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Consensio Eorroniat, Bertha K. Becker Candido Mendes Cristovam Buarque Ignacy Sacks Jurandir Freire Costa Ladislau Dowbor Pierre Salama Leva tamnéve Monografia ao alcance de todos ‘Dats Bastos, Mariana Souza ‘Solange Narcimento Marcel Bursziyn José Augusto Drummond Elimar Pinheiro do Nascimento COMO ESCREVER (E PUBLICAR) UM TRABALHO CIENTIFICO Dicas para pesquisadores € jovens cientistas Garamond © Copyyright 2010, dos autores Direitos cedidos para esta ediglo & Editora Garamond Leda. Ectmal editora@garamond.com.br Revisio (Carmem Caceiacarro Capa e Iustragées Joie Sinchee Ecitoragao Eletronica ‘Luiz Oliveira CIP-Brasil- Catalogagio na fonte do Sindicato Nacional dos Editores de Livros sn tho cenieo / Masel Busty, Jos Pineiro do Neucimento.- Rio de Jenne COD: sR 066 ‘COU: 608.1 ible. por 361008 SumArio Introduséo..... 1. A revista cientifica e 0 artigo cientifico Dez passos para fazer florescer uma “cultura da publicagio” (ou breve introdugio A neurose do “publish or perish”) As revistas cientficas e suas escolhas.. Caracteristicas basicas dos artigos cientificos. 31 2s pata escrever artigos cientificos. Como lidar com os pateceres... Outros tipos de publicasio cientifica 2. Roteiro para escrever uma resenha critica 3. Teses, dissertagées, monografias e projetos Dez dicas para planejar e escrever uma tese, dlissertagéo ou monografa Sobre o projeto de pesquisa 4. Dicas diversas Sobte 0 uso de figuras, tabelas e quadros. Preparando-se para a redagi Redigindo os resultados da pesqui “AGRADECIMENTO Sobre 0 uso de amostr A escolha das fontes de informagoes, O uso de ferramentas na pesquisa Sobre a rest ; Sobre autorizaiies especiis de pesquisa ‘Aos nossos alunos do mestiado do dou- Sobre notas de rodapé, torado do Centro de Desenvolvimento Sobre os bases de texto Reeeearey cro) ae airerndaee| Sobre a temporalidade Braslia, que nos esimularam a esrever Wiles o eileen este livro, Agradecemos especialmente 2 Maria Beatriz Maury, que reviu com olhos Sobre 0 abstract, a ra de lince a diltima versio dos originais. A 5. Vicios de expressio © de escrita responsabilidade pelas falhas é, no entan- 6. Falhas a serem evitadas to, toda nossa. Apéndice 1 Estrutura IMRAD ou IMRAC.. soe 105 eee 107 Aptndice 3 Pleonasmos a evit seve 109 Sobre os autores, v1 Intropucio Qual a nossa motivasao para cscrever ¢ publicar este livro? Partimos do pressuposto de que o meio de comunicagio por exceléncia do campo cient{- fico ¢ académico ¢ 0 texto escrito, Boas aulas séo muito importantes para a cransmissio do conheci- mento, Intervengées orais oportunas e fundamen- tadas enriquecem cursos, workshops, teinamentos, defesas de teses, congtessos e reuniées, No entan- to, pensamos que na vida cientifica ¢ académica, otalidade rima com perecibilidade. So os escritos que podem aspirar a algum grau de durabilidade ou, mais ambiciosamente, permanéncia e impacto, dependendo do seu embasamento (teérico, meto- dolégico, empirico) e da sua qualidade textual. Daf vem a nossa preocupago com a qualidade da escri- ta cientifica, Tendo em vista essa motivacio, 0 nosso obje- tivo neste livro é reunir informagGes ¢ recomenda- es que auxiliem na produgio de alguns tipos de textos cientéficos. Nao hé a pretensio de se compor um manual de redago completo, muito menos um livro de metodologia cientifica. O foco esté na qua- lidade e no rigor da escrita como requisito pata a sua Publicado ¢ ampla circulagio, 9 tempo dedicado & escrita em artigos, livros, capitu- los de livros, ensaios, resenhas, monografas, teses, dissertagSes, papers apresentados em congressos ¢ eventos, resumos, fichamentos, roteiros de aulas ¢ de exposigbes orais, trabalhos de fim de di avaliagbes diversas, projetos ¢ relarétios de pesqui- sa, notas de campo, textos para obras de referéncia (verbetes de enciclopédias, de diciondtios etc.) tex- tos de opinio, notas de aula, apostilas, pareceres, avaliagdes, materiais didéticos diversos ¢ assim por diante. O crescimento acelerado dos programas de pés- greduacao no Brasil, desde os anos 1970, gerou um. Notivel crescimenite da producio cientifica brasilei- participagio do Brasil no volume global de publica- es cientificas ainda é pequena comparativamente 40 mimero de habitantes, Porém esse indicador vem methorando bastante: atualmente quase 2% da pto- dugao cientifica mundiel sio de autoria de brasilei- 10s, bem acima dos menos de 0,5% de 25 anos atrés. Isto se deve a varios fatores: + 0 mencionado crescimento da pés-graduagao no Pais (em clezembro de 2009, existiam 2.867 pro- gramas de mestrado e doutorado credenciados, cor respondendo a 4.298 cursos’); 1 Cfatnp comtadowek. capes gow ‘o-pengrrande enacts, cide Pj ctclca sserete + 0 crescimento do mimero de mestres ¢ douto- res formados (a cifra, em 2009, é de cerca de 30 mil aestres€ 10 mil doutoresdiplomados pot ano); + o crescimento do ntimero de.cientistas em ati- vyidade no Pafs (atestado pela cifia de mais de um milhdo'de pesquisadores com cufriculos inseridos na Plataforma Lattes, do CNPq, em 2009); * a crescente cobrangi por produ tifica nas carrcitas docentes e de pes ternamente quanto internamente as i ensino ¢ pesquisas a formagio de redes de pesquisa, que unem instituigdes brasileiras entre sie a grupos internacio- tradigio em publicagbes. ais com mai Considerando a base de dados reunida pelo Ins- titute for fic Information (ISD, dos EUA, ‘que monicora as mais relevantes publicagbes cien- tificas do mundo, no ano de 2005 0 Brasil gerou quase 2% da produgio cientifica mundial publi- cada em revistas indexadas, conforme mencionado acima. Quando se diz que uma revista ¢ indexada, significa que ela esta registrada em um ou mais bancos de dados que servem como referencia sobre a sua propria qualidade e facilitam o a munidade cientifica 20s textos mais importante deles & 9 Web of Science (WoS), do ISI. Entre 1981 © 2006, a produsao bras 1 de artigos cientificos publicados em periédicos internacionais cresceu a uma taxa média anual de cerca de 9%, bem acima do crescimento de 3% registrados pelo mundo como um todo (cf dados do ISI, citados pelo MCT?). Entre 1980 (2.215 ar- ‘igos) © 2005 (15.777 artigos), a produgao cientih- ca brasileira publicada em tevistas foi multiplicada Por sete, enquanto a do resto do mundo apenas do- brou no mesmo petiodo. Esse crescimento foi im- Pulsionado principalmente por cstudos gerados na tea de Medicina. De fato, 0 mimero de artigos na Brande drea de Clinica Médica foi de 3.113, segui- a por 2.368 da Fisica, 2.167 da Quimica, 1.619 da Pesquisa Animal ¢ Vegetal e 1.215 da Biologia ¢ Bioquimica.4 Vale destacar outro ponco: o sistema universieé- tio de pés-graduagio no Brasil cresceu juntamente com uma metodologia de avaliagio sistemética do seu desempenho, Essa metodologia tem dado peso cada vex maior as publicagées de docentes, discen. tes © egressos dos programas. No momient de publicasao que tem tido mais peso na avaliagio dos programas é o de artigos em revistas cientifieas, Emm virtude disso, cresceu muito a pressio por pu- woes. Outta consequéncia disso é que cresceu a importincia dada as publicagées na avaliagéo de curriculum vitae individuals, particularmente em coneursos para selegdo de docentes em institutos, departamentos ¢ centros que mantém cursos de pés- graduagio. ; Deve-se lembrar que, quando um pesquisador ica um artigo em uma revista cien- logando” com os seus pares, que ra, embora restrita, é a tifica, ele est formam uma comunidade. sua comunidade. Por isso, se ele adotar a lingua in- glesa, por exemplo, tenders a ter um miimero maior de Icitores distribuidos em mais paises. Contudo, nesse campo 0 niimero de leitores seré geralmente muito menor do que o dos qué acessam uma revista de divulgagio cientifica direcionada ao piblico em geral. : Acreditamos que estas slo faz6es suficientes para justificar este livro a respeito da “arte” de produris, submeter, obter aprovagio © publicar trabalhos cientificos, especialmente artigos. En- quanto o elaborévamos, ainda em versées prelimi nares que serviram de base para oficinas de escrita de trabathos cientificos, surgiram varias contril es ¢ ideias, muitas delas incorporadas na pre- sente versio, Um ponto que julgamos relevante incorporar foram as breves dicas para a claboracio de teses, dissertages, monografias ¢ projetos que compéem o Capitulo 3. Esperamos que ele possa setvir tanto para professores c