesta y. Gra-
ficamente:
(b) Neutros
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Figura 7: Curvas de indiferença, onde o bem 2 é um mal, note que a utilidade cresce no sentido
das setas ao reduzirmos a quantidade consumida do bem 2.
Figura 8: Curvas de indiferença, onde o bem 2 é neutro, note que a utilidade cresce no sentido
das setas ao aumentarmos o consumo do bem 1 independentemente da quantidade consumida
do bem 2.
4. Saciedade Global
Existem situações nas quais o consumidor classifique uma cesta melhor que todas
as outras e quanto mais próximo dela, melhor ele estará. Nessas situações, dizemos
que existe uma cesta que é um ponto de saciedade. Nos casos em que se apresenta
saciedade global, note que consumir muito de um bem e pouco de outro pode gerar
desutilidade para o consumidor.
Suponha que tenhamos uma cesta dada por (x1 , x2 ) de maior preferência do consu-
midor e que quanto mais próxima dela, maior será o nível de utilidade. Dizemos que
(x1 , x2 ) é o ponto de saciedade. Graficamente:
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Figura 9: Curvas de indiferença representando preferências saciadas, onde (x1 , x2 ) é o ponto de
saciedade.
5. Bens Discretos
Denifamos por bens discretos, os bens que não podem ser consumidos em quan-
tidades fracionárias, isto é, os bens por sua própria natureza são representados em
unidades discretas. Como por exemplo o consumo de celulares, o indivíduo só ira
usufruir de quantidades discretas de celulares, isto é, não faz sentido consumir, por
exemplo, meio celular.
No caso dos bens discretos as curvas de indiferença serão representados por pontos.
Graficamente:
Figura 10: Curvas de indiferença onde o bem 1 só está disponível em quantidades discretas,
note que as linhas tracejadas ligam as cestas que são indiferentes.
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6. Preferências Quase lineares
Definition 2.21. Dizemos que é quase linear com relação ao bem 2 se:
i) (x1 , x2 ) ∼ (y1 , y2 ), então (x1 , α + x2 ) ∼ (y1 , α + y2 ), para qualquer α ∈ R.
ii) (x1 , α + x2 ) (x1 , x2 ) , α > 0
Repare que para preferências desse tipo é possível deduzir completamente a relação
de preferências do agente analisando somente uma curva de indiferença em particular.
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7. Preferências Homotéticas
Definition 2.22. Dizemos que uma relação de preferências estritamente monóto-
nas são homotéticas se (x1 , x2 ) ∼ (y1 , y2 ), se e somente se, (λx1 , λx2 ) ∼ (λy1 , λy2 ),
onde λ ∈ R+ .
Example 2.23. (2, 3) ∼ (3, 2) , se e somente se, (6, 9) ∼ (9, 6)
Remark. As curvas de indiferença de preferências homotéticas tem inclinação que
depende apenas da razão entre os bens, não depende da distância entre as curvas
e a origem. Portanto, podemos estudar um indivíduo apenas olhando para uma de
suas curvas de indiferença sob preferências homotéticas. Graficamente, temos alguns
gráficos de exemplos de preferências homotéticas:
Repare que, do mesmo modo que para as preferências quaselineares, para preferências
homotéticas é possível deduzir completamente a relação de preferências do agente
analisando somente uma curva de indiferença em particular.
8. Preferências Bem Comportadas
Ao estudar a teoria do consumidor, muitas vezes estamos interessados em analisar o
comportamento do indivíduo sob algumas características razoáveis de serem assumi-
das. Vamos agora, definir alguns pressupostos que serão utilizados daqui em diante
sem que haja menção explícita.
Assumiremos que as preferências do consumidor tenham a característica de serem
bem comportadas.
Dizemos que as preferências de um consumidor são bem comportadas se estas forem
fortemente monotônicas e convexas.
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Figura 13: Curvas de indiferença de preferências monotônica, cuja inclinação é negativa.
Remark. Sob convexidade estrita, a cesta média será estritamente preferível a cesta
extrema.
Figura 14: Curvas de indiferença de preferências convexas, onde o conjunto de contorno superior
de uma cesta é convexo.
• Cobb-Douglas
As preferências Cobb-Douglas são as representantes das denominadas “preferências bem-
comportadas”, além de serem também homotéticas. Como ja foi definido anteriormente,
aqui apenas introduziremos o gráfico da função de utilidades cobb-douglas.
