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Aquelles que asseveram ter a humanidade éras de progresso, de estacionamento e A preguiça teve sempre, conforme o sentido em que foi tomada, modulações varias. Cada
éras em que a civilização volta atrás, laboram num ligeiro desvio de concepção e numa época e cada religião, acceitando e comprehendendo a preguiça segundo seu modo de
comprehensão menos exacta da synonymia das palavras. Na passagem das civilizações, ver, decantara-a ou a repulsara. Na Grecia e na Roma de apogeus incontrastáveis, apesar
como na própria vida, tudo é marchar, buscando um horizonte dianteiro inattingível. A de terem sido estádios de continuas atividade, onde mais se accentuava o prurido dos
destruição é, como a criação, uma necessidade dessa marcha que impulsiona os homens. ideaes, a anciãs da perfeição, ella foi apreciada e divinizada quase. Tempos de formoso
A água emergida da fonte não mais tornará á balsa agreste onde surgiu: será riacho, trabalho, onde as saúdes abundavam de seiva, onde as intelligencias eram mais geniaes
ribeirão depois, depois caudal... Na história dos homens tudo é progresso; apenas esse e as riquezas mais plethoricas, foi-lhe dado imprimir a quase todas as artes plásticas
progresso trilha por vezes descaminhos, perlustra as sombras dos mattagaes, em vez de, ou literárias o impulso que fez com que ellas attingissem a portentosa serenidade na
num anceio alevantado, seguir recto para os horizontes onde pompeia o Sol. força e a suprema belleza na verdade. A arte que – como explica Reinach – é mais
Não se poderá dizer, sem receios de pesado errar, que a civilização perlongasse (antes ou menos um luxo, differenciando-se, entre outros, por esse caráter especial das outras
da Guerra) esse caminho que vai ter á luz. Digo antes da guerra, porque é certo que manifestações da actividade humana, não poderia desenvolver-se e alcançar o seu fastigio
o pampeiro das metralhas, o holocausto dos homens moços pela Grande Causa varrerem sinão em meio das riquezas que prestigiaram as collinas de Hellade e os serros mansos
o futuro dos bulcoes que o ensombravam; e a humanidade que sobrevier sentirá mais de Roma. A arte nasceu porventura dum bocejo sublime, assim como o sentimento do
incentivos no desejo, mais enthusiasmos na inspiração. bello deve ter surgido duma contemplação ociosa da natureza. O bello e a arte são a
Um dos symptomas desse descaminho anterior ao famigerado agosto de 1914, era a descendência que perpetua e enaltece o ócio; e os próprios philosophos hellenicos, nas
propensão que tinham os scientistas de explicar as faltas e os vícios dos homens por suas preguiças illuminadas, esmagando ao peso das sandálias de areia especular dos seus
meio de doenças e de atavismo. Reduziam o humano a um joão-minhoca ainda menos jardins, gostavam de repousar os olhos nos mármores intemeratos, no verde polycromico
interessante e elevado que o da concepção pessimista de Pierre Wolf. das relvas e vergeis, na palpitação das carnações sadias.