pesquisadores, quanto para gradu- 13 andos, especialistas, mestrandos ¢ doutorandos dos numerosos cursos de pés-graduacio do Bra- Por no pretender ser um manual, nao tem a intengao de ser extensive, abrangendo todos os aspectos da pesquisa, da escrita e da publicagéo cientificas. Felizmente, existem hoje dezenas de publicages focalizadas em aspectos especificos, como metodologia de pesquisa ¢ anilise de dados, organizacao de projetos e textos, normalizagio ¢ formatagao ete. Este livto nasceu da experiéncia de escrita, pes- ientago dos autores, mas também da oferta de uma disciplina sobte a produgao de textos cient ficos, adotada desde 2008 no Programa de Pés-Gra- duagio em Desenvolvimento Sustentével do Centro de Desenvolvimento Sustentivel da Universidade de Brasilia, Nessa disci longo de um semestre de sua auroria (ow em coautoria com orientadores) sob a forma de fs quire estimularios os alunos, ao vo, a desenvolverem textos aqui apresentado nasceu de uma série de anotacées € roteiros de aula usados nessa disciplina. Ele reine dicas, informasées, orientacées © sugestées que sio titeis a quem pretende seguit, ou que nela jd se en- contra ha algum tempo, atrlha da publicagao, espe- cialmente de artigos, mas também de outros textos tificos. Os autores, juntos, jé orientaram mais de uma centena de dourorandos ¢ mestrandos © participa- ci 4 de centenas de bancas examinadoras de teses, iiserogbes¢ monografias. Publicaram livros ¢ ca- cat ,0s. Elaboraram incontiveis pareceres ra fcos € editoras. Publicaram dezenas de ae ¢ tiveram intimeros outros recusados em te- vistas cientificas. ae : nO objetivo é partilhar essa experiéncia. Bom pro- vyeito! 1 A REVISTA CIENTIFICA E O ARTIGO CIENTIFICO Por motivos que néo discutimos extensamente aqui, o artigo publicado em revistas cientificas assu- ‘miu nas dltimas décadas uma importincia estraté- ica no conjunto de comunicagées escritas que 08 cientistas ¢ pesquisadores de todo o mundo empre- gam: para divulgar os resultados de suas pesquisas, ‘0s métodos que usam, os conceitos que adotam ou propdem, as teorias que os orientam etc. Publicar artigos nessas revistas é em quase todas as areas da cigncia, um imperativo profissional, ranto para Gentistas meio de carrcira ou j4 estabelecidos. Isso se deve 20 rigor com que os artigos sio selecionados ¢ & penetracio e repercusséo que as revistas alcangam znos seus respectivos campos de saber. Em algumas ntes quanto para os que estejam em. reas da ciéncia, as revistas € os go tém © mesmo “prestigio” que livros ¢ coleti- nneas de textos, mas mesmo nessas Areas a cendén- igos cientificos ia atual ¢ de crescimento da pressio para publicar attigos em revistas cientificas ¢ indexadas. Esta segio define e discute brevemente as carac- teristicas principais das revistas e artigos cientificos, Dez passos para fazer florescer uma “cul- tura da publicacao” (ou breve introducéo a neurose do “publish or perish”) Para que nasca e se consolide, em uma is so, uma cultura de publicagées e ~ mais especifica- mente ~ uma cultura de publicagdes de artigos em revistas cientlficas, vétias etapas tém de set cumpri- das, Essas etapas nao dependem apenas de decisées € produgbes textuais individuais, ou de dirctores ou coordenadores de uma unidade ou programa cienti- fico ou académico. Elas transcorrem de forma cole- tiva ¢ descentralizada, muitas vezes com sobreposi- ‘$6es, atrasos ¢ saltos, em ritmos diversos, envolven- do muitos “lugares” e muitas pessoas — professores, rojetos, grupos ¢ redes de pesquisa, cursos de pés- graduagzo, alunos, ex-alunos, departamentos acadé- icos, congressos Em algumas éreas da ciéncia, a cultura de publi- cases tem rafzes antigas e firmes, Ela se reprodur sem grandes esforgos ou percalgos, de graduandos a pés-doutores, Em outras dreas, € até de publicagées, mas nas formas de livros, relatérios e ensaios. Existem { i i I i 3 Areas onde essa cultura é fraca, No entanto, € possi- ides ¢ comportamentos que levem ao cumprimento coletivo dessas etapas. “Tais passos podem ser reduzidos a dea, a saber: imeiro, ha que se formar na grupo ou segmento dotado de um sentimento de que é necessério ir além de uma cultura profissional de oralidade, cuja prevaléncia conspira contra ou no ininimo rivaliza com uma cultura de escrita e de pu- blicagées.6 Ou sej, querer escrever € preciso! Segundo, uma ver que uma cultura de eserita ance raizes, os escritores precisam, além de fazer suas prOprias pesquisas e estever artigos maticamente artigos publicados em revistas ler artigos cientificos de outros pes- sno sabe ‘Ou seja, escrever especificamente ; obviamente, ‘A atual valo- a produgio de outros tipo jonal ¢ acadé Quarto, esse grupo de escritores tem de aprender 8 identificar as revistas de maior penetragio e peso & & Seguir as suas instrugdes para preparar artigos a serem submetidos. Ou seja, conhecer as revistas ¢ as suas exigéncias & preciso, Quinto, depois de escreverem os artigos © co- locé-tos nos formatos exigidos, esses pesquisadores tém de submeter os artigos a esas revista; para isso, devem: (a) seguir procedimentos tipicamente meti. culosos (aprendendo a usar softwares de submissio automatizada, cada vez mais adotados pelas boas revistas); ¢ (b) seguir duas “tegras de ouro” — 6 se submere cada artigo a uma inica revista de cada ver € 56 se submete attigo inédito. Submeter os textos é preciso. Sexto, os pesquisadores tém de esperar pacicnte- ‘mente pela avaliagao, pela eventual aceitagio e pela Publicagio dos seus artigos ~ tudo isso pode levar muitos meses. Nao ¢ incomum que as boas revis- ‘as Semestrais levem de 18 a 24 meses entre receber tum artigo, avaliélo, aeité-lo e publicéto. Algumas revistas chegem a pedir Aqueles que submetem ar- figos que assinem um compromisso de espetar até dois anos pela resposta dos parccctistas e editores, Entretanto, uma vez accito 0 artigo, o autor jé pode inscrevé-lo em seu curriculum vitae como “artigo aceito pata publicagio”. Ainda assim, saber esperar é preci Sétimo, 05 autores que submetem artigos tém de aprender a suportar eventuais pareceres duros ou 20 ETI rea riamantcheemrmmnonsy muito criticos, e a eventual rejeigio dos seus arti- gos, sem ficarem “ofendidos” ou “deprimidos”. O cespago das boas revistas €escasso € a disputa por ele & competitiva, © ideal é aproveitar aquelas criticas que 0 autor ou autores julgar(em) mais pe ¢ tefazer o artigo, enviando-o, se achar(em) cabiv para outra revista, Um artigo rejeitado ndo é neces- satiamente inaproveitivel. Néo’ significa que “néo presta’. No entanto, algumas vezes é melhor desistir ‘e escrever outro. Ou seja, “aguentar o tranco” da cri- tica, ¢ saber aproveité-la, & preciso. Oicavo, se 0 artigo for aceito condicionalmente, ‘com exigéncias de reformulagées solicitadas por pa- receristas ¢/ou editores, os autores tém de ponderar sobre elas ¢ decidir se querem mesmo fazé-las. As ve- 268, 0 editor indica que a incluséo das reformulagdes garantiré a aceitagio do texto. Nesse caso, 0 autor deve reagir o mais rapidamente possivel, para apro- ‘veitar a fresta que se abriu. Mas, em geral, executar a reformulagio ndo garante a aceitagio. Dependendo do teor das criticas,o artigo poderd ter de ser resub- metido e talvea tenha de passat por outra avaliagio. Por outro lado, o autor nao é obrigado a accitar to- das as exigncias de reformulagao sugeridas pelos pa- receristas, Nesse caso, é de suma importincia que 0 autor fundamente bem os pontos criticados, tentan- do alcangar maior precisio no texto ¢ dando novos esclarecimentos. HA editores que exigem, além da reformulacio do texto, um relatério detalhado sobre uu com cada critica ou sugestio. como o autor fi 2 (Ou scja, persistir com o artigo avaliado é preciso. Nono, uma opeio & reformulacao/ressubmissio & caviar 0 artigo rejeitado para ser avaliado por ou- tua revista, o que implica desistir da primeira; nesse ‘caso, deve-se também aproveitar/incorporat as crti- ‘cas recebidas, esperando que o artigo melhorado ob- rena uma recepeio mais positiva pelos parecctistas dla segunda revista. Ou seja, mudar de revista-alvo pode ser uma solucio. Décimo, os autores tém de manter um fluxo Constante de submissio de artigos diferentes a revis- tas diferentes, independente de aceitagoes ou rejci- es. Esse fluxo possibilita que os artigos eventual- mente aceitos e publicados qualifiquem seus autores Como cientistas regularmente publicados em revistas das suas cas. Ou