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Figura 15: Curvas de indiferença cobb-douglas.
• Funções Homogêneas
Theorem 2.26. Uma relação de preferências é homotética se, e somente se, admite
uma função de utilidade u(x) homogênea de grau um. Isto é, é homotética ⇐⇒
∃u(x, y) homogênea de grau 1.
A demonstração do teorema acima foge do escopo deste curso, intuitivamente temos que
será homotética sempre que conseguirmos uma transformação monotônica crescente
que nos dê uma função de utilidade homogênea de grau 1. A volta do teorema é direta.
1
Example 2.27. Seja U (x, y) = x2 y 2 , defina, f (x) = x 4 , uma transformação monotônica
1 1
crescente, aplicando a temos uma nova função de utilidade dada por U (x, y) = x 2 y 2 , que
é homogênea de grau 1 e representa as mesmas preferências que a função de utilidade
original.
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• Taxa Marginal de Substituição (TMS)
A Taxa Marginal de Substituição (TMS) é a inclinação da curva de indiferença em deter-
minado ponto. Ela mede a taxa pela qual um consumidor está disposto, na margem, a
trocar um bem pelo outro de forma a permanecer na mesma curva de indiferença. Repare
que é um conceito marginal: não basta dizer que o consumidor permanecerá na mesma
curva de indiferença, mas também que a taxa marginal de substituição é o quanto o con-
sumidor aceita trocar um bem pelo outro de forma a estar na iminência de sair do ponto
em questão.
Vamos supor que retiramos do consumidor um pouco (quantidade infinitesimal) do bem
1, ∆x1 e, em contrapartida, damos a ele ∆x2 em quantidade suficiente apenas para que
ele continue na mesma curva de indiferença, ou seja, o agente está em situação pelo menos
∆x2
tão boa quanto a situação inicial. Temos que esta razão dada por ∆x1
é a taxa pela qual
o indivíduo está propenso a trocar o consumo do bem 2 pelo bem 1.
Sob monotonicidade temos que as curvas de indiferença tem inclinação negativa2 , isto
∆x2
é, ∆x1
é um número negativo3 . Como a TMS é uma medida numérica da inclinação da
curva de indiferença, ela seria um número negativo. Entretanto, por convenção, temos
que a TMS é dada por:
∆x2
T M S(x1 , x2 ) = − |∆x →0∆x2 →0
∆x1 1
2
Uma inclinação positiva de uma curva de indiferença implicaria em um consumidor que é indiferente entre
uma cesta x e uma cesta y ambas em uma mesma curva de indiferença, mesmo no caso em que a cesta y >> x,
o que vai no sentido contrário da definição de monotonicidade.
3
Lembre-se de que em geral estamos considerando ambos bens (e não males).
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Assim, ao tratar de TMS estaremos sempre pensando no valor absoluto, lembrando que o
sinal negativo indica que ao aumentar a quantidade de um bem necessariamente teremos
que reduzir a do outro como forma de permanecer na mesma curva de indiferença (mesma
∆x2
utilidade). É comum também a seguinte representação: |T M S| = |
∆x1 ∆x1 →0∆x2 →0
.
Note que sob preferências estritamente convexas as cestas médias são estritamente pre-
feríveis a cestas mais extremas, de modo que ao nos locomovermos no sentido de um
consumo mais extremo em uma curva de indiferença, temos que a TMS deverá decrescer.
Isto reflete que, em pontos mais extremos, a TMS será menor pois o agente está disposto
a trocar a uma taxa maior o consumo do bem que está se tornando mais escasso.
• Utilidade Marginal
Já vimos que as funções de utilidade são uma forma de descrever as preferências de um
consumidor, de modo que atribuimos um número real a cada possível cesta de consumo
e, dessa forma, podemos ordenar as preferências dos agentes.
Agora, vamos refinar o conceito de utilidade introduzindo a noção de utilidade marginal.
A utilidade marginal é responsável por captar como varia a utilidade de um consumidor
quando variamos de maneira infinitesimal as quantidades de bens que são consumidos em
determinada cesta.
Ao variarmos a quantidade consumida do bem 1 na quantidade ∆x1 , de modo que, ∆x1 →
0, representamos a utilidade marginal com respeito ao bem 1 por U M g1 e definimos ela
como:
Remark. A utilidade marginal nada mais é do que a derivada parcial da utilidade com
respeito as suas coordenadas.
