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2011
Para Gracinha,
de todos nós.
Vários momentos de Gracinha: na Primeira
Comunhão, com a irmã Yedda, de tirolesa no
carnaval, no dia de seu casamento, com amigas no
carnaval do Iate Clube, com Bolívar, com afilhado
no colo e com os cinco filhos em La Paz.
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Gracinha com Yedda,
a sua mãe D.Nenem,
cuidando de passarinho,
na varanda da casa
de Cachoeiro, com os
irmãos Rubem e Yedda,
com o neto Rafael, em
San Francisco com sua
filha Ana Maria, na
praia em João Pessoa,
ao lado de seu quadro
e na Ponta do Siri, em
Marataízes.
Família reunida: em
comemoração do aniversário
de Claudio, com os 5 filhos na
casa de Alvaro, com netos na
casa de Beatriz em Guarapari
e com Mariana, a neta caçula.
Apresentação

Parte I As irmãs Coelho ........................................................... 19


Rachel Coelho, minha mãe ...................................... 23
Chico Braga, meu pai .................................................. 25
Caderninho ...................................................................... 27   
Rua 25 de Março, 162 .................................................. 31
Lá em Marataízes ........................................................... 35
Olha lá o Zeppelin ........................................................ 37
Zig Braga ........................................................................... 39
Viagem de trem .............................................................. 41
Férias no Rio de Janeiro .............................................. 43
Casamento com Bolívar .............................................. 45
As primeiras cartas ........................................................ 49
Barriga de asa .................................................................. 53
Franqueza de criança .................................................... 55
Napoentá ........................................................................... 57
Bebeta em La Paz ........................................................... 59
A minha casa .................................................................... 63


Parte II Minha querida mãe ....................................................... 73
Dever de casa .................................................................... 77
Receitas de Dona Gracinha ........................................ 81
Arroz de forno ................................................................... 82
Biscoitos de nata ............................................................. 83
Broa de fubá ..................................................................... 83
Ovos nevados .................................................................. 84
Soufflé de ameixa ........................................................... 84
Torta de nozes ................................................................. 85
A pintura de Anna Graça e sua vivência cultural ..... 87
Minha sogra adorável ................................................... 95
Minha avó é o máximo! e minha bisa é o dobro!! .. 99

Árvore genealógica
A idéia de editar um livro com as histórias que Dona Graci-
nha gosta de contar é bem antiga e deve ter passado pela cabeça
de muita gente. Ouvi Carol dizer que este seria um dos primei-
ros projetos que gostaria de realizar quando se aposentasse. Ela
pensava em fazer um livro com a ajuda dos pequenos da família.
Algo bem alegre e colorido, para as crianças lerem e para as novas
vovós contarem para seus netos.
A coisa ganhou força quando Cláudio achou por bem instalar
um computador na casa de mamãe para que ela pudesse desfrutar
das maravilhas da informática e se distrair com as possibilidades
da internet. Mamãe poderia se valer da intimidade que tinha com
os teclados, adquirida nos tempos em que trabalhou no Cartório
de um irmão.
Vez por outra andei sentando diante do computador com
Pipa na cadeira ao lado, atentíssima. Depois de ajudá-la a respon-
der as mensagens que ela recebe e de abrir os arquivos contendo
coisas engraçadas, imagens bonitas e fotografias de parentes,
tratei de começar a colocar as histórias dela nos arquivos.
Ao assumir a agradável incumbência de redigir alguns dos
seus relatos preferidos, sugeri algumas histórias que a ouvia
contar com grande entusiasmo, como a da vez que foram ver o

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Zepellin passar no céu de Marataízes e das manias de Zig, seu
cachorro que detestava homem fardado.
A vida na fazenda do Frade, as irmãs Coelho que se casaram
com quatro rapazes Costa, as idas de trem ao Rio e acontecimentos
com os filhos pequenos são lembranças que têm força suficiente
para se manterem intactas e presentes por tantos e tantos anos.
Devo dizer que a atenção de mamãe ao que vai sendo escrito
na tela é permanente. Ela não deixa que se escreva uma palavra a
mais e é econômica no uso de adjetivos e redundâncias. Não há
“ç” que fique no lugar de “ss” ou um “s” onde deveria ser “z”. O
texto tem que ser direto e verdadeiro.
Agora no Natal o assunto do livro voltou à pauta familiar.
Bebel atiçou o quanto pôde e Manaira prometeu fazer o projeto
gráfico. Carol ficou satisfeita e lá fui eu mais um pouco puxar pela
memória de mamãe em busca de mais histórias. Achei por bem
pedir que contasse como foi o casamento dela com papai e alguns
fatos vividos com os filhos ainda pequenos.
Não poderia ficar de fora o que consta do caderninho de meu
avô, com o registro das datas de nascimento e morte de parentes,
coisa que ela guarda como relíquia. Ajudaria a tornar acessível
um pedacinho da história da família formada por Chico Braga e
Nenem do Frade.
Diana sugeriu incluir as receitas de doces que a vida inteira
comeu na casa dela, a começar pelos famosos biscoitos de nata
de Vovó Gracinha. Ao tomar conhecimento da empreitada, Ana
Maria confirmou que tinhas as receitas em casa e mandou as mais
famosas, inclusive a da Broa de Milho, cuja casca torradinha ma-
mãe deixava Dr. Edson Moreira, o pediatra de nós todos, comer
todinha, em agradecimento pelas consultas.

No começo do ano passado, pedi a Bebel que desenhasse os

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móveis da casa de mamãe. O texto sobre eles já tínhamos escrito
em duas ou três sentadas, as imagens poderiam reforçar as palavras.
Diana se animou a fotografar alguns quadros pintados por
mamãe, sobretudo o que ela diz ser a sua obra prima, a Casa dos
Braga, onde nasceu e viveu por muitos anos. Depois Cacá fez um
registro fotográfico de seus quadros e objetos de arte.
Neste começo de ano, quando tudo isso aconteceu, Beatriz
estava em Guarapari, com os dedos longe do teclado. Ela me dis-
se que o trabalho que ela fez na faculdade sobre a nossa casa em
Cachoeiro já tinha sido parcialmente aproveitado no livro sobre
tio Rubem. Conseguimos incorporá-lo aqui também. O sobrado
em formato de chalé é uma espécie de troféu de família. Uma
simpática referência para todos nós.
Quando soube do que estava sendo feito, Cláudio lembrou-
se de incluir as cartas do começo do namoro de mamãe com
papai, que estão muito bem guardadas no grande livro de capa
de couro que ela ganhou do marido. Dá gosto de ver o amor dos
dois, bem sei que dá vontade de chorar, de tão bonitas que são
as cartas de um para o outro. Cláudio se dispôs também a falar
dos quadros que ela andou pintando, que estão nas paredes do
apartamento dela e nas casas dos filhos.
Rafael está revisando e atualizando a apresentação de fotos
de mamãe que fez muito sucesso na comemoração dos 85 anos
dela. Vai ajudar a enfeitar a nossa festa. Bebel, por sua vez, tratou
de atualizar a árvore genealógica que havia produzido com Ma-
naira há quatro anos. Como sabemos, as novidades são muitas.
Dos filhos de Dona Gracinha, Afonso é quem tem a memó-
ria mais potente e quem conta as histórias mais antigas. Sendo
assim, seria natural que ele escrevesse alguma coisa sobre a vida
da caçula dos Braga, da mãe de cinco, da avó de 16, da bisavó de
9 e da senhora sempre alegre e jovial que foi adotada definitiva-

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mente por mamíferos e por fãs locais, nacionais e internacionais.
Quando os textos já estavam quase prontos, faltando apenas
retoques e correções, lembrou-se de incluir no livro a contribuição
dos genros e noras, dos netos e bisnetos e de Dona Graça. Mesmo
porque, já tinha gente reclamando, querendo escrever também.
A ajuda de Carol na revisão dos textos foi fundamental e Be-
bel caligrafou os títulos e tudo mais. Trabalhou-se pesado no fim
de semana para que as meninas pudessem editar tudo, cuidar de
fazer uma bela capa e conseguir mandar para a gráfica pelo menos
5 dias antes do dia G, de Gracinha.
Ao ficar decidido que a festa seria no Spírito Jazz, casa de
shows onde a aniversariante sempre vai assistir shows de filho e
de netos, Bento e Murilo resolveram cuidar da produção musical
do evento. O microfone estará aberto para Beatriz, Luiza Amália,
Carol, Dani, Cláudio, Afonso, Bebel e mais quem se aventure a
cantar e fazer Dona Gracinha ter certeza que a família que ela
criou é, de fato, muito animada e musical.
Assim, este pequeno livro é um presente para a nossa querida
aniversariante dos dias 25 de Janeiro desde 1922, um simpático
testemunho de parentesco aos seus descendentes e às pessoas que
fomos agregando ao longo da vida, uma pequena demonstração
de amizade aos seus queridos amigos.
Viva Dona Gracinha!

Alvaro

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empre foi muito bom sentar ao lado
de Dona Gracinha e ficar ouvindo ela
contar histórias, nas quais os personagens
são sempre pessoas amigas e da família,
nos lugares mais variados. Testemunham
uma vida passada ao lado de gente que ela
gosta, que começa na fazenda do avô dela,
percorre cidades do interior e capitais,
aqui e lá fora. Parece que tudo aconteceu
há pouco tempo atrás.
Minha mãe era filha do fazendeiro Joaquim Coelho, dono
da Fazenda do Frade, distante umas duas léguas do centro de
Cachoeiro.
Naquele tempo era comum os fazendeiros contratarem uma
professora para cuidar da educação das crianças, como alfabetizá-
-las e ensinar um pouco de aritmética e prendas domésticas. Mais
tarde eles mandavam os filhos para a cidade a fim de frequenta-
rem uma escola regular. As filhas aprendiam a costurar e a fazer a
roupa dos irmãos menores.
As irmãs Coelho eram seis. Elas eram filhas da minha avó
Jerônima, conhecida por Nominha, e de meu avô Manoel Joa-
quim Coelho.
Rachel, minha mãe, era a mais velha de todas. As outras
eram: tia Meca, tia Adelaide, tia Pequenina, tia Aurora e tia Tutu-
cha, a única que não cheguei a conhecer. Tio Trajano, tio Maneco
e tio Adrião, completavam a família Coelho, que vivia na fazenda
do Frade bem de fronte de uma pedra enorme conhecida por Mãe
do Frade, que fica pertinho das pedras do Frade e da Freira.
O que é interessante é que quatro das moças Coelho se
casaram com quatro irmãos da família Costa, que morava perto
da fazenda do meu avô, nas redondezas de Rio Novo. Eram eles:

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Chico Costa, Alvaro Costa, Luiz Costa e Nhozinho, o mais novo,
que também não cheguei a conhecer.
Minha mãe gostava de contar que quando uma de suas ir-
mãs se casava com um dos irmãos Costa, a outra já começava a
namorar um dos concunhados. Ela comentava o fato, ressaltando
que só ela e tia Meca não se casaram com um Costa. As duas já
deviam estar casadas quando eles apareceram.
Tia Meca, batizada América, casou-se com Manoel Cristó-
vão, um comerciante português e dono da fazenda Boa Esperan-
ça, lá pelas bandas da localidade de Coutinho, por onde passa a
estrada de ferro que vai de Cachoeiro para Carangola, em Minas
Gerais. Meus pais chegaram a morar lá por algum tempo, antes
de virem para Cachoeiro.
Ela teve muitos filhos. As moças se chamavam Margarida,
Laura, Inês, Marta e América, conhecida por Mequinha. Os ho-
mens eram Chico, Pedrinho, Cristovinho e Colombo, ou melhor,
Colombo Cristóvão, isso mesmo: o inverso de Cristóvão Colombo.
Ele era o filho caçula da família e foi o meu grande companheiro
de infância. Era pouco mais velho do que eu e isso facilitou a nossa
amizade. Lembro-me que ele me ensinava muita coisa, inclusive a
jogar bola de gude e a pescar camarão na beira do rio.
Depois de uma briga, que teve até tapas, ficamos de mal por
algum tempo. Mas isso não impediu que, dias depois, ele atraves-
sasse a rua e fosse lá em casa perguntar à minha mãe se eu podia
ir brincar com ele. Eu fui, mas ficamos brincando sem falar um
com o outro, durante bom tempo, até ficarmos de bem outra vez.
Tia Tutucha morreu muito cedo, deixando três filhos. Co-
elhinho, por ser o mais novo, acabou vindo morar na nossa casa
na Rua 25 de Março, onde já morava vovó Nominha depois que
ficou viúva. Ele ficou conosco até se casar com Ismênia, com vinte
e poucos anos.

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Tio Lula foi viver com tia Aurora na Vila de Itapemirim, onde
sempre íamos passear durante as férias em Marataízes. Era uma
casa boa em terreno muito grande, na beira do rio Itapemirim,
onde existia uma jabuticabeira, um pé de jambo e outro de sapoti.
Eles não tiveram filhos, mas adotaram um afilhado, Byron, que
mais tarde veio para Vitória e trabalhou durante um tempo com
meu filho Afonso.
Tio Chico, já casado com tia Adelaide, veio morar em Cacho-
eiro, onde constituiu uma enorme família. Chiquinho, Costinha,
Elza, Lucy, Mahir, Jadir, Wilson, Delfina, Santinha e Glorinha
são os meus primos dessa banda. Santinha foi a minha melhor
amiga de infância e sua única filha foi batizada Anna Graça em
minha homenagem.
Tio Alvaro e tia Pequenina vieram um pouco mais tarde
para Cachoeiro. Também tiveram muitos filhos: Mirtes, Jerôni-
mo, Alvinho, Abigail, Esmeraldina e outros tantos de quem já
não me recordo os nomes.
Tio Adrião, casado com tia Noca, veio morar em Cachoeiro
para os filhos poderem estudar. Eram muitos: Alair, Aracy, Nair,
Constança, Mariinha, Adriãozinho... Tio Trajano e Tio Maneco
ficaram morando em Espírito Santo, um povoado perto da Fa-
zenda do Frade, onde até hoje vivem alguns de seus filhos. Carly,
Carmosina, Carlinhos eram alguns deles. Todos juntos formáva-
mos uma família numerosa, como tantas daquele tempo.

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Sendo a mais velha, a minha mãe ia sempre com o pai a Ca-
choeiro fazer compras. Eles iam a cavalo, numa longa viagem, ela
montada no seu Pensamento. No caminho, sempre paravam na
fazenda de um amigo do meu avô para descansar. Lá havia um ra-
paz que era muito encantado por ela, mas ela nunca demonstrou
interesse por ele.
Quando chegavam a Cachoeiro eles iam direto para o arma-
zém do Sr. Luisinho Pinheiro, que ficava no bairro do Coronel
Borges, para fazer as compras e saber das novidades.
Algumas vezes ela ficava mais uns dias na cidade, a pedido das
primas que gostavam muito da sua companhia. Era a oportunidade
que ela tinha para passear e conviver com pessoas da sua idade.
Em Cachoeiro, onde tinha, além das primas, muitas ami-
gas, Rachel era conhecida por Nenem do Frade. Quando ela
chegava, era sempre motivo para se fazer um baile, para todas
se divertirem.
Anos mais tarde, já idosa e viúva, ela sempre ia visitar as
irmãs Adelaide e Pequenina, que moravam no bairro do Coro-
nel Borges. E dizia: “Estou indo lá no Borges, ver minhas irmãs.”
E quando nós, admiradas, a interpelávamos pela forma como se
referia ao nome do bairro, sem pronunciar o “Coronel”, ela, gaia-

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ta, dizia: “Que Coronel, que nada... Já dancei tanto com o Borges,
quando solteira...”
E foi num desses bailes que ela conheceu o comerciante
Francisco Braga, que havia chegado do Rio de Janeiro para visitar
sua mãe, que morava na cidade. Logo começaram um namoro e
ele não voltou mais para o Rio.
Meu filho Cláudio costuma brincar com essa história, di-
zendo que tudo aparenta ter acontecido, mais ou menos, como
uma inversão da letra do hino da minha terra: “Foi pra Cachoeiro,
pra voltar e não voltou...”. E, também, como uma confirmação de
trechos da letra de outra música famosa nossa: “Morena boa, lá de
Cachoeiro, Rio de Janeiro não tem mulher assim... Eu abandono o
Rio de Janeiro e vou para Cachoeiro de Itapemirim.”
Casaram-se pouco tempo depois e como ele não tinha em-
prego na cidade, foram morar na Fazenda do Frade.

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A bem da verdade, meu pai não tinha o menor conhecimento so-
bre o cultivo da terra nem a criação de animais. Meu avô dizia que
Chico Braga era uma boa pessoa, mas era incapaz de tirar os sapatos
dos pés e andar descalço, tal como as outras pessoas faziam na roça.
Criado no Rio de Janeiro, meu pai havia estudado o bastante
para exercer a função de rábula, o que facilitou muito para arran-
jar trabalho e ficar conhecido como uma pessoa séria, prestativa e
competente. E foi por esse motivo que ele acabou sendo escolhi-
do o primeiro prefeito da cidade e, mais tarde, designado como
tabelião do 1º Ofício.
O Cartório Braga ficava defronte à Escola Técnica, na Rua
25 de Março, logo depois da ponte, instalado numa casa baixa de
duas portas, do lado esquerdo de quem ia lá de casa para a Praça
Jerônimo Monteiro. Era um Cartório pequeno, com talvez dois ou
três funcionários. Na parte de dentro, que eu me lembre, havia uma
espécie de escrivaninha grande onde meu pai, Chico Braga, fazia o
seu trabalho de tabelião, redigindo inventários, escrituras e demais
documentos. Atendia as pessoas e os advogados que frequentavam
o lugar e, por certo, aproveitava as folgas para tratar da política.
Ele passava o dia inteiro lá no cartório, só voltando pra casa
para almoçar e no fim da tarde, depois do expediente. Andava

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lentamente, sem pressa, cumprimentando os conhecidos que
encontrasse pela frente e os que estivessem na janela acompa-
nhando o movimento da rua.
Chegando em casa, ele tirava imediatamente o chapéu e o
paletó e os pendurava no cabide que existia na sala, bem perto da
porta. De colete por cima da camisa ia se sentar na velha cadeira de
balanço, de onde chamava sua filha Yedda para desatar suas botinas.
Nessas condições aguardava o jantar, que era servido por volta das
cinco e meia da tarde. Guardo uma foto dele que registra aquela
cena diária, sentado confortavelmente na sua cadeira de balanço.
Tenho lembrança dos queijos enormes que ele trazia pra casa
e que gostava de repartir com os filhos casados, Armando, Bragui-
nha e Carmosina. Isso era feito durante o café que era servido às
nove horas da noite, quando se reunia a família, para conversar
sobre os acontecimentos do dia. Rosca doce, broa de milho, pão de
sal, papa de milho verde, aipim cozido, batata doce, queijo branco
e queijo do reino, que tinha o formato de uma bola vermelha eram
saboreados com café com leite e, às vezes, com chocolate ou chá.
Assinante de um jornal do Rio de Janeiro, que era diaria-
mente trazido pelo carteiro, meu pai também se mantinha atu-
alizado sobre os fatos importantes da política da capital do país.
Minha mãe, por sua vez, era leitora assídua dos romances em
folhetim que vinham publicados na parte de baixo da página do
jornal. Tinha o hábito de ler e guardar as histórias.
A mesa do café era quase sempre dividida com amigos que
iam lá em casa para jogar baralho com meu pai. Nesse tempo,
na falta de outras diversões, as famílias tinham o costume de se
visitarem por motivo qualquer, geralmente à noite.
Muitas e muitas vezes, vi meu pai sentado na mesa da sala,
escrevendo a mão em livros enormes, possivelmente completan-
do o serviço diário do Cartório.

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Guardo com muito cuidado um pequeno caderninho de
capa de couro pintada com as iniciais de meu pai, verdadeira pre-
ciosidade para a memória da família Braga. As primeiras páginas,
até o registro do meu nascimento em 1922, foram preenchidas
por papai. Mais adiante, eu mesma fiz as demais anotações.
Nele estão indicadas as datas de nascimento e morte dos
filhos do casal. Ele começa no casamento de Franscisco de Car-
valho Braga e com Rachel Coelho Braga, que aconteceu em 14 de
março de 1895.
Em cada uma de suas páginas estão anotados o nome da
criança, a data do nascimento e a data do batizado, seguida do
nome do padrinho e da madrinha. Não falha um.
O primeiro filho, Jerônimo, conhecido por Braguinha, nas-
ceu em 24 de janeiro de 1895. O nome dele deve ter sido uma
homenagem a minha avó, que era chamada de Nominha, apelido
de Jerônima.
Carmosina, que veio a ser minha madrinha, nasceu no dia 4
de fevereiro do último ano do século XIX. Tio Trajano foi quem
a batizou, junto com Anna Marques. Ela morreu com pouco mais
de 30 anos, de complicação pós parto, em 14 de julho de 1929,
para a tristeza de todos nós.

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Armando veio ao mundo em 3 de maio de 1902 e viveu
muito bem até 1975. Ele sempre trazia notas novinhas para pre-
sentear os meninos. De implicância, ele sempre dava em dobro
para Beatriz, que era sua afilhada.
Depois de algumas páginas, o caderninho traz uma in-
formação curiosa: “23 de fevereiro de 1874 nasceu o inocente
Francisco de Carvalho Braga. 3 de março de 1876 nasceu Ra-
chel de Coelho Braga”.
Na página seguinte está escrito que em 1903, no dia 13 de
outubro, nasceu Carlinda e que ela faleceu logo depois, em 3 de
janeiro de 1906.
Lá está dito que Newton nasceu em 24 de abril de 1906 mor-
reu em 1907. É bom que se diga que esse foi o primeiro dos dois
filhos do casal com este nome. O querido Newton Braga, casado
com Isabel e pai de Edson, Marília e Rachel, nasceu bem depois,
em 11 de agosto de 1911, conforme está registrado na sequência
cronológica do nascimento de todos os filhos do casal.
Fica-se sabendo que João nasceu em 6 de março e que mor-
reu poucos dias depois. O curioso é que está dito que foi batizado
em casa como Manoel e na igreja como João. Ali papai escreveu:
“Cremos ser de 8 meses sua gestação”.
Na próxima página está escrito: Rubem nasceu em 12 de
janeiro de 1913. Batizou-se em abril do mesmo ano. Padrinhos
Jerônimo Braga e Carmosina Braga.
Nas páginas seguintes está dito que Francisco nasceu em 1
de abril de 1914 e faleceu em 7 de junho e que Carlinda, a segunda
delas, nasceu em 28 de novembro de 1915 e faleceu em 30 de julho
do ano seguinte. Francisco, o segundo também, nasceu em 18 de
janeiro de 1917 e faleceu em 16 de agosto do mesmo ano.
Logo depois aparece a informação sobre Yedda, que nasceu
em 01 de fevereiro de 1919. Batizou-se em 10 de março de 1921.

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Foram padrinhos Dr. Bernadino Monteiro e D. Inah Monteiro.
Ele era um político importante e grande amigo de papai.
Finalmente, está escrito com a letra de meu pai que Anna
Graça nasceu em 25 de janeiro de 1922. Batizou-se em 27 de fe-
vereiro do mesmo ano. Foram padrinhos Dr. Cleveland Paraíso e
Carmosina Braga Paraíso. Era a estréia da caçula de Chico Braga
e Nenem do Frade.
A próxima página fala do nascimento de meu sobrinho
Lauro e da morte de Carmosina. Na seguinte fica-se sabendo que
Newton formou-se  dia 5 de março de 1932 e Rubem no dia 10 de
janeiro de 1932, ambos em Direito.
Está escrito também que meu pai faleceu no dia 29 de
dezembro 1930. Ele era diabético e ficou muito abalado com a
morte de Carmosina. Registra ainda que “Yedda colou grau em
16 de janeiro de 1934 – professora. Começou a trabalhar neste
mesmo ano”.
A seguir estão as anotações da morte da minha tia Anna
Marques, em 9 de setembro de 1935, de Braguinha em 8 de maio
de 1942, com 55 anos, da minha mãe em 20 de agosto de 1950,
com 74 anos e de tia Graça Guardia em 7 de setembro de 1951,
aos 91 anos.
Anotei as datas de falecimento de meus irmão Newton,
ocorrida em 1 de junho de 1962, com 51 anos, de Armando em
22 de novembro de 1975, com 73 anos, de Rubem em 19 de de-
zembro de 1990, com 77 anos e de Yedda, que ocorreu em 27 de
janeiro de 1998, aos 79 anos.
Para falar a verdade, acho que bobeei por não ter registrado
nas páginas restantes daquele caderninho as datas de nascimento
dos meus cinco filhos: Afonso e Beatriz, Alvaro, Cláudio e Ana
Maria, dos meus 16 netos: Ana Paula, Carlos Guilherme, Ana
Carolina, Marcelo, Márcio, Renato, Murilo, Rafael, Manaira,

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Isabel, Bento, Diana, Fernanda, Bianca, Mariana e Daniel, bem
como dos meus queridos nove bisnetos que já nasceram até hoje:
Victória, Marcelo, Valentina, João Pedro, Luís Felipe, Manu,
Theo, Alice e Leonardo, que nasceu em Genebra e que até agora
só conheço de fotografia.
Poderia também ter anotado o dia em que nasceram os meus
outros oito sobrinhos: Lucinda e Carmosina, filhos de Braguinha
e Lúcia; Armando, Alberto e Andral, filhos de Armando e Perly;
Edson, Marilia e Rachel, filhos de Newton e Isabel; e Roberto,
filho de Rubem e Zorah.
Seria uma boa maneira de reafirmar que a vida continua e
que os descendentes de Chico Braga e Nenem do Frade continu-
am se multiplicando.

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Passados alguns anos e depois de terem nascido vários filhos
na Fazenda do Frade, papai resolveu ir morar em Cachoeiro com
a família em busca de melhores condições para criar a prole. Fo-
ram morar numa pequena casa ao lado do Córrego do Amarelo,
na Rua 25 de Março.
Com a mudança do seu parente Severino Veloso para o Rio,
meu pai comprou a casa que ele havia construído há alguns anos
para viver com a família. Era um sobrado situado num terreno
grande, localizado naquela mesma rua, bem próximo de onde
papai e mamãe moravam com os filhos.
Na parte de cima havia duas salas, quatro quartos, copa,
cozinha e dependências, além de uma varanda comprida. Em
baixo, um grande porão, onde se guardava lenha, ferramentas e
móveis sem uso.  
A casa era fresca, de cômodos amplos, pé direito bem alto,
com piso de tábua corrida e forro de madeira. As portas eram
bem grandes e as janelas tinham vidros e persianas. Como se
usava naquela época, cada cômodo era pintado de uma cor e
havia uma barra com aplicações de flores ou frutas no alto das
paredes das salas.
A entrada principal era feita por um caramanchão, de onde

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partia uma escada para a varanda, junto da tamareira que havia
sido plantada ali.
No outro lado da casa havia um quintal onde um pé de fruta-
-pão dominava o ambiente e fazia muita sombra. Nos fundos, no
alto do morro, ficavam mangueiras, dois pés de abiu roxo e um
enorme cajueiro.
Foi nessa casa que eu nasci e me criei. Morei lá até depois de
casada. Foi nela onde nasceram Alvaro e Cláudio. Os gêmeos, por
prudência, nasceram na Santa Casa. Após morar na Bolívia por
um ano, onde nasceu a caçula Ana Maria, e, depois por mais um
ano na Colômbia, voltamos à casa por uns seis meses até que nos
mudamos para Vitória, em 1957.
Durante muitos e muitos anos, mesmo depois da morte de
meu pai, a nossa casa deu abrigo a parentes vindos da roça para
estudar, tratar da saúde ou passear em Cachoeiro. Sempre havia
alguém hospedado por lá, sendo que alguns ficavam conosco por
longos períodos.
Com a ida de Newton e Rubem para estudar fora, somente
eu e Yedda ficamos morando na casa com minha mãe. A chegada
de um hóspede era sempre bem-vinda, pois ajudava a movimen-
tar a nossa rotina.
Em 1939, Yedda se casou e se mudou para o Rio. No ano se-
guinte eu me casei com Bolívar e ficamos morando lá, com Dona
Nenem e os meninos que foram nascendo.
Com a nossa mudança para Vitória, a casa ficou aos cuida-
dos de Jorge e Bebeta, pessoas da minha grande estima, que nela
moraram com os filhos por uns bons anos. Além de cuidarem
muito bem dela, eles nos hospedavam com alegria sempre que
íamos a Cachoeiro.
Em 1987 a Prefeitura de Cachoeiro decidiu desapropriar o
velho sobrado para nele instalar uma biblioteca pública, o que

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garantiu a sua manutenção e, mais do que isso, um uso nobre pela
população da cidade e por muitos visitantes, curiosos de conhe-
cer a casa onde nasceram meus irmãos Newton e Rubem.
Além de muitos livros, o sobrado abriga, em um de seus
cômodos, um pequeno conjunto de documentos, fotografias,
publicações e objetos da nossa família. É conhecido como a
Casa dos Braga.

