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Ambiente Facilitador e o Setting Psicanalítico

Bom, vamos começar fazendo uma pergunta: O que significa ambiente? Qual o
sentido da palavra facilitador? Se consultarmos o dicionário Aurélio, veremos que
facilitador significa facilitar, simplificar. Aparentemente parece tudo muito claro. Está
bem, ok, tudo certo. Sim, e não! Quando estamos querendo entender o sentido dessa
palavra dentro da obra de Winnicott, precisamos deixar claro o sentido que Winnicott
atribuiu.
Winnicott, com o seu jeito absolutamente idiossincrático de ser, tem também um
jeito de lidar com os conceitos e pressupostos teóricos de modo pouco formalizado. Ele
escreve de uma forma que muitas vezes não deixa muito claro as regras do jogo em que
está se apoiando. Talvez porque em seus escritos ele prioriza as situações clinicas e
pessoais.
A valorização do ambiente está presente em toda a sua obra e pode ser considerada
como uma influência da leitura de Darwin, que desde a adolescência era sua “xícara de
chá”. Sua proposta é de que existe em todos nós uma tendência inata à integração, um
potencial no organismo humano existente desde o nascimento que, pelo encontro com o
ambiente, vai gradativamente se transformando. Essa tendência à integração não se dá
automaticamente, apenas com a passagem do tempo. Para que essa força vital inaugural
se realize o bebê depende fundamentalmente da presença de um ambiente facilitador que
forneça cuidados suficientemente bons. E ainda, Winnicott propõe a existência de um
percurso de desenvolvimento emocional que vai da dependência absoluta a uma
independência relativa em direção ao meio ambiente. E durante este percurso muitas
tarefas precisam ser realizadas, mas elas não são o tema desse texto.

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Vamos falar sobre o conceito de ambiente facilitador, que é central para o
entendimento do pensamento de Winnicott e sua relação com o setting psicanalítico
winnicottiano. Vamos tentar entender o porquê de sua tamanha valorização dentro de sua
obra.
Durante muitos anos Winnicott estudou os estágios primitivos do desenvolvimento
do indivíduo e também da relação mãe-bebê. Foi a partir dessas experiências que ele
formulou o conceito de ambiente facilitador, adjetivando a palavra “ambiente”.
Mas facilitador de que?
A resposta que Winnicott nos deu é que o ambiente é o grande facilitador do
desenvolvimento emocional no início da vida. Um ambiente facilitador tem fundamental
influência sobre o processo de integração do ego, na efetivação da natureza do indivíduo,
no surgimento do ser, enfim, é facilitador para que o verdadeiro self possa se manifestar e
que o bebê possa desfrutá-lo. Em outras palavras: o ambiente facilitador promove o
processo de desenvolvimento, representa a fonte do sentimento de ser e existir, da
criatividade, do verdadeiro self, da saúde!
É importante lembrarmos que Winnicott deu diversas designações para a sua
formulação de ambiente facilitador tais como como mãe suficientemente boa; mãe
devotada comum; mãe ambiente. Ele alterna essas denominações sem seus textos
Winnicott sofreu grande influência de Melanie Klein. Assim como ela, ele também
se preocupou em estudar o relacionamento mãe e bebê e os aspectos pré-edipicos. Com o
tempo, principalmente em razão do seu espirito independente, Winnicott passou a
divergir de Klein, criticar suas ideias e a criar as suas próprias, sempre a partir de suas
próprias experiências clinicas.

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Na época em que Winnicott formulou a expressão mãe suficientemente boa, o
conceito de mãe boa-mãe má, formulado por Klein, já era bem conhecido e aceito dentro
da sociedade psicanalítica de Londres.
Com a criação da expressão mãe suficientemente boa Winnicott tinha a pretensão
de diminuir estes espaços tão opostos entre mãe boa e mãe má. Ele queria salientar o que
a mãe poderia nem ser tão boa, nem ser tão má. Assim, formulou o conceito de “mãe
suficientemente boa”, ou seja, uma mãe mais ou menos boa. Uma mãe passavelmente
boa. Uma mãe comum, fazendo tarefas comuns.
Na visão de Winnicott, tanto o excesso de eficiência como a ineficiência materna
não favorecem o desenvolvimento do bebê. Inclusive, ele destaca que uma mãe “perfeita”
pode causar como que uma adição à criança, à semelhança de um tóxico, não deixando
espaço para que ela elabore suas próprias necessidades. Isso porque é justamente no
espaço da insatisfação, da “desilusão” ao qual a criança é confrontada, que sua vida
psíquica tem início. A atitude e a presença de uma mãe que nem seja tão afetivamente
próxima, nem tão ausente ou deprimida é condição fundamental para o desenvolvimento
saudável. Se a mãe é invasiva, afetivamente ausente ou deprimida não consegue oferecer
sustentação às angustias do bebê, é incapaz de responder ao seu desconforto.
Quando Freud propôs sua teoria da sedução ele estava dando ênfase ao ambiente.
Ele a abandonou porque descobriu o poder da fantasia, e passou a privilegiar o
intrapsíquico, o subjetivo. Porém, tanto Freud como Klein e outros psicanalistas não se
desinteressaram totalmente pelo ambiente. O que houve foi uma transferência de valor.
Os impulsos inconscientes, a subjetividade, ou seja, o que era interno passou a ganhar
mais importância do que aquilo que era externo ao sujeito. Os acontecimentos do mundo
interno então passaram a ter um efeito mais determinante para a Psicanálise do que os
acontecimentos do mundo externo.

