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COMISSÃO MISTA 1

CREA-PR

RELATÓRIO DA COMISSÃO
MISTA NOMEADA PARA
ANALISAR O
ACIDENTE NA
PETROBRÁS/REPAR
OCORRIDO EM 16/07/2000

As entidades integrantes da Comissão Mista do CONSELHO REGIONAL


DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DO ESTADO DO
PARANÁ (CREA-PR), nomeadas por Decisão de Plenário 081/2000,
Sessão Ordinária 779, em 08 de agosto de 2000, em razão do vazamento
de 4 milhões de litros de petróleo em 16/07/2000, na área denominada
“scrapper” da Refinaria Presidente Vargas (REPAR), Araucária-PR,
tendo iniciado seus trabalhos em 09/08/2000 com o objetivo de apurar as
causas, responsabilidades, conseqüências ambientais, e indicar ações
que visem a reparação dos danos e, ainda, exigir a implantação de
medidas compensatórias à sociedade, assim como medidas de
prevenção de acidentes e de controle social dos empreendimentos de
risco ambiental, por consenso, adotam e tornam público o presente
relatório.

Todos os documentos do relatório e das atividades da Comissão Mista


estão disponíveis para consulta no CREA-PR.
COMISSÃO MISTA 2

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................PÁGINA 03
A PETROBRAS NO PARANÁ E EM SANTA CATARINA............ PÁGINA 05
HISTÓRICO PARCIAL DE ACIDENTES NA PETROBRAS ..........PÁGINA 05
DESCRIÇÃO DO VAZAMENTO NA REPAR..................................PÁGINA 13
LICENCIAMENTO AMBIENTAL e de OPERAÇÃO.......................PÁGINA 14
 A – DA REFINARIA GETÚLIO VARGAS (REPAR).................PÁGINA 14
 B – DO TERMINAL SÃO FRANCISCO DO SUL (DTSUL).......PÁGINA 15
 C – DO OLEODUTO SC-PR (OSPAR)..................................... PÁGINA 15
 D – DO SISTEMA INTEGRADO................................................PÁGINA 15
ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DO PRODUTO VAZADO.................PÁGINA 16
AS CAUSAS DO ACIDENTE..........................................................PÁGINA 17
A – A VERSÃO DA EMPRESA.......................................................PÁGINA 17
B – A REALIDADE DOS FATOS.................................................PÁGINA 17
FATOS E OCORRÊNCIAS NO DIA DO ACIDENTE......................PÁGINA 20
MALHA DE IMPACTOS..................................................................PÁGINA 23
LEGISLAÇÃO PERTINENTE..........................................................PÁGINA 29
RESPONSABILIDADES E ATRIBUIÇÕES....................................PÁGINA 34
CONCLUSÃO E AVALIAÇÃO CRÍTICA DA SITUAÇÃO DA
PETROBRAS...................................................................................PÁGINA 36
RECOMENDAÇÕES.......................................................................PÁGINA 42
ENTIDADES QUE COMPÕEM A COMISSÃO MISTA...................PÁGINA 44
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INTRODUÇÃO

A indústria do petróleo abrange diversas operações, as quais


compreendem desde a busca e extração desse mineral até o refino e a
diversificação de produtos de aplicação industrial. Muitos desses produtos
são, por sua vez, as matérias primas da indústria petroquímica.
Estas operações afetam o meio ambiente de modo diferenciado,
dependendo do caso, mas são particularmente dramáticos os efeitos que
decorrem dos derrames de petróleo registrados durante as fases de obtenção
e transporte; da emissão de efluentes líquidos e gasosos na fase de refino e
produção de produtos petroquímicos, assim como da emissão de SO 2, óxidos
de nitrogênio e outros gases durante a utilização dos produtos acabados.
O petróleo é um composto fóssil de cor escura, cheiro forte e
penetrante, inflamável, viscoso e de manuseio delicado. Mais leve que a
água, o petróleo, ao ser derramado sobre lençóis d’água, flutua, formando
camadas de diversas espessuras e se distribui com grande rapidez ao
deslocar-se livremente pela ação das correntes e do vento. Devido à sua
característica viscosa, uma pequena quantidade confere à água um aspecto
iridiscente.
O petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos parafínicos,
naftênicos e aromáticos e pequenas quantidades de compostos de enxofre,
nitrogênio, oxigênio e alguns metais (Ni, Fe, V, Cr, Co, Mn, Na, Pb, Cu, Zn,
Ba, Ca, etc.) e água, variando sua composição em função de sua origem
geológica.
No entanto, esta mesma viscosidade determina que, ao ser derramado
em terra firme, o petróleo se fixe no terreno devido às tensões capilares, que
impedem a sua extensão e penetração o que, somado à sua vaporização e
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dissociação gradual, provoca sua redução e decomposição. Deve-se ter em


conta, contudo, que o seu desaparecimento será gradual e extremamente
lento, e dependerá das condições ambientais e biológicas.
No caso de grandes derrames na água ou no solo, a mancha formada
impede a livre circulação do oxigênio com a conseqüente asfixia aguda da
vida aquática, podendo provocar-lhes disfunções orgânicas e mesmo a morte.
Se o derrame ocorre no litoral, além das conseqüências já apontadas, haverá
severa restrição às atividades sócio-econômicas regionais.
As medidas e métodos de controle a serem adotados são diferentes
caso a contaminação se produza no mar, em águas fluviais ou em terra firme.
Por isso deve-se analisar com detalhe, desde seu início, as operações e
atividades da indústria do petróleo - prospecção, perfuração, extração, refino
e transporte - diferenciando entre as realizadas em terra firme, no mar e em
águas fluviais.
O transporte do petróleo e seus derivados se faz, preferencialmente,
por oleodutos (tubulação), terrestres ou marítimos e, complementarmente, por
navios, caminhões e trens. Essa atividade acarreta, dentre outros, os
seguintes riscos:
 derrames por acidentes de transporte;
 derrames durante operações de carga e descarga;
 despejo irregular de resíduos de lavagem de tanques de
transporte, especialmente de navios;
 derrames por rompimento de dutos;
As conseqüências destes acidentes são sempre de larga extensão e
muito graves.
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A PETROBRAS NO PARANÁ E EM SANTA CATARINA

As instalações da PETROBRÁS compreendem, no Paraná, a


Refinaria Presidente Vargas, em Araucária, a Superintendência de
Industrialização do Xisto, em São Mateus do Sul, um poço de exploração de
gás, em Pitanga e o Terminal Marítimo de Paranaguá; em Santa Catarina, há
o Terminal Marítimo de São Francisco do Sul, as instalações de apoio do
empreendimento E&P SUL, no município de Itajaí e a plataforma P-XIV. A
Refinaria está interligada ao Terminal de São Francisco do Sul, do qual
recebe petróleo pelo oleoduto Santa Catarina-Paraná (OSPAR); ao Terminal
de Paranaguá, pelo poliduto Paranaguá-Araucária (OLAPA), pelo qual, nos
dois sentidos, são transportados derivados de petróleo; além disso, a REPAR
distribui derivados, pelo poliduto Paraná-Santa Catarina (OPASC), que tem
as Bases de Guaramirim, Itajaí e Biguaçu.

HISTÓRICO PARCIAL DE ACIDENTES NA PETROBRAS

DATA LOCAL DESCRIÇÃO


MARÇO DE BAÍA DA VAZAMENTO NO MAR. CARGUEIRO FRETADO
1975 GUANABARA PELA PETROBRÁS DERRAMA 6 MIL TONELADAS
DE ÓLEO.
JUNHO DE BACIA DE EXPLOSÃO FERE 23 EM NAVIO-SONDA
1980 CAMPOS-SP
MARÇO DE BARUERI-SP INCÊNDIO EM TAMBOR COM 7 MIL LITROS DE
1981 ÁLCOOL EM
OUTUBRO BERTIOGA VAZAMENTO 3 MILHÕES DE LITROS DE ÓLEO DE
DE 1983 OLEODUTO.
FEVEREIRO CUBATÃO-SP EXPLOSÃO, COM MORTES, DE UM DUTO NA
DE 1984 FAVELA VILA SOCÓ CAUSA 93 MORTES E 2500
DESABRIGADOS.
AGOSTO DE ACIDENTE COM MORTES. GÁS VAZA DO POÇO
1984 SUBMARINO DE ENCHOVA: 37 MORTOS E 19
FERIDOS.
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MAIO DE EXPLOSÕES NA PLATAFORMA ZAPATA FEREM


1986 12.
OUTUBRO BACIA DE INCÊNDIO NA PLATAFORMA DE PAMPO, NA BC
DE 1987 CAMPOS PROVOCA QUEIMADURA EM 6 PESSOAS.
ABRIL DE INCÊNDIO NA PLATAFORMA DE ENCHOVA
1988
OUTUBRO BACIA DE EXPLOSÃO NA PLATAFORMA PARGO I. DOIS
DE 1991 CAMPOS OPERÁRIOS SAEM GRAVEMENTE FERIDOS.
JUNHO DE VAZAMENTO EM RIO DE 10 MIL LITROS DE ÓLEO
1992 EM ÁREA DE MANANCIAL DO RIO CUBATÃO
MAIO DE VAZAMENTO NO MAR: 2,7 MILHÕES DE LITROS
1994 DE ÓLEO POLUEM 18 PRAIAS DO LITORAL
PAULISTA
NOVEMBRO REFAP VAZAMENTO EM RIO. PRESENÇA DE MERCÚRIO
DE 1996 REFINARIA NOS EFLUENTES LANÇADOS PELA REFAP, EM
ALBERTO ÍNDICES DEZ VEZES ACIMA DOS LIMITES
PASQUALINI - PERMITIDOS PELA LEGISLAÇÃO, OCASIONAM A
CANOAS - RS CONTAMINAÇÃO NO ARROIO SAPUCAIA, EM
CANOAS.
10/03/1997 REDUC VAZAMENTO NO MAR. ROMPE O DUTO PE-II,
REFINARIA QUE LIGA A REDUC AO TERMINAL DTSE-ILHA
DUQUE DE D’ÁGUA, E VAZAM 2 MILHÕES DE LITROS DE
CAXIAS - RJ ÓLEO COMBUSTÍVEL QUE ATINGEM OS
MANGUEZAIS DA BAÍA DA GUANABARA.
JULHO DE RPBC VAZAMENTO EM RIO. ROMPEU A LINHA DE FLO
1997 REFINARIA (PRODUTO COM DENSIDADE PRÓXIMA A DO
PRESIDENTE ÓLEO DIESEL, USADO PARA LIMPEZA OU
BERNARDES SELAGEM DE EQUIPAMENTOS), QUE VAZOU
CUBATÃO - SP PARA O RIO CUBATÃO. O VAPOR EXALADO
PROVOCOU NUVEM ESCURA, QUE CAUSOU
PÂNICO E LEVOU À EVACUAÇÃO DA REFINARIA.
16/08/1997 DTSE-ILHA VAZAMENTO NO MAR. 2 MIL LITROS DE ÓLEO
D’ÁGUA - COMBUSTÍVEL VINDOS DO TERMINAL
DUTOS E DTSE_ILHA D’ÁGUA ATINGIRAM CINCO PRAIAS
TERMINAIS DA ILHA DO GOVERNADOR
DO SUDESTE
- RJ
13/10/1997 REVAP/ VAZAMENTO EM RIO. RACHADURA DE
REFINARIA APROXIMADAMENTE UM METRO EM UM DUTO
VALE DO QUE LIGA A REVAP AO TERMINAL DE
PARAÍBA – GUARAREMA (SP): VAZAMENTO DE 1,5 MILHÃO
SÃO JOSÉ DE LITROS DE ÓLEO COMBUSTÍVEL. PARTE
DOS CAMPOS VAZOU PARA O RIO ALAMBARI. A LIMPEZA DA
- SP ÁREA DEMOROU MAIS DE TRÊS MESES. O DUTO
ESTAVA HÁ MAIS DE CINCO ANOS SEM
MANUTENÇÃO.
COMISSÃO MISTA 7

