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Sições CNS”
A caminho na luz de Cristo
12 Edição - 2014
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C748c A caminho na luz de Cristo. Roteiros Homiléticos do Tempo da Quaresma - Ano À - São Mateus.
Brasília, Edições CNBB. 2014.
76p.:14x21cm
ISBN: 978-85-7972-302-5
1. Liturgia
2. Quaresma
CDU: 264.941.4
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...........tiemersimeeeeermeemeeerereereerteo 7
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
S de março de 2014. . . . . . . . . c ires eccreesscrrerereeerereanerrersacerersaneerrasanaca 15
1º DOMINGO DA QUARESMA
9 de março de 2014...................ce
eres cer rerererecrrserrereresenereranneeresrcanarraaas 23
2º DOMINGO DA QUARESMA
16 de março de 2014... eres rerrerrereerecerererenerererraneacrenda 32
3º DOMINGO DA QUARESMA
23 de março de 2014... reeecrereerererecerereererecerenecererannas 40
4º DOMINGO DA QUARESMA
30 de março de 2014..... eemeerenrenrenseaerearratartarenensenscercercensensensensensento 48
5º DOMINGO DA QUARESMA
6 de abril de 2014 ................e esse esse sserreeeraoescererererascascrcanasoa 56
Situando-nos brevemente
Há um ano, no dia 13 de março de 2013, de maneira imprevisível,
irrompia, no cenário da Igreja e do mundo, uma nova testemunha
da Páscoa do Senhor, “provinda do fim do mundo”: Papa Francisco.
Desde a primeira missa celebrada com os cardeais, na Capela Sistina,
no dia seguinte ao de sua eleição, ele indicou a necessidade de a Igreja
estar em movimento, olhando, com confiança, para frente, para
Cristo: caminhar, construir, confessar Cristo, seguindo sua cruz, sem
presunção e sem medo das surpresas e das novidades de Deus.
Depois da Páscoa, comentando o discurso de Santo Estevão, o
primeiro mártir, sobre a resistência dos judeus à boa nova de Jesus
(cf. At 7), Papa Francisco disse: “Falando claro, o Espírito Santo
nos incomoda, porque mexe conosco, nos faz caminhar, empurra a
Igreja para ir para frente... Pareceria que hoje temos mais alegria
pela presença do Espírito Santo, mas não é assim. Basta olhar para
o Concílio Vaticano II “obra do Espírito Santo”. João XXIII foi fiel
ao Espírito Santo, mas, hoje, 50 anos depois, fizemos tudo o que nos
disse o Espírito Santo no Concílio? Não. Festejamos o aniversário,
fazemos um monumento, mas que não nos incomode. Não quere-
mos mudar. É, pior: há pessoas que querem ir para trás. Isso é que
se chama ser teimoso, isso se chama querer domesticar o Espírito
A caminho na luz de Cristo n
Recordando a Palavra
A antífona da entrada da celebração dá a tônica não somente à
celebração da Quarta-Feira de Cinzas, mas a toda a Quaresma,
oferecendo à contemplação da Igreja a verdadeira imagem de Deus,
que é compaixão e misericórdia. “Ó Deus, vós tendes compaixão de
todos e nada do que criastes desprezais”. À partir desta experiência
de Deus, se ilumina a mensagem do profeta Joel ao povo pecador
e desanimado (12 leitura), bem como o forte apelo de Paulo aos
Coríntios a “deixar-se reconciliar com Deus em Cristo” (22 leitura),
pois nele o Pai manifestou a dimensão infinita de sua misericórdia e
de seu perdão. Na luz desta boa nova, se pode vislumbrar o sentido
profundo do caminho de Jesus até a cruz, sua descida às trevas da
morte, e o início do mundo novo que brota de sua ressurreição.
O profeta Joel fundamenta seu grito para voltar ao Senhor, no
feito que “ele é benigno, é compassivo, paciente e cheio de misericórdia,
inclinado a perdoar o castigo”. Se tal é a atitude de Deus para com o
povo, para entrar novamente no caminho certo não é suficiente cumprir
algumas práticas penitenciais prescritas pela lei, mas é preciso colocar
em jogo a si próprio, de maneira radical, “rasgar o coração não as vestes”.
