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1. Acepção
1.1 O arquivo como dispositivo da memória
1.2. A dimensão política do arquivo
1.3. A estruturação do arquivo
2. Remediação
2.1. A remediação
2.2. O novo tipo de colecções
2.1. A desintermediação das instituições da memória
3. Reconceptualização
3.1. Arquivo vivo
4. Do analógico ao digital
4.1. De receptáculo passivo a mediador activo
4.2. De espacial a temporal
4.3. De estático a móvel
Propriedades do arquivo vivo
notas
1. Acepção notas
O arquivo, tal como é descrito sucintamente por Charles
Merewether 2016, "distinto de uma colecção ou
biblioteca, constitui um repositório ou sistema
ordenado de documentos e registos, tanto verbais
como visuais, que são a fundação a partir da qual a
História é escrita" 1. Tendo em conta a sua função,
este repositório age como um lugar para abrigar,
classificar e organizar os objectos de valor histórico e
cultural 2. Para tal, ao arquivo cabe garantir que os
elementos que detém são conservados por tempo
indeterminado, só assim podem ser acedidos no futuro,
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a qualquer altura, cumprindo um propósito
"verdadeiramente informativo" 3.
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instituições da memória social e cultural como
bibliotecas, museus e universidades.
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ao longo do tempo 13. Poder, neste contexto é a
capacidade de tomar decisões sobre o que registar,
como registar, ser mediador e do registo e gerir o seu
acesso 14. Neste sentido, ao contrário de um
"repositório neutro de factos", os arquivos são "espaços
activos onde o poder social é negociado, contestado e
confirmado" 15.
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do passado) deveriam ser preservadas e quais, por
oposição, deveriam ser excluídas 18. A escolha sobre
o que registar e preservar, em detrimento dos
documentos e registos que não são eternizado pelo
arquivo, dá então origem a estruturas socialmente
construídas, que se tornaram subjacentes à sociedade, e
que de determinam o significado daquilo que se torna
arquivo 19.
2. Remediação
Tal como defendem Schwartz e Cook 2002, "os
arquivos validam as nossas experiências, as nossas
percepções, as nossas narrativas, as nossas histórias. Os
arquivos são as nossas memórias" (p.18. Por outras
palavras, os mesmos autores acrescentam que os
arquivos, enquanto registos, compõe a forma como nos
conhecemos enquanto indivíduos e sociedades. Tal
como foi visto anteriormente, estes dispositivos têm o
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poder de formar a memória colectiva e a identidade de
uma cultura, através do conhecimento que se extrai do
conjunto de documentos reunidos nos acervos.
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dispositivos técnicos Berry, 2017.
2.1. A remediação
Com a disseminação das tecnologias digitais, os novos
media vieram tomar o lugar das tradicionais formas de
comunicação como a televisão e a rádio e, em
particular, os meios de comunicação impressos De
Kosnick, 2016. Bragança de Miranda 1996 sugere que
a instauração de novos meios de transmissão da
informação e do conhecimento fomenta a
"tecnologização da experiência" e o arquivo, ao ser
abrangido por este fenómeno, "ganha novos contornos
no instante da sua transformação digital e electrónica"
(p.96. Como resultado, a introdução das novas
tecnologias digitais leva à remediação do arquivo pelo
meio digital. Esta revolução técnica da prática arquivista
concretiza-se, por fim, na transição do arquivo
analógico para o arquivo digital.
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objectos e o seu conteúdo confundem-se com o próprio
sistema administrativo do repositório. Com a "crescente
virtualização dos objectos, para além da criação de
novos objectos, ... os 'imateriais'", anunciada por
Bragança de Miranda 1996, 109, "o arquivo é baseado
na circulação em rede de dados, a sua forma enfática
dissolve-se ... em circuitos electrónicos e fluxos de
dados" Blom 2016 como referido em De Kosnik, 2016,
1213. O arquivo digital é "profundamente
computacional" pois a sua estrutura e conteúdo estão
"emaranhados com as representações digitais dos
objectos físicos, textos e artefactos born digital" Berry,
2017, 107.
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confrontados com o inverso, com "arquivos distribuídos
online e o seu livre acesso na Internet" Ernst, 2012, 11.