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Sei que meu pai foi um dos fundadores de Marataízes, por volta
de 1925. Ele com mais uns três amigos, dentre eles Mário Rezen-
de, foram de trem até a Barra do Itapemirim e de lá seguiram a
cavalo para conhecer uma praia que existia mais ao sul, afamada
por suas águas que faziam bem à saúde.
Lembro muito bem da primeira vez que fomos veranear em
Marataízes e ficamos hospedados numa pequena casa de chão
batido, coberta de palha, como eram as casas dos pescadores. Co-
nhecidos por maratimbas, os moradores do lugar eram pessoas de
pele muito branca queimada de sol, cabelos escuros e lisos, que
falavam de forma cantada, usando termos próprios.
Depois de alguns anos, em 1928, meu pai construiu uma
das primeiras casas de tijolo da cidade. Ela existe até hoje e fica
num terreno de esquina, bem próximo da igrejinha e defronte
para uma pequena praia rodeada de pedras, conhecida por Bacia
das Turcas. A casa tinha uma varanda virada para o mar, uma sala
grande, quatro quartos, além de cozinha e banheiro. O ano de
construção da casa está fixado no alto da parede da frente, como
era costume da época.
Era comum passarem vendedores de frutas e farinha de
mandioca vindos das redondezas. As frutas, quase sempre man-

35
ga, abacaxi, melancia, jaca e banana, vinham em cargueiros no
lombo de éguas guiadas pelo dono, que aproveitava o verão para
vender seus produtos.
O peixe era vendido na praia, à tarde, depois da chegada dos
barcos que haviam saído para a pesca ainda de madrugada. Eram
barcos pequenos tocados a remo e a vela. A gente acompanhava
a volta deles, vendo as velas crescendo no horizonte. A pesca era
farta, os barcos vinham carregados de peroá, pescada, cação e
sarda cavala.
A carne de vaca era rara e só às vezes aparecia alguém ven-
dendo carne de porco e galinha. Peixe fresco era a comida de
todos os dias, podendo ser frito, assado ou cozido. Não se falava
em moqueca nem se conhecia coentro. Lembro-me muito bem
do gosto muito especial do peroá assado, recheado de farofa.
No quintal das casas sempre havia uma cacimba, um poço
de uns quatro metros de fundura, de onde se tirava água com uma
lata amarrada na ponta de uma corda. Mais tarde, foram instala-
das bombas mecânicas, que eram tocadas a mão. Pagava-se uma
pessoa para bater bomba duas ou mais vezes por dia, para encher
a caixa d’água da casa.
Chico Braga aproveitou pouco da casa de Marataízes, pois
faleceu em dezembro de 1930. Ela foi vendida por minha mãe
alguns anos depois e o dinheiro apurado foi de grande utilidade
para nosso sustento.  

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Foi lá pelos idos de 1930. Soubemos, em Cachoeiro, que o
Graf Zeppelin passaria no litoral do Espírito Santo dentro de
alguns dias.
Meu pai, homem bem informado, resolveu nos levar a Mara-
taízes para vê-lo passar.
A viagem era feita de trem e levava três horas. Em Paineiras,
o trem parava para pegar passageiros e a gente aproveitava para
comer uns pasteizinhos que vendiam por lá.
Nessa viagem fomos em cinco, todos na expectativa de ver o
famoso Zeppelin nos céus: papai, mamãe, eu, minha irmã Yedda
e meu primo Coelhinho. Eu devia estar com uns oito anos e Ye-
dda com onze.
Fomos preparados para passar uns três dias por lá, já que não
sabíamos a data certa do acontecimento. Ficamos hospedados na
nossa casa, que meu pai havia construído pouco tempo antes.
O Zeppelin viria do sul costeando o litoral, para garantir o
rumo da viagem ao nordeste brasileiro.
Passamos três dias na maior expectativa de vê-lo surgir no
horizonte e nem sinal dele. Meu pai, desapontado, resolveu nos
levar de volta no dia seguinte.
Acordamos bem cedo e fomos para a estação, que ficava

37
bem pertinho da nossa casa.
Lá estávamos nós, esperando para embarcar no trem de
volta para Cachoeiro, quando alguém gritou “olha ele lá! olha ele
lá!”, apontando para a Ponta do Siri, que ficava no final da praia de
Marataízes, bem longe. Era apenas um pequeno ponto escuro no
horizonte, sobre o mar. Mas era mesmo o Zeppelin.
Durante um bom tempo ele foi se aproximando lentamente
de onde nós estávamos, aumentando sempre de tamanho. Desco-
brimos, então, que voava bem devagar.
Enfim lá estava ele sobre as nossas cabeças, nos fazendo
prender a respiração, de tanta emoção. Era um espetáculo muito
além do que alguém poderia supor.
Ele voava bem baixinho, praticamente em silêncio, majes-
toso. Era cinza metálico, brilhante e de grandes proporções, o
que causava um verdadeiro deslumbramento nas pessoas que
estavam ali, de pé, de olhos para o céu.
Voltamos para casa cheios de novidades para contar.
Até hoje aquela imagem maravilhosa não me sai da memória
e muito menos as emoções que senti há mais de oitenta anos.

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Ele veio bem pequeno da casa de Tia Adelaide, irmã de minha
mãe. Foi criado com o maior carinho, até ficar um cachorro enor-
me. Gostava de ficar com a cabeça nas pernas da dona, como que
se lembrando dos tempos em que ficava no colo dela, quando era
ainda bem pequeno.
Ele era um cachorro bem grande de pelo curto e cinza, com
manchas brancas e de uma cor mais escura. Seu nome era Zig.
A sua principal atividade, por puro instinto, era atuar como
vigilante do portão da nossa casa, feito de ferro batido. Gostava
de ficar se refrescando, esparramado no chão de ladrilho hidráu-
lico do caramanchão. Na verdade, acho que ele defendia a casa
da aproximação de vendedores e dos homens fardados, sobretudo
do carteiro, que preferia deixar as correspondências na casa da
vizinha, do outro lado da rua.
Quando avistava o carteiro vindo pela calçada, Zig imedia-
tamente voltava para casa, para evitar a presença do intruso. Isto
depois de conseguir nossa autorização para interromper o passeio.
Dormia debaixo da mesa da copa, ao lado da gata que já vi-
via na casa quando ele chegou. Sempre que a gata dava cria, Zig
suportava em silêncio o convívio com os filhotes, que teimavam
em subir nas suas pernas e no resto do seu corpo. Pacientemente e

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tentando se livrar da companhia dos bichanos, ele pegava um por
um na boca para levá-los, cuidadosamente, para o alto do morro
nos fundos da casa. Para seu desconsolo, a gata trazia todos os
filhotes de volta.
De vez em quando, Zig gostava de dormir na cama do meu
primo Raul, que morava na nossa casa. Raul sempre vinha asso-
biando pela rua. E quando Zig percebia que ele estava chegando
em casa, ia descendo bem devagarzinho da cama, pois sabia que
estava fazendo coisa errada e poderia levar uns tabefes.
Zig era um cachorro exigente. Só aceitava comida muito
bem feita, talvez porque tinha sido acostumado pela dona a
comer angu bem misturado com pequenos pedaços de carne.
Reclamava com mamãe se a comida não estivesse a seu gosto até
que ela tomasse providência para que o angu ficasse bem cozido.
Esperto, sempre que via a minha mãe calçando sapato de salto
para sair, descia as escadas correndo e ficava esperando por ela lá na
beira do portão. Zig gostava de acompanhá-la em suas idas à missa de
domingo, entrando com ela na igreja para deitar-se ao seu lado.
A mim, ele esperava diariamente no portão do Liceu. Para o
desespero de muitas alunas de uniforme igual ao meu, ficava con-
ferindo quem passasse, até me encontrar e começar o caminho de
volta. Era companhia certa quando eu ia ao centro da cidade e até
mesmo quando precisava ir ao dentista. Ficava deitado na porta,
esperando o serviço terminar.
Com tudo isso, Zig era um cachorro muito conhecido pelos
moradores de Cachoeiro e era tido como um animal manso que
gostava de acompanhar seus donos pelas ruas da cidade. Tanto
assim que passou a ser chamado de Zig Braga.
Ele viveu mais de 11 anos, tendo tido morte natural. Está
enterrado na sombra do pé de fruta-pão que existe até hoje no
quintal da nossa casa.
 
40
A viagem de trem entre Vitória e Cachoeiro durava quase
7 horas. Nas terças, quintas e domingos, o trem saía de Vitória às
10h da manhã para chegar no Rio de Janeiro às 8h da manhã do
dia seguinte. Ele passava por Cachoeiro às 4h da tarde e chegava a
Campos dos Goytacazes por volta das 10h da noite, onde se podia
tomar lugar no carro leito.
A cabine de dormir oferecia duas camas em beliche e um
pequeno lavatório com pia e espelho. Era o trem preferido por
quem morasse em Cachoeiro, pela comodidade do horário e o
conforto de poder viajar dormindo. Mas esse luxo custava caro.
Os que não podiam comprar o leito por falta de dinheiro ou
de vaga deveriam se contentar em fazer a viagem inteira sentados
nos bancos estofados do carro comum.
O trem chegava na Estação Barão de Mauá, na região cen-
tral da cidade.
A viagem de volta podia ser feita no mesmo trem, que partia
do Rio às 9h30 da noite, oferecendo também a opção do carro leito.
O trem era a melhor alternativa para se chegar ao Rio de
Janeiro, a Vitória e às cidades do sul de Minas Gerais. As estradas
eram muito ruins e os carros bem desconfortáveis.
Pela estação iam e vinham as pessoas e as novidades. Os

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jornais do Rio chegavam com um dia de atraso, mas chegavam.
Lembro que certa vez minha mãe foi levada para a Capital
para tirar uma espinha de peixe que se prendeu na sua garganta e
que não conseguiram retirar em Cachoeiro, por falta de recursos.
Nem consigo imaginar o ela passou durante tantas horas sacudin-
do naquele trem, que balançava de um lado para outro sem parar.
 

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Antônio Paraíso, irmão de meu cunhado Cleveland, era
advogado e acho que trabalhava na Rádio Maynink Veiga, no
Rio de Janeiro.
Antônio era pessoa muito simpática e com grande roda de
amigos. Gostava de ambientes frequentados por artistas e fun-
cionários de rádio.
Ele era casado com dona Alice, uma professora, grande
amiga da minha irmã Carmosina. Por conta dessa amizade,
numa das nossas idas de férias ao Rio, eu e Yedda nos hospeda-
mos em sua casa na Rua General Rocca, que deve ficar em Vila
Isabel ou na Tijuca.
Me lembro que certa vez ele nos levou para conhecer a Rádio
Maynink Veiga, onde havia um pequeno auditório para umas 20
ou 30 pessoas, no qual se podia ver, através de um grande vidro,
os apresentadores de programas e os artistas cantando ao micro-
fone, sempre acompanhados por um pequeno conjunto.
Para sorte nossa, naquela tarde iria se apresentar Carmem
Miranda, que já era bem famosa. Foi uma alegria poder assistir de
pertinho a Pequena Notável cantar alguns de seus sucessos para
os ouvintes que só podiam escutá-la pelas ondas do rádio.
Como sempre acontecia quando íamos ao Rio, saímos para

43
tomar um lanche na Confeitaria Colombo, que era o lugar mais
elegante e charmoso da cidade. Meu irmão Armando almoçava lá
diariamente, sempre acompanhado de amigos, dentre eles, Chico
Alves, pai do meu amigo Luiz Flores, e Evaldo Gomes, irmão de
Hélio Gomes, grande companheiro de pescaria de Bolívar.
Normalmente a gente ficava hospedada em Vila Isabel – casa
de tia Menara, filha de tia Gracinha e, portanto, sobrinha de vovó
Donana. Acho que Newton, meu irmão, gostava de me chamar
de Donana em sua homenagem.
De lá, arrumadas e muito animadas íamos de ônibus passear
no centro da cidade, onde se podia ir ao cinema, andar pelas calça-
das da Cinelândia e encontrar gente conhecida, sobretudo conter-
râneos que estudavam no Rio, como era comum naquele tempo.
Sempre aproveitávamos para olhar as vitrines e fazer algumas
comprinhas, normalmente sapatos, enfeites, tecidos e chapéus.
Nessa época, as mulheres sempre usavam chapéu para ir ao
Centro da cidade. Para nós, mocinhas de Cachoeiro, aquilo era
uma agradável obrigação. Como na nossa cidade não existia esse
hábito, tínhamos que comprar nossos chapéus tão logo chegásse-
mos ao Rio para que pudessem ser usados durante toda a nossa
permanência por lá.
Certa vez, quando eu e Yedda voltamos das férias no Rio de
Janeiro trazendo os simpáticos chapéus de palha, Zig não resistiu
à tentação de estraçalhar aqueles estranhos objetos. Não adiantou
reclamar nem tentar consertar. Ficamos sem os nossos chapéus.

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Um dia, durante o recreio no pátio do Liceu Muniz Freire, o
diretor, seu Fernando de Abreu, fez sinal pra mim, me chamando
para conversar. Fiquei meio espantada, embora soubesse que ele
tinha comigo uma atenção muito especial. Ele era um homem
tido por todos como muito sisudo e decidido.
Ao chegar perto, ele foi logo me dizendo que era muito
amigo de meu pai, ainda que fossem de políticas diferentes. Em
seguida ele falou com entusiasmo:
– Gracinha, eu gostaria muito que você se casasse com um dos
meus filhos!
Nem me abalei com aquela conversa e fui logo respondendo:
– Ah, não vai dar não, seu Fernando.
– Mas, afinal, por que não, menina?
– Como o senhor bem sabe, seu filho Jesuíno já está noivo de Ge-
geta e Murilo é muito meu amiguinho e companheiro, e ainda muito
novo pra casar.
– Então você se casa com Bolívar!
– Ah, com esse é que não posso mesmo. Ele foi namorado da
minha irmã Yedda!
Que me lembre, aquela nossa conversa acabou por ali mesmo.
Eu tinha 17 anos e estava terminando o curso ginasial.