JUNHO DE SUPERINTEN ACIDENTE COM MORTE. MORTE DE UM


1998 DÊNCIA DA ELETRICISTA OCASIONADA PELA QUEDA DE
INDUSTRIA- UMA ÁRVORE SOBRE O TRABALHADOR
LIZAÇÃO DO TERCEIRIZADO.
XISTO, (SIX)
SÃO MATEUS
DO SUL - PR
27/02/1999 REPAR ACIDENTE DE TRABALHO. NA ÁREA DE
REFINARIA TANQUES DA REFINARIA (SETRAE) UMA VCI –
PRESIDENTE VIATURA DE COMBATE A INCÊNDIOS –
GETÚLIO AVANÇOU SOBRE A TUBULAÇÃO, FICANDO
VARGAS - PR SUSPENSA POR UMA LINHA DE HIDRANTE. O
ACIDENTE OCORREU LOGO APÓS A
REESTRUTRAÇÃO DO SETOR DE SEGURANÇA
DA REPAR, QUE TEVE SEUS EFETIVOS
SUBSTANCIALMENTE REDUZIDOS, FICANDO A
CONDUÇÃO DAS VCIS SOB RESPONSABILIDADE
DOS OPERADORES.
ABR/1999 URUCU DESAPARECIMENTO DO LOCAL DE TRABALHO
(AMAZONAS) DE HENRIQUE CARVALHO SILVA, 40 ANOS,
MECÂNICO DA EMPREITEIRA MASTEC.
06/08/1999 REMAM VAZAMENTO EM RIO. 3 MIL LITROS DE ÓLEO DO
REFINARIA DE OLEODUTO QUE LIGA A REMAM À MANAUS.
MANAUS - AM CONTAMINARAM O IGARAPÉ CURURU,
CHEGANDO AO RIO NEGRO.
24/08/1999 REPAR VAZAMENTO EM TERRA. 3 MIL LITROS DE
REFINARIA NAFTA DE XISTO (COM ELEVADO TEOR DE
PRESIDENTE BENZENO) POR ROMPIMENTO DE MANGOTE
GETÚLIO (DUTO OU MANGUEIRA FLEXÍVEL). A PLACA DE
VARGAS - PR ADVERTÊNCIA SOBRE A POSSIBILIDADE DA
PRESENÇA DE BENZENO SOMENTE FOI
COLOCADA NO LOCAL 52 HORAS APÓS O
ACIDENTE. O CHEIRO INSUPORTÁVEL DUROU
TRÊS DIAS NA REFINARIA.
29/08/1999 REMAN VAZAMENTO EM RIO. MIL LITROS DE ÓLEO
REFINARIA DE COMBUSTÍVEL DE UM MANGOTE, NO PORTO
MANAUS - AM FLUTUANTE DE OPERAÇÃO DA REFINARIA, NO
RIO NEGRO.
20/10/1999 TERMINAL DE ACIDENTE DE TRABALHO. OPERADOR EDSON
PARANAGUÁ - SANTOS, ATINGIDO POR UM MANGOTE SOLTO
PR DURANTE OPERAÇÃO DE DESACOPLAMENTO
DO NAVIO NORMA, SOFREU FRATURA DE
CLAVÍCULA E DE 5 COSTELAS.
NOVEMBRO CARMÓPOLIS- VAZAMENTO EM RIO. PETRÓLEO E ÁGUA
DE 1999 SE SALINA, NO CAMPO DE PRODUÇÃO DE
PETRÓLEO DE CARMÓPOLIS-SE, PARA O RIO
SIRIRI.
COMISSÃO MISTA 8

25/11/1999 REPAR EXPLOSÃO EM UM DOS FORNOS DA REFINARIA


REFINARIA CAUSOU QUEIMADURAS DE PRIMEIRO E
PRESIDENTE SEGUNDO GRAU EM DOIS OPERADORES. A
GETÚLIO EXPLOSÃO OCORREU DURANTE OS
VARGAS - PR PROCEDIMENTOS DE ACENDIMENTO, O QUAL
ATÉ HOJE SE REALIZA DE MANEIRA INSEGURA E
RUDIMENTAR COM A AJUDA DE UMA PRECÁRIA
TOCHA.
26/11/1999 TERMINAL DE INCÊNDIO NO PARQUE DE BOMBAS DO
PARANAGUA - TERMINAL SOMENTE FOI DEBELADO GRAÇAS A
PR AJUDA DE TRABALHADORES DE EMPRESAS
PRÓXIMAS. POR POUCO O TERMINAL NÃO FOI
EVACUADO.
18/01/2000 REDUC/DTSE VAZAMENTO NO MAR. 1,3 MILHÃO DE LITROS
REFINARIA DE ÓLEO COMBUSTÍVEL DO DUTO QUE LIGA
DUQUE DE REDUC AO TERMINAL DA ILHA D’AGUA,
CAXIAS - RJ CONTAMINANDO A BAÍA DA GUANABARA.
28/01/2000 DUTO VAZAMENTO EM TERRA. 200 LITROS DE ÓLEO
CUBATÃO – DILUENTE (LCO) NA SERRA DO MAR, CONTIDO
SÃO PELOS TRABALHADORES ANTES DE ATINGIR UM
BERNARDO - DOS PONTOS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL
SP NO RIO CUBATÃO.
31/01/2000 DTSE - RJ ACIDENTE COM MORTE. ANTÔNIO PEREIRA DA
MOTA, ELETRICISTA DO DTSE, VÍTIMA DE
ACIDENTE DE TRABALHO.
09/02/2000 REPAR VAZAMENTO EM TERRA. 400 MIL LITROS DE
REFINARIA NAFTA (GASOLINA) DE TUBOVIA DA REPAR. O
PRESIDENTE PRODUTO CORREU POR CANALETAS PARA O
GETÚLIO SEPARADOR DE ÁGUA E ÓLEO (SAO). O RISCO
VARGAS – PR DE UM INCÊNDIO DE GRANDES PROPORÇÕES
FOI GRANDE.
15/02/2000 E&P – ACIDENTE COM MORTE. ALOYSIO FERREIRA
EXPLORAÇÃO COSTA, ELETRICISTA DA EMPREITEIRA UNAP,
& PRODUÇÃO VÍTIMA DE ACIDENTE DE TRABALHO.
- ES
17/02/2000 REVAP VAZAMENTO EM TERRA. 500 LITROS DE ÓLEO
REFINARIA (POR TRANSBORDAMENTO) DA ESTAÇÃO DE
DO VALE DO TRATAMENTO DE DEJETOS INDUSTRIAIS DA
PARAÍBA - SP REFINARIA, ATINGIRAM O CANAL QUE SEPARA A
REFINARIA DO RIO PARAÍBA.
11/03/2000 TERMINAL VAZAMENTO NO MAR. 18 MIL LITROS DE
TEDUT - RS PETRÓLEO, OCASIONADO PELO ROMPIMENTO
DE UMA JUNTA DA MONOBÓIA DO TERMINAL EM
TRAMANDAÍ – RS. HOUVE POLUIÇÃO DE 3 KM DE
PRAIAS.
16/03/2000 TERMINAL VAZAMENTO NO MAR. 7 MIL LITROS DE
TEBAR - SP PETRÓLEO DURANTE OPERAÇÃO DE
COMISSÃO MISTA 9

DESCARGA DO NAVIO MAFRA (CONTRATADO


PELA PETROBRÁS), NO TERMINAL DE SÃO
SEBASTIÃO – SP . QUINZE PRAIAS DE ILHABELA
FICARAM POLUÍDAS.
12/06/2000 REPAR ACIDENTE DE TRABALHO. O DESENGATE
REFINARIA ACIDENTAL DE UMA MANGUEIRA DE VAPOR,
PRESIDENTE PROVOCOU QUEIMADURAS EM UM
GETÚLIO TRABALHADOR DA EMPRESA TERCEIRIZADA
VARGAS - PR SDM.
21/06/2000 RLAM ACIDENTE COM MORTE. NEY BRITO, OPERADOR
REFINARIA DE PROCESSO, VÍTIMA DE UMA EXPLOSÃO NA
LANDULFO REFINARIA. OUTROS QUATRO TRABALHADORES
ALVES - BA SOFRERAM FERIMENTOS.
25/06/2000 RECAP VAZAMENTO PARA A ATMOSFERA, DE 38 MIL
REFINARIA DE KG DE PÓ CATALISADOR, OCORRIDO DURANTE
CAPUAVA - SP OPERAÇÃO DE PARTIDA DA UNIDADE DE
CRAQUEAMENTO DA REFINARIA. CAUSOU
TRANSTORNOS À POPULAÇÃO DE SEIS
BAIRROS DE SANTO ANDRÉ – SP, COM
PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS E COBERTURA DE
CAMADA DE POEIRA EM CARROS, CASAS E
MÓVEIS.
26/06/2000 TERMINAL VAZAMENTO NO MAR. 380 LITROS DE
ILHA D’ ÁGUA RESÍDUOS DE ÓLEO DO NAVIO CANTAGALO,
- RJ CONTRATADO PELA PETROBRÁS NO TERMINAL
DE ILHA D’ÁGUA (RJ).
11/07/2000 TERMINAL DO DESAPARECIMENTO. IRANILDE FRANCISCO DA
RIO TEFÉ - SILVA, SERVENTE, 50 ANOS, DESAPARECEU
AM ENQUANTO FAZIA VIGILÂNCIA DO PORTO
TERMINAL DO RIO TEFÉ. ERA FUNCIONÁRIO DA
EMPREITEIRA J. RAMALHO.
16/07/2000 REPAR VAZAMENTO EM RIO. 4 MILHÕES DE LITROS DE
REFINARIA PETRÓLEO NA ESTAÇÃO SCRAPER NA
PRESIDENTE ENTRADA DA REFINARIA, DO OLEODUTO QUE
GETÚLIO LIGA O TERMINAL DE SÃO FRANCISCO (QUE
VARGAS - PR ABASTECE A REFINARIA DE PETRÓLEO) À
REFINARIA. O DESASTRE FOI OCASIONADO
PELO ROMPIMENTO DE UMA JUNTA DE
EXPANSÃO E ATINGIU OS RIOS BARIGÜI E
IGUAÇU. A PETROBRÁS PAGOU AO GOVERNO
DO ESTADO DO PARANÁ 40 MILHÕES DE REAIS
DE MULTA (INICIALMENTE ELA ERA DE 50
MILHÕES MAS, POR PAGAR À VISTA, A HOUVE
DESCONTO DE R$ 10 MILHÕES). O IBAMA
TAMBÉM APLICOU UMA MULTA DE R$168
MILHÕES, QUE ESTÁ SENDO QUESTIONANDO
NA JUSTIÇA. HÁ AINDA UMA AÇÃO CIVIL
COMISSÃO MISTA 10