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Remark. Por ser uma derivada, a utilidade marginal tem uma interpretação cardinal.
Note que a utilidade marginal possui propriedade cardinal. Então, sob a teoria ordinal,
qual seria a importância de seu uso? A importância da utilização do conceito de utilidade
marginal se dá no cálculo da taxa marginal de substituição. Lembre-se de que a taxa
marginal de substituição mede a inclinação da curva de indiferença no ponto de uma
determinada cesta de bens e pode ser interpretada como a taxa pela qual um consumidor
está propenso a substituir uma pequena quantidade de um bem pelo outro.
Com essa noção em mãos note que se tivermos uma variação no consumo de ambos
os bens dado por (x1 + ∆x1 , x2 + ∆x2 ) que não varie a utilidade do indivíduo, isto é,
U (x1 + ∆x1 , x2 + ∆x2 ) = U (x1 , x2 ), logo, esta variação apenas nos move ao longo da
curva de indiferença. Portanto, podemos mostrar que a variação total da utilidade é:
U M g1 ∆x1 + U M g2 ∆x2 = ∆U = 0
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2.2 Restrição Orçamentária
B(p, m) = {x ∈ X : p1 x1 + p2 x2 ≤ m}
Figura 17: Conjunto orçamentário, onde as cestas na área sombreada são aquelas que o consu-
midor pode adquirir.
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A inclinação da reta orçamentária tem uma interpretação econômica: ela mede a taxa
pelo qual o mercado está disposto a substituir o bem 1 pelo bem 2. Repito: a taxa pelo
qual o mercado está disposto a substituir o bem 1 pelo bem 2.
O que ocorre quando o consumidor varia um pouco o seu consumo de cada bem? Suponha,
mais especificamente, que o consumidor varie o seu consumo pelo bem 1. Em que medida
deve o consumidor variar o seu consumo pelo bem 2, de modo a respeitar a restrição
orçamentária?
Representemos a variação do consumo por: ∆x = (∆x1 , ∆x2 ).
Antes da variação temos a seguinte equação da reta orçamentária:
p 1 x1 + p 2 x2 = m
Estática Comparativa:
1. Mudança de preços
Suponha que o vetor inicial de preços p = (p1 , p2 ) mude de (p1 , p2 ) → (p01 , p2 ). Vamos
analisar o que acontece com a reta de restrição orçamentária. (Suponha que p01 > p1 )
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Figura 18: Mudança da inclinação da reta de restrição orçamentária sob aumento do preço do
bem 1, Ceteris Paribus.
2. Variação da Renda
Suponha que a renda inicial do consumidor seja dada por M , imagine que tenhamos
um aumento da renda de M → M 0 , onde temos M 0 > M . É fácil notar que este
aumento da renda irá deslocar a reta de restrição orçamentária de maneira paralela
e para fora. Porém, este deslocamento não afeta a inclinação da reta. Graficamente:
Figura 19: O aumento da renda provoca o deslocamento paralelo e para fora da reta orçamen-
tária.
3. Racionamento
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Suponhamos que o bem 1 seja racionado, de modo que o consumidor não possa
consumir mais do que x1 . Então, o conjunto orçamentário do consumidor dada esta
restrição é dada pela seguinte figura:
Figura 20: Se o bem 1 estiver racionado, a parte do conjunto orçamentário que ultrapassar a
quantidade racionada será eliminada.
4. Impostos
O imposto Ad Valorem, é um imposto sobre valor que incide sobre o preço dos
bens e não sobre a quantidade comprada. Seja a alíquota de imposto dada por
t, o imposto sobre valor faz com que o preço do bem 1 varie de p1 → p1 + p1 t.
Graficamente temos uma mudança na reta de restrição orçamentária equivalente
ao gráfico representado pela figura 18.
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Demonstração:
B(p, m) = {x ∈ X : p1 x1 + p2 x2 ≤ m} é o conjunto de restrição orçamentária. Note
que, B(αp, αm) = {x ∈ X : αp1 x1 + αp2 x2 ≤ αm}. Para provar que a restrição
orçamentária é homogênea de grau zero, preciso mostrar que B(p, m) = B(αp, αm).
Para tal, notemos que:
αp1 x1 + αp2 x2 = α(p1 x1 + p2 x2 ) ≤ αm ⇐⇒ p1 x1 + p2 x2 ≤ m
Portanto, B(p, m) = {x ∈ X : p1 x1 + p2 x2 ≤ m} = {x ∈ X : αp1 x1 + αp2 x2 ≤
αm} = B(αp, αm). Logo, a restrição orçamentária é homogênea de grau zero.
2.3 Exercícios
Questão 01
Questão 02
Um consumidor consome somente dois bens, e suas preferências podem ser represen-
tadas pelas curvas de indiferença abaixo (as setas indicam o sentido do crescimento
da utilidade). Esse consumidor possui preferências que são fortemente monótonas?
São estritamente monótonas? São convexas? Justifique.
Questão 03
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x y ⇐⇒ x1 > y1 ou x1 = y1 e x2 ≥ y2 (1)
Questão 04
(a) Para um consumidor com uma função de utilidade do tipo: U (X, Y ) = X 0,4 Y 0,6
os bens X,Y são substitutos perfeitos.
(b) Uma transformação monotônica de uma função de utilidade do tipo: U (X, Y ) =
1
(X + Y ) 2 não muda a taxa marginal de substituição.
(c) Caso a função utilidade do consumidor seja homotética, a taxa marginal de
substituição depende apenas das quantidades relativas dos bens consumidos e
não das quantidades absolutas.
Questão 05
Questão 06
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Questão 07
Questão 08
(a) Seja u(x, y) uma utilidade homotética. Suponha que u(x0 , y0 ) = u(x1 , y1 ), em
que (x0 , y0 ) e (x1 , y1 ), são duas cestas dadas, e seja t > 0 um escalar positivo.
Então u(tx0 , ty0 ) = u(tx1 , ty1 );
(b) Seja u(x, y) uma utilidade homotética e seja t > 0 um escalar positivo. Denote
por T M Su (x, y) a taxa marginal de substituição da utilidade u na cesta (x, y).
Então T M Su (x, y) = T M Su (tx, ty);
(c) Seja uma relação de preferência monotônica e contínua sobre R2 + e suponha
que u e U são duas funções numéricas que representam a relação de preferência
. Suponha que u(x, y) < U (x, y), para qualquer cesta (x, y) ∈ R2 + . Se
T M Su (x, y) e T M SU (x, y) denotam a taxa marginal de substituição da função
u e U , respectivamente, na cesta (x, y), então T M Su (x, y) > T M SU (x, y), para
qualquer cesta (x, y) ∈ R2 + .
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(d) Considere a função de utilidade u(x, y) = min{2x + y, x + 2y}, em que x denota
a quantidade do bem 1 e y a quantidade do bem 2. Então os bens 1 e 2 são
complementares perfeitos;
(e) Considere a relação binária sobre R2 + definida por (x, y) (z, w) se, e somente
se, x ≥ z y ≤ w. Então é uma relação transitiva e reflexiva, mas não é
estritamente monotônica.
Questão 09
Seja racional, mostre que as seguintes afirmações são válidas explicitando cada
hipótese4 utilizada no desenvolvimento do raciocínio:
(a) x y z, então x z
(b) x y ∼ z, então x z
(c) x y z, então x z
(d) x ∼ y z, então x z
Questão 10
Questão 11
Questão 12
Resolver todos os exercícios do capítulo 2 do Varian.
4
Completude e transitividade.
33
3 Escolha
Diante das hipóteses usuais das preferências do consumidor, nosso objetivo é en-
contrar no conjunto orçamentário a cesta que esteja na curva de indiferença mais
elevada. Consequentemente, obtém-se o maior nível de utilidade factível. Para tal,
o consumidor resolve o seguinte problema de maximização de utilidade, de modo a
obter a cesta ótima:
34
Para ilustrar uma possível solução desse problema, sob preferências bem comporta-
das, queremos alcançar a curva de indiferença mais distante da origem respeitando
a restrição orçamentária do agente. Graficamente temos que:
Figura 21: A cesta ótima (A) situa-se onde a curva de indiferença tangencia a reta orçamentária.
A escolha (x∗1 , x∗2 ) é a cesta ótima para o consumidor. A única cesta pertencente ao
conjunto de cestas que ele fracamente prefere a (x∗1 , x∗2 ), o conjunto contorno superior
em relação a cesta (x1 , x2 ), intercepta o conjunto factível, o conjunto de cestas que
se localiza abaixo de sua reta orçamentária, somente no ponto (x1 , x2 ). Assim, a
cesta (x1 ∗ , x2 ∗ ) é a melhor que o consumidor pode adquirir.
Ou seja, consequentemente nessa escolha, a curva de indiferença tangencia a reta
orçamentária.
Intuitivamente, temos o seguinte: suponha que o consumidor acredite que a cesta
ótima se dá no ponto B, sob uma curva de indiferença que cruze a reta orçamentária.
Nesse ponto, o consumidor gasta toda sua renda e atinge utilidade U1. Entretanto,
o consumidor pode escolher qualquer cesta da região hachurada em vermelho, pois
são cestas factíveis, e alcançar curvas de indiferença superiores a curva de indiferença
do ponto B. Ou seja, o ponto B não é ponto de ótimo. O consumidor pode repetir
esse processo sempre que sua escolha encontrar-se sob uma curva de indiferença que
cruze a reta orçamentária. Daí, a cesta ótima deve pertencer a curva de indiferença
que tangencia a reta orçamentária.
35
Remark. A condição de tangência acontece quando as inclinações da curva de in-
diferença e da reta orçamentária são iguais.
Na figura acima (21), representamos uma cesta que é escolha ótima interior.
Por interior queremos dizer que a quantidade de ambos os bens na escolha ótima é
estritamente positiva.
Estamos em busca de um resultado que nos permita generalizar e afirmar que sempre
em um ponto de ótimo vale a condição de tangência. Quando que isso é possível?
Resposta: Inicialmente, temos duas situações importantes em que encontramos um
ótimo sem condição de tangência:
(a) Quando a curva de indiferença encontra a reta orçamentária em um ponto em
que a curva não é diferenciável5 ;
(b) Quando as inclinações da curva de indiferença e a reta orçamentária são distin-
tas.
No primeiro caso, representado na figura (22), apesar de existir um ótimo interior,
não podemos dizer que a cesta ótima é dada pela condição de tangência.
36
Figura 22: Caso em que há um ótimo interior, mas sem condição de tangência
.
Figura 23: Caso em que há uma solução de canto, onde o consumidor escolhe não consumiro
bem 2. A cesta ótima é dada por (x1 ∗ , 0)
.
37
e nem todos sejam pontos de ótimo, como ilustrado no gráfico 24.
Figura 24: Caso em que há três pontos de tangência, mas apenas dois deles são ótimos
.
Após essa discussão intuitiva, e diante das condições necessárias e suficientes, vamos
elaborar a condição formal matemática para o ótimo interior.
∆x2 p1
T M S(x1 , x2 ) = − =
∆x1 p2
Lembre-se da condição que nos garante que a condição de tangência nos dará uma
única cesta ótima. Para tal, precisamos que as curvas de indiferença sejam estrita-
mente convexas de modo que não haja nenhum segmento plano, e que qualquer
combinação convexa de duas cestas em uma mesma curva de indiferença situe-se no
interior do conjunto de contorno superior das cestas originais.
Até agora, para estabelecer a condição máximo, estudamos somente hipóteses refe-
rentes às preferências. Note que a hipótese de convexidade é inerente às preferências.
7
As condições suficientes são também denominadas de condições de segunda ordem.
38
Qual a hipótese em relação às funções utilidade que corresponde à hipotese de con-
vexidade para preferências?
Proposition 3.2. Seja representada pela função utilidade u. Então, u(x) é (es-
tritamente) quase côncava se, e somente se, é (estritamente) convexa.
Example 3.4. Seja a função utilidade Cobb-Douglas u(x1 , x2 ) = xa1 xb2 . Podemos
mostrar que:
– Para essa função ser côncava, devemos ter que 0 < a < 1, 0 < b < 1, e a + b ≤ 1.
– Para essa função ser quase côncava, basta que a > 0 e b > 0.
Ou seja, existem transformações monotônicas positivas da Cobb-Douglas que não
são côncavas.
De outro modo, toda função côncava é quase côncava, mas nem toda função quase
côncava é côncava.
8
Também porque a concavidade é importante para garantirmos existência de pontos de máximo.
39
Lemma 3.5. Se a relação de preferências é racional, contínua, estritamente mo-
notônica e (estritamente) convexa, então a função de utilidade u que representa estas
preferências é contínua, estritamente crescente e (estritamente) quase côncava.
Com este conceito em mãos, podemos agora nos perguntar quando podemos afirmar
que a relação de igualdade entre taxa marginal de substituição e razão de preços irá
fornecer uma solução para ótimo interior?
Para tal segue o seguinte lema:
Lemma 3.6. Se a função de utilidade u é diferenciável, estritamente crescente e
quase côncava, se estivermos em um ponto ótimo interior então vale a condição de
máximo dado por:
∆x2 p1
T M S(x1 , x2 ) = −
=
∆x1 p2
Se u for estritamente quase côncava, este ponto de ótimo será único.
U M g1 p1
> (3)
U M g2 p2
Suponha agora que haja um aumento de ∆X1 unidades no consumo do bem 1 e, ao
p1
mesmo tempo, uma redução no consumo do bem de p2
∆x1 . Pela restrição orçamen-
tária, essas variações no consumo são factíveis.
Mas, ao investigarmos qual seria a variação na utilidade decorrente dessas variações
de consumo, diante da hipótese na equação (2),teríamos o seguinte:
p1 p1
U M g1 ∆x1 − U M g2 ∆x1 = ∆x1 U M g1 − U M g2 >0 (4)
p2 p2
Ou seja, não estávamos em um ponto de ótimo interior (pois conseguimos aumentar
a utilidade e ainda respeitar a restrição orçamentária). Absurdo !! Portanto, vale a
condição de máximo!! CQD.
40
Example 3.7 (Função de utilidade Cobb-Douglas). Seja o seguinte problema de
maximização do consumidor:
M ax x1 α x2 β
x1 ,x2
s.a. p1 x1 + p 2 x2 ≤ m
M ax αln(x1 ) + βln(x2 )
x1 ,x2
s.a. p1 x1 + p 2 x2 ≤ m
∆x1 ∆x1
ln(x1 + ∆x1 ) = ln(x1 (1 + )) = lnx1 + ln(1 + )
x1 x1
∆x1 ∆x1
∆u1 (x1 , x2 ) = α(lnx1 + ) + βlnx2 = αlnx1 + βlnx2 + α
x1 x1
∆x1
=⇒ ∆u1 (x1 , x2 ) − (αlnx1 + βlnx2 ) = α
x1
41
Ou seja,
Analogamente,
∆u2 (x1 , x2 ) β
U M g2 = =
∆x2 x2
Repare que a utilidade marginal dos bens mudaria se o cálculo fosse feito com a
função utilidade original, mas a TMS seria a mesma, isto é, a TMS é invariante a
transformações monotônicas.
Podemos usar a condição de tangência, uma vez que o lema anterior é satisfeito por
essa função de utilidade. Logo,
U M g1 αx2 p1
T MS = = =
U M g2 βx1 p2
βx1 p1 p1
p1 x 1 + p2 =
α p2 p2
α m β m
=⇒ x∗1 = =⇒ x∗2 =
α + β p1 α + β p2
42
3.2 Função Utilidade Indireta
M ax u(x1 , x2 )
x1 ,x2
s.a. p1 x1 + p 2 x2 ≤ m
α m
x1 ∗ =
α + β p1
β m
x2 ∗ =
α + β p2
43
3.3 Função Dispêndio
M in p 1 x1 + p 2 x2
x1 ,x2
s.a. u(x1 , x2 ) = ū
M ax u(x1 , x2 )
x1 ,x2
s.t. p1 x1 + p2 x2 ≤ M
(b) Dual
M in p 1 x1 + p 2 x2
x1 ,x2
s.t. u(x1 , x2 ) = Ū
Assim, o problema dual se resume em encontrar o dispêndio mínimo para uma dada
utilidade, onde a solução deste problema de minimização é denominada de demanda
Hicksiana. Isto é, encontramos xh1 (p1 , p2 , ū) e xh2 (p1 , p2 , ū).
Definimos como Função Dispêndio o gasto mínimo necessário para atingir deter-
minado nível de utilidade, isto é:
44
3.4 Princípio do Lump Sum
Suponha que o Governo deseja instituir um novo imposto. Para o Governo importa
somente a quantidade arrecadada. Assumindo então que, independentemente do
tipo de imposto, a arrecadação será a mesma, para o consumidor o que é melhor:
tributação via impostos sobre a quantidade ou via impostos sobre a renda?
45