Vous êtes sur la page 1sur 6

SAPATEIRO

Dirige-se à barca a do Diabo. O Sapateiro diz ao Diabo que não entraria ali, pois enquanto viveu
sempre se confessou, foi à missa e rezou pelos mortos. O Diabo desmascara-o e diz-lhe que não vale a
pena continuar a utilizar aquele tipo de argumentos, acusando-o de praticar religião sem fé.
O Sapateiro, incrédulo, dirige-se à barca da Glória, mas o Anjo diz-lhe que a carga que trazia não
caberia na sua barca. Vendo que não conseguira o pretendido, o Sapateiro dirige-se à barca do Inferno,
onde entra.
Classe social: Povo

Elementos cénicos:

- avental: simboliza a profissão


- carregado de formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados
Argumentos de Defesa do Sapateiro:
- fez todas as práticas religiosas: rezava, ia à missa, adorava os santos e levava-lhes oferendas;
- morreu confessado e comungado.
Argumentos de acusação do Diabo:
- Explorou o povo com o seu trabalho;
- roubou o povo durante 30 anos;
- ia à missa e logo a seguir ia roubar, ou seja, praticava a religião de forma incorreta;
- morreu excomungado;
Argumentos de acusação do Anjo:
- Não viveu honestamente;
- roubou o seu povo;
- a cárrega embaraça-o, ou seja, o pecado impediu-o de se salvar.
Momentos psicológicos da personagem:
- ao princípio está confiante em como irá para o Paraíso, pois era bastante religioso
- no fim dirige-se ao Diabo e reconhece os seus erros
Caracterização da personagem:
- Direta: aldrabão, ladrão, desonesto, malcriado
- Indireta: pecador, excomungado, autoconfiante , explorador
Tipo(s) de cómico usado(s):
- Cómico de linguagem: "quatro formigas cagadas que podem bem ir i chantadas." (calão)
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
Forma superficial de como os católicos praticavam a religião (julgavam que as rezas, missas, comunhões,
tinham mais valor que praticar o bem)

FRADE
Um Frade entra em cena acompanhado de uma moça. Diz ao Diabo ser da corte. O Diabo não lhe
prestou qualquer atenção e perguntou-lhe se a moça que ele trazia era sua e se no convento não o
censuravam por isso. O Frade respondeu-lhe que no convento todos eram tão pecadores. O Diabo diz-
lhe que o comportamento evidenciado durante toda a vida abrira caminho para o Inferno.
O Frade não se conforma e resolve, juntamente com a moça, ir ao batel do Céu, encontram-se com o
Parvo, que os convence do seu destino: o inferno. O Frade dirigiu-se, de novo à barca do Inferno e aí
embarca com a moça que o acompanhava.
Classe social: Clero
Elementos cénicos:
Amante (Florença) – Não cumpre o celibato;
Espada, escudo, casco – Guerra;
Hábito de frade, cruz – Religião e fé.
Cantiga cortesã – Vida cortesã.
Argumentos de Defesa:
- ser Frade
- rezou muito
- ser cortesão
- saber lutar
Argumentos de Acusação:
- era mundano
- não respeitou os votos de castidade e de pobreza
O Frade não nega as acusações feitas, pois pensa que o facto de ser Frade o vai salvar dos seus pecados.
Momentos psicológicos da personagem:
- Apresenta-se como cortesão, o que revela que ele frequentava a corte e os seus prazeres (era um
frade mundano)
- Usa o facto de ser Frade naquele tempo (pretende mostrar que o clero se mostrava superior,
poderia fazer o que quisesse sem ser condenado)
- aceita a sentença porque se o Anjo se recusa a falar com ele é porque todos os seus pecados foram
graves.
Caracterização
Direta - O Frade autocaracteriza-se como “cortesão”, ou seja, alguém que está familiarizado com os
hábitos da corte. Mais tarde, assume-se como “namorado” e “dado a virtude” e que tem “tanto salmo
rezado”. Esta personagem assume, de forma direta, uma vida dupla como frade, que usa hábito e reza
orações e que também é da corte, que namora, canta, esgrima e toca viola.
Indireta - As suas atitudes, também certificam que é um padre pecador, que levava uma vida
boémia, em vez de se dedicar ao serviço que prestava a Deus e em auxílio de quem precisasse. O Frade
convencido de que as suas rezas e o simples hábito de Frade lhe garantirão um outro destino.
Tipo(s) de cómico usado(s):
de linguagem - “Devoto padre marido”;
de situação - a entrada do frade em cena com a moça pela mão
de carácter - pensava que a relação proibida com a moça seria perdoada pelas suas muitas rezas.
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
- desajuste entre a vida religiosa e a vida que ele levava ( vida mundana)
- os símbolos representavam a vida de prazeres que ele levava, o que o afastava do seu dever à
crítica religiosa
- Frade- E eles faziam outro tanto!” revela que:
- havia uma quebra de votos de castidade ao hábito comum entre eles
- esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem
tipo, representando toda uma classe social.