PÚBLICA E INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS


PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO E 4
AÇÕES TRABALHISTAS DECORRENTES DAS
DEMISSÕES ARBITRÁRIAS PRATICADAS PELA
EMPRESA.
SUSPEITA-SE QUE HAJA CONTAMINAÇÃO DE
TRABALHADORES QUE ATUARAM NA LIMPEZA
DO RIO, PORÉM NADA PODE SER COMPROVADO
ATÉ AGORA.
JULHO DE TERMINAL VAZAMENTO NO MAR. 430 LITROS DE ÓLEO DE
2000 MADRE DE UM TANQUE CONTAMINARAM O MAR. UMA
DEUS FALHA NO SISTEMA DE SEGURANÇA
OCASIONOU O ACIDENTE.
29/07/2000 OLEODUTO VAZAMENTO EM TERRA. MIL LITROS DE MTBE
REDUC- (METIL, TERC-BUTIL, ÉTER), POR UM FURO NO
GUARAREMA OLEODUTO ENTRE A REDUC E O TERMINAL DE
GUARAREMA. O VAZAMENTO FOI PERCEBIDO
PELA POPULAÇÃO DE PARACAMBI, QUE FICOU
ASSUSTADA COM O FORTE CHEIRO DO
PRODUTO. A EMPRESA SOMENTE LOCALIZOU O
LOCAL EXATO DO VAZAMENTO DOIS DIAS APÓS
A DENÚNCIA DA POPULAÇÃO.
02/08/2000 E&P SUL – ACIDENTE COM VÁRIAS MORTES. MORREM
NAVEGANTES MANASSES RANGEL, OPERADOR (ESTAGIÁRIO)
- SC DA P-43 (MERLUZA), DA PETROBRAS E MAIS 4
TRABALHADORES DA LÍDER TÁXI AÉREO, QUE
PRESTA SERVIÇO DE TRANSPORTE PARA AS
PLATAFORMAS. A QUEDA DO HELICÓPTERO
OCORREU NA CHEGADA DO AEROPORTO DE
NAVEGANTES EM SC.
03/08/2000 PLATAFORMA VAZAMENTO NO MAR. MIL LITROS DE ÓLEO
DE CRU DA PLATAFORMA DE PARACURU, NÚCLEO
PARACURU – DE PRODUÇÃO DO CEARÁ, DEVIDO À FALHA NO
CE SISTEMA DE BOMBEAMENTO DA PLATAFORMA
PARA NAVIO.
03/08/2000 REPLAN VAZAMENTO EM TERRA. 50 MIL LITROS DE
REFINARIA RESÍDUO ATMOSFÉRICO DE UM TANQUE (POR
DO PLANALTO TRANSBORDAMENTO). O PRODUTO FICOU
- SP RETIDO NO DIQUE DE CONTENÇÃO.
17/08/2000 P-17 – BACIA ACIDENTE COM MORTE. FAGNER LUIZ COSTA,
DE CAMPOS 23 ANOS, ENCANADOR, DA EMPREITEIRA
ULTRATEC, VÍTIMA DE CHOQUE ELÉTRICO.
OUTRO TRABALHADOR, ERALDO DA SILVA
BRAGA, DE 37 ANOS, TAMBÉM DA ULTRATEC,
SOFREU QUEIMADURAS NAS PERNAS E VÁRIAS
LESÕES NO CORPO AO CAIR DE UMA ALTURA
DE TRÊS METROS.
COMISSÃO MISTA 11

31/08/2000 TERMINAL VAZAMENTO NO MAR. 4 MIL LITROS DE ÓLEO


BAÍA ILHA BRUTO DO NAVIO TANQUE CANTAGALO, NO
GRANDE (RJ) TERMINAL DA BAÍA DA ILHA GRANDE.
06/09/2000 TERMINAL DE VAZAMENTO EM TERRA. 20 MIL LITROS DE
GUARAREMA ÁLCOOL HIDRATADO DO OLEODUTO QUE LIGA A
-SP REPLAN AO TERMINAL DE GUARAREMA.
06/09/2000 RLAM - BA ACIDENTE DE TRABALHO. ADELSON BORGES
DOS SANTOS, FUNCIONÁRIO DA EMPREITEIRA
TENANCE, SOFREU QUEIMADURAS NOS
BRAÇOS E MÃOS, APÓS SER ATINGIDO POR UM
CURTO CIRCUITO EM UMA SUBESTAÇÃO DA
REFINARIA.
06/09/2000 RLAM-BA INCÊNDIO DE UMA HORA NA UNIDADE 32 DA
REFINARIA, ORIGINADO NA SELAGEM DE UMA
BOMBA DE ÓLEO CRU, QUE ROMPEU.
13/09/2000 REVAP VAZAMENTO EM RIO. ÓLEO PARA O CÓRREGO
ALAMBARI
21/09/2000 E&P – SE – ACIDENTE COM MORTE. OTAVIANO REZENDE
RIACHUELO ARAGÃO, MOTORISTA DA EMPREITEIRA ETT, EM
ACIDENTE DE TRABALHO.
25/09/2000 BACIA DE ACIDENTE COM MORTE. GILBERTO DE SOUZA
CAMPOS SIMÃO, 40 ANOS, MARINHEIRO DE CONVÉS,
MORREU A BORDO DO REBOCADOR ASTRO-
BARRACUDA, DA EMPREITEIRA ASTROMARÍTIMA
NAVEGAÇÃO S.A. FOI ATINGIDO NA CABEÇA
POR UM CONTAINER QUE SE SOLTOU QUANDO
A EMBARCAÇÃO FOI ATINGIDA POR UMA ONDA
GIGANTE, PRÓXIMO À P-33. TAMBÉM FICOU
FERIDO O MARINHEIRO LUIZ ANTÔNIO
MONTEIRO DO NASCIMENTO, 42 ANOS.
28/09/2000 BACIA DE ACIDENTE DE TRABALHO. PAULO FERNANDO
CAMPOS MELO FERNANDES, 40 ANOS, SOFRE
AFUNDAMENTO DE TÓRAX E FRATURA
EXPOSTA DO BRAÇO DIREITO AO SER ATINGIDO
POR UM CONTAINER. ACIDENTE NO
REBOCADOR ASTRO-PARATI, DA
ASTROMARÍTIMA A CAMINHO DA PLATAFORMA
SS-39.
17/10/2000 BACIA DE ACIDENTE DE TRABALHO. OSMAR COSTA
CAMPOS ARAÚJO, 46 ANOS, MARINHEIRO, ATINGIDO NA
CABEÇA POR CABO DE NAILON. REBOCADOR
AÇO 4, DA EMPRESA AUGUSTA OFFSHORE.
25/10/2000 REPAR – PR VAZAMENTO EM TERRA. 3.000 LITROS DE
NAFTA, NO SETRAE.
27/10/2000 TERMINAL DE VAZAMENTO NO MAR. 450 LITROS DE ÓLEO
PARANAGUÁ - DIESEL, DOS QUAIS 50 FORAM AO MAR,
PR SEGUNDO A PETROBRAS. O ACIDENTE
COMISSÃO MISTA 12

OCORREU EM UMA JUNTA NA ENTRADA DO


OLEODUTO REPAR-PARANAGUÁ (OLAPA) NO
RETORNO À OPERAÇÃO APÓS SERVIÇOS DE
MANUTENÇÃO.
30/10/2000 RLAM-BA INCÊNDIO. UNIDADE 9 DA RLAM É DESTRUÍDA
POR UM INCÊNDIO, QUE LEVOU DUAS HORAS
PARA SER CONTROLADO. O INCÊNDIO
ORIGINOU-SE EM UMA SELAGEM DE BOMBA.
04/11/2000 TEBAR – SÃO VAZAMENTO NO MAR. 86 MIL LITROS DE ÓLEO
SEBASTIÃO - NO TERMINAL ALMIRANTE BARROSO EM SÃO
SP SEBASTIÃO, OCORRIDO DURANTE MANOBRA DE
ATRACAÇÃO, QUANDO O NAVIO VIRGINIA II, DE
BANDEIRA CIPRIOTA, CHOCOU-SE COM O PIER
DO TERMINAL OCASIONANDO RACHADURA EM
SEU CASCO. O NAVIO HAVIA SIDO FRETADO
PELA PETROBRAS E POSSUÍA CASCO SIMPLES.
AS REGRAS PARA NAVEGAÇÃO INTERNACIONAL
DE PETRÓLEO E DERIVADOS DETERMINAM
NAVIO DE CASCO DUPLO, MAS, INFELIZMENTE,
A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PERMITE NAVIOS
DE CASCO SIMPLES NA NAVEGAÇÃO DE
CABOTAGEM.
14/11/2000 P-35 / BACIA ACIDENTE DE TRABALHO. DOIS
DE CAMPOS TRABALHADORES DA EMPRESA CONTRATADA
SEAPAR MARÍTIMA, SOFREM FERIMENTOS
GRAVES DEVIDO AO ROMPIMENTO DE UM CABO
DO GUINCHO QUE PRENDIA O NAVIO
TANCREDO NEVES À PLATAFORMA P-35.
24/01/2001 P-37/ BACIA ACIDENTE COM MORTES. FRANCISCO DE ASSIS
DE CAMPOS JESUS DE ALMEIDA E FLORIANO CASTORINO DE
SOUZA FILHO, TRABALHADORES DA ULTRATEC,
CONTRATADA DA PETROBRAS, VÍTIMAS DE
ASFIXIA. INALARAM GASES DURANTE
OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE UM TANQUE
DA PLATAFORMA P-37.
03/02/2001 PLATAFORMA ACIDENTE COM MORTE. INCÊNDIO NA
NAMORADO I / PLATAFORMA, PROVOCA QUEIMADURAS EM
BACIA DE QUATRO TRABALHADORES DA EMPREITEIRA
CAMPOS ESCON – CONSTRUÇÕES E MONTAGENS LTDA.,
DOIS DELES COM GRAVIDADE. GEREMIAS
CANUTO, UM DOS QUATRO, FALECEU NO DIA
12/02/2002.
03/02/2001 BACIA DE ACIDENTE DE TRABALHO ENVOLVENDO DOIS
CAMPOS MERGULHADORES DA EMPRESA EMBRAUS,
CONTRATADA DA PETROBRAS. O ACIDENTE
OCORREU DEVIDO A UMA FALHA NA
MOVIMENTAÇÃO DA CESTA DE TRANSPORTE
COMISSÃO MISTA 13

DO NAVIO TANQUE VIRGÍNIA, PROVOCANDO


SUA QUEDA E FERIMENTOS NOS DOIS
TRABALHADORES .
31/01/2001 BACIA DE DESAPARECIMENTO DO TRABALHADOR SÉRGIO
CAMPOS ENRIQUE DIAZ REVELLO, DA EMPRESA PAN
P-17 MARINE, CONTRATADA DA PETROBRAS.
TRABALHAVA A BORDO DO REBOCADOR OIL
PROVIDER, QUE ESTAVA PRÓXIMO À P-17.
16/02/2001 OLEODUTO VAZAMENTO EM RIO E MAR. MAIS DE 50 MIL
OLAPA - PR LITROS DE ÓLEO (LCO), NA SERRA DO MAR,
CHEGANDO À BAIA DE PARANAGUÁ. O
VAZAMENTO OCORREU DEVIDO AO
ROMPIMENTO DO OLEODUTO, OCASIONADO
POR DESLIZAMENTO/ACOMADAÇÃO DE
ENCOSTA, EM UMA ÁREA QUE JÁ ERA TIDA
COMO CRÍTICA.
03/03/2001 TERMINAL DE VAZAMENTO NO MAR. 80 MIL LITROS DE ÓLEO
ALEMOA - SP DA BARCAÇA NSM IPANEMA, CONTRATADA DA
PETROBRAS, NO TERMINAL DE ALEMOA,
ATINGINDO OS MANGUEZAIS DA REGIÃO.
08/03/2001 E&P SERGIPE ACIDENTE COM MORTE. ANTONIO SÉRGIO
SANTOS TELES, VÍTIMA DE ACIDENTE PELA
FALHA MECÂNICA NO CAMINHÃO QUE
TRANSPORTAVA SONDA DE PRODUÇÃO
TERRESTRE. TRABALHAVA NA EMPRESA
J.G.CONSERVAÇÃO E MÃO DE OBRA LTDA,
TERCEIRIZADA DA PETROBRAS.
Fontes: boletins informativos da FUP – Federação Única dos Petroleiros, do SINDIPETRO
PR/SC e informações regionais. A tabela não é completa. Embora não estejam todos
registrados, já são quase 100 as mortes por acidente nas áreas da PETROBRÁS nos últimos
três anos, sendo 66 trabalhadores de empresas terceirizadas. (Atualizada até 08 de março de
2001).

DESCRIÇÃO DO VAZAMENTO NA REPAR

O vazamento verificado em 16 de julho de 2000 ocorreu durante a


operação de transferência de petróleo do Terminal de São Francisco do Sul,
litoral norte de SC, para a Refinaria de Araucária.
O petróleo é transferido de navios petroleiros em um sistema composto
por uma monobóia de recebimento (construída na década de 70), distante,
COMISSÃO MISTA 14

aproximadamente, 11,5 Km. da costa, no litoral norte de Santa Catarina;


dessa monobóia o petróleo é enviado aos tanques do terminal de São
Francisco por meio de dois oleodutos submarinos, sendo então , também por
dutos, bombeado para a Estação Intermediária de Itararé, posto de recalque
localizado no pé da Serra do Mar, no Município de Guaratuba, PR. Da
Estação, é conduzido para a REPAR (a cerca de 65 Km de distância), em
Araucária, PR, passando antes por Tijucas do Sul, PR (próximo à Represa do
Vossoroca e afluentes) e São José dos Pinhais, ou seja, áreas de mananciais
de abastecimento público. A extensão do Oleoduto Santa Catarina - Paraná
(OSPAR) é de aproximadamente 117 Km. Há 8 válvulas de bloqueio ao longo
do trajeto. A vazão é de cerca de 35 mil m 3/dia, sendo o diâmetro dos dutos
de 30” (trecho terrestre) e 34” (trecho submerso, da monobóia até o Terminal
em São Francisco do Sul).

LICENCIAMENTO AMBIENTAL e de OPERAÇÃO

A – DA REFINARIA GETÚLIO VARGAS (REPAR)


Como a Refinaria Presidente Getúlio Vargas - REPAR foi inaugurada
em 27/05/1977 (portanto anterior à Lei Federal 6.938/81 1), seu licenciamento
ambiental inicial foi possibilitado a partir da vigência da Lei Estadual 7.109 2,
de 17/01/1979, regulamentada pelo Decreto 857, de 18/07/1979. Tal
licenciamento observou, na época, a existência e operacionalidade de
sistemas voltados ao tratamento de efluentes sólidos, líquidos e gasosos,
produzidos em seu processo de refino.

1
Lei que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente
2
Lei que proibe a ação de agentes poluidores.
COMISSÃO MISTA 15

A Licença de Operação da REPAR foi sendo renovada ao longo do


tempo, estando a última datada de 15/05/1998, sob número de processo
1.796/98-IAP.

B – DO TERMINAL DE SÃO FRANCISCO DO SUL (DTSUL)


A Licença Ambiental de Operação do Terminal Marítimo de São
Francisco do Sul, LAO nº 108/99 de 01/07/99, fornecida pelo FATMA – órgão
ambiental de Santa Catarina – encontrava-se vencida na ocasião do
vazamento (julho de 2000) e não incluía o oleoduto OSPAR.

C – DO OLEODUTO SANTA CATARINA-PARANÁ (OSPAR)


O trajeto do oleoduto foi concebido na década de 70 e, até 24 de julho
de 2000, não havia qualquer tipo de licenciamento ambiental 3, seja por
órgãos estaduais, seja por órgãos federais.

D – DO SISTEMA INTEGRADO
Considerando-se que a Refinaria, os oleodutos OLAPA / OSPAR /
OPASC, os Terminais de São Francisco e de Paranaguá e as diversas bases
de distribuição constituem sistemas interligados, contraditoriamente, a época
do vazamento, o que existia era o licenciamento ambiental da Refinaria de
Petróleo (REPAR) e do novo poliduto Paraná-Santa Catarina (OPASC), que
escoa derivados produzidos na REPAR para Santa Catarina.
Ao longo desses anos a REPAR vem obtendo licenças parciais, em
função de modificações em seu projeto e ampliações de capacidade
instalada. Entretanto, é importante destacar o evidente desrespeito às leis de
licenciamento – considerando-se o sistema da Refinaria interligado aos
terminais e bases – por parte da PETROBÁS e, de outro lado, as falhas de

3
Relatório Técnico de vistoria conjunta do IAP e IBAMA de 24 de julho de 2000.
COMISSÃO MISTA 16

fiscalização dos órgão licenciadores. Relatório Técnico de vistoria conjunta


do IAP e IBAMA de 24 de julho de 2000.

Constata-se que problema maior reside nas licenças parciais que,


obviamente, não abordam os sistemas como um todo. Há conivência do
Estado ao não fiscalizar efetivamente as instalações industriais de risco,
começando pela precariedade dos licenciamentos.
De outro lado, pode-se dizer que inexiste qualquer tipo de controle
social dos empreendimentos de risco.

ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DO PRODUTO VAZADO

Trata-se de petróleo Cusiana, de origem colombiana e sua


composição, determinada por cromatografia gasosa de alta resolução (HP
5.890 - série II), utilizando-se padrão RESTEK, conforme certificado (GRO-
30069, Lote A013200), é a seguinte:

TABELA 1 - Resultado de BTEX (mg/g de petróleo)


AMOSTRA COMPOSTO IDENTIFICADO
BENZENO TOLUENO ETIL m + p- o- NAF-
BENZENO XILENOS XILENO TALENO
Petróleo
derramado 2,1 12,9 2,3 19,2 5,3 2,8
FONTE: Relatórios técnicos elaborados por ocasião do acidente na REPAR e apresentados à
Promotoria da Comarca de Araucária/PR.
DATA: Julho de 2000.
COMISSÃO MISTA 17

CAUSAS DO ACIDENTE

A – A VERSÃO DA EMPRESA
A Comissão de Sindicância interna que apurou as causa do acidente,
concluiu que o vazamento de cerca de 4 milhões de litros de petróleo “foi
decorrente da ruptura da junta de expansão localizada a jusante de uma das
válvulas do sistema de controle de fluxo na área do ‘scraper trap’”, e, ainda ,
que “ o acidente foi produzido por falha humana”, e que “a extensão do
vazamento foi decorrente de inobservância de procedimentos operacionais”.

B – A REALIDADE DOS FATOS


As refinarias e outras instalações da indústria de petróleo são
ambientes de risco e, mesmo em condições estáveis, muito perigosas,
requerendo pessoal especializado e altamente qualificado, incluindo aí os
efetivos terceirizados.
O que se observa, na verdade, com base em toda a documentação
coletada, é que a empresa pretende, mais uma vez, explicar evento de tal
magnitude como mera conseqüência de erro humano e falha pontual de
equipamento, quando salta aos olhos que há um processo de falhas e/ou
fragilidades estruturais e organizacionais, o que inclui as decisões gerenciais,
que explicam não somente este acidente mas, com efeito, todos os demais
ocorridos na PETROBRÁS nos últimos anos. Vejamos:
 O oleoduto estava funcionando desde a década de 70 sem
nunca ter sido objeto de processo de licenciamento dos
órgãos de controle ambiental (IAP, FATMA, IBAMA);
 A total ausência de política de fiscalização preventiva pelo
Estado;
 A inexistência de mecanismos de controle social sobre
empreendimentos que ofereçam risco ambiental.
COMISSÃO MISTA 18

 A precarização das atividades de manutenção como forma


de se antecipar e corrigir problemas;
 O oleoduto passa por áreas ambientalmente protegidas
(Serra do Mar, Mata Atlântica, mananciais de captação de
água para o abastecimento público, bacias hidrográfica, etc.)
e topograficamente acidentadas (serras, fundos de vales,
etc.), o que pode transformar qualquer vazamento em
desastre ambiental;
 A monobóia em São Francisco (início do oleoduto)
representa um ponto vulnerável e de risco porque fica na rota
de entrada do Porto de São Francisco, possui sistema de
sinalização marítima, apenas conforme as normas náuticas;
 A Estação de Bombeamento Itararé, a meio caminho entre
São Francisco do Sul e Araucária, inserida na Mata Atlântica
e próxima a nascentes de rios, apesar da sua complexidade
e tamanho, não dispunha de operadores permanentes, nem
de sistemas de monitoramento à distância (câmeras de TV,
por exemplo), o que constitui grave risco para os
ecossistemas, até porque inexistem diques ou bacias de
contenção para vazamentos;
 Da mesma forma, nas instalações do “scraper”, junto à
REPAR, local onde ocorreu o vazamento, inexistiam diques
ou bacias de contenção;
 As limitações existentes nos Métodos de Análise de Risco
utilizados pela PETROBRÁS, que em geral partem do
perigoso pressuposto de que não existem falhas no projeto,
de que a construção foi realizada de acordo com os planos,
de que os procedimentos operacionais são adequados,
desprezando as relações sociais existentes, e que sem
COMISSÃO MISTA 19

dúvida interferem em seu modo de operação, por considerar


que suas instalações são apenas sistemas tecnológicos, que
acabam reduzindo o elenco de riscos potenciais, tornando
ainda mais perigosos tais sistemas porque tais análises
impedem o efetivo gerenciamento dos riscos inerentes às
suas atividades.
 A introdução de um ponto fraco no sistema, com a retirada
da válvula auxiliar (diretamente acoplada a uma junta de
expansão tipo fole), em 07/06/2000 (portanto, trinta e nove
dias antes do acidente), para aprimoramento do sistema de
automação e a não instalação de qualquer sistema de
travamento ou suportação (um carretel, por exemplo),
fazendo com que a junta de expansão permanecesse livre,
sendo submetida a carregamentos a que ela não estava
projetada a suportar, fato agravado pela presença de um
cordão de solda circunferencial, ao que se sabe não foi
levada em conta em qualquer análise de risco;
 O não atendimento de normas de segurança que proíbem a
operação do duto sem o seu total enchimento e com os
sistemas de proteção e segurança (como alarmes)
inoperantes;
 A diminuição acentuada, nos últimos dez anos, do número
de operadores por unidade, que mesmo em condições
normais de operação passam a executar um número maior
de tarefas e funções, o que prejudica a qualidade do trabalho
e causa aumento do grau de risco; se comparados os dados
de 1990 (349 por turno) e julho de 2000 (180 por turno)
observa-se uma redução de 48%;
COMISSÃO MISTA 20