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Melanie Klein também, sem dúvida, deu mais ênfase ao interno. Para ela o externo, 4
o outro, o objeto, é percebido de acordo com o que nele foi projetado. Para Klein, desde o
início da vida, o bebê percebe a mãe de acordo com as projeções feitas sobre ela ou para
dentro dela.
Winnicott se colocou frontalmente em desacordo com essas ideias de Klein e
postulou que os comportamentos reais da mãe são determinantes na experiência infantil,
e não as projeções do bebê.
Do que estamos falando? De que com Winnicott houve uma retomada da
importância do ambiente, do mundo externo em outros níveis, não se colando a Freud,
nem ao evolucionismo biológico de Darwin. Mas ao das falhas ambientais e das marcas
resultantes do próprio subjetivismo dos pais.
Podemos dizer então que existem, fundamentalmente, duas classes de teorias de
relações objetais, as que privilegiam as relações com o objeto interno e as que
privilegiam as relações com o objeto externo. A teoria de Klein pertence ao primeiro
grupo. Já Winnicott sempre se preocupou a segunda classe: como o objeto externo, ou o
ambiente facilitador, pode ajudar, ou não, o processo de integração das diferentes tarefas
que o bebê tem que passar, integrar e “ultrapassar” – nunca totalmente - até poder
alcançar uma identidade unitária, um Eu sou, com a capacidade de ir em direção ao
mundo, aos objetos externos e com eles se relacionar.
Também é preciso perguntar: qual é a unidade que se estuda em Psicanálise? É a
criança (então seria o paciente), ou a dupla mãe-bebê (portanto, no caso a dupla paciente-
analista). Não resta dúvida sobre a posição de Winnicott: ele veio da Pediatria e tinha
grande capacidade de observação e intuição. Observou mães e bebês, saudáveis e
doentes. Em uma reunião da Sociedade Britânica de Psicanálise, em 1940, ele afirmou
que “o bebê é algo que não existe” e completou: “quando me mostram um bebê, mostram
também alguém que se ocupa da maternagem”.

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Para Winnicott, o bebê é dotado de uma constituição de tendências inatas de
desenvolvimento, motilidade, sensibilidade e de pulsões instintivas. No início da vida o
bebê tem um ego muito imaturo, completamente despreparado para lidar com as
demandas do id, e não há diferenciação entre a criança e a mãe, entre eu e não-eu. Nesse
momento inicial do desenvolvimento o bebê está fusionado à mãe. Um fracasso grave no
atendimento às suas necessidades, uma falha ambiental severa, pode ser registrado na
experiência do bebê como uma falha sua.

O bebê recém-nascido possui apenas um esboço de ego, ou núcleos de ego, ainda


sem recursos para lidar com as suas necessidades ou com os estímulos do mundo externo.
Aliás, o mundo externo sequer é percebido como externo a ele. O ego do bebê é o ego da
mãe, que com sua dedicação, identificação, com sua devoção se coloca como um
amortecedor tanto das experiências vindas de fora como das manifestações instintivas
que são sentidas pelo bebê como perigos de invasão e, às vezes, diz Winnicott, como
“estouro de um trovão”.
As falhas maternas provocam um tipo de atrito que Winnicott chama de invasão. O
excesso dessas falhas nesta fase primitiva, leva o bebê a reagir criando uma camada
protetora para proteger o verdadeiro self, que é uma parte preciosa da personalidade. A
essa camada protetora Winnicott chamou de falso self. Dessa forma o indivíduo vai se
afastando cada vez mais de si mesmo. Diante destas experiências a tendência de
continuar a ser fica perturbada.
E Winnicott salienta: mesmo que no início da vida o ego seja imaturo, não
integrado, mesmo assim é capaz de viver experiências. E as experiências que, por conta
de sua imaturidade, o ego incipiente não tem recursos para dar conta, certa, são vividas
como angustias impensáveis e como experiências traumáticas.