sea, escrever ¢ submeter artigos deve se tornar um hébito profisional, ¢ no um acontecimento eventual Quando um departamento, uma rede, um gru- po de pesquisadores ou um programa de pés-gradu- ago tiver uma parcelasignificativa de seus integran- tes cumprindo essas dez etapas de forma sistemética, © transmitindo essa pritica para as novas geragées de cientistas_em formagio, entdo se poderé se trata de um nticleo com produgio si de conhecimento © com visibilidade no seu campo de saber. Esse mticleo ter construfdo uma “cultu- 11 de publicagées” e teri “chegado ao para(sa” (ou 20 infetno) do “publicar para nio perecer”, Erm ter- mos mais gerais, isso significa que 0 conhecimento 2 ROSTER produzide por esse miicleo esti sendo consumido, adotado, riticado ou mesmo rechagado, Como pra- ticantes de uma atividade de interesse piblico (a 7 éncia), 08 centistaseujo trabalho ganha vis 7 sober no pedestal da “torre de marfim”. O pend se manter no pedestal é a continuidade do trabalho de pesquisa e de publicagses, ¢ o bénus tende a ser a maior facilidade de acesso aos meios que garantem inuidade ae uma “cultura de publicagées” nio significa, no entanto, focalizar os esforsos exclusivamente em artigos ¢ excluir a produgio de livros e outros géncros de escrita, Esses outros géneros tém as suas caracteristicas ¢ © seu valor proprios ¢ complementam os artigos como ins- trumentos daquilo que é 0 mais importante ~ a difusio dos conhecimentos produtidos na pratica cientifica. As revistas cientificas ¢ suas escolhas As revistas cientificas sio os velculos dessa pro- dusio to valorizada no mundo académico, que so 0s artigos cientificos. Revistas cientificas so publi- cag6es que tém minimamente as seguintes caracte- nomes de umm corpo (comis- ial permanente, composto so, conselho ete.) 23 or cientistas ¢ editor(cs) cientifico(s), dlo gerenciamento da publicagao; * tém um corpo de pareceristas, cujos nomes notmalmente nio so divulpados (embora algumas rents Publiquem os nomes dos pareceristas que trabalharam 2o longo de um volume), Pertencentes 4 comunidade cientifi de avaliar os submetides nee * tém uma linha editorial expressa; *tém um ntimero de regis ‘ : registro ISSN (Internstio- nal Standard Serial Number), que contém oito alga- rismos ¢ identifica todos os petiédicos cient * tem uma definigto dsciplinas,interdseiplinar (ou tematica dos artigos que publicam; e * S80 abertas a submissées de artigos de quis. ‘Quer cientistas, de qualquer parte do mundo, Os artigos encarregados Piblicados numa revista. ci sto, em geral, submetidos aa connie autores, que, via de regra, sao ci vineulo com a organizagao respo $40 da revisea na qual querem publi ‘evistas se alimentam de uma paste do que é eer, ¢ submetido pelo conjunto da comunidade cient a de sua respectiva drea de saber, e néo pel de cientistas uadro cages que, apesar de setem perisdl ae ok ia € adotarem critérios rigorosos de avalagio de tox, ‘os io so consideradas revistascientifias propria: mente dias, pelo fto de 96 publicrem autores que 24 pertencam aos quadros das respectivas instituigdes responsiveis. No entanto, sio relativamente comuns, entre as revistas cientificas, algumas préticas destinadas a estimular a produgio e a submissio de artigos. Uma delas ¢ induzir submissoes por meio de chamadas de textos para preencher niimeros especiais dedica- dos a determinados temas ou que contenham segbes temiticas especiais (dossiés) dentro de um miime- ro regular. Outéa forma de estimular submissées € convidar um autor de renome a escrever um artigo capaz de gerar respostas na forma de artigos enco- mendados a outros autores que, publicados junta- mente com o artigo original, dialogam, polemizam ‘ou coneordam com ele, Outsa caracteristica notivel das boas revistas cientificas é a adogéo de um sistema de avaliagio que em inglés recebe 0 nome geral de peer review (reviso pelos pares), em especial double blind review (Pareceres “duplamente cegas). Nesse sistema, os pareceristas no sabem quem sao os autores dos tex- tos que recebem para avaliar ¢ os autores no sabem quem avalia os seus textos, mesmo quarido recebem © contexido integral ou trechos desses pareceres. Ou. Sja, 03 autores submetem scus textos sabendo que ~ e aceitando que ~ os seus artigos serio avaliados Por seus pares (colegas cientistas), mesmo sem saber quem so os avaliadores. Os autores confiam que os cditores escolherio avaliadores qualificados ¢ apro- Priados, Os avaliadores, por sua vez, confiam que 28 editores levario em conta as suas apreciagGes € reco- mendagbes, Existem outros tragos usuais das boas revistas clentfica. Revistas de algumas éreas cientificas che. 8am 2 definir formatos padronizados para orientat i dos. de graduacao (ver Apén- Quando isso for exigido, é F igualmente comum que as revstas de renome tenham seg6es dstintas, para publicar textos de dif rentes naturezas: artigos de Pesquisa propriamente ticos, nota sobre pesquisas em andamento, ensaios de ‘visio de literatura, esenhas, notas metodoldgica, descrgées de novas fonts, entrevstas com cientste famosos, resumos de teses e dissertagées, noticias de interese profissonal,cartas com critica reposts 4 artigos publicados cm nimeros anteriores e assim por diante, No entanto, os artigos que relatam resultados de pesquisa sao a parte “nobre” das boas revista, ‘Toda boa revista cientifica obriga of autores a Préprias, quer alheias (cxemplos: MLA - Modern Language Association; Chicago Manual of Sele. Por eves hd exigencias adicionais de cada revista, Os autores devem adotar essas normas, pois muicas re, vistas sequer aceitaréo a submissio se elas nio form observadas, 26 ntes, grande parte das revistas cien- proveito da nei Be a a procedimentos de submissio, slag € dooms. Esc acabando a era em que oF auores precisavam comparecer 3s — dos cotreios para enviar as revistas c6pias en po dos artigos, e mesmo disquetes € CD HOM dep distrbuidos aos parceristas e por eles devolvidos aos editores, também pelo correio. Cada vez mais revistas etiam ste Internet. Os autores submetem seus tex- tos em arquivosclewdnicos, os parecerstas acsssam 0 ste, Jee, avaliam os textos contides nesses arquivos € 08 editores usam o site para comunicar aos autores o resultado da avaiagio, Por vezes, os autores sentem diffculdade para entender os mecanismos de submis- Go e funcionamento desses sits, mas eles sio a tinica mancira de submeter textos 4s revistas que optaram pelas vantageris da Internet. ‘Tao importante quanto escrever um bom artigo Eescolher © periddico a0 qual voet vai submeter 0 temas e Obvio é escolher revistas com base nos seus i tincplina predominantes, © Portal de Periédicos da Capes’ — Coordenasao de Aperfcigoamento de Pessoal de Nivel Superior ~ ajuda a encontrar revi ‘3s que tenham o perfil procurado, Outro fator importante a considerar na selecio da revista é a modslidade: acesso livre (open access) Ou a€2s80 pago. Por exemplo, na érea médica, as revistas da Public Library of Science - PLOS? se de acesso live. Por outro lado, hé revistas de acces Pago. Por exemplo, Science ¢ Nature. Em ambos os as0s clas podem ser eitadas por associages ou so. Giedadescienetfcas. © acesso aos artigos publicados em icos publicados por grandes grupos edi- ‘orlais (Elsevier, Blackwell, Kluwer, Sage etc.) & ge ralmente pago, embora em algu mais antigos sejam franquead ‘evistasséo indcpendentes (geralmente vinculadas a tum deparamento de uma universidade ou instil, ‘$80 de pesquisa). ° A tendéncia € gue ocorra uma. bipolatizagio: ‘evistas vinculadas a grandes conglomerados edi. Ss de um lado, e revistas de livre acesso, de Outro. Nas tevistas do primeizo grupo, os attigos Publicados podem ser acessados apenas mediane Pagamento ~ seja por assinaturas individusis ou ins- tinucionais, sea por pagamentos avulos por artigo bbxado diretamente dos sites das prépias revises ou dos grandes grupos edicorais. O segundo grupo fem tama caractristica distinta e “simptica” para ox Icitores: a gratuidade de acesso. Nesse cis, os arty £95 publicados s4o igualmente disponibilizados ea ' Dipcivel enfants tralspubfoc hl (asso em 77123000) 28 PERS RCT “ii onsen Seema teat da nteznet, mas podem ser basados na integra, fratitamente No eatant, sais tevin ti de car senate para cobrit os seus custos. Uma a rio to “simpitica” para os autores, solcitar a cento de uma taxa pela publicagio dos seus i’ eel de de eles terem sido aceitos no processo partes dos sites das