O salmo responsorial (Sl 50/51), profunda vibração do coração
arrependido do rei Davi, exprime a sofrida consciência do pecado
que corrói as raízes da vida, e, simultaneamente, a confiança ilimi-
tada que Deus, na sua misericórdia, tem o poder e a alegria de per-
doar, curar e libertar, abrindo um novo caminho de esperança.
Os coríntios viveram uma fecunda experiência de fé e de cari-
dade, agora, porém, perderam a direção certa, correndo atrás de
A caminho na luz de Cristo RB
Atualizando a Palavra
“Deus não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir
perdão!” Esta afirmação, repetida tantas vezes pelo Papa Francisco
em suas catequeses ao longo destes meses, acabou escandalizando
muitas pessoas devotas e pias, e — paradoxo ainda maior! — não
poucas pessoas que não acreditam em Deus e não praticam a religião,
mas que veem na ideia de um Deus que “faz justiça”, punindo quem
infringe a lei, um baluarte para garantir a boa ordem na sociedade!
Contudo este é o âmago da boa nova proclamada por Jesus,
4
abrir este diálogo conosco, ela o exige. Morrer aos enganos e renascer
à verdade de nós mesmos é fazer Páscoa na vida.
um só espírito. Que ele faça de nós uma oferenda perfeita para alcan-
çar a vida eterna” (oração eucarística TT).
Sobre o altar, com o pão e o vinho, está colocada toda a nossa
vida, com suas alegrias, suas dores e suas esperanças. À Igreja nos
convida a pedir que o Espírito Santo, como transforma os dons no
corpo e sangue eucarístico de Cristo, assim transforme nossa existên-
cia em sacrifício e culto espiritual agradável a Deus.
9 de março de 2014
Situando-nos brevemente
É fascinante e perturbadora a experiência que perpassa nosso interior
todos os dias.
Por um lado, nos surpreende o estupor diante da consciência de
sermos amados e cuidados por Deus como seus filhos e filhas. O
estupor se traduz em íntimo chamado a responder com a simplici-
dade e a confiança de uma criança,
Por outro lado, se infiltra uma sutil e atraente sugestão, insinuando
o desejo de tomar somente em nossas mãos o próprio destino. Olhar
a nós mesmos como o exclusivo ponto de referência, única garantia
de nossa dignidade. Tornar-se autossuficiente. Profunda laceração do
coração: ficamos feridos, porém não conseguimos escapar.
“Impenetrável é o homem, seu coração é um abismo!” exclama o
salmista (S1 64,7). O apóstolo Paulo, olhando sua sofrida experiência
pessoal, grita: “Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero
(...) Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? Graças
sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7,19.24-25).
Este primeiro domingo da Quaresma nos coloca diante do mis-
tério do bem e do mal que nos habita, até as raízes mais profundas
da nossa pessoa, e nos deixa vislumbrar a saída desta contradição:
queda de Adão/Eva diante tentador, no Jardim do Éden (12 leitura),
e vitória de Cristo que derrota o diabo no deserto (evangelho) e
A caminho na luz de Cristo
Recordando a Palavra
“Fizeste-nos para ti, e inquieto está nosso coração enquanto não
repousa em ti” (S. Agostinho, Confissões, Livr.1,1; LH do 9º
domingo do Tempo Comum). Santo Agostinho interpreta a tensão
vital que nos habita como um chamado constante a voltar a Deus,
mesmo quando, pelas ilusões da falsa liberdade, nos afastamos do
caminho certo. Atração para Deus, como a origem e fonte inesgo-
tável de vida, e tentação a nos colocarmos em alternativa a Ele é a
sorte que nos acompanha.
À narração da criação do ser humano proposta pela primeira
leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7), com sua linguagem simbólica e altamente
poética, destaca o cuidado carinhoso com o qual Deus chama à exis-
tência o homem, o faz partícipe de sua mesma vida e dignidade e seu
parceiro no cuidado da beleza e da fecundidade da criação inteira,
que é “um jardim a ser cultivado”. No centro do jardim, como no
centro da existência humana, o Senhor faz brotar a “árvore da vida” e
a “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2,9).