Os philosophos germânicos, organizados na mais increnque pirataria intellectual de que O christianismo, comprehendendo mais humana e verdadeiramente a vida, fez da preguiça
um pecado... Mas já não é a mesma preguiça. O vicio que o christianismo repulsa é o
Eduardo Frota
Quando os fusos param
Eduardo Sterzi
Em 1950, Oswald de Andrade candidatou-se à cátedra de O ócio anunciado por Oswald, frise-se, não se reduz a qualquer
Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de forma simples de passividade ou inação. Tampouco pode depender apenas
São Paulo. Para isso, era preciso apresentar uma tese; a sua consistia num da confiança no automatismo das máquinas. Automatismo e autonomia são,
esforço genial de repensar a Antropofagia à luz da filosofia moderna, num no mais das vezes, impulsos contraditórios. O autômato, como sabe qualquer
diálogo altivo e criativo com Bachofen, Nietzsche, Kierkegaard, Marx, Freud, leitor ou espectador de ficção científica, é, muitas vezes, o duplo inquietante
Husserl, Heidegger, Jaspers, Kojève, Sartre, Beauvoir, Lévi-Strauss... Na em que pressentimos despontar a volta da servidão. Um poema pode ser
tese, intitulada A crise da filosofia messiânica, desempenha papel decisivo autônomo e autotélico, mas é o contrário de um autômato. Oswald de
o ócio. Para Oswald, a humanidade, naquele momento de pós-guerra, Andrade, no «Manifesto da poesia pau-brasil», já ironizava o automatismo
estaria na soleira de uma era nova em que os avanços da técnica poderiam implícito nas formas fixas: «Só não se inventou uma máquina de fazer
propiciar nada menos do que o fim do trabalho, isto é, o reencontro do versos – havia o poeta parnasiano». De um ponto de vista rigorosamente
ser humano com sua condição primeira: «No fundo de todas as religiões, poético, isto é, de uma perspectiva que não abdica da necessidade de
como de todas as demagogias, está o ócio. O homem aceita o trabalho repensar a cada instante a própria práxis, parece muito pouco – ainda
para conquistar o ócio. E hoje, quando, pela técnica e pelo progresso mais se temos em vista o plano geral da libertação dos povos – almejar
social e político, atingimos a era em que, no dizer de Aristóteles, “os um tempo em que os fusos trabalharão sozinhos. Se é o trabalho como
fusos trabalham sozinhos”, o homem deixa a sua condição de escravo e tal, independentemente de seus eventuais agentes, que captura e limita o
penetra de novo no limiar da Idade do Ócio». Em outro texto, «Ainda o ser humano numa determinada forma de relação entre sujeito, matéria e
matriarcado», Oswald, depois de afirmar que «é em torno do Robô que se mundo, parece mais consequente aspirar a uma época em que mesmo os
está construindo a civilização de nossos dias», retoma a imagem aristotélica: fusos deixarão de trabalhar. Para isso, talvez seja preciso entrar de novo, a
«O escravo só desaparecerá quando a mecânica o substituir, isto é, quando partir do ócio, no mundo do trabalho, para desativar por dentro a máquina
os fusos trabalharem sozinhos». econômica que irmana homens e robôs, corpos e fusos.
* *
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Não parece ser outra a tarefa a que vem se propondo Eduardo Frota ao Na exposição de 2005, no Museu da Vale do Rio Doce, em
longo de grande parte de sua trajetória artística. Isto se deixa perceber Vila Velha, os imensos carretéis de Eduardo Frota se faziam acompanhar
seja, de início, no complexo processo de elaboração das suas obras, seja, de gravações realizadas no ateliê durante o processo de construção das
finalmente, nas próprias obras, que aparecem não apenas como objetos obras. Tratava-se não apenas de transportar para a exposição os sons da
estéticos, destinados à fruição do espectador, mas como concretizações fatura, mas, sim, de, por meio desses sons, «quebra[r] a cadeia de silêncio,
reveladoras do seu processo de fabricação. Mais do que exposições de rompe[r] o vácuo verbal sobre o valor do trabalho». Como diz Paulo
obras, Eduardo Frota nos oferece deposições do trabalho necessárias para Herkenhoff: «A faina se cola à obra de arte. Os sons instalados por Frota
