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REVISÕES

Perturbação de
hiperactividade com
défice de atenção
EDUARDO FERNANDES*, JACINTO PEREIRA ANTÓNIO**

RESUMO
A perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) é a perturbação neuro-comportamental mais frequente na criança. Persiste
no adolescente e no adulto, sendo as taxas de prevalência nestas idades imprecisas.
A toda a criança entre os 6 e 12 anos de idade com défice de atenção, hiperactividade, impulsividade, mau rendimento escolar ou proble-
mas comportamentais, deve ser realizada uma avaliação para PHDA.
Dada a elevada prevalência desta situação na população escolar deverá não só o pediatra, mas também o médico de família, estar familia-
rizado no seu reconhecimento precoce e avaliação.
A sua abordagem é multidisciplinar, requerendo para além do médico de família ou pediatra, a participação activa da família, educadores
e psicólogos e ocasionalmente de pedopsiquiatras e neuropediatras.
O objectivo principal do tratamento é o de maximizar a função e performance da criança em casa, na escola e na comunidade, melhoran-
do o relacionamento com a família, colegas e professores, diminuindo comportamentos perturbadores e melhorando o rendimento esco-
lar, a independência e a auto-estima.

Palavras-Chave: Atenção; Hiperactividade; Impulsividade; Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção

impulsividade, podem persistir em sores (dopamina e noradrenalina),


IENTRODUÇÃO
DITORIAIS cerca de 10-60%, no adulto3,4, mani- de base genética, com este distúrbio
festando-se geralmente como adul- comportamental7.
perturbação de hiperacti- tos pouco organizados, com dificul- Entre os factores biológicos de ris-

A vidade com défice de


atenção (PHDA) é o termo
utilizado no DSM-IV 1,
para designar a criança hiperactiva
ou com instabilidade psicomotora. É
dade na planificação das suas acti-
vidades, impacientes, com memória
pobre e dificuldades na leitura e es-
crita.
A causa permanece desconheci-
co são citados o uso de tabaco e ál-
cool durante a gravidez8, a prematu-
ridade, o baixo peso ao nascer, as in-
fecções do SNC e os traumatismos
cranianos graves.
a perturbação neuro-comportamen- da, pensando-se resultar da interac- A exposição a metais pesados
tal mais frequente da criança, atin- ção complexa de factores genéticos (chumbo e mercúrio)5, o stress fami-
gindo cerca de 9,2% dos rapazes e e factores de risco biológicos e do liar e outras situações traumatizan-
2,9% das raparigas em idade esco- meio envolvente5. tes ou ansiógenas para a criança, são
lar2. Cerca de 25% das crianças com alguns dos factores de risco do meio
Dados recentes sugerem que os PHDA têm um familiar próximo com envolvente, também referenciados.
sintomas do PHDA, particularmente PHDA6, geralmente o pai, havendo
a dificuldade de concentração e a também um risco aumentado da sua
ocorrência em irmãos (30-40%)6 e
DEIAGNÓSTICO
DITORIAIS
*Assistente Hospitalar Graduado de Pediatria em gémeos idênticos (90%)6.
Médico do Hospital do Barlavento Algarvio
**Assistente Principal - Ramo de Psicologia Tem-se relacionado a redução da O diagnóstico é essencialmente clíni-
Clínica do Centro de Saúde do Seixal disponibilidade de neurotransmis- co, baseando-se em critérios com-