revis- nto Cientifico ¢ Tecno- Nacional de Desenvoh légico (CNPq), no Brasil, desempenha exe papel junto as revistas dos Programas de Pés-graduasio credenciados ou de sociedades cientificas cujas 7 vistas tenham sido aprovadas pelo comité especial cle organismo, i oN Brasil, a tendénca éa vinculago das revisas mais bem conceituadas 20 sistema Scielo (Scientific Hlectronic Library Online — huspi//sciclo.bs), que € de livre acesso. Os textos integrais de todos os arti- is textos de todos os ntimeros das revistas gos e demais textos: » inclufdas no Sciclo esto dispontveis para download gratuito. : = Outro caminho é procurar uma revista bem co: cientistas, De fo, mesmo para quem de carreira, nio vale a pena publicar idade, Mas néo é prudente mandar um io se dade para uma revis- texto que nio seja de alta qualidade p: 2 ta de alto nfvel. Vocé pode usar 0 Portal Qualis da Capes? ou a base de dados do ISI para descobrir as revistas mais bem cotadas na sua drea, Néo existe um total consenso sobre a qualificagéo das revistas, Caso voct acesse 0 Portal Qualis da Capes, observa- 4 que os comités atribuem mengées diferenciadas 4s mesmas revistas. Assim, uma revista pode estar ualificada como A2 cm um comité e BI" ou mes- ‘mo B2 em outro comité, Essas diferengas se devem @ formas de avaliagio ou critérios distintos utilizados por cada um dos comités. Afi qualquer individuo, tem suas op ideologias. Portanto, o fator subjetividade, embora seja para os membros dos comités, conta como fator de avaliagio, Vocé pode ainda combinar 0 procedimento da escola da revista com (i) indagagées a colegas (ou consultas aos seus CVs Lattes) sobre as revistas em que eles publicam ou tentam publicar e (ii) uma Pesquisa sobre onde publicam os principais auto- res nacionais ¢ internacionais que vocé cita no seu artigo. Preste atensio A periodicidade (e & regularida- de de publicagéo) das revistas que vocd identificar como provaveis para envio de artigo, para evitar escolher uma que cause uma espera muito longa e frustrante, Revistas editadas apenas uma vez por ano Diane ca saul caps. govbe/mebquly ceo 122000), 10.8 Cape "pbc ces em Gb eegiie: Al @ A? de BS (pices de teagan} Cetin yo 30, sao garantia de uma longa espera. Revistas que pro- i gramam uma ou mais edigdes temiticas, nas quais 9 seu attigo néo se encaixa, também causardo uma Jonga espera. Periddicos que nao cumprem regular- ‘mente com a periodicidade anunciada so normal- ‘mente mal conceituados. Caracteristicas basicas dos artigos cientificos Dado esse quadro geral das revistas cientificas, passemos aos eragos bésicos dos artigos cientificos. ‘Como outros géneros de escrita, 0 artigo cientifico tem as suas singularidades: * concisio; + foco em um tinico problema ou em pouces problemas interligados; - + linguagem técnica, destinada a iniciados © es- pecialistas; + adequagio temética & linha da revista pre- tendidas logo com a literatura pertinente mais recen- te * comunicasio dos resultados da pesquisas itagao das teorias, dos conceitos ¢ das metodologias usados; * explicitagdo das fontes de ideias e dados. Quanto a concisio, hoje em dia poucas boas tevistas aceitam artigos com mais de 8.000 palavras, (incluindo texto, bibliografia, anexos, notas, titu- 31 Jos de tabelas ¢ figuras). Em algumas reas, 0 limi- te méximo cai para 6.000 palavras ou até menos. Note-se que 0 controle do limite de camanho por palavras invalida o uso de “jetinhos” para “encolhi- mento” dos textos, como 0 uso de fontes meroress expagamento menor entte as Tinhas, 0 estreitamento das margens etc. Outro eritério para definir 0 tamanho do artigos adotado por alguns periédicos, é 0 de contager por ‘meio de caracteres com ou sem espago. O principio ‘20s resultados sio praticamente os mesmos do que o anteriormente citado, com critério de palavras. ‘O mais importance € © pesquisador compreen- der que artigo cientifico exige concisio. Aos mais prolixos sugetimos ler alguns textos literéios que primam pelo rigor e dustncia de adjetivagbes deste- cessirias, como 0s poemas de Joao Cabral de Melo ‘Neto e os romances de Graciliano Ramos. Alids, atri- bui-se a0 primeiro a expressio: “escrever é cortar” No que diz respeito a0 foco restrito, é de pra- xe que artigos cicntificos evitem discussbes genéri- ‘cas ou abordem demasiados pontos ¢ assuntos. Fle deve, desde © ter presente 0 que pretend: demonstrar ao Ieitor, e todos 0s argumentos ¢ cita- Bes devem estar em fungio desse objetivo. O foco rege todas as excolhas que se faz na escrta do artigo, inclusive eventuais adjetivos. Artigos publicados cm revistas cientificas so geralmentelidos por cintistase, por isso, a lingua gem tenica pode € deve ser usada. Evidentemente 32 que essa linguagem varia em cada Area do conhe- Gmento. No caso de trabalhos interdisciplinares, € preciso muita tengo, pois determinadas expresses Em uma disciplina podem nao ter o mesmo signif ‘cado em outra. O rigor da linguagem, a precisio dos termes utilizados, nio deve impedir que os autores se esforcem por escrever de forma clara ¢ elegante. O preco da preciso na linguagera nao precisa ser o abandono da estética. O ideal € que a linguagem adotada seja simultaneamente precisa ¢ bela. Cabe ao autor verificar a adequagao temdtica do seu texto A-revista pretendida. Ao escolher a revise ta para onde enviar 0 texto, ele deve escolher uma as paginas o texto terd “guarida”, em virtu- edido, tema, abordagem. etc. em de de seu género, Nunca haveré uma certeza completa quanto 2 i880} nem a simples adequagio do texto & revista signifi ‘ca certera de accitagao, No entanto, 0 autor precisa ‘conhecer bem 0 periddico € a sua linha editor para nio enviar um texto a uma revista em que ele ficaria como um “peixe fora da agua” ou, 0 que € mais provivel, seria rjcitado, néo sem antes haver transcorrido um precioso tempo. No que toca a0 di nente mais recente, os autores devem ter em con- 9 com a literatura perti- ca que os editores em geral consideram ou desejam istas sejam foruns de debate entre os autores mais influentes ou mais produtivos. Iso faz com que 0 didlogo com a literatura pertinence seja tam dos tequisitos mais importantes para a boa ava- 33 linggo de um artigo. Os cléssicos podem ¢ deve ser mencionados, juntamente com autores ¢ ‘textos que tiveram uma influéncia mais pontual e menos duradoura. Atencio, portanto: editores ¢ parecetis- tas exigentes querem que os artigos avaliados con- vversem com os autores mais recentes (inclusive 08 publicados na propria revista escolhida) em termos de conceitos, teoria, métodos, bases de dados, resul- tados etc,, sobretudo com os autores mais relevantes a sua Area. F absolutamente incorreto citar autores de “segunda mio” s6 porque foi seu professor ou € Voct precisa aprender a fazer a distingo entre os autores originais, que criam conccitos € teo- tias ou abordam de maneira original determinados temas ou problemas; ¢,0s autores divulgadores, qué apenas repercutem as descobertas dos outros, algst ‘mas veres inclusive de forma didatica. Estes tém um papel importante na disseminagio dos resultados da ‘Géncia, aqueles, na produgao de novos conhecimen- 10s. ‘Avaliadores ¢ editores prestam muita atengio também aos resultados divulgados no artigo. Na ver- dade, a existéncia de resultados é em muitos casos, tuma exigéncia sine qua nor, pois apenas eles poder provar que o artigo resulta de uma pesquisa origi- nal, que formulou perguntas, reuni. dados © ces dos geralmente se ‘encaixam nos géneros de trabalhos alhicios, rio de artigos de pesquisa. Textos baseados em pro- saios ¢ textos de opiniso, ¢ 34 a | | jetos de pesquisa no iniciados ou recém-iniciados também nao tém resultados a divulgar ¢ sio mais dificeis de serem publicados em revistas conc das, ‘As exighncias de didlogo com a literatura perti- ede comunicacio de resultados de pesquisas cam, acima de tudo, que o problema estudado no artigo deve fuzer parte de ou estar contextual zado em tum corpo significativo de textos ¢ autores relevantes nas suas respectivas dreas € que esse Pro- blema deve ter sido objeto de uma pesquisa original portincia que no artigo ientifico as teorias, conceitos, metodologias ¢ séenicas de cole e tratamento de dados estejam presentes, des- citas ¢ explicitadas para o leitor. A esfera do conhe- ‘cimento cicntffico supe que as pesquisas podem ser reproduzidas em qualquer parte do mundo ¢ alean- ccem os mesmos resultados, sem o que sua cientifi cidade estard