 A extinção de postos de trabalho, justificados pela


implantação de sistemas supostamente “automatizados”,
provocou a eliminação de uma série de atividades de
checagem e verificação, sendo mais atingidas as áreas de
operação, manutenção e segurança industrial;
 a terceirização da mão-de-obra caracterizada pela alta
rotatividade que impossibilita o treinamento adequado e a
acumulação da experiência profissional que capacita para
atuar em uma planta de petróleo, como ocorre com os
trabalhadores fixos da empresa (ainda que, mesmo para os
seus próprios empregados, a PETROBRÁS tenha rebaixado
seus níveis de treinamento). Fato ilustrativo é que os
terceirizados são os mais atingidos por acidentes e mortes na
PETROBRÁS e são freqüentes os problemas trabalhistas de
toda ordem;

FATOS E OCORRÊNCIAS NO DIA DO ACIDENTE

1. Às 8h a REPAR foi informada pelo Terminal de São Francisco


do Sul/SC (TEFRAN) que, às 7h40, o bombeio fora interrompido
por falta do petróleo programado e que o reinicio da operação
se daria somente no dia seguinte, 17 de julho (em função
desse evento, o único operador, responsável por três sub-
áreas, que totalizam 6,1 km2, fecha a válvula do tanque
4105 – que deixou de receber o petróleo – e quando se
dirigia para abrir a válvula do tanque 4108 – a uns 200
metros de distância, tanque que receberia o petróleo,
COMISSÃO MISTA 21

quando do reinício do bombeamento, previsto somente


para o dia seguinte – recebeu novas instruções do painel
para que priorizasse a troca de tanques de recebimento de
resíduo de vácuo – situados a mais de mil metros – o que
foi feito em detrimento da abertura da válvula do tanque
4108).
2. A partir das 09h30 várias emergências constróem um estado de
crescente anormalidade (e conseqüente tensão, estresse,
apreensão, cansaço, etc.) no pessoal da Refinaria, exigindo
uma série de ações não rotineiras, tanto do operador de campo
como do de painel, como segue:
 09h30 – Problemas operacionais na Unidade de
Desasfaltação causam o apagamento das caldeiras do
Setor de Utilidades; falha também o sistema de troca
automática de combustível das caldeiras; impõe-se a
intervenção manual dos operadores para o seu
reacendimento.
 10h30 - contaminação da Sala de Controle do Setor de
Utilidades por Gás Sulfídrico (H2S), provavelmente vazado
da planta da Ultrafértil;
 11h00 - parada de emergência do Setor de Desasfaltação,
em conseqüência de distúrbios ocorridos, apesar da
unidade estar “automatizada”, sendo necessária a
convocação de três operadores em suas casas (era um
domingo);
 15h00 - uma das caldeiras do Setor de Utilidades sofreu
desligamento automático;
 15h20 – descoberto o vazamento, é convocada a Brigada
de Emergência, da qual fazem parte 2 operadores do Setor
COMISSÃO MISTA 22

de Utilidades, que também se encontrava em situação de


emergência, por conta do apagamento de uma das
caldeiras;

Observe-se que uma situação de emergência em


uma das unidades da Refinaria provoca
instabilidade nas demais, ainda que de forma e
intensidade diferentes, pois estão interligadas
entre si; desta forma, ocorrem sobrecargas
imediatas de tarefas, não apenas nos setores
diretamente atingidos, mas em toda a refinaria.
Note-se que, neste dia, ocorreram várias
emergências, o que não é fato comum e, sem
nenhuma dúvida, estes acontecimentos atípicos
devem necessariamente ser considerados como
importantes e decisivas causas subjacentes, por
todas as suas implicações, do acidente.

Destaque-se que ao receber a informação de que o


bombeio somente seria reiniciado no dia seguinte,
o operador reavaliou a prioridade de abrir a válvula
do TQ 4108, atribuindo-lhe importância menor, fato
perfeitamente compreensível (já que o TQ somente
operaria no dia seguinte) e, além disso, todas as
ações e tarefas desenvolvidas durante o dia, em
função das várias emergências, também levaram-
no a confundir-se, achando ter de fato aberto o
válvula do referido tanque. O reinicio do bombeio,
COMISSÃO MISTA 23

às 13h20, ocorre em horário que registra uma série


de eventos emergenciais.

MALHA DE IMPACTOS

Seria impossível imaginar que o vazamento de quase 4 milhões de


litros de petróleo não causasse nenhum impacto ao ecossistema onde
ocorrera, por mais degradado que este estivesse.
Em análise mais detalhada, ficaram constatados os danos gerados
diretamente à flora e à fauna aquática da região, bem como à população
humana ali residente. Em algumas espécies os efeitos foram imediatos; em
outros, a médio e longo prazos.
O petróleo derramado interferiu diretamente, de forma aguda na cadeia
alimentar das diferentes espécies encontradas, provocando a diminuição
pelo efeito crônico, ou até mesmo o desaparecimento de certas populações
da área ,pela contaminação dos habitats nos atributos essenciais à sua
sobrevivência.
De acordo com os relatórios técnicos elaborados por ocasião do
acidente da REPAR, a contaminação do solo não foi somente superficial, seja
pela viscosidade própria do petróleo, seja pela características edáficas do
terreno na área atingida, onde predominam Cambissolos argilosos derivados
de argilitos da Formação Guabirotuba, com vegetação arbórea. Pelas
amostragens feitas, em até 60 cm de profundidade foi constatado o odor do
petróleo e a morte de alguns vegetais, principalmente nas área contíguas ao
scraper. A passagem do óleo podia ser observada pelas marcas (com até 20
cm de altura a partir da superfície do solo existentes nos troncos das
árvores).
COMISSÃO MISTA 24

A área de várzea (fundo de vale) compreendendo o plano aluvial do rio


Barigüi e Arroio Saldanha, inclusive o canal de drenagem artificial existente,
constituída de solos gleys e orgânicos, onde ficaram retidos 2,7 milhões de
litros de petróleo, foi o que apresentou maior grau de contaminação, com
evidente presença de petróleo até no lençol freático. A degradação dos solos
aluviais e os danos mais visíveis à vegetação ficaram também evidenciados
pelas obras de contenção do petróleo; abertura de estradas de acesso e
desvios, construção de canais, diques e barragens dentro de área de
preservação permanente (mata ciliar), etc.
Quanto à contaminação hídrica em que pese este trecho do Rio Iguaçu
estar prejudicado pela poluição adquirida ao passar em Curitiba, seu estado
foi extraordinariamente agravado pelo acidente em tela. Segundo relatório da
REPAR, a quantidade de petróleo que atingiu os rios Barigüi e Iguaçu foi de
1,3 milhões de litros em uma extensão de 84 km. Com as chuvas ocorridas
após o vazamento e a conseqüente elevação do nível do Rio Iguaçu, o
petróleo impregnou as margens, na forma de faixas de 10 a 40 cm de largura.
Os resultados das análises de amostras coletadas no dia 17/07/2000,
pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), no ponto onde se estabeleceu a
estação emergencial de monitoramento a montante da Foz do Rio Barigüi
com o Iguaçu, evidenciou-se o dano ambiental sobre a qualidade da água,
uma vez que o valor obtido para óleos e graxas foi de 828 mg/l no Rio Iguaçu.
Pela Resolução CONAMA 20/86, esses parâmetros deveriam estar
"virtualmente ausentes" para rios de Classes 2 e 3, que é o caso dos rios
atingidos.
Quanto a Fauna, as aves foram as primeiras a sofrer as
conseqüências do petróleo derramado, tendo contadas, até 27 de junho de
2000, um total de 88 indivíduos, representando 15 espécies diferentes, tais
como: martim-pescador ( Ceryle torquata, Chloroceryle amazona e
Chloroceryle americana), jaçanã ( Jacana jacana), frango d'água (
COMISSÃO MISTA 25

Gallinula chloropus), marreca ananaí ( Amazonetta brasiliensis), socó-


dorminhoco ( Nycticorax nyticorax) e garça-branca-grande ( Casmerodius
albus), além de outras. Muitas já foram encontradas mortas ( 60 indivíduos
coletados) e outras entraram em óbito no Zoológico de Curitiba, mesmo
depois de terem sido atendidas e limpas pelas equipes de socorro. As
principais causas da morte forma a hipotermia (diminuição da temperatura
corporal), contaminação do trato digestivo pelo petróleo ingerido, ingestão de
peixes e outros alimentos contaminados pelo petróleo. Segundo a REPAR,
este vazamento afetou diretamente cerca de 2% das aves silvestres
(informação dada em 07/11/2000), e o efeito crônico no restante da
população não foi avaliado.
Dentre os répteis, os mais afetados foram o cágado-de-cabeça-de-
cobra (Hydromedusa tectifera) e o cágado-de-barbela (Phrynops
williansii),tendo sido resgatados 50 indivíduos destas espécies fora da água.
As cobras d'água (Helycops spp) também foram afetadas. Nove
espécimes répteis foram encontrados mortos.
Sinais de alterações comportamentais foram registrados também pelo
IAP/FATMA em relação ao gênero de crustáceo Aegla sp
(macroinvertebrados bentônicos - Decapoda). A alteração de comportamento
tanto dos cágados, como dos crustáceos, recomendou seu estudo como bio-
indicadores de qualidade de água deste tipo de acidente e estimulou o
desenvolvimento de pesquisa acadêmica mais detalhada sobre bio-
indicadores.
Os anfíbios sofrem os efeitos do petróleo mais especificamente sobre
o seu sistema respiratório, pois parte de sua respiração se dá por via
cutânea. Três rãs (espécies não identificadas) foram resgatadas pelas
equipes de socorro.
Quanto aos peixes, morreram 53 segundo a REPAR (informação dada
em 07/11/2000). No entanto, segundo o relatório apresentado pelo
COMISSÃO MISTA 26