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REVISÕES

portamentais. comportamentos de depressão, an- Hiperactividade/Impulsividade


Para ajudar a um diagnóstico siedade, perturbações de oposição, (≥ comportamentos de hiperactivida-
mais preciso foram estabelecidos pe- perturbações de comportamento e de/impulsividade)
la Associação Americana de Psiquia- tiques10. Segundo Baren (2002)2, 3. PHDA combinado (seis ou mais
tria, critérios de diagnóstico que es- cerca de 52% dos adolescentes com comportamentos de inatenção + seis
tão bem definidos no DSM-IV (Qua- PHDA tornam-se dependentes de ou mais comportamentos de hiper-
dro I). drogas e apresentam comporta- actividade/impulsividade)
Os sintomas nucleares do PHDA mento criminoso e 15% comporta- As raparigas são mais afectadas
são pois, a diminuição da atenção, mento anti-social. pela variante com predomínio do dé-
a hiperactividade e a impulsividade9. Os sintomas do PHDA devem ini- fice de atenção.
A criança com PHDA pode apre- ciar-se antes dos sete anos, persis- Convém recordar que a criança
sentar problemas funcionais signifi- tir por mais de seis meses, estar pre- com dois a três anos de idade, apre-
cativos, desde dificuldades escola- sentes em dois ou mais contextos senta uma atenção, naturalmente,
res, com mau rendimento, a proble- (casa, escola,...) e deverão ser clara- lábil, com uma motricidade «explosi-
mas de ajuste social e emocional. É, mente inapropriados à idade e ao va», que a leva a multiplicar as suas
geralmente, desorganizada, desajei- nível de desenvolvimento da criança. descobertas. Os que a rodeiam nem
tada para tarefas motoras, incluin- Embora muitas crianças apre- sempre aceitam com facilidade esta
do desportos, socialmente pouco sentem sintomas de falta de atenção conduta, mas aqui não se deve pen-
competente, com um desempenho e de hiperactividade/impulsividade sar, imediatamente, em situação pa-
académico inconsistente. Estas ca- em simultâneo, em algumas um tológica.
racterísticas comportamentais, ao destes padrões é dominante. A PHDA associa-se frequentemen-
favorecerem o insucesso, são gera- De acordo com a classificação do te a outras perturbações disruptivas
doras de uma baixa auto-estima e DSM-IV, a criança com PHDA pode do comportamento, particularmente
isolamento social. pertencer a um de três subtipos: comportamentos de oposição.
Estes problemas podem manter- 1. PHDA predominantemente com Grande parte das situações des-
-se pela vida adulta3,4. Inatenção (seis ou mais comporta- critas no Quadro II podem existir,
As crianças com PHDA apresen- mentos relacionados com inatenção) partilhar sintomas ou sobrepor-se à
tam frequentemente associados, 2. PHDA predominantemente com PHDA.

QUADRO I

CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DE PHDA, CONFORME A CLASSIFICAÇÃO DSM-IV

I. SINTOMAS DE INATENÇÃO II. SINTOMAS DE HIPERACTIVIDADE E IMPULSIVIDADE


1. Não dar atenção aos detalhes ou cometer erros por falta de atenção 1. Movimentar permanentemente mãos e pés, quando sentado
2. Dificuldade em se concentrar durante tarefas/jogos 2. Não se manter sentado quando deve
3. Parecer não escutar 3. Correr ou saltar de forma excessiva, em situações inapropriadas
4. Não seguir instruções e não terminar tarefas 4. Dificuldade em se envolver em actividades de ócio em silêncio
5. Dificuldade em organizar tarefas e actividades 5. Parecer «ligado a um motor»
6. Evitar ou não gostar de iniciar tarefas que requeiram atenção 6. Falar em excesso
7. Perder facilmente o material e esquecer compromissos 7. Responder antes da pergunta ser completada
8. Distrair-se facilmente com estímulos irrelevantes 8. Dificuldade em esperar pela sua vez
9. Esquecer-se com facilidade das actividades quotidianas 9. Interromper ou interferir nas actividades dos outros
III. CRITÉRIOS ADICIONAIS
1. Persistem há pelo menos seis meses
2. Surgem antes dos sete anos
3. Presentes em mais de um contexto (casa, escola,...)
4. Claramente mal-adaptativos e inconsistentes com o nível de desenvolvimento
5. Não devidos a patologia pervasiva do desenvolvimento, ou consequência de outra perturbação mental

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QUADRO II uma estratégia a longo prazo. A in- de escape às tensões acumuladas.


