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SUELY ROLNIK
Estação Liberdade
lratando-se de uma cartografia,
eu aconselharia ao eventual lei
tor que saia de viagem leve, com
pouca mala.
De qualquer forma o cartógra
fo não é um colonizador: o seu
interesse não reside, por exem
plo, em impor a uma terra des-
conhecida (aliás, não necessaria
mente virgem) o mapa dos ca
minhos forçados que já organi
zou a sua vida em “pátria”. Ao
contrário, talvez ele tenha que
esquecer os seus percursos casei
ros para poder, passo a passo,
percorrer, descrever ou às vezes
mesmo inscrever os caminhos de
um novo mapa.
Que malas então se trataria
de deixar em casa para essa via
gem? Naturalmente, a pasta dos
mapas antigos, dos guias turís
ticos, ou ainda dos aparelhos
conceituais.
Se objetará que já “cartografia”,
“território” etc. são conceitos e
se invocarão — pertinentemen
te aliás — os nomes de Deleu
ze, de Guattari e outros. Talvez
até estranhe, do ponto de vista
de quem procurasse quadros re
ferenciais, que um psicanalista
assine esta orelha, para um livro
que não se insere na conceitua-
lidade analítica tradicional. Cer
to. Mas a minha proposta é que
o leitor de Suely confie no itine
rário da língua natural, mais do
que no repertório dos seus sabe-
res. Entender aqui “desejo”, ‘ca
rência”, “captura”, “noivinhas”,
assim como soam na fala cotidia
na, no nosso exercício da lingua
gem e não como metalingua-
gem, é o que devolve ao livro de
repente a sua qualidade essen
cial: como todo mapa, é uma
abstração só na medida em que
permite uma visão da cidade
mais além da casa de frente que
CARTOGRAFIA SENTIMENTAL
Transformações contemporâneas
do desejo
Obras da autora
• Micropolílica - Cartografia do desejo, Vozes, Petrópolis, Ia ed..,
1986, 2* ed., 1987. (Co-autoria com Félíx Guattari)
• Revolução Molecular - Pulsações políticas do desejo, Brasiliense,
São Paulo,1* ed., 1981, 2* ed., 1985, 3a ed.,1987 (organização, tra
dução, prefácio e comentários de uma coletânea de textos de Félix
Guattari).
Suely Rolnik
CARTOGRAFIA SENTIMENTAL
Transformações contemporâneas
do desejo
Estação Liberdade
©Copyright Suely Rolnik, 1989
Editora Clube do Livro Ltda.
Estação Liberade
Rua Fagundes, 61 — Bone (Oil) 279.2185
São Paulo - SP - CEP 01508
Fundador Mário Graciotti
Rolnik, Suely.
Cartografia sentimental: transformações contempo
râneas do desejo / Suely Rolnik — São Paulo :
Estação Liberdade, 1989-
Bibliografia.
COD-302
-152.4
89-2105 -306
NOTAS DE ABERTURA.............................. 15
I - Cartografia: uma definição
provisória..................... 15
II - Instruções de uso,.................. 16
LIVRO UM
Desejo: perfil de um
cartógrafo da atualidade.......................... 21
CAPÍTULO I
Desejo em três movimentos....................... 25
1 Claquete: movimento um........................... 25
Claquete: movimento dois.......................... 26
NJ
Dois..................................................................
Três..................................................................
A cartografia das linhas:
1
O cartógrafo político.....................................
A ética do cartógrafo....................................
CAPÍTULO VIII
O psicanalista cartógrafo.............................
CAPÍTULO IX
Chegou a hora do cartógrafo
sair a campo...................................................
LIVRO DOIS
A produção do desejo na era da mídia:
anotações de um cartógrafo.................
CAPÍTULO I
A expedição do cartógrafo..........................
CAPÍTULO II
Esplendor da produção do desejo
na era da mídia: a esperança...................... 92
CAPÍTULO III
A face oculta dos anos dourados.............. 97
CAPÍTULO IV
A crise na subjetividade................................ 101
Miséria da produção de desejo na era da
mídia.......................................................... 101
O cartógrafo vai ao cinema e descobre a
“América”................................................. 104
Síndrome de carência-e-captura ................ 109
Fragilização em espiral ascendente: a ca
rência das noivinhas.............................. 109
Noivinha melancólica & seus
pretendentes fóbicos ou a captura
pelo “amor”.............................................. 111
Noivinha histérica & mídia perversa ou a
captura pela “informação”.................... 113
A política de captura do desejo................. 117
Viva a “América”! Viva a crise!................... 122
CAPÍTULO V
Roteiro de cartografias das noivinhas....... 124
O cartógrafo vai ao cinema e descobre o
melodrama do “complexo de marido-
e-amante”................................................. 124
Paranóia anti-real: a que-gora-e-resiste 144
O mito da revolução: a “militante-em-nós” 148
O mito da natureza perdida: a “hippie-em-
nós”.................................................................. 160
A “resistente-em-nós” e a emoção messiâ
nica ............................................................ 173
A rixa, em nós, entre a militante e a
hippie (....................................................... 176
2.5 O cartógrafo vai para o Brasil e descobre
a “tropicalista-em-nós”.......................... 178
3 A revanche da que gora-e-gruda: o
coronel-em-nós...................................... 186
4 O trauma da que-gora-e-resiste.................. 193
5 “Síndrome do esquecimento”: “a que-se-
descola-no-exílio”................................. 201
6 Correspondência entre o cartógrafo
e a noivinha brasileira.......................... 208
6.1 A feminista-em-nós...................................... 211
6.2 A alternativa-em-nós.................................... 213
6.3 A noivinha se revitaliza ............................... 215
7 A noivinha vai ao museu e descobre ã
“América” no Sul: a força do
carnavalismo.......................................... 218
7.1 O desfile....................................................... 220
7.2 Panorama visto da Tupinicópolis.......... . 221
7.3 Panorama visto da arquibancada............... 222
7.4 Cerimônia de encerramento....................... 222
7.5 De novo, a síndrome de carência-e-
capturà.................................................... 226
7.6 Captura pós-moderna
dos anos pós-dourados.............................. 230
7.7 Carnavalismo anticaptura..... ..................... 234
7.8 o antropófago e o dândj.