IAP/FATMA, os problemas causados pelas substâncias tóxicas existentes no


petróleo depositado e precipitado no fundo do rio são de efeitos crônicos a
médio e a longo prazo para a ictiofauna, causando inclusive o
desaparecimento de espécies características da bacia hidrográfica do Rio
Iguaçu. No entanto, as espécies analisadas apresentaram: lesão de órgãos,
hiperemia e edema severo, hiperplasia focal de lamelas secundárias, necrose
focal muscular e em guelras, espongiose focal no cérebro, pericardite
purulenta focal, hepatite não purulenta multifocal, miosite não purulenta focal,
além de outros. Tal constatação indica a gravidade do derramamento do
petróleo no Rio Iguaçu mesmo considerando o estado de poluição conforme
constatou os relatórios do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e
Aquicultura - NUPELIA (Universidade Estadual de Maringá).
No caso dos mamíferos, as espécies atingidas- direta ou
indiretamente - mais comuns na região foram: a capivara (Hydrochaerys
hydrochaerys), o mão-pelada ou guaxinim (Procyon cancrivorus), o ratão-
do-banhado ou nutria (Myocastor coypus), a lontra (Lontra longicaudis -
ameaçada de extinção) e a lebre (Lepus capensis); dois ratos-silvestres
foram encontrados mortos. Há que considerar também os animais domésticos
(vacas, cavalos, etc) dos moradores nas áreas afetadas. Foi citado por
moradores da região que duas éguas haviam abortado.
Cerca de 64% dos animais atingidos através do contato físico com o
petróleo (aves, principalmente) foram a óbito e os efeitos tóxicos crônicos do
mesmo nos sobreviventes podem vir a ser observados com o passar do
tempo. Do total de 173 indivíduos resgatados, mais da metade (51,45%) já
estava morta.
Em relação à toxicidade do petróleo no meio ambiente impactado,
exames ecotoxicológicos feitos pelo IAP/FATMA em sete estações de
monitoramento e coleta, foi detectada toxicidade aguda para Daphnia magna
e Vibrio fischeri na estação mais próxima do início do derrame. Na coleta
COMISSÃO MISTA 27

realizada no dia 28/07/2000, nas duas estações do Arroio Saldanha, foi


detectado um índice de toxicidade de Fdd>8 (Fator de Diluição), o qual
classifica as amostras como muito tóxicas e comprova o forte impacto nesse
ambiente aquático.
Altos índices de Benzeno (777,38mg/l), alta concentração de óleos e
graxas (4.283mg/l) e elevada DQO (541mg/l) foram registradas pelo
IAP/FATMA em amostras coletadas no período de 28 de julho a 03 de agosto
de 2000. Em amostras de 03 de agosto de 2000, foram registradas nos
sedimentos concentrações de Benzeno de 17,2mg/l a 90,73mg/l.
Quanto a presença de tolueno na água dos cursos superficiais, no
período de 17 de julho à 22 de agosto de 2000, o monitoramento feito pelo
IAP/FATMA registrou valores entre 3,4mg/l à 36.176 mg/l. Assim como os
valores de tolueno nos sedimentos nesse mesmo período, foram de 3,8 mg/l
à 2.155 mg/l.
Segundo informação dada pela REPAR, por ocasião do vazamento
foram retirados dos cursos de água superficiais em torno de 6.600 m3 de lixo.
Metais pesados (mercúrio, níquel, cobre e chumbo) também foram
encontrados pelo IAP/FATMA, em quantidades superiores às estabelecidas
pelo CONAMA 20/86, além de metais pesados (níquel, cobre, e chumbo) em
sedimentos, extrapolando limites permitidos para rios Classe 3 e 2.
Após a análise de todos esses parâmetros (óleos e graxas, DBO,
DQO, Benzeno, Tolueno e Testes de Toxicidade), o relatório do IAP/FATMA
conclui que a área mais afetada pelo derrame de petróleo foi a do Arroio
Saldanha, seguida pela Foz do rio Barigüi.
Para o levantamento de dados sobre os aspectos sócio-ambientais
foram realizadas 147 entrevistas, no período de 19 a 25 de julho de 2000,
abrangendo moradores dos municípios de Araucária (39,46%), Contenda
(8,16%), Balsa Nova (50,34%) e Porto Amazonas (2,04%). Considerando-se
o número de moradores de cada propriedade, tem-se um total de 691
COMISSÃO MISTA 28

pessoas. Das 147 propriedades visitadas, 63,94% foram atingidas pelo


vazamento do petróleo, seja pela contaminação hídrica, seja pela atmosférica
(cheiro forte, gerando mal-estar). Destas 147 propriedades, 47,61% usam
água de poços, cuja maioria foi perfurada nas proximidades do Rio Iguaçu,
mas nos documentos analisados não encontramos análises da qualidade da
água dos poços, deixando a dúvida positiva ou negativa da contaminação do
lençol freático, 2,72% utilizam água da Represa da Rede Ferroviária
(Araucária) e 2,04% usam água do Rio Pitangueira - afluente do rio Iguaçu.
Dentre os problemas mais citados pelos entrevistados estão: cheiro forte,
poluição da água do rio, aparecimento de animais silvestres mortos e o
prejuízo com a criação de animais; ainda: irritação dos olhos, dor de cabeça,
tontura e mal-estar. Em Guajuvira (Araucária), também foram registrados
casos de diarréia e coceira. Não aparecem em momento nenhum,
monitoramento ou proposta de monitoramento pelo IAP/IBAMA ou pela
Secretaria Estadual de Saúde , da população atingida como; casos de
alergias, mudança dos índices de fertilidade ou mortalidade na região
atingida, enfim alterações nos níveis de saúde entre a população da área
impactada e dos trabalhadores que se sujeitaram a trabalhar nas áreas
impactadas. Em dois areais as atividades foram paralisadas. Em Porto
Amazonas, ficaram prejudicadas também as atividades turísticas do
município.
A pesca de subsistência e amadora na bacia do Rio Iguaçu ficou
proibida desde 19/07/2000, pela Portaria 02/2000 da Comissão IAP/IBAMA. A
pesca comercial na bacia já estava proibida desde 07/10/96, pela Portaria do
IBAMA 002/96. Pela Portaria 03/2000 IBAMA/IAP de 29/08/2000, a proibição
de pesca amadora e de subsistência ficou restrita ao trecho entre os pontos
da sub-bacia do rio Barigüi e o rio Iguaçu em General Lúcio, sendo liberada
antes do final do ano de 2000.
COMISSÃO MISTA 29

LEGISLAÇÃO PERTINENTE

O Ministério Público do Paraná propôs Medida Cautelar de Produção


Antecipada de Provas, preparatória de Ação Civil Pública de Proteção ao
Meio Ambiente, contra a PETROBRÁS, com base em:
a) Artigo 225, caput, da Constituição Federal de 1988, que estabelece
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado...”;
b) Artigo 849, do Código de Processo Civil, que prevê a admissão de
prévia realização de exame pericial;
c) Artigo 928, parágrafo único, do Código de Processo Civil, visto que
a liminar de medida cautelar preparatória de ação civil pública,
visando à recomposição de prejuízos causados ao meio ambiente
por Municipalidade, pode ser concedida sem prévia audiência, pois
a lei especial não contempla a exceção desse artigo 928,
privilegiadora das pessoas jurídicas de Direito Público;
d) Artigo 219 e seguintes do Código de Processo Civil, para requerer a
citação da PETROBRÁS, na pessoa de seu representante legal, ou
à sua revelia;
e) Artigo 12 da Lei Federal n. 7.347/85, para concessão de medida de
produção antecipada de provas deferida liminarmente, sem
justificação prévia (inaudita altera pars);
f) Artigo 11 da Lei Federal n. 7347/85, para imposição de multa diária;

A Associação de Meio Ambiente de Araucária (AMAR) propôs Ação


Civil Pública de Suspensão e Nulidade de Licença Ambiental, com
obrigação de elaboração de RIMA e de indenização por danos
materiais e morais, com pedido liminar contra a PETROBRÁS, com
COMISSÃO MISTA 30

base também no caput e no parágrafo 1o., Inciso IV e outros, e


parágrafo 3o. do Art. 225 da Constituição Federal de 1988, além de:

g) Artigo 21, XXIII, Inciso b, da Constituição Federal, que estabelece


que a licença sob regime de concessão ou permissão é uma
autorização, competindo à União exercer o monopólio sobre a
pesquisa, lavra, enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
derivados (...);
h) Parágrafo 1o do Art. 10 da Lei Federal 6.938/81: o licenciamento de
atividades poluidoras ou capazes de causar degradação ambiental
compete ao órgão estadual integrante do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (no Paraná, o IAP) e ao IBAMA; tal licença pode ser
“renovada”, indicando assim que se trata de uma autorização;
i) Art. 19 da Resolução CONAMA 237/97: o órgão ambiental
competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os
condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender
ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer (dentre outras)
omissão ou superveniência de graves riscos ambientais e de saúde;
no Art. 20: a exigência de um Conselho Estadual de Meio Ambiente
em funcionamento e com caráter deliberativo (como não era o caso
do Paraná, o IAP ficava com sua ação limitada);
j) Art. 37 da Constituição Federal: a administração pública deve
obedecer os princípios da legalidade e eficiência e, não o fazendo,
poderá fazê-lo o juiz;
k) Parágrafo 1o. do Art. 12 da Lei de Ação Civil Pública (LACP): prevê
a possibilidade de suspensão de liminar pelo presidente do Tribunal,
em quatro situações: grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e
à economia pública;
COMISSÃO MISTA 31

l) Parágrafo 1o., Inciso IV, do Art. 225 da Constituição Federal de


1988: exige a realização de estudo prévio de impacto ambiental
para obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa
degradação ambiental; no Parágrafo 3 o. estabelece a
obrigatoriedade de reparação do dano;
m) Lei 6.938/81: estabelece a política nacional de meio ambiente e,
no Art. 3º ., Inciso I, conceitua o meio ambiente como sendo “o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas;” e, no Inciso IV, compreende poluidor como “a pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou
indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental”;
n) Caput do Art. 2o. e Incisos III, V e VIII da Resolução CONAMA
001/86: estabelece a obrigatoriedade de RIMA, a ser submetido à
aprovação do órgão de fiscalização ambiental, para o licenciamento
de atividades modificadoras do meio ambiente; Art. 6 o.: relaciona as
atividades técnicas exigidas para um estudo de impacto ambiental
(EIA); Art. 11o.: o RIMA será acessível ao público;
o) Art. 12 e outros da Resolução CONAMA 006/87: expõem sobre a
regularização de licenciamento (Licença Prévia, Licença de
Instalação, Licença de Operação) condicionada à elaboração e
aprovação do RIMA; estabelece o conteúdo mínimo do RIMA
(Parágrafo 4o.); no Art. 10o. estabelece que o RIMA deverá ser
acessível ao público, na forma do Art. 11 da Resolução CONAMA nº
001/86, e define o direito à publicidade e à audiência pública prévia
ao licenciamento;
p) Art. 1o. da Lei 7.347/85: diz que se regem pelas disposições desta
Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações por danos causados ao
meio ambiente (Inciso I) e a qualquer outro interesse difuso ou
COMISSÃO MISTA 32

coletivo (Inciso IV); e a ação proposta pela AMAR se baseia em Luis


Henrique Paccanella para definir que o aparecimento do dano moral
ocorre “quando houver ofensa ao sentimento difuso ou coletivo”, ou
seja, “quando a ofensa ambiental constituir dor, sofrimento, ou
desgosto de uma comunidade.”4
q) Art. 3o, Art. 12, Art. 19 e Art. 21 da Lei 7.347/85: discorrem sobre
formas de condenação pela ação civil, mandato liminar concedido
pelo juiz, aplicação do Código de Processo Civil (Lei 5.869, de
11/01/1973), defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e
individuais; no Art. 5o. fala sobre a proposição de Ação Principal e a
Cautelar;
r) Art. 84, Parágrafo 3o., da Lei 8.078/92, Código de Defesa do
Consumidor: aplica-se à Ação Civil Pública por força do disposto
nos Art. 19 e Art. 21 da Lei 7.347/85: “aplica-se naquilo que não
contrarie as duas disposições.”;
s) Art. 221 do Código de Processo Civil: citação da PETROBRÁS nos
termos desta lei.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), em 25/07/2000, havia assinado


o Termo de Suspensão nº. 13.207, o qual foi substituído pelo Termo de
Compromisso, datado também de julho de 2000. Neste, a
PETROBRÁS ficou obrigada a requerer, no prazo de cinco dias úteis
contados a partir da data de assinatura do referido termo, o
Licenciamento Ambiental, a ser realizado conforme Resolução
CONAMA 237/97.
Caso a Perturbas não observasse nenhum dos prazos estabelecidos,
na forma tipificada no Art. 1.058 do Código Civil Brasileiro, a empresa