comprometida. Por isso a metodologia tutiliada na obtengio dos resultados deve estar sufi- éentemente clara para que o Icitor pesquisador possa repetio experimento se assim achar conveniente. £ comum em artigos cientificos 0 uso de ideias ‘ou dados que foram produzidos por outros autores. sco de pligio, utilizar essas ideias ce dados sem fazer referéncia As sttas Fontes. Nao des- cide deste aspecto, pois ele pode Ihe acarretar pro- blemas desnecessitios. Le se que a esfera do conhecimento cientifico é distinta da esfera literdria, 35 pois o discurso cientifico & sempre um duplo discur- so, contrariamente 20 discurso literirio. Na ciéncia ‘yoo’ tem que mostrar seus resultados de pesquisa (discurso 1) c a0 mesmo tempo, mostrar como os aleangou (discurso 2). No discurso literdrio voce ‘conta uma histétia ¢ ponto final. Por isso mesmo que em um artigo cientifico voce encontra iniimeras ‘tages e suas respectivas fontes, 0 que nao ocorre no romance. Dez dicas para escrever artigos cientificos Se vocé nao tem uma (boa) ideia, fundamentada na literatura do seu campo de trabalho, resultado de pesquisa ¢ teflexio, no tente escrever umm arti go cientfico. A melhor, op¢fo, nesse caso, & produ: zit uma resenha ou um texto critico ou de opi _ mesmo que 0 texto fique inédito. A ideia de um bom artigo pode surgir durante esse processo de escrever um texto menos exigente- Um bom artigo cientifico deve, pois, conter ¢ desenvolver uma (boa) ideia, ¢ nfo muitas boas ideias, £ importante que voce tenba claro qual é a sua grande questéo no momento, Caso voce nao tenha apenas uma (boa) questo, mas sim varias, € queira escrever um artigo, & recomendével optar por uma das aleernativas a seguit: , para tentar definir qual delas + plancjar a esctita de varios artigos, cada um sobre uma das suas ideias; nesse caso, € recomendé- vel que voce nao os escreva simultaneamente, pois precisaré dar prioridade a alguma delas, ou sejy irk vvoltar ao item precedente; « fundir as varias ideias em uma 66, que seja Con sistente, sem ser excessivamente genética. No entanto, para escrever um bom artigo cien- tifico, € preciso, além de uma boa ideia (singular ‘ou composta), aplicar teorias, coletar informagies ‘elo dados oriundos de uma pesquisa ¢ comunicar resultados. A fungdo principal de um artigo € preci- samente a de apresentar sinteticamente & comuni- dade cientifica os resultados de suas mais recentes ppesquisas. ‘Com clareza quanto 2 sua boa ideia ¢ com os resultados finais ou parciais de sua pesquisa & mao, cis dez coisas a fazer para iniciar e desenvolver um bom artigo. 1. Antes de escrever, elabore um roteiro: venha uma ideia clara do que voc# quer demonstrar, con- firmat, desmentiy, ilustrar, exemplificar, restas, com- paras, recomendar etc, © comeso, o meio ¢ 0 fim do artigo devem estar claros para voo® antes de ele comegar a ser escrito (ver no Apéndice L um exem- plo de roreiro sugerido ou exigido comumente nas ja, Ecologia, Fisica, Quimica etc.). Lembre-se: qualquer autor passa muito mais tempo revendo/reescrevendo (quase sempre mais de uma 37 ‘ye2) os diferentes trechos de um texto, do que 0s escrevendo pela primeira vez. Por isso, roteiro aju- da a estruturar a primeira versio, que, em seguida, seri objeto de revisées. Nao & por acaso que vigora a méxima de que 0 cxercicio do oficio de pesquisador requer 10% de inspiracio e 90% de transpiracio. 2, Valorize a formula consagrada de eserita cha- mada SVP — “sujeito, verbo ¢ predicado”, Escreva “O conselho discutiu o regimento”. Nao escreva “Discuriu o regimento o conselho” ou “Discutit: © conselho o regimento”. Usar deliberadamente a vor ativa, sempre que possfvel, estimula 0 uso da fr do pelo conselho” ou “Foi discutido pelo consetho SVP —evite usar “O regimento foi discuti- regimento”, Usar uma formula simples de escrita ajuda a tornar o texto dlaro € preciso, encurta as suas sentengas ¢ diminui a possibilidade de come- ter ertos de concordanci mais importante: permite uma melhor comunica- Gao de suas ideias e uma boa aceitagio pelo leivor. 3. Evite generalidades, mas abuse dos dados. Generalidades so boas para conversa de mesa de entre outros. O que & bar ow discurso de politico ruim. Cada afirma- go do seu artigo deve ser capaz. de ser respaldada por dados, achados e interpretagées encontrados cei artigos ¢ textos de outros autores ou na sua prépria pesquisa, de preferéncia os autores mais conceituados ¢ as fontes mais recentes de artigos cientific 38 prefiro”, “o melhor €”, “deve m que set”, “todo mundo sabe que”, “sempre foi assim”, “a tendéncia natural é” ~ nada disso dé respaldo a argumentos usados em textos cientificos. Bssas expressdes indicam manifestagoes de normati- vidade, de opcao pessoal ou de preferéncia, quando no meros palpites. Evitar. : depois do A, vem o B, € nfo 0 as suas afirmagBes ¢ conclusdes € confira se clas tém mesmo respaldo légico, teérico ou emptrica, ¢ se decorrem da sua argumentasio. E muito comum o uso de expresses como “dessa sa”, “portant”, “segue-se q ‘con- que’, “tendo em vista 0 que foi mostrado aci- ama’ etc. sem que de fato haja relagio I6gica entre as ‘conclusées € as frases que a precedem. Exemplo: ‘A: “O céu amanheceu sem nuvens. B: “Sem nuvens ndo ha chuva.” Cz *Segue-se, porcanto, que no choverd nas ptdximas semanas.” ‘Aesth certo (com base em observagio direta)s B esti certo (com base em conhecimento acumula- do); C pode até estar certo, mas nio decorre de A, nem de B. C é uma afirmagio ou conclusio que nao decorte figorosamente das afirmag6es anteriores Rigorosamente, C é uma suposigio, nfo uma con- clusio ou decorténcia. SuposigSes nao sio pecados na cigncia, mas nao devem aparecer camufladas de 39 conclusées ou decorréncias; devem aparecer como suposigGes, premissas ou pressupostos. 6. Mantenha as suas sentengas curtas. Para isso, a solucdo € simples: abuse dos pontos, pois cles io sgratuitos, no esto ameacados de extingéo € orge- nizam o seu texto. Sentengas longas exigem 0 uso excessivo de recursos como virgulas, dois pontos, pontos e virgulas, travessGes, hifens, parénteses, pro- 0s (este, deste, daquele, seu, dele, cujo, respectivo ete). Eles também sio gratuitos € nomes € com abundantes, mas quando usados a granel nao fac tam a leitura do seu texto — pelo contririo. Sentengas Jongas devem ficar para os que tém um bom domi- da lingua, como detentores do prémio Nobel (José Saramago) ou mestres da literatura (Machado de Assis), Mas, cuidado.com Guimaries Rosa: 0 uso recorrente de neologismos funciona muito melhor na literatura do que em textos cientificos. 7, Reserve tempo para sempre ler literatura (romances, contos, novelas, narrativas, poesia etc), mesmo quando estiver redigindo um artigo ou a sua ese ou dissertagéo. Ler bons textos é fundamen- tal para aprender a escrever. Procure textos que se relacionem com as suas deficincias de escrita. Por ‘exemplo, os prolixos devem ler Joao Cabral de Melo ‘Neto on Graciliano Ramos ¢ 05 muito secos podem escolher Vinicius de Moraes. 8. Nao use apud quando puder se referir dire- tamente a um autor/texto, pois apud é um recurso 40 que $6 deve ser usado excepcionalmente. Leia e cite sempre 0 autor ¢ 0 texto originais, a ndo ser que seja um texto antiquissimo, consuleével ape- nas em alguma biblioteca esp teca Nacional da Franca ou o Arquivo Nacional da Torte do Tombo, ou que esteja escrito apenas |, como a Biblio- em javanés ou em aramaico. 9, Busque sempre usar como fontes ¢ referen- ciais o8 autores mais reconhecidos, ou seja, as maio- res autoridades no assunto, Nao é porque voce reve um bom professor que escreveu um artigo ou deu uma boa aula a respeito de um assunto que ele € a referéncia mundial sobre esse assunto, Da mesma forma, ndo s¢ limite a ler € a citar os autores ¢ textos usados pelos seus professores prediletos. Aprenda a usar ferramentas que lhe permitam idcntificar por conta prépria os autores mais importantes em cada rea de saber, inclusive aqueles nunca mencionados por professores © colegas e até aqueles com quem ‘voct néo concorda necessariamente. No entanto, os autores no devem ser usados ou citados apenas por- que Sio reconhecidos, mas antes de tudo porque si pertinentes & construgio do seu texto, 10, Regra de ouro para publicar artigos: “quem nfo pesquisa, no escreve; quem nio escreve, néo submete; quem néo submete, nio € aceitos quem nao é aceito, nunca seré publicados quem nao € permanece anénimo”. De nada vale um cientista ou intelectual anénimo. 