Vida em abundância e conhecimento na intimidade recíproca são os
dons com que o Senhor enriquece a existência e a missão de Adão e Eva.
À cena encantadora, que apresenta o Senhor “passeando à brisa da tarde
no jardim”, à procura de Adão e Eva para deter-se em amável conversa
com eles, como com seus íntimos amigos (Gn 3,8), irradia toda a beleza
e o dinamismo da relação que o Senhor estabeleceu entre si mesmo e o
ser humano, ao criá-lo à sua imagem e semelhança (Gn 1,26).
a Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
O caminho dos discípulos, em todos os tempos, é o mesmo de Jesus.
Somente seguindo Jesus, se pode lutar, com êxito, contra o egocen-
trismo e a procura de falso sucesso, quer na vida pessoal, quer no
exercício dos ministérios na Igreja, e chegar à intimidade do jardim da
ressurreição. À Quaresma nos indica o caminho certo e suas etapas.
O Batismo nos introduz no caminho do próprio Jesus, nos faz
participar da mesma ação do Espírito que o conduziu e sustentou
na luta com o diabo no deserto e na vitória sobre a morte na ressur-
reição. Animados pelo Espírito, temos a graça de viver com a liber-
dade dos filhos e filhas de Deus. Temos a graça, como diz Paulo, de
viver como já “ressuscitados” (cf. Cl 3,1-4), como partícipes da vida
nova em Cristo, não mais permitindo que o pecado determine nossa
maneira de sentir, de pensar, de agir.
Com a fé e o Batismo, passamos por uma transformação radical,
que nos acompanha por toda a vida. À vida nova no Espírito Santo
é semente que nos impele desde dentro, cujo crescimento nós deve-
mos favorecer. À graça não é magia, nem o desenvolvimento das suas
potencialidades é algo de automático. Cada dia o Senhor solicita nossa
disponibilidade no amor e nosso compromisso de obediência filial.
À vida do discípulo irradia a luz e a fecundidade da Páscoa,
ao mesmo tempo em que continua a luta contra as contradições do
pecado que sobem do coração, até que seja reconstituído, em sua
integridade, como o da criança.
O “homem velho” e o “homem novo” ainda convivem dentro
de nós, e, às vezes, num conflito que nos dilacera. Nossa salvação,
afirma Paulo, é ainda objeto de esperança e de luta (cf. Rm 8,24).
Temos ainda a necessidade de cultivar a dinâmica de conversão e peni-
tência, enquanto vivemos da energia vital e da luminosidade da Páscoa.
Com sábia pedagogia, cada ano a Igreja nos oferece novamente
a luz da Páscoa e a sóbria alegria da Quaresma, com suas exigências
de penitência e conversão.
N Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano A - São Mateus
Situando-nos brevemente
Talvez jamais as pessoas tenham apreciado tanto a imagem, a beleza,
a aparência, em relação a si mesmas e aos outros, como no nosso
tempo. Às vezes se dá maior atenção à aparência do que à realidade de
uma pessoa ou de uma atividade. Na própria comunicação, prevalece
mais a imagem que a escritura ou a fala. Se alguém não aparece na
internet, no facebook ou na rede social não existe.
Simultaneamente, se continua a “desfigurar” o rosto das pes-
soas, das cidades, da natureza. Crianças abandonadas ou sujeitas à
violência, homens e mulheres vítimas do “tráfico das pessoas”, como
lembra a Campanha da Fraternidade, pessoas expulsas do trabalho
em nome do proveito econômico, etc. Mesmo na Igreja, em comu-
nidades pequenas e grandes, se encontram pessoas deixadas de lado,
nas periferias da vida, por falta de atenção e de cuidado, talvez por
motivo de histórias pessoais sofridas.