4
PACCANELLA, Luis Henrique. Dano moral ambiental. Revista de Direito Ambiental, n.
13, fls. 46.
COMISSÃO MISTA 33

ficaria submetida à pena pecuniária diária no valor de R$ 10.000 (dez


mil reais).
O Auto de Infração do IAP sobre a REPAR foi lavrado com base em:
t) Art. 3o. da Lei Estadual n. 7.109/79: proíbe qualquer ação de
agentes poluidores ou perturbadores, bem como, o lançamento ou
liberação de poluentes sobre o Meio Ambiente;
u) Art. 70 da Lei Federal n. 9.605/98: discorre sobre infração
administrativa ambiental e estabelece competência para a lavratura
do Auto de Infração e a instauração do procedimento administrativo.
v) Art. 41 do Decreto Federal n. 3.179/99: sobre sanções aplicáveis
aos casos de poluição e a outras infrações ambientais.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) lavrou Auto de Infração, em 18


de julho de 2000, contra a PETROBRAS, por descumprimento aos
requisitos de proteção ambiental e segurança, nos termos:
w) do Art. 56 da Lei n. 9.478/97, Parágrafo único, de 06 de agosto
de 1997;
x) do Art. 3º, Inciso IX, da Lei n. 9.847, de 26 de outubro de 1999;
y) do Decreto n. 2.953, de 28 de janeiro de 1999;
z) Art. 5º, Inciso I, da Lei n. 9.847/99, impedindo-a de operar o duto.
Foi aberto Processo Administrativo n. 48610.004670/2000-51,
instaurado pela ANP.
A Portaria ANP n. 170, de 26 de novembro de 1998, estabelece a
regulamentação para a construção, a ampliação e a operação de instalações
de transporte ou de transferência de petróleo, seus derivados e gás natural,
inclusive liqüefeito (GNL). No Art. 1º, Parágrafo 3º, estabelece que “somente
poderão solicitar autorização à ANP empresas ou consórcio de empresas que
atendam as disposições do art. 5o da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997.”
COMISSÃO MISTA 34

Em 01 de fevereiro de 2000, foi publicada a Portaria ANP nº 014/00,


estabelecendo procedimentos específicos para comunicação de acidentes de
natureza operacional e liberação acidental de poluentes, para
concessionários e empresas autorizadas a exercer atividades pertinentes à
exploração e produção de petróleo e gás natural, bem como para empresas
autorizadas a exercer atividade de armazenamento e transporte de petróleo,
seus derivados e gás natural. Considera o disposto no Inciso IX, do Art. 8 o, da
Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 e toma por base a Resolução de
Diretoria nº 060, de 01 de fevereiro de 2000. O não cumprimento desta
Portaria implicará em aplicação das penalidades previstas na Lei nº 9.847, de
26 de outubro de 1999, e legislação complementar.

RESPONSABILIDADES E ATRIBUIÇÕES

Embora o IAP tenha afirmado que a PETROBRÁS foi negligente, não


há só um culpado nesse processo.
Há a responsabilidade do Governo Federal, que impõe uma política de
sucateamento das estatais, de privatizações e de terceirização da mão-de-
obra.
Há a responsabilidade do Governo do Estado do Paraná que se coloca
conivente com as políticas federais e não implanta uma política séria de meio
ambiente no Estado, inclusive com ações fiscalizatórias preventivas,
antecipando-se aos desastres ambientais. É necessário que o IAP responda:
porquê as Licenças de Operação nunca previram a necessidade de medidas
mais eficientes de segurança ou um dique de contenção para aquele local?
COMISSÃO MISTA 35

Há a responsabilidade do Governo do Estado de Santa Catarina que


não implanta uma política séria de meio ambiente no Estado, com ações
fiscalizatórias preventivas, antecipando-se aos desastres ambientais.
Há a responsabilidade da Empresa Petróleo Brasileiro S.A. -
PETROBRÁS - pela reincidência de acidentes em todo o país, envolvendo o
derramamento de óleos e outros produtos em água, solo e ar.
Há a responsabilidade da REPAR/DTSUL pela série de irregularidades
que vinham ocorrendo, culminando com o vazamento do óleo e sua
respectiva expansão. Internamente, doze funcionários foram punidos pelo
acidente com exonerações, demissões, suspensões e advertências, ou seja,
a punição recaiu sobre os envolvidos no projeto de troca de válvulas e nas
operações de abertura dos tanques, não por acaso os elos mais fracos da
corrente, especialmente os operadores. Foram exonerados os
superintendentes da REPAR e da DTSUL, o chefe do setor de manutenção
de equipamentos estáticos da REPAR e o gerente de operações da DTSUL.
Foram demitidos dois operadores da refinaria do setor onde ocorreu o
derrame, o engenheiro responsável pela operação do DTSUL e um
supervisor que coordenava a operação. Recebeu advertência um engenheiro
do DTSUL. Receberam suspensão de 5 a 29 dias o engenheiro do DTSUL
que solicitou a execução do projeto, um supervisor e um técnico de revisão
da REPAR.
No entanto, ninguém foi punido pela não capacitação de mão-de-obra
terceirizada, nem pela sobrecarga de tarefas impostas aos trabalhadores, ou
pela brutal redução de 40% dos funcionários fixos da empresa nos últimos
dez anos, muito menos pela não existência de um dique de contenção no
local do vazamento, nem pela não existência de um controle com permanente
intervenção humana no processo de bombeio (ou seja, desde o início até a
estabilização do escoamento), ou pela precariedade e limitações evidentes
COMISSÃO MISTA 36

dos métodos de análise e prevenção de riscos e pela ausência de Plano


Básico que desse conta da emergência que se instalou com o vazamento.
Questiona-se ainda o fato de que nenhum sistema de proteção,
alarme, sinalizações ou outro, tenha soado ou chamado a atenção dos
operadores naquele dia, o que nos remete para a seguinte questão: a
propalada “automação” não passaria de simples modernização dos painéis de
controle das unidades?
Quem vai reparar os futuros danos à saúde da população, caso se
manifestem a médio e longo prazos? Como será compensada a extinção de
espécies endêmicas e as alterações genéticas ou más formações em seres
vivos, caso isso fique comprovado?
Quem vai responder pelos irreparáveis danos causados à imagem da
PETROBRÁS, nossa maior empresa e motivo de justo orgulho para os
brasileiros?
Onde estão, em que ambientes se escondem os verdadeiros
responsáveis?
Em relação à degradação da Bacia Hidrográfica do Rio Iguaçu, devem
ser responsabilizados todos os que contribuem, direta ou indiretamente, para
a sua contaminação e degradação, ou seja, empresas de pequeno, médio e
grandes portes, indústrias, restaurantes, SANEPAR, COPEL, administração
pública municipal, estadual e federal, comunidade, além de outros.

CONCLUSÃO E AVALIAÇÃO CRÍTICA DA SITUAÇÃO DA PETROBRAS

Com base nos documentos analisados, conclui-se que este acidente


poderia, perfeitamente, ter sido evitado. Bastava um pouco mais de
investimento em prevenção, manutenção e recursos humanos. Uma empresa
COMISSÃO MISTA 37

como a PETROBRAS, com décadas de existência, gabarito internacional em


tecnologia de ponta para o setor e a maior arrecadação de ICMS do Paraná
(16,8%) e do Brasil, não pode continuar a sofrer as conseqüências de
sucessivas administrações que, como mostram os repetidos acidentes,
provocaram a perda da capacidade de gerenciar efetivamente os riscos
inerentes às suas atividades.
Nem mesmo a certificação da ISO 14001 foi capaz de prevenir o
acidente. Seria erro de cálculo imaginar um vazamento de 70 mil litros de
óleo e ocorrer um de 4 milhões de litros de óleo? Por que foram necessárias
duas horas para a constatação e contenção do problema?
Um outro aspecto a ser considerado é a poluição atmosférica. Várias
pessoas reclamaram do cheiro forte, de enjôos, mal-estar, etc., e a AMAR
comenta sobre esse problema em sua Ação Civil Pública. No entanto, não foi
apresentado nenhum relatório da qualidade do ar antes, durante e após o
acidente. O petróleo possui significativa quantidade de compostos voláteis, os
quais também podem produzir danos no meio ambiente e para a saúde da
população.
O ar de Araucária já está bastante contaminado e, pela Resolução
CONAMA 03/90, são consideradas aceitáveis concentrações de 360 µg de
SO2 por metro cúbico de ar no período de 24 horas; no entanto, dados de
12/05/98 comprovam que somente a REPAR emite entre 137 e 206 µg de
SO2 por metro cúbico de ar por dia. Outros parâmetros de qualidade do ar
também precisam ser analisados (partículas, óxidos de nitrogênio, metais
pesados, CO, CO2, etc.); assim como é imprescindível a realização de
estudos cumulativos e sinérgicos da poluição atmosférica.
A continuidade do monitoramento da área onde ocorreu o acidente,
com os mesmos e outros parâmetros de análise, é fundamental para uma
avaliação a médio e longo prazos da qualidade da água da bacia do Rio
COMISSÃO MISTA 38