41 Dez instrugées para tornar 0 seu artigo publicdvel em uma boa revista cientifica Supondo que um cientista tenha produzido um texto baseado no seu trabalho de pesquisa e que esse texto tenha as caracteristicas de um artigo publicével numa revista cientlfica escolhida pelo autor, ele deve levar em conta ainda uma série de solugées © pro- cedimentos que podem aumentar a “aceitabilidade” do texto, His uma selegao deles. 1. Pode nao parecer muito Iégico, mas a verda- de é que 0 resumo (ou absinact) © a introducio io as partes mais importantes para que o set texto seja publicado (e também, depois de publicado, para aque dle sejaidentificado ¢ citado). Depois deles vem aconclusio. AencZo especial deve ser dada & escrita dessas partes, portanto. 2. O resumo, além de ser breve, tem de ser con- vincente, colocando claramente 0 problema estu- dado, 0 objeto, as principais ideias discutidas, os principais achados e as conclusées mais relevantes. Quando for pertinente, o resumo deve mencionar 05 casos tratados. Nao hi regras quanto ao tamanhos no entanto, revistas mais exigentes lis mos a 250 palavras, Raramente sio aceitos resumos com mais de 500 palavras. 3, A introdugio deve ter apenas 1 a 1,5 paginas ¢, tal como 0 resumo, deve sintetizar varios pontos. Bla comega com um pardgrafo de efeito, relatando 2 ‘¢situando o problema estudado. Continua com as idas e com créditos 08 principais autores que abordaram oassunto, Esse primeiro pardgrafo pode decidir se os parecerisas (© depois 0s lecores) vio se interessar pot lero artigo na {ntegra. Em seguida, a introdugio descreve bre- ‘vemente 0 artigo, mostra do que ele trata, narra as partes do texto ¢ informa a cxisténcia de estudos de caso ou comparagées etc. Os procedimentos meto- dol6gicos eas bases de dados usados também deve constar brevemente dessa descricao das unidades do artigo. Por tltimo, a introdugéo deve adiantar bre- vyemnente os principais resultados e/ou conclusées. 4, No que toca a0 desenvolviments do resto do texto, lembre que alguns leitores nao passario do resumo; outros chegardo apenas & introdugio; uns pouces pulario a frente ¢ lerio as conclusées c/ou ‘95 resultados; mais raros sero aqueles que lero 0 texto do principio ao fim. Por isso mesmo, embora 6 restante do artigo tenha que ser s6lido e cocrente introdugéo € as conclusbes, estas mais importantes ¢ devem set to tis sdo as part bem escritas que lever 0 leitor a se interessar pelo artigo. 5, Nao use sistematicamente o artificio de cit- fo “segundo fulano”, “de acordo com...” Principal- mente, evite comegar um parigrafo dando crédito ‘2 outro autor, Cada pardgrafo deve comegar com a apresentagio da ideia a ser desenvolvida nele, © 43 crédito a0 autor relevante, quando for 0 caso, deve aparecer discretamente, entre parénteses, apenas no final da apresentacéo da ideia correspondente. A ideia exposta € atriz principal, o ator € aqui o coad- ante, mas indispensivel. Conforme mencionado, do tipo “Marx apud Silva’. Autores clissicos, consagrados ou que sejarn autoridades no assunto devem ser sempre citados diretamence. Evite qualificar as suas fontes no texto com avaliagées do tipo: “o excelente artigo do fula- no” ou “a obra-prima do beltrano”. Esse é um bom artigo de divulgagio cientifica ou ico, mas nfo: para um artigo cienti- iide, também, para nao usar citagdes com 0 nome completo e a profissio do autor, assim como “a imporcante contribuigio do economista José da deve aparecer no texto sobrenome, data ¢ pagina relevante, entre parénteses (Silva, data, pagi- na), Evite demonstrar in lade com o autor mes- almente. Nao escreva Independente de qual- ‘mo que voo’ o conheca José, mas Silva, por exempl quer outra coisa, é incorreto. 6, Evite ao méximo a citagéo de trechos entre aspas, principalmente trechos longos. Quem Ié 0 scu artigo quer saber 0 que voc? tem a dizer, ¢ nao 0 que dizem outros autores. Sé cite em caso de fra- ses lapidates ¢ de autores consagrados, ou de afir- magées que voc’ pretende confirmar ou desafiar diretamente com a sua pesquisa, Raramente use a 4“ transcrigio de trecho de outro autor apenas para apoiar sua ideia ou exposigfo, ¢ nunca o faga para repetit 0 que voct disse. Apresente preferencialmen- te as ideias xassdo com suas proprias palavras (pardfrase) e depois dé 0 crédito devido aos auto- res que voce esti usando. Lembre-se que usar pala- vas trechos entre aspas obriga voct a mencionar a pagina onde clas constam. A mesma observagao vale quando vocé usa as falas de pessoas entrevistadas ou consultadas — as vezes é melhor usar suas préprias palavras do que copiar literalmente as palavras dos informantes. E legitimo, por exemplo, escrever “o *X° no acredita que © programa gover- namental ‘Y’ alcance os resultados esperados’, sem necessatiamente transcrever as palavras exatas usa- entrevistad das pelo entievistado, 7. Sempre que uma ideia nova surgir no texto mencione autores/textos que j4 wataram dela, No entanto, nio é preciso citar trechos esctitos por cles, nem colocar os seus nomes na abercura dos parigra- fos. 8. Use ao miximo referencias a artigos recentes publicados em periédicos. O uso de documentos “chapa-branca” (relatérios e planos governamentais, anais de eventos, tratados, acordos, convengées, grandes sinteses ete.) pode ajudar, mas nao deve ser procminente nem excessivo. E vilido e mesmo cnri- quecedor citar artigos publicados na revista & qual voc’ pretende submeter o seu artigo, pois mostra 45 aos editotes ¢ aos pareceristas que voc€ conhece periédico e alguns dos autores ¢ temas que aparecem nas suas paginas. Além disso, é um fator que pesa indirctamente no humor do editor da revista, pois, para ele, publicar artigos que citam outros artigos da sua revista ajuda a aumentar 0 fator de impacto da 9. Citar a si préprio moderadamente ¢ vilido, sas apenas nos casos de trabalhos publicados. Evite ‘narcisismos” como “de acordo com a minha aborda- gem texto tal...” etc. 10. O titulo nao pode ser um resuumo do traba~ Iho, Deve ser curto ¢ instigante, capaz de despertar a curiosidade do leitor, dando, no entanto, ideia clara sobre 0 contetido do artigo. Para desencorajartitulos que mais parecem resumos, algumas revistas colo- cam um limite ndximo no ntimero de caractcres ow palavras que podem constar deles. Em alguns casos, pode ser dividido em dois — 0 primeiro, ‘mais de “fantasia”, 0 segundo mais rigoroso. Exem- plo: Em busca do traballo: estudo sobre os egresos da Escola Técnica de Cajazeinas (PB), 1980-2000. o cin Evitar a falacia da construcgao do espantalho (strawman) Um ti temente ctiticada por pareceristas ¢ editores de de argumentagio falaciosa, frequen- 46 revistas (e quase sempre motivo de rejeigio de textos avaliados), tem em inglés 0 curioso apeli- do de the strawman argument. f 0 nome dado a tum procedimento (fecorrente, mas nem. sempre proposital) do autor de um texto quando cle cons- trdi de forma simplista ou até defeituosamente a argumentacio c/ou a hipétese elou os achados dos autotes que planeja criticar. Sirawman em inglés ‘um beneco mam- quer dizer espantalho - ou s¢ embe, construfdo as pressas, improvisadamente, com roupas velhas, Quando um autor é acusado de incorrer nessa pritica, significa que 0 avalia- dor ou editor o acusa de construir algo de modo a facilitar a critica ow a refutagio. Isso ¢ visto como manifestagio de incompeténcia ou preguiga do autor. Pode até ser que a pesquisa do autor de fato coloque em xeque 0s autores/trabalhos comenta- dos, mas um editor ou parecerista exigente poderé ignorar isso se considerar que o autor fez uma apre- ciagio mambembe desses trabalhos, tal como faria . Assim, quando voot entrar em rota ‘com outros autores, capriche na expo- de pol sigéo dos trabalhos que vai crticar, Nao construa espantalhos... Cuidados com artigos direcionados para leitores nao brasileiros ou ndo iniciados Se o seu artigo for submetido a uma revista internacional, atengio: aspectos particulares, nor- malmente evidentes para brasilcires, nem sempre 47 0 sio para estrangeiros. Nesse caso, € cx rit no texto explicagdes sintéticas sobre instit politicas, fatos © personalidades citados. Isso pode ser feito em notas de rodapé ou entre parénteses. Esse cuidado vale também para siglas de agéncias, <érgios governamentais, ONGs, empresas etc. Sighas 36 dever ser usadas depois de os nomes por extenso terem constado no texto. ‘Traducées Se vocé escolher uma revista