■ pós-moderno.... ..................................... 237
7.9 A contaminação carnavalista...................... 246
7.10 o carnaval travado pela lógica do
• negativo.................................................. 248
7.11 Antropofagia, enfim.................................... 252
CAPITULO VI
Últimas anotações no diário do cartógrafo:.
ele, agora, quer redescobrir a
“América” no Sul................................... 265
CAPÍTULO VII
Relatório final............................................... 271
Metamorfoses da noivinha.......................... 271
Síndromes....................................................... 272
Síndrome de carência-e-captura
Síndrome do exílio-e-esquecimento
Síndrome do exílio-e-rememoração
contínua
Complexos.....................................,............... 272
Traumas.......................................................... 273
Impérios, continentes e países................... 273
Cidades........................................................... 274
Estrangeiros devorados................................ 274
Equipamentos e seus usos.......................... 280
Básicos............................................................ 280
Adicionais....................................................... 283
NOTAS DE ENCERRAMENTO.................... 287
I - Panorâmica ou mapa.............................. 287
Livro um......................................................... 287
Livro dois........................................................ 288
II - Declaração de intenções...................... 291
1. O que quer o cartógrafo?........................ 291
2. Como faz o cartógrafo?........................... 291
3. Por que “noivinhas”?............................... 292
REFERÊNCIAS DOS ESTRANGEIROS....... 294
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15
Cartografia Sentimental
I
16
Notas de Abertura
17
Cartografia Sentimental
18
Notas de Abertura
19
■
Desej
cartó
> ..v
•'.h,U' ó~
rt Í4
c - dalr ...
2
--- -i
/
O desejo é o sistema de sig
nos a-significantes com os
quais se produz fluxos de
inconsciente no campo so
cial. Não há eclosão de
desejo, seja qual for o lugar
em que aconteça, pequena
família ou escolinha d&
bairro, que não coloque em
xeque as estruturas estabe
lecidas. O desejo é revolu
cionário, porque sempre
quer mais conexões, mais
agenciamentos.
Gilles Deleuze
e Claire Pamet,
Dialogues
CAPÍTULO I
Desejo em três movimentos
25
Cartografia Sentimental / Livro Um
26
Desejo em Três Movimentos
27
Cartografia Sentimental/Livro Um
28
Desejo em Três Movimentos
Claquete: variações do 4
terceiro movimento
Agora nossa segunda figura, a
aspirante-a-noivinha-que-gora, se desdobra em
duas: dois destinos possíveis, sempre no mes- ■
mo contexto, superurbano, superatual.
Primeira: perplexo, você nota que
a personagem, embora constrangida, insiste.
Gruda na máscara de noivinha, como se ela
29
Cartografia Sentimental / Livro Um
30
Desejo em Três Movimentos
Intervalo
O que acabamos de assistir nos faz
pensar que as intensidades em si mesmas não
têm forma nem substância, a não ser através
de sua efetuação em certas matérias cujo 5
resultado é uma máscara. Ou seja, intensidades
em si mesmas não existem: estão sempre efe
tuadas em máscaras — compostas, em
composição ou em decomposição. Da mesma
maneira, você e eu vimos que não há máscaras
que não sejam, imediatamente, operadores de
intensidade. Disso podemos extrair algumas d/g
consequências.
Primeira: a palavra “simulação”, que
associamos ao segundo movimento do desejo,
não tem, nesse caso, nada a ver com falsidade,
fingimento ou irrealidade. Vimos que, enquan
to a máscara funciona como condutor de afeto
(a noivinha-que-vinga), ela ganha espessura de
real, ela é viva e, por isso, tem credibilidade: é
“verdadeira”. E, na medida em que deixa de ser
esse condutor — ou seja, na medida em que os
afetos gerados no encontro, ao tentarem efe-
tuar-se nessa máscara, não conseguem fazer
sentido (a noivinha-que-gora) —, ela
simplesmente torna-se irreal, sem sentido, e por
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Cartografia Sentimental/Livro Um
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Desejo em Três Movimentos
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Cartografia Sentimental / Livro Um
1
34
CAPÍTULO n
Desejo em três latitudes
35
Cartografia Sentimental / Livro Um
1 Platô de latitude um
No começo, você se lembra, havia
uma só personagem feminina: a aspirante-a-
noivinha. Você recapitula rapidamente o que
teu olho tinha revelado: ela encontrava um
homem, num lugar qualquer. Seus corpos dei
xavam-se afetar naturalmente; atraíam-se; a
atração gerava afetos; os afetos tentavam
simular-se; apresentavam-se. Este é um bom
momento para você estrear o fator de
a(fe)tivação que escolheu.
