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TRIBUTAÇÃO E

CRESCIMENTO DAS
EMPRESAS NO BRASIL
FICHA TÉCNICA

TRIBUTAÇÃO E CRESCIMENTO DAS EMPRESAS NO BRASIL


Relatório de pesquisa Endeavor Brasil – 2019/01

Equipe técnica
Marina Thiago
Renata Mendes Bezerra

2
SUMÁRIO

Agradecimentos 5
Apresentação 6
Metodologia 11
Sobre as scale-ups entrevistadas 11
Perfil das scale-ups entrevistadas 12
Os efeitos da complexidade para as scale-ups 14
Desafios por fases da tributação 16
Benefícios fiscais 21
Desafios por setor: varejo, serviços e indústria 22
Os efeitos da complexidade sobre a estrutura e estratégia das empresas 24
Planejamento tributário 26
Características do momento de alto crescimento na empresa 28
Porte 29
Limitações ao crescimento – constituição e migração do Simples para os outros regimes 30
Simplificação tributária 32
Sobre o Imposto Sobre o Valor Agregado (IVA) 34
IVA em outros países e o desafio das novas tecnologias 35
O que as scale-ups brasileiras dizem sobre o IVA? 42
Considerações finais 44
Sobre a Endeavor 52

3
4
AGRADECIMENTOS

O empreendedorismo caminha junto com o desenvolvimento do país e, há dez anos, decidimos que não
bastava apoiar os melhores empreendedores para o país crescer, era preciso também apoiar o país para que os
empreendedores crescessem.

Este estudo é parte de uma série de iniciativas iniciadas em 2009 para entender como as políticas públicas
brasileiras influenciam o ambiente de negócios brasileiro e, consequentemente, o empreendedor e o empre-
endedorismo. Assim, gostaríamos de agradecer, em primeiro lugar, àqueles na Endeavor que há dez anos
tiveram a visão de que era necessário pensar o país e suas políticas, e se colocar de forma ativa na construção
de caminhos para superar desafios.

Agradecemos também a todo o time da Endeavor pelos questionamentos e participação ativa em discussões
e debates, em especial Abelardo Melo, Adriana Matos, Aruã Caselli, Daniel Ottaiano, Fernanda Melo, Flor
Gutierrez, Gabriel Benevides, Karina Almeida, Luiz Studart, Marília Ponte, Marina Turner, Pedro Almeida,
Pietro Rodrigues, Rodrigo Brandão, Victor Xavier e Vinícius Furlan.

Por fim, agradecemos a todos os entrevistados para essa pesquisa, por dividirem informações e conheci-
mentos que nos aproximaram da realidade do empreendedor no Brasil: Antonio Guidoni, Edison Carlos
Fernandes, Fernando de Castro, Fernando Silveira, Gabriel Rizza Ferraz, Marcio Nunes, Paul Smith, Rajesh
Sawhney e Zabetta Marcarini. Além das empresas participantes, que optamos por deixar anônimas em razão
da sensibilidade de algumas informações compartilhadas.

5
APRESENTAÇÃO

6
7
A realidade do sistema tributário brasileiro está muito distante do ideal. O Brasil apresenta um grande número
de tributos, um sistema de cobrança de impostos difuso, uma carga tributária desproporcionalmente
alta e um sistema de isenções e benefícios fiscais pouco transparente. Isso dificulta a compreensão dos
mecanismos e dos processos de pagamento de tributos, além de torná-los excessivamente custosos1. Quando
comparado internacionalmente, o Brasil é um dos países que mais apresenta deficiências em seu sistema
tributário, gerando prejuízos incontáveis para as suas empresas e, consequentemente, para sua população.

No Doing Business, ranking de classificação das economias publicado pelo Banco Mundial, o Brasil aparece
em posição desfavorável em termos de pagamento de impostos. Estima-se que as empresas brasileiras gastam
cerca de 1.958 horas/ano (aproximadamente, 80 dias) para pagar seus impostos. Esses números são ainda
mais impressionantes quando consideramos que são necessárias 330 horas/ano para o restante da América
Latina e Caribe e 159,4 para os países da alta renda da OCDE. O tempo gasto por empresas brasileiras é
quase o dobro do tempo gasto na Bolívia – penúltima colocada nesse quesito, com 1.025 horas por ano. A
combinação de alta carga tributária com altos custos de conformidade faz com que o país figure entre
os dez piores do mundo no quesito Pagamento de Impostos.

1.958 HORAS/ANO
1.025
HORAS/ANO
330
HORAS/ANO
159,4
HORAS/ANO

BRASIL BOLÍVIA AMÉRICA OCDE


LATINA E
CARIBE

O Brasil é o último
colocado no quesito de

= 2x
horas necessárias para o
pagamento de tributos,
quase o dobro do penúltimo BOLÍVIA
colocado, a Bolívia.
BRASIL

Brazil Competitiveness and Inclusive Growth Lab Report. Fórum Econômico Mundial, 2018.
1

8
POSIÇÃO DE PAÍSES SELECIONADOS NO PILAR DE PAGAMENTO
DE IMPOSTOS, DO DOING BUSINESS 2019

POSIÇÃO PAÍS
1 Hong Kong

10 Nova Zelândia

23 Reino Unido

37 Estados Unidos

72 Chile

114 China

121 Índia

183 Gabão

184 Brasil

185 Congo
186 Bolívia

187 República Centro-Africana

188 Chade

189 Venezuela

190 Somália
Fonte: Doing Business 2019, Banco Mundial.

9
No entanto, as dificuldades para navegar no sistema tributário brasileiro não são as mesmas para todas
as empresas. A depender do porte, setor e momento de crescimento, as empresas possuem desafios
específicos com a tributação. Sem ter a pretensão de encerrar o tema, este estudo busca identificar esses
diferentes desafios, com foco em um grupo de empresas de alto crescimento: as scale-ups.

Escolhemos as scale-ups como objeto de estudos por dois motivos. Primeiro, elas são as empresas que temos
mais proximidade, em razão do trabalho da Endeavor de quase 20 anos de apoio a estes empreendedores e,
segundo, porque as empresas de alto crescimento (dentre as quais estão inseridas as scale-ups, como se verá
mais adiante) são responsáveis por um impacto profundo na economia do país. No Brasil, elas correspondem
a 0,5% das empresas, mas geraram, em 2016, 70,22% dos novos postos de trabalho2. Ainda que esse estudo
tenha foco nas scale-ups, entendemos que é essencial que qualquer medida de simplificação tributária
enderece problemas dos diferentes tipos de empresas, das menores às maiores, de todos os setores, em todos
os locais do país. Encontrar o ponto ideal em que o saldo entre ganhos e perdas seja o maior possível não é
tarefa simples.

Há anos discute-se a necessidade de uma reforma tributária no Brasil, especialmente em períodos eleitorais,
quando se abrem novas oportunidades de discussão para reformas mais profundas. Existem algumas propostas
sendo debatidas, sendo a mais avançada delas a instituição de um IVA em substituição ao IPI, ISS, ICMS,
PIS e Cofins. Entender como a complexidade tributária afeta empresas de diferentes portes e segmentos pode
nos ajudar a discutir com maior profundidade as recomendações de reforma tributária existentes, trazendo
para o debate a realidade das empresas e ajudando na construção de uma proposta que gere impacto positivo
para o ambiente de negócios como um todo.

Na primeira parte do trabalho buscamos trazer os desafios enfrentados pelas scale-ups brasileiras. Em seguida,
apresentamos um panorama das diferenças e semelhanças em relação às demais empresas do país. Ao final,
trazemos uma breve análise sobre o IVA e benchmarks internacionais.

Este estudo destina-se:

aos empreendedores que buscam identificar melhor seus desafios em


tributação e entender como uma reforma tributária pode ajudar seu
negócio e, principalmente, o ambiente de negócios brasileiro.

aos formuladores e tomadores de decisão envolvidos nos debates de


reforma tributária, para que entendam as nuances da tributação para
cada tipo de empresa e, a partir dela, possam tomar decisões melhores e
mais bem informadas.

10
METODOLOGIA

Para construir este estudo, foram realizadas 23 A partir da leitura de pesquisas, artigos acadêmicos,
entrevistas no total. Entrevistamos empreendedores reportagens e entrevistas, foi possível criar uma visão
e/ou CFOs de 13 scale-ups de pequeno e médio macro a respeito do sistema tributário e suas diversas
porte, além de duas empresas de grande porte com disfunções. No entanto, faltava compreender
atuação nacional. Também foram entrevistados como essas questões se apresentavam, de fato, para
três representantes de classe de grandes e pequenas diferentes tipos de empresas.
empresas, três especialistas em finanças e tributação,
um empreendedor indiano e um especialista em A escolha das scale-ups foi baseada em três critérios:
tributação indireta da Nova Zelândia – estes últimos faturamento, atividade e setor de atuação, além dos
para estudo de referências internacionais. desafios com questões tributárias específicas. O perfil
amplo de empresas buscava abarcar setores, portes
O objetivo do estudo era nos aproximarmos do dia e momentos diferentes, de forma a obter uma visão
a dia das empresas e entender como a tributação abrangente dos desafios das scale-ups com tributação.
afeta, na prática, sua organização e funcionamento.

