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11/10/2020
Número: 0733041-44.2020.8.07.0001
Classe: AÇÃO POPULAR
Órgão julgador: 23ª Vara Cível de Brasília
Última distribuição : 07/10/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Atos Administrativos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
JOSE EDMILSON DA SILVA (AUTOR)
MAXIMILIANO NAGL GARCEZ (ADVOGADO)
IVAN MARQUES DE TOLEDO CAMARGO (RÉU)
MURILO BOUZADA DE BARROS (ADVOGADO)
EDISON ANTONIO COSTA BRITTO GARCIA (RÉU)
MURILO BOUZADA DE BARROS (ADVOGADO)
companhia energética de Brasília (RÉU)
MURILO BOUZADA DE BARROS (ADVOGADO)
Outros participantes
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
74374895 11/10/2020 Decisão Decisão
02:53
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
23VARCVBSB
23ª Vara Cível de Brasília
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Como início de relatório, transcrevo, com a licença do seu autor, aquele elaborado pelo representante do
Ministério Público, na manifestação de ID 74334950 - Pág. 1 a 4:
"Trata-se de Ação Popular ajuizada com intuito de suspender a 103ª Assembleia Geral Extraordinária
da Companhia Energética de Brasília – CEB, marcada para o dia 13 de outubro de 2020, próxima
terça-feira, na qual será deliberada “a alienação de 100% (cem por cento) das ações representativas do
capital social total votante da CEB Distribuição S.A., pelo preço mínimo de venda de R$
1.423.898.000,00”.
O pedido está fundamentado unicamente no fato de a convocação não ter observado as formalidades
previstas na legislação pertinente quanto à convocação para a 103ª Assembleia Geral Extraordinária.
Vale dizer, não se discute na presente ação a questão do mérito da venda das ações da companhia
(Desestatização).
Segundo o autor popular, a CEB não observou o disposto no Decreto nº 39.353/2018 do Distrito Federal
(...)
O autor afirma que os procedimentos nos arts. 2º e 3º não foram observados, destacando que o edital de
convocação para a 103ª Assembleia Geral Extraordinária foi publicado no DODF no dia 28 de
setembro de 2020, ao passo que a reunião está designada para o dia 13 de outubro de 2020, próxima
terça-feira."
Pede a liminar para a suspensão da AGE, ou a designação de nova data que respeite o prazo de 30 dias,
necessários à manifestação da PGDF.
A requerida CEB manifestou-se no ID 74229911 - Pág. 1 a 14, onde, em resumo, pontuou que:
1) Já vem tratando do assunto desestatização desde o ano passado, em diversas Assembleias - "Em
19.06.2019, há mais de um ano, portanto, a 98ª Assembleia Geral Extraordinária da CEB aprovou a
elaboração de estudos e a modelagem para alienação da maioria das ações representativas do capital da
Companhia".
2) Que o prazo legal de antecedência da convocação para a 103ª Assembleia Geral Extraordinária da
CEB, 15 dias, foi respeitado, e não se confunde com o prazo de comunicação à PGDF dos temas a serem
deliberados em Assembléia (30 ou 60 dias previstos no Decreto Distrital).
3) A Convocação para a data designada, foi tomada pelos órgãos competentes da CEB. "Afinal, a
convocação da 103ª AGE foi realizada (i) por Conselho de Administração devidamente e regularmente
constituído; (ii) em observância ao prazo mínimo de antecedência (15 dias); e (iii) para deliberar tema
de extrema relevância – aprovação da desestatização da Companhia – que há muito já é objeto de
análises e debates pelos acionistas e pelo próprio Poder Público, como é de conhecimento público e
notório".
4) "Todo o processo foi realizado de forma pública e divulgado em todos os meios de comunicação3, não
havendo que se falar que a matéria é uma surpresa e causa estranheza aos acionistas."
À luz do 4º Termo Aditivo ao Contrato de Concessão nº 66/1999, celebrado pela CEB-D em dezembro de
2015 com o Poder Concedente, qualquer descumprimento que ocorra no ano de 2020, quer seja de
métricas econômico-financeiras, quer seja de métricas técnico-operacionais, ensejaria o início do
processo de caducidade da concessão."
8) Não haveria a presença dos requisitos para o deferimento da liminar. Por isso, requer o seu
indeferimento.
