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INOVACAO EDUCACIONAL EM LINGUAS ESTRANGEIRAS MODERNAS: ‘0 CASO DO PARANA Telma Gimenez UEL 1. INTRODUCAO Em 1986, a Secretaria de Educacao do Estado do Parana - SEED iniciou um processo de reforma educacional visando a reestruturacao do ensino de 1.° e 2.° graus, que tinha como metas diminuir a evasio escolar e equilibrar os desniveis entre idadelsérie escolar '. Tal reforma teve como ponto de partida 0 2.° grau, para depois atingir também o 1° grau. Assim, em 1988 foi publicada apostila contendo as diretrizes para 0 ensino de 2.° grau. Quatro anos depois foi lancado o ‘Curriculo Basico para a Escola Pablica do Parana” (doravante referido como ‘documento’), em forma de coleténea, delineando os preceitos filos6ficos que nortearam a nova proposta curricular e apresentando sugestOes para as varias areas do curriculo do 1.° grau, tais como: Lingua Portuguesa, Matematica, Historia, Geografia, Ciencias, Educacao Artistica, Educacao Fisica, Lingua Estrangeira Moderna e Organizagao Social e Politica do Brasil. A teferida reformulacio, segundo o documento, se fazia necessaria em funcao da “preocupacdo e 0 compromisso dos educadores com a melhoria do ensino no sentido de responder 4s necessidades sociais histéricas, que caracterizam a sociedade Curiosamente, em 1997 a mesma SEED-PR langouo programa ‘Correy20 de Fluxo’, com objetivo idénticos, mas adotando procedimentes completamente diverse. Teri sido um reconhecimento implicto defalhas no programa iniciado em 1986? ‘Signun: Estwd. Ling., Londrina,n. 2, 169-183, out. 99 18 brasileira hoje” (p. 13). A introdugio do documento afirma que a reestruturacio teve impulso a partir da implantacao do Ciclo Basico de Alfabetizacao, dentro da proposta de Reorganizagio da Escola Pablica de 1.° Grau do Parana. Este artigo se baseia no pressuposto de que inovagées educacionais sio fenémenos complexos, envolvendo interagdo entre a Instituigdo (representada neste caso pela administragao, equipe de ensino de 1.° Grau, e consultores que colaboraram para determinar os preceitos tedricos da pratica educacional desejada pela Instituicéo) e o individuo (neste caso, a professora * que colocaria as idéias em pratica). Focalizarei especificamente os textos dos documentos de 1.° Grau para Lingua Estrangeira Moderna, que materializam as intengdes da Instituicdo, por julgar que os referidos textos representam um dos principais mecanismos pelo qual a ideologia subjacente a visio “oficial” da educacao se manifesta. Antes de passar a analise propriamente dita gostaria de especificar minha visio dos mecanismos subjacentes a propostas de inovacao educacional. 2. INovacAo EpucacionaL: INstrruicao £ INDIviDuO- Teoricamente, propostas de reformulagao curricular ? podem derivar tanto de individuos quanto de instituicdes. Elas derivam de individuos quando, por exemplo, a professora decide adotar uma nova abordagem em sua sala de aula, testar novos conceitos, mudar 0 contetdo programatico, alterar sua rotina, enfim, inovar sua pratica pedagdgica. Sao essas inovagses, em nivel “micro”, fruto de um processo de "TEmborareconhega alo er uma priticacomum uizarae desta paves no feminine, nfo vejo qualmente ustifiativaparno uso do maculino generico, » Curriculo geralmente ¢ entendido como 0 conjunto de matérias julgadas necestras para cumprir os objetives da educagio, Um outro sentido, ai adoro, eferese ao conte programaticoe pedagoia ds vie dciplinas ligadasaos objetivosda cducasio. 170 ‘Signum: Escad. Ling, Londrina, a. 2, 109183, 018,99 formagao profissional que encoraja a reflexio sobre a pratica digria e que vé mudanca como parte do repertorio da professora consciente e competente Entretanto, as praticas pedagdgicas nado operam no vicuo @ nao sio fruto de vontade individual, mas resultado da interacio entre a pratica individual e uma certa estructura administrativa e académica disponivel no ambiente escolar Esta estructura (nivel “macro”) atua sobre o nivel micro ja referido, através da determinagio do curriculo e delineamento da filosofia que deveria nortear trabalho da professora em sala de aula. E aqui que entram as inovacées oriundas da instituigao, Quando os responsdveis por um érgao como a Secretaria