SOBRE AS SCALE-UPS ENTREVISTADAS

Empresas de Alto Crescimento (EACs), de acordo


com a OCDE3, são organizações com mais de dez As EACs correspondem
funcionários, que crescem 20% ou mais por ano em a 0,5% das empresas e
receita ou em número de colaboradores, por pelo menos
três anos consecutivos. As scale-ups são um conjunto de geraram, em 2016, 70,22%
EACs cujo ciclo de desenvolvimento fundamenta-se, dos novos postos de trabalho
basicamente, na escalabilidade4 do modelo de
negócios5.

2
IBGE. Demografia das empresas e estatísticas do empreendedorismo. 2018.
3
Eurostat Manual on Business Demography Statistics, OECD, 2007.
4
Escalabilidade é a capacidade da empresa de “[...] aumentar a sua receita a um ritmo mais rápido do que os seus custos, ganhando escala. É esse ciclo
virtuoso ligando crescimento da firma e criação de riqueza que diferencia uma scale-up das demais empresas de alto crescimento”. Fowler de A. Monteiro,
Guilherme. Empresas de alto crescimento e o desafio de Scale-Up: Onde estamos e para onde podemos ir. 2017, p. 4.
5
Fowler de A. Monteiro, Guilherme. Empresas de alto crescimento e o desafio de Scale-Up: Onde estamos e para onde podemos ir. 2017.

11
PERFIL DAS SCALE-UPS ENTREVISTADAS

A maior parte das EACs6 brasileiras (55,5%) possui de faturamento maior que R$ 360 mil e menor ou igual
10 a 49 funcionários, enquanto 36,9% contabilizam a R$ 4,8 milhões. Ainda que a maior parte destas
entre 50 e 249, e apenas 7,6% registram mais de EACs seja de pequeno e médio porte, esse elemento
250 colaboradores.7 Para este estudo, entrevistamos não é essencial para a sua definição, mas sim, a
empresas que contam com dez funcionários, até velocidade e consistência do seu crescimento.
empresas com 2.400 funcionários. A maioria das
entrevistadas está dentro do segmento acima de 250 Como a amostra utilizada para este estudo está
colaboradores (7 de 13 empresas), seguida pela faixa concentrada em scale-ups de médio e pequeno
entre 50 e 249 (cinco empresas), e, por fim, apenas porte, os achados apresentados se referem a esse
uma entrevistada possui entre 10 e 49 funcionários. tipo específico de empresas. Isso não significa que os
problemas aqui apontados não possam ser comuns
Em termos de faturamento, a amostra de entrevistas a outros portes de scale-ups ou a outras empresas de
foi feita com empresas majoritariamente médias (11 pequeno e médio porte. Na seção 3 deste estudo,
companhias) – que possuem faturamento maior são apresentadas maiores informações a respeito
que R$ 4,8 milhões8 e menor ou igual a R$ 300 da diferença de desafios, a depender do porte da
milhões – e poucas pequenas (duas empresas), com empresa.

12
TOTAL DE TOTAL DE PORTE DA EMPRESA TOTAL DE SETOR DE TOTAL DE
FUNCIONÁRIOS SCALE-UPS (FATURAMENTO MÉDIO)9 SCALE-UPS ATUAÇÃO SCALE-UPS

Pequena empresa
10 a 49 1 (maior que R$ 360 mil 2 Serviços 5
e menor ou igual a R$
4,8 milhões)

Média empresa
(maior que R$ 4,8
50 a 249 5 milhões e menor 11 Indústria 3
ou igual a R$ 300
milhões)

Grande empresa
Mais de 250 7 (maior que R$ 300 0 Varejo 5
milhões)

Total 13 Total 13 Total 13

6
Em 2016, 20.998 empresas eram EACs, o que equivale e 0,5% do total de empresas ativas no país.
7
IBGE. Demografia das empresas e estatísticas do empreendedorismo. 2018.
8
Ainda não existem dados disponíveis para o faturamento médio de EACs no Brasil.
9
Segundo critério de faturamento do BNDES: Microempresa – menor ou igual a R$ 360 mil; pequena empresa – maior que R$ 360 mil e menor ou igual a R$ 4,8
milhões; média empresa – maior que R$ 4,8 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões; e grande empresa: maior que R$ 300 milhões. Disponível em: https://www.
bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/quem-pode-ser-cliente/

13
OS EFEITOS DA
COMPLEXIDADE
PARA AS
SCALE-UPS

14
15
A tributação incide basicamente sobre quatro bases diferentes: renda,
propriedade, consumo e trabalho. Para este estudo, concentramos a análise
nos tributos que geram mais reclamações em termos de complexidade: os
impostos e contribuições da base consumo, que são os incidentes sobre bens e
serviços (ISS, ICMS, PIS, Cofins e IPI). Estes cinco tributos reúnem a maior Existem
parte da complexidade do nosso sistema tributário. Para que uma empresa
se mantenha em compliance com o Fisco, é necessário acompanhar as 27.184
modificações constantes na legislação de cada tributo e cumprir as obrigações normas tributárias
acessórias10 que União (PIS, Cofins e IPI), estados (ICMS) e municípios
(ISS) exigem. Há também complexidade no pagamento de tributos sobre em vigor no Brasil11
o lucro e/ou faturamento da empresa, sobre importação ou sobre a folha de
pagamentos, mas ela é relativamente menor do que para os tributos da base
consumo e, por isso, não são objeto de análise deste estudo.

DESAFIOS POR FASES DA TRIBUTAÇÃO


Categorizamos em três fases distintas os problemas de complexidade da base consumo levantados pelos entrevistados:

Compreensão Apuração e pagamento Contestação

Atividades de pesquisa, Atividades de cálculo dos Atividades relacionadas aos


consulta, monitoramento e tributos e sua revisão, todas procedimentos de fiscalização
interpretação da legislação as atividades relacionadas às e discussões administrativas e
tributária. obrigações acessórias e, por judiciais.
fim, o efetivo pagamento dos
tributos devidos.

Ainda que tenham alguma ordem entre si, as etapas de compreensão, apuração/pagamento e contestação ocorrem de
forma concomitante e são recorrentes. Algumas atividades são mais pontuais, como a definição dos CNAEs da empresa12,
ao passo que outras ocorrem com frequência fixa, como o pagamento dos tributos. Ainda, as fases influenciam umas às
outras: erros ou dúvidas na fase de compreensão podem levar a autuações na fase de contestação. Por fim, todas as fases
são influenciadas por desafios transversais, destacados a seguir,que afetam a complexidade nos três momentos.

10
As obrigações acessórias são informações adicionais exigidas pelo Fisco para o pagamento dos tributos, que são a obrigação principal. “No caso de empresas prestadoras
de serviço em regime de lucro real e presumido, é necessário preencher, em média, 14 fichas de informações para cumprimento das obrigações acessórias do ISS. No caso
das empresas que fazem parte do Simples, a média de fichas de obrigações acessórias é 24”. Endeavor, Burocracia no Ciclo de Vida das Empresas, 2017.
11
AMARAL, G. L. do, OLENIKE, J. E., AMARAL, L. M. F. do, YAZBEK, C. L, STEINBRUCH, F. Quantidade de Normas Editadas no Brasil: 30 anos da Constituição
Federal de 1988. IBPT, 2018.

16
Legislação, arrecadação e fiscalização tributária proveniente dos três níveis
federativos: União, 26 estados (+DF) e 5.570 municípios.
DESAFIOS
TRANSVERSAIS Muitas regras e exceções, que levam à falta de clareza das leis.

Mudanças constantes da legislação tributária13.

“É um pesadelo vender para todo o Brasil”

“Para cada estado há uma classificação distinta de ICMS, então precisa conhecer
a classificação de todos os estados. Para vender para outros estados é preciso
ter uma inscrição para pagar no fim do mês, caso contrário, precisa fazer o
recolhimento do tributo antecipadamente. Precisa de uma equipe para fazer toda
essa logística de gerar guias, enviar, pagar etc.”

“O modelo tributário brasileiro é super


COMPREENSÃO
detalhado, super rígido, mas ele não
Dificuldade para definição do abarca as coisas novas que a empresa
CNAE. tenta oferecer.”
Dificuldade para classificação de
produtos. “O mercado de tecnologia é muito mal
previsto em resolução tributária [...]
Complexidade dos regimes O mundo de tecnologia tem fronteiras
especiais de tributação,
especialmente a Substituição difusas.”
Tributária (ST).

Falta de transparência nos


critérios para concessão de “Feijoada no ICMS: existem quatro
benefícios fiscais. classificações, a depender da
quantidade de porco (ex.: +23% de
Demora para concessão de
benefícios fiscais. carne de porco).”

