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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

IBL
Nº 70081352551 (Nº CNJ: 0107164-53.2019.8.21.7000)
2019/CRIME

APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
MAJORADA, EM RAZÃO DE OFÍCIO, EMPREGO
OU PROFISSÃO.
PROVA. CONDENAÇÃO MANTIDA.
A materialidade e a autoria restaram suficientemente
demonstradas pela prova produzida nos autos. Embora o réu
tenha assegurado que reteve o crédito a que a vítima tinha
direito, como forma de pagamento da verba honorária a ele
devida, sua versão ficou isolada e carente de
verossimilhança, evidenciando-se que ele, na posição de
advogado, apropriou-se de dinheiro que deveria ser
repassado a seu cliente.
PENA. DOSIMETRIA. MANUTENÇÃO DA
PRIVATIVA DE LIBERDADE E REDUÇÃO DO
NÚMERO DE DIAS-MULTA, CONSIDERANDO A
ANÁLISE DA PENA BASE.
APELO DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO.

APELAÇÃO CRIME OITAVA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70081352551 (Nº CNJ: 0107164- COMARCA DE SANTO ÂNGELO


53.2019.8.21.7000)

VINICIUS TABORDA GRZECHOTA APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara Criminal do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao apelo da defesa,
para reduzir a pena de multa para 10 (dez) dias-multa, mantidas as demais cominações
sentenciais.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores
DES.ª NAELE OCHOA PIAZZETA (PRESIDENTE) E DES. DÁLVIO LEITE DIAS
TEIXEIRA.

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Porto Alegre, 29 de julho de 2020.

DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS,


Relatora.

RELATÓRIO

DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS (RELATORA)


Inicialmente, adoto o relatório da sentença (fls. 338/339):

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL, por seu agente titular nesta Comarca,
embasado no incluso Inquérito Policial, oriundo da
Delegacia de Polícia local, ofereceu DENÚNCIA em
desfavor de VINÍCIUS TABORDA GRZECHOTA,
brasileiro, advogado, nascido em 04.09.1970, natural de
Santo Ângelo, RS, RG nº 3013951995, inscrito na OAB/RS
nº 46.1899, filho de Luiz Grzechota e de Leida Taborda
Grzechota, residente na Rua Marechal Floriano Peixoto, nº
3895, Bairro Centro Norte, em Santo Ângelo, RS, dando-o
como incurso nas sanções do artigo 168, §1º, inciso III, do
Código Penal.
Isso porque, consoante a peça incoativa:
“No dia 1º de dezembro de 2011, durante o
horário de expediente bancário, em horário
incerto, nas dependências da Agência do
Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(BANRISUL), na Avenida Brasil, nº 1013,
Bairro Centro, Santo Ângelo/RS, o
denunciado VINÍCIUS TABORDA
GRZECHOTA apropriou-se da quantia de
R$ 17.337,31 (dezessete mil e trezentos e
trinta e sete reais e trinta e um centavos), de
propriedade da vítima LUIZ FERNANDO
SILVA VIECILI, de que tinha a posse por
intermédio de Alvará de Autorização
Judicial nº 8301/1394-2011, expedido nos
autos do Processo Cível nº
029/1.10.0010787-9, que tramitou perante a
3ª Vara Cível da Comarca de Santo Ângelo,
em razão de sua profissão de advogado,

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consoante cópia do alvará da fl. 21, do feito


policial.
“Na oportunidade, o denunciado, de posse
do Alvará de Autorização Judicial nº
8301/1394-2011, dirigiu-se até o
estabelecimento bancário e recebeu, em
nome da vítima, o valor acima referido. Ato
contínuo deixou de repassar a mencionada
quantia à vítima, apoderando-se de todo o
numerário.
“O denunciado recebeu o dinheiro em
razão de sua profissão como advogado, em
que foi contratado pela vítima para lhe
representar em Ação de Execução Fiscal
movida pelo Município de Santo Ângelo,
nos autos do Processo nº 029/1.10.0010787-
9.”