tervenção desenvolve-se, essencial- Estas actividades podem ser des-
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO PHDA
mente, pelo esclarecimento e acon- portos, passatempos ou outra que
• Perturbações do comportamento selhamento adequados da situação seja do agrado da criança e lhe
• Problemas de aprendizagem à criança, família e professores. permita obter um sentimento de
• Comportamentos contestatários e desafiantes Estes devem ser informados e edu- sucesso.
• S. De Gilles De La Tourette cados sobre a etiologia, o tratamen-
• Perturbações da linguagem to, o prognóstico, nomeadamente
sobre os efeitos que o PHDA pode ter
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Perturbação de ansiedade
• Perturbação do humor (mania, depressão,...) sobre a aprendizagem, comporta-
• Abuso de drogas mento, auto-estima, competência A eficácia da medicação com psi-
• Esquizofrenia ou psicoses social e função familiar. coestimulantes, na melhoria das ca-
• Doenças metabólicas e endócrinas O treino comportamental de pais pacidades da atenção, desempenho
e educadores é fundamental. Estes escolar e na redução da hiperactivi-
devem assumir uma atitude positi- dade e impulsividade está bem es-
va, tentando valorizar e reforçar os tabelecida, verificando-se em cerca
comportamentos adequados, evi- de 80% dos casos12. É importante,
EADITORIAIS
VALIAÇÃO
tando a crítica frequente e situações contudo, referir que a medicação
que levem previsivelmente ao in- raramente está indicada como
A avaliação da criança com PHDA sucesso. primeira linha de acção e nunca
deve incluir uma avaliação médica É importante modificar as rotinas deve ser utilizada isoladamente, mas
clássica e uma avaliação psicológi- diárias, visando uma melhor adap- sim em combinação com as medidas
ca11. tação às características comporta- de modificação comportamental já
A avaliação médica deverá incluir mentais e da atenção da criança. referidas.
a história pessoal e familiar, o exame Em casa devem ser estabelecidas Os psico-estimulantes não curam
físico e a avaliação de desenvolvi- normas de comportamento bem cla- a PHDA, mas ajudam a normalizar
mento, da visão e da audição. ras e definidas, evitar castigar exces- os neurotransmissores durante a
A avaliação psicológica deve sivamente, fornecer espaço fisíco sua utilização, conseguindo-se
orientar-se para os componentes da com poucos factores de distracção diminuir as consequências negati-
PHDA, nomeadamente a atenção, a (brinquedos, janela) para a execução vas, emocionais, escolares e sociais
actividade e os impulsos. O compor- dos deveres de casa, manter horá- destes indivíduos.
tamento da criança em consulta rios regrados (para refeições, para Os mais utilizados são o metil-
pode não ser exemplificativo do que dormir, para os deveres, para a di- fenidato e a pemoline. Menos fre-
ocorre em contextos mais habituais. versão). Na escola, é preciso escla- quentemente utilizados são os anti-
Daí a importância da história recer os professores sobre a PHDA e depressivos triciclos, nomeada-
clínica e, eventualmente, de ques- fazer algumas modificações: ajuste mente a imipramina (na depressão)
tionários que permitam a recolha de de expectativas, modificação da es- e a clonidina (em situações de tiques
informação sobre o comportamento trutura da sala de aula, com redu- e agressividade).
da criança. ção dos estímulos entre aluno e o São todos fármacos seguros, com
A abordagem terapêutica da professor (localização preferencial na raros efeitos colaterais (anorexia,
PHDA engloba duas vertentes igual- primeira fila e redução da turma), perda de peso, insónias, ansiedade,
mente importantes, o tratamento apoio educativo individualizado ou cefaleias, dor abdominal, depressão
psico-social e o farmacológico. eventualmente apoio de educação e irritabilidade), mas que devem ser
especial. vigiados. A pemoline tem também
A criança com PHDA, pelas suas risco de toxicidade hepática, pelo
TRATAMENTO PSICO-SOCIAL
EDITORIAIS características comportamentais, que se deverá monitorizar regular-
está exposta a um stress acrescido mente os níveis das transaminases.
A PHDA requer uma intervenção durante as tarefas escolares, pelo Devem ser utilizados de forma
abrangente, em casa, na escola e na que necessita de desenvolver activi- descontínua, com interrupções aos
comunidade, onde seja estabelecida dades extra curriculares que sirvam fins-de semana, feriados e férias e a

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REVISÕES

sua necessidade ser reavaliada Psychiatr Clin North Am 1991; 14:113-24.


anualmente. 8. Biederman J, Faraone SV, Taylor A,
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continuity between child and adolescent
CONCLUSÃO
EDITORIAIS
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A sua identificação precoce, o 11. Boavida JE, Porfírio H, Nogueira S,
diagnóstico preciso das diferentes Borges L. A criança hiperactiva. Saúde In-
situações associadas e a intervenção fantil Dez. 1998.
eficaz e abrangente, são essenciais 12. S/A. A 14-month randomized clini-
para um melhor prognóstico a lon- cal trial of treatment strategies for atten-
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Na abordagem salienta-se a im- ment Study of Children with ADHD. Arch
portância, além da terapêutica far- Gen Psychiatry 1999; 56:1073-86.
macológica, da ajuda escolar e psi-
cológica não só à criança, mas tam-
Endereço para correspondência:
bém à família e educadores. Serviço de Pediatria do Hospital do
Barlavento Algarvio
eduardoapfernandes@sapo.pt
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EDITORIAIS
Recebido para publicação em 15/01/04
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