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Que Natal? Que Futuro?

um número de prendas que entendam acei-


Rui de Lima e Silva tável.
(Professor e Coordenador do 1º ciclo) Hoje, ao contrário do que acontecia no
passado, o Natal pressupõe uma quanti-
Bem vindos ao mundo encantado dos dade de prendas significativa para cada
brinquedos, onde há reis, princesas, dra- criança. Que grande saco precisa o Pai
gões… Decerto que sabe a continuação da Natal para satisfazer os desejos dos peque-
letra deste anúncio televisivo e, decerto que nos!
a generalidade das crianças deste país Contudo, é importante fazer um enqua-
também o sabe. Mais do que analisarmos o dramento sociológico deste fenómeno. A
indesmentível sucesso da campanha publi- sociedade na qual estamos inseridos promo-
citária da marca, importa centrarmo-nos ve o consumo e a palavra consumismo
nas implicações que toda esta abordagem entrou no nosso léxico como mote para
à quadra natalícia tem na vida das crianças fóruns e discussões nos mais variados meios
e das suas famílias. Sendo importante utili- de comunicação. Nós próprios, irreflectida-
zar o discurso prescritivo com alguma par- mente, e não poucas vezes, vemo-nos, quais
cimónia, pretende-se com este artigo traçar autómatos movidos por uma vontade que
uma imagem da forma como as crianças não é própria, a comprar algo que até nem
encaram o Natal, as prendas e a Família, precisamos. A facilidade com que com-
ao mesmo tempo que analisar-se-á a forma pramos é hoje muito maior do que no
como o consumismo tem influenciado a passado. Esta forma de nos comportar-
sociedade e as próprias crianças e como mos em sociedade foi rapidamente assi-
alguns valores tão enaltecidos outrora milada pelas crianças, que aliás, já cresce-
nesta quadra festiva, se têm desvaneci- ram nesta onda de consumo, logo, é natural
do nos tempos que correm. que o seu comportamento reflicta o mundo
que as rodeia.
Um Mundo de Presentes Porém, não se pretende aqui fazer uma
O Natal, para grande parte das crianças, descrição exaustiva de toda a problemática
e também para uma grande franja da do consumismo, pretende-se antes, olhar
sociedade actual, é sinónimo de horas diá- para a forma como o fenómeno tem influen-
rias de anúncios televisivos, de catálogos ciado o desenvolvimento pessoal e social
que enchem as caixas de correio e de das crianças.
argumentos dos petizes, para convencer Neste sentido, as crianças de hoje têm
pais, avós e outros familiares a oferecerem uma ligação com os seus brinquedos muito

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mais distante do que as crianças de antiga- prendas por mais tempo com os seus
mente. No Natal, no Aniversário, na Pás- filhos. Contudo, este quer-se como um tem-
coa, quando vem a “Fada dos Dentes”, po de partilha de afectos, de emoções e de
como estímulo ou recompensa por boas experiências, em que pais e filhos não per-
notas, por terem comido, ou apenas porque cam a noção da sua posição dentro da famí-
se comportaram correctamente, são tantos lia.
os brinquedos que as crianças recebem ao
longo do ano, que há alguns que não che- Imperativo Familiar
gam a ser manuseados mais do que uma A forma como a criança interpreta a posi-
vez. Mas este fenómeno não ocorre apenas ção na qual se vê colocada dentro do seio
com os brinquedos, mas sim com tudo o familiar é uma questão fulcral no debate
que as rodeia. A quantidade de informação, sobre educação. A criança é hoje, e em
de estímulos e de atractivos é vastíssima e determinados aspectos com evidentes bene-
tudo se processa à velocidade de um cli- fícios, a peça central na família. Contudo, o
que. As crianças de hoje saltam entre um que muitas vezes vemos é a criança como
sem número de actividades de tempos figura de maior autoridade na família, ceden-
livres, à procura de uma que lhes interesse, do muitos pais, com receio de ofender a dig-
sabendo à partida que nenhuma irá ganhar nidade da criança, a todos os caprichos dos
a sua atenção. Em casa, brinquedos, video- filhos. (Cunha, 1996) Miguel Angel Santos
jogos, computadores ou televisão consti- Guerra alerta-nos para aquelas “pessoas
tuem uma elevada gama de ofertas que que, habituadas a tratar com crueldade os
satisfazem as suas necessidades de infor- inferiores e mesmo os de igual condição, se
mação e divertimento. Na escola, torna-se mostram deprimidas quando alguém com
cada vez mais imperativo que os autoridade as impede de prosseguir com as
professores diversifiquem estratégias e suas tropelias” (p.47) No nosso dia-a-dia, é
recursos para manterem a atenção e o cada vez mais frequente lidarmos com
interesse dos alunos, contudo, os seus essas situações por parte das crianças, que
períodos de concentração são cada vez facilmente ficam frustradas à primeira
mais curtos e a capacidade de retenção e contrariedade, e que frequentemente evi-
memorização de conteúdos é cada vez denciam dificuldades em relacionar-se
menor. É nesta óptica que, recorrentemen- com os outros, quando sobre eles é exer-
te, lemos ou ouvimos psicólogos e outros cida uma qualquer forma de autoridade.
especialistas apelarem à importância Neste sentido, poder-se-á dizer que corre-
dos pais substituírem muitas das mos o risco de estar a gerar, em muitos