chegar às obras. Que não se veja, porém, aí nenhum louvor, mais ou não ilustram nada (tal como uma tarefa) nem delineiam tempo cronológico
menos implícito, da própria laboriosidade, um elogio do artesanato pelo algum (como uma jornada). Simplesmente, evidenciam o trabalho. [...] O
artesanato. O que realmente interessa é o desnudamento das contradições espaço expõe a espessura do fator trabalho na constituição da obra». Porém,
inerentes à produção das obras, que o artista encara, põe em questão – em se estamos diante de «não-carretéis» (Herkenhoff propõe este termo a partir
debates propriamente ditos, que envolvem todos os trabalhadores de sua de um paralelo com o «não-objeto» teorizado por Ferreira Gullar), talvez o
oficina – e expõe. Essa exposição, porém, não adquire a previsível forma que interesse aí, nessa sobreposição dos sons aos objetos, seja não apenas
documentária ou discursiva (pelo menos, não antes das entrevistas que a exposição do trabalho envolvido na obra, mas a abertura de uma brecha
buscam esclarecê-la), mas, sim, uma disposição radicalmente poética. pela qual se veja que o trabalho só resulta naquela obra específica se passa
por um momento de «não-trabalho», isto é, por um momento de subversão
do negócio. Oswald de Andrade, numa reflexão complementar à tese de
* 1950 (a série de artigos A marcha das utopias, de 1953), recorda que,
etimologicamente, negócio significa «negação do ócio». De um ponto de vista
poético, é preciso ir além e conceber o ócio como negação do negócio,
Afinal, não é poema – obra, no sentido forte da palavra – num gesto de pensamento análogo àquele por meio do qual Marx definiu
precisamente o que intercepta o passante, desviando-o do seu caminho o comunismo como «negação da negação». O ócio, assim concebido, não
habitual, convidando-o a alterar o próprio olhar, a calar, ainda que por contém somente as figuras, digamos, passivas do descanso, da preguiça,
instantes, a própria personalidade e abrir-se ao mundo? Não é poema o do sábado, das férias, mas também as formas, digamos, ativas da greve e,
que exige que se refaçam todas as relações habituais – automatizadas – mais amplamente, da paralisação. Nos carretéis de Eduardo Frota, podemos
entre o sujeito e a linguagem, o ser e a matéria, o eu e o ambiente? entrever um momento em que quebra e jogo, greve e repouso, não se
Diante de um poema, de uma obra, como continuar falando ou caminhando distinguem mais, e a própria dicotomia entre passividade e atividade, tal
como vínhamos fazendo antes? Como não perder a voz ou mudar o passo? como esta, marcou o pensamento e a práxis desde o início da metafísica
Como não se perguntar, de resto, sem esperança de resposta – ou, pelo ocidental, cai por terra e – como um carretel gigante destituído de função
menos, sem esperança de uma resposta completamente satisfatória, porque utilitária, instrumento feito brinquedo, peso aspirando à leveza, coisa sólida
se trata exatamente de aprender a viver na falta, no intervalo criado ao fim que é também seu fantasma – a um só tempo gira e não gira.
de cada verso –, como não se perguntar: de onde vem isso? Como se
fez?
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É curioso que, nos seus comentários à exposição de 2005, Herkenhoff busque
traçar uma diferenciação nítida entre os carretéis (ou «não-carretéis») de
Eduardo Frota e os carretéis de Iberê Camargo, a partir da afirmação de que
os carretéis do pintor gaúcho são «objetos fictícios», portanto «representação»,
enquanto os não-carretéis do artista cearense se distinguem pela «concretude»
Naquela sua primeira exibição, em Vila Velha, os carretéis aludiam,
do que é «presentação». No entanto, na passagem de 2014 a 2015, cinco
conforme deixa claro o próprio Eduardo Frota, aos carretéis de fibra ótica,
carretéis de Frota foram exibidos na Fundação Iberê Camargo, em Porto
usados pela indústria petrolífera, que se espalham pelo porto de Vitória, na
Alegre, no âmbito de uma exposição intitulada Iberê Camargo: século XXI, que
outra margem do canal. Certo aspecto catastrófico da obra é bem apreendido
explorava justamente diálogos entre artistas contemporâneos e o homenageado.