12
A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) é utilizada pela Receita Federal para fins de classificação e tributação das atividades exercidas pelas
empresas. É comum que as empresas possuam mais de um CNAE, um central e outros complementares.
13
Ainda segundo o IBPT (2018), desde a CF de 1988 foram editadas 390.726 normas em matéria tributária, o equivalente a 46 normas tributárias/dia útil e 1,92
normas tributárias por hora (dia útil). Idem.

17
APURAÇÃO E PAGAMENTO “Na indústria o cálculo é complicado. Um
erro na nota pode gerar um valor incorreto
Dificuldades de cálculo dos tributos. de milhões. Também pela complexidade,
divergências de interpretação, acabamos
Momento de pagamento e fluxo
de caixa: pagamento na aquisição pagando a mais.”
do insumo/serviço sem que haja a
venda imediata do mesmo. O mes-
mo é dito em relação às empresas
que estão sob o regime de ST.
“Desafios de cobrar o serviço do cliente,
Falta de clareza na definição do porque precisam cobrar uma parte por
que é insumo e quais são passíveis onde o serviço foi prestado, outra pelo
de recebimento de créditos,
especialmente PIS e Cofins
software. É necessário dividir o contrato.
Desafio com SAAS: como explicar para o
Dificuldade para obter restituição Fisco que o serviço está na nuvem, e que,
dos créditos solicitados embora os clientes estejam em São Paulo,
Base restrita14: atividades diferentes o serviço está na nuvem e os funcionários
dentro da mesma empresa e definição estão operando em uma cidade diferente
do ente para quem é devido o tributo. de onde o serviço está sendo prestado
Muitas obrigações acessórias e [...] As empresas de software não ficam
mudanças constantes das regras alocadas em São Paulo pelo custo tributário
que incidem sobre elas. e a cidade permanece tentando tributar as
Pagamento e apuração dos tributos
empresas que prestam serviços para cá.”
quando a empresa exerce atividades
diversas. “Há itens e serviços novos, em que não há
regras para ser tributado. Nessa zona cinza,
“É preciso emitir quatro notas diferentes estados e municípios
por causa dos serviços distintos. É como se tentam cobrar o imposto, ‘puxando’ a
a empresa fosse quatro vezes maior do que sardinha para seu lado.”
ela de fato é.”

14
Bens e serviços são tributados por cinco tributos que incidem sobre bases muito parecidas (ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI), que às vezes se confundem (base restrita). A
base ampla é a união de todos esses tributos em um só, que abarque todas as relações de bens e serviços.

18
CONTESTAÇÃO “O Fisco tem cinco anos para contestar
o pagamento. O entendimento muda
Interpretações divergentes entre ao longo dos anos, e uma coisa que era
Fisco, esfera administrativa e
judicial, além de alterações na
permitida pode passar a ser ilegal.”
interpretação ao longo do tempo.

Longo prazo para homologação do


lançamento tributário - 5 anos - de
forma a ficarem muito tempo sob
a insegurança do que foi lançado15.

Dificuldades e demora para a


devolução dos valores recolhidos
a maior, e desequilíbrio entre
contribuinte e Fisco no que toca às
regras de correção e juros.

Relação de baixa confiança entre


Fisco e contribuinte.

15
Sobre o tema, destacamos o estudo da Delloite: “Um dos exemplos do descompasso de como o sistema informatizado pode contribuir com a otimização do processo
de apuração tributária é a manutenção do prazo prescricional para a fiscalização da Receita Federal em cinco anos. Em um sistema em que é possível prestar contas com
agilidade, e posteriormente cruzar esses dados, esse tempo em que a empresa está vulnerável a fiscalizações e questionamentos poderia ser reduzido sem prejuízo para a
transparência do processo tributário” Delloite.Compliance Tributário no Brasil - As estruturas das empresa para atuar em um ambiente complexo, 2014, p. 17.

19
Ao sistema tributário brasileiro impõe uma enorme e ISS, o que gera disputas entre estados e municípios.
complexidade para os empreendedores operarem o Esta indefinição, na prática, dificulta a classificação
sistema, tornando excessivamente desafiador e custoso para empresas com produtos complexos, como as de
lidar com ele. Os problemas listados acima podem ser tecnologia, ou para as que exercem atividades diferentes
resumidos em poucas palavras, mas representam uma dentro da mesma companhia. As empresas que estão
enorme quantidade de leis, procedimentos e documentos. nessa “zona cinzenta”, lidam constantemente com a
insegurança jurídica resultante da falta de classificação
A Substituição Tributária (ST), por exemplo, exige o clara. E não é raro que tenham que investir um volume
pagamento antecipado16 do ICMS pelo fabricante ou alto de recursos consultando diversos especialistas em
distribuidor referente a toda comercialização do produto tributação e contabilidade, para que a sua situação de
que ocorrerá posteriormente, até o consumidor final, incerteza não se torne uma situação de ilegalidade.
afetando de forma negativa o planejamento financeiro e
fluxo de caixa das empresas. Além disso, os itens constantes Outra fonte de insegurança jurídica são as interpretações
da lista de ST são periodicamente alterados e precisam divergentes entre contribuintes, Fisco e Judiciário,
ser acompanhados pelo empreendedor. Por fim, calcular decorrentes da complexidade da legislação. Além das
o valor a ser recolhido é extremamente demandante. divergências, as posições costumam mudar ao longo do
Para isso, é necessário calcular o valor presumido do tempo, fazendo com que interpretações, anteriormente
produto (preço-varejo), um cálculo que pode ser feito julgadas legais para outros casos, deixem de ser. O
por diversas metodologias, definidas de forma diferente preço dessa insegurança custa não só pelos gastos
por cada estado. Em São Paulo, por exemplo, usa-se com as autuações, mas também pela necessidade de
o tabelamento (preço fixado pela autoridade), valor alocar funcionários e contratar softwares, contadores,
sugestão (preço sugerido pelo fabricante), preço médio consultores, advogados, especialistas, entre outros.
ponderado (fixado pela Secretaria da Fazenda Estadual
com base em levantamento de preços) ou margem de Ainda que as scale-ups tenham desafios em todos
valor agregado (percentual17 sobre a soma dos valores do as fases da tributação, eles encontram-se mais
bem ao frete, seguro, tributos e demais encargos18). concentrados no momento de Apuração e Pagamento.
Em termos de tributação, esses negócios encontram-se
O regime de ST é mais um exemplo de regra que num ponto específico: já passaram pelos desafios
abrange inúmeras outras pequenas regras e classificações ligados à constituição da empresa e validação do
específicas. Outro exemplo é a definição do CNAE e as modelo de negócios, mais relacionados ao momento
classificações de produtos do ICMS: só para o produto de de Compreensão, mas ainda não se desenvolveram e
feijoada congelada existem quatro classificações distintas, cresceram a ponto de sofrerem fiscalizações constantes19
a depender da quantidade de carne presente no produto. e de utilizarem-se de mecanismos judiciais e
administrativos de defesa, comuns ao momento de
Há desafios também na delimitação ou diferenciação Contestação. Na seção 3 trazemos um panorama dessas
entre o que é produto e/ou serviço para fins de ICMS diferenças segundo o porte das empresas.

16
Esse é o tipo mais comum de substituição tributária – para frente. Existem outros dois tipos, a para trás, paga pelo último contribuinte da cadeia referente a todas as
transações anteriores, e substituição de contribuinte, em que um contribuinte é substituído por outro da cadeia.
17
Percentual esse que varia de acordo com o produto e para cada estado.
18
Disponível em: https://blog.contaazul.com/o-que-e-substituicao-tributaria/.
19
Segundo estudo da Delloite as empresas de grande porte são o foco das fiscalizações. Na esfera federal, enquanto as grandes foram fiscalizadas, em média, 16 vezes
em cinco anos, as médias foram cinco vezes, e as pequenas duas vezes no mesmo período. Compliance Tributário no Brasil – As estruturas das empresas para atuar em um
ambiente complexo, 2014.
20
BENEFÍCIOS FISCAIS

Não há uma definição exata para o que seriam benefícios fiscais. A


literatura os define com base em diversos elementos que podem ou No âmbito federal as
não ser agregados para a construção do conceito, sendo o principal os renúncias foram de

R$270,4
“desvios em relação à estrutura básica do tributo”20. Ou seja, são exceções
às regras base que constituem um determinado tributo, configurando-se,
por exemplo, pela redução da base de cálculo, da alíquota, de deduções
ou de postergações de pagamento21. Podem receber esses benefícios

BILHÕES
pessoas físicas, jurídicas, setores ou mesmo regiões, com o objetivo de
melhoria de políticas públicas. Opta-se por não recolher o tributo em 24
troca de melhoria, em tese, de índices econômicos, sociais e ambientais.
No entanto, segundo dados do TCU (2018) e Banco Mundial (2017), a 10x O ORÇAMENTO
maioria dos benefícios é pouco efetiva e eficiente22, não têm prazo final
e não é devidamente mensurada e avaliada23. Estima-se que, somente DO BOLSA FAMÍLIA
no âmbito federal, as renúncias fiscais representaram cerca de R$ 270,4
Montante equivale a 4,1% do PIB e a
bilhões em 201724. Não existe informação precisa a respeito dos valores
20,7% da receita administrada pela RRB,
de renúncia fiscal pelos estados e municípios, o que demonstra também
e supera o dobro dos R$ 124,3 bilhões de
limitação na transparência do regime de concessão de benefícios fiscais.
déficit primário do governo central

Além das questões fiscais, de avaliação e custo-benefício, os benefícios


tributários são pouco transparentes. Quando concedidos, muitas “Tivemos que esperar dois
vezes, não são automáticos e beneficiam pontualmente uma empresa anos para ter um pedido de
específica que consegue usar seu grande porte para negociá-los. Isso regime especial avaliado e
gera grandes distorções concorrenciais e dificuldades das pequenas
e médias empresas de acessarem tais benefícios. Nas entrevistas que tinha sido concedido a
realizadas, as scale-ups afirmaram desconhecer todos os benefícios à um concorrente. Depois de
sua disposição e ser necessário contratar consultorias especializadas aprovado, esperamos mais oito
para auxiliar nessa busca e pedido de enquadramento. Além disso,
uma vez identificado o benefício, ele pode demorar anos para que meses para que a secretaria
seja aprovado e para que a empresa comece a ser contemplada. informasse como operar.”

