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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Introdução
Este texto tem como objetivo refletir sobre as proposições metodológicas para
uma pesquisa referente a relevância acadêmica da extensão universitária. Parte-se do
pressuposto que existem duas dimensões fundamentais das práticas extensionistas:
social e acadêmica. Estas dimensões devem ser consideradas como inseparáveis e
complementares.
Assim, têm-se pela frente algumas questões. Qual o impacto das atividades de
extensão universitária na formação dos estudantes universitários? Quais os
indicadores possíveis de demonstrá-lo? Que métodos e técnicas podem ser mais
adequados e eficazes para uma investigação sobre o significado das atividades de
extensão universitária na formação de estudantes extensionistas bolsistas e
voluntários?
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Cientista Social, Mestrando em Sociologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia da
Universidade Federal de Goiás (UFG) (diniz.fp@gmail.com).
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Trabalho desenvolvido sob orientação do Prof. Dijaci David de Oliveira.
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A partir destas questões, pretende-se com este trabalho discutir as
aproximações de métodos utilizados nas pesquisas de intervenção social, em particular
a pesquisa participante (BRANDÃO & STRECK, 2006) e a pesquisa-ação (THIOLLENT,
2007), com as práticas de extensão universitária, no intuito de levantar as principais
características desta relação e as potencialidades destes métodos para o processo de
investigação da dimensão acadêmica da extensão universitária. É importante destacar
que estes métodos não são considerados as únicas possibilidades para uma
investigação acerca da dimensão acadêmica da extensão universitária. Porém, os
métodos e as técnicas oriundos destas vertentes de pesquisa social são considerados
adequados, em virtude da predominância de uma abordagem qualitativa de caráter
participativo, dialógico e reflexivo, elementos estes capazes de contribuir na
compreensão das práticas e representações sociais do campo educacional.
Não se trata de levantar as contribuições da pesquisa participante e da
pesquisa-ação para a extensão enquanto atividade, mas de explicitar suas
contribuições em termos de métodos e técnicas para a pesquisa acerca da extensão
universitária, especificamente para um processo de pesquisa avaliativa de sua
dimensão acadêmica.
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humano não apenas mais instruído e mais sábio, mas igualmente mais justo, livre,
crítico, criativo, participativo, co-responsável e solidário. Toda a ciência social de um
modo ou de outro deveria servir à política emancipatória e deveria participar da
criação de éticas fundadoras de princípios de justiça social e de fraternidade humana
(BRANDÃO, 2006, p. 24-25).
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A tradição latino-americana de pesquisa social conectada às ações populares,
originadas de diferentes teorias, propostas metodológicas e experiências práticas
levou a uma variação de denominações e orientações práticas que culminaram numa
multiplicidade de nomes: pesquisa temática; pesquisa na ação; pesquisa participante;
pesquisa-ação; investigação-ação, pesquisa popular, pesquisa militante, entre outros.
O principal paradigma teórico precursor desta tradição é o materialismo dialético-
histórico, mas deve-se considerar também a influência de outros paradigmas:
funcionalismo-estrutural, etnometodologia, fenomenologia e interacionismo simbólico
(BRANDÃO, 2006).
A principal crítica que comumente recai sobre a pesquisa participante e
também sobre a pesquisa-ação (além de suas variações conforme mencionado acima)
está relacionada às possíveis inconsistências (politização ou ideologização) destas em
relação às exigências científicas convencionais. Tais tipos de pesquisa de intervenção
social são considerados como práticas ideologizadas e descompromissadas com o rigor
científico e consequentemente a validade dos resultados das pesquisas oriundas
destas vertentes seriam postas em questionamento. Assim Brandão responde a esta
crítica:
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(BRANDÃO, 2006). Seu objetivo não é apenas a busca de melhorias pontuais para
determinados segmentos sociais, mas mudanças estruturais significativas.
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No entanto, as metodologias participativas, a pesquisa participante e a pesquisa-ação
ocupam um espaço importante em ações extensionistas compromissadas com os
setores populares da sociedade.
Exemplos podem ser encontrados em projetos de extensão rural voltados para
o trabalho com assentamentos de reforma agrária, agricultura familiar e agroecologia.
Ou ainda em casos de assessorias a cooperativas populares no meio urbano. Outro
bom exemplo são as ações desenvolvidas pelos chamados coletivos de extensão
popular (MELO NETO, 2006), articulando pesquisa de intervenção social, educação
popular e extensão universitária.
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e o campo de investigação. O que é posto em questão é o tradicional dualismo sujeito-
objeto. Melucci argumenta que a explicação da realidade através da pesquisa social
passa por uma mudança onde o modelo clássico de pesquisa científica de verificação
de hipóteses dá lugar a uma explicação produzida por uma troca dialógica. “A
explicação não é entendida como verificação objetiva de hipóteses, mas como um
processo de produção de conhecimento que se adequa progressivamente através da
interação entre observador e observado” (MELUCCI, 2005, p. 34).
Thiollent afirma que o “esforço reflexivo” em relação à prática extensionista
(por parte de professores, técnicos e estudantes) tem vários aspectos: reflexão em
relação à prática como meio de aprendizagem; no decorrer da ação para possíveis
adequações (se necessárias); “diálogo reciprocamente reflexivo entre professores,
alunos e usuários ou grupos destinatários” (2006, p. 160-161).
Acredita-se que este caráter reflexivo também deve ser levado em
consideração na esfera da avaliação institucional da extensão universitária, por meio
de processos de auto-avaliação, conjugados a procedimentos de avaliação externa,
que podem ser feitos através de consultores especializados e, de forma imprescindível,
pelos grupos sociais atendidos por programas, projetos, cursos, eventos ou prestações
de serviços promovidos pelas universidades.
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de processos de avaliação institucional da extensão nas universidades. Para tanto, o
FORPROEX instituiu em 1999, durante o XV Encontro Nacional de Pró-Reitores de
Extensão, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o Grupo Técnico de Avaliação da
Extensão Universitária, tendo como objetivos:
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Essas duas áreas de interesse no campo da pesquisa avaliativa (envolvimento dos
sujeitos e publicização dos resultados das avaliações) estão relacionadas com a
dimensão participativa no processo de produção de conhecimento, visto que
considero a pesquisa avaliativa como um tipo de pesquisa social aplicada (SILVA, 2006,
p. 137).
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Referências
MELO NETO, José Francisco de. Extensão Popular. João Pessoa: Editora Universitária,
2006.
THIOLLENT, M.; BRANCO, A.L.C.; GUIMARÃES, R.G.M.; FILHO, T.A. (orgs.). Extensão
universitária: conceitos, métodos e práticas. Rio de Janeiro: Universidade do Rio de
Janeiro. Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão, 2003.
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