por Herkenhoff ao comentar esta instalação inicial: «Um terremoto parece ter
Convidava-se o espectador, com isso, a olhar as coisas com um pouco mais
assolado a região de Vila Velha. O Museu Vale parece atingindo por um
de sutileza. O espectador era levado a lembrar que a própria emergência
desastre, evidenciado por carretéis em desalinho». Contudo, como nota o
do motivo dos carretéis, em Iberê, era ligada por este a um período de
mesmo Herkenhoff, sem a encenação desta catástrofe, a obra não produziria
interrupção do seu trabalho tal como até aquele momento se desenvolvera:
seu efeito sobre o ambiente e o espectador: «Espalhados pelo chão, os
desde a volta da Europa para o Brasil, em novembro de 1950, dedicara-
não-carretéis atuam como dispositivos para esgarçamento da percepção e
se sobretudo a exercícios de tradução da paisagem carioca numa «paleta
do tempo. [...] Seu serviço à arte é a desestabilização dos espaços». Há
luminosa onde predominavam os roxos, os azuis e os ocres» e, então, tudo
nos carretéis, com seu gigantismo, com sua desproporção com relação à
mudou. «Aproximadamente em 1958, uma hérnia de disco, provocada pela
dimensão do corpo humano, algo de ruína. Mas também algo de enigma,
suspensão de um quadro no cavalete, obrigou-me a trabalhar quase que
como no poema de Drummond, que nos fala de uma aparição que, como
exclusivamente no ateliê. Seja por esta razão, ou por motivos inconscientes,
antes a pedra e depois a máquina do mundo, subitamente «barra o
meus quadros começaram pouco a pouco a mergulhar na sombra. O céu das
caminho», não só de um personagem humano, mas de todas as coisas (a
paisagens tornou-se azul-escuro, negro, dando ao quadro um conteúdo de
começar pelas pedras), forçando-as a «se interroga[r], e à sua experiência
drama. Surgem, então, os carretéis sobre a mesma, depois no espaço. Os
mais particular», «tende[ndo] a paralisar o mundo». Leva à imobilização
carretéis são reminiscências da infância. São combates dos Pica-Paus e dos
todos aqueles que buscam compreendê-la («No esforço de compreender,
Maragatos que primo Nande e eu travávamos no pátio. Eles estão impregnados
chegam a imobilizar-se de todo»). É a própria coisa-enigma que, diante de
de lembranças. Através das estruturas de carretéis, cheguei ao que se chama,
seres antes animados e agora inanimados, sente e pensa: «Mas a Coisa
no dicionário da pintura, arte abstrata. Neste período, o ritmo é gestual,
interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura». O que
porém dirigido, não mera impressão de um gesto qualquer.» Em suma, os
ela medita, ninguém sabe, ninguém jamais saberá.
carretéis eram, para Iberê, coisas muito concretas – que ele tinha diante dos
olhos em seu ateliê –, mas também «reminiscências da infância», fantasmas
dos carretéis transformados em brinquedos, e não quaisquer brinquedos, mas
* personagens de uma guerra recriada uma vez no pátio e agora, de novo, nas
telas; daí a falta de confiança do artista no vocabulário técnico, neutro demais,
que vê simplesmente abstração onde os processos físicos, e também mentais,
envolvidos na fabricação das obras são bem mais complexos do que isso.
*
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É outra a guerra que se faz inscrever nos carretéis de Eduardo
Frota. Luta de classes é o seu nome no dicionário da política. É à luz
dessa luta que a desmontagem da relação convencional entre trabalho e
obra ganha forma muito concreta na arte de Frota. Em 1992, quando voltou
a morar em Fortaleza, depois de anos no Rio de Janeiro, ele montou seu
ateliê num bairro periférico da cidade. Contratou como auxiliares, na sua
maioria, moradores daquele bairro ou das cercanias. «A questão era montar
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Índios planetários
Fotos e citação de Eduardo Viveiros de Castro
“Para mim, índio são todas as grandes minorias que estão fora, de
alguma maneira, dessa megamáquina do capitalismo, do consumo, da
produção, do trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana. Esses
índios planetários nos ensinam a dispensar a existência das gigantescas
máquinas de transcendência que são o Estado, de um lado, e o sistema
do espetáculo do outro, o mercado transformado em imagem.”
sem planos
governamentais o coco de babaçu:
sem uma panela seco, miúdo, imprestável
esforço
banheiro não havia cansaço
suor
a moita onde defecava
ou
era a verdadeira
jesuíta...
parceria público-privada
yankee...
industrial!
dias e dias de papo pro
ar livrei-me do perigo, repete de cócoras sobre
sol, maresia
a máquina
escapamos impunes
subiu o nível do mar
será obrigado a o que não quer dizer trégua,
migrar acerto de contas
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o fracasso da máquina rumina o espaço unificado
a ilha
um rio
o sertão
e a mímica humana gira num tempo de vida
um pode molestar o outro, assustar, perseguir
– mas ninguém pode ajudar o outro quando ninguém pode se dedicar a tudo nem deitar
isto é, conviver com o terror, repetir o terror o corpo nu e inteiro na realidade, sem precisar
ou mexer um músculo ou os olhos –
a matemática rudimentar da caixa de ódio
ou o ócio, nem eixo nem centro
Documento encontrado pelo poeta-geógrafo Josoaldo Lima Rêgo, aquele que, sem esforço algum, desmontou
a máquina de quebrar babaçu, na sua demorada passagem pelo Arquivo da Associação Comercial do
Maranhão, enquanto lembrava das escolas mistas fundadas por Sousândrade e se ocupava de um grande
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problema: A identidade quebradeira de coco babaçu: políticas de natureza e o sentido do local/global [2012].