Às pessoas, nestas situações, são o próprio Cristo, o “servo
sofredor de Deus” (cf. Is 53) a ser “desfigurado”, enquanto vem ao
nosso encontro pedindo nossa proximidade, carinho e cura. Em
cada uma delas, como afirma com forte ênfase o Papa Francisco, “é
a carne de Cristo sofrido que encontramos e tocamos!” (cf homilia
na Missa do dia 1º de junho de 2013 e homiha na festa de São Tomé,
3 de julho de 2013).
Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A — São Mateus
Cada gesto que faz brilhar nos olhos delas uma luz de esperança
e de consolo é o rosto de Cristo que se “transfigura”, que deixa irra-
diar sua luz na pessoa atendida e naquela que a atendeu!
Cada um de nós pode narrar experiências pessoais: quando
alguém teve cuidado de nós, bem como quando nós tivemos cuidado
de alguém. Nos dois casos, nos foi concedido partilhar a transfigu-
ração de Jesus. Nossa casa, nosso escritório, a cama do hospital ou a
sala de aula se tornaram para nós o monte Tabor.
As três leituras deste domingo nos oferecem uma mensagem
convergente, que abre para os olhos da nossa fé o sentido profundo
do caminho quaresmal e da grande celebração da Páscoa, que já se
deixa vislumbrar de longe. À Páscoa é o evento central da história
de amor em que Deus transfigura e renova a história e toda pes-
soa. Jesus, passando através da paixão, morte e ressurreição, primeiro
cumpre em si esta “transfiguração radical”.
Ele é o primeiro a percorrer o caminho que todos os discípulos
são chamados a percorrer. À narração da transfiguração de Jesus deixa
vislumbrar a meta para a qual nos está conduzindo o caminho da Qua-
resma, com a graça de purificação interior e a esperança que o habitam.
À cada ano e a cada dia, o cristão é chamado a interiorizar sem-
pre mais o caminho de transfiguração de si mesmo junto com Jesus,
até deixar-se conformar plenamente a ele.
Recordando a Palavra
As três leituras deste domingo destacam que a iniciativa no processo
de transfiguração e de renovação é fruto da livre e gratuita escolha e
do chamado de Deus, não dos nossos esforços. Somos filhos e filhas
da graça do Pai!
Deus, por livre escolha de amor, chama Abraão e lhe pede para
abandonar sua família e sua terra, com a promessa de que o tornará
abençoado e fecundo, sinal de esperança para todos os povos. Abraão
acolhe o chamado de Deus e inicia aquela caminhada na fé que o faz “pai
de todos os que acreditam no Senhor e se entregam a Ele” (cf. Rm 4,11).
A caminho na luz de Cristo R
Atualizando a Palavra
O evento da transfiguração se encontra no centro da vicissitude
humana e messiânica de Jesus, quase síntese do dinamismo de seu
mistério pascal. Define sua identidade de filho amado do Pai e de
Messias sofredor, solidário com a condição humana, que derrama a
vida nova na ressurreição. Desta maneira, indica e abre também para
nós o caminho a seguir. Ào discípulo não é dado um caminho diferente
daquele do mestre, seja no desafio da fé, seja na partilha da glória.
A Igreja, diante de Jesus transfigurado, se põe em atitude de
adoração e de temor, como os três discípulos. Ela nos convida a per-
manecer nesta mesma atitude, desde o início do caminho quaresmal,
que nos conduzirá a entrar mais profundamente, junto com o pró-
prio Jesus, na graça da nossa transfiguração pascal. Este processo de
transfiguração nos acompanhará até a morte, alimentado pela dupla
mesa da Palavra e da Eucaristia, pela oração confiante, pela purifi-
cação de nosso coração, pela esperança suscitada pelo Espírito Santo.
São Leão Magno observa que a principal finalidade da trans-
figuração era afastar dos discípulos o escândalo da cruz: “Segundo
um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido
à esperança da santa Igreja, de modo que todo o corpo de Cristo
pudesse conhecer a transfiguração com que ele também seria enri-
quecido, e os seus membros pudessem contar com a promessa da
participação naquela glória que primeiro resplandecera na cabeça”
(Sermão 51, 3; LH, 2º Domingo de Quaresma).