ALCOVITEIRA

A Alcoviteira, Brízida Vaz, chega ao cais relatando o que trazia e afirmando que iria para o Paraíso
pois tinha sofrido em vida e feito muito pelas moças, mas o Diabo contestava e dizia-lhe que aquela
barca era a que lhe estava destinada.
Brízida vai implorar ao Anjo que a deixe entrar na sua barca, dizendo que tinha o mesmo mérito que
o de um apóstolo. O Anjo disse-lhe que se fosse embora e que não o importunasse mais.
Triste por não poder ir para o Paraíso, Brízida vai caminhando em direção ao batel do Inferno onde
entra, já que era o único meio possível para seguir a sua viagem.
Classe Social: Povo

Símbolos cénicos:
- seiscentos virgos postiços (hímenes das virgens)
- três arcas de feitiços
- três armários de mentir
- joias de vestir
- guarda-roupa
- casa movediça
- estrado de cortiça
- dois coxins
(todos estes símbolos representavam a sua atividade de alcoviteira ligada à prostituição)
Argumentos de Defesa:
- diz que já sofreu muito (era uma mártir, levou açoites)
- que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero
- era perfeita como os apóstolos e anjos e fez coisas muito divinas;
- salvou todas as suas meninas
Argumentos de acusação:
- viveu uma má vida (prostituição)
- a hipocrisia
Momentos psicológicos da personagem:
- chegando ao cais na barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram
conhecidos
- diz que não é a barca do Diabo que procura
- está sempre confiante de que vai entrar na barca do Anjo
- defende-se dizendo que sofreu muito, como ninguém, que arranjou muitas “meninas” para
elementos do clero e que está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”
- quando vai à barca do Anjo muda completamente a sua atitude, usando mais o vocabulário de
cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa
Caracterização:
Direta - "som apostolada, angelada e martelada"
Indireta - Brísida era mentirosa (“três almários de mentir”), mexeriqueira (“cinco cofres de enleos”),
ladra (“alguns frutos alheos”), cínica (“trago eu muita bofé”), convencida (“e eu vou pera o paraíso”),
enganadora (“barqueiro mano meus olhos”).
Tipo(s) de cómico usado(s):
de linguagem - "barqueiro mano, meus olhos"; "cuidais que trago piolhos?"
de carácter - "eu som apostolada...fiz cousas mui divinas".
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
Crítica individualizada ou crítica de outros sectores da sociedade: - Gil Vicente faz crítica às
alcoviteiras. Critica as outras classes, nomeadamente o Clero.

JUDEU
O Judeu carrega um bode (fazia parte dos rituais de sacrifício da religião hebraica).
O Diabo questiona se o bode também era para entrar junto com o Judeu, que afirma que sim, mas o
Diabo impede essa entrada, pois ele não levava caprinos para o Inferno.
O Judeu resolve pagar alguns tostões ao Diabo, para que ele permita a entrada do bode. Vendo que
não consegue, roga-lhe várias pragas, apenas pelo facto do Diabo não fazer a sua vontade.
O Parvo, para troçar do Judeu, perguntou se ele tinha roubado a cabra.
Em nenhum momento, o Judeu tenta entrar na barca do Anjo.
O Diabo ordena o fim daquela discussão e ordena ao Judeu que entre.

Classe social: Burguesia


Percurso cénico:
O Judeu tenta entrar na Barca do Inferno mas não consegue. O Diabo acaba por permitir que se
desloque a reboque na Barca do Inferno.
Símbolos cénicos:
Bode – salvação dos pecados, purificação, o que explica o apego do Judeu ao seu símbolo, mesmo
depois da morte. (Símbolo da religião judaica).
Argumentos de Defesa:
- Não tem argumentos de defesa pois como é judeu não crê na religião católica e não acredita que possa
ter salvação.
Argumentos de acusação do Diabo e do Parvo:
- Violação de sepulturas cristãs;
- Consumo de carne em dias de jejum.
Momentos psicológicos da personagem:
Logo que chega ao cais o Judeu dirige-se para a barca do Inferno porque:
- sabe que não será aceite na barca do Anjo, já que em vida nunca foi aceite nos lugares dos Cristãos
- os Judeus eram muito mal vistos na época e nem poderia admitir a hipótese de entrar na barca do
Anjo
Para entrar na Barca do Inferno ele usa o dinheiro. Ele usa o dinheiro porque era uma forma de
mostrar que os Judeus tinham grande poder económico e que estavam ligados ao dinheiro.
O Judeu recusa deixar o bode em terra, porque quer ser reconhecido como Judeu.
Caracterização:
Indireta – fanatismo religioso (não queria largar o bode), ladrão, má pessoa, avarento.
Tipo(s) de cómico usado(s):
de linguagem - utiliza o registo de língua popular nos insultos ao parvo e ao Diabo
de carácter - o seu apego ao bode
de situação - aparece com o bode às costas e termina a reboque da Barca do Inferno
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
Em termos de contexto histórico,
- revela que os Cristãos odiavam os Judeus
- acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos de Natureza diversa
- acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profanações.

CORREGEDOR
O barqueiro ao ver o Corregedor fica feliz, pois esta seria mais uma alma que ele conduziria para o
Inferno, porque durante toda a sua vida foi um juiz corrupto, que aceitava perdizes como suborno. O
Diabo começa a falar em latim com o Corregedor, pois era usado pela Justiça e pela Igreja, e era
considerada uma língua culta. Os dois começam a discutir em latim, o Corregedor por se achar superior
ao Diabo quer também demonstrar-lhe que, pelo facto de ser um juiz prestigiado, não poderia entrar
em tal barca. O Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, cita, inclusive, a sua mulher, que
aceitava suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que nisso ele não estava envolvido, esses eram
os pecados de sua mulher e não os seus.
Classe social: nobreza
Símbolos cénicos:
Vara e processos (julgamentos mal efetuados, parcialidade)
PROCURADOR
Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador,
carregando vários livros. Depara-se com o Corregedor e, espantado por encontrá-lo ali, questiona-o para
onde ia, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz: para o Inferno e que também era bom ele ir
entrando logo.
Classe social: nobreza
Símbolos cénicos:
Livros jurídicos - os processos judiciais representavam a injustiça, o suborno, a corrupção

O Corregedor e o Procurador não queriam entrar na barca, pois diziam-se homens de fé, sabedores
da existência de outra barca em melhores condições - o Céu.
Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo mostram-lhes que as suas ações os impediam de
entrar na barca da Glória, pois tinham feito mal e era agora altura de pagar, com a ida das suas almas
para o Inferno.
Desistindo de ir para o paraíso, os dois entram no batel dos condenados e deparam-se com Brísida
Vaz, que fica satisfeita com esta entrada, pois enquanto viveu foi muito castigada pela Justiça.

Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador porque:


- ambos faziam parte da justiça
- ambos eram corruptos
Corregedor
Argumentos de Defesa:
- não tem ar de quem se deixa subornar
- apenas o rei tem mais poder que ele (utilização do seu estatuto social)
- era a sua mulher que aceitava os subornos
Argumentos de Acusação
O Diabo acusa-o de:
- não ter sido imparcial nas suas sentenças, deixando-se corromper por dádivas recebidas até de Judeus
- julgou com malícia (enriqueceu com o trabalho dos lavradores ingénuos)
- confessou-se mas mentiu
O Anjo acusa-o:
- de vir carregado, sendo filho da ciência
O Parvo acusa-o de:
- roubar coelhos e perdizes
- profanar nos campanários: levava a religião de uma forma superficial
Procurador:
Argumentos de Defesa:
- não tem tempo de se confessar
Argumentos de acusação:
O Anjo acusa-o
- de vir carregado, sendo filho da ciência
O Parvo acusa-o de:
- roubar coelhos e perdizes
- profanar nos campanários: levava a religião de uma forma superficial
Caracterização:
Indireta – a referência às perdizes aludia ao carácter corrupto das personagens.
Tipo(s) de cómico usado(s):
de linguagem – utilização do latim macarrónico (O Corregedor usa muito o Latim porque era uma
língua muito usada em Direito)
de carácter - a sua mania de superioridade
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
Denúncia da justiça corrompida que se deixava comprar e espoliava o que podia.
Gil Vicente contrapõe a justiça humana, corrupta, à justiça divina, que repõe a verdade, sendo
intransigente e imparcial. O juiz do tribunal terreno torna-se réu no tribunal divino.
A forma como é praticada a religião revela hipocrisia, falsidade e interesse.