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Pois bem, um belo dia estava eu trabalhando no cartório
de meu irmão Newton, ali perto da praça Jerônimo Monteiro,
quando vi o seu Fernando porta adentro com uma carta na mão
direita. Ele balançava o envelope como se festejasse um grande
acontecimento.
– Olha aqui, Gracinha, a carta que lhe trago em mãos!
Soube em seguida que ela tinha sido trazida junto com enco-
mendas que Bolívar havia mandado lá do Rio de Janeiro.
A essa altura, o meu namoro com o filho dele já tinha começa-
do, mas ele ainda não sabia de nada. Era coisa muito recente.
Dias antes, voltando de uma visita ao meu afilhado que es-
tava adoentado, deparei-me com Bolívar na rua e fiquei admirada
em ver que ele ainda estava em Cachoeiro.
– Uai, você ainda não foi para o Rio?
Ao ouvir isso, ele perguntou brincando:
– Você queria que eu já tivesse viajado?
Vendo que eu fiquei meio sem graça com seu comentário, ele
disse que tinha um assunto para conversar comigo e que gostaria
de ir lá em casa à noite, se eu concordasse.
Ao chegar em casa, comentei o fato com a minha cunhada Lú-
cia. Ela me falou, com uma cara entre gaiata e maliciosa, que aquilo
era sem dúvida uma demonstração de interesse da parte dele.
Logo após o jantar, Bolívar subiu as escadas e entrou na sala
de estar, para um certo espanto da minha mãe.
Nessa época, meu irmão Braguinha estava doente, aguardan-
do melhorar um pouco para ir para o sanatório em Belo Horizonte,
como era de costume. Como Bolívar estava terminando o curso
de medicina, ele se interessou pelo caso e conversaram bastante.
Para me tirar de casa, Bolívar me chamou para ir com ele até
o bar do Itamar, que ficava ali na cabeça da ponte, para comprar ci-
garro. Achei bom e lá fomos nós caminhando sem pressa pela Rua

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25 de Março, conversando sobre a possibilidade de um namoro.
Ele disse que queria viajar no dia seguinte, já com alguma
coisa começada. Dito e feito. A primeira carta dele chegou daí a uns
três dias. Confesso que eu fiquei muito admirada e bem contente.
Como eu não podia ir ao Rio, a troca de correspondência
foi se intensificando. Vez por outra Bolívar vinha me visitar em
Cachoeiro, aproveitando que ele tinha que ir frequentemente
a Vitória, para inspecionar a realização das provas parciais que
ocorriam nos colégios da cidade.
O namoro foi curto. No Natal daquele mesmo ano, 1939,
ficamos noivos. Nós nos casamos em agosto de 1940. Foi tudo
bem rápido.
Logo depois de casados, ficamos dois meses em Vitória, para
que Bolívar pudesse fazer seu trabalho como inspetor federal de
ensino. Nomeado médico do Centro de Saúde, voltamos para
Cachoeiro e fomos morar com mamãe.
Em 1945 fomos passar uma temporada em São Paulo, onde
Bolívar foi fazer um curso de saúde pública na Escola Paulista de
Medicina, que ele terminou com louvor. Engravidei dos gêmeos
logo que voltamos para Cachoeiro.

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Em 8 de agosto de 1939, escrevi uma carta para Bolívar e, ao
final lhe disse, “guarde estas minhas cartas, meu bom amigo e
um dia eu as tomarei junto das suas para arquivá-las sob o título:
‘Nós’ E estarão sempre guardadas juntas...”
Tempos depois Bolívar me deu de presente um grande livro
de capa de couro azul escuro, onde se pode ler em letras doura-
das: NÓS 1939 - 1940. Tinha as páginas em branco, para que eu
pudesse colar em cada uma delas as cartas que escrevemos nos
primeiros tempos do nosso namoro. Assim foi feito, não só com
as cartas desse período, mas também com toda a correspondência
que trocamos ao longo dos anos. Bolívar viajava muito e naquela
época o telefone era muito ruim.
Lá estão as cartas escritas no Rio de Janeiro, em São Paulo,
Vitória e Cachoeiro e também as de período que Bolívar esteve
nos Estados Unidos. A primeira carta que ele me escreveu é bem
curta e diz o seguinte:

Anna Graça,
Ainda guardo na minha memória as palavras que trocamos
na noite anterior à minha viagem.
Outro não é o meu intento se não cumprir o prometido,
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enviando-te estas poucas linhas. Como disse, será esta lacô-
nica, porém por todas as minhas mais sinceras saudades.
Esperando por noticias tuas, fico em Ubaldino 90, Amaral -14
Segue a assinatura dele, cheia de estilo.
O curioso é que a carta vem em envelope impresso do Cor-
reio, endereçada para:

Senhorinha
Ana Graça Braga
E. Santo
Cachoeiro de Itapemirim

Nada a mais além de um carimbo, onde se pode ler TARDE


e D. FEDERAL, o que faz supor que o carteiro me encontraria
com facilidade. Tratei de responder, rapidamente:

Bolívar,
aproveitando o espaço que tenho agora entre o estudo e a al-
moço, escrevo-lhe esta carta. Faço-o logo hoje porque estarei
ocupada com as matérias mais difíceis que terei por estes dias.
Penso também que será melhor escrever mais cedo, antes que
se dissipe de você alguma lembrança... Não falo por mal,
creia-me, mas não é verdade que fomos tão surpreendidos
pelos nossos sentimentos? e quem sabe se eles são frágeis e se
resistem bem à distância?
Somos tão novos nesse caso que não devemos estranhar o que
possa acontecer, não é mesmo?
Esperei sua carta com ansiedade e certeza. Você me ensinou a
acreditar no que diz, quando fala sério, e eu aprendi.
Ficou comigo o nosso amigo Amiel; foi pena que você não o
levasse, com a capa que preparei com cuidado... Mas não faz

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mal porque assim me fará companhia, aliás ótima.
Mando-lhe daqui, uma grande paz para que você incorpore
no seu espírito; e peço-lhe que me mande dizer como tem
estado seu espírito e como tem resolvido seus “casos”. Não me
negue nada, Bolívar. A sinceridade há de ser sempre o nosso
principal cuidado.
Porque você sabe que esperando qualquer notícia, aqui está,
Anna Graça 25.7.39.

A resposta de Bolívar veio datada de 29.7.939 e recheada


de coisas muito boas de uma moça de 17 anos ler e ficar
entusiasmada.   

Gracinha,
Que carta agradável a tua! Como gostei das suas palavras!
Como soube sentí-las o meu coração! Achei-a tão íntima, tão
comunicativa, tão expressiva e tão cheia de ti mesma, que
tenho medo de não saber respondê-la como merece, embora
seja assim todo o meu querer. Vejamos.
Julgaste então ser preferível escrever-me logo, afim de que não
se dissipasse, não se extinguisse alguma lembrança... que por
ventura ainda existisse em mim? Erraste, Gracinha. De fato,
depressa fomos surpreendidos, fomos traídos pelos nossos sen-
timentos – se assim é bem dito –, porém espero e confio que
saibam eles resistir à distância – que tanto te preocupa – se
nos propusermos a purificá-los com todas as nossas forças e
querer, cultivando-os com o que de melhor existe em nós mes-
mos – sinceridade e lealdade.
Somos novos nesse caso, não estranharei o que nos possa
acontecer, porém podes ter a certeza que sentirei, se acaso não
vir confirmados os meus sonhos em relação a ti.
Grande alegria e satisfação íntima invadiram-me a alma,

51
sabendo da ansiedade e certeza com que esperaste algo da
minha parte; tudo isso decorrente da confiança que já deposi-
tavas em mim, em minhas palavras quando ditas para serem
guardadas e que tão bem soubeste fazê-lo. Não te desapontei
ainda e espero que tal não aconteça nunca, Gracinha.
Felizmente já são terminados os meus casos. Tiveram desfe-
cho mais cedo que o esperado. Já nada mais existe em relação
a eles. Ajudaste-me o quanto pudeste. Confesso não fôra ti,
talvez a estas horas eles ainda existissem. Que sejam eles um
pesadelo como outros no meu sono e que tenham o fim dos de-
mais – o esquecimento. Era o que me cumpria dizer-te. Não
te neguei, não te ocultei nada, Gracinha. Pensei escrever, que-
rida, porém... logo julguei talvez não fosse bem se somos tão
novos nesse caso, se tudo ainda quase que está por começar.
Tenho inveja do nosso Amiel. Ele te faz companhia, aliás óti-
ma. Tenho inveja sim, e porque não dizê-lo? Falo desta forma,
porque talvez não me saísse tão bem quanto ele. Faltam-lhe
os sentidos e portanto não reage nem mesmo quando ferido
no seu amor. Pode ser usado o quanto se queira e posto de
lado quando já nos invade, quando já não nos apetece, sem
que exteriorize o que se passa no seu íntimo, pleno as vezes
de lamentos, lamurias, de dores e sofrimentos. Ouve tudo, vê
tudo, sente tudo calado, quieto, silencioso e sem um ai de re-
pulsa. Não reclama nada para si. Tudo lhe corre bem. Pouco
lhe importa o desprezo e a reprovação. Assim como ouve e o
que se lhe é guardado e reservado.
Consola-me no entanto saber que devido a sua constituição,
a sua situação neste mundo em que vivemos, não poderia
nunca trair-me – por mais que se esforce – olhando para os
teus olhos, para o teu ser; apaixonando-se pelas tuas pala-
vras; pelos teus gestos; procurando sentir em comum as tuas
lágrimas e preocupações; gozando e compartilhando afinal
destas alegrias e do prazer do seu convívio...
Saudades do teu,
Bolívar

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Custei muito a engravidar, embora não evitasse nem
sentisse qualquer sintoma de que havia algum problema mais
sério comigo.
Quando passamos um ano em São Paulo em 1945, tive uma
pequena indisposição que me levou a consultar um ginecologista.
Ele me receitou um tratamento para evitar as hemorragias que eu
estava tendo com alguma frequência nos últimos tempos. Não sei
se foi em função dele, mas o fato é que engravidei pouco depois
que voltamos para Cachoeiro.
Bolívar ficou muito contente e aliviado com a notícia, pois
ele pensava que o problema poderia ser dele, das doenças típicas
dos homens da época.
A gravidez correu muito tranquila, com a barriga crescendo
muito rápido. Apenas uma semana antes do parto, fiz uma radio-
grafia que revelou a existência de duas crianças.
Bolívar quase endoidou. Ele imediatamente comunicou a
novidade para a família e os amigos, debaixo de grande entusias-
mo. Pra quem esperou por um filho durante 6 anos, ganhar dois
de uma só vez era uma festa.
Eu engordei pouquíssimo na gravidez, mas diziam que a
minha barriga tinha asas para os lados. Na verdade, acho que eu

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só conseguia comer aos poucos porque a cabeça de Afonso pres-
sionava o meu estômago o tempo todo.
Beatriz nasceu primeiro e Afonso 5 minutos depois, de pé.
A menina pesava mais de 3 quilos e o menino mais de 3 quilos e
meio. Beatriz era muito tranquila e Afonso já nasceu esfomeado.
Eu tinha que dar de mamar primeiro para Beatriz para então dar
para ele, que mamava esbaforido, com muito apetite.
Ainda estávamos na maternidade da Santa Casa quando
uma conhecida minha, que também tinha tido uma criança
naqueles dias, se ofereceu para dar leite para os meus filhos. Ela
tinha muito leite e o filho dela mamava bem pouco.
Pois bem, resolvi aceitar a oferta e lá se foi o meu Afonso
para mamar nos peitos da moça. Nem bem ele começou a sugar
o leite dela e ouviu-se um grito. Era a minha conhecida que se
assustava com a voracidade do menino, não permitindo que ele
continuasse a mamar.
Não houve outra solução que não fosse completar a mamada
com uma boa mamadeira de leite de vaca, o que resolveu o problema.
A nossa casa estava sempre cheia de visitas. Todo mundo
queria conhecer os gêmeos. A trabalheira de cuidar de duas
crianças pequenas era enorme. Era fralda de morim de algodão
que não acabava mais. Tivemos que reforçar o enxoval.
Bolívar tratou de arranjar um carrinho para levarmos os dois
para passear. Quando mais crescidinhos, eles iam sentadinhos
um de frente para o outro. Eram sempre motivo de atenção por
parte de quem nos visse passar na calçada. Cachoeiro era uma
cidade ainda bem pequena, onde todos se conheciam.
Pouco tempo depois, num desses passeios, encontrei com
um grande amigo do meu pai que, ao me ver grávida novamente,
me disse com a melhor cara deste mundo:
– Gracinha, mas pra que tanta pressa?

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De fato, Alvaro chegou 13 meses depois dos gêmeos. Ele
nasceu lá na nossa casa, na mesma cama e no mesmo quarto em
que eu também nasci, com a ajuda de uma parteira e a assistência
do Dr. Dalton Penedo, médico amigo da família.
Yedda, minha irmã, que não teve filhos, foi quem escolheu
o nome do recém-nascido, inspirada em um rapaz que tinha
conhecido e que a tinha impressionado muito. Ela dizia que era
uma pessoa muito inteligente. Não satisfeita, inventou pro me-
nino o apelido de Zau Zau, talvez por achar que Alvaro fosse um
nome muito sério para um recém-nascido.
O nascimento de mais um filho aumentou o movimento na
nossa casa. Era um corre-corre sem fim. A vantagem é que sempre
tinha a ajuda de boas empregadas. Nesse tempo eu já não podia
contar com o apoio de minha mãe, já muito idosa e meio doentinha.
Minha sogra, dona Cezarina, sempre nos visitava de ma-
nhã. Como morava lá na Praça, ela andava um bom pedaço para
conseguir ver os netos.
Naquele tempo, as pessoas andavam a pé pra cima e pra
baixo, literalmente, acompanhando o nível do rio Itapemirim. A
Ilha da Luz ficava lá em cima e a nossa casa cá embaixo.
– Vou descer, vou dar um pulo lá na casa de Gracinha pra

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ver os meninos dela.
Assim foi também quando Alvaro nasceu.
Posso imaginar que ela deve ter voltado para casa dizendo
que o menino era muito bonitinho. Deve ter repetido isso algu-
mas vezes, a ponto de chamar a atenção de Etelvina, a filha mais
velha de Camila, irmã de Bolívar, que devia estar lá com uns 3 ou
4 anos de idade. Etelvina era esbaforida e muito levada.
A menina fez questão de acompanhar a avó para ir conhecer
o nenem na primeira oportunidade.
Posso imaginar o trabalho que deu para a avó no caminho,
até chegarem lá em casa.
Cheia de curiosidade, Etelvina entrou pela porta da sala e
foi direto para o quarto onde estava o berço de Alvaro. Ela queria
ver a carinha do bebê.
Minha sogra, como sempre fazia, tinha trazido uns biscoi-
tinhos pra mim e, nem bem começamos a conversar, ouvimos
Etelvina gritar lá do quarto, indignada:
– Mas que menino feio, Vovó!!!