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Tendo em conta a análise anterior do arquivo analógico,
conclui-se que, mais do que um lugar onde é depositado
e armazenado conteúdo, o arquivo actua como um
espaço de classificação e organização do próprio
processo de arquivar. As práticas arquivistas influenciam
a composição e o carácter do conteúdo arquivado ao
ditarem a forma pela qual se encontram organizados e
classificados os elementos que são incluídos no arquivo,
que, por fim, geram as narrativas que fazem parte da
História como a conhecemos. Como tal, o conteúdo do
arquivo está intrinsecamente relacionado com a
estrutura onde é arquivado:
"Por outras palavras, a forma de um arquivo restringe
e potencia o conteúdo que encerra e os métodos
técnicos para contruir e dar suporte a um arquivo
produzem o documento para colecção" Dekker,
2017, 14.
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computação" Berry, 2017, 120, a cultura é refeita
quando é materializada de forma digital Berry, 2017.
Importa agora entender os contornos de um arquivo que
se torna novo a partir do momento da sua remediação
digital.
3. Reconceptualização
A introdução dos novos meios de comunicação coloca
em marcha uma cadeia de acontecimentos que leva, em
última instância, à remediação do arquivo pelo meio
digital. Fora da estrutura institucionalizada do meio
analógico, o arquivo encontra-se agora disseminado por
toda a experiência. Perante este fenómeno, David M.
Berry 2017 aponta para o "desarquivar daquilo que
entendíamos antes ser um arquivo", uma vez que o
arquivo passa a operar num meio "informado e
interpenetrado por computação, que restrutura o espaço
através de processos de formatação, estruturação e
classificação" Berry, 2017, 120 - o meio digital:
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como museus, bibliotecas e arquivos nacionais, abrirem
o seus arquivos ao público, tendo a web como interface.
Deste modo, a informação torna-se acessível de formas
que proporcionam aos seus utilizadores "acrescentar a
sua própria informação, classificar documentos
existentes ou identificar relações entre diferentes
documentos" Dekker, 2017, 20.
Com a capacidade de organizar conteúdo através de
sistemas de classificação gerados pelos utilizadores
(user-generated tagging systems), a "promessa
democráticas dos media sociais pareceu estender o
potencial da web para ultrapassar hierarquias de
conhecimento" Sluis, 2017, 28. Por oposição a registos
situados em locais privilegiados, governados por um
grupo selecto, a emergência das novas tecnologias,
meio onde os seus utilizadores têm um acesso sem
precedentes a informação pública, democratiza a
memória social e debilita o "o direito hermenêutico e a
competência dos investigadores e arquivistas - e o
poder de interpretar os arquivos".
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materialidades. No decorrer da sua remediação digital, o
arquivo torna-se novo:
"Ao mudar a estrutura dos arquivo, e das instituições
da memória que procedem à curadoria e
armazenamento, a computação torna-os novos
através de um processo de gramatização que
discretiza e re-ordena." Berry, 2016, 108
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pela qual o arquivo se constitui como arquivo, mas
também influencia aquilo que é arquivado. Como Derrida
1995 afirma: "o que já não é arquivado da mesma
forma já não é vivido da mesma forma. O significado do
arquivável é também e previamente co-determinado
pela estrutura que arquiva" (p.18. A remediação do
arquivo marca o ponto de viragem na acepção
tradicional do termo e no papel que estes dispositivos
assumem na sociedade.
A noção de arquivo expande-se de instituições da
memória financiadas pelo estado, que tentavam
assegurar a preservação dos elementos de valor
histórico e cultural, para a proliferação de arquivos ad
hoc, gerados indiscriminadamente, a circular pela
internet. Enquanto que o arquivo analógico era um
receptáculo da informação, tal como Dekker 2015
constata, "funcionava como um depósito para o material
a partir do qual as memórias eram (re)construídas", a
sua materialização digital altera o seu significado, a sua
função e o papel do seu utilizador. À medida que o
digital permite a actuação de novas vozes, os arquivos
começam a ser gerados e preservados colectivamente e
a fazer parte da vida quotidiana Dekker, 2015. Os
novos arquivos digitais são cada vez mais sistemas
flexíveis onde o conteúdo é constantemente
recontextualizado, a sua existência é dinâmica e em
constante mudança. Este conjunto de características
revelam um arquivo que, no processo da sua
reconceptualização, se torna vivo.