ENFORCADO
Segue-se um homem que morreu enforcado que, ao chegar ao batel dos mal-aventurados,
começou a conversar com o Diabo. Tentou explicar que não iria no batel do Inferno, pois já tinha sido
perdoado por Deus ao morrer enforcado acreditando no que lhe dissera Garcia Moniz. O Diabo diz-lhe
que está enganado e predestinado a arder no fogo infernal.
Desistindo de tentar fugir ao seu destino, acaba por obedecer às ordens do Diabo para ajudar a
empurrar a barca e a remar, pois o momento da partida aproximava-se.
Classe social: Povo
Símbolos cénicos:
O único símbolo cénico é o baraço (ou corda), que simboliza o suicídio.
Argumentos de Defesa:
- ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado (assim lho dissera Garcia Moniz)
- já tinha sofrido o castigo na prisão
Argumentos de acusação:
- o crime que cometeu
- ser ingénuo
Momentos psicológicos da personagem:
- confiança na palavra de Garcia Moniz, purgatório era o Limoeiro, o baraço era santo, as orações
feitas no momento de execução
Caracterização:
Direta: - “ Bem-aventurado”.
Indirecta: -ingénuo, confiante na palavra dos outros, facilmente influenciável.
Tipo(s) de cómico usado(s):
de carácter - a ingenuidade da personagem (que contrasta com o facto de ele ser um ladrão)
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
Os costumes censurados são o engano dos mais fracos por pessoas com responsabilidade (Garcia Gil,
Mestre da Balança da Moeda de Lisboa).
A intenção critica de Gil Vicente: ao escolher esta personagem Gil Vicente foi denunciar as falsas
doutrinas que invertem os valores da conduta social.

QUATRO CAVALEIROS
Depois disso, vieram quatro Cavaleiros cantando, cada um trazia a Cruz de Cristo, para demonstrar
a sua fé, pois tinham lutado numa Cruzada contra os Muçulmanos, no norte da África.
Ao passarem na frente da barca do Inferno, cantando, segurando as suas espadas e escudos, o Diabo
não resiste e diz-lhes para entrarem, mas um deles responde-lhe que quem morre por Jesus Cristo não
entra em tal barca. Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direção à barca da Glória, sendo muito
bem recebidos pelo Anjo que já estava à sua espera há muito tempo
Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram para o Paraíso, já que morreram pela expansão da
fé e por isso estavam isentos de qualquer pecado.
Classe social:
Símbolos cénicos: Cruz de Cristo que simboliza a fé católica dos cavaleiros, as espadas e os escudos, que
simbolizam a apologia da Reconquista e da Expansão da Fé Cristã.
Argumentos de Defesa:
- dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo
Argumentos de acusação:
- Não há.
Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo porque:
- merecem entrar na barca do Anjo
- morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de todos os pecados
- esta cena revela a mentalidade medieval de defesa do espírito da cruzada
Momentos psicológicos da personagem:
Quando chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra aos mortais que esta vida é uma
passagem e que terão de passar sempre naquele cais onde serão julgados.
Caracterização:
Ao contrário do que acontece com as outras personagens, nada nos é dito sobre a sua vida ou
morte, a não ser “morremos nas Partes de Além[…] pelejando por Cristo” .

Crítica de Gil Vicente nesta cena:


Na cantiga cantada pelos quatro Cavaleiros está condensada a moralidade da peça, reflexo da ideia
que a Igreja tinha sobre a vida e o mundo.
Gil Vicente pretende transmitir que quem faz o bem na Terra e espalhou a fé cristã é recompensado
no Céu e quem acredita em Deus, quando morrer terá uma “vida” calma e tranquila.
A moralidade está condensada nos seguintes versos: “Vigiai – vos, pescadores, que depois da sepultura
neste rio está a ventura de prazeres ou dolores. Gil Vicente com estes versos, pretendia transmitir que
depois da '' vida terrestre '', cada pessoa era recompensada ou '' amaldiçoada '' conforme a sua vida na
terra.

Vous aimerez peut-être aussi