Recebeu-se a denúncia em 09 de março de 2015 (fl. 239).


Citado (fl. 246v), o acusado apresentou resposta à acusação
(fl. 250).
No decorrer da instrução foi ouvida a vítima e, ao final,
restou o réu interrogado (mídia da fl. 289).
Atualizaram-se os antecedentes criminais do acusado às fls.
290/297.
A instrução processual foi reaberta, a pedido do Ministério
Público, com a finalidade de requisitar informações ao
BANRISUL, que foram devidamente prestas e as partes
regularmente intimadas de todos os atos, não havendo
insurgências. Assim, foi declarada encerrada a instrução
(fls. 298/305).
Memoriais pelo Ministério Público, em que pleiteou a
condenação do acusado nos moldes da exordial penal (fls.
306/308).
A defesa técnica, ao seu turno, postulou a absolvição, forte
no artigo 386, incisos V e VII, do Código de Processo
Penal. Em caso de condenação, requereu a fixação da pena
no mínimo legal.
Autos conclusos.

Sobreveio a sentença, fls. 338/342v, publicada em 06/11/2018 (fl.345), que


julgou procedente a denúncia e condenou VINICIUS TABORDA GRZECHOTA às penas
de 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial aberto, e
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de 30 (trinta) dias-multa, no valor unitário mínimo legal, porque incurso nas sanções do
art. 168, §1º, III, do CP. Preenchidos os requisitos, a decisão substituiu a pena privativa de
liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes na prestação pecuniária no valor de 05
(cinco) salários mínimos, para entidade a ser designada oportunamente, e na multa no valor
de 01 (um) salário mínimo, para entidade cadastrada no juízo da VEC. Além disso, o réu foi
condenado ao pagamento das custas processuais, sendo a ele concedido o direito de apelar
em liberdade.

A dosimetria da pena deu-se da seguinte forma:


O réu agiu de forma deliberada. É imputável e culpável.
Estava consciente da ilicitude da sua conduta e era possível
comportar-se de modo diverso. Não registra antecedentes
criminais negativos. Conduta social e personalidade sem
particularidades. Os motivos são os normais à espécie do
delito. As consequências para a vítima limitaram-se ao
campo econômico. Não houve colaboração da vítima no
deflagrar delitivo do agente. Demais circunstâncias passam
a ser, subsequencialmente, cotejadas.
Para a reprovação e prevenção do crime, ponderadas as
operacionais do artigo 59 do Código Penal, fixo a pena-
base no mínimo legal, isto é, em 01 (um) ano de reclusão, a
qual vai tornada provisória na ausência de circunstâncias
legais (agravantes e/ou atenuantes).
Referida pena, ante o aumento de pena prevista no §1º, inc.
III, do mesmo artigo de lei, vai majorada em 1/3 (um terço),
ficando, assim, definitivamente fixada em 01 (um) ano e 04
(quatro) meses de reclusão.

Intimado o réu pessoalmente da sentença (fl. 355), manifestou desejo em


apelar.

A defesa apelou (fl. 363), acostando razões nas fls. 375/383, nas quais
postulou a absolvição, por insuficiência de provas ou por atipicidade da conduta, e,
subsidiariamente, a redução da pena substitutiva de prestação pecuniária. Prequestionou, por
fim, a matéria ventilada.

Com as contrarrazões recursais (fls. 384/386v), pelo desprovimento do


apelo, vieram os autos.

Nesta Corte, o ilustre Procurador de Justiça, Dr. Luiz Henrique Barbosa


Lima Faria Corrêa, opinou pelo desprovimento do apelo defensivo (fls. 401/404).
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Esta 8ª Câmara Criminal adotou o procedimento informatizado utilizado


pelo TJRS, atendido o disposto no art. 609 do Código de Processo Penal, bem como o art.
207, II, do RITJERGS.

É o relatório.