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Cláudio nasceu em novembro de 1949, dois anos depois de
Alvaro. Ele veio ao mundo faltando um minuto para a meia noite.
Fiz questão de registrá-lo o dia 8, embora houvesse quem afir-
masse que ele havia nascido nos primeiros minutos do dia 9. Era
uma criança enorme e bem serena.  
Nessa época, Maria Daniel já estava trabalhando lá em casa.
Ela era uma pessoa muito carinhosa com as crianças e dedicou
muita atenção ao Claudinho, como ela o tratava.
O menino foi crescendo sob cuidados especiais da sua babá
que, para fazê-lo dormir, costumava cantar cantigas de ninar,
com ele no colo, sentada na cadeira de balanço de papai.
Um dia, no começo da noite, já taludinho, Cláudio desandou
a chorar. Não havia o que fizesse ele parar com a manha. Como
ele estava começando a falar as primeiras palavras. Soluçando ele
repetia sem parar:
– Tanta napoentá! tanta napoentá! tanta napoentá!
Maria Daniel tentava entender o que o menino queria, sem
qualquer sucesso.
A coisa foi ganhando força. Ninguém sabia o que Cláudio
queria com tanta convicção.
Até que Beatriz, com seus 4 anos, chegou perto deles e disse:

57
– Ele tá querendo que você cante a música do vapor.
Era uma cantiga que dizia:
“A maré encheu e tornou a vazar, chegou a hora do vapor entrar”.
Foi a salvação. Maria Daniel cantou e ele dormiu imediata-
mente. Exausto.  
Além de ainda não falar direito, o menino tinha a língua pre-
sa e trocava o C pelo T. Ficou famosa na família a sua preferência
por “pitolé de tôto temado”.
 

58
Em 1955, Bolívar foi convidado pela Organização Mundial
da Saúde para trabalhar como assessor do Ministro da Saúde da
Bolívia. Foi um fato muito comentado em Cachoeiro.
É que Bolívar era médico sanitarista e construiu e dirigiu
o Centro de Saúde da cidade e muito interessado em questões
de saúde pública. Ele havia passado 3 meses nos Estados Unidos
em 1953, para conhecer instalações de saneamento básico em
cidades do interior. Eu aproveitei e fui me encontrar com ele lá.
Passamos uns 50 dias viajando de um lado para o outro do país,
sempre hospedados em casas de família. Os meninos ficaram
com Angelina e Cristalino, em Guarapari.
O que Bolívar fez em Cachoeiro ganhou repercussão
nacional e deve ter chamado a atenção de pessoas da OMS em
Washington, que o convidaram para trabalhar fora do Brasil. Ele
viajou na frente para arrumar uma casa para a família em La Paz.
Eu, já grávida de Ana Maria, passei a mão nos quatro filhos
e peguei um avião no Rio de Janeiro, que fez escala em Lima, no
Peru, onde nos hospedamos em um hotel muito chique. De lá, no
dia seguinte, voamos para La Paz. Encontrei Bolívar muito ma-
gro e abatido, pois ele sentia muito mais do que outros os efeitos
das alturas bolivianas.

59
Ali por volta do meio de setembro resolvi convidar Bebeta
para passar uns tempos conosco e ajudar a cuidar das crianças
depois do nascimento da menina.
Ela chegou lá no avião do Correio Aéreo Nacional. Acho que
foi Yedda que arranjou um jeito de ela embarcar. Fomos buscá-la
no aeroporto lá no altiplano que existe em torno de La Paz e a
encontramos vestindo uma roupinha muito leve, própria para
quem mora em clima quente.
Tratei de levá-la pra casa e enfiá-la de baixo de muitas cober-
tas depois de alimentá-la com uma sopa bem quente. Ela estava
completamente enrijecida de frio. Aos poucos ela foi recuperan-
do as forças e logo estava mais animadinha e pronta para contar
as novidades lá da terra e histórias de lobisomem para as crianças.
Ela veio trazendo um vidro de pimenta malagueta para Bolívar,
mas quem aproveitou mesmo foram os amigos brasileiros que
iam comer lá em casa.
Bebeta não falava uma palavra de espanhol mas isso, nem
de longe, atrapalhou o entendimento dela com as duas moças
bolivianas que trabalhavam na nossa casa. Ela nem parecia inco-
modada com as diferenças de idioma.
Pouco depois nos mudamos para um apartamento no pri-
meiro andar de um prédio na Praça Isabel La Católica, que ficava
na avenida que ia do centro da cidade para o bairro de Calacoto,
onde sempre íamos passear em casa de amigos brasileiros. A ma-
ternidade ficava do outro lado da praça, bem pertinho.
Ana Maria era uma criança muito saudável, uma bitela,
como diria Dona Cezarina, minha sogra italiana, morreu pouco
depois que chegamos na Bolívia.
Alguns colegas de trabalho de Bolívar e os poucos brasilei-
ros que viviam em La Paz, sobretudo o pessoal de embaixada e da
representação militar, foram me visitar e conhecer a menina que

60
tinha nascido de parto normal.
Bebeta se arrumou toda para levar as crianças para conhece-
rem a irmãzinha. Ao chegar na maternidade ela se deparou com
muitas flores que eu havia recebido das visitas. No quarto ela me
disse que levou o maior susto ao ver tantas flores, chegando mes-
mo a pensar que eu tivesse morrido. Nessa época, lá em Cachoei-
ro, flores em hospital era coisa de despedida e não de boas vindas.
Para deixar a casa mais tranquila, algumas vezes Bebeta
levou os meninos ao cinema e voltava de lá sempre muito cons-
trangida. É que Afonso, sempre moleque, ficava xingando os
piores nomes feios que aprendera, certo de que ninguém estava
entendendo o que ele falava em português.
Bebeta fez grande sucesso com nossos amigos, sobretudo
com o casal Meira Mattos. Certo dia, ela preparou uns biscoitos
fritos, coisa sempre presente na mesa de café dos brasileiros do
interior, e serviu para quem estava lá em casa. Foi um grande
sucesso, visto que todos estavam saudosos do gosto daquele bis-
coito caseiro.

61
Eu morei em muitas casas durante a minha vida. Cada uma
delas tinha suas peculiaridades e eram arrumadas da melhor
forma que se conseguia. Isso de andar de um lado para outro
obrigava a ir deixando coisas para trás e em arranjar outras para
completar o que estivesse faltando.
É nesta minha casa de hoje, meu apartamento aqui em Vitó-
ria, que consegui reunir o maior número de móveis e objetos que
estiveram presentes em diferentes momentos da minha vida. As
peças da mobília contam um pouco da história da minha família.
Elas foram trazidas, aos poucos, de Cachoeiro e do Rio de Janeiro.
Os móveis do meu quarto de dormir foram do quarto dos
meus pais. Os da sala de jantar foram da casa de minha irmã
Carmosina. Do apartamento de minha irmã Yedda eu trouxe
algumas peças avulsas.
Da mobília de quarto dos meus três filhos, tenho comigo a
cômoda, uma mesinha de cabeceira e uma cadeira. Tudo feito em
jacarandá, na oficina de Licínio Moura, em Cachoeiro. As três
camas de solteiro, o guarda roupas, as cadeiras e duas mesinhas
de cabeceira estão na casa de Afonso, nos quartos dos seus filhos
Renato e Murilo.  
Também está comigo a cadeira de balanço que foi de meu pai.

63
Móveis do quarto:
armário, cama, criado
mudo e cômoda.

64
No meu quarto está um guarda-roupa feito em peroba, com
a parte da frente toda em espelho e uma grande porta no centro.
Pequenas tiras em macheteria enfeitam a parte alta, comple-
mentando o detalhe em relevo. Na parte de baixo existem duas
gavetas pequenas nas laterais e um gavetão no centro.
A cama de casal é bem alta, com cabeceira e guarda. Nela
dormiram meus pais, depois eu com minha mãe viúva, depois
eu com Bolívar e, agora, eu sozinha. Nessa cama nasceram meus
filhos Alvaro e Cláudio.
Uma grande penteadeira, com espelho e tampo de mármore
rosa, por certo trazido do estrangeiro, ao lado de uma mesinha
de cabeceira também com tampo da mesma pedra, compõe um
conjunto. Em todas as peças os mesmos detalhes em macheteria.
Esses móveis foram adquiridos por meu pai, pouco antes de
morrer. Estiveram na nossa casa em Cachoeiro até que Beatriz
resolveu trazê-los para Vitória, para mobiliar o quarto da minha
neta Ana Carolina. Eles vieram para cá logo depois que me mu-
dei. Aqui, o meu quarto é bem maior do que o do apartamento
de Alvaro, onde morei depois que saí da nossa casa na Madeira
de Freitas.
Em um dos quartos de hóspedes está uma velha cama de
viúva, em jacarandá bem escuro, que deve ter sido da minha avó
paterna, Donana. Ao lado dela, está a cômoda em jacarandá da
mobília e uma mesinha de cabeceira, que eram do quarto dos
meninos lá da casa de Cachoeiro.
Na sala de jantar fica a mesa de peroba que pode ser usada
com quatro ou seis cadeiras. Um sistema de correr, existente no
centro, permite aumentar em uns 50cm o seu tamanho. As ca-
deiras têm assento de palhinha e espaldar alto, com detalhes em
macheteria. Uma cadeira de formato similar às demais, mas com
encosto em couro, fica à disposição para uso eventual.

65
A cristaleira e o
étagère que compõem
a sala de jantar.

66
Ao lado da mesa, a cristaleira que foi de Carmosina, com
tampo de mármore cinza, duas portas e duas gavetas na parte
de baixo, pé de palito e um pequeno armarinho com laterais e
portas em vidro com desenhos jateados na parte de cima. Um
espelho compõe o fundo do espaço entre o mármore e o fundo
de madeira.
Um étagère de boa altura, também em peroba, tem tampo
em mármore cinza, duas gavetas e duas portas na parte de baixo,
que dão acesso às prateleiras internas. Na moldura do espelho,
duas pequenas prateleiras oferecem a possibilidade de guardar
pratos, pequenos jarros e objetos. É um móvel robusto.
A sapateira em peroba, também da mobília de Carmosina,
é hoje utilizada como lugar para guardar garrafas de bebidas
no canto da sala de estar, onde também estão uma mesinha de
centro e uma outra, mais alta, ambas trazidas do apartamento de
Yedda. De lá também veio uma estante em madeira escura onde
estão guardados os livros de Rubem, Newton e outros autores de
grande estima.
Ao lado de um dos dois sofás, está o criado mudo de uma
portinha e uma gaveta, pertencente à mobília do quarto de ma-
mãe. Serve como mesinha de apoio.
A cadeira de balanço do meu pai está colocada sobre um ta-
pete no canto da sala de estar, bem diante da porta de entrada. Ela
tem o encosto e o assento de palhinha, como nas cadeiras antigas
desse tipo.
Na sala de televisão estão três móveis trazidos da casa de Ye-
dda. Uma mesinha para a tv, um armário escuro com muitas gave-
tas e uma pequena poltrona de pés finos, desenhada por Tenreiro.
A minha máquina de costura foi de mamãe e era usada para
fazer as roupas das crianças. Ela é montada, como era comum, em
um pequeno móvel com 4 gavetas pequenas sobre um pé de ferro.