O convite de Jesus aos discípulos para se levantarem, tomarem
novamente o caminho da vida sem medo - embora não consigam ainda
A caminho na luz de Cristo
Situando-nos brevemente
No Ano À, a partir do terceiro domingo da Quaresma, a liturgia da
Palavra assume uma vertente mais claramente batismal, acompanhando
gradativamente os catecúmenos a celebrar a iniciação cristã na grande
Vigília Pascal, e toda a comunidade a redescobrir e renovar a graça da
própria iniciação. Esta é, pois, um processo dinâmico que nos acompanha
ao longo da vida, até a páscoa/passagem definitiva da morte à vida plena
no Senhor, constituída por nosso “êxodo” pela morte natural.
O primeiro e o segundo domingo, nos três ciclos À, B, €, têm
em comum a narração de Jesus tentado no deserto e o evento de sua
transfiguração: clara alusão à frágil situação humana, marcada pela
original criação à imagem e semelhança de Deus, mas exposta à ten-
tação da autossuficiência. Deus, porém, não abandona seus filhos e
os chama a recuperar aquela beleza original, através da conformação
a Jesus, na sua páscoa de morte e ressurreição.
À partir do terceiro domingo, as leituras e em particular os tex-
tos do evangelho iluminam os vários aspectos do processo interior
que a participação na Páscoa de Jesus, através da iniciação cristã,
ativa em nós.
No diálogo com a mulher de Samaria (3º domingo), Jesus revela
a si mesmo como a água viva que alimenta a existência da pessoa.
Desvela que a nascente desta água perene se encontra dentro do poço
Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A -— São Mateus
Recordando a Palavra
Às três leituras apresentam uma situação de vida na qual cada um
pode, facilmente, reconhecer seu próprio caminho. Uma surpreen-
dente pedagogia divina acompanha e estimula o crescimento rumo à
plena libertação de toda humana ilusão.
À sede, como a fome, constitui uma das experiências mais trau-
máticas da vida humana. À procura para satisfazer suas exigências
a transforma em potente motor que impele a pessoa a uma contí-
nua busca, até que seja satisfeita. Nesta luta para a vida, se encontra,
porém, a tentação de se apegar a tudo o que parece dar resposta ime-
diata ou de buscar solução no passado.
Diante da aridez do deserto, Israel desconfia das promessas de
Deus, se queixa de insuportável fadiga e sonha com a água e a carne que
o Egito lhe garantia, embora em condição de escravidão. Contudo o
A caminho na luz de Cristo
Atualizando a Palavra
À sociedade moderna se torna sempre mais secularizada e espiritu-
almente árida. Para muitas pessoas, Deus é o “ausente”. Uma recente
análise sobre a situação da pessoa na sociedade atual destaca, todavia,
que o homem contemporâneo, mesmo no drama de suas situações
existenciais, espera, de maneira confusa, conhecer e encontrar o
Deus dos viventes e que dá a vida. Ele sente nostalgia da presença de
Deus. Sofre a sede do infinito, embora, muitas vezes, não consiga dar
este nome à água que está procurando para saciar sua sede.
A nostalgia nasce das desilusões deixadas pelo que foi imagi-
nado e seguido como “deus”, capaz de satisfazer a sede de sentido da
existência, tão frágil e quase desertificada interiormente. “Em mim
desfalece o meu espírito, meu coração se consome (...) À ti estendo
minhas mãos, como a terra seca, anseio por ti” (51 143,4.6).
O Batismo mergulha o cristão na nascente da água viva, que
continuará a fecundar toda a sua existência.
Experiência de plenitude, e simultânea urgência de uma sede
insaciável, expressão de uma fé, às vezes incipiente, que cresce com
o progresso do amor, e leva consigo a força para perseverar na espe-
rança. “Ao pedir à samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava
o dom de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do
amor” (prefácio do domingo). À esperança, ao longo do caminho,
não decepciona em sua tensão rumo à plenitude, pois “o amor de
Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos
foi dado” (22 leitura, Rm 5, 5).