"No mesmo sentido, o Distrito Federal editou o Decreto 39.353/2018, prevendo a mesma antecedência de
30 dias para o encaminhamento prévio dos documentos para a assembleia geral. Em ambos os casos,
verifica-se que são decretos instituidores de procedimentos administrativos internos que, naturalmente,
não podem derrogar as exigências da própria Lei n. 6.404/76 para qualquer convocação de assembleia
geral.
Ora, o prazo em questão é procedimental, não previsto em lei, e, pelo amplo conhecimento que a matéria
da ordem possui na administração distrital, não se pode considerar esse prazo de maneira rígida. Vale
dizer, a eventual desobediência ao prazo do decreto 39.353/2018, que não gerou qualquer prejuízo para
nenhum acionista, muito menos para o Distrito Federal. Logo, não se pode cogitar de qualquer nulidade
na convocação.
(...)
"Por essas razões, não se deve declarar a nulidade ou a anulação da assembleia, com base em requisitos
de procedimento que sequer constam da lei, quando os interesses dos acionistas não foram prejudicados.
Não havendo efetivo dano ou qualquer prejuízo ao acionista Distrito Federal, não se justifica qualquer
invalidação da assembleia convocada.
O acionista controlador tem total interesse na solução imediata desse tema, que vem sendo tratado de
forma pública desde o ano passado, para a defesa do melhor interesse da companhia. A saúde financeira
da companhia e o próprio interesse social dos cidadãos na prestação do serviço público estão sendo
resguardados da melhor maneira possível. Nem a população nem o próprio acionista Distrito Federal
possuem interesse no adiamento ou na invalidação da assembleia, que segue no caminho de interesse
público.
Além disso, a tentativa do Autor de retardar o processo de desestatização implica em risco do próprio
descumprimento do cronograma do processo e, invariavelmente, da declaração da caducidade de
concessão da CEB Distribuição, caso não seja implementado a alteração do controle societário.
É o relatório do necessário.
Decido.
Preliminarmente, verifica-se que o pedido de tutela de urgência (ou liminar) indicado nos itens "a" e "b"
do ID 74081567 - Pág. 9, tem caráter satisfativo e irreversível, esgotando o objeto da presente demanda.
Case deferida a liminar, a AGE seria suspensa ou designada para data posterior, não havendo mais o que
se analisar no presente feito. Tudo sem formação do contraditório ou do exercício da ampla defesa.
Para tal medida ser plausível, portanto, a presença de inegável probabilidade do direito deveria estar
cristalina. E isso não ocorre, uma vez que:
1) a medida de ato lesivo ao patrimônio do Distrito Federal (nos artigo do artigo 1º, da Lei 4.717/1065 -
Lei da Ação Popular) não seria a convocação da AGE, sem respeito ao prazo de 30 dias, mas sim a
eventual deliberação nela tomada;
A Procuradoria Geral do Distrito Federal sustentou na sua manifestação não ter havido qualquer prejuízo
à sua atuação a designação da AGE em um prazo de 15 dias, uma vez que o assunto desestatização da
CEB já vinha sendo tratado desde a metade do ano de 2019, com amplo conhecimento público e
manifestação dos órgãos distritais envolvidos com o tema. Argüiu, ainda, que o Decreto é uma norma que
dá comandos internos aos agentes públicos do DF, não tendo o status de Lei, dirigindo-se a um melhor
cenário para análise das decisões orientadoras dos votos do DF nas sua paraestatais. Respeitado foi o
prazo legal de 15 dias, conforme a LSA, norma repetida no artigo 11 do Decreto invocado pelo autor.
Ora, se a autoridade pública prestigiada pelo prazo do Decreto afirma não ter experimentado prejuízo,
quando a convocação respeitou o prazo legal, 15 dias (LSA), não se pode alegar nulidade da convocação
ou da AGE por desrespeito ao prazo do Decreto, criado justamente para não causar prejuízo à PGDF e
órgãos distritais. Não há nulidade se não há prejuízo, como invocado pela requerida e pela PGDF.
Aqui, reitero, na hipótese ventilada, a legitimidade para invocar o respeito ao prazo é única e exclusiva
dos órgãos prejudicados. A Ação Popular não comportaria a substituição processual estabelecida na
inicial. E, se fosse o caso de eventual encampação da tese do autor pela PGDF, bastaria tal órgão ter
corroborado o pedido liminar de suspensão da AGE.
Poderia, ainda, a PGDF exercer a prerrogativa que lhe confere o mesmo Decreto Distrital 39.353/2018,
aplicando o comando do artigo 5º, e promovendo a "retirada de pauta e transferida para a Assembleia
Geral seguinte, matéria que, incluída em item de assuntos gerais, não tenha sido objeto das
instruções das autoridades referidas no artigo 4º."