67
Na parte de baixo, o grande pedal para movimentá-la.
No corredor, uma estante estreita e alta foi trazida da casa de
Yedda. Nela estão outros livros de estimação. Uma outra estante,
bem mais larga e baixa, de fabricação caseira, guarda  os livros de
arte, maiores, e uma coleção encadernada de Machado de Assis,
que me foi dada de presente por Bolívar.
Nas paredes do apartamento estão pinturas que também
ajudam a contar um pouco mais da minha história. Muitos dos
quadros que pintei e que estão na sala de tv, no corredor, na sala
de jantar e nos quartos de hóspedes, mostram aspectos do inte-
rior dos cômodos e das paisagens vistas das diversas janelas das
casas em que vivi e que frequentei. Não sendo propriamente uma
pintora e modéstia à parte, fiquei bem vaidosa quando Rubem
veio me contar que Gabriel García Marques, disse a ele que havia
gostado muito dos meus quadros, que viu no apartamento dele
em Ipanema, onde estava hospedado.
Na sala de visitas estão várias obras trazidas do apartamento
de Yedda. Dentre os quadros a óleo está um retrato de Rubem
com dedicatória de Portinari, ao lado de um desenho de Yedda,
feito por Lasar Segall. Um busto de Yedda, em bronze, feito
por Bruno Giorgi e um retrato a óleo feito por Iza, sua esposa,
completam o conjunto de registros feitos no tempo em que esses
meus dois irmãos conviveram intensamente com aqueles artistas,
no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Sobre a estante, existe uma pequena obra em bronze, na
verdade um estudo da escultura “Os Estudantes”, feita também
por Bruno Giorgi, que fica nos jardins do prédio do MEC, no
Centro do Rio. Ao lado dela, um casal abraçado, feito por Murilo
Miranda e uma escultura de uma mulher segurando os cabelos,
também feita por Bruno.
No corredor estão desenhos de Carybé, feitos durante a via-

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gem que fez com Rubem pelo Espírito Santo, inclusive o original
de um velho sobrado que existia perto da nossa casa, na Rua 25
de Março, em Cachoeiro. Um retrato de Yedda feito por Anita
Malfatti também fica por ali. Crônicas ilustradas de Rubem tam-
bém estão emolduradas nas paredes.
No quarto de costura estão duas serigrafias feitas por Scliar
e uma pequena aquarela feita por Di Cavalcanti. No outro quar-
to, estão um óleo de minha sobrinha Ana Maria e uma outra
serigrafia de Scliar.
Na varanda está uma escultura em bronze de Bruno Giorgi,
que retrata um casal abraçado, que ficava na varanda do aparta-
mento de Yedda.
No meu quarto estão dois desenhos de Clóvis Graciano,
uma aquarela de Bruno Giorgi e um desenho a nanquim, de
Carlos Leão.
Sobre os móveis da sala, muitos objetos de grande estima e
expressão dos  tempos que vivi. Uma pequena jarra francesa trazi-
da da Colômbia é um bom exemplo do que guardo com carinho.
ada um tem um pouco para
dizer sobre a mãe, a sogra, a avó
e a bisavó Gracinha.
O carinho de filho que sempre viveu
bem próximo dela, uma casa como
referência de lugar seguro e acolhedor,
um pouco do que foi ensinado na
cozinha, a admiração pelo seu gosto
por cores pastéis. Ela é uma verdadeira
unanimidade entre os parentes mais
velhos, os que já estão no mundo há
algum tempo e os recém chegados.
Vindos todos dela.   
Que coisa estranha, mamãe!
Eu, o mais velho dos seus cinco filhos – três meninos e
duas meninas, sendo a última, nove anos mais nova do que eu
e a outra, a minha gêmea. Os dois filhos do meio, Alvaro, dois
anos mais velho do que o outro, Cláudio, nasceram no sobrado
da Rua 25 de Março, lá em Cachoeiro de Itapemirim. Portanto,
eu considero serem eles os mais originais do seu berço farto, de
quatro partos e cinco filhos.
Você se casou com meu pai em 1940, na igreja de Nossa
Senhora dos Passos, do outro lado do rio Itapemirim, no dia 8
de agosto... Eu sei, você me contou certa vez, que o seu namoro
com o Bolívar, filho do meio de Fernando e Cezarina foi “sem
querer”. Aluna do Liceu Muniz Freire, ginasiana, você, a caçula
de Chico Braga de Neném do Frade, era muito admirada pelo
diretor do colégio, o Seu Fernando de Abreu, pai de Murilo, Bo-
lívar e Gesuíno e o velho sempre lhe dizia “Gracinha você poderia
se casar com um dos meus filhos?”
Em 1939, um pouco antes, Bolívar estava se formando em
medicina na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janei-
ro, onde ele estava desde 1932.
Quando Yedda se casou com Murilo Miranda na velha

73
Matriz em Cachoeiro, você se sentou entre Genuíno e Bolívar,
para assistir ao casamento da irmã mais velha; de repente Bolívar
lhe perguntou: “Graça, você quer se casar comigo agora?” No que
você lhe respondeu prontamente que sim, ele então se levantou
do banco da igreja e fez que ia ao altar falar com o padre, voltou
e sentou. Assim começou o flerte e o seu futuro  grande amor...
Sei que aconteceu um encontro um dia antes de Bolívar zar-
par para o Rio no trem das quatro... Naquela noite, em sua casa,
você me disse que Bolívar lhe chamou: “Graça, vamos até o Bar
do Itamar comprar cigarro comigo”. Você foi e voltou conversando
com ele na 25 de Março até a sua casa... Ali a conversa dele pegou
você de surpresa, tenho certeza disso...
Aliás, mamãe, em falar em cigarro, já se vão cinquenta anos
que eu fumo sem parar e essa conversa que escrevi acima me deu
uma vontade de fumar o meu Hollywood. Já que estou na Tec-
maran com o Alvaro pensando que me manda, escrevendo estas
palavras soltas no tempo feliz da sua vida, vou sair pra fumar lá
em baixo...
Bem, em 1940, meu pai se casou com a senhora e foram
morar na sua casa, na Rua 25 de Março junto com a minha avó
Neném. Era a Segunda Guerra, Rubem lá ia cobrir para o Diário
Carioca na Itália e deixava Roberto, seu único filho, com vovó e
vocês, que o criaram até mais ou menos 1945, penso eu.
Você e papai ficaram seis anos sem ter filhos e em 1946, no
dia 18 de setembro, correram para a Santa Casa e você deu a luz a
um casal de gêmeos: Beatriz e eu. Daí você fez mais dois meninos,
o Alvaro em 1947 e o Cláudio em 1949, como falei lá em cima
nesse texto. Bem, ainda viria mais uma menina, que nasceria em
La Paz, na Bolívia, em 1955, a Ana Maria, a sua caçula.
A gente estava por lá graças à indicação do meu pai para
nortear as o controles  de endemias em nome da ONU, junto ao

74
Ministério da Saúde da Bolívia e mais tarde na Colômbia, até
1957, quando voltamos para Cachoeiro.
Não posso me esquecer de três fatos importantes acon-
tecidos lá: primeiro, a ida de Bebeta para La Paz no avião do
CAN – Correio Aéreo Nacional; a chegada  do meu primo mais
querido, o Edson da Rocha Braga, também pelo mesmo vôo, nas
mãos do Comandante Guilherme Silva, o “Lélé” e a chegada do
Dr. Adhemar de Barros, fugindo do Brasil. Ele foi parar lá em
casa e comeu feijão preto com carne seca, certamente...
Na Bolívia você ficou amiga da Serrana e do então Major
do Exército Carlos Meira Mattos, adido militar do Brasil na
Bolívia naquela época.
Em 1958 chegamos em Vitória, todos. Tempos depois meu
pai assumiu a Secretaria de Estado da Educação a convite do
Dr. Carlos Lindenberg. Fomos morar na casa da esquina da en-
tão Rua da Árvore, em frente linha do bonde “Centro - Praia do
Canto”, perto do ponto da Praia do Barracão.
Foi assim e, em junho meu pai me mandou subir no telha-
do e amarrar a antena para que pudéssemos ouvir a transmis-
são, pela Rádio Nacional, da Copa vitoriosa de 1958 no rádio
Telefunken da eletrola que havia comprado, que também serviu
de escuta dos discos de jazz e rock and roll, Elvis Presley, Noel,
Ary, Miltinho, Bonfá, João Gilberto, etc.
Ficamos na casa até 1960, quando então meu pai comprou
uma casa na Rua Madeira de Freitas, na Praia do Canto e assim,
fomos criados felizes, iguais, unidosnuma terra que nos acolheu
carinhosamente mas que levou o meu pai para sempre em 5 de
maio de 1962, num dia cheio de sol de outono.
Você, minha mãe, ficou com cinco filhos sendo eu, o seu
mais velho, com 15 anos, junto com Beatriz, seguidos de Al-
varo, Cláudio e a pequena Ana Maria com cinco anos, apenas.

75
Essa história foi contada no meu pequeno livro “Tio Rubem e
nós”, da Editora Contexto, há poucos anos atrás.
Minha mãe, obrigado por tudo, sei que sou aquele que te
deu mais trabalho na infância com muitas febres e pedradas,
mas, que sempre protegeu você e meus irmãos do jeito que me-
lhor podia.
Valeu, minha mãe!
Um grande abraço do seu filho,
Afonso

76
Um dia, minha irmã Ana Maria, Nena para nós da família
e os amigos íntimos, me falou a respeito de um curso novo que
uma faculdade da cidade estava oferecendo e que algumas conhe-
cidas minhas já tinham se inscrito, digo inscrito, sem vestibular!
Tratava-se de “Design de Interiores”, assunto de que sempre gos-
tei. Fiquei entusiasmada, consegui uma vaga e assim me iniciei, já
madura, na vida universitária.
Entre as matérias oferecidas havia uma chamada “Design do
Habitat”. Nos foi pedido como “dever de casa” que escolhêssemos
para descrever algum local que as pessoas frequentassem: merca-
do, casa, hospital, loja, teatro, etc. Formamos um grupo de cinco
alunas, as amigas queridas, e começamos a pensar no assunto para
o trabalho. Várias sugestões dadas, idéias trocadas, eu quieta...
Quando vi que não havia consenso, sugeri o que eu queria muito:
usar como tema a Casa dos Braga, em Cachoeiro de Itapemirim, já
transformada em Centro Cultural, à época. Esta explicação se faz
necessária para a compreensão do texto que se segue*:

Entrevistamos mamãe pra nos dizer um pouco sobre a casa,


sua vida nela, desde pequena até pelos idos anos 50, quando nos
mudamos para Vitória, em 1958.

77
Ao escolhermos o tema de nosso trabalho sobre Habitat,
nós as cinco participantes do grupo, pensamos em várias hipó-
teses. Mas eu tinha, no fundo do coração, uma sugestão a fazer.
Calei-me. Não queria impor a minha vontade. Quando as quatro
colegas estavam quase decididas pela idéia inicial, apresentei a
minha. Aceitaram de bom grado e com entusiasmo. Fiquei feliz e
emocionada por poder transmitir um pouco da história da Casa
da minha família, que é bastante minha também.
Dizem que o amor é cego. Ainda bem. Ao chegarmos lá,
uma mistura de saudade, alegria e de decepção tomou conta de
mim. Encontrei-a mal cuidada e envelhecida. Se pudesse, vol-
taria no tempo e a mostraria bela e acolhedora como guardo na
lembrança. Respirei fundo e entrei. Se demonstrar, fui passando
pelos cômodos com os sentimentos aflorados, fazendo de conta
que era antes...
“... É extraordinário que eu esteja aqui nesta casa, nesta janela,
e ao mesmo tempo é completamente natural e parece que toda a mi-
nha vida fora daqui foi apenas uma excursão confusa e longa; moro
aqui. Na verdade onde posso morar senão em mina casa?...” (Rubem
Braga crônica “Em Cachoeiro” 1947)
Ainda hoje a casa conserva a mesma estrutura. É uma
construção bem ao estilo chalé, elevada do nível da rua com um
porão habitável. A família ocupava o andar de cima, que se alcan-
çava entrando num caramanchão, de onde se sobe 13 degraus,
alcançando então uma varanda estreita e comprida com piso de
ladrilho hidráulico. Existiam duas entradas principais. Uma para
a sala de visitas, que nunca era usada, e outra para a sala de jantar.
Na sala de visitas ficava um grupo de sofás e cadeiras de bra-
ço em jacarandá com o assento e as costas em palhinha. A sala de
jantar, cuja porta dava para a varanda era aberta às 6h da manhã e
só era fechada depois que chegasse a última pessoa da casa.

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Uma cadeira de balanço repousava sob a janela. Havia logo
na entrada um porta-chapéu.
A mesa de jantar era bem grande de madeira escura, com
tantas cadeiras à volta quantas pessoas morassem ali. Havia uma
cristaleira e um relógio de corda na parede, que já existia na casa
quando ela foi comprada.
Existiam três quantos amplos e interligados e mais um que
chamávamos de passagem, que era uma espécie de corredor. O
banheiro era apenas um, com banheira, chuveiro e instalação
sanitária. A cozinha ficava bem nos fundos, antecipada de uma
pequena copa onde havia uma mesa grande para passar roupa a
ferro de brasa. Ai também fica a geladeira que todas as manhãs
era abastecida com uma barra de gelo, vinda num carro puxado a
burro e que chegava enrolada em um pano grosso. Nessa copa ti-
nha uma enorme talha de barro que recebia água de filtro do alto
da parede. Na cozinha havia uma pia com bancada e um fogão a
lenha, com serpentina para esquentar a água do chuveiro.
Fora da casa ficava o tanque de alvenaria, grande, onde eram
lavadas as roupas das crianças, pois a roupa dos adultos e de cama
e mesa eram lavadas pela lavadeira que vinha na segunda feira
bem cedo buscá-las para trazer de volta lá pela quinta-feira, muito
bem passadas e empilhadas com cuidado.
Quando eu tinha uns 7 ou 8 anos, ficamos um período em
Marataízes. Quando chegamos, estava tudo muito bonito! Na
varanda, ao invés das grades de madeiras, luzia agora uma fileira
de balaústres brancos, abaixo do beiral de cimento armado.
A casa por fora estava pintada de verde claro, com janelas e
porta em tons mais escuros. Naquele tempo era usada uma cor
de tinta para cada cômodo da casa e havia também o detalhe das
barras pintadas, acima da linha das portas e janelas. Assim, a sala
de visitas era pintada a óleo, em verde claro e a barra, com uns 30

79
cm de largura, era uma fileira de rosas vermelhas entrelaçadas em
folhas verdes escuras. Os pintores fixavam um papel grosso na
altura da barra todo recortado com o desenho das rosas e das fo-
lhas por cima deles iam pintando pelos vãos, as rosas vermelhas,
muitas rosas e as galhadas verdes.
Na sala de jantar, também pintada a óleo numa cor de ocre,
a barra tinha frutas pintadas: maças, uvas, peras...que bonito. Nos
quartos a modalidade já era outra; lembro-me do quarto de ma-
mãe: era pintado de azul bem claro em tinta comum e por cima
o pintor passava um rolo com pequenos relevos, que ele mergu-
lhava em tinta azul (natiér) e então aparecia uma trama que eu
sempre achei parecido com as casas de abelha, porém um pouco
maior. No alto havia também a barra, com flores azuis e uns ara-
bescos marrons claros. Em contraposição aos detalhes da pintura
das salas e dos quartos, a copa e a cozinha eram tão rudes...
Na copa havia um guarda-comida que era um armário alto
com duas prateleiras onde ficavam as xícaras pendurada em gan-
chos e os pires e os pratos de sobremesa. Na segunda prateleira,
ficavam os pratos e, sempre aí, os bolos e as roscas doces. A porta
do armário tinha tela na altura das prateleiras para conservar os
alimentos; a parte de baixo era fechada, pois aí eram guardadas
as travessas e terrinas.
Na crônica “Os trovões de antigamente” Rubem Braga
escreveu: “Nossa casa era bonita, com varanda, caramanchão e o
jardim grande ladeando a rua. Sim, nossa casa era muito bonita,
verde, com uma tamareira junto à varanda” .
Beatriz
* Extraído do trabalho apresentado na FAESA (Jun/2002).