Você é tocado por uma espécie de
revigoramento do corpo da personagem femi
nina em seu poder de afetar e ser afetado; ela
parece reagir a tudo o que encontra. Há tam
bém um revigoramento palpável de sua cora
gem de exteriorizar os afetos que experimenta
na cena. Disso, teu olho, restrito ao visível, só
percebe o efeito: a expressão da personagem
parece tornar-se mais complexa, mais discrimi
nada, mais nítida, mais focada — cm suma, mais
presente. Habituado ao testemunho ocular, você
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Desejo em Três Latitudes
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Cartografia Sentimental /Livro Um
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Desejo em i res Laiuuaes
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Cartografia Sentimental / Livro Um
Pausa
Essa personagem (a que gora-e-
gruda) vive os movimentos do desejo como
caos. É assim que ela os concebe. Ora, se nos
basearmos na historinha que acabamos de
acompanhar, constataremos que não foi o de
sejo, em seus movimentos, o que caotizou sua
existência, mas, ao contrário, a impossibilita-
ção de suas conexões. Usando um fator de
a(fe)tivação, pudemos descobrir: o fato de nos
sa protagonista não ter se deixado tocar pelas
intensidades que estava vivendo e, a partir daí,
buscar linguagem que as efetuasse foi o que a
fez experimentar uma perda de sentido. Sob o
enfoque da câmera, essa perda de sentido (esse
caos) aparecia como perda de brilho. Enquanto
na primeira figura (a aspirante-a-noivinha-que-
vinga), se você lembrar bem, o que víamos era,
ao contrário, um aumento de viço. Esse viço,
segundo indicava teu corpo vibrátil, correspon
dia à energia gerada no atrito de matérias de
expressão heterogêneas forjando territórios para
os afetos deste rritorializados. Agora, no contras
te das duas, o que nosso corpo vibrátil nos faz
descobrir é que o pleno funcionamento do
desejo é uma verdadeira fabricação incan
sável de mundo — ou seja, o contrário de
d/g um caos.
E tem mais: essa personagem vive
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Desejo em Três Latitudes
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Ca rtografia Sen ti mental / L ii vo Um
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Desejo em Três Latitudes
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Cartografia Sentimental/Livro Um
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CAPÍTULO in
Comparando as noivinhas
Você e eu fomos conhecendo as
noivinhas aos poucos. Exercendo o fator de
a(fe)tivação ficou mais fácil apreendermos em
que elas se diferenciam: é, principalmente, pelo
tanto que cada uma consegue aproveitar, cui
dar da força gerada no encontro; sustentar essa
força.
Primeiro: o quanto cada uma se
deixa roçar pelo mundo; o quanto se abre para
os encontros, afetando e se deixando afetar.
Pode-se até afirmar que a própria natureza do
corpo de cada uma é dada pelos agenciamen-
tos que faz: suas praticas afetivas, suas aven
turas, seus riscos. Seus amores e suas mortes. u
■ Isso se considerarmos o corpo em
seu potencial expressivo, sua invisível vibração,
suas singularidades afetivas. Em suma, se con
siderarmos o corpo sem órgãos e não o corpo dg-aa
orgânico, com seus significados a priori', corpo
que vê e é visto pelo olho.
Segundo: o quanto cada uma se
permite falar por afeto, ou seja, habitar o es
paço, buscando matéria de expressão para efe
tuar e expandir suas intensidades (porque pode-
se ter grande abertura para afetar e ser afetado
e, no entanto, estar prisioneiro de certas más
caras, já obsoletas). E pouco importam as ma
térias usadas nessa exteriorização: pouco im
portam os universos culturais, sociais de que se
originam. Aliás, o corpo vibrátil não é sensível
a esse tipo de dado. O que importa é que este
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Cartografia Sentimental/ Livro Um
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CAPÍTULO IV
Linhas de vida
Três são as linhas abstratas que o
desejo foi traçando nos movimentos que com
puseram os destinos de nossas várias noivinhas.
Um 1
A primeira linha, linha dos afetos,
é, como pudemos nos dar conta, invisível e
inconsciente. Ela faz um traçado contínuo e
ilimitado, que emerge da atração e repulsa dos
corpos, em seu poder de afetar e serem afeta
dos. Mais do que linha, ela é um fluxo que
nasce “entre” os corpos: ora veloz, apressada,
elétrica, ora lenta e lânguida (sua longitude);
ora exuberante, viçosa, brilhante, ora cansada
e esmaecida; ora desenvolta, enérgica, ora tími
da e vacilante; ora fogosa, incandescente, ora
apagada e fria; ora revolta, trepidante, turbu
lenta, convulsiva, acidentada, ora estável, com
passada, homogênea, lisa, mansa e até monó
tona... (sua latitude). Ela é incontrolável. Es
tancá-la, só fingindo (como o fez nossa noi
vinha deslocada, aquela que-gora-e-gruda, de
medo de se despedaçar). É que enquanto se
está vivo não se pára de fazer encontros com
outros corpos (não só humanos) e com corpos
que se tornam outros. Isso implica, necessaria
mente, novas atrações e repulsas; afetos que
não conseguem passar em nossa forma de ex
pressão atual, aquela do território em que até
então nos reconhecíamos. Afetos que escapam,
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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Linhas de Vida
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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Linhas de Vida
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Cartografia Sentimental/ Livro Um
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Linhas de Vida
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CAPÍTULO V
Intimidade com o
finito ilimitado
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Intimidade com o Finito Ilimitado
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CAPÍTULO VI
Só há real social
Acompanhando as personagens,
fomos percebendo que os mundos que se criam
e se desmancham, nessa incessante atividade
do desejo, englobam sua existência em todas
as dimensões: pré-individual, individual, grupai
e/ou de massa. Fomos entendendo que o de
sejo não corresponde a um suposto campo
individual ou interindividual, o qual estaria
numa relação de exterioridade ao campo social.
Para esclarecer isso, basta recapitular como os
três movimentos do desejo trabalhavam a exis
tência de nossas personagens.
No primeiro movimento, o dos afe
tos, estes não surgiam dc nenhuma espécie de
individualidade dos corpos. A própria palavra
“afetar” designa o efeito da ação de um corpo
sobre outro, em seu encontro. Os afetos, portan
to, não só surgiam entre os corpos — vibráteis,
é claro — como, exatamente por isso, eram flu
xos que arrastavam cada um desses corpos para
outros lugares, inéditos: um devir. Ou seja, o que
as linhas de fuga faziam na vida de nossas per
sonagens era, exatamente, desindividualizá-las.
Intensidades dessubjetivizam: quando sur
gem, inesperadas, são verdadeiras correntes de
desterritorialização atravessando de ponta a pon
ta a vida de uma sociedade, desma peando-tudo.