Noutro aspecto relevante, é preciso diferenciar o prazo de convocação, previsto na LSA e no Decreto, do
Reitero, o Distrito Federal, por meio da PGDF, participou da referida AGE, votando, inclusive. Portanto,
há mais de um ano a PGDF foi comunicada das deliberações sobre a desestatização da CEB, participando
das votações que culminaram com a designação da AGE que ocorrerá na próxima terça-feira. O prazo de
30 dias previsto no artigo 2º do Decreto Distrital 39.353/2018 foi respeitado, pois há mais de um ano a
PGDF e demais órgãos do DF sabem da possibilidade de entrada em pauta do assunto desestatização da
CEB, tendo conhecimento dos estudos que levaram à recomendação de desestatização, estudos
capitaneados, inclusive, pelo BNDES, com publicidade das conclusões disponibilizadas aos órgãos
competentes.
Do ponto de vista legal, o prazo de 15 dias de antecedência da convocação da AGE respeita as normas de
regência. Destaque-se que a matéria é típica de AGE e não de AGO, como quis fazer crer o autor, isso
porque a alienação de ações não se encontra no rol taxativo das competências da AGO, previsto no artigo
132 da LSA. Confira-se:
Art. 124 da Lei 6.404/1976: "A convocação far-se-á mediante anúncio publicado por 3 (três) vezes, no
mínimo, contendo, além do local, data e hora da assembléia, a ordem do dia, e, no caso de reforma do
estatuto, a indicação da matéria.
I - na companhia fechada, com 8 (oito) dias de antecedência, no mínimo, contado o prazo da publicação
do primeiro anúncio; não se realizando a assembléia, será publicado novo anúncio, de segunda
convocação, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias;
Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social, deverá
haver 1 (uma) assembléia-geral para:
Art. 11, do Decreto Distrital nº 39.353/2018: "Sem prejuízo da observância dos prazos a que se refere o
artigo 2º deste Decreto, a convocação far-se-á mediante anúncio publicado por 3 vezes, no mínimo,
contendo, além do local, data e hora da assembleia, a ordem do dia, e, no caso de reforma do estatuto, a
indicação da matéria.
Ainda em análise ao Decreto Distrital nº 39.353/2018, possível a constatação dos seguintes fatos:
1) Art. 1º O Distrito Federal é representado nas assembleias gerais e reuniões de cotistas das entidades em
que tenha participação ou interesse, pela Procuradoria Geral do Distrito Federal.
2) § 1º Nas Assembleias Gerais o DF será representado pelo Procurador-Geral do Distrito Federal ou por
procurador do Distrito Federal previamente designado por aquele.
(...)
3) Art. 2º As empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades com participação
societária do Distrito Federal, ainda que minoritária, deverão enviar à Procuradoria-Geral do Distrito
Federal o anúncio de convocação para suas assembleias gerais, (...), com antecedência mínima de 60
dias de sua realização, no caso de reuniões ordinárias, e de 30 dias, em se tratando de reuniões
extraordinárias.
4) Art. 3º Antes de emitir parecer sobre o voto do Distrito Federal em assembleia geral de entidade
estatal, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal instaurará processo administrativo e colherá a
manifestação, obrigatoriamente:
V - da Controladoria Geral do Distrito Federal, quando a matéria a ser deliberada envolver assunto de sua
competência; (...)
TODAVIA:
5) Art. 5º A critério do representante do Distrito Federal, será retirada de pauta e transferida para a
Assembleia Geral seguinte, matéria que, incluída em item de assuntos gerais, não tenha sido objeto
das instruções das autoridades referidas no artigo 4º.
Posto isso, ante a ausência de probabilidade do direito invocado, seja pela ausência de prejuízo na
eventual nulidade alegada, seja porque a parte legitimada a invocar a irregularidade do prazo de
convocação compareceu aos autos afirmando não ter interesse na concessão da liminar, seja porque o
deferimento da antecipação de tutela (liminar) estaria revestida de irreversibilidade e teria caráter
satisfativo, ausentes, portanto, pressupostos do artigo 300 do CPC, INDEFIRO A TUTELA DE
URGÊNCIA/LIMINAR pleiteada, mantendo a AGE da CEB designada para o dia 13 de outubro de
2020.
Antes de se promover a citação das requeridas, aguarde-se a preclusão da presente decisão, fazendo-me
conclusos os autos, em seguida. P.