80
Não me recordo de ter visto mamãe ir à cozinha para, so-
zinha, preparar um almoço de domingo como eu normalmente
costumo fazer em minha casa, pelo simples prazer de reunir os
amigos e parentes. É bem verdade que no passado as donas de
casa tinham uma maior disponibilidade de ajudantes, que traba-
lhavam inclusive aos domingos.
Gosto muito de dizer que a comida da mamãe sempre teve
um gosto suave, com poucos condimentos. Coentro é um tempe-
ro que não participava no preparo das refeições lá em casa. Acho
até que mamãe nunca preparou uma moqueca capixaba.
Já a ouvi contar que tio Rubem levou o Vinícius de Moraes a
Cachoeiro e ela então preparou um arroz de forno com banana da
terra frita que deixou saudade no poeta. Certa vez ela o encontrou
no Rio de Janeiro e ele comentou que aquele arroz servido em
Cachoeiro foi o melhor que já havia comido na vida.
Na verdade, mamãe sempre gostou mesmo é de ir à cozinha
para preparar broa de milho, ovos nevados, além dos clássicos
biscoitinhos de nata que eu, quando criança, adorava comê-los
ainda crus enquanto ajudava a enrolá-los. Esses biscoitos eram
sempre bem guardados (escondidos seria o termo mais correto)
numa lata para acompanhar o cafezinho servido às visitas. Hoje,

81
mamãe mantém os biscoitos a sete chaves, para dar aos netos e
bisnetos que vão na casa dela ou levar quando vai visitar quem
esteja adoentado.
No Natal a tradição era a torta de nozes recheada com ovos
moles. Quando éramos pequenos a torta era deixada sobre a mesa
de jantar, intacta, à espera do Papai Noel.
A sensação, na manhã do dia 25 de dezembro, era conferir
se o velhinho havia comido um pedaço da delícia, pura prova de
que esteve na casa fazendo entrega dos tão esperados presentes.
A torta continua participando das festas de fim de ano, fazendo o
mesmo sucesso de sempre.
Tivemos a Laudelina, carinhosamente apelidada de Ina,
que veio pra nossa a casa de Cachoeiro ainda muito menina, para
ser minha babá e ficou conosco em Vitória até se casar com Luiz
Muller. Ela se tornou uma grande doceira, treinada por mamãe,
naturalmente. Diariamente ela preparava sobremesas para o jan-
tar. Alvaro não perdoava tecendo algum comentário do tipo: esse
doce ficou um pouco mole ou tá doce demais... Hoje posso crer
que os comentários eram pelo simples prazer em chatear nossa
querida Ina, considerando que era ele mesmo o que mais comia
das tais sobremesas. Detalhe: Ina nasceu exatamente no dia do
nascimento de Beatriz e Afonso, o que levava mamãe a afirmar
que os dois, junto com ela, eram seus trigêmeos.
Ana Maria

Tomar umas 3 xícaras de arroz cozido e juntar umas 2 colheres


de manteiga, 2 gemas e ½ xícara de queijo ralado. Misturar
bem. Arrumar em pirex untado e levar para assar. Na hora de
servir cobrir com banana da terra frita.

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1 copo de nata
1 ovo
1 colher (cheia) de manteiga
2 xícaras de açúcar
1 pitada de sal
Polvilho doce (ou araruta) que dê para enrolar. Segundo
Diana, usa-se quase 1kg.
Amassar os biscoitos com um garfo, depois de arrumados no
tabuleiro untado com manteiga e levar para assar.

6 colheres de manteiga
2 xícaras de açúcar
3 gemas
2 xícaras de fubá
1 xícara de trigo
1 xícara de leite
3 claras em neve
2 colheres (rasas) de sopa de pó Royal
1 pitada de sal.
Bater o açúcar com manteiga e gemas. Juntar as farinhas o leite
e por último o pó Royal. Derramar em forma de furo untada e
levar para assar em forno pré aquecido.

83
Bater em neve 3 claras, juntar 2 colheres das de sopa de açúcar
e misturar bem.
Ferver ½ litro de leite com uma pitada de baunilha. Colocar
dentro do leite as claras, às colheradas, virando-as com um
garfo. Quando a clara estiver cozida, tira-se do leite e coloca-se
numa peneira para escorrer.
Bater 3 gemas com 3 colheres (das de sopa) de açúcar, misturar
1 colher das de sobremesa de maisena ou fécula, juntar ao leite
em que foram cozidas as claras e levar ao fogo brando, mexendo
sempre, sem deixar ferver. Colocar um pouco de baunilha neste
creme e quando estiver grosso, derrama-se por cima das claras
que foram arrumadas numa compoteira ou prato côncavo. Pol-
vilhar canela e servir gelado.

Bater 4 gemas com 6 colheres de açúcar, 1 colher de maisena,


1 pitada de baunilha.
Misturar depois 2 copos de leite e levar ao fogo, sempre mexen-
do, e retirar do fogo logo que abrir fervura.
Bater 4 claras como para suspiro e juntar 4 colheres de açúcar.
Fazer um doce com 200 gramas de ameixas sem caroço e depois
de frio picar as ameixas e juntar as claras batidas e, em seguida,
levar ao forno brando em pirex untado. Depois de assado suspi-
ro derramar o creme e colocar na geladeira.

84
Massa:
1/2 kilo de nozes, pesado com casca e tudo
6 ovos
1 colher de farinha de rosca
6 colheres de açúcar bem cheias
Bater as gemas com o açúcar até ficar um creme grosso. Juntar
as claras em neve e as nozes passadas na máquina e depois, por
último, a farinha de rosca. Misturar bem, sem bater, levar ao
forno em forma untada com manteiga e polvilhada com farinha
de rosca. Quando assada, virar sobre o mármore, cortar ao
meio e furar bastante com um garfo.

Ovos moles:
1 xícara de açúcar
1 xícara de água.
Fazer uma calda em ponto de pasta. Quando estiver quase fria,
juntar 4 gemas passadas na peneira. Mexer bem até formar um
creme espesso. Usar esse creme para rechear o bolo.

Cobertura:
5 claras em neve
10 colheres de açúcar
1 colher (chá) de suco de limão
Bater as claras em neve. Adicionar o açúcar aos poucos batendo
sempre e por fim colocar o suco de limão. Cubra a torta e enfeite
com nozes.

85
Pelo que sei minha mãe Gracinha sempre gostou muito de
desenhar, desde os tempos do colégio. Lembro-me dos desenhos
que ela fez retratando Marataízes, já quando era casada com meu
pai Bolívar, que morreu em 1962. Mais tarde começou a pintar a
óleo, adotando seu nome Anna Graça como nome artístico. Acre-
dito que ela nunca teve pretensão de ser uma pintora de fato, da-
quelas que expõem e vendem suas obras; ela pintava simplesmente
pelo prazer de pintar, para lhe fazer bem à sua já tão bondosa alma,
e dava seus quadros principalmente para seus filhos.
Ela sempre viveu rodeada por muita cultura. Sua irmã Yedda
casou-se com Murilo Miranda, que foi um importante incenti-
vador das artes e letras no Brasil, tendo sido o editor da famosa
Revista Acadêmica, que nas décadas de 1930 e 1940 foi o prin-
cipal veículo divulgação artística e literária do país. Seu irmão,
o cronista Rubem Braga também gostava de desenhar e adorava
quadros e esculturas. Retratado por Cândido Portinari, ganhava
as obras dos seus amigos autores antes mesmo de eles tornarem
renomados. Sua cunhada Isabel, casada com seu irmão Newton
Braga, poeta maior de Cachoeiro, sempre gostou muito de

87
desenhar, vindo mais tarde a se tornar uma grande pintora, fazen-
do quadros a óleo muito coloridos, alegres e cheios de vida.
Yedda conviveu intensamente no meio artístico e literário
brasileiro, pois Murilo e Rubem eram amigos de todos os seus
principais participantes, desde a época em que todos eram
apenas iniciantes e desconhecidos. Yedda foi modelo de vários
artistas renomados. Ela tem a sua cabeça feita em bronze pelo
Bruno Giorgi, escultor famoso que fez, entre outros trabalhos, as
estátuas dos Candangos, de 1959, que fica na Praça dos Três Po-
deres, em Brasília e o célebre Monumento à Juventude Brasileira,
de 1947, que se encontra nos jardins do edifício do Ministério
da Educação, no Rio (atual Palácio Gustavo Capanema), consi-
derado unsdos primeiros no país a ser feito dentro do conceito
do célebre arquiteto francês Le Corbusier. O escultor deu para
Yedda e Murilo o modelo daquela obra, pequeno e em gesso, que
depois foi passado para o bronze.
Ele também pintou um óleo do rosto de Murilo, que deve
ter sido um dos poucos quadros que fez. Com a morte do casal,
essas duas peças, junto com todo o seu acervo cultural, foram
herdadas por D. Gracinha, assim como a cobertura em que
moraram em Copacabana, no Rio, que me foi por ela vendida e
onde tenho o prazer de morar desde 1998. Yedda também teve
seu rosto desenhado por Lasar Segall, outro renomado pintor
brasileiro. D. Gracinha, que mora em Vitória, fez questão que
os retratos de Murilo e Yedda permanecessem no apartamento
onde eles moraram.
Com a morte de Murilo em 1971, D. Gracinha mudou-se
para o Rio para fazer companhia à sua irmã Yedda por uns dois
anos. Embora tivessem temperamentos e vivências bem diferen-
tes, mamãe e sua irmã sempre tiveram uma ligação muito forte,
que se fortaleceu ainda mais depois que ambas ficaram viúvas.

88
Esculturas de
Bruno Giorgi, Yedda
e Rubem (desenhados
respectivamente
por Lasar Segall e
Portinari). Abaixo,
Estação de Marataízes
retratado por Isabel
Braga e retrato de
Murilo Miranda por
Bruno Giorgi.
Quadros de Anna Graça:
barcos em Marataízes,
Praia de Manaíra, na Paraíba,
Convento da Penha, frutas, flores,
plantas e jardins na casa dela.
A casa verde da família de Chico Braga e
Nenem do Frade, na Rua 25 de Março, em Cachoeiro.

92
Embora sempre tenha morado em Cachoeiro e Vitória, ela
vinha muito ao Rio de Janeiro visitar seus irmãos, que aqui re-
sidiam. A partir daí começou a aperfeiçoar seus quadros a óleo
– que havia começado a pintar no final dos anos 1960 – passando
a seguir as orientações de uma pintora e professora italiana, in-
dicada por seu irmão Rubem. Gostava principalmente de pintar
paisagens, plantas e flores. No seu curso fez alguns quadros de
cenários de natureza morta, bem como de, digamos, natureza
viva, retratando pessoas que para ela posavam.
Tenho em minha casa um quadro de mamãe, feito em 1983,
do Convento da Penha, principal referência capixaba, que me aju-
da diariamente a matar a saudade da minha terra, pois fica na sala
onde faço minhas refeições. Outro quadro dela que gosto muito é
o de uma planta bem florida (acredito que uma azaléia) num vaso,
que ficava na varanda da cobertura de Yedda. Em 1972, Anna
Graça fez o que considero sua obra-prima: um óleo retratando
com perfeição a Casa dos Braga, sobrado em que seus pais, seus
irmãos e ela e sua família moraram em Cachoeiro de Itapemirim.
Ali hoje é uma biblioteca municipal, e passou a ser uma das refe-
rências turísticas da cidade. Foi nessa casa que D. Gracinha, meu
irmão Alvaro e eu nascemos.
Claudio 
Rio de Janeiro, 12/1/2011, a exatos 98 anos do nascimento,
em 12/1/1913, do meu querido tio Rubem Braga.

93
Dona Graça, uma heroína.
Viúva aos quarenta, teve que trabalhar,
para se sustentar, e o mais difícil,
Formar 5 filhos, todos capetas,
e ela conseguiu esta proeza,
conseguiu, inclusive, formar até o Afonso!
Merece nossos aplausos!!!
Carlos Guilherme

Minha sogra cheia de Graça.


Ana significa cheia de graça em hebreu.
Graça, aquela que quer viver bem com todos,
atrai pelo seu entusiasmo e originalidade.
Conheci Anna Graça ainda menina, aos 13 anos
de idade, ao iniciar um namorico com seu filho
Afonso. Lembro que senti uma sensação muito
boa e hoje concluí: ela era realmente como seu
nome. A partir daí iniciamos uma relação de
sogra, mãe, amiga e avó dos meus filhos.
Nesses anos todos de convivência com essa
pessoa querida aprendi muito e sou grata pelo seu

95
afeto, sempre presente na minha vida através das
suas ações generosas.
...e ela ainda consegue ser espirituosa. Êh, êh!!
Parabéns Anna Graça!
Luiza Amália

Tiro ao Alvaro. Acertei no que vi e no que ainda


não havia visto. Mas que já pressentia.
Os comentários que chegavam sobre o meu alvo
eram mais que favoráveis em relação a ela.
Com a torcida entusiasmada de mamãe, ganhei
um prêmio acumulado que superou qualquer
possível expectativa. Nas horas mais importantes
ela esteve e tem estado junto de mim, com suas
demonstrações práticas de cuidado e carinho, seu
jeito franco de enfrentar as coisas, sua serenidade
para relativizar os problemas, sua presença de
espírito que faz brotar uma gargalhada assim do
nada e que tão bem faz à alma da gente.
Em mais este seu aniversário, me alegro e brindo
e agradeço. Por ela, por Alvaro e por nossos filhos
e noras e genros e netos, por meus cunhados e
cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, pelas crianças
que fazem a quarta geração dessa família rica de
gente bonita que ela criou. E por tantos primos e
amigos que vieram junto.
A ela, minha sogra que agora me ensina a ser
também sogra e avó, ofereço meus melhores
sentimentos, gestos e sorrisos. Minha querida
Dona Gracinha!
Carol

96
Para uma grande mulher com muito amor
e carinho: exemplo de vida, de otimismo e de
bom astral. Te amo!
Sua sempre nora,
Lyginha

Dona Gracinha,
Apesar de termos nos encontrado tão poucas
vezes, sua simplicidade, elegância e jovialidade
sempre me encantaram. A senhora é, com
certeza, uma pessoa muito especial.
Beijos, 
Alice Weiss

Costumo dizer que gosto tanto da minha sogra


que estou até pensando em me separar de Ana
Maria para poder me casar com Dona Gracinha
e, dessa forma, me tornar padrasto de Afonso,
Alvaro e Cláudio e ainda, sogro de Carlos
Guilherme. Lá ia ser engraçado!!!!!
Um beijo minha sogra!
Nenem

97
Pela manhã verdes,
À tarde âmbar,
À noite tudo veem
Os olhos de Vovó Gracinha.
Ana Paula

Vovó Gracinha: Anna Graça.