VOTOS

DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS (RELATORA)


Trata-se de recurso de apelação interposto por VINICIUS TABORDA
GRZECHOTA, em que postula a absolvição, por insuficiência de provas ou por atipicidade
da conduta, e, subsidiariamente, a redução da prestação pecuniária. Prequestiona, por fim, a
matéria.
De início, o pleito absolutório deve ser rechaçado, pois os elementos
reunidos no feito revelam que o acusado se apropriou do dinheiro da vítima, em razão de seu
ofício, já que era o seu advogado constituído.

E se verifica que tanto a MATERIALIDADE do delito como sua


AUTORIA são assentes, merecendo reprodução, como fundamento, a sentença da lavra do
ilustre Juiz de Direito, Dr. Márcio Roberto Müller, por conter o equacionamento da matéria,
com a fundamentação precisa advinda da análise dos fatos ocorridos e os testemunhos
relevantes ao desiderato da questão, evitando desnecessária tautologia (fls. 339/341v):
A materialidade do delito vem demonstrada pelo registro de
ocorrência das fls. 07/08, na cópia do alvará judicial (fl.
09), pelo contrato particular de prestação de serviços (fl.
18), escrituras de cessão de diretos de crédito e ação das
fls. 19/20, pela representação perante a OAB (fls. 13/20),
pelo ofício do Banco Banrisul (fls. 24/25), nas cópias do
processo cível onde se deu a apropriação (fls. 29/136),
cópias do processo nº 029/1.14.0003425-9 onde o requerido
foi condenado a prestar contas à vítima (fls. 160/237), com
reforço na prova oral granjeada ao feito.
A autoria, por sua vez, é certa na pessoa do réu.
O acusado VINÍCIUS TABORDA GRZECHOTA, em juízo
(CD da fl. 289), referiu que o Código Civil permite a
retenção de valores para pagamento de honorários, pois os
usa para sobrevivência. Afirmou que não recebeu valores
acerca do trabalho desenvolvido na Execução Fiscal, a qual
teve sentença favorável e usou a prerrogativa de retenção

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de valores para pagamento dos honorários. Afirmou que foi


desenvolvido outro trabalho para o mesmo cliente, onde ele
teve um ganho patrimonial de 50%, onde gerou créditos
para que ele pudesse fazer frente a essa dívida. Relatou que
do valor sacado foi prestado conta para a vítima dentro do
que a tabela permite, tendo, inclusive, pago valores do seu
próprio bolso para a Prefeitura, bem como custas e
algumas fotocópias, tais custos nunca foram reembolsados
pela vítima. Mencionou acerca da ação judicial que a
vítima ajuizou contra sua pessoa, bem como acerca da
demanda ajuizada por ele contra a vítima. Aduziu que a
vítima é quem lhe deve valores em razão de sua atuação em
outras demandas. Discorreu que foram acertados
honorários em 20% acerca do ganho patrimonial. Afirmou,
ainda, sacou o alvará em razão dos poderes que LUIZ
FERNANDO lhe conferiu, sendo que, de tais valores, pagou
dívidas do ofendido, bem como reteve o restante como
pagamento pelo trabalho desenvolvido. Asseverou que
prestou contas para o ofendido acerca da destinação de
todos os valores. E, por fim, prestou serviços de consultoria
em relação a outras questões.
A prova carreada, contudo, possui contornos de
apropriação dos valores, tal como mencionado na exordial.
A vítima LUIZ FERNANDO SILVA VIECILI, em juízo (CD
da fl. 289), referiu que constituiu o acusado para atuar em
causa perante a Prefeitura, sendo que, no decorrer do
processo, foram bloqueados valores que possuía em
poupança, em torno de R$ 17.000,00 (dezessete mil reais).
Mencionou que esse valor foi liberado e o denunciado, de
posse da procuração outorgada, levantou esse valor, via
alvará, e não lhe repassou. Discorreu que já havia efetuado
o pagamento de honorários para o procurador, em torno de
R$ 2.000,00 (dois mil reais), além de ter adquirido alguns
títulos (precatórios) do denunciado, não recordando
exatamente os valores, no entanto, estava tudo devidamente
quitado. Relatou que tentou cobrar os valores
extrajudicialmente e, como não conseguiu, o destituiu e
nomeou outro advogado, inclusive para fazer a cobrança
dos valores. Aduziu que ainda não recebeu os valores
levantados pelo acusado via alvará. Recebeu os valore
relativos aos precatórios adquiridos do réu. Adimpliu com
os honorários de sucumbência no valor de R$ 600,00
(seiscentos reais) relativamente a ação de cobrança.
Afirmou que tem conhecimento que foi feito, pelo
denunciado, um acordo em seu nome (vítima), bem como
efetuado pagamento de uma parcela de pequeno valor,