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Porém, as experiências que são vividas num momento muito primitivo do 6
desenvolvimento são registradas apenas pré-simbolicamente. No contexto de análise,
essas experiências primitivas do bebê que não foram simbolizadas aparecem sob a forma
de comportamentos pré-verbais e não sob a forma de narrativas, de descrições verbais do
paciente.
E quais são as influencias que a teoria de Winnicott exerceu e exerce na técnica
psicanalítica? O que é um analista suficientemente bom? Em que situação, em que
“lugar” o paciente pode tentar reviver tais experiências e descongelar seu processo de
desenvolvimento? Com um setting analítico suficientemente bom que recria,
simbolicamente, a relação mãe-bebê.
Nos tempos atuais, ou melhor, desde mais ou menos a década de 1960, os pacientes
que chegam ao nosso consultório não são apenas os neuróticos. Cada vez mais nos
chegam pacientes com distúrbios narcísicos, de caráter, psicóticos, borderlines e falso
selfs. Penso ser praticamente impossível trata-los sem conhecer os ensinamentos de
Winnicott sobre o nascimento do eu.
Quando estamos lidando com esses pacientes muito comprometidos, que sofreram
falhas ambientais sérias, logo notamos que, mesmo diante de seus esforços para se tratar,
para estar ali conosco, o paciente fica bastante desconfiado. Não podemos negar que, se
uma pessoa busca um analista para se tratar, existe uma certa dose de esperança.
Entretanto, mesmo assim, muitas vezes o paciente não consegue confiar no analista.
O que isso quer dizer? Que aquele paciente é “gato escaldado que tem medo de
agua fria”. Que, em algum momento, suas necessidades básicas não foram atendidas e ele
desenvolveu certa desconfiança do ambiente. Nós, como psicoterapeutas ou analistas,
precisamos levar em conta que o ser humano não tem necessidade apenas de lidar com
seus impulsos libidinais e agressivos. Somos seres gregários, e precisamos de outros
serem humanos para nos realizar afetivamente.

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Assim, esses pacientes precisam regredir para tentar descongelar as experiências 7
traumáticas que não puderam ser elaboradas e integradas. Eles precisam do holding de
um setting e de um analista “suficientemente bom para que possam retomar sua
caminhada rumo a si mesmo e a se realizar como pessoa total. Falando de outra maneira,
para que o encontro ou reencontro consigo mesmo possa acontecer o paciente necessita
de um ambiente suficientemente bom. De um analista autentico, como era Winnicott.
O analista precisa funcionar como ambiente facilitador. Precisa tentar se adaptar às
necessidades do seu paciente naquela situação, porque cada paciente tem necessidades
específicas em momentos específicos. Nós também não somos o mesmo analista para
todos os pacientes.
Winnicott escreveu: “sempre no início eu sou como meu paciente necessita, seria
muito cruel, não fazer isso”. É importante nos adaptarmos, no início, ao que nosso
paciente necessita. Como para Winnicott o ser humano só se torna si mesmo na presença
de outro ser humano, o domínio da técnica não é suficiente para ajudarmos o paciente.
Por mais sabidos que sejamos!! Ajudar o paciente é poder oferecer a ele algo que lhe seja
útil e possa enriquecer seu self. E para tanto o analista precisa ir se introduzindo
gradativamente, discretamente, até ser descoberto como objeto objetivo.
Assim como no início da vida o bebê não está pronto para perceber a mãe como
uma pessoa diferente dele e mãe deve alimentar essa ilusão do bebê, num primeiro
momento o analista ou psicoterapeuta é o próprio setting, para depois ir se introduzindo
gradativamente. Winnicott salientou a necessidade do analista se apresentar
discretamente para ser descoberto gradativamente, assim como a mãe vai apresentando o
mundo externo ao seu bebê em doses homeopáticas. O analista suficiente bom vai tentar
reproduzir um pouco daquilo que acontece com as mães, que é o que Winnicott chamou
de preocupação materna primária. Uma mãe-analista, com sua dedicação ao seu paciente-
bebê, com sua intuição e sensibilidade consegue captar o jeito verdadeiro de ser de seu
paciente e de trabalhar com ele respeitando seu tempo. Ou seja, o analista deve levar em

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conta o momento em que o paciente possa receber o que lhe é oferecido sem se sentir 8
invadido.
E é preciso deixar claro que não estou me referindo a um analista idealizado,
perfeito, sem falhas. Assim como uma mãe perfeita ele não pode contribuir com o
desenvolvimento de seu paciente. Assim como as mães falham e devem falhar, nós
também falhamos e devemos falhar. Nós nos enganamos e também podemos corrigir
nossos erros. Neste sentido eu brinco com os meus supervisionandos que nossos
pacientes são muito pacientes conosco para suportar as nossas falhas.
É nessa superposição, sem confusão, sabendo mais ou menos quem somos, e mais
ou menos quem é o paciente, não nos misturando que podemos nos aproximar da
“verdade” do nosso paciente Essa postura pode permitir a ele uma segunda chance de
desenvolvimento de continuidade do seu ser.

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Referências bibliográficas

Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação. A integração do ego no


desenvolvimento da criança (1962). Porto Alegre, Artes Médicas, 1982.
--------------------- O ambiente e os processos de maturação. Da dependência à
independência no desenvolvimento do indivíduo (1963). Porto Alegre, Artes Médicas,
1982.
---------------------- Explorações Psicanalíticas. Individuação. Porto Alegre. Artes
Médicas, 1994.
---------------------- Explorações Psicanalíticas. O Medo do Colapso. Porto Alegre. Artes
Médicas, 1994.
Abram, Jan – A Linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro. Revinter. 2000.

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