Como a corrente que, num certo momento, atra
vessava — e atravessa — os corpos de moças
do mundo inteiro, dissolvendo seus perfis de
noivinha e imprimindo-lhes, por exemplo, um
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Só Hã Real Social
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Cartografia Sentimental/Livro Um
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Só Há Real Social
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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Só Há Real Social
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Cartografia Sentimental/Livro Um
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Só Há Real Social
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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Só Hâ Real Social
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CAPÍTULO VII
O Cartógrafo
A prática de um cartógrafo diz
respeito, fundamentalmente, às estratégias
p dasformações do desejo tio campo social.
E pouco importa que setores da vida social ele
toma como objeto. O que importa é que ele
esteja atento às estratégias do desejo em qual
quer fenômeno da existência humana que se
propõe perserutar: desde os movimentos sociais,
formalizados ou não, as mutações da sensibili
dade coletiva, a violência, a delinquência... até
os fantasmas inconscientes c os quadros clíni
cos de indivíduos, grupos c massas, institucio
nalizados ou não.
Do mesmo modo, pouco importam
as referências teóricas do cartógrafo. O que
importa é que, para ele, teoria é sempre car
tografia — e, sendo assim, ela se faz junta
mente com as paisagens cuja formação ele
acompanha (inclusive a teoria aqui apresenta
da, naturalmcntc). Para isso, o cartógrafo absor
ve matérias dc qualquer procedência. Não tem
o menor racismo de freqüência, linguagem ou
estilo. Tudo o que der língua para os movi
mentos do desejo, tudo o que servir para cunhar
matéria dc expressão e criar sentido, para ele é
bem-vindo. Todas as entradas são boas, desde
dt[ que as saídas sejam múltiplas. Por isso o cartó
grafo serve-se dc fontes as mais variadas,
incluindo fontes não só escritas e nem só teóri
cas. Seus operadores conceituais podem surgir
tanto de um filme quanto dc uma conversa ou
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O Cartógrafo
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cartografia sentimental/ Livro um
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O Cartografo
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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O Cartógrafo
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Cartografia Sentimental/Litro Um
2 O cartógrafo político
Sc é verdade que a prática do car
tógrafo é política, esse seu caráter nada tem
a ver com o poder, no sentido de relações
de soberania ou de dominação. Estas, mes
mo em se tratando de relações interindividuais
(como homem/mulher) ou de relações com as
minorias (como heterossexual/homossexual,
branco/negro), são sempre da alçada da ma
cropolítica, com sua lógica específica de totali
dade, identidade, oposição, contradição, etc.Já
o caráter político da prática do cartógrafo é da
alçada da micropolítica e tem a ver com o po
der em sua dimensão de técnicas de subjetiva-
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O Cartógrafo
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Cartografia Sentimental /Livro Um
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O Cartógrafo
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Cartografia Sentimental/ Livro Um
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CAPÍTULO VIII
() psicanalista cartógrafo
Seria de se esperar que encontrás
semos psicanalistas com uma sensibilidade de
i .mógiafo: pode-se até dizer que o cartógrafo
nasce com a psicanálise. É que a prática de
anfilisc do desejo fundada por Freud, e tal como
.i lomos entendendo aqui, é um espaço de
Iniciação ao exercício do pensamento como
produção de cartografia e, indissociavelmen-
Ir, um espaço dc ruptura com o exercício tradi
cional do pensamento no Ocidente como bus
ca da verdade, pensamento marcado pelo
monopólio do macroolho, olho do visível, da
representação e da razão totalizadora. Freud
lianqueia ao pensamento o acesso ao corpo
vlbialil e à micropolítica das desterritorializa-
çftes e das simulações que só esse corpo capta.
M r. nem é essa a sua contribuição mais
Importante, já que outros pensadores, antes e
a<> mesmo tempo que ele, como Spinoza e
Nirt/sehe, também criaram tal acesso.
O que faz, isso sim, a força e a ori
ginalidade de Freud é não só ter afirmado c
desenvolvido, conceitualmente, a possibilidade
de um pensamento produzido na tensão fecun-
<l.i d.i coexistência vigilante entre o olho e o
(uipo vibrátil mas, sobretudo, ter introduzido
no Ocidente moderno uma prática de
hilc i.ição ao pensamento assim exercido.
"Iniciação” porque um pensamento que emerge
< Io movimento invisível dos afetos, e que tem
P< <i função dar língua a esses mesmos afetos,
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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O Psicanalista Cartógrafo
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Cartografia Sentimental / Livro Um
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O Psicanalista Cartógrafo
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Cartografia Sentimental/Litro Um
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CAPÍTULO IX
(Jicgou a hora do
c artógrafo sair a campo
Enquanto acompanhavamos as noi-
vinhas, foi se compondo a personagem “cartó-
grafo”. Agora ele está formado e não vê a hora
de sair a campo. Como durante toda a sua
composição ele conviveu com as aventuras e
desventuras das noivinhas, ele quer conhecer
melhor o que está se passando com elas. E não
só. Quer investigar o processo que as levou a
desandarem, a gorarem desse jeito. Para isso,
ele sabe que terá de se aventurar pelos
meandros do modo de produção da subjetivi
dade vigente na sociedade em que se deu tal
pi< >cesso.
O cartógrafo decide fazer uma
expedição “científica” para alguma cidade onde
essa corrente coletiva de desterritorialização
esteja em plena efervescência.
E nós vamos acompanhá-lo nessa
aventura.
83
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p/Á/-
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É isso o que me parece inte
ressante nas vidas: os bura
cos que comportam, as la
cunas — às vezes dramáti
cos, às vezes nem tanto.
Catalepsias ou uma espécie
de sonambulismo por vários
anos: muitas vidas compor
tam esse tipo de coisa. É
talvez nesses buracos que se
faz o movimento. Pois a
questão é bem a de como
fazer o movimento, como
furar o muro, de modo a
não dar mais cabeçada.
