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2016v22n1p07
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RESUMO: O presente artigo é fruto da mesa redonda “Base Nacional Comum
Curricular”, realizada na abertura da III Jornada Paranaense PIBID/PET de História,
na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no dia 27 de novembro de 2015. O
debate teve por objetivo contextualizar o processo de discussão da Base Nacional e
tecer considerações a respeito do texto preliminar apresentado ao público em
setembro de 2015. O texto preliminar, neste artigo e na mesa redonda, foi analisado
do ponto de vista da seleção de conteúdos, da progressão, dos conceitos e da
concepção de aprendizagem, buscando reforçar o papel do Ensino de História como
mediador semiótico dos juízos morais que, situados socioculturalmente, orientam as
ações humanas no mundo.
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ABSTRACT: The current paper is the result of a debate between field researchers
which is named “National General Curricular Basis” that happened in the III Paraná’s
History Journey PIBID/PET opening in the Universidade Estadual de Londrina (UEL)
on November 27 2015. The debate aimed to contextualize the discussion process of
the National Basis and weave thoughts about the previous text presented to the
public in September 2015. The previous text was analyzed in this paper and in the
debate from the point of view of content selection, progression, concepts and learning
conception, whose search reinforces the role of History Teaching as a semiotic
intermediate of moral judgments that guide the human actions in the world when
socioculturally situated.
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2 Mais tarde, participou também, como assessor, Pedro Paulo de Abreu Funari, então professor do
Departamento de História da UNESP, campus Assis.
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Do Movimento pela Base Nacional Comum participam a Fundação Lemann, o Instituto
Inspirare/Porvir, o Instituto Península, a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Ayrton Senna, o
Instituto Natura, o Instituto Unibanco, personalidades políticas, gestores educacionais que tiveram
grande destaque nos anos 1990, dentre outros sujeitos e instituições. Além do propósito explícito
de melhorar a qualidade da educação e os índices educacionais, dois grandes interesses podem ser
inferidos pelo avançar voraz de um movimento em torno de uma Base Educacional unificada. 1) O
interesse ideológico de se fazer presente nas concepções curriculares que visam formar sujeitos
criativos, com domínio tecnológico, adaptados ao modelo de sociedade global, alicerçada sobre o
consumo incessante de novos bens e ideias; 2) O interesse mais pragmático na unificação curricular
como uma unificação do mercado educacional nacional (e transnacional) para a realização mais
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Os textos de Magnoli e Barbosa, para além do alarmismo predominante, tocam em questões da
temporalidade e da função das disciplinas escolares, temas que tentamos abordar mais adiante
neste artigo.
11 Infelizmente não pudemos participar destes encontros, que envolveram os elaboradores da BNCC,
ocorridos principalmente nos grandes centros. O relato que fazemos é através das repercussões
em textos e manifestos publicados.
12 O debate ideológico raso na imprensa e o confronto entre historiadores ligados à pesquisa do
instituições de ensino. Por isso, pensa-se currículo em História como uma mera
disputa entre temas.
A proposta preliminar estabeleceu os seguintes ‘conteúdos’ anuais:
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mais sólidos no mundo greco-romano e, retomado numa Europa das Luzes, chegou ao ápice
espalhando-se pelo mundo. Em livros didáticos, mesmo propostas críticas ao capitalismo de origem
europeia mantiveram esta estruturação.
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pressão das avaliações externas e seu rol extenso de conteúdos faz com que os
professores tenham que optar entre ‘falar’ sobre tudo e desconsiderar os diversos
processos de recepção e aprendizagem ou selecionar e fazer um trabalho mais
significativo, correndo o risco de ser acusado de não ter cumprido todo o currículo.
Vivemos em uma sociedade com excesso de informação, onde a experiência é cada
vez mais rara, por falta de tempo (BENJAMIN, 1994; BONDÍA, 2002). Se queremos
evitar um trabalho de acumulação de informações efêmeras nas escolas, em favor
de uma aprendizagem significativa, temos que ter uma base que se atenha aos
fundamentos do saber e da aprendizagem histórica.
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16 Para não sobrecarregar o texto com citações da BNCC, utilizamos os códigos adotados pelo
documento do MEC, publicado em PDF
(http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/BNCC-APRESENTACAO.pdf - acessado em
18/01/2016). Em geral, os códigos citados são exemplos pinçados de situações que se repetem ao
longo do documento.
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propõe à criança construir uma concepção crítica das datas comemorativas, meta
que procura enfrentar os meandros da tradição escolar, mas que ficaria melhor
dirigida à formação dos professores.
Na 2ª fase do Ensino Fundamental, a intenção de conhecer medidas
consagradas de tempo se mantém no 6º ano. No 7º ano há um único objetivo cuja
dimensão de aprendizagem temporal nem de longe fica em primeiro plano
(CHHI7FOA08). No 8º e no 9º ano, a enunciação muda novamente. Para o 8º ano
são sete objetivos iniciados por “conhecer e compreender” períodos e processos
históricos. No 9º ano são três direitos iniciados por “reconhecer o século XX
como....” e um “compreender o século XX como...”. No 1º ano do Ensino Médio
retoma-se a temporalidade como contagem do tempo - embora enfatizando a
diferença cultural - e o mesmo objetivo do Ensino Fundamental de crítica às datas
comemorativas. Nas demais séries, a mesma situação de clareza da proposta se
repete, levando o leitor a questionar o porquê daquele objetivo ter sido alocado
nesta rubrica e não nas outras e, da mesma forma, por que outros conteúdos
também não são representações do tempo (CHHI1MOA006; CHHI2MOA021;
CHHI2MOA022; CHHI3MOA041).
Finalmente temos o eixo das “dimensões político-cidadãs”. Embora a ligação
do conhecimento histórico com as questões de identidade e, consequentemente,
com política e cidadania sejam bastante evidentes, esperar-se-ia que um
documento curricular que apresenta um eixo específico para esta área intentasse
deixar ainda mais destacados os valores e posicionamento éticos individuais e
coletivos envolvidos com os estudos dos processos históricos. Esta dimensão
enfatizaria, portanto, a consequência do trabalho com conteúdos substantivos,
conceitos e procedimentos para a relação entre passado, presente e perspectiva
de futuro, iluminando possibilidades de orientação da vida prática. É justamente
neste momento que ficaria mais claro que o estudo de alguns aspectos do passado,
de maneira significativa, em sua relação com a vida do estudante, funciona como
mediador semiótico dos juízos morais que, situados socioculturalmente, orientam
as ações humanas no mundo.
No entanto, não é isto que acontece no texto da BNCC. Na maioria das vezes,
a dimensão político-cidadã é um outro conteúdo, à parte do que se está
trabalhando nas dimensões de pesquisa, tempo e conceitos. Por exemplo, no 3º
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19 Por exemplo, a escolha por eventos traumáticos ou passados dolorosos que significam uma ferida
aberta, não resolvida, no presente. Neste sentido, a base buscou incluir a experiência negativa da
escravidão (indígena e africana), por exemplo, e contrabalançar com a ideia de ‘protagonismo’.
Nos demais “conteúdos”, todavia, não aparenta uma reflexão mais profunda na seleção e na ênfase
do enunciado. Veja-se o caso da última ditadura militar, já negligenciada para o “último minuto do
segundo tempo” nos currículos cronológicos, e muito pouco evidenciada na BNCC.
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