No último livro da Política, Aristóteles trata
Apenas Starbuck resistiu à pandanga Na arte de modificar moedas existiu In Search of the Miraculous é o
o desenho como uma das práticas que
de Ahab, mas nem por isso deixou a tradição dos hobo, vagamundos nome do último projeto realizado
permitem ao animal citadino o exercício do
de morrer com ela. Ahab, capitão migrantes que, por opção, viviam, entre pelo artista holandês Bas Jan Ader.
«ócio» (skholé); um estar bem consigo
da baleeira Pequod, conseguiu um emprego e outro, nas margens de Nele, desenhou a travessia do Norte
próprio, que, por consequência, é um
transformar um mero negócio caminhos de ferro, em parte esperando do Atlântico num pequeno pocket
estar bem com os outros. Ele afirma que
em pura matança, um suicídio pelo destino, em parte meramente cruiser, da costa ocidental à oriental.
contrariamente ao brincar, que apenas
coletivo por apenas um dobrão. vagando. À diferença de vagabundos A 9 de julho de 1975, ele parte
produz na alma gozo ou relaxamento, a
Ávido de vingança, convenceu a que evitam trabalhar ou de outros que no seu Ocean Wave rumo à Europa.
ociosidade, parece conter ela mesma o
inteira tripulação com uma moeda; se recusam trabalhar e vadear, os Dez meses depois, a 18 de abril
prazer, a felicidade e a beatitude. Mas
recompensa para quem primeiro hobo faziam-nos apenas por prazer. do ano seguinte, o barco é avistado
ela contém também uma ideia de escola
avistasse Moby Dick, o temível Para alguns, um insignificante nickel à deriva, vazio, na vertical, numa
na qual o cidadão se abandona ao
cachalote branco que o amputou. foi um precioso suporte de trabalho. zona do oceano, entre a Irlanda e
estudo; não já na esfera do «pensado»,
«Que se dane o trabalho! que se Entalhando diretamente no baixo relevo a Inglaterra, chamada Gran Sol. O
mas do que fica «por pensar», sendo o
dane o peixe», teriam gritado sem da moeda, deram voz à forma de vida último sinal de vida a velejar tinha
pensamento sinônimo do possível. Contudo,
hesitar e em coro as cerca de 33 que levavam, mas também a uma sido meses antes, nas proximidades
destes benefícios não usufruirá quem se
nacionalidades a bordo, na maioria discreta crítica social. Em vez dos dos Azores, lá onde vagam ainda
atarefa em objetivos por alcançar, mas
vagamares entre um emprego e comuns soberanos, preferiam figurar- hoje cachalotes.
apenas quem os abandona a favor do
outro. A festa foi boa, mas pouco se eles mesmos, anônimos, ou a
próprio vagar, pois a felicidade é sem
durou. figura de quem, a troco de pão ou
finalidade e atinge-se não com dor mas
teto, lhes sugeria um retrato. Noutras
com prazer. Sem as preocupações de
encontramos hobos que percorrem
caminhos de ferro com a trouxa às
Pensar num negócios ou guerras (ambas atividades
à parte os
desenhos a lápis
costas ou a viajar clandestinamente em desenho que apenas serviam para garantir tal paz),
o ocioso vaga e divaga, medita sobre o
vagões de mercadorias. Há moedas
de cor encarnado nada, a morte, a velhice, o tempo, os
com engenhosas assinaturas ou
e as fotografias de prazeres, a amizade, o amor, a beleza.
signos em código trocados entre eles, Pedro A.H. Paixão Se existem práticas que integrem um tal
moedas ou com citações, piadas; tudo isto consoante a
o autor, todas as princípio, elas são seguidas num caminho
particularidade da moeda, a data (que,
outras imagens com a nobreza dos hábitos que comportam
na maioria da vezes, deixavam ficar)
(fundos, obras, e sem um acabar. Assim acontece no
e a ocasião. Por fim, encontramo-
logos, etc.) foram desenho, no qual se adentra, segundo
los representados a roubar fruta ou
tiradas da rede. Aristóteles, «não para evitar o erro no que
galinhas. São obras feitas sem grandes
Este texto divaga se faz, nem para impedir maus negócios
preocupações, mas com a intensidade
no comércio de objetos da vida doméstica,
em torno de um de um gesto de gratidão, por uma
mas, pelo contrário, porque o seu estudo
desenho moroso amizade, uma boa conversa ou a troco
nos torna pensadores da beleza que rodeia
ainda por acabar de uma refeição, boleia ou abrigo.