de Educacio do Estado resolvem que € preciso mudar a situagde do ensino, que nao esta satisfatorio, temos um caso de inovagio sugerida pela institui¢do, que almeja atingir a professora no sentido de que ela adira as novas idéias propostas ¢ as coloque em pratica. E 0 nivel macro dando rumos e tentando influir no nivel micro. Em situagées normais, a institui¢io fornece entao todas as condicées estruturais necessdrias para a referida inovacao € concentra naquilo que talvez seja encarado como o mais dificil: convencer as professoras a abracarem as idléias novas sugeridas ¢ as colocarem em pratica. No caso da reformulacao em questdo essas condigées estruturais minimas foram apontadas pela Diretora do Departamento de Ensino de 1.° Grau e pela assessora técnico-pedagogica: sasabemos que a efetivacao da referida proposta dependera do envolvimento dos profissionais da ‘educagao, bem como de uma policica adminiscrativa eferiva, que possibilite as condigdes materiais concretas, tais como: condigdes salariais dignas, assessoramento @ 100% dos profissionais visando sua qualificagao docente, quadro completo de pessoal, bibliotecas escolares com acervo atualizado, imateriais didéticos, etc. (\ntrodugao, p.13). ‘Signum: Estwd. Ling, Londtina,n. 2, 169-183, out. 99 17 Sabe-se que a Secretaria de Educacto do Parana ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir as condigoes citadas. Independente de quando tais condigdes estarao disponiveis, pressupoe-se que as ideias estto sendo disseminadas €€ a profesoras tomando conhecimento delas e avaliando quo preparadas se sentem para colocét-las em pritica ‘, Embora nio se possa afirmar que a disseminago tena sido integral, nao é meu objetivo neste momento discutir se todos os professores da rede estadual publica tomaram conhecimento do documento. Considero, entretanto, que este € um dos pontos a serem considerados na avaliacéo do grau de sucesso de disseminacao das idéias contidas na proposta que, por sua vez, € uma das dimensdes relacionadas a implantacao do novo curriculo '. Para se ter uma idéia da extensio do problema, uma pesquisa realizada por docentes da Universidade Estadual de Londrina (Busnardo & Reis, 1994) com 53 professoras de inglés na regio de Londrina mostrou que apenas 38 conheciam a proposta. Destas, 33 achavam-na vidvel ou parcialmente viavel, 19 alegaram estar colocando-a em pratica, € 17 admitiram estar colocando-a parcialmente em pratica. O grau de afunilamento que se pode depreender desta pequena amostra vai se tornando mais complexo na medida em que se puder verificar (no nivel micro, mediante observacao de aulas) se e quais as idéias da proposta esto sendo postas em pritica na sala de aula de lingua estrangeira moderna ®, "PeTomenos até momentonio se tem notciadeque a SEED tens abandonado as propostascurriculares dos govemos anteriores. 5 Uma avaliagio completa deveria incluir também se as condigSes necessrias std sendo frnecidas ‘ Exemplos desces trabalho sto: Absy, Busnardo e Reis (1997), Coréa (1998), Pontara (1999), dentre outros. im ‘Signum Estad. Ling., Londrina, 8.2, 169-183, out. 9 3, INSTRUMENTOS DE DisseMINACAO DAS IDEIAS CONTIDAS NA. Nova Prorosta CURRICULAR A divulgacio da reestruturagio curricular no contexto mencionado materilizou-se basicamente através da publicacao de um livrero contendo as propostas curriculares para as varias disciplinas, e cursos de “treinamento” para professoras. Estou considerando 0 documento publicado pela SEED-PR e distribuido para conhecimento das professoras como a representacio ‘oficial’ (ou institucional) da visio do ‘que seja lingua estrangeira moderna e de como ela deve ser ‘ensinada nas escolas piblicas do Parand. Por outro lado, essa visto oficial € mediada pelos educadores encarregados de ministrar os cursos de atualizagio oferecidos as professoras como parte do processo de disseminacao, com o fim de implantar a proposta sugerida. So, portanto, representantes da visto oficial da SEED-PR tanto o texto da proposta quanto 1s cursos de capacitagéo que visavam a sua divulgacio. Conelui-se, assim, que houve, durante todo o processo de concepcio e disseminacio da proposta, varias etapas de interpretacao de intengdes, desde 0 momento em que os principios