estrangeira para submeter o seu artigo, dificilmente ele ser& con- siderado se estiver em portugués. Ou seja, se voce nao escreve bem na Kingua ou Iinguas adotada(s) na revista, a stia escolha leva & obrigatotiedade de providenciar a tradugio, Nao recorra a softwares de tradugio, pois eles quase sempre geram crros gros- seiros. Voct deve contratar um tradutor profissio- nal, que a principio seré pago por vocé mesmo. No entanto, existem departamentos, programas € pro- jetos de pesquisa que reservam recursos para finan- cat a tradugio de textos a serem publicados em outras linguas. Em qualquer situagao, 0 texto deve estar redigido de maneira impecdvel, sob risco de recusa, mesmo que seu contetido seja relevante. Autorizagées para uso de referéncias ‘Algumas revistas cientificas exigem a anuéncia por escrito dos autores efou dos detentores de direi- 48 108 autorais das obras cujos trechos sio citados. Para evitar o grande trabalho que isso geralmente acarre- ta, voc? pode: + evitar citar trechos, escrever com parifrases (isso nao significa excluir as obras nas referén- is); ow + evitar submneter o seu artigo a revistas que fa- em essas exigéncias. Como lidar com os pareceres Vocé nio € obrigado a aceitar tudo que os pare- ceres recomendam, mas € aconselhivel que respon- da a todos os pontos que eles levantam, mesmo que para justificar por que néo accitou uma ou outra recomendagio. © ideal, qua corganizar um “relacéri muitas recomendagées, € da revisio, no qual voce apresenta, em duas colunas, 0 que foi pedide ¢ que providéncia tomou (ou no tomou). Com isso, © editor pode visualizar tudo que foi feito e optar pot devolver aos parecetistas ou decidir diretamente pela aprovacio. Dai a importancia de mostrar as mudan- «as feitas, Faca tudo que puder para evitar 0 tisco de seu texto revisado voltar aos pareceristas, sobrerudo por- que podem ocorter atrasos. Nao € normal nem frequente, mas se o edi- tor mandar 0 texto para novos parcceristas ~ ¢ se estes pedirem novas mudangas ~ voc® deve rea- 49 git, comunicando que isso foge a ética do peer review. Outros tipos de publicacao cientifica Conforme assinalado, revistas cientificas fre- {quentemente aceitam outros tipos de texto que niio 0s artigos “ortodoxos” — aqueles que apresentam resultados de pesquisa. Embora esses artigos de pes- quisa sejam as “joias da coroa”, muitas revistas tém ta de aceitar a submissio de textos + artigos de revisio de literatura — urn autor reve ctiticamente um corpo de literatura selecionado de acordo com algum critério — publicagées recentes, temas especificos, uso-de novos conceitos ¢ teorias, aplicagio de novas metodologias, uso de novos da- dos etc. ele nfo se obriga a fazer uma pesquisa de campo, ou 0 seu “campo” € 0 conjunto dos textos jvérios ado- selecionados em fungio de um dos tados; espera-se, no entanto, que a leitura critica extraia alguma perspectiva que ajude no desenvol- vimento daquele campo de estudoss + notas tebricas ou metodolégicas— umn autor discu- te quest6es de teoria e méwodo pertinentes ao campo iginais de pesquisa, mas abrindo novas perspectivas de es- tudo ou sugerindo novos caminhos metodolégicos temitico da revista sem relatar resultados ‘ou teéricos; 50 + resenhas (ver 0 Capitulo 2); + notas sobre fontes — wen autor d& noticias sobre novas fontes de dados pertinentes a pesquisas dentro do campo temitico da revista. Mesmo um autor novato pode conseguir espa- ‘go numa boa revista se submeter bons textos desses De toda forma, é sempre preciso conferit a politica editorial da revista para verificar os tipos por exemplo, s6 accitam publicar resenhas solici- tadas pelos editores, que fazer convites pessoais a resenhistas potenciais. Hé casos em que 0 editor publica na revisea uma lista de livros que considera resenhaveis ¢ solicita que os interessados em rese- nhi-los para nvimeros faturos se manifestem. 51 2 ROTEIRO PARA ESCREVER UMA RESENHA CRATICA Ree. Generalidades “Um tipo de texto que tem ampla acolhida em revistas cientificas é a resenha. Escrever uma resenha € uma boa maneira de um profissional jover ou ain- da em formagao inserir o seu nome numa revista de projecdo, No entanto, a nfo ser que haja um convite especifico ou uma sondagem, uma resenha nao deve ser plancjada, ¢ muito menos escrita espontanea- mente, antes que o resenhista se certifique de que cla poderd scr submetida para avaliasio pela revista. ‘Algumas revistas publicam exclusivamente resenhas encomendacas. Os editores de revistas importantes geralmen- te recebem diretamente das edicoras exemplares de divulgacéo de livros novos, como um estimulo & publicacio de resenhas que ajudem a divulgar as obras. Os convites para escrever resenhas geral- mente incluem 0 envio do exemplar para o rese- ista, que fica com cle depois de a resenha ter sido escrita, Rescnhas sio feitas geralmente sobre 53 SEM produgées novas (recém-langadas ou langadas hé menos de trés ou quatro anos). Reedigdes recentes de produgées cléssicas ou edig6es criticas de obras antigas podem também merecer resenhas. Livros antigos ¢ os que no prometem ter grande reper- cussio no campo da revista raramente sio objetos de resenhas. £ bom lembrar que publicar uma resenha tem avaliagéo do curriculo e da carteira de um profissional do que um artigo, um capitu- menos peso lo de livro ou um livro. A resenha é apenas um comentirio curto ¢ desejavelmente informative sobre uma produgio alheia, ¢ nun- ca uma produgio baseada em pesquisa original. Enquanto a produgéo resenhada pode ter exigido titos meses ou mesmo anos de trabalho, um rese- nhista experiente gasta apenas algumas dezenas de horas lendo o original ¢ outras poucas horas redi- gindo a resenha. © resenhista tem a respons com cuidado a obra resenhada, pois 0 que ele tenha feito uma leicura atenta ¢ completa. Durante a leitura, ele deve farer anotagbes ¢ até selecionar trechos que poderiio ser citados ou para~ fraseados na hora de escrever a resenha, Ou seja, a leitura de um livro com o fim de escrever uma resenha no deve ser feita casualmente, mas com muito cuidado, ‘Apresentamos a seguir algumas definigées e da, 0s componentes de uma boa resenha, na forma 54 de um roteiro, que nao precisa ser seguido rigida- mente. Resenhas: 0 que so € 0 que nao sio é um tipo de texto de ampla circulagéo na vida académica e cientifica. Rese- has permitem que cada pesquisador gaste menos tempo para se manter informado sobre a | tura pertinente ao seu campo ¢ a sua temé especialmente os t{tulos novos. Uma resenha tica € uma forma, entre outras, de comentar por esctito um texto lido e de divulgar esse comen- tirio. Uma resenha pode ser feita também sobre DVDs, filmes, softwares e sites. As resenhas podem ser escritas também sobre mais de uma produgao ~ as obras recentes de um autor importante, ou tum grupo de obras recentes sobre um assunto marcante ou emergente. Em inglés esse tipo de resenha ganha 0 nome de review essay (ensaio de resenhas). Para que serve? Uma resenha critica serve principalmente +a) uma comunicagio concisa, bem organizada, personalizada e facil de ler sobre um texto, ¢ *'b) uma “recomendagio” positiva ou negati- va sobre ele. Fla deve ser capaz de ajudar um publico poten almente interessado no assunte principal da obra resenhada a se decidir pela sua leitura ou nfo leitura ‘Uma resenha pode ter ainda pelo menos dois outros tusos priticos: + c) como um texto acabado, pode ser apresen- tado como um trabalho numa disciplina ou como texto a ser submetido a uma revista cientifica ou & imprensa, € « d) varias resenhas, se focalizadas sobre obras igadas entre sie se devidamente “entrosadas” entre . podem compor um'texto mais extenso (mono- graf, relat6rio de pesquisa, ou mesmo um capieulo de revisio da literatura de uma dissertagio ow tese), guardando parentesco com o que acima chamamos de review essay. ‘As sugestoes deste roteiro servem principalmen- te para fazer resenhas com as inalidades b) € ©) O que nao & ‘A tesenha critica ¢ diferente de: «+ um resume, que é muito mais conciso e ¢ escri- to de forma “neutra’, para o leitor mais “genético” possivel: «+ um ensaio, em que o resenhista discorre mais extensamente sobre o assunto do texto e/ou sobre a ‘obra do autor. Evidentemente, isso exige que 0 Fe- senhista conhega € comente outtas obras do mesmo autor e de autores afins; 86 + um comentdrio téenico especializads, ditigido apenas a quem jé conheca muito bem 0 texto, 0 au- tor ea sua