Minha vòzinha querida...
Vai amor por onde passa!
Cacá

Querida vovó,
não tenho a menor dúvida que no dia em que
você nasceu Deus revelou seu nome a meus
bisavós: Gracinha. Não conheço ninguém que se
encaixe melhor neste nome do que você.
Você é a nossa Gracinha. Te amo.
Marcelo

Que delícia falar da vovó Gracinha, serena,


amável e cheia de histórias para contar, que só

99
a experiência de vida é capaz de criar. Sou fã de
carteirinha dos famosos biscoitinhos de nata e da
melhor torta de nozes. Beijos da neta agregada...
Helia

Bisa, sou sua primeira bisneta, nasci apressada


e ainda caprichei no dia: quatro de novembro,
mesmo dia do aniversário do biso Bolívar.
Victória

Querida e cheia de graça é a minha bisa


Gracinha!
Marcelinho

Bisa, acho você legal e carinhosa.


Um beijinho bem fofinho!
Valentina

Quando eu era pequena, adorava ir dormir


na casa de vovó Gracinha. Muitas vezes eu ia
com meu primo Marcinho, quando então nós
3 ficávamos até tarde da noite jogando roleta!
Sempre havia uma pausa para um lanche,
um mingau de Cremogema com chocolate...
mas acho que essas pausas eram mesmo para
despistar as acusações de roubo no jogo!
Anos mais tarde, quando fui morar no Rio,
vovó sempre me dava uns biscoitinhos de nata ou
de araruta quando eu ia a Vitória. Aliás, já que
moro fora do Brasil, sempre que estou de férias
em Vitória ganho uns biscoitinhos

100
ou um delicioso bolo de fubá!
No ano passado, 2010, vovó Gracinha ganhou
mais 2 bisnetos, e um deles é Leonardo, meu
querido filho com o Rubinho. O Leonardo é um
menino muito gostoso, risonho e participativo.
Em breve pretendemos levá-lo a Vitória para que
vovó Gracinha e toda a família o conheçam!
Ana Carolina

Vovó,
tive o privilégio de viver meus primeiros anos na
sua casa. Tenho orgulho disso.
Parabéns e um beijo grande, do seu companheiro
de nicor (licor).
Márcio
  
Querida Vovó Gracinha,
sou muito feliz com a honra de compartilhar seu
carinho de avó com seu neto Márcio. Com vocês,
reencontrei o amor das vovós. Esse é um dos
presentes mais bonitos do casamento. Parabéns!
Janaína

Vovó Gracinha,
felicidades para você, espero que continue a
pessoa maravilhosa e boa que é para os seus
netos e bisnetos, continue passando tranq
ilidade e conforto com suas palavras sábias, de
uma mulher bem vivida e original, verdadeira
e honesta. Cada dia que você proporciona o
almoço, fico melhor e bem alimentado para

101
o resto do dia. Fico esperando chegar o novo
dia para poder te ver e beijar, dizendo muito
obrigado. Continue a mulher maravilhosa que é,
e sempre morará em nossos corações.
Beijo do seu neto
Renato

Dona Gracinha,
obrigada pelo neto lindo, feliz, correto e generoso,
que você colocou no mundo, graças ao seu filho
Afonso e sua nora Luiza também. Conheço pouco
a senhora, mas lhe admiro à distância, esperando
que um dia possa conhecê-la melhor.Muitas
felicidades, construídas diariamente.
Abraço e beijo, da sua nora-neta
Colette

Quem melhor conta a história sobre como eu


nasci e escolheram meu nome é vovó Gracinha.
Lembrando que estava na casa de sua irmã
no Rio de Janeiro, minha querida e figuraça
madrinha Yedda, quando recebeu uma ligação
de meu pai dizendo:
– Mamãe, nasceu o Murilo! Ela logo encheu-se de
felicidade por mais um neto chegando, mas foi
surpreendida pelo comentário da irmã:
– Murilo, uma homenagem ao meu marido, mesmo
nome! Vovó não se conteve e disse:
– Que nada Yedda, o nome é o mesmo de meu
cunhado, Murilo de Abreu!
Sempre que vovó Gracinha me conta essa

102
história ela completa dizendo o tanto que gostava
do irmão de vovô Bolívar e como ele era especial
para a família e para ela, um verdadeiro amigo
e companheiro. Com essa passagem eu fico
orgulhoso de fazê-la lembrar, ainda mais, das
coisas boas da vida!
Viva Gracinha!
Murilo

Vó Gracinha é daquelas pessoas que andam


sempre arrumadas, ou melhor, impecáveis. Não
importa se é para ir ao banco ou simplesmente
comprar pão. Sempre prática e vaidosa. 
Lembro de uma ocasião em que eu, ainda
garoto, perguntei por que ela continuava a pagar
passagem de ônibus, mesmo depois dos 60.
A resposta foi sábia:
– Ah meu filho, o que são uns trocados para
não ter que dizer a idade.
Sabedoria de quem criou cinco filhos, antes
de virar avó de tantos netos e bisnetos. 
Uma gracinha de avó! 
Um beijo do neto e outro da bisneta Alice.
Rafa

D. Gracinha é uma unanimidade, impossível


não gostar do seu jeitinho. Fico muito feliz ter
essa ‘vovó emprestada’ em minha vida e espero
chegar aos meus 89 anos com a elegância e
praticidade da querida Vovó Gracinha.
Júlia

103
Como diz tio Afonso: essas meninas de Alvaro
não podem ver um ônibus que se metem dentro.
Mas sabe, parando pra pensar, isso é coisa da
vovó, que sempre gostou de bater pernas por aí.
E eu me saí assim, pra frente, menina que não
para muito quieta: estou há 8 anos em São Paulo.
Com tantas outras netas longe, acho que vovó
se arrepende um pouco de tal ensinamento...
Prática e com um enorme coração, tem
sempre a casa aberta para receber quem quiser
acompanhá-la nos almoços da semana. Estando
em Vitória, não abro mão do almocinho.
A leveza e a simplicidade são um exemplo de como
levar a vida e fazem dessa avó a nossa Gracinha.
Manaira

Sempre achei muito fofo ter uma avó chamada


Gracinha – a avó dos biscoitos de nata, das
melhores tiradas e dos mais marotos conselhos
de namorados. Adoro ir na casa dela pra ouvir
as histórias da época em que era menina em
Cachoeiro, com aventuras em volta da Casa dos
Braga, no Caçadores ou no footing dominical.
Me emocionei ao ler as cartas trocadas no
primeiro ano de namoro com vovô Bolívar, em
especial com a que lhe dizia que “a sinceridade há
de ser nosso principal cuidado”.
Vovó Gracinha tem ótimas expressões. Algumas
dessas pérolas a gente usa sempre:
– ‘Êh, êh; então.’
– ‘Espia!’

104
Mas a melhor mesmo é quando alguém suspira
perto dela:
– ‘Ai ai’.
Ela rebate, ligeira:
– ‘Ai ai pra mim também!’
Bebel

Muito querida, essa vó!


Leva a vida sempre numa boa.
Com tanto amor no coração,
É a gentileza em pessoa.
Obrigado por tudo, vovó!
Bento

Muitos beijos e flores para essa Bisa Gracinha


que perfuma nossas vidas!
Dani

– Beijo de coração, Bisa!


Manu

– Bi-sa! (Acaba de aprender a falar ao olhar a foto


de Gracinha na exposição do avô Alvaro)
Theo

Foi por pouco! Fiz que ia nascer no dia dela!


Quando soube, ela voou às pressas para a
Capital Federal para ganhar um presentinho
especial de aniversário. Mas eu não apareci!
Esperei o dia seguinte para dar o ar à Graça,
Gracinha de vó!

105
Foi com ela que aprendi a bordar e a tomar gosto
pelas linha e agulhas. Ponto corrente, ponto atrás.
Todos usados nos paninhos de bandeja que até
hoje vejo na minha casa e na casa dela.
Guardo com muito carinho as memórias
que tenho das tardes que passamos juntas,
desenhando flores, escolhendo as cores e
bordando. Outro dia fizemos juntas duas
fornadas de seus famosos biscoitos de nata.
Felizes somos nós que temos uma vó tão Gracinha!
Diana

Quando era pequena, eu achava que Gracinha era


um adjetivo carinhoso que todos davam à minha avó.
E realmente ela é uma graça mesmo! Vem à minha
memória, os passeios deliciosos e as férias na casa
dela. Lembro dos suspiros e biscoito de nata, da sua
alegria e das sopinhas de ervilha que ela rapidamente
servia quando nós chegávamos de viagem! Lembro
dos bordados e as tardes no Boulevard da Praia...
E das longas conversas! Ah! Como é bom conversar
com a minha “vó” e ouvir a sua doce voz!
Sempre uma palavra de equilíbrio e força!
Tem uma simpatia natural, uma maneira própria
de levar a vida. É maravilhoso ter uma avó tão
querida e charmosa como a minha! Tem gente que
é bem nascida! A minha avó é bem vivida! Vovó
Gracinha! Te AMO muito!!! João Pedro
e Luis Felipe são muito sortudos por terem uma
Bisavó tão especial! Beijos,
Fernanda

106
Vó Gracinha,
a sua companhia é muito agradável. Gosto
muito da minha avó emprestada! Sempre muito
animada. Qualquer situação fica muito melhor
quando está por perto!
Beijos carinhosos do
André

Sempre amorosa, atenciosa e carinhosa com seus


filhos, netos e bisnetos... Não tinha como ela ter
outro nome além de Gracinha.
Tenho muito orgulho de ser sua neta!
Beijos,
Bia

Uma avó moderna, sábia e carinhosa,


como Vovó Gracinha: o sonho de muitos
e o privilégio de poucos.
Seus netos: verdadeiros sortudos dela ter tido
muito filhos, que por sua vez insistiram em
aumentar ainda mais a família.
Vovó Gracinha, é um orgulho ser sua neta.
Te amo muito!
Mariana

Vovó Gracinha,
mulher de fibra, valente,
de eterna mocidade.
Irradia luz e traz consigo
amor, alegria e fraternidade.
Daniel

107
108
Árvore Genealógica
Os frutos de Anna Graça
e Bolívar em janeiro de 2011.

109
Anna Graça Braga de Abreu e
Bolívar Moioli Pereira de Abreu e Silva
1 Afonso Braga de Abreu e Silva 18.9.1946
Luiza Amália Sodré de Abreu 30.9.1949
1.1 Márcio Sodré de Abreu 13.6.1973
Janaína da Conceição Magalhães de Abreu 26.8.1975
1.2 Renato Sodré de Abreu 25.12.1976
Colette Dantas 3.2.1961
1.3 Murilo Sodré de Abreu 5.2.1980

2 Beatriz Braga de Abreu e Lima 18.9.1946


Carlos Guilherme Lima 4.5.1941
2.1 Ana Paula de Abreu e Lima 29.6.1966
2.2 Carlos Guilherme de Abreu e Lima (Cacá) 5.10.1968
2.3 Marcelo de Abreu e Lima 31.5.1971
Helia Regina Dorea Lima 12.1.1970
2.3.1 Victória Dorea Lima 4.11.1996
2.3.2 Marcelo Dorea Lima 18.08.1998
2.3.3 Valentina Dorea Lima 31.05.2000
2.4 Ana Carolina de Abreu e Lima (Ula) 26.4.1975
Rubens Rezende Godinho (Rubinho) 7.2.1960
2.4.1 Leonardo Rezende Godinho 30.9.2010

3 Alvaro Braga de Abreu e Silva 23.10.1947


Tereza Carolina Frota de Abreu 30.7.1951
3.1 Rafael Frota de Abreu (Rafa) 8.2.1976
Júlia Cristina da Cruz Torres de Abreu 6.10.1979
3.1.1 Alice Cruz Torres de Abreu 12.2.2010
3.2 Manaira Frota de Abreu 16.7.1978
Gustavo Fernandes Bonbonatte 22.10.1982
3.3 Isabel Frota de Abreu (Bebel) 29.9.1979
3.4 Bento Frota de Abreu 13.1.1982
Daniela Moraes 15.3.1973
3.4.1 Manu Moraes de Abreu 14.11.2007
3.4.2 Theo Moraes de Abreu 11.5.2009
3.5 Diana Frota de Abreu 26.1.1984
Nelio Augusto Secchin 28.2.1984

110
4 Claudio Braga de Abreu e Silva 8.11.1949
4.a Lygia Coutinho Farah 9.6.1956
4.1 Fernanda Farah de Abreu 6.9.1980
André Mathias Zorman 27.5.1975
4.1.1 João Pedro Farah de Abreu Zorman 14.9.2006
4.1.2 Luis Felipe de Abreu Zorman 12.11.2010
4.2 Bianca Farah de Abreu (Bia) 23.7.1983
4.b Alice Deirò Weiss 1.6.1948
4.3 Mariana Weiss de Abreu 22.3.1990

5 Ana Maria Braga de Abreu Mendes (Nena) 29.9.1955


Astrogildo Mendes Netto (Nenem) 9.8.1952
5.1 Daniel de Abreu Mendes 18.2.1981

2.3.1 2.3.2
3.4.1 3.3 3.1.1
3.2
2.4.1 2.3.3
3.4.2 2.3
3.4 3.1
4.1.2 2.2
4.1.1 2.4
3.5
2.1
4.1 3
4a
4 2
1.1
4.2
4b 1.2
4.3 1
5 1.3

5.1

111
Este livro foi diagramado na Mandacaru Design,
em São Paulo. Tem projeto gráfico de Manaira,
desenhos e caligrafia de Bebel e fotografias de
Cacá e Diana, todos netos de Dona Gracinha.
A capa foi uma gentil colaboração de Brena Ferrari.
O texto foi composto na fonte Arno e a impressão
foi feita em papel MD Extra Alta Alvura 90g e pela
Gráfica Kroma em Vitória - ES, no verão de 2011.
113
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