Vous êtes sur la page 1sur 6

ALFEIZERÃO, A TERRA E O RIO – 4

- As cheias de 1774

A 11 de Dezembro de 1774, no culminar de um período intenso de pluviosidade

que se faz sentir também em Alcobaça com efeitos igualmente catastróficos, o leito do

rio de Alfeizerão rompe as motas das margens na zona do Pedrógão (LOUREIRO,

1904, p. 282), inunda os campos de Alfeizerão e São Martinho e cava um novo leito,

indo desaguar a nordeste da concha, junto à vila de São Martinho e arruinando

completamente o seu porto. Citamos duas descrições dessa catástrofe e dos seus

efeitos, a do cronista Frei Manuel de Figueiredo, registada na nota primeira da sua

resposta ao Inquérito Agrícola de 1787 (MADURO, 2013, p. 349), e a transmitida num

artigo do Diário do Governo (nº. 82, de 9 de Abril de 1822) por Luís Gomes de

Carvalho, «Coronel do Corpo de Engenheiros», que dirigiu obras de recuperação do porto

de São Martinho no primeiro quartel do século XIX. Frei Manuel de Figueiredo, por

sinal, comete um pequeno lapso ao indicar a data da cheia.

A balizar estas descrições, reproduzimos três mapas (o primeiro deles, apenas

um extracto) onde podemos ver cartograficamente documentada essa alteração do

leito do rio.
Figura 1:

A “Quebrada” junto ao Pedrógão, onde o rio de Alfeizerão galgou as suas margens (extracto de um mapa de Guilherme Stephens,

datado de Outubro de 1794: “Mappa Topographico da Concha e Barra de S. Martinho, alias Salir – Com a confluência dos Rios que vem por

Alfezeirão e Tornada no qual se mostra a nova Foz que devem ter para não entulhar a Concha”.
Frei Manuel de Figueiredo:

«Uma inesperada eventualidade utilizou alguns anos os

lavradores dos mesmos Campos. A cheia da noite de 11 de Novembro de

1772 metendo muita água nos tais Campos e não podendo esta sair para

a baía de S. Martinho pela boca do vau, aonde se juntam os rios de

Charnais, Salir de Matos e Tornada, rompeu o peso da água os grossos e

altos marachões da areia imediatos à vila de S. Martinho em largura de

mais de 80 palmos e as águas desabaram para a mesma baía deixando

secas até às lagoas do termo de S. Martinho que nunca foram cultivadas

e produziram muito nos anos secos. Aquela boca se aumenta

diariamente por serem de areia os seus lados e as águas correntes as

escavarem. As enchentes quase todas se se vazam pela mesma boca que é

o sítio mais baixo na baía de S. Martinho e desta sobem por ela as marés

a esterilizarem os campos de todo com prejuízo da saúde dos povos.

«A baía quase de todo tem perdido o fundo. Eu vi iates que

vinham carregar madeira trazerem lastros de areia que vazavam na

mesma baía. O Mosteiro Donatário quando pediu ao Augustíssimo Sr.

D. José I as providências que genericamente ficam apontadas fazia

muitos sacrifícios e obrigou-se a ser concorrente nas aberturas a que não

era obrigado excetuando só os terrenos que pelos seus emprazamentos

estavam os enfiteutas nas obrigações de abrir, valar e roçar. Os mesmos

moradores empatam uns aos outros as utilidades e o ano pretérito em

que não houve requerimentos de aberturas foram mais as desmandas

que os lucros».

(MADURO, 2013, p. 349)


Figura 2:

«Carta iteneraria do terreno comprehendido entre Molianos e Nazareth, Rio Maior, e Peniche / levantada em 1810 pela Brigada

dos Officiaes do Real Corpo de Engenheiros ao serviço do Exercito…» (Biblioteca Digital do Exército, cota 1388-2-22A-109)

Atente-se no traçado insólito do rio de Alfeizerão


Coronel Luís Gomes de Carvalho:

«(…) he tambem sabido que a alluvião de 1774, havendo mudado o

álveo do Rio de Alfeizirão, que desaguava na concha do lado de Selir, e

foi romper, e estabelecer seu leito no lado opposto, ou da banda de S.

Martinho, arrojando impetuosamente para dentro da mesma concha os

Medros ou altos areaes que a circumdão pelo lado da terra (do Norte

pelo Este até Sul, que os Seculos alli havião accumulado; este

acontecimento que tanta gente ainda viva prezenciou, junto ás outras

causas permanentes de decadência, que já existião, e sempre

augmentando marca a época fatal da acceleração da mina da concha de

maneira que já em 1799 apenas tinha no melhor ancoradouro do lado de

S. Martinho 11 palmos de fundo em baixa-mar, e só para fundearem 2

até 3 embarcações; e do lado de Selir menos socegado havião treze

palmos também em baixa-mar, e para outras tantas embarcações; e

finalmente foi tal a rapidez que marchou para a sua ruína que nos annos

de 1812, 1813 e 1814 o porto chegou a não ter mais de 5 até 7 palmos de

fundo, e ás vezes menos, onde apenas cabião huma até duas pequenas

embarcações em risco de baterem no fundo e se despedaçarem no baixa-

mar, quando a concha estava agitada com mar bravo, e isto tanto do

lado de S. Martinho, como no opposto de Selir, e além disso huma

grande parte da superfície da dita concha, ou porto, se mostrava em

secco no baixa-mar, apresentando hum extenso areal, e o doloroso

espectáculo da sua total ruína».

(CARVALHO, Luís Gomes de, “Nota sobre o Porto de S. Martinho”,

in “Diário do Governo” nº. 82, de 9 de Abril de 1822, pp. 569-570,

Lisboa, Imprensa Nacional)


Figura 3:

“Barra de S. Martinho ou Selir, na costa de Portugal”, ano de 1794 Biblioteca Digital do Exército 3581/I-3-31-43

Fontes:

LOUREIRO, Adolpho, «Os Portos Maritimos de Portugal e Ilhas Adjacentes», Vol. II,

Lisboa, Imprensa Nacional, 1904).

MADURO, António Eduardo Veyrier Valério, «O Inquérito agrícola da Academia Real das

Ciências de 1787. O caso da Comarca de Alcobaça». in Mosteiros Cistercienses História, Arte,

Espiritualidade e Património, direção de José Albuquerque Carreiras,Tomo III, pp.319-

354, Alcobaça. 2013).

Vous aimerez peut-être aussi