20
Todos os elementos listados são: “a) reduz o montante recolhido do tributo; b) beneficia apenas uma parcela dos contribuintes; c) corresponde a desvios em relação à estrutura
básica do tributo; e/ou d) visa objetivos que poderiam ser alcançados por meio dos gastos públicos diretos”. Pellegrini, Josué Alfredo. Gastos Tributários: conceitos, experiência interna-
cional e o caso do Brasil. 2014. p. 2.
21
O art. 14, §1º da Lei de Responsabilidade Fiscal define algumas situações: “A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em
caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a
tratamento diferenciado”.
22
“O Brasil gasta grande quantidade de recursos em políticas públicas de apoio aos negócios, mas esses programas tiveram pouco impacto em produtividade, investimento e criação
de empregos”. Banco Mundial, Business Support Policies: Large Spending, Little Impact. Background paper: Um ajuste Justo: Análise de Eficiência do Gasto Público no Brasil, 2017, p.
6, tradução livre.
23
“[...] dos R$ 284 bilhões de gastos tributários previstos no DGT 2018, 85% possuem prazo de vigência indeterminado e 44% não possuem órgão gestor definido na legislação.
[...] incentivos fiscais são concedidos sem estudos que demonstrem que os benefícios sociais ou econômicos esperados se justificam frente à perda de arrecadação estimada”. TCU,
Acórdão 1322/2018, rel. Min. Vital do Rêgo, p. 221.
24
Instituto Fiscal Independente. Relatório de Acompanhamento Fiscal, maio de 2018, p. 35.
21
DESAFIOS POR SETOR: VAREJO, SERVIÇOS E INDÚSTRIA

A partir das entrevistas realizadas, identificamos desafios específicos a depender do setor de atuação da scale-up:

Varejo

Parece ser o setor mais afetado pela complexidade por alguns motivos: (a) sonegação da concorrência –
marketplaces ou pequenas empresas – é alta; (b) regime de Substituição Tributária (ST) aplicado em muitos
casos; (c) alta complexidade do ICMS – tributo que incide sobre a circulação de mercadorias; e (d) grande
quantidade de transações (compra e venda), característica desse tipo de negócio.

Indústria

Assim como o varejo, a indústria é muito afetada pela complexidade, em especial em razão das regras do
ICMS e Substituição Tributária (ST). Como a indústria costuma realizar menos transações e de valor mais
alto, a complexidade é um pouco menor que no varejo.

Serviços

O setor parece não ser tão afetado pela complexidade como os demais, uma vez que o ISS, apesar de
municipal, possui regras relativamente mais simples e claras que o ICMS. No entanto, a maior dor do setor
é a restrição à tomada de créditos tributários, uma vez que o maior custo é com folha de salários, sem gerar
crédito. Ademais, as empresas de serviços, em especial as de tecnologia, sofrem muito com a dificuldade de se
enquadrarem nas regras tributárias.

22
OS EFEITOS DA
COMPLEXIDADE
SOBRE A
ESTRUTURA E
ESTRATÉGIA
DAS EMPRESAS
24
25
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Grande parte das empresas não realiza planejamento tributário, limitando-se apenas à gestão necessária para apurar
e pagar seus tributos. Além disso, é comum que não tenham sua contabilidade organizada – especialmente as que
estão no Simples ou Lucro Presumido – e, portanto, tenham informações superficiais a respeito da vida financeira
da companhia.

Para aquelas que fazem planejamento tributário, ele pode ser dividido basicamente em dois perfis:

SCALE-UPS GRANDES EMPRESAS


PLANEJAMENTO SIMPLES PLANEJAMENTO COMPLEXO

Foco são
Foco é o
BENEFÍCIOS FISCAIS, ALOCAÇÕES
REGIME TRIBUTÁRIO
(Simples, Lucro Presumido PRODUTIVAS E GEOGRÁFICAS e
ou Lucro Real) CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO.

Em geral, feito com


Em geral, feito MENOR FREQUÊNCIA,
ANUALMENTE. quando se busca uma
reestruturação tributária.

26
As scale-ups, em geral, possuem contabilidade benefícios fiscais, abertura em outros municípios e/
mais organizada25 que outras pequenas e médias ou estados, repensa a alocação produtiva de produtos
empresas, e todas as participantes do estudo fazem e serviços, entre outros. A judicialização de causas
o planejamento considerado mais “simples” – de tributárias tende a ser o último passo, uma vez que
definição apenas do regime tributário. Essa definição demanda altos custos com advogados e garantias,
é importante, uma vez que os regimes Simples e além de significar um risco27 que as pequenas e
Lucro Presumido tributam a renda da empresa (IR médias empresas não conseguem arcar.
e CSLL) com base numa presunção do lucro (aplica-
se um percentual sobre a receita bruta), ao passo Das 13 scale-ups entrevistadas, seis reportaram ter
que o Lucro Real tributa a renda com base no lucro benefícios fiscais, ao passo que oito reportaram não
contábil da empresa, ou seja, o lucro efetivamente tê-los – ainda que muitas delas estejam no processo
auferido. A depender da margem da empresa e da de obtenção. No que tange à judicialização de
existência de lucro no ano, as empresas optam por demandas, apenas duas reportaram que discutem na
um dos regimes26. esfera administrativa e judicial questões tributárias.
As demais empresas revelaram que, quando autuadas,
Na medida em que a empresa vai crescendo e se pagam os valores ou esperam o Refis para ter melhores
estruturando, ela passa a incorporar elementos do condições de pagamento dos juros e multas.
planejamento tributário mais complexo. Assim, busca

25
Especialmente porque estão no Lucro Real, que exige maior controle contábil.
26
Importante salientar que o principal critério de escolha do regime são os limites de faturamento das empresas (Simples até 4,8 milhões e Lucro Presumido até R$ 78
milhões) e que os regimes foram criados para tornar mais fácil a apuração dos tributos para pequenas e médias empresas. O uso de critérios distintos, como margem de
lucro e lucratividade no ano são elementos que configuram o planejamento tributário aqui descrito.
27
Visto que, caso perca, deverá arcar ao final com altos valores que não seriam suportáveis dentro da estrutura de uma pequena e média empresa. O risco é um impor-
tante fator quando se faz um planejamento tributário. Empresas podem optar por interpretações mais “ousadas” da lei, mantendo o dinheiro em caixa até o julgamento
final - mas correndo maior risco de pagarem altas multas e juros ao final da ação.
27
CARACTERÍSTICAS DO MOMENTO DE ALTO
CRESCIMENTO NA EMPRESA

Seja para receber investimentos, seja porque ainda não estão dando lucro nessa fase de
crescimento acelerado, visto que estão reinvestindo os ganhos na expansão da empresa, o
Lucro Real é majoritariamente o regime tributário das entrevistadas.

Crescer exige investimentos em funcionários, infraestrutura, equipamentos, isto é, exige capital. As empresas
de alto crescimento necessitam encontrar o equilíbrio ideal entre capacidade de investimento e crescimento,
especialmente quando a fonte de financiamento vem da própria empresa. As scale-ups, além do recebimento
de investimentos, comumente também optam por investir recursos próprios na expansão do negócio e, por
isso, têm a característica de não apresentarem lucro contábil ou valores baixos de lucratividade28.

Seja para receber investimentos, seja porque ainda não estão dando lucro nessa fase de crescimento acelerado,
visto que estão reinvestindo os ganhos na expansão da empresa, o Lucro Real é majoritariamente o regime
tributário das entrevistadas. Onze empresas estão nesse regime – sendo que quatro delas faziam parte de
um grupo de empresas que continha outra(s) empresa(s) no Presumido29 –, enquanto apenas uma estava
exclusivamente no Lucro Presumido e uma estava em transição do Simples para o Presumido.