Gilles Deleuze,
Magazine Littéraire
No Livro Um, você e eu fomos
u< ompanhando as cartografias da noivinha de
peito: primeiro com os olhos, depois com o
corpo vibrátil. Já estávamos junto dela quando
m.boçava seu perfil de aspirante-a-noivinha;
(oniinuávamos ainda por perto quando ela se
desdobrava em duas: uma que vingou e outra
que gorou. Naquela ocasião, optamos por ficar
<<»m a que tinha gorado e acompanhá-la em
Mi.is tentativas de lidar com a difícil situação
cm que se encontrava. Só lhe restavam duas
h,ildas: grudar ou não grudar. Foi nesse mo
mento que a deixamos. A essa altura, as noivi-
nlias já eram três: a “que-vingava”, a “que-
goi.iva-e-grudava” e a “que-gorava-e-descola-
■ r,
Agora vamos acompanhar o cartó-
gi.ilo na retomada dessa investigação.
Enquanto prepara sua nave, o car
tógrafo busca definir os critérios que lhe
p< imitirão escolher sua cidade piloto, uma ci-
d.ide onde a corrente coletiva de dcsterritoriali-
z.ição esteja em plena efervescência.
Ele acaba por definir três critérios
nessa cidade piloto:
l"> que a revolução industrial seja um fato
(onsumado;
Zu) que ela já tenha englobado a cultura e que,
mciuIo assim, os meios de comunicação de
m. issa estejam em plena efervescência;
5U) que a tecnologia e a ciência tenham atingi
do uma velocidade de mutação vertiginosa (e
n. io importa se são produzidas localmente ou
importadas).
89
Cartografia Sentimental / Livro Dois
90
( APÍTULO I
A expedição do cartógrafo
Partindo destas páginas, o cartógra
fo começa sua viagem. Atravessa o planeta c,
o ui a menor dificuldade, encontra inúmeras
• idades com aquelas características. Resolve
e\( olher uma que fica mais ao sul.
Do lugar onde desembarca até a
i Id.ide, o cartógrafo percorre uma longa reta.
d\ paisagens parecem cartazes fixados na bei-
ta da estrada. Fábricas e mais fábricas, motéis, nb
galpões, lanchonetes. Out doors. Anúncios
luminosos visíveis antes dos próprios lugares c nb
piodutos que anunciam. O cartógrafo vai sen
do lomado de perplexidade. Ele sente no ar
lima mistura nebulosa de potência e fragi
lidade. Fica intrigado e quer entender o que
provoca sensações tão paradoxais. Respira fun
do. toma coragem, apela para seu olho e seu
corpo vibrátil, e começa sua aventura.
Antes de tudo, ele sai à procura das
noivinhas, com as quais conviveu no tempo
rni que estava se formando. Quer que sejam
suas guias na expedição, pois, além de serem
suas únicas conhecidas, este, afinal, é o mundo
delas. Ele logo as encontra. Estão num alvoro
ço total: sem vacilar, elas não só aceitam o con
vim como propõem começar imediatamente.
O cartógrafo parte com uma idéia
na c abeça: tentar entender, antes de mais nada,
a lal potência que sente no ar...
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CAPÍTULO n
Esplendor da produção do
desejo na era da mídia:
a esperança
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Esplendor...
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Cartografia Sentimental/Litro Dois
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Esplendor...
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Cartografia Sentimental/Livro Dois
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CAPÍTULO m
A í ace oculta
dos anos dourados
À noite, sozinho em seu quarto de
hold, o cartógrafo reflete: “Algo me diz que
na<> só dourados devem ser esses anos...” Dito
c leito: no dia seguinte, retomando seu roteiro,
dc percebe que não é gratuito o fato de a força
dc trabalho estar assim tão “livre”, tão disponí
vel. Começa a entender que essa mobilidade
lotai está sendo incrementada para que a força
I m )ssa ser convertida em suporte de valor a partir
de equivalentes gerais e, com isso, circular li- g
vi cmente no mercado seguindo o ritmo ace
lerado de investimentos e desinvestimentos de
< apitai. Alguém lhe explica que aqueles “traba
lhadores livres” que lhe pareceram tão interes
santes são, por outro lado, um requisito básico
desse sistema, tão básico quanto o capital: os Ig
Indivíduos têm que ser despersonalizados e
anônimos, para poderem mover-se, sozinhos ou lg
cm grupo, como “remessas de mercadoria”. Com
Ioda a convicção do mundo, lhe explicam que
esta é a condição para formar uma sólida
força de trabalho e de controle social. O
c artógrafo compreende que é por isso que está
sc instalando um poderoso complexo de
equipamentos coletivos que centralizam a dis
tribuição de sentidos e valores. É para produ
zir uma homogeneização dos territórios:
as matérias de expressão, embora fartas e va-
riadas, têm, todas elas, suas etiquetas de valor
diariamente reajustadas segundo as oscilações
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Cartografia Sentimental / Livro Dois
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A Face Oculta dos Anos Dourados
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Cartografia Sentimental / Livro Dois
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< APÍTULO IV
A < risc na subjetividade
101
coordenadas variáveis e próprias de cada mo
vimento de seu desejo. Mais do que “livres”,
pondera o cartógrafo, as pessoas estão é
completamente perdidas; talvez fosse até mais
adequado chamá-las de “trabalhadores soltos”.
O cartógrafo chega a uma triste
conclusão: está ocorrendo uma imensa, uma
seríssima crise da subjetividade.