Jesus dá testemunho do amor de Deus para com todos os homens
e mulheres, qualquer que seja a condição deles. Até os “samaritanos”,
a Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano A - São Mateus
30 de março de 2014
Situando-nos brevemente
À época atual é cheia de contradições. Por um lado, oferece oportu-
nidades de desenvolvimento pessoal e social, que as anteriores não
tiveram a sorte de encontrar. Por outro, estamos sofrendo aridez
espiritual, desequilíbrios sociais, violência nas cidades, corrupção,
guerras e fome endêmica em algumas regiões do mundo, que obrigam
milhões de pessoas a abandonarem os próprios países na esperança
da busca de melhor condição de vida para si e para seus filhos. Ao
longo desta autêntica “travessia do deserto”, muitas vezes as pessoas
se tornam vítimas de traficantes cruéis que exploram a miséria delas
até a perda da vida (Campanha da Fraternidade 2014).
“O pobre e o desamparado” — está gritando repetidas vezes Papa
Francisco — “é a carne de Cristo!”. O grito do amor rasga a cortina do
silêncio culpado e tira o véu da cegueira voluntária. Indica o caminho
da conversão para a Páscoa.
Os poderes fortes, políticos, econômicos, ideológicos conhecem bem
estas tragédias, mas fazem conta de não ver, de não saber. Não querem
ver que isso é fruto amargo e envenenado de um sistema político e econô-
mico, que põe, ao centro, o dinheiro e o lucro, em vez da pessoa humana.
Certas praças e ruas das grandes cidades do Brasil apresentam um
rosto de humanidade desfigurada, parecido com o rosto sangrento de
no Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A -— São Mateus
Recordando a Palavra
Irmãos, “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Procedei
como filhos da luz” (2º leitura — Ef 5,8). O apóstolo destaca que, com
o Batismo, não só gozamos da luz do Senhor para conduzir uma vida
certa, mas também, em força desta relação vital para com ele, “somos
luz” no Senhor, participamos do seu ser, da sua vida. Desta partici-
pação nasce a possibilidade e o chamado a viver como “filhos da luz”,
isto é, a atuar € agir com o mesmo estilo.
Viver como filhos da luz significa viver segundo o Espírito filial
e os critérios de avaliação da vida que correspondem à energia vital e
à sabedoria do Espírito Santo. À situação da vida é, por sua natureza,
A caminho na luz de Cristo
Atualizando a Palavra
Nas catequeses dos Padres da Igreja, o Batismo era indicado
como “iluminação”. Aqueles que tinham recebido o Batismo eram
chamados de “iluminados”. Ainda hoje um significativo rito comple-
mentar da celebração do Batismo põe em evidência sua dimensão
iluminadora, que abre o caminho para seguir a Jesus e partilhar seus
critérios de julgamento, que não olham as aparências enganadoras,
mas a verdade profunda das coisas e das pessoas.
É o rito da vela batismal acesa no círio pascal e entregue ao bati-
zado adulto ou aos pais e padrinhos da criança, com as palavras:
“Recebe a luz de Cristo. Caminha sempre como filho da luz, para
que, perseverando na fé, possas ir ao encontro do Senhor com todos
os santos no reino celeste” (Rito da Iniciação Cristã dos Adultos
(RICA). n. 265).
À luz/vida recebida no Batismo é uma potencialidade divina a
desenvolver. É preciso deixar-se guiar pela luz interior do Espírito,
procurando viver coerentemente segundo seus impulsos interio-
res. Ele conduz a um estilo de vida no qual se manifesta e resplan-
dece a luz do próprio Cristo. Vivei como filhos da luz. O fruto da
A caminho na luz de Cristo
6 de abril de 2014
Situando-nos brevemente
“Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem
Páscoa”, constata o Papa Francisco, olhando para a situação de
desânimo que, na Igreja, está invadindo a alma de certas pessoas
(Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24 de novembro de 2013; n. 6).
Em verdade, deveria acontecer o contrário, pois “a alegria do
evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encon-
tram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados
do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus
Cristo, renasce sem cessar a alegria” (ibidem n. 1).
O Papa Francisco nos convida a abrirmos nossos corações e nos-
sos olhos para a liberdade e a alegria que vêm de Cristo e nos enchem
de nova energia para enfrentarmos, com confiança, os desafios de
nosso tempo.
À aventura de nossa vida de crentes, de fato, continua se des-
dobrando entre a possibilidade de viver com a energia vital da res-
surreição de Jesus que nos habita, pelo dom do Espírito Santo, e a
tentação de recuar para uma “Quaresma sem Páscoa”, para uma vida
ms « 4 ”> ,
(ibidem, 1).
n Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A - São Mateus
Com tal iniciativa, a Igreja quer mergulhar nas feridas das famí-
lias, com o intuito de tocar, ao vivo, a dor e as esperanças que acom-
panham seu caminho e também deixar-se tocar; partilhar as duras
quaresmas das pessoas para oferecer a esperança da ressurreição,
anunciando o evangelho da Páscoa de Jesus, com a atitude de sua
misericórdia e de sua compaixão.
Recordando a palavra
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha
morrido, viverá (...) Crês nisto? Ela respondeu: “Sim, Senhor, eu creio
firmemente que tu és o Cristo, o filho de Deus, aquele que deve vir
ao mundo” (Jo 11, 27).
À narração da morte e ressurreição de Lázaro converge, como
a seu cume, para esta suprema autorrevelação de Jesus e a sublime
confissão de fé de Marta. Jesus revela a si mesmo como fonte de vida
nova e plena, e promete que a experimentarão, em si mesmos, os
que acreditarem nele, mediante o dom do Espírito. Marta, passando
através do longo caminho da amizade com Jesus, pela dor, provo-
cada pela morte do irmão, e pelo aparente descuido de Jesus, que não
q Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Na atitude de Jesus para com Marta e Maria, e na pedagogia que ele
usa com os discípulos e com o povo, somos convidados a reconhecer
a constante pedagogia com a qual Deus acompanha o caminho
pessoal de cada um, e o orienta para crescer na fé e na liberdade do
amor. “Senhor, se tivesses estado aqui...” Quantas de nossas leituras
apressadas dos acontecimentos se refletem nestas palavras de Marta
e de Maria! (cf. 11,32). Quantas de nossas queixas apaixonadas e
doloridas elas interpretam!
O “silêncio” de Deus, frente às injustiças, aos mal-entendidos,
aos perigos extremos, continua fazendo parte do drama e das espe-
ranças do homem e da mulher de todos os tempos. Razão de escân-
dalo e de possível ressurreição, de rebelião e de passagem do nível
humano ao da misteriosa sabedoria de Deus.
po Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano A - São Mateus
voz da Igreja, como canto cheio de esperança: “Nele brilhou para nós
a esperança da feliz ressurreição... Senhor, para os que creem em vós, a
vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio 1 da missa dos defuntos).
“Desamarrai-o e deixai-o ir” (11,44). Esta é a missão fundamen-
tal que Jesus entrega a seus discípulos de todos os tempos. Partilhar
com Jesus a missão de desamarrar as pessoas dos empecilhos que as
impedem de viver e caminhar com as próprias pernas, na dignidade
e na liberdade autêntica dos filhos e filhas de Deus. Libertar das
correntes do pecado e das injustiças, mesmo quando elas estão escon-
didas sob o manto das observâncias religiosas. Libertar dos pesadelos
impostos pelos homens, que escravizam ao invés de transmitir a ener-
gia libertadora da Palavra do Senhor. Jesus foi terrivelmente crítico
com os falsos religiosos de todos os tempos (cf. Mt 23,4), que põem
fardos inúteis e pesados sobre os ombros das pessoas, enquanto, pelo
contrário, seu jugo é leve e fonte de felicidade (cf. Mt 11, 29-30).
O Papa Francisco não se cansa de repetir que a Igreja tem neces-
sidade de voltar ao essencial do evangelho, em sua vida e em seu ser-
viço de animação espiritual do povo. Não serve transmitir um acervo
de doutrinas desligadas entre si, que não tocam o coração. É preciso
anunciar e fazer experimentar a alegria da ressurreição: “A ressurreição
de Jesus não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou
o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o
lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual (...) Cada dia,
no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos
dramas da história. Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador
é um instrumento deste dinamismo” (Evangelii Gaudium, n. 276).
13 de abril de 2014
Situando-nos
“Na hora conveniente, reúne-se a assembleia num lugar apropriado fora
da igreja, trazendo os fiéis ramos nas mãos. O celebrante abençoa os ramos.
É proclamado o evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém. Precedida
pela cruz, a assembleia se dirige em procissão, cantando salmos e hinos de
louvor a Cristo-Rei, para a igreja na qual se celebra a Eucaristia” (cf.
Missal Romano-Domingo de Ramos da Paixão do Senhor - p. 220).
Gesto simples. Aparentemente óbvio e previsto nas normas do
missal para organizar a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão
do Senhor. Na realidade, com a linguagem simbólica própria da litur-
gia, este rito nos introduz, de maneira espontânea, no Mistério Pascal
de Cristo, e nos faz vislumbrar nossa participação vital no mesmo. O
rito, abrindo a celebração do Domingo de Ramos e de toda a Semana
Santa da Páscoa, marca, de fato, seu movimento interior.
Bento XVI destacou a importância de participar, de maneira
consciente e ativa, da celebração da liturgia, deixando-nos envolver
pela linguagem simbólica dos ritos: “Importante para uma correta arte da
celebração é a atenção a todas as formas de linguagem previstas pela liturgia:
palavras e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos
paramentos. Com efeito, a hturgia, por sua natureza, possui uma tal varie-
dade e níveis de comunicação que lhe permite cativar o ser humano na sua
totalidade” (exortação apostólica Sacramentum Caritatis, n. 40 [2007]).
Roteiros Homiléticos cla Quaresma - Ano A - São Mateus
Recordando a Palavra
Às primeiras comunidades cristãs de Jerusalém, movidas pela devoção
e pelo desejo de partilhar de perto, com amor, os passos de Jesus no
seu caminho de paixão e de glorificação, organizaram, sobretudo a
partir do século IV;! celebrações especiais em cada lugar onde Jesus
tinha vivido seus últimos dias de presença física no meio dos seus
discípulos, dias tão decisivos no plano de Deus e para a nossa salvação:
da entrada de Jesus em Jerusalém e da última ceia no cenáculo à paixão
no horto das oliveiras; da morte no Calvário à sepultura e ressurreição
no jardim, até a ascensão na colina perto de Jerusalém.
1 Vale a pena a leitura do texto da peregrina Etéria que, ao visitar os lugares santos, nos legou,
em seus diários, um quadro sobre a liturgia hirosolimitana do século IV, BECKHAUSER, A.
Peregrinação de Etéria: Liturgia e Catequese em Jerusalém no século IV. Petrópolis: Vozes, s.d.
no Roteiros Homiléticos da Quaresma — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
À força narrativa dos acontecimentos da paixão, morte e ressurreição
de Jesus, proclamados nas leituras bíblicas, e o intenso envolvimento
emocional que as celebrações destes dias conseguem realizar, mesmo
em pessoas que raramente participam das liturgias, não devem
nos fazer esquecer seu profundo sentido espiritual e a exigência de
participar das celebrações com intensidade de fé e de amor ao Senhor.
Na celebração litúrgica da Igreja, se torna presente e atuante,
pela ação permanente de Cristo e do seu Espírito, o amor infinito do
Pai, manifestado no amor sacrifical de Jesus até a morte, e se renova
o dom da vida divina que nos faz viver como filhos e filhas do Pai e
irmãos uns dos outros.
essas fendas é-me permitido... provar e ver quão suave é o Senhor... Mas
o cravo penetrante tornou-se para mim a chave que abre para que eu veja
a vontade do Senhor. Clama o cravo, clama a chaga que verdadeiramente
Deus está em Cristo, nele reconcihando o mundo” (São Bernardo, Sermão
61,3-5 sobre o Cântico dos Cânticos, LH Monástica, 2º semana da Qua-
resma, quarta-feira).