filosoficos foram definidos, passando pela elaboracio do texto final por uma equipe incumbida pela SEED-PR de redigir o texto para linguas estrangeiras modemnas, até a sua ‘materializagao em atividades pedagégicas na sala de aula. © acesso ao contetido da proposta pode ter dois caminhos possiveis: a professora pode ter acesso direto a proposta mediante leitura do documento e/ou pode ter acesso indireto a cla frequentando cursos de atualizago. No primeiro caso, ela precisa ser capaz de entender o que a proposta sugere € relacionar 0 contetdo da proposta com sua pratica pedagogica. No segundo caso, 0 acesso ser mediado pelas interpretagdes que os educadores de professores tiveram do ‘mesmo documento. O acesso poderia ser primério, no primeiro aso, e secundario no caso em que as professoras tiverem acesso “Signum Este, Ling, Londrina, n.2, 19-183, out. 92 1B a esses contetidos através dos cursos de atualizacao. E ébvio que, no caso de algumas professoras, o acesso pode ter sido de ambos os tipos. O foco deste artigo € com o acesso primério. Examinar documento representa uma tentativa de captar a visio oficial do que seja lingua estrangeira moderna e de como ela deva ser ensinada. A outra opcdo seria verificar como os educadores estéo divulgando a proposta, como essas idéias estio sendo veiculadas em seus cursos. E preciso reconhecer que a visio oficial, na verdade, ¢ mult-facetada: as sugestOes foram escritas por consultores que tiveram suas vozes sancionadas pela instituicdo. Esta vor também se faz presente nos cursos de atualizac2o para professores na medida em que esses cursos so autorizados pela instituicéo. “A voz do dono” esté, portanto, no documento publicado ¢ nas idéias transmitidas nos cursos de atualizacao de professores. E somente o primeiro que sera objeto de anélise, embora considere igualmente importante se investigar como os educadores interpretaram tais diretrizes. 4. A PROPOSTA PARA LINGUAS ESTRANGEIRAS MODERNAS NO 1.° GRAU A proposta para linguas estrangeiras modemnas, escrita por duas professoras, uma de lingua inglesa e outra de lingua francesa, esta dividido em trés partes: pressupostos te6ricos, encaminhamento metodologico € contetidos e avaliagao. Na parte de pressupestos tedricos sio apresentadas as condigbes da escola pablica, conforme tipificadas pelas autoras: “Em geral, nas escoles piiblicas, adoce-se um des livras propastos pela FAE, sem uma reflexto sobre os resultados da aprendicagem. Nio se Jeva em consideracdo que esses métodos se preocupam priorivariamente com a expresséo oral e que esse tipo de trabalho em classes numerasas, sem recursos, sto pouco eficazes” (p. 189). A critica 20 livro diditico & repetida em varios outros trechos do texto: “eg. com os livros diditicas 0 professor trabalha em iv ‘Signum: Exead, Ling, Londrina,n, 2, 169-183, out. 9 sala de aula com um discurso criado pelo proprio sistema educacional” (p. 189) ou “em geral, em sua sala de aula (0 professor) esté encurralado no livro diditico” (p. 191). As diretrizes representam, portanto, a pedagogia do possivel, mais reativa a situagao das escolas conforme avaliadas na época do que prospectiva em relacdo ao que seria desejavel. Assim, a énfase dada ao texto resulta mais da falta de condigdes das escolas € das professoras do que de sua eventual parcela para a formagio educacional desejada. Essa justificativa é claramente colocada pelas autoras: temos quase certeza que 0 professor com boa formacao cm lingua estrangeira tem condigdes de desenvolver a pritica da expressio oral desde que utilize material adequado; por isso acrediamos que, somence quando «2 maioria des professores do ensino priblico dominar a lingua estrangeira, sendo capae de apresentar ditlogos 05 alunos, variar as situagdes de comunicagao e fazer com que esses alunos reproduzam ¢ cheguem a criar seus proprios dislogos, teremos um trabalho efetivo com a expresso oral. (p. 204). A justificativa para 0 trabalho com o texto resulta da attificialidade do discurso do livro didatico e da falta de condigoes nas escolas piblicas. No entanto, a visio de linguagem apresentada € a discursiva. Citando Bakhtin, argumentam que “é empobrecedor apresentar a0 aluno somente 0 discurso que tenta explicar 0 funcionamento