Iguaçu na região e dos efeitos crônicos e degenerativos para os seres vivos


de substâncias presentes naquele local.
Deve-se levar a sério um programa conseqüente e eficiente para a
recuperação de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Iguaçu.
Destaca-se também a necessidade de um trabalho conjunto, integrado,
interdisciplinar e interinstitucional, não só de monitoramento como também de
planejamento e execução de ações para a melhoria da qualidade ambiental e
de vida das pessoas, levando-se em conta a importância de uma gestão
democrática e participativa dos ecossistemas (naturais ou modificados pelo
homem) para a conquista de uma maior eficiência, consistência e
durabilidade das soluções.
Além do que, a prevenção custa muito menos que a correção ou
compensação do problema.
Para a Comissão Mista do Crea-PR é inaceitável que um acidente de
tão graves proporções possa ser explicado, como pretende a direção da
PETROBRÁS, como produto de “falhas humanas” e/ou de “falhas técnicas”,
ainda que tais causas possam ter ocorrido e contribuído para o evento.
As punições aplicadas merecem nossa clara oposição e devem ser
vistas com reservas pela sociedade. As demissões foram adotadas com o
objetivo de, por um lado, satisfazer ao justo clamor da opinião pública e, de
outro, para dificultar ou mesmo encobrir a discussão das verdadeiras causas
e responsabilidades, não apenas do acidente, mas, também,  dos vários e
repetidos eventos dos últimos anos, os quais demonstram que a
PETROBRÁS, ao reestruturar-se segundo uma ótica dita “empresarial”,
adota políticas e posturas  gerenciais que negligenciam, para dizer o
mínimo, práticas adequadas de segurança.
As instalações que armazenam, manipulam e transformam petróleo
em seus inúmeros derivados constituem-se, o que é óbvio, em áreas de
COMISSÃO MISTA 39

elevado potencial de risco à integridade dos trabalhadores, das populações


próximas, de equipamentos e do meio ambiente.
Exatamente por seu alto potencial de risco, é dever de todos os que
trabalham nestas instalações e, muito especialmente, daqueles que
detenham postos e responsabilidades de comando e gerência, a adoção de
medidas e ações que visem a diminuir a probabilidade de ocorrência de
acidentes, e, se ocorrerem, que as conseqüências sejam, de um lado,
previamente estimadas e, de outro, todas as medidas e ações contingenciais
estejam também previstas.
O que se viu, muito especialmente nas primeiras 72 horas após o
vazamento, é que os planos de contingência postos em prática mostraram-se
inadequados tanto no que diz respeito aos recursos humanos quanto aos
recursos materiais necessários.
É cristalino o entendimento de que o acidente em tela e os demais
graves eventos que têm acontecido nas instalações da PETROBRÁS em
todo o país devem, necessariamente, ser analisados à luz do processo de
reestruturação que vem sendo imposto à empresa nos últimos anos; a
análise de tais acontecimentos não pode, ao punir o elo mais fraco, eximir de
responsabilidade a direção da empresa que, no mais das vezes,
desconsidera a inevitável dimensão social presente na rede de causas dos
eventos.
Ainda que em cada um dos eventos erros humanos e falhas técnicas
e/ou de equipamentos possam ser apontados como causas imediatas da
eclosão,  os integrantes da Comissão Mista não aceitam que tais causas
sejam apresentadas como as únicas explicações para os fatos.
Nos últimos 5 anos, a pretexto de conferir à PETROBRÁS métodos de
“gestão empresarial”, sua direção vem impondo transformações e mudanças
que constituem as verdadeiras e reais causas de tantos acidentes ampliados,
COMISSÃO MISTA 40

podendo-se mesmo dizer que todos eles tenham sido “quase-planejados”,


“quase-esperados”, “quase-intencionais”. 
O que não é aceitável é que essa “modernização” seja implementada
com o escopo de produzir lucros e resultados a qualquer preço, de tal
maneira e com métodos capazes de sugerir, serenamente, que o vazamento
de 4 milhões de litros de petróleo, em 16/07/2000, vinha sendo construído
não somente nas horas imediatamente anteriores ao fato, mas nos meses e
anos anteriores.
O aumento do número de acidentes e de mortes de trabalhadores,
com graves injúrias ao meio ambiente, demonstra definitivamente que o
processo de reestruturação em curso na PETROBRÁS, especialmente no
que diz respeito à preocupante redução dos efetivos próprios nas áreas de
operação e de segurança industrial, somada ao aumento dos efetivos de
mão-de-obra terceirizada nas atividades de manutenção, é fator que cria
condições muito favoráveis, e perfeitamente visíveis, para a ocorrência de
outros graves acidentes ampliados.
As situações da REPAR e do Terminal de São Francisco do Sul (SC) são
exemplos emblemáticos. Em 1989, eram cerca de 1200 os trabalhadores
próprios lotados na REPAR, e 192 no Terminal, contra os atuais 534 e 105,
respectivamente.
Quando são examinamos os efetivos das áreas de operação,
manutenção e de segurança industrial, constata-se que a diminuição de
efetivos constitui-se em decisão de alto risco.
Na REPAR, em 1995, os efetivos eram de 281 empregados na área de
operação, 36 na área de segurança industrial e de 103 nas áreas de
manutenção. No ano 2000, com produção maior, eram 217 na área de
operação (redução de 23%), 17 na área de segurança industrial (redução de
53%) e 69 nas áreas de manutenção (redução de 33%).
COMISSÃO MISTA 41

Ressalte-se, por importante, que as diversas unidades de processo,


armazenamento e transferência foram ampliadas, isto é, novos tanques,
sistemas e malhas de controle, torres, vasos, bombas, etc., foram
adicionados.
A redução de pessoal em virtude da “automatização” das unidades,
como diz a PETROBRÁS, não se justifica quando, o que de fato ocorreu, foi a
troca dos painéis de controle, antes analógicos, por sistemas digitais.
Significa dizer que, no campo, praticamente todas as operações que
careciam da intervenção física de operadores continuam sob esta condição.
A situação não é menos grave nos setores de manutenção e de
segurança industrial. A redução de pessoal praticada pela direção da
empresa na área de manutenção implicou na intensiva utilização de mão-de-
obra terceirizada, fato que, por sua vez, rebaixou a níveis preocupantes a
qualidade dos serviços, já que as empresas contratadas não têm, em geral,
preocupação concreta com a formação e o treinamento dos seus
empregados, além de submetê-los a degradantes condições de trabalho,
com salários baixos, muitas vezes pagos com atraso, sem recolhimento das
obrigações sociais, fornecimento de EPI’s inadequados.

No que diz respeito ao setor de segurança industrial, pode-se dizer,


sem nenhum traço de exagero, que as equipes de combate às
emergências, compostas por especialistas, foram suprimidas na Refinaria.
A redução de efetivos de 35 especialistas (em 1997) para dezoito (em
31.07.2000), nos permite concluir que os Planos de Contingência
existentes não podem ser colocados em prática, o que, dentre outros
fatores, explica as evidentes dificuldades da Empresa durante as 48
horas que se seguiram ao vazamento.
COMISSÃO MISTA 42

RECOMENDAÇÕES:

1) Que a PETROBRÁS anule todas as punições aplicadas ao quadro


funcional em decorrência do desastre ambiental;

02) Que a PETROBRÁS, em conjunto com o Sindicato dos Petroleiros,


CREA, ONG’s e outros setores da sociedade, estabeleça sério processo
de negociação para discussão de todos os aspectos relacionados a
segurança de pessoas, equipamentos e ao meio ambiente, incluindo o
aumento dos efetivos atualmente praticados;

3) Que nos Municípios nos quais existam instalações e empreendimentos


que possam provocar acidentes ampliados, sejam estabelecidos
Programas de Gerenciamento de Riscos, com a participação dos
empreendedores, dos sindicatos, do Poder Público, de ONG’s e das
comunidades, de modo a permitir a existência de completos planos de
emergência, bem como da ampla difusão de toda e qualquer informação
necessária às autoridades para capacita-las à preparação de planos
externos de emergência;

4) Que os Poderes Públicos Estaduais (PR/SC) implementem, de imediato,


todas as ações e procedimentos que visem a criação de política estadual
relativa a questão, incluindo o completo reaparelhamento dos órgãos que
tratam do assunto;

5) Que o Congresso Nacional discuta e aprove, após amplo debate com a


sociedade, legislação que crie e regulamente a obrigatoriedade da
realização de planejamento de emergência para áreas industriais
perigosas, incluindo medidas ativas que  garantam amplo conhecimento
e participação popular sobre os riscos, substâncias, planos de
emergência, etc;

6) Como o Congresso Nacional, recentemente, ratificou a Convenção 174


da OIT, que trata de acidentes industriais ampliados, que a PETROBRÁS
e todas as empresas que, por suas atividades e operações, ofereçam
riscos a pessoas, patrimônio e ao meio ambiente, cumpram
rigorosamente as recomendações daquela Convenção.

7) Que os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde incorporem o tema


acidentes ampliados à sua pauta de discussões e de ação;  

8) Que a PETROBRÁS faça o monitoramento dos danos ambientais


provocados pelo acidente na extensão de 84 km das calhas do rios
COMISSÃO MISTA 43

Barigüi e Iguaçu, como análises de águas superficiais e profundas, solo,


flora e fauna.

9) Que a PETROBRÁS/REPAR faça a compensação ambiental, com a


recuperação das bacias do rios atingidos, com a formação e manutenção
de reservas ambientais na Alta Bacia do Iguaçu, incluindo o permanente
monitoramento da qualidade da água, com a divulgação dos dados
coletados para o Poder Público, ONGs, Ministério Público e Defesa Civil.

10) Instalação de barreiras para coleta de material sólido na Alta Bacia do


Iguaçu, que deverá ser quantificado e reciclado.

11) Que o governo estadual e as prefeituras realizem completo levantamento


das de empresas que trabalhem com produtos petroquímicos em áreas
de risco da Rodovia do Xisto.

12) Que se removam as populações do entorno dos complexos


petroquímicos, para evitar tragédias e evacuações da comunidade às
pressas;

13) Que enquanto o item anterior não for implementado, que se institua o
Plano de evacuação das populações circunvizinhas do complexo
petroquímico.

14) Que se implemente Plano de investimento da REPAR para redução da


emissão de gases ácidos na atmosfera da microbacia de Araucária e
reciclagem dos efluentes líquidos lançados no rio Barigüi.

15) Investimentos da PETROBRÁS/REPAR para elaboração, implantação e


operacionalização de plano de manejo da APA do Rio Verde, de onde a
empresa retira o mais precioso bem natural, a água.

16) Que todo processo de mitigação, recuperação e compensação seja


validado por uma auditoria de ONGs, poder público, sindicatos, Ministério
Público, CREA, etc, com ampla divulgação dos dados.

17) Realização de análise, com método que aponte resultados em ppb


(partes por bilhão), das águas de poços ribeirinhos, na área atingida dos
rios Barigüi e Iguaçu, uma vez que 40% da população atingida se
abastece dessas fontes.

18) Monitoramento da saúde da população atingida, desde moradores a


trabalhadores que atuaram na limpeza das áreas impactadas.
COMISSÃO MISTA 44

ENTIDADES QUE COMPÕEM A COMISSÃO MISTA

Sindicato dos Petroleiros PR/SC – SINDIPETRO PR/SC


Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do PR - CREA-
PR
Sindicato dos Arquitetos e urbanistas do Paraná – SindiArq
Sindicato dos Engenheiros do Paraná - SENGE
Sindicato dos Petroquímicos – SINDIQUIMICA/PR
Universidade Federal do Paraná – UFPR
União da Entidades Ambientalistas do Paraná - UNEAP
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR - ISAM
Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária – AMAR
Ministério Público do Estado do Paraná – MP
Rede Amigo das Águas – FADA
Instituto de Arquitetura do Brasil/PR – IAB
Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental – CEDEA
Movimento Ecológico do Litoral – MEL
Sindicato dos Servidores da Secretaria d- SINDSEAB
Associação dos Engenheiros Químicos do Paraná
Associação dos Engenheiros da Petrobrás - AEPET
Associação dos Municípios do Paraná – AMP
Associação Paranaense do Engenheiros Florestais – APEF
Instituto de Desenvolvimento Sustentável – IDS
Instituto Guardiões da Natureza
Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícia – IBAPE/PR
Instituto de Engenharia do Paraná - IEP

CURITIBA, 16 DE JULHO DE 2001.

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