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os corpos».
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P ov o,
f og a ré u
Fotografias
Eduardo Sterzi
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Carnaval de São Paulo, março de 2014; parque de diversões e llamadas de San Baltazar, Montevidéu,
janeiro de 2016; manifestação do Movimento Passe Livre atacada pela polícia, junho de 2013.
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| | | | |portátil
| | | | |2016
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| | | | | |em| | revista
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |s| u| |m| |á| r| i|o| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |n.| |2| |[a| |idade
| | | | do
| | |ócio]
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| | | | | |se| | organiza
| | | | | | |por
| | |assuntos
| | | | | | |coordenados
| | | | | | | | | em
| | | parceria
| | | | | | com
| | | | uma
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editora ou editor convidado para cada número. As edições publicadas
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| | |conjunto
| | | | | | de
| | |dois
| | | números
| | | | | | |sugerem
| | | | | | atravessamentos
| | | | | | | | | | | | de
| | |assuntos
| | | | | | |que
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |4| | Mário
| | | | | de| | | Andrade
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| provocam
| | | | | | | | | | | | | | |da| | série a presença
| | | | acomodada
| | | | | | | | em de edições
| | | oito figuradas,
| | | números. em números fantasmas,
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| dentro
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| | | | | convidada:
| | | | | | | |Veronica
| | | | | | Stigger
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |6| | | Eduardo
| | | | | | | |Frota
| | | | |e| |Eduardo
| | | | | | |Sterzi
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| | | | | | Eliana
| | | | |Borges,
| | | | | |Ricardo
| | | | | Corona,
| | | | | | Luana
| | | | | Navarro
| | | | | |e| |Arthur
| | | | do
| | |Carmo
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| | | | | | gráfico:
| | | | | |Eliana
| | | | |Borges
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| | | | | Pierre
| | | | |Lapalu
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |16
| | | Eduardo
| | | | | | | |Viveiros
| | | | | | |de
| | |Castro
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Sterzi, | | | | | desta
| | | | |Eduardo | | | |edição:
|Viveiros | |Mário
| |de| | Castro, de Andrade, Eduardo Frota, Eduardo
| | | |Alexandre
| | | | | | | Nodari,
| | | | | |Flávia
| | | | |Cera,
| | | |Sabrina
|||||||||||||||||||
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| | | | | | |Angélica
| | | | | | Freitas,
| | | | | |Júlia
| | | |Studart,
| | | | | |Manoel
| | | | | Ricardo
| | | | | |de| | Lima
| | | | e| | Pedro
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A.H. Paixão
| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |20
| | | Alexandre
| | | | | | | | |Nodari
| | | | | |e| |Flávia
| | | | | |Cera
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| | | | | | Nylcéa
| | | | | Thereza
| | | | | | de
| | |Siqueira
| | | | | |Pedra
| | | | |e | Michela
| | | | | |Moreira
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| | | | | | Agarra
| | | | |Cultura,
| | | | | Arte
| | | e| |Design
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |26
| | | Sabrina
| | | | | | | Medeiros
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Distribuição nacional em livrarias:
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| | | | | Iluminuras
| | | | | | | |Ltda.
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| | | Angélica
| | | | | | | |Freitas
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31 Júlia Studart e Manoel Ricardo de Lima
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34 Pedro A.H. Paixão
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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |42
| | | Eduardo
| | | | | | | |Sterzi
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CRECI 133-J
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PROJETO REALIZADO COM O APOIO DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA
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| | | | | |CULTURAL
| | | | | |DE| |CURITIBA
| | | | | E| DA
| | PREFEITURA
| | | | | | | MUNICIPAL
| | | | | | |DE| CURITIBA
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