da lingua, 0 discurso didacico, as regras formats de gramética, as ‘frases criadas para exemplificar” (p. 191). Para isso sugerem que as professoras trabalhem com tipos diferentes de textos. Suspeito, porém, que nao ha garantias de que as professoras (consideradas despreparadas para trabalhar com a oralidade) tenham condicées de trabalhar com textos a partir da visio bakhtiniana. ‘Signuar: Estwd. Ling, Londtina, n. 2, 169-183, out. 99 15 Na seco intitulada ‘encaminhamento metodol6gico contetidos’ as autoras sugerem um trabalho demorado com © texto, que se contraponha ao que consideram a pratica comum das professoras: ~ leitura em vor alta seguida de esclarecimento de davidas de vocabulério; ~ apés a leitura, perguntas diretas cujas respostas nao exijam ~ textos como pretext para se cobrar gramatica. Para exemplificar a teoria, sAo apresentados textos e atividades em inglés e francés. Os textos utilizados sao do tipo informativo, publicitario e liceririo, para mostrar a “heterogeneidade de discursos”. No entanto, como a proposta estava centrada nas condigdes das escolas, conforme projetado pelas autoras, & esclarecido que a professora que tiver condigoes podera optar por trabalhar as quatro habilidades (falar, ouvir, ler e escrever), de modo integrado. E entao deixado em aberto para a professora tomar a decisio em sua escola: Acreditamos que os professores possom decidir como queiram trabalhar no I* grau, desde que se retinam, em sua escola, para tentar estabelecer as linhas gerais de uma progressao. (p. 205). Contraditoriamente, porém, & em seguida mostrada uma lista de funcdes de expressdo oral (chamadas de “atos de fala”) sob o rétulo de “contetidos minimos para o 1.° grau (de 5.® a 8), Para textos, & apresentada outra lista de tipos de textos, para 5.2 € 6.%, € 7.5 € 8. séries. Se alguma conclusio pode ser tirada dessas tipificagoes ‘que nortearam as sugestoes, @ a de que o ensino de lingua estrangeira moderna centrado na gramatica precisa ser revisto. Para substitui-lo existem duas opcoes: trabalhar com as quatro habilidades (para a qual as escolas e professoras nao esto 6 ‘Sigma: Estad. Ling, Londra, 0.2, 169-183, out. 99 preparadas) ou trabalhar 0 texto escrito. Entretanto, 0 texto escrito tem que ser trabalhado de modo diferente do que vinha sendo feito, ou seja, as professoras deverdo rever suas icas de cobrar leitura em voz alta, fazer perguntas que nao exijam raci ‘ou usar textos como pretexto para cobrar gramatica. O documento nao traz uma reflexdo se nossas professoras esto preparadas para essa nova concepsao de uso do texto em sala de aula, que envolve examinar géneros discursivos. Na ltima seo do documento, é tratada a avaliagao, concebida como processo - “no é um momento isolado”. Dentre os aspectos a serem avaliados so mencionados: contetidos relevantes, habilidades cognitivas basicas, atitudes fundamentais de trabalho e capacidade critica. Tendo em vista que sao previstas duas progresses, uma para a expresso oral outra para a expresso escrita, a avaliagao devera seguir (© mesmo procedimento. So, entao, dadas sugestoes de como avaliar os alunos. Embora esse raciocinio tenha que ser recomposto a partir das varias segoes do texto, parece que os argumentos para ‘mudanga citados no texto esto baseados nas seguintes premissas: 1) 0 ensino atual é falho porque concentra em habilidade cujo ensino requer condicées inexistentes na escola piblica. Conseqiientemente, 0 aluno s6 chega a aprender um punhado de frases feitas, mas nao chega a se expressar em LE (“carrega pouca bagagem quando termina os estudos’); 2) © ensino atual € falho porque adota um discurso pedagigico (0 do livro didatico sugerido pela FAE "), que concentra em exercicios de tradugio € gramatica aoa arnt a io dio stra ania posh fade tcl omer dey d fatadeconectcom lanes exangor ¢ Ieratra dos outs pases ‘Sienunm:Exvud, Ling., Londrina,n, 2, 169-183, out. 99 i Poder-e-ia contra-argumentar que a solucao para 1) seria ento possibilitar que a escola pudesse atingir o objetivo de desenvolver expressio oral e para 2) que fossem ofertadas as condigées necessérias para se trazer materiais auténticos para a sala de aula. Consequentemente, a solucao para 0 fracasso do atual ensino seria resolvido