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sendo que não efetuou ressarcimento acerca dos valores


pagos na Prefeitura.
Ao que se infere, pois, do depoimento vitimário, em cotejo
com o restante do caderno probatório, não resta dúvida
quanto a apropriação de valores oriundos de alvará judicial
sacado pelo acusado, enquanto advogado contratado pela
vítima.
O acusado, advogado, patrocinando os interesses do
ofendido em juízo, levantou R$ 17.337,31, correspondente
ao alvará judicial autorizado no processo n.º
029/1.10.0010787-9 (fl. 107), deixando de repassar a
importância. Tal circunstância restou confirmada pelo
denunciado em seu interrogatório, que alegou ter apenas
retido o valor em razão de não ter recebido os honorários
contratados por parte de seu cliente.
Conforme verifica-se do processo nº 029/1.10.0010787-9, o
Sr. LUIZ FERNANDO DA SILVA VIECILI figurava como
executado, sendo o Município de Santo Ângelo exequente.
Foram bloqueados valores, via Bacenjud, do Sr. LUIZ
FERNANDO (fls. 86/87). O réu, na qualidade de advogado
da vítima, apresentou arguição de impenhorabilidade,
devidamente instruída com documento, ao argumento de
que os referidos valores são impenhoráveis, uma vez que
estavam depositados em caderneta de poupança (fls. 90/94).
O exequente, devidamente intimado, concordou com a
impenhorabilidade da verba bloqueada e, requereu, em
substituição, a penhora de imóvel (fls. 96/105). O
Magistrado, então, determinou a expedição de alvará para
levantamento dos valores, em razão da concordância com a
impenhorabilidade dos valores (fl. 106). O alvará foi
devidamente expedido, tendo o réu recebido a referida
autorização para levantamento de valores (fls. 107 e 107v)
e efetivamente sacado os valores correspondentes.
Não há como acatar a tese defensiva de retenção de valores
para pagamento de honorários, pois tais valores são
absolutamente impenhoráveis, conforme o próprio réu
defendeu no processo nº 029/1.10.0010787-9.
Os honorários advocatícios, mesmo sendo considerados
verba alimentar, não se enquadram no termo “prestação
alimentícia”, previsto como exceção à impenhorabilidade
no art. 833, §2º, do CPC/15. A referida exceção à
impenhorabilidade de valores depositados em conta
poupança sequer era prevista no CPC de 1973, vigente à
época do fato.

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Não há maiores digressões para se fazer acerca do presente


