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FICHA DE COMPREENSÃO DA LEITURA 2

NOME: _____________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: _________

Apreciação crítica

Leia atentamente o texto de apreciação crítica sobre a obra cinematográfica As mil e uma noites, filme de
Miguel Gomes dividido em três partes. Consulte as notas apresentadas.

PORTUGAL: ESTE PAÍS DE MARAVILHAS EXISTE


KATHLEEN GOMES
27.08.2015

Nos dois últimos filmes de Quentin Tarantino, o cinema tem-se vingado da História, contando a sua
própria versão dos acontecimentos. Os nazis mataram milhões de judeus? Em Sacanas sem lei, Hitler é morto
numa sala de cinema em chamas. A escravatura é o pecado original da América? Um negro reduz uma
plantação de escravos a um banho de sangue em Django libertado.
5 Entre o verão de 2013 e o verão de 2014, Miguel Gomes percorreu os quatro cantos de Portugal fil-
mando um país em crise sob os efeitos da austeridade. Pode dizer-se que inventou um método: um
pequeno grupo de jornalistas contratados pelo realizador vasculhou acontecimentos e fait-divers1 em toda a
imprensa, fazendo, de seguida, a sua própria investigação e reportagem; Gomes e a equipa do filme iam
para o terreno quase imediatamente, reagindo aos acontecimentos reais a quente, e com ficção. O resultado
10 é surreal, e nem sempre isso se deve à ficção. O que é mais surreal, animais que falam, um assassino que é
aclamado pela população como um herói, homens que têm pássaros em casa e os ensinam a cantar, a
troika em cima de camelos?
O que Miguel Gomes — realizador de Aquele querido mês de agosto e de Tabu — alegadamente não
sabia quando acabou de rodar é que tinha feito não um filme mas três. Um filme triplo que chega às salas de
15 cinema com semanas de intervalo entre cada uma das partes. Cada volume é autónomo, autossuficiente, mas
lança o desejo de ver o próximo como nos folhetins. As mil e uma noites, assim se chama este blockbuster
artesanal e inventivo, por se inspirar na estrutura do livro homónimo: o filme não é uma adaptação, apesar
de ter a sua própria Xerazade2 como cronista do reino. Mas, como se vê logo no primeiro volume, Xerazade
é Miguel Gomes: é a sua cabeça que está a prémio porque filmar assim, sem rede, como se fosse uma aven-
20 tura, só pode ser perigoso.
As mil e uma noites é uma trilogia com pavor da fixidez, em permanente mutação, um laboratório de
estilos narrativos e cinematográficos. Cada filme tem a sua própria tonalidade, como se pressente pelos
títulos: O inquieto (volume 1, esta semana nas salas), O desolado (volume 2, estreia a 24 de setembro), O
encantado (volume 3, a 1 de outubro). O primeiro prepara o espectador, explicando-lhe o projeto; o
25 segundo fecha-se sobre almas penadas e solitárias — se a personagem principal de As mil e uma noites é a
comunidade, o coletivo, para onde fugiu toda a gente?; o terceiro é redentor: depois de passar por vários
estados — a perda, a combatividade, a recriminação, a impotência, a derrota —, o País vê-se ao espelho e
descobre que sobreviveu. É aqui, neste capítulo final, que o ato de vingança é explicitado. Não se pode
dizer que o que o filme retrata pertence à História — da última vez que olhámos, ainda éramos um país
30 depauperado, desempregado e desdentado — nem Gomes propõe, como Tarantino, uma versão alternativa.
Mas ganha espessura a sensação que paira ao longo de todo o projeto: Portugal, país das maravilhas. Como
na canção de Leonard Cohen («We are ugly, but we have the music»), somos feios mas temos as histórias.
Depois da paródia, das piruetas, da catarse, 3 da neurose, o tour de force emocional4 do filme parece
estar neste grupo de marginais, alguns deles ex-reclusos, habitantes de guetos sociais, que criam
35 passari-nhos em casa e os ensinam a cantar. Eles existem, de facto, o cinema não os inventou: Chico Chapas,
Ribeiro, Mestre, Quitério e o seu tentilhão perneta.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-cinema-ajusta-contas-com-a-troika-1705938,
consultado em 28 de dezembro de 2015.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana


(1) fait-divers: expressão utilizada no meio jornalístico, que significa, literalmente, «acontecimentos diversos»;
normalmente, refere-se a acontecimentos inusitados que fazem parte do quotidiano e que suscitam grande interesse
no público.
(2) Xerazade: lendária rainha persa, narradora das histórias das Mil e uma noites.
(3) catarse: termo que significa «purificação»; foi utilizado por Aristóteles, na Poética, para designar a «purificação»
sentida pelos espectadores durante e após uma representação dramática.
(4) tour de force emocional: forma emocional.

1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.10, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. Sacanas sem lei e Django libertado são filmes


(A) históricos de grande importância.
(B) em que são alterados factos históricos importantes.
(C) em que a história é abordada sob diferentes perspetivas.
(D) que deram a conhecer a genialidade de Quentin Tarantino.
1.2. O «método» (linha 6) descoberto por Miguel Gomes traduziu-se
(A) no tratamento artístico/cinematográfico de factos reais.
(B) numa articulação entre textos literários de géneros diversos.
(C) na subordinação integral da realidade à ficção.
(D) numa subversão integral dos métodos jornalísticos.
1.3. A frase «O resultado é surreal, e nem sempre isso se deve à ficção» (linhas 9-10) significa que
(A) a ficção é sempre surpreendente.
(B) a ficção supera a realidade na sua complexidade.
(C) só na ficção encontramos factos incoerentes e ilógicos.
(D) a realidade pode conter aspetos absurdos ou ilógicos.
1.4. A expressão «por se inspirar na estrutura do livro homónimo» (linha 17) permite concluir que a
obra de Miguel Gomes
(A) é baseada num livro com a mesma estrutura mas título diferente.
(B) revisita um clássico antigo cujo título é diferente mas que tem estrutura quase idêntica.
(C) revisita um clássico antigo cujo título é o mesmo e que tem estrutura muito semelhante.
(D) utiliza uma técnica narrativa que lembra a ação de Xerazade.
1.5. Ao utilizar a expressão «sem rede» (linha 19), a autora do texto sublinha
(A) a importância do projeto de Miguel Gomes.
(B) a importância do filme As mil e uma noites no conjunto da obra de Miguel Gomes.
(C) os riscos inerentes a uma produção que mostra o poder da invenção.
(D) os riscos inerentes a uma obra que adapta um clássico da literatura árabe.
1.6. Ao afirmar que o filme triplo de Miguel Gomes consiste num «laboratório de estilos narrativos e
cinematográficos» (linhas 21-22), a autora destaca
(A) a complexidade dos temas abordados nessa obra.
(B) a complexidade estilística da obra.
(C) a repetição de fórmulas na produção cