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Introdução
Era com base num projecto que os fotógrafos partiam para o seu
trabalho, por vezes durante meses, após estudarem profundamente
a documentação disponível e de discutirem a missão a executar.
Dispunham de listas de temas a cobrir em regiões previamente
determinadas (ouvir rádio à noite, ir à Igreja, ir a clubes e salas de
jogo, fotografar encontros em determinados espaços das ruas, etc.;
curiosamente, apenas uma rúbrica do documento fazia referência ao
principal problema da época: "Ver os efeitos da depressão nas
pequenas cidades dos Estados Unidos"). Por vezes, pedia-se-lhes
também, com fins publicitários, que fotografassem os projectos de
recuperação e reforma agrícolas financiados pelo Estado. Outras
vezes, era-lhes solicitada a cobertura de uma região devastada por
uma calamidade natural ou os efeitos do clima sobre a agricultura.
(SOUSA, 1998, p. 96)
Genevieve Naylor era ela mesma uma herdeira dessa "tradição" na fotografia
e muito influenciada pelas vanguardas artísticas americanas do primeiro quartel do
século XX. De um meio intelectual de esquerda, mas advinda de uma sociedade e
um círculo familiar liberal. Uma artista de vanguarda que foi admitida para atuar em
favor dos ideias de uma democracia liberal. Algo que, tendo em vista a lógica do
espetáculo, não é surpreendente:
1 Sobre o WPA, Maud (2011) escreve : Ao longo da década de 1930, como forma de fazer frente ao
desemprego, o governo dos Estados Unidos promove vários projetos para empregar artistas e
promover as artes, dentre eles destaca-se para a cidade de Nova York o Works Progress
Administration, um programa cultural abastecido pela abundante produção afro-americana no âmbito
da literatura, performance e expressão visual que permaneceu até o início dos anos 1940. O
(re)nascimento de uma cultura afro-americana eminentemente urbana, sofisticada e
internacionalmente reconhecida atraiu vários artistas e intelectuais para a região, inclusive brancos,
convivendo numa Nova York dos anos 1930-40 que valorizava a experiência multirracial. (MAUAD,
2011, p. 4)
No conjunto se observa a adoção de um padrão de representação
em que a juventude negra se apresenta em atividade, de forma
representação em que a juventude negra se apresenta em atividade,
de forma ordenada. Essas imagens são evidências de que o
renascimento do bairro foi apoiado por projetos do New Deal, como
da própria economia visual que as produziu, fazendo parte de uma
atividade fotográfica engajada na reconstrução do país. (MAUAD,
2014, p. 144)
O que ele percebe nas teorizações de Marx enquanto uma resposta crítica à
supressão da sensibilidade e da natureza humanas pelo capital, e mesmo a
substituição do corpo físico por este último :
(...) Marx "assume que o mundo é o corpo do ser humano e que,
tendo projetado o seu corpo no mundo construído, os homens e as
mulheres são eles mesmos descorporificados, espiritualizados". O
sistema da produção econômica, como aponta Scary, é para Marx
uma espécie de metáfora materializada do corpo, como quando ele
fala nos Grundrisse da agricultura como a conversão do solo num
prolongamento do corpo. O capital funciona como um corpo
substitutivo do capitalista, provendo-o com uma forma vicária de
sensibilidade; e se a essência fantasma dos objetos é o valor de
troca, então é o seu valor de uso material , como coloca Marx ainda
nos Grundrisse, que os dota de existência corpórea. (SCARY apud
EAGLETON, 1 p. 147)
Esse lugar para o qual a fotógrafa aponta sua lente poderia se localizar no
limiar entre o desejo pela sensibilização e re-naturalização, bem como a plena
liberação da criatividade humana em sua expressão total, indo de encontro ao
"humanismo romântico" que Eagleton percebe em Marx. Todavia ela, reconhecendo
as marcas do ideal civilizatório ocidental, do "progresso" capitalista, como os trens e
bondes, os supracitados trajes sociais de trabalho e também, a universalização da
moda e hábitos cotidianos, em vias de transformação em virtude da nascente
globalização.
Considerações finais
Como observado mais uma vez por Ana Maria Mauad (2014) : "Naylor
compôs o retrato de um Brasil plural enquadrado pelas lentes fraternas da boa
vizinhança, não como política de Estado, mas como poder de sedução da cultura
política." (MAUAD, 2014, p. 147). Estratégia de persuasão sobre a qual Robert
Candida Smith (2013) escreve:
Referências bibliográficas