em nivel institucional, dando-se a infra-estrutura as professoras para executarem 0 trabalho satisfatoriamente. Entretanto, a vor que se ouve no texto é a que atribui 20 individuo a principal responsabilidade. E a metodologia utilizada pela professora que esta inadequada. A abordagem de ensino é que deve ser mudada. Assim, a sugesto na parte inicial do documento ¢ para se trabalhar com texto escrito, porque a leitura enriquece 0 universo do aluno e as escolas rndo tém as condicées minimas para se trabalhar @ expressio oral. A abordagem comunicativa, que € erroneamente associada com expressio oral *, € descartada porque requereria professoras com uma boa formacio *e material atualizado variado, © documento contém ainda pontos questionaveis que requerem alguma reflexso. 5, PonTOs CONFLITANTES NA PROPOSTA ‘Ao justificar a énfase na expressio excrita as autoras também explicitam o que acham que deveriam ser os objetivos para se incluir a Lingua Estrangeira Moderna no curticulo, & portanto, razdes para ensiné-la. Re autorasadefinem como sendo “desenvolvimento de prdvca oral levando ‘em consideragaoa vias situagdes de comunicagao, 0 meio social des falantes, ‘relagdes que tem entre siea prepria cultura, diferentes registrosda lingua #as variedadesforicas" " Bice sera capas de apresentardidlogo, varias situagbes de comunicagoe fazer ‘com que alunos reproduzam e cheguem a crar seus proprios didlogce. 1 ‘Signum: Este. Ling, Londkina,n. 2, 169-183, out. 99 a) o ensino nao deve ter carater utilitario, mas fazer parte da formagao geral do aluno; b) na aula de Lingua Estrangeira, o aluno pode entrar em contacto com 0 mundo cultural rico que a lingua pode oferecer (“abertura para mundo desconhecido’), evitando relagao “imediatista”; 0 aluno “acorda para ‘outros pontos de vista” e aprende que se pode ver 0 mundo sob outras perspectivas; descobre outra realidade, 0 que faz com que enxergue sua propria realidade. Essa visio do porqué de ensinar LEM, que se enquadra ‘em justificativa que se poderia chamar de cultural, nao exclui naturalmente um trabalho com a expressio oral. Infelizmente, as autoras nao trabalharam a contradicao que possa haver entre as razdes para se ensinar e as razdes para se aprender. Enquanto para se ensinar é invocada a importancia da Lingua Estrangeira na formagio cultural do aluno, este poderd ter outros objetivos para aprendé-la, mais imediatistas e instrumentais. Por iso o documento oscila entre procedimentos que privilegiem o aspecto cultural e os que accitam a visio tida como imediatista (“o aluno espera um dia falar essa nova lingua, mas a énfase na leicura leva a compreensio de textos cientificos, por exemplo’). De qualquer forma, o documento enfatiza que a Lingua Estrangeira deve tornar uma base real de conhecimento (mediante trabalho com texto) e nao uma pratica inatil de frases num outro idioma (mesmo que isso signifique a possibilidade de ter contacto com estrangeiros). Nenhuma referéncia desta ver aos eventuais objetivos (imediatistas?) de passar no vestibular ®, embora fosse um bom argumento para se enfatizar a leitura desde o 1.° grau. " Coincidentements, o documento também nio fas refertncia & Higa do ‘ensino de Lingua Estrangeira Moderna no 1° eno 2.°raus ‘Signum: Excod. Ling, Londrina,n.2, 169-183, out. 99 179 © documento argumenta principalmente em favor da autenticidade em sala de aula, em oposicéo a instrugao baseada na explicitacdo de regras gramaticais. Entretanto, 0 que conta como auténtico esta longe de ser determinado fora de contexto. Conforme argumenta Kramsch (1993), o discurso pedagégico pode ser justamente o mais auténtico. Segundo ela Mechanistic pattern practice, however, is not bad or ineffective per se, but only as measured against the communicative or cognitive goals of an educational culture that uses such metaphors as ‘meaningful communication’, ‘negotiation of meaning’, and ‘creatives uses of language’to express its vision of human relationships (p.184). Contrariamente a visio acima, a concepcio de trabalho com o texto expressa no documento pressupde textos auténticos. Para isso, a professora teré que obter material paralelo a0 do livro didatico, recortado em jomnais, revistas, prospectos. Os textos deverio ser “lidos ¢ compreendidos na sua totalidade significativa”. Os procedimentos envolveriam os alunos em “aprender a reconhecer a natureza do texto estudado, trabalhar sua escrucura, sua coesio interna e fazer exercicios de lingua, para fixar certas construgdes”. Além disso, 0 professor poderia também incluir escrita de outros textos, a partir dos modelos apresentados. As diretrizes apontam, portanto, para um texto “auténtico’ a ser tratado pedagogicamente. Raramente seria esse mesmo o tratamento dado por um leitor que folheasse a revista ou o jornal de onde o texto foi retirado. A sala de aula, portanto, transforma o uso “auténtico” de um texto em. uma exploragao didatica, por mais malabarismos que se queira fazer para tornar a atividade auténtica. Auténtico em sala de aula é aquilo que leva ao ensinolaprendizagem da lingua estrangeira 180 ‘Signum Esch ng, Londrina, a. 2, 169-183, out. 99 ‘Outro fato a considerar € a competéncia da professora em lidar com a linguagem desses textos. Pressupondo-se, como as autoras sugerem, que as professoras ndo tém uma “boa formacao em lingua estrangeira”, como vio dominar esses textos no sentido de seguir a proposta? Ou a ‘boa formagao’ envolve apenas proficiéncia oral? Embora haja realmente espaco para se questionar a supremacia do Inglés, € preciso também considerar a ambigilidade associada a esta Lingua. Como qualquer outra lingua, o Inglés também pode ser visto como meio de fazer 0 aluno enxergar a sua propria cultura. Neste caso, 0 Inglés € tao carregado de valor (instrumento de poder) quanto qualquer outra Lingua Estrangeira. Entretanto, o Inglés também € a lingua da dominagao econémica e, portanto, poderia ser visto como uma forma de imperialismo lingtistico. Essa ambigtidade, que a situa como lingua preferida no curriculo (Porque potencialmente pode satisfazer ambos os objetives), € também incémoda para professoras de outras linguas. Suas voues aparecem no texto quando as autoras observam que estudar outras Linguas Estrangeiras € privilégio de alguns estados onde os professores dessas linguas se uniram criando centros de lingua. Infelizmente, a op¢io por uma s6 Lingua Estrangeira esta vinculada a questdes nfo s6 ideologicas, mas também econdmico-financeiras. Mais uma vez, a instituiga0 poderia resolvé-lo alocando recursos para a miltipla oferta de Tinguas. Idealmente deveriam ser oferecidas varias linguas, mas 1 Estado se limita a oferecer o minimo. Dai o reconhecimento das autoras de que “quanto mais um pats € independente ‘econémica e culturalmente, mais opdes ele oferecers a seus estudantes”. E esta também a posicao da SEED-PR? Conciusio Neste trabalho procurei mostrar como a instituicao procura se tornar invisivel no processo de reformulagao Siem cad Ling, Londina, 2, 19-183, out. 99 181 curricular, procurando solucdes de praticas pedagogicas ¢ se esquivando de responder questdes cruciais que dependam de seu poder decis6rio. Exemplificando com o texto de LEM argumentei que a sugestao final € a pedagogia do possivel, ‘que rejeita a pratica atual de ensino voltado para a gramética € sugere um ensino centrado em textos auténticos e habilidades integradas, nas escolas em que houver condicées. Considero a andlise do documento um aspecto importante por se tratar de uma das poucas iniciativas do Estado de comprometimento com o processo de inovagio curricular. Como tal, representa apenas uma faceta da reformulagao do ensino piblico no Parana. Seria importance complementar essa anélise com as idéias que vem sendo veiculadas nos cursos de atualizagdo de professoras principalmente com a pratica da professora de Lingua Estrangeira em sala de aula. Somente com esses dados teremos condigdes de obter um quadro mais completo do ensino de Linguas Estrangeiras nas escolas pablicas e seu relacionamento com os objetivos institucionais. Referéncias bibliograficas ABSY, C.; BUSNARDO, C,; REIS, MRF. O Curriculo Bisico de Lingua Inglesa nas escolas estaduais de Londrina, Parana: uma perspectiva de sala de aula, Relatério de Pesquisa. Londrina : UEL, 1997. BUSNARDO, C.; REIS, M.R.F. Diagnéstico da implantacéo dos novos curriculos de lingua inglesa nas escolas estaduais de Londrina - Parané. 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