caso, uma vez que cristalina a apropriação de valores na
forma denuncia.
Dessa forma, devidamente demonstrado o dolo na conduta
do denunciado.
No entanto, com a finalidade de evitar futura alegação de
nulidade, passa-se a análise das demais teses defensivas,
que, da mesma forma, não procedem, conforme a seguir
demonstrado.
Existe apenas um contrato de honorários juntado nos autos,
embora reproduzido várias vezes, todos correspondem ao
documento da fl. 18. No referido contrato de honorários, foi
entabulado pelas partes, o valor de R$ 12.000,00 (doze mil
reais) como sendo devido pela vítima. No referido
documento há menção acerca de ação contra o Município
de Santo Ângelo, bem como acerca do valor de honorários
referente a precatórios.
Seguindo esse raciocínio, na fictícia possibilidade de se
ignorar todo o conjunto probatório dos presentes autos,
assim como a impenhorabilidade dos valores sacados pelo
acusado e se considerar inteiramente devido o valor de R$
12.000,00 pela vítima ao acusado. Ainda assim, nessa irreal
possibilidade, estaria configurado o crime, pois haveria
valores remanescente do alvará que o réu deveria ter
repassado à vítima.
Em relação a alegação de que foram prestados outros
serviços à vítima que não estariam englobados pelo
contrato de honorários juntado aos autos, tais fatos
restaram isolados, pois cabia ao próprio réu a produção da
prova, nos termos do art. 156 do CPP, ônus do qual não se
desincumbiu, ficando clara a intenção de eximir-se pelos
fatos praticados.
É cediço que eventual cobrança de honorários deveria advir
de meio processual idôneo, e não de conduta arbitrária do
profissional.
No que toca à tipicidade da conduta, o dolo específico do
tipo descrito no artigo 168 do Código Penal é depreendido
com clareza do fato de o acusado, na condição de advogado
do lesado, ter se apoderado de quantia em dinheiro,
levantada por meio de alvará judicial. Na hipótese dos
autos, a apropriação indébita foi perpetrada por meio da
retenção de valor pertencente à vítima; e o dolo específico,
qual seja, a intenção de apoderar-se da quantia, se
depreende do transcurso de tempo entre o recebimento dos
valores (01/12/2011), sem qualquer pagamento ao seu
cliente, beneficiário da quantia recebida.
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Nesse sentido, importante referir que, da análise dos


documentos juntados nos autos, em nenhum momento o
acusado procurou a vítima para efetuar o pagamento do
valor levantado.
O que se observa é que a vítima realizou tentativas,
inclusive judiciais, de receber os valores que lhe cabem,
sem sucesso.
De mais a mais, menciona-se também, que o próprio
acusado, na tentativa de fazer parecer lícita a apropriação
dos valores ora denunciados, prestou contas nos autos do
processo nº 029/1.10.0010787-9, ocasião em que
apresentou recibo de pagamento de honorários no valor de
R$ 13.845,71 (produzido unilateralmente por ele),
descontou R$ 869,14 a título de pagamento de débitos com
a prefeitura, bem como deduziu o valor de R$ 157,55 a
título de custas judicias, tendo afirmado que caberia o valor
de R$ 2.121,04 à vítima, sem apresentar o respectivo
depósito do valor, ou, recibo firmado por LUIZ
FERNANDO (fls. 114/119).
Nesse contexto, é certo que a prova dos autos, ao contrário
do que sustentou a defesa, é suficiente para embasar um
decreto condenatório.
Saliento que a circunstância de aumento descrita no artigo
168, §1º, inciso III, do Código Penal, restou bem
configurada, considerando o nexo de causalidade evidente
entre o recebimento do dinheiro e a profissão do réu. Não
fosse este ser advogado constituído do lesado e se não
existisse nos autos do processo instrumento de mandato por
ele firmado, nunca teria a agente logrado levantar a
quantia depositada judicialmente.
Diante do acima explanado, estando devidamente
demonstradas a materialidade e a autoria, e não havendo
causas excludentes da tipicidade, ilicitude ou culpabilidade,
a condenação, pelo delito de apropriação indébita
majorada, é medida que se impõe.