O termo aponta para um arquivo aberto, em constante
estado de transformação e crescimento, à semelhança
de um organismo vivo, como é descrito por
Ranganathan: "Um organismo em crescimento absorve
matéria nova, liberta-se de matéria antiga, transforma o
seu tamanho e assume novas formas e configurações"
(p. 384. Lehner 2014 classifica o arquivo vivo como
sendo aberto, colaborativo e criativo.
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A partir do momento em que é distribuido e acessível na
web, o arquivo digital-computacional foca-se no acesso
através de sistemas de comunicação e práticas sociais
que envolvem directamente o utilizador no processo da
criação do arquivo.
representa a mudança de um público passivo para um
utilizador activo
4. Do analógico ao digital
Propriedades do arquivo vivo
→ sobre a perseverança do arquivo
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tempo. Observamos então a transformação do clássico
espaço de armazenamento material num arquivo em
movimento dentro do domínio digital, cunhado por Ernst
como uma "efemeridade electromagnética latente". Os
media digitais tendem por fim a abdicar por completo
da sua materialização física, tornando-se tecnicamente
virtuais. Ao perder a sua localização no espaço, a
capacidade de perseverança do arquivo é posta em
causa.
Se o arquivo não conseguir perdurar ao logo do tempo
isto abala os princípios da sua acepção.
Ernst 2012 afirma que o ganho da flexibilidade e
computabilidade é pago com uma significativa perda de
durabilidade (p.18. Também Dockray e Forster 2018
enunciam que, tendo em conta o arquivo analógico, a
adaptabilidade - a capacidade de usar e transformar -
enfraquecia o estado de preservação necessário à
durabilidade. No entanto, segundo os últimos autores, é
através do uso que algo se torna inestimável, o que
pode mudar ou distorcer mas não destrói. Ou seja, é
através do poder de adaptar que algo consegue
perdurar ao longo do tempo.
O arquivo analógico tinha a capacidade de perdurar por
estar exilado das narrativas do tempo histórico corrente,
que fazia com os seus registos pudessem ser eternizado
ao estarem inscritos no espaço. Já o arquivo digital
computacional perdura pelo facto de poder ser usado
pelo seu utilizador.
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colocaram ao alcance de todos. Ao inserir-se nesse
meio, o arquivo opera online, através de processos
computacionais que provocam a desintermediação das
instituições da memória e, por conseguinte, das funções
curatoriais associadas aos arquivos Berry, 2017.
Com a virtualização dos objectos e artefactos, por via
de processos computacionais de abstração da
singularidade do objecto, os documentos tornam-se
dispositivos algorítmicos, codificados numa mesma
linguagem e inseridos numa base de dados. Enquanto
instrumento digital, o arquivo torna-se generativo:
"Os sistemas computacionais utilizam feedback no
sentido que operam sobre os seus próprios
algoritmos e metadados para melhorar o
processamento, complexidade e estrutura. A
programabilidade fundamental dos media
computacionais levanta então novas questões para o
armazenamento do conhecimento e da cultura: o
arquivo "já não é apenas um um espaço de
armazenamento passivo, mas torna-se ele mesmo
generativo num processamento governado por
algoritmos" Berry, 2017, 107.
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de processos computacionais e gerar nova informação
significativa. De facto o poder electronicamente
aumentado dos arquivos de providenciar o acesso aos
registos amplifica a capacidade do arquivo como
mediador de informação Schwartz e Cook, 2002, que
atribui desde logo um papel activo ao que sempre se
considerou um espaço de armazenamento passivo: o
arquivo Ernst, 2012.
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O novo arquivo está sincronizado com o presente e é
generativo em consonância com este, perante as
necessidades correntes. Assim, está também
sincronizado com os seus utilizadores, que se inserem
dentro de uma cultura dinâmica permeada por novas
tecnologias em constante actualização, que estão
"menos preocupados com registos para a eternidade"
do que em estabelecer ordem dentro de um permanente
fluxo de informação Ernst, 2012, 6.
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Observamos então a transformação do espaço de
armazenamento material para um arquivo
electronicamente em movimento, onde a classificação
estática do repositório tradicional é substituída pelo
acesso dinâmico Ernst, 2012.
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foundation from which history is written.»
Merewether, 2016 1
3.1.1. Acessibilidade
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3.1.2. Adaptabilidade
3.1.3. Durabilidade
3.1.4. Hospitalidade
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gera espaços que a audiência pode habitar como
deseja 68
Conclusão
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