temética. A resenha critica pode diset da obra, mas deve fazé-lo de forma a nao nar o interesse do leitor que desconhece os deba- tes teéricos e metodolégicos mais sofisticados em fico, Outro decal importante é que uma resenha nio deve ser escri- a parte técnica seu respectivo campo ta. com a intencéo de substituir a leitura do texto resenhado. Qual a sua forma? ‘A tesenha, medida em mimero de pardgrafos, deve ter cerca de seis a oito. Medida e linhas, deve ter ndo menos de 45 ¢ nao mais que 90 (entre duas tds laudas), Muitas revistas cientficas boas, no jitam resenhas a uma faixa entre 800 entanto, li (mais comum) ¢ 1.200 (mais raro) palavras. Uma tesenha tem de oferecer, em espago bem curto, rradas de informacio, andlise ¢ opinio. A concisio é portanto, uma virtude necessiria aos resenhistas. Para quem deve ser escrita? Uma resenha critica a ser publicada numa revista cientifica deve ser escrita para um leitor “imagind nao tem obrigagio de saber muito sobre 0 texto, ¢ desconhecide que, em principio, 0 aucor ou os assuntos eratados, mas que pode ou 97 eressar por cle. O resenhista deve deve vir a sei supor que haja entre os leitores potenciais da sua resenha pessoas muito bem informadas sobre 0 livro © © autor, mas a resenha no deve ser escrita apenas ou mesmo principalmente para elas. Deve, por isso, evitar uma apreciagio demasiadamente resumida ou técnica, voltada s6 para iniciados no assunto. O ideal € abrir 0 leque de informa- 40 e anilise sobre o texto resenhado, de forma a ganhar o interesse dos menos iniciados ou menos O roteiro Tendo isso tudo em mente, sugere-se 0 roteiro abaixo para orientar a escrita de resenhas. tante notar trés pontos prévios, \por- * 08 titulos dos itens do roteiro abaixo (como “dados sobre 0 autor") ndo devem constar do texto dares cortido, sem interrupgées ou subtitulos; * virios itens podem e até devem ser “cumpri- dos” na mesma sentenga ou no mesmo parigrafos ¢ a; a resenha deve ser escrita como um texto seguir a ordem dos itens do roteiro, mas essa ordem, pode ser mudada se o autor considerar que a feitura ficard mais ficil ¢ interessante. 1, A resenha comesa com a referéncia biblio- grifica completa do texto resenhado: autor, titulo 58 completo, local, editora, data da edigao utilizada, igdo, mimero de p: fo original (quando for 0 caso), t € nome do tradutor (quando for obra estrangei- 1a). Devem ser acrescentados em seguida informes sobre componentes especiais do livro, tais como “mapas”, “bibliografia’, “indice tragdes” ete. (nos casos de DVDs ou filmes, cabem outras informagoes, como tipo de formatagio, “colorido” ou “preto e branco”, tempo de duracéo, idioma, legendas). Hoje em dia os livros séo qua- se sempre publicados com um mimero de referén- cia do sistema ISBN. Esse ntimero deve constar no fim da referéncia, pois ow a sua localizagio em bil informatizadas ¢ em sites de livrarias. E recomendé- cuir ainda o prego de capa do livro, quando ponivel, A referéncia deve aparecer no alto da ntimero da ta a compra do livro jotecas e até em lojas ‘nfo so contadas para fins de obediéncia ao li miximo de palavras. 2. Logo abaixo da referés tfeulo da resenha ¢ o nome do resenhista, O tit Jo é dado pelo resenhista. Algumas revistas exigem ticulos, outras profbem, outras ainda nio se pro- nunciam, Em seguida, vem 0 primeito parigrafo da resenha, que deve ind autor: formagio, nacionalidade, profissio, vincule pode entrar 0 ir dados breves sobre 0 59 institucional, outros livros esctitos, idade ou época ‘em que viveu; no caso de resenba de uma coletinea de textos de varios autores, convém dar uma idei da origem da obra (trabalho conjunto de um gru- po de pesquisa, textos apresentados num congresso }; devern constar dados mais detalhados sobre 0(¢) organizador(es) e dados apenas sintéticos sobre os autores dos capitulos. Nem sempre essas infor- et magées estario imediatamente disponiveis no livro resenhado, No entanto, elas valorizam a resenha ¢ por isso 0 autor deve se esforgar para obté-las, prin- cipalmente em sites confidveis da Internet. 3. Em seguida, o leitor deve ficar sabendo exa- tamente qual 0 género da obra: ficcio (romance, poesia, contos etc), ensaio, tese académica, memé- rias, biografia,relato pessoal, texto cientifico, enszio, coletinea de textos de um autor ou de varios autores € assim por diante, Cabe destacar se a obra é uma reedicio, ou se é tradugio de alguma obra famosa em outros paises. Em alguns casos, é importante infor- mar se 0 texto da sequéncia a outra obra importante do mesmo autor, ou se tem relagio diteta (polé cca com, resposta a) com um texto muito conhecido escrito por outro autor. 4, Depois desses dados mais “objetivas”, a rese- ha deve trazer informag6es sobre 0 contetido € a intengo/objetivo da obra: assunto(s) principal(is), posigdes ou teses centrais etc,, ou, no caso de fic- ¢fo, 0 tema, a linguagem usada, a época retratada, oo 0s principais personagens etc. Se for 0 caso, poder ser incluidas mengées & “linhagem” di ar do texto ~ *histéria das mentalidad ‘antropolo- gia politica”, “sociologia quantitativa’, “ciéncias ambientais”, “ecologia de comunidades” etc. ea influéncias admitidas pelo autor e/ou identificadas pelo resenhista 5. Em seguida, a resenha deve explicar os de anilises, s ¢ informagées em que bascou 0 texto: centrevistas, questiond- 10s, de artigos, de jornais meios e recursos usados pelo autor, ou onde ele tirou e como usou os ma opi viagens, meméria, opi is, rios, leitura de outros ‘ou de documentos primérios, surveys de opiniio piblica, pesquisa de campo, dados estatisticos, ridio, TV, cinema, biografias de pessoas conheci- das ou desconhecidas, vivéncia pessoal etc. Nesse item devem constar ainda comentitios sobre os métodos e procedimentos cientificos ou de cria- ‘ao artistica, © resenhista deve concentrar nesses trés tiltimos itens tudo 0 que tem para informar “neutramente” sobre a obra, 6. Colocados esses pontos, a resenha deve che- gar 2 apreciagio sobre os méritos ¢ problemas do texto, Essa apreciagio deve ser baseada em argu- mentos construidos exclusivamente a partir da lei- tura do prdprio resenhista ~ no é apropriado usar as opiniées de outros comentasistas da obra. Nin- guém vai ler a sua resenha para deseobrit 0 que um terceiro autor pensa da obra. £ crucial, neste item, enfatizar 0 que 0 autor de fato fez ou tentou fazer de acordo com os seus objetivos, ¢ néo os pontos que ele “poderia” ou “deveria’ tex feito de acordo com a preferéncia do resenhista. Tiechos breves da ‘obra podem ser transcritos (com informagio sobre as paginas em que aparecem). Se for necessétio citar outra obra do autor ou uma obra de outro autor, colocar em nota de pé de pagina ou de final de texto a referéncia da obra mencionada, 7. Feito isso, a resenha deve destacar clara e sucintamente a contribuigio ou a importincia do livro dentro do seu género ¢ tema, com base no conjunto de argumentos expostos nos parigra- fos anteriores. Fa hora de o resenhista fazer 0 seu balango dos aspects positivos ¢ negativos da obra ¢ dar ao leitor o seu parecer, que pode ser positive ou negativo, ou intermediario entre esses extremos. legftimo recomendar um bom livro que contenha ou nfo recomendar um livro “fraco” que contenha “pontos fortes”, desde que o resenhista 1 sobre a sua posigio ambivalente, resenhista nio deve se sentir obrigado a elogiar, nem constrangido por criticar. Ao contrdtio do que se pode pensar, um resenhista nfo precisa ter per- missio do autor ou da editora da obra resenhada para escrever a resenha. 8. Um tiltimo componente, fac sentar um perfil dos leitores que o resenhista consi- informe o vo, € apre- 62 dera serem os maiores interessados no livro — “ado- lescentes”, “profissionais do en: ativistas’, “estudantes de graduacio”, “gestores de politicas puiblicas”, “leitores de livros de viagem” ete, 3 TEeses TESES, DISSERTAGOES, MONOGRAFIAS E PROJETOS Esta sego apresenta algumas sugestbes de card- ter geral a respeito do planejamento, da pesquisa ¢ da redagio de trabalhos finais de cursos de pés-gra- duagio ~ principalmente teses de doutorado € dis- sertagées de mestrado, e secundariamente monogra- fias de especializagio. No Brasil, como mencionado, s6 de teses € dissertagées novas, so defen torno de 40 mil por ano, configurando uma par- cela importante ¢ escratégica da produgio cientifi- ca nacional. Muitos programas de pés-graduagio

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