Com efeito, inequívoca a autoria do delito, por parte de VINICIUS


TABORDA GRZECHOTA, assim como que foi efetuado, em razão do seu ofício, tendo em
vista que se apropriou de valores pertencentes a Luiz Fernando Silva Viecili, enquanto
atuava como seu advogado.
Resumidamente, a defesa assegura que o acusado reteve os valores que a ele
eram devidos, em razão de outros trabalhos, entretanto, não veio qualquer comprovação a

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este respeito. Também não há nos autos qualquer recibo discriminando os créditos do réu
frente ao montante autorizado para saque no alvará da fl. 05.
Diante da inércia da defesa, a conclusão inevitável é no sentido de que ao
lesado foi autorizado o saque de pouco mais de R$ 17.000,00 (dezessete mil reais), retidos
em feito executório, já que, por consistirem em valores de poupança, seriam impenhoráveis.
Contudo, após serem sacados, mediante alvará, ao invés de retornar à poupança da vítima, o
valor ficou integralmente sob a gerência do seu advogado, aqui réu.

Há digressões de parte do réu no sentido de ter repassado ao seu cliente,


alguma quantia, mas sem qualquer comprovante. A vítima, assim, ficou desprovida dos
valores da poupança, indevidamente penhorados, o que se somou à própria dívida da
execução, que originou aquela penhora.

Aliás, a versão de Luiz Fernando coincide com a documentação lançada aos


autos. VINICIUS obteve R$ 17.337,31 (dezessete mil trezentos e trinta e sete reais e trinta e
um centavos), correspondente ao alvará judicial autorizado no processo n.º
029/1.10.0010787-9 (fl. 107), e não repassou tal soma, o que foi, inclusive, confirmado pelo
próprio réu, em seu interrogatório, quando alegou ter retido o dinheiro, diante da ausência de
pagamento de seus honorários. Ocorre que, como já bem constou na sentença retro, os
honorários advocatícios não podem ser considerados “prestação alimentícia”, mesmo sendo
verba alimentar, além disso, VINICIUS apresentou recibo de pagamento de honorários,
produzido por ele mesmo, no valor de R$ 13.845,71 (treze mil oitocentos e quarenta e cinco
reais e setenta e um centavos), descontou R$ 869,14 (oitocentos e sessenta e nove reais e
quatorze centavos), a título de pagamento de débitos com a prefeitura, deduziu o valor de R$
157,55 (cento e cinquenta e sete reais e cinquenta e cinco centavos), por custas judicias, e
afirmou que o valor a ser entregue à vítima seria de R$ 2.121,04 (dois mil cento e vinte e um
reais e quatro centavos), para o qual, porém, não apresentou recibo (fls. 114/119).

Importante reforçar que, em casos como o presente, às declarações da


vítima, se dotadas de coerência e de higidez quanto ao convencimento, é atribuído grande
valor probante.
Nesta linha, a jurisprudência desta Corte, que colaciono, a título
exemplificativo:

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APELAÇÃO CRIME. FURTO SIMPLES. 1. ÉDITO


CONDENATÓRIO. MANUTENÇÃO. Materialidade e
autoria suficientemente demonstradas pela prova
produzida. Hipótese em que réu acompanhou a vítima até
um rio para banharem-se, e, em um momento de descuido,
subtraiu o aparelho celular deixado pelo lesado nas
margens. Dias após, a vítima reconheceu o aparelho celular
na posse do increpado, o qual afirmou ter adquirido o
objeto de um terceiro. Relevância da palavra da vítima em
delitos desta natureza, ainda mais quando, sem qualquer
motivo para falsa acusação, de maneira firme e coerente,
descreveu os acontecimentos e o efetivo envolvimento do
réu na atividade criminosa. Relato do miliciano que
recebeu o chamado do lesado e compareceu até o local,
constatando que a "res" encontrava-se na posse do agente.
Tese exculpatória não comprovada "quantum satis". Prova
segura à condenação. Sentença mantida. 2. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. (…). 3.
MULTA. ISENÇÃO DE PAGAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. (…) 4. CUSTAS PROCESSUAIS.
SUSPENSÃO. (…). APELO PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NA PARTE EM QUE CONHECIDO,
IMPROVIDO. (Apelação Crime Nº 70052152733, Oitava
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Fabianne Breton Baisch, Julgado em 19/12/2012)

APELAÇÃO CRIME. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. 1.


