uma análise do fenômeno editorial no Brasil e em Portugal (2018)
Talita Corrêa de Sousa Universidade de Aveiro
Ponto de partida Corpus de análise e objetivos
Este estudo se origina da observação de um número Foram selecionadas para análise quatro obras (Fig. 1 e significativo de publicações infantojuvenis no Brasil e em 2), duas de cada país, no formato coletânea, todas com Portugal em 2017 e 2018 do gênero biografia, biografias de mulheres locais e produzidas por notadamente feminina, em formato de coleções e profissionais mulheres do âmbito editorial do Brasil e coletâneas. Seguindo uma tendência editorial Portugal. internacional que levou à publicação, e posterior Diante do corpus escolhido, objetiva-se: tradução, de obras destinadas ao público infantojuvenil, esses dois países vêm produzindo livros que dão • observar a seleção de personagens de cada obra para destaque a histórias de mulheres locais. encontrar as semelhanças e diferenças no tratamento editorial local que se dá a uma tendência global; A pesquisa é norteada por questões que se mostram relevantes para entender esse fenômeno em ambos os • analisar a escolha das mulheres retratadas dos países em suas perspectivas tanto editorial quanto social: diferentes países e o reflexo social dessa seleção, assim como examinar o protagonismo feminino na O que o feminismo atual tem a dizer às crianças? concepção e produção das obras. Quando as histórias de princesas à espera do príncipe encantado não dão mais conta de um mundo em que mulheres chefiam suas casas, suas carreiras e suas Metodologia vidas, o que acontece com as histórias infantis no tocante ao papel representado pelas mulheres? O que mulheres Tratando-se de uma pesquisa qualitativa, será analisada reais e suas histórias emblemáticas têm a dizer a essas cada obra individualmente, buscando detalhar: Figura 2 – Portuguesas extraordinárias, de Maria do Rosário Pedreira e crianças? Por que o gênero biografia atravessou os livros Elsa Martins (Booksmile, 2018) e Portuguesas com M grande, de Lúcia para adultos e chegou aos livros infantis e juvenis? Por Vicente e Cátia Vidinhas (Nuvem de Tinta, 2018) • campo de atuação e período histórico das mulheres que tantos livros que contam histórias de mulheres as biografadas; mais diversas na história do mundo ganham espaço no • relação texto/imagem; mercado editorial brasileiro e português voltado para as • destaque da presença feminina na elaboração das crianças e jovens? Considerações finais obras. Partindo da observação de um comportamento editorial Após esse levantamento, serão cotejados os dados global e de seus desdobramentos em contexto brasileiro Direcionamento da pesquisa e português, esta pesquisa visa utilizar o objeto encontrados com vistas a discutir as semelhanças e Tendo em vista os questionamentos levantados e o fato diferenças em termos editoriais entre Brasil e Portugal, coletânea biográfica feminina infantojuvenil como fio de que a literatura infantojuvenil, como não poderia assim como o contexto social que subjaz as unificador que perpassa diversos aspectos relevantes e deixar de ser, influencia e é influenciada pelos proximidades e os distanciamentos percebidos na análise atuais ao universo editorial. movimentos sociais, pelas mudanças ou estagnações comparativa. Diante da carência teórica de estudos que estabeleçam sentidas e processadas pela sociedade como um todo, relações entre o mercado editorial, a literatura almeja-se compreender como se dá a relação entre o infantojuvenil, o gênero biografia e o feminismo, fenômeno de edição em análise e os momentos literário, considera-se que esta investigação, por sua temática e social e editorial brasileiro e português em que o corpus abordagem, configura-se contribuidora e contemporânea selecionado foi produzido. para os estudos da edição de ambos os países. Para tanto, quatro eixos principais balizarão o estudo: • o percurso histórico da literatura infantojuvenil, com destaque para suas modificações mais recentes Referências bibliográficas (fins do século XX e início do século XXI) na representação feminina nas histórias para crianças Adichie, C. N. (2017). Para educar crianças feministas: um (Rocha, 2001); manifesto. São Paulo: Companhia das Letras. Beauvoir, S. (1967). O segundo sexo. A história vivida. • para além da trajetória histórica feminista e de suas Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Europeia do figuras relevantes, como Simone de Beauvoir (1967), Livro. contributos teóricos de pensadoras contemporâneas, como Chimamanda Ngozi Adichie (2017) e Djamila Botton, A., & Neves Strey, M. (2016). O gendramento da Ribeiro (2017), para perceber as demandas e infância através dos livros infantis: possíveis consequências reivindicações no movimento feminista atual e seus em meninos e meninas. Perspectiva, 33(3), 915-932. possíveis reflexos no objeto editorial em estudo; Colman, P. (2007). A New Way to Look at Literature: A Visual Model for Analyzing Fiction and Nonfiction Texts. Language • conforme Botton e Strey (2016), a força dos Arts. 84(3), 257-268. estereótipos de gênero que passam a ser Figura 1 – 50 Brasileiras Incríveis, de Débora Thomé (Galera, 2018) e Mallett, M. (2004). Children’s information texts. In P. Hunt naturalizados no cotidiano e nas representações Extraordinárias mulheres que revolucionaram o Brasil, de Duda Porto de literárias; Souza e Aryane Cararo (Seguinte, 2018) (Ed.), International Companion Encyclopedia of Children’s Literature (Vol. I) (pp. 622-631). London, New York: Routledge. • o gênero biografia e sua relação (ou ausência de (2nd edition). relação) com a literatura, com referências aos estudos Ribeiro, D. (2017). O que é: lugar de fala?. Belo Horizonte: sobre gêneros não ficcionais de Margaret Mallett Letramento. (2004) e Penny Colman (2007). Rocha, N. (2001). Breve história da literatura para crianças em Portugal. Lisboa: Editorial Caminho.
Este evento é financiado por fundos nacionais, através da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, IP., no âmbito do projeto UID/ELT/04188/2019