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casos, crianças fechadas em torno de si pública. Por outras palavras, “o tratamento
próprias e que revelam alguma dificuldade público que uma pessoa dispensava a outra
em relacionar-se com os outros, estando a copiava a relação familiar (p.61)”. Contudo,
génese deste problema na sua própria rela- partindo desta ideia, actualmente, a deses-
ção familiar que se encontra fragilizada. truturação da família tradicional, aliada à difi-
O relatório para a UNESCO, “Um tesou- culdade que grande parte das famílias têm
ro a descobrir”, coordenado por Jacques em ter momentos de partilha e convívio, têm
Delors (1996) destaca que “é importante conduzido a uma menor proximidade afectiva
aprendermos a viver juntos, desenvolvendo entre pais e filhos, o que se vai reflectir nas
a compreensão do outro e a percepção das relações sociais, em que as pessoas se vão
interdependências (…) no respeito pelos distanciando cada vez mais umas das
valores do pluralismo, da compreensão outras.
mútua e da paz.” (p.88) É importante voltarmos a tomar o Natal
É fundamental perceber que só inves- como época privilegiada para a partilha
tindo na Família e nos Valores que dela de emoções e para a harmonia no seio
emergem é possível construir uma familiar. A Família, como um todo, deve
sociedade na qual as pessoas criem assumir um papel de destaque, não só
laços afectivos, se respeitem mutuamen- nesta quadra, não só a nível particular,
te e valorizem as suas relações com os mas sim permanentemente e na socieda-
outros e com o mundo. de em geral.
“O Natal é a festa da Família” é hoje
mais um “cliché” do que propriamente uma Referências Bibliográficas
caracterização fiel da quadra festiva. Para
as nossas crianças, este Natal pouco tem a Cunha, Pedro. (1996) Ética e Educação. Lisboa:
Universidade Católica Editora
ver com a família, mas é essa família que
necessitamos de resgatar para a sociedade
Delors, Jacques (org). (1996). Educação: Um
dos nossos tempos. José Gil, no seu livro tesouro a descobrir, Relatório para a UNESCO. Lis-
“Portugal Hoje: O Medo de Existir” refere-se boa: Ed. Asa
ao termo familiarismo para caracterizar a
Gil, José. (2004). Portugal, Hoje: O Medo de Exis-
sociedade portuguesa assente na família
tir. Lisboa: Relógio D’Água
tradicional. O autor apresenta a família tra-
dicional de outrora como a base de uma Guerra, Miguel Angel. (2003). No Coração da
afectividade social que nos mantinha liga- Escola: Estórias sobre a Educação. Porto: Asa
dos, tanto na esfera privada como na esfera

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