AUTORIA. Palavra da vítima, nenhum motivo existindo
nos autos para querer incriminar injustamente o réu,
somada aos demais elementos dos autos, constitui prova
segura o suficiente para condenação. 2.
RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. Para o reconhecimento da irrelevância
social da conduta não se pode levar em conta somente o
efetivo prejuízo sofrido pela vítima, mas sim o conjunto de
circunstâncias que cercam o fato e as relativas à pessoa do
agente. 3. PRIVILEGIADORA. Valor do bem subtraído
inferior a um salário mínimo vigente à época do fato, não
possuindo o réu qualquer condenação criminal, torna
possível o reconhecimento da privilegiadora. RECURSO
PROVIDO. (Apelação Crime Nº 70050667757, Oitava
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Danúbio Edon Franco, Julgado em 31/10/2012)

Destarte, inexistem dúvidas de que o réu, em razão de seu ofício, apropriou-


se do dinheiro da vítima, impondo-se a manutenção da sentença, pois se configurou o delito
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previsto no art. 168, §1º, III, do CP, impondo-se a condenação de VINICIUS TABORDA
GRZECHOTA, nos moldes lançados na origem.

Passo, então, a analisar o APENAMENTO.


À vista da sentença atacada, na primeira fase, verifica-se que esta fixou a
pena base em 01 (um) ano de reclusão, mínimo legal, patamar em que se tornou provisória,
porque ausentes agravantes e/ou atenuantes.

Na terceira fase, presente a majorante de o agente ter recebido os valores em


razão de seu ofício, a pena foi recrudescida em 1/3, perfazendo-se definitiva em 01 (um) ano
e 04 (quatro) meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial aberto, de acordo com o
comando sentencial.

A pena de multa, fixada em 30 (trinta) dias-multa, na origem, deve ser aqui


reduzida, tendo em vista a análise das vetoriais do art. 59 do CP, para o mínimo legal de 10
(dez) dias-multa, mantido o valor unitário mínimo legal.
A pena privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos:
prestação pecuniária, no valor de 05 (cinco) salários mínimos, e multa, no valor de 01 (um)
salário mínimo, diante do fato de o réu evidentemente possuir plena capacidade de arcar com
tais valores, sendo advogado e possuir defesa constituída.
De se mencionar que a multa deve ser fixada em dias-multa, de dez a
trezentos e sessenta, no valor, cada um, de 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente ao
tempo do fato, até cinco vezes esse salário, com a devida correção monetária, conforme
art.49 do CPP. Como nada postularam as partes, relativamente ao valor de um salário
mínimo estabelecido na sentença, fixação que, tecnicamente, não estaria correta, mantenho
este quantum, pois está dentro dos limites determinados pelo mencionado artigo.
Finalmente, entendo prequestionada a matéria, pela defesa, ressalvando,
contudo, mesmo diante de prequestionamento de dispositivos legais para o fim da
interposição dos recursos especial e/ou extraordinário, que o julgador não se vê na
contingência de enfrentar todas as teses e dispositivos de lei invocados pelas partes. É
suficiente que exponha de forma clara e precisa os motivos de sua convicção e os
dispositivos que embasam a decisão.

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EM FACE DO EXPOSTO, voto no sentido de dar parcial provimento ao


apelo da defesa, para reduzir a pena de multa para 10 (dez) dias-multa, mantidas as demais
cominações sentenciais.

I/ET

DES. DÁLVIO LEITE DIAS TEIXEIRA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).
DES.ª NAELE OCHOA PIAZZETA (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES.ª NAELE OCHOA PIAZZETA - Presidente - Apelação Crime nº 70081352551,


Comarca de Santo Ângelo: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO
DEFENSIVO, PARA REDUZIR A PENA DE MULTA PARA 10 (DEZ) DIAS-MULTA,
MANTIDAS AS DEMAIS COMINAÇÕES SENTENCIAIS. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: MARCIO ROBERTO MüLLER

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