Aqui o cartógrafo recorre à sua
regra, a única que tem, e se pergunta se o que
está ocorrendo não é devido ao fato de se ter
ultrapassado o limiar tolerável de desterritoria
lização. Sua hipótese é a de que a capacidade
operatória de semiotização das intensida
des a que se estava habituado não compor
ta tamanha rapidez de desterritorialização,
tamanha antecipação do fim, tamanha
exposição à finitude. E se é assim, ele pensa,
isso deve ter gerado uma pane no equipa
mento sensível: é como se as máscaras ficas
sem todas meio fora de foco, sem tempo nem
condições para se recomporem. Ele toma cons
ciência do quanto essa situação deve estar sendo
dramática. Essa defasagem, imagina, além de
deixar as pessoas perdidas, abala profunda
mente os próprios alicerces que as constituíam:
a identificação com um território existencial, vi
vido como a natureza das coisas. É que nesse
modo de produção a vida dos territórios é muito
mais curta do que a de uma existência. Isso
expõe as pessoas, repentina e violentamen
te, ao caráter finito ilimitado das maquina
ções do desejo, ao caráter de simulação das
linguagens e à ambiguidade congênita dessa
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A Crise na Subjetividade
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CAPÍTULO V
Roteiro de cartografias
das noivinhas
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Roteiro de Cartografias das Noivinhas
“Síndrome do esquecimento”: 5
a “que-se-descola-no-exílio”
Durante o caminho, vai se consoli
dando entre os nossos expedicionários uma ami
zade que se manterá por muito tempo, mesmo
depois de terminada a viagem. Isso dá ao car
tógrafo a oportunidade de acompanhá-los em
seu lento processo de recuperação de forças, a
longa convalescença de seu corpo vibrátil e, de
certo modo, continuar sua expedição.
Já durante a viagem, o cartógrafo
se dá conta — e anota em seu diário — de que
o que muitos deles querem com o exílio —
mesmo que não o saibam, pelo menos por
enquanto — é proteger seu corpo vibrátil em
vias quase que dc desagregação; querem criar
condições para recuperá-lo, com todo o cui
dado e carinho necessário, do estado de in
validez a que esse seu corpo foi reduzido
pelo desastre brasileiro, que o santo-coro-
nel-em-nós insiste em chamar de milagre. sj
Querem recolocá-lo em funcionamento.
O tratamento, antes de mais nada e
principalmente, passa por aquilo que o cartó
grafo chama de “síndrome de exílio-e-esque-
cimento”. O esquecimento, aqui, não tem nada
de patológico: ao contrário, é condição de
sobrevivência. Trata-se de perder a memória,
não aquela feita de imagens ou fatos, memória
do visível, mas sim a memória dos afetos, do
corpo vibrátil, memória do invisível. O que que
rem perder é a memória da dor, da humi
lhação, do golpe quase mortal que sofreu
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Cartografia Sentimental /Livro Dois
7.1 O desfile
É inevitável: logo dc cara, quatro
imensas esfinges. Evocam uma mistura de Cleo
patra hollywoodiana com Édipo de almanaque
e cachorro de porcelana dc portão dc novo-ri-
co, portão de nossos primos carbonados. São fi
guras engraçadas, feitas de materiais pobres —
lantejoulas, purpurinas, gesso, papier maebé...
Estão meio estragadas. À primeira “vista”, é soo
que você enxerga. Mas aí, dc novo, vem aquela
estranheza: parece que em você já estava fun
cionando um outro tipo de olhar, que nemébem
propriamente um olhar. E você “vê”: aquelas fi
guras estão como que intumescidas. Que
rem eclodir de exuberância. São mágicas.
Você sabe que não estão ali por acaso: definem,
solenemente, a entrada. Dispostas duas a duas,
um vão entre elas é um ímã. Seu corpo obedece,
você vai. À sua espera, dois gigantescos centau
ros seguram tochas, o braço erguido num gesto
ritual. De novo, seu olho habitual — o do visível
— vê apenas uma mistura esquisita e divertida
de travesti de rua Augusta com estátua dc deus
grego. Deus que a produção de um musical de
Hollywood te ria posto aos pes da rampa. E, pe
la rampa, num daqueles momentos apoteóticos,
viria descendo uma glamurosa star, arrastando
seu vaporoso vestido de baile... Mas seu olho-
do-invisível tira você dessa cadeia de
associações de imagens. Ou melhor, quem
tira você dessa cadeia e abre para o invisível
não é o olho, mas o corpo. Teu corpo vibrátil.
E de novo, na opulência daquelas figuras, você
descobre um mistério, uma luz.
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fWi&iru uu bu&r uj has uuò
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ivgr uy iw oGfwirrivrLiui' / uuru -í^Vtó
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Kvieirv av ^ariograjias aas ivoivinnas
e) capacidade de aquisição de
linguagem e enriquecimento de repertório,
o qual, diga-se de passagem, costuma ser
bastante amplo (diferentemente de um coro
nel-em-nós, por exemplo).
Depois desse levantamento de
pontos cm comum entre essas duas espécies
dc noivinha você percebe que, realmente,
ambas conquistaram um dispositivo de se-
miotização sofisticado, complexo e flexí
vel, e uma libido bastante processual, o que
lhes permite desterritorializar-se e reter-
ritorializar-se com certa facilidade. Enfim, de
senvolveram know-how de gestão da sub
jetividade, condição indispensável para
enfrentar a crise e sobreviver. É por isso que
você pode considerar que esses dois tipos de
noivinha constituem micropolíticas de con
ciliação com o contemporâneo.
Mas você percebe nitidamente que
o fato dc ter todos esses recursos não impede a
noivinha juppze-em-nós de tentar dar um jeito
dc ignorar o finito ilimitado: insistir no infinito,
na unidade intrínseca de um sujeito, ainda que
múltiplo e fragmentado; continuar a não aco
lher os novos afetos. Fica tudo arrumado e
reluzente por cima ou por fora e, por bai
xo ou por dentro, tudo escapando, desar
rumado e tenebroso. Então, você se dá conta
de que é exatamente aqui que a noivinha
carnavalista começa a se distinguir dos dândis
pós-modernos — comumente conhecidos por
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“yuppies”—, com seu Narciso americano acor
rentado à síndrome da captura.
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f) o significado do “novo”
Para a antropófaga, você constata,
o novo é necessário, porque necessário é fazer
passar os afetos desterritorializados. O novo,
então, só ê valorizado quando cumpre essa
função. Já para a yuppie-eva-nós, abrir-se para
o novo é necessário e até indispensável, mas
porque necessário é o reconhecimento de si
como “in”. O novo, nesse caso, é investido
quanto portador do valor “in” que trará retorno
narcísieo. E o “in” é sempre, por princípio, novo
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CAPÍTULO VI
Últimas anotações
no diário do cartógrafo:
ele, agora, quer redescobrir
a “América” no Sul
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Últimas Anotações...
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Últimas Anotações...
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CAPÍTULO vn
Relatório Final
•a aspirante-a-noivinha
•a aspirante-a-noivinha-que-vinga
• a aspirante-a-noivinha-que-gora
•a que-gora-e-gruda
•a que-gora-e-descola
•a esposa-em-nós
•a amante-em-nós
• noivinha melancólica & seus pretendentes
fóbicos
• noivinhas histéricas & mídia perversa
•a que-gora-e-resiste ou a resistente-em-nós
• a bippie-em-nôs
•a militante-em-nós
•a tropicalista-em-nós
•o coronel-em-nós
•a senhora-que-gora-e-gruda
•a resistente-em-nós traumatizada
•a que-se-descola-no-exílio
•a liberada-em-nós
•a mulher independente
•a alternativa-em-nós
•a feminista-em-nós
• a dândi-pós-moderna ou a yuppie-em-nós
• Narciso-em-nós
•a antropófaga-em-nós
•o cartógrafo-em-mim
271
Cartografia Sentimental /Livro Dois
I»
2 Síndromes
2.1 Síndrome de carência-e-captura
a) Captura por mapa único e imutável:
• escolhido por valor de passado
-captura pela família ou pela empresa do-
méstico-familiar (versão família lista)
-captura pela “identidade cultural” (versão
nacionalista)
-captura pela “vida natural” (versão alter
nativa)
-captura pelo discurso acadêmico (versão
cientificista, também chamada de “lado
doutor”)
• escolhido por valor dc futuro
-captura pelo “amor” (versão romântica)
-captura pela revolução (versão militante)
b) Captura por mapas múltiplos e mutáveis,esco
lhidos por seu valor dc mercado (versão
mídia)
• noivinhas histéricas & mídia perversa
•captura moderna dos anos dourados
•captura pós-moderna dos anos pós-doura-
dos
2.2 Síndrome do exílio-e-esquecimento
2.3 Síndrome do exílio-e-rememoração contínua
3 Complexos
272
Relatório Final
273
Cartografia Sentimental / Livro Dois
274
Relatório Final
Beatriz Aguirre ba
Benedito Nunes bn
Isaac Basbevis Singer bs
Robert Castel c
Cazuza ca
Contarão Calligaris cc
Capinam cp
Caetano Veloso cv
Gilles Deleuze d
David Hayman dh
Emile Brehier eb
Erasmo Carlos ec
Eliane George eg
Scott Fitzgerald f
Friedrich Nietzsche
Fernando Segolin fi
Felix Guattari g
Gregory Bateson gb
Glauber Rocha gr
Gabriel Tarde gt
D. H. Lawrence hl
Henri Bergson hb
Haroldo de Campos he
Henri Miller hm
Ilya Prigogine ip
Isabelle Stengbers is
Jean-Claude Bernardet jeb
Joyce MacDougall jd
Jurandir Freire Costa jfc
Jean-Luc Godard jg
Jack Kerouac jk
John Lennon jl
José Sarney js
José Miguel Wisnik jw
275
Cartografia Sentimental / Livro Dois
I Lucrécio
la Jacques Lacan
Iho Luis Benedito Orlandi
fe
Laymert Garcia dos Santos
Irs Luis Roberto Salinas Fortes
m Marco
ma Mauro de Almeida
mb Marshall Berman
mha Mikhail Bakhtin
me Miriam Chnaiderman
mf Michel Foucault
mis Maria Lucia Santaella
mrk Maria Rita Kehl
ms Mara Selaibe
msu Marta Suplicy
mp Marcel Proust
nb Nelson Brissac
np Nestor Perlongher
oa Oswald de Andrade
oc Oswaldo Costa
om Orna Messer
P Claire Parnet
pel Pierre Duh cm
pb Pascal Bruckner
pv Paul Veyne
r Roberto Carlos
re Rogerio da Costa
Regina Favre
Kf Renato Janine Ribeiro
rl Roberto Loeb
rm Roberto da Matta
ro Rosana de Oliveira
rl Rene Thom
s Baruch Spinoza
276
Relatório Final
Sigmund Freud *
V
Sonia Junqueira sj
Maria Silvia Pinto sp
Severo Sarduy ss
Tom Jobim V
Toni Negri tn
Torquato Neto t
Claudio Ulpiano u
Victor Goldsmith vg
Virginia Woolf vw
Waly Salomão ws
Xina Smith Vasconcelos xsv
Duplas 7.2
Gilles Deleuze e Felix Guattari d/g
Gilles Deleuze e Claire Parnet d/p
Alain Finkielkraut e Pascal Bruckner f/pb
Fêlix (guattari e Suely Rolnik g/s
Gilberto Gil e Torquato Neto ggft
Laymert G. dos Santos e Suely Rolnik l/s
Ilya Prigogine e Isabelle Stenghers ip/is
Roberto Carlos e Erasmo Carlos r/e
Rosana de Oliveira e Maria Silvia Pinto ro/sp
Xina Smith Vasconcelos e Suely Rolnik x/s
Trios 7.3
Gilberto Gil} Torquato Neto e Capinam g/t/cp
Estrangeiros que haviam devorado outros ~7A
a) Solitários
• Devorados por Gilles Deleuze:
277
Cartografia Sentimental /Livro Dois
278
Relatório Final
279
Cartografia Sentimental / Livro Dois
280
Relatório Final
281
Cartografia Sentimental / Litro Dois
282
Relatório Final
283
NOTAS DE ENCERRAMENTO
Não há senão palavras ine
xatas, para designar algo
exatamente,
Gilles Deleuze e
Claire Pamet,
Dialogues
287
Cartografia Sentimental / Livro Dois
288
Notas de Encerramento
289
Cartografia Sentimental /Livro Dois
290
Notas de Encerramento
DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES II
1. O que queixo Cartógrafo?
O que o cartógrafo quer é envol
ver-se com a constituição de amálgamas de
corpo-e-língua. Constituição de realidade.
2. Como faz o Cartógrafo?
Para realizar sua intenção, o
cartógrafo papa matérias de qualquer procedên
cia. Não tem o menor racismo de frequência,
linguagem ou estilo. Nesta expedição, por
exemplo, para traçar suas cartografias foi se
aproximando de tudo o que encontrava pelo
caminho, e também daquilo dc que se lembra
va. No Livro Um, roubou muito de Deleuze e d
Guattari. Mas não só deles. Aliás, através deles
mesmos, roubou muitos outros. Além do que,
os tratou como lhe parece que gostam:
devorando-os e miscigenando-os, antropofagi-
camente, a outros (não só textos e nem só teó
ricos). Já no Livro Dois, eles estão tão digeridos
e o cartógrafo tão tomado por outras correntes,
que novas misturas se fazem e liberam-se novas
linhas, novas direções. O cartógrafo é, de fato, u
um antropófago-em-nós (ou pelo menos é o
que ele tenta ser).
Obedecendo aos procedimentos e
aos princípios básicos do cartografar, o estilo
procura realizar a vontade de expandir os afe
tos, de navegar com o movimento e de devorar
os estrangeiros para, através das misturas,
291
Cartografia Sentimental / Livro Dois
I
292
Notas de Encerramento
293
REFERÊNCIAS DOS ESTRANGEIROS
BIBLIOGRAFIA
Livros 1
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Serafim Ponte Grande. In:_ . Obras completas. Rio dc Janeiro,
Civilização Brasileira/MEC, 1972, v. 2.
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_ .Artigos na Revista de Antropofagia, reedição da revista literária
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1970.
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Gil, Gilberto e Neto, Torquato. "Geléia geral", LP A a de de Gilberto
Gil. Rio de Janeiro, Fontana, Phonogram distr., 1975.
Gil, Gilberto; Neto, Torquato;CAPiNAM. “Soy loco por ti America”, LP
A arte de Caetano Veloso. Rio de Janeiro, Fontana, Phonogram
distr., 1975.
Veloso, Caetano. “Alegria, alegria”, LP A arte de Caetano Veloso, op.
cit.
_ . “José”, LP Caetano, op. cit.
_ . “Língua", LP Velô. Rio de Janeiro, Phillips, 1984.
_ . "London, London", LP Caetano Veloso. Rio dc Janeiro, Phillips,
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_ . “Muito romântico”, LP Caetano, op. cit.
_ . “Sampa", LP Muito (Dentro da estrela azulada). Rio de Janeiro,
Phillips, 1978.
_ . “Superbacana”, LP A arte de Caetano Veloso, op. cit.
_ . “Tempo”, LP Cinema transcendental. Rio de Janeiro, Polygram,
1979.
EXPOSIÇOES
Carnavalescos—ex posição/instalação realizada no Museu de Arte
Contemporânea (MAC) de São Paulo, em jun.-jul. 1987. Cura
dores: Ana Mae Barbosa, Luisa Olivetto e Roberto Loeb
IMPRENSA
Breve pesquisa dc imagens e discursos acerca da hippie-eva-nós c da
militante-em-nõs, entre 1969-70:
• Jornal Folha de S. Paulo
• Jornal Notícias Populares
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Referências
• Revista Manchete
SEMINÁRIOS
Ulpiano, Claudio. Seminários de Filosofia. São Paulo, maio 1986-jun.
1987.
Da Costa, Rogério. Seminários de Filosofia. São Paulo, 1988-89. t
Entrevistas
Entrevista com Robert CASTEL, São Paulo, 29. abr. 1987 (inédita).
GRUPOS DE DISCUSSÃO
• Reuniões de trabalho em tomo de temas da tese:
“Micropolítica das relações amorosas”
“Simulação"
“Contracultura"
“Produção de subjetividade na era da cultura industrial/ele-
trônica"
“Cartografia"
• Grupo de trabalho sobre “A amizade entre as mulheres, hoje: para
além do ressentimento"
CORRESPONDÊNCIA
Com Eliane George (desde 1979)
Com Félix Guattari (desde 1979)
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Il nefaut rien comprendre, Il
fautprendre. Prends moi
Jean-Luc Godard,
Passion
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nos barra a vista. Se algum ter
mo nos parecer estranho, não é
para procurar uma referênciain-
terpretativa, mas para conside
rar que deve ser o nome esque
cido de uma rua do nosso bair
ro. Por isso, o livro não pressupõe
saber prévio nenhum, antes
pressupõe um esquecimento
prévio: para quem sabe viajar le
ve, o caminho desta cartografia
está aberto. Difícil, aliás, para o
leitor — viajante da nossa gera
ção pós-guerra mundial — não
compartilhar os caminhos indi
cados; a desejo-grafia traçada se
confirma na vivência de cada
um. Só resta esperar (o leitor en
tenderá ao fim da viagem) que
a América no Sul, caso se reali
zasse, possa mesmo ser o lugar de
uma fuga possível da carên-
cia-captura.
Contarão Calligaris