Essa configuração é uma característica bastante típica das scale-ups que, portanto, não deve ser generalizada
para outras empresas de pequeno e médio porte. Em geral, o regime é definido pela faixa de receita bruta da
companhia, em especial quando a empresa se encontra no Simples. No caso das empresas entrevistadas, mesmo
aquelas com faturamento abaixo do teto do Simples Nacional (R$ 4,8 milhões) optaram pelo Lucro Real30.

As empresas também não estão no Simples por restrições que este regime imprime ao recebimento de
investimentos. Essas companhias não podem, por exemplo, ter como sócio outra pessoa jurídica31 ou se
estruturarem sob a forma de sociedade anônima32.

28
Nesse sentido, Harnish: “O que é mais importante, lucro ou dinheiro? Se você está crescendo é dinheiro. É por isso que a Amazon continua prosperando mesmo
estando próxima do breakeven ou mesmo reportando perdas”. HARNISH, Verne. Scaling Up: How a Few Companies Make It...and Why the Rest Don’t, 1ª ed., 2014,
p. 219 e Flamholtz: “Uma empresa empreendedora busca o lucro, mas ele não é um objetivo específico a ser alcançado. Os empreendedores podem estar dispostos a
investir e sacrificar o lucro em troca de futuros ‘big hits’”. FLAMHOLTZ, Eric G.. Growing Pains, 2ª ed., 1990, p. 44, tradução livre.
29
Essa configuração está associada à existência de mais de um tipo de atividade dentro da operação – ex.: indústria e serviço – e do planejamento das empresas.
30
A empresa que está na transição do Simples para o Presumido relatou que esta foi uma transição urgente durante o ano de 2018. Para 2019 a empresa relatou que
estará no Lucro Real.
31
Art. 3º, §4º, I, da LC 123/06
32
Art. 30, §3º, I, da LC 123/06

28
PORTE

A estrutura tributária de uma empresa se altera ao longo do seu crescimento. As pequenas possuem regimes
simplificados, mas, quando saem dele, estão todas sujeitas a regras e processos tributários mais complexos.
Quem está no meio desse caminho, passa por um gradual movimento de maturação e adaptação: como
não podem mais fazer parte de um regime simplificado de tributação, as empresas precisam aprender a
navegar no sistema tributário, buscando se aproximar da estrutura e da estratégia das grandes empresas.

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS33

As micro e pequenas empresas possuem regimes empresas sujeitas à ST apuram o ICMS fora do
simplificados de apuração e pagamento de tributos regime simplificado, de forma que ficam sujeitas a
– o MEI e o Simples. Esses regimes conferem a toda complexidade decorrente da sua apuração e
elas baixo custo de conformidade, uma vez que a pagamento. A complexidade do sistema também
apuração e pagamento dos tributos é relativamente afeta os pequenos que estão na faixa de R$ 3,6 e R$
simples – feita pelo preenchimento online de alguns 4,8 milhões, uma vez que neste caso o recolhimento
campos, que resultam automaticamente no valor a do ICMS e ISS é feito fora do Simples. Ainda,
ser pago. No entanto, algumas empresas específicas segundo alguns dos empreendedores entrevistados,
se sujeitam a regimes especiais e precisam lidar com o medo da complexidade e a dificuldade de acesso
a complexidade do sistema. É o caso, por exemplo, a profissionais capacitados leva pequenas empresas a
da Substituição Tributária (ST). As pequenas operarem pela sonegação.

33
Agradecemos a Gabriel Rizza Ferraz, do Sebrae, pela suas contribuições nesta seção.

29
LIMITAÇÕES AO CRESCIMENTO – CONSTITUIÇÃO E MIGRAÇÃO
DO SIMPLES PARA OS OUTROS REGIMES

A saída do Simples é traumática. Apesar da maior parte dos


entrevistados para esta pesquisa já ter feito há bastante tempo A saída do Simples é
a migração do Simples para os regimes de Lucro Real ou
Presumido, muitos deles relataram dificuldades relacionadas
TRAUMÁTICA
a esse momento. Se antes a carga era mais baixa e o sistema
simplificado – com concentração de todos os tributos em
uma só guia de apuração e pagamento – com a transição o
empreendedor precisa lidar abruptamente com o aumento da
carga e da complexidade do sistema tributário.

Nesse momento o empreendedor precisa optar entre:

Fazer a migração do
Não crescer, ou seja, Dividir-se artificialmente, Simples para Lucro Real
passa a rejeitar pedidos de abrindo diversas pequenas ou Presumido, arcando
clientes para manter-se no empresas para manter-se com os custos da transição
Simples. no Simples. e dos profissionais
contratados para esse fim.

“Num patamar de baixo faturamento existe menos burocracia, mas a partir do momento que
você cresce, começa limitar seu tamanho para atender ao regime. Você começa a aumentar
a quantidade de empresas para manter-se no Simples, o que gera maior complexidade
operacional. Já vi casos de criação de 12 empresas para se manterem no Simples.”

30
GRANDES EMPRESAS

Assim como todas as empresas, as grandes também


sofrem com a complexidade tributária do país. No
entanto, são mais estruturadas e conseguem lidar
melhor com as dificuldades do sistema. Assim,
além de terem mais capacidade de investir em time,
sistemas e consultorias, fazem um planejamento
tributário mais estruturado – e por vezes mais
agressivo. Ou seja, utilizam mais os tribunais (...) as scale-ups, conforme crescem em
administrativos e judiciais, buscam e negociam faturamento e maturidade do negócio,
benefícios fiscais e conseguem fazer mais facilmente passam a se aproximar das características
mudanças produtivas e alocativas para se ajustar
ao sistema. É interessante notar que as scale-ups,
das grandes empresas.
conforme crescem em faturamento e maturidade do
negócio, passam a se aproximar das características
das grandes empresas.

“A livre concorrência não funciona no Brasil: como concorrer com uma grande empresa?
Eles têm uma estrutura fiscal que é impossível competir. E a culpa não é deles!
Eles são eficientes, eles aprenderam. Mas quem tá entrando no mercado
não consegue. Qual o incentivo?”

MICRO E OUTRAS GRANDES


PEQUENAS
EMPRESAS EMPRESAS
EMPRESA

MAIOR FACILIDADE DIFICULDADE DE LIDAR MAIOR FACILIDADE


PARA NAVEGAR NO COM O SISTEMA PARA NAVEGAR NO
SISTEMA SISTEMA

31
SIMPLIFICAÇÃO
TRIBUTÁRIA

32
33
SOBRE O IMPOSTO SOBRE O VALOR AGREGADO (IVA)

Presente hoje em mais de 165 países34, o IVA é um

165 PAÍSES
imposto que incide sobre o valor agregado gerado a
cada etapa de produção e comercialização de bens e
serviços. Os valores pagos na cadeia geram créditos que
são utilizados nas etapas posteriores, e o pagamento do 50% adotaram nos últimos 25 anos
tributo é integralmente feito pelo consumidor final.

O tributo incide sobre o valor agregado a cada etapa. A base de cálculo é o valor total do produto, porém,
por meio dos créditos o valor efetivamente pago é apenas sobre o valor agregado. Por tratar-se de um tributo
que visa não onerar a cadeia de produção e comercialização, mas sim o consumidor final – contribuinte “de
fato” do imposto – o valor do tributo é recolhido pelo vendedor a cada etapa, porém, é repassado à etapa
seguinte, até chegar ao consumidor final.

34
Metade deles o adotou nos últimos 25 anos. OCDE, Consumption Tax Trends. 2016.

34
A seguir, uma simulação de como funcionaria a cadeia de arrecadação do tributo a uma alíquota de 20%:

CONSUMIDOR
COMERCIALIZAÇÃO
CADEIA DE VALOR

R$ 240
VA
R$ 120 PRODUÇÃO R$ 200

=
EXTRAÇÃO VA
R$ 100
VA
R$ 100
R$400,00

IVA R$480,00

=
R$ 20
GOVERNO

IVA
R$ 20
Extração
IVA
Produção R$ 40 R$80,00
Comercialização

O IVA é um tributo que incide apenas sobre o valor adicionado a cada etapa da cadeia de produção (representado por “VA”
na imagem). A cada nova etapa, o tributo é arrecadado sobre o valor total da venda mas, havendo valores já pagos pelo elo
anterior da cadeia, esses são restituídos na forma de crédito (representados acima pelos ícones vazios, de mesma cor). Assim,
o valor do tributo incide efetivamente sobre o valor adicionado em cada elo. Acima, a extração representa o início da cadeia,
e sobre os R$100,00 da venda, incide R$20,00 de IVA. Esse valor é arrecadado pelo responsável pela extração e repassado
na venda para o produtor, que irá pagar R$120 pelo bem. O produtor, por sua vez, adiciona aos R$100,00 do extrator
novos R$100 de valor adicionado, pagando R$40,00 de IVA e recebendo R$20,00 de crédito referentes ao IVA já pago
pelo extrator. Assim, apesar de desembolsar R$ 40,00 de tributos relativos ao valor agregado, o valor efetivamente pago pelo
produtor é R$20,00, uma vez que ele receberá créditos dos R$ 20,00 reais em tributos já pagos anteriormente pelo extrator.
Em seguida, o produtor vende o bem para a loja pelo valor total de R$240,00, sendo R$120 referentes ao valor já pago ao
extrator, R$100 referente ao novo valor adicionado e R$20 a título de IVA efetivamente pago; e assim sucessivamente. Ao
final, o consumidor arca com o valor total do bem/serviço (na figura, R$400) e do IVA (na figura, R$80).

35
IVA EM OUTROS PAÍSES E O DESAFIO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

165 países adotam o IVA/GST no mundo, porém a a posição, pior o índice de postfiling index35 e horas
estruturação do tributo é bastante variável. O IVA gastas para pagamento do tributo base consumo. No
é considerado mais “puro” na medida em que se entanto, observa-se que do Doing Business de 2018,
aproxima das características ideais de um sistema que mediu o sistema indiano pré-reforma36, para o
tributário definidas pelos princípios da neutralidade, Doing Business 2019, houve um aumento no número
simplicidade, transparência, isonomia e capacidade de horas de 105 para 164,537. Primeiro é de se notar
de arrecadação. A Nova Zelândia é o país que mais se que o valor anterior não parecia refletir a realidade
aproxima dessas características, uma vez que possui do antigo sistema tributário do país, uma vez que era
poucas regras e exceções, tratando a maioria dos bens considerado extremamente complexo e confuso38, de
e serviços de forma igual. O Chile, por sua vez, apesar forma que não há explicação plausível, por ora, para
de apresentar um IVA de alíquota única (19%), possui referido número. Segundo, porque a reforma, como
uma ampla lista de exceções, tornando o sistema mais veremos abaixo, apesar de ter gerado alguns problemas
complexo que o neozelandês. Já o sistema da Índia, iniciais, tem gerado impactos positivos para o ambiente
recém instituído, possui dois tributos sobre bens e de negócios do país. Nesse ponto o Doing Business de
serviços e grande quantidade de alíquotas e exceções, o 2019 capturou o momento de transição do sistema
que o torna mais complexo que os demais. Ainda assim, antigo para o novo3, de forma que provavelmente
são todos sistemas mais simples que o brasileiro, que reflete os problemas decorrentes da transição. Segundo
possui cinco tributos sobre bens e serviços e incontáveis o Ministro da Fazenda do país, a expectativa é que os
alíquotas e exceções. Essa gradação de complexidade números dos próximos anos melhorem, uma vez que
pode ser vista pelo ranking no Doing Business de cada irão refletir um tributo mais estabelecido40.
país. Quanto mais complexo o sistema, mais baixa

35
O postfiling index baseia-se em quatro componentes: tempo para cumprir o reembolso do IVA, tempo para obter o reembolso do IVA, tempo para cumprir a auditoria
do imposto de renda e tempo para concluir uma auditoria do imposto de renda corporativo. O índice varia de 0 (pior) a 100 (melhor). Para mais detalhes, ver: http://
www.doingbusiness.org/en/methodology/paying-taxes.
36
Uma vez que é referente ao ano fiscal de 2016
37
O postfilling index permaneceu inalterado.
38
“Antes da introdução do GST, a Índia possuía um sistema tributário indireto muito complexo, com múltiplos tributos federais e estaduais, como excise duties para
a indústria, tributos inter e intra estaduais na venda de bens (onde cada estado possuía diferentes regulações), service tax para serviços, entry tax para importações etc.
Esses tributos eram administrados por autoridades administrativas diferentes. Ainda, as alíquotas incidentes sobre a venda de bens e as exceções não eram uniformes em
todos os estados”. PWC. Paying Taxes 2018. 2018, p. 52, tradução livre.
39
Uma vez que os dados foram coletados em 2018 e referem-se ao exercício de janeiro a dezembro de 2017, ao passo que a reforma foi instituída em junho de 2017.
40
“O Ministro da Fazenda Arun Jaitley disse que os problemas decorrentes da instituição do GST em julho de 2017 podem ter causado a leve queda no ranking. No
entanto, graças a consolidação do GST e do IBC, Jaitley espera que a Índia melhore no ranking do ano que vem. Enquanto o prazo de pesquisa para nove de dez
parâmetros do ranking foi maio de 2018, na parte de ‘paying taxes’, o prazo foi dezembro de 2017 (quando o GST estava no processo de estabelecer-se)”. Disponível
em: https://www.financialexpress.com/economy/ease-of-doing-business-ranking-2019-know-what-worked-for-india-and-what-didnt-in-23-notch-leap-to-77th-s-
lot/1368596/, tradução livre.

36
MAIS COMPLEXO

BRASIL

ÍNDIA

CHILE

NOVA ZELÂNDIA

MENOS COMPLEXO

37
TRIBUTAÇÃO SOBRE CONSUMO

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


O Good and Services Tax (GST) foi Possui o Impuesto al Valor Agregado Adota desde 2017 o Goods and
adotado em 1986 e é o IVA mais (IVA) desde 1974. Service Tax (GST), um IVA dual
próximo do considerado ideal. que possui dois componentes,
um do governo central (CGST)
e o outro dos governos estaduais
(SGST). Para as transações
interestaduais cobra-se um tributo
que unifica os demais, o IGST.

BRASIL
Adota cinco tributos sobre o consumo (PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI) que foram lentamente instituídos,
especialmente a partir da década de 60.

ALÍQUOTA

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


Única de 15% 41 Única de 19% Possui quatro alíquotas para
produtos 0.25%, 3%, 5%, 12%,
18%, e quatro alíquotas para
serviços 5% 12%, 18% e 28%

BRASIL
Possui um número incontável de alíquotas, variáveis de acordo com o tributo, ente federativo (União, estados
e municípios) e tipo de bem ou serviço.
1. O ICMS, relativo à circulação de mercadorias, por exemplo, tem alíquota variável nas transações dentro
do estado (entre 17% e 19%) e entre estados (entre 4% e 12%).
2. O ISS, tributo municipal, relativo a serviços, tem alíquota variável dentro de cada município, a depender
do tipo de serviço, de 2% a 5%.
3. O IPI possui alíquotas que variam de 0% a 330%, a depender do produto
4. O PIS e a Cofins variam de acordo com dois regimes. Para o não cumulativo, a alíquota é de 1,65% (PIS)
e 7,6% (Cofins), para o cumulativo 0,65% (PIS) e 3% (Cofins).

38
ISENÇÕES

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


Exceções pontuais e bastante Ampla lista de exceções a 0% – Ampla lista de exceções a 0%
específicas a 0% – como sale of a como veículos usados, serviços – como frutas, vegetais e
business as a going concern – e providos por trabalhadores hotéis com tarifas inferiores
isenção das exportações. independentes e ingressos para a INR1,000 e isenção para
eventos artísticos, científicos exportações.
ou culturais e isenção das
exportações.
BRASIL
A lista de exceções também é incontável, uma vez que variam de acordo com o tributo, ente federativo e tipo do bem
ou serviço. O IPI e ICMS, por exemplo, determinam a alíquota dos bens com base na essencialidade dos mesmos. O
IPI possui alíquotas que variam de 0% – alguns alimentos – a 330% - cigarros. O ICMS também possui tal variação.
São Paulo, por exemplo, tem alíquotas de 4% a 30%, a depender do produto42. Além disso, os entes federativos
podem conceder benefícios fiscais a alguns setores/empresas específicas. As exportações não são isentas.

SOBRETAXA

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


Apenas três itens – álcool, tabaco Possui uma lista de itens A existência de alíquotas diferentes
e combustíveis – são sobretaxados sobretaxados pela IVA tasas de GST já denota a escolha em
pela excise duty43 especiales entre 10% e 50% beneficiar alguns produtos em
de alíquota, como joias, álcool, detrimento de outros. Além dessas
refrigerantes com alto teor de diferenças, produtos como tabaco
açúcar e pirotécnicos. e veículos automotores estão sob a
compensation cess, que terá duração
de cinco anos e será utilizada para
compensar estados que perderam
arrecadação com a reforma.
BRASIL
A mesma lógica de concessão de isenções é utilizada para sobretaxar bens considerados não essenciais – como
álcool e cigarro.

41
A alíquota começou em 10% em 1986 e sofreu dois aumentos ao longo dos anos, para 12,5% em 1989, e 15% em 2010, de forma a compensar as reduções da
tributação da renda.
42
Disponível em: https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/aliquotas-icms-estaduais
43
Disponível em: https://www.customs.govt.nz/business/excise/what-is-excise/

39
DEVOLUÇÃO DOS CRÉDITOS

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


ENTRE 1 E 6 MESES, MENSAL MENSAL OU TRIMES-
a depender do valor a ser restituí-
do e da opção feita pela empresa.
TRAL apenas para algumas
empresas. Os créditos da CGST
e SGST não podem ser utilizados
entre si.

BRASIL
Apenas alguns tributos geram créditos – como ICMS e o PIS e a Cofins não cumulativa –, sendo que os
créditos são restritos. Ainda, quando há direito a crédito, ele pode tomar diversas formas e ser aproveitado
ou não para outros tributos. Os prazos de devolução também são variáveis

REGIME PARA PEQUENAS EMPRESAS

NOVA ZELÂNDIA CHILE ÍNDIA


Não estão sujeitas ao recolhimento Os pequenos comerciantes e Não estão sujeitas ao
as empresas com faturamento pessoas físicas estão sujeitos à recolhimento as empresas
anual inferior a $60.000,0044. Tributación Simplificada e pagam com faturamento anual
um valor fixo mensal, variável de inferior a aproximadamente
acordo com o tipo de atividade e US$ 30.000. As empresas com
contribuinte. faturamento até US$ 200.000
e que não realizem operações
interestaduais, podem optar por
pagar um valor fixo sem direito
a créditos que varia de 1% a 5%.

BRASIL
Presença de regimes especiais, tais como MEI e Simples, mais simplificados e com alíquotas reduzidas.

40
POSIÇÃO DOING BUSINESS HORAS GASTAS POSTFILING
2019 – PILAR PAGAMENTO PARA PAGAMENTO INDEX (DOING
DE IMPOSTOS (190 PAÍSES DE TRIBUTOS BASE BUSINESS 2019)
ANALISADOS) CONSUMO (DOING
BUSINESS 2019)45

10 47 96.9
NOVA ZELÂNDIA

Fonte: elaboração Endeavor, com base nos dados da EY46 e sites governamentais de cada país.
76 123,5 57.03
CHILE

121 164,5 49.31

ÍNDIA

184 1.161 7.8

BRASIL

44
Disponível em: https://www.ird.govt.nz/gst/gst-registering/register-who/register-who.html.
45
Dados extraídos dos Economy Profiles. Doing Business, 2019.
46
Disponíveis em: https://www.ey.com/gl/en/services/tax/worldwide-vat-gst-sales-tax-guide---country-list.

41
Complexidade do IVA Chileno: apesar da alíquota
única, o IVA Chileno apresenta diversas exceções
sob a forma de isenções e créditos para determinadas
operações – como para as construtoras – o que o afasta,
nesse ponto, de um modelo ideal. Essas exceções são
usadas para dar mais equidade ao tributo ou para
dar maior eficiência ao uso de recursos, reduzindo
as alíquotas para bens mais suscetíveis a mudanças
do mercado. No entanto, essa opção gera maior
complexidade para classificação e fiscalização, assim
como pode tornar o sistema mais suscetível a atuação
de grupos de interesse48.

47
How GST affected retail sales in the 1980s. Stats NZ, 2010.
48
Yáñez Henríquez, J.. Impuesto al valor agregado: eficiencia y crecimiento. Revista de Estudios Tributarios 9. 2014.
49
Disponível em: https://www.firstpost.com/business/the-gst-story-a-timeline-of-17-year-roller-coaster-ride-that-reaches-the-climax-midnight-tonight-3761975.html.
50
Disponível em: https://www.forbes.com/sites/taxanalysts/2017/07/25/lessons-from-indias-ambitious-tax-reform-adventure/#36438db078b2.
51
Disponível em: https://abcnews.go.com/International/thousands-laid-off-india-pushes-biggest-tax-reform/story?id=57674468.
52
Disponível em: https://www.valor.com.br/internacional/5022230/india-faz-sua-maior-reforma-tributaria-empresas-temem-caos.
53
Disponível em: https://abcnews.go.com/International/thousands-laid-off-india-pushes-biggest-tax-reform/story?id=57674468.

42
A reforma tributária na Índia: em junho de 2017 a Índia aprovou uma reforma tributária para instituir o
GST em substituição a 17 tributos. Semelhante ao Brasil, a Índia é uma federação com 28 estados e sete
territórios federais, com alto grau de autonomia, em que tanto o governo central como os estados têm o poder
de instituir e cobrar tributos. A reforma foi discutida por mais de 17 anos no país49 e, ainda que esteja longe do
modelo ideal, parece ter resolvido a fragmentação tributária da Índia, que levava empresas a rejeitarem pedidos
provenientes de algumas províncias em razão das dificuldades por elas impostas50. No entanto, a implementação
do tributo, que agora tem mais de um ano, tem sido desafiadora. Desde a promulgação, a lei sofreu mais de
200 alterações. Pequenos e médios comerciantes estão com dificuldade para se adaptarem aos sistemas, uma vez
que muitos deles sequer possuem computador, o que levou a muitos deles a fecharem as portas desde então51.
O empreendedor indiano Rajesh Sawnhey, entrevistado para este estudo, afirmou que a reforma tornou
muito mais fácil a expansão dos negócios para outras regiões do país, uma vez que agora há uniformidade
das regras entre os estados. Já as grandes empresas ficaram insatisfeitas com os produtos que estão na categoria
mais alta, 28% – como refrigerantes, xampus e utensílios domésticos52 –; mas no que toca aos processos,
afirmam já terem se adaptado. A Panasonic afirma que economizou entre 4% e 5% com a mudança, e que o
novo tributo melhorou a competitividade. As ações referentes a empresas de bens de consumo subiram no país
26% no último ano53.

Efeitos sobre consumo na transição da NZ: a Nova Zelândia


não possuía tributação sobre o consumo até 1986. Com
a introdução do novo tributo os preços dos bens subiram
e, consequentemente, houve um aumento de vendas nos
meses anteriores à sua instituição, e queda nos meses
subsequentes, especialmente para bens de maior valor. No
entanto, o efeito sobre vendas durou pouco e, após 6 meses,
as vendas já estavam novamente estabilizadas47.

43
O QUE AS SCALE-UPS BRASILEIRAS DIZEM SOBRE O IVA?

As scale-ups entrevistadas se mostraram bastante receptivas à ideia da adoção de um IVA no Brasil, o


que, segundo elas, geraria uma drástica redução da complexidade tributária. No entanto, demonstraram
insegurança em relação a três fatores principais:

Tempo de transição
Ainda que não haja consenso sobre o tempo de transição para contribuintes, os
empreendedores se mostraram preocupados com longos períodos de transição54. Isso
porque há urgência na implementação de um novo sistema mais simples, além da
apreensão de que ocorram nesse período alterações na lei que possam deturpá-la pela
criação de novas alíquotas, prorrogação de prazos, fixação de sobretaxas e isenções, ou, em
última instância, manutenção dos tributos anteriores ou revogação da reforma.

Aumento da complexidade no período de transição


Enquanto para algumas empresas entrevistadas parece simples adicionar um novo tributo
(IVA) aos já existentes (ISS, ICMS, PIS, Cofins e IPI) para fazer a migração, outras
relataram temer que a complexidade aumentasse demasiadamente no período de transição.

Aumento da carga tributária


O sistema atual é tão complexo, cheio de regras e exceções, que a carga das empresas
é muito variável. A definição da alíquota poderia, portanto, significar diminuição da
tributação para algumas delas, e aumento para outras.

Por exemplo, os dez anos propostos inicialmente pelo Centro de Cidadania Fiscal, instituição que lidera uma das principais propostas de reforma. Proposta de Refor-
54

ma do Modelo Brasileiro de Tributação de Bens e Serviços, 2017. Disponível em: http://ccif.com.br/apresentacoes/.

44
DESAFIOS PARA O IVA – COMÉRCIO INTERNACIONAL, ECONOMIA
DIGITAL E PEQUENOS FORNECEDORES

Um dos maiores desafios para os países que and Profit Shifting (BEPS)55 da OCDE, que lista 15
adotam o IVA é a tributação de serviços e produtos ações a serem implementadas pelos países para evitar
intangíveis vendidos por fornecedores estrangeiros. sonegação e guerra fiscal internacional.
Desde os anos 90, as autoridades tributárias têm
estudado como evitar dupla taxação ou a não Alguns países estão alterando suas legislações para esse
taxação – uma vez que se cobra o IVA no destino fim como, por exemplo, a Nova Zelândia. Em 2016, o
– decorrente da expansão do comércio entre países. país passou a tributar produtos digitais originários de
O que começou com a preocupação sobre comércio empresas offshore e consumidos por pessoas baseadas
de produtos online (e-commerce), evoluiu para no país. A chamada Netflix Tax é uma resposta a
serviços e produtos intangíveis, cada vez mais um desafio mundial da tributação de negócios de
comuns e presentes no nosso dia a dia – como base tecnológica56 . Outro problema a ser enfrentado
cloud computing, mídia online, plataformas peer- pelo país é a tributação de bens adquiridos de
to-peer, entre outros. É difícil fiscalizar o consumo pequenos vendedores (até US$ 1.000) por meio de
desses bens, especialmente quando direcionados marketplaces. A Austrália recentemente adotou uma
ao consumidor final, o que gera desvantagem nova legislação que busca resolver essa questão57.
competitiva em relação às empresas localizadas no Quanto mais simples for o registro e o pagamento do
país e que são normalmente tributadas. Para isso, tributo, mais os vendedores se sentem estimulados a
diversos estudos estão sendo realizados, assim como estarem em compliance com as regras do país.
leis e tratados internacionais, como o Base Erosion

55
Mais informações disponíveis em: http://www.oecd.org/tax/beps/.
56
Disponível em: https://www2.deloitte.com/nz/en/pages/tax-alerts/articles/gst-on-remote-services.html
57
KPMG. GST and Low Value Imported Goods – Australia, 2018

45
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

46
47
O sistema tributário brasileiro é um dos maiores
entraves ao desenvolvimento dos negócios no país.
O único ônus que um bom sistema tributário
deveria gerar para o contribuinte é o pagamento do O único ônus que um bom sistema tributário
tributo. Porém, no Brasil, a complexidade do sistema deveria gerar para o contribuinte é o
gera custos extremamente altos. Ao invés de efetuar
melhorias no sistema tributário como um todo, pagamento do tributo.
foram sendo criadas, ao longo dos anos, exceções e
regimes simplificados a fim de reduzir a complexidade
do sistema para algumas empresas. Para resolver
uma parte do problema da complexidade, foram
elaboradas muitas novas complexidades.

As scale-ups, empresas de alto crescimento


que têm papel relevante dentro do ecossistema
empreendedor, seja pela quantidade de empregos
gerados ou pelos seus altos índices de inovação,
são particularmente afetadas pela complexidade
do sistema. Isso porque encontram-se em um
momento de crescimento e transição, passando
rapidamente por transformações que demandam
ajustes nas mais diversas áreas, dentre elas, a
tributária. E sendo o sistema tão complexo, essas
transformações são acompanhadas por diversos
percalços, custos e riscos que poderiam ser
evitados caso nosso sistema fosse mais simples e
transparente.

A partir das entrevistas realizadas para este estudo,


identificamos os desafios das scale-ups segundo os
seguintes critérios:

48
Desafios por fases: as scale-ups possuem desafios
nas três fases de tributação (Constituição, Apuração/
Pagamento e Contestação), mas a maior parte dos A maior parte dos problemas está
problemas está concentrada na fase de Apuração e concentrada na fase de
Pagamento. Isso porque essas empresas já passaram
pela fase de criação e validação do seu modelo de Apuração e Pagamento
negócios (ligado à fase de Constituição), e estão
ganhando escala para se tornarem grandes empresas
e, portanto, para se tornarem mais estruturadas para
lidar com os desafios de Apuração e Pagamento, e
mais estratégicas quanto às respostas à fiscalização
e uso de mecanismos judiciais e administrativos de
defesa (ligados à fase de Contestação).

Varejo Desafios por setor: as empresas são afetadas de


ICMS, regime formas distintas a depender do setor de atuação, sendo
de ST e grande o setor de varejo um dos mais impactados. As razões
quantidade de são diversas: sonegação pelas empresas concorrentes
transações (menores e com graus de informalidade), inclusão no
regime de substituição tributária, complexidade do
ICMS e grande quantidade de transações típicas desse
tipo de negócio. O setor da indústria também é muito
afetado pela complexidade, especialmente em razão do
ICMS e do regime de substituição tributária. Por fim,
os serviços são menos afetados pela complexidade em
Indústria comparação com os demais, porém sofrem muito para
ICMS e ST se enquadrarem em regras tributárias, especialmente
as empresas de tecnologia, e possuem alta restrição à
tomada de crédito.

Serviços
enquadramento

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Desafios de planejamento tributário: as scale-ups
AS SCALE-UPS, NA MAIOR PARTE fazem o planejamento considerado mais “simples” –
DOS CASOS, OPTAM POR SE ou seja, de definição apenas do regime tributário, e
ENQUADRAR NO REGIME DO na maior parte dos casos optam por se enquadrar no
regime do Lucro Real. Isso porque uma característica

LUCRO REAL comum do alto crescimento é o recebimento de


investimentos externos e a limitação do lucro em
razão do seu reinvestimento na expansão do negócio.
Conforme a scale-up cresce, aproxima-se dos
elementos de planejamento tributário das grandes
empresas, mais complexos. Quanto maiores, mais
essas empresas analisam fatores como benefícios
fiscais, alocação geográfica e produtiva do negócio, e
judicialização de demandas.

Desafios por porte: na medida em que a Aqueles que se encontram no meio do


empresa cresce, precisa adaptar a sua estrutura
tributária. Enquanto as pequenas possuem regimes caminho, especificamente as scale-ups,
simplificados, com redução de carga e simplificação passam por um doloroso processo de
de processos, as grandes já conseguiram se estruturar adaptação e maturação, buscando cada vez
em termos de time, consultorias e sistemas, e formular
planejamentos mais complexos, permitindo que mais se aproximar da eficiência e estrutura de
lidem melhor com a complexidade. Aqueles que se uma grande empresa.
encontram no meio do caminho, especificamente
as scale-ups, passam por um doloroso processo de
adaptação e maturação, buscando cada vez mais se
aproximar da eficiência e estrutura de uma grande
empresa. Algumas não conseguem se adaptar a essa
transição, outras buscam se adaptar artificialmente
às regras, permanecendo sob regimes simplificados.
Perdem as empresas que não possuem os meios
para se beneficiar das imperfeições do sistema.

50
A adoção de um IMPOSTO SOBRE VALOR AGREGADO (IVA)
parece ser a solução mais recomendável para o nosso sistema

Frente a tantos desafios gerados em razão da mais complexo e irá arcar com consequências
complexidade do sistema, a solução é reformulá-lo de positivas e negativas decorrentes dessa escolha. Será
forma a tornar as regras mais simples e transparentes. interessante acompanhar a evolução desse sistema no
A adoção de um Imposto sobre Valor Agregado país, inclusive na sua posição no Doing Business. O
(IVA) parece ser a solução mais recomendável para Chile, por sua vez, é um país que possui o IVA há
o nosso sistema. Ele é um tributo que incide sobre muitos anos e o sistema parece funcionar muito bem,
a base consumo e é adotado em mais de 165 países. apesar da ampla lista de exceções. Independentemente
Sua estrutura varia a depender do país, sendo a Nova do caminho tomado pelo sistema brasileiro, que
Zelândia o país que possui sua forma mais “pura” dependerá da articulação com estados, municípios e
e, portanto, mais simples. A escolha da forma que empresas, é essencial que busquemos o máximo de
irá tomar o tributo é complexa e passa por diversos simplificação que possamos atingir. É importante
fatores, como o sistema anterior vigente, situação também que sejam adotadas as melhores práticas
fiscal do país, efeitos sobre preços, dentre diversos internacionais a respeito da tributação dos bens
outros. A Índia, por exemplo, optou por um sistema intangíveis e de pequenos comerciantes.

Além da adoção de um IVA, outras medidas mais de empresas e pessoas. Nesse ponto, as scale-ups
pontuais podem ser adotadas para a redução da se preocupam com o tempo de transição do IVA, o
complexidade, como a consolidação da legislação, de aumento de complexidade nesse período e o aumento
forma a revogar expressamente normas contraditórias e da carga tributária. Esses pontos devem ser levados
facilitar o entendimento das regras vigentes, a revogação em consideração pelos formuladores e tomadores de
e/ou consolidação de obrigações acessórias e a revisão decisão envolvidos na reforma, assim como outros
das políticas de concessão de benefícios e isenções pontos trazidos pelas outras empresas atuantes no país.
fiscais, com avaliação periódica e sistemática de todos os
programas. Essas são todas medidas bastante pontuais
que, caso adotado um IVA, seriam dispensáveis, uma
(...) é essencial que a visão da reforma
vez que todo o sistema seria reformulado olhando para englobe as realidades distintas das empresas
esses pontos e tantos outros. brasileiras, para que todas possam se
beneficiar do novo sistema tributário, gerando
Por fim, é essencial que a visão da reforma englobe as
realidades distintas das empresas brasileiras, para que impacto positivo para todo o ambiente de
todas possam se beneficiar do novo sistema tributário, negócios – e não apenas para um grupo
gerando impacto positivo para todo o ambiente de específico de empresas e pessoas.
negócios – e não apenas para um grupo específico

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SOBRE A ENDEAVOR

Organização global sem fins lucrativos com a missão de multiplicar o poder de transformação dos
empreendedores. No Brasil desde 2000, promove um ambiente de negócios que estimule o crescimento
e o impacto dos empreendedores à frente das Scale-ups, empresas de alto crescimento com modelo
escalável e inovador.

Nesses quase 20 anos de trabalho, já ajudou a gerar mais de R$ 4,5 bilhões em receitas anualmente e mais
de 45.000 empregos diretos através do apoio a empreendedores; além de acelerar mais de 600 scale-ups
(negócios que apresentam alto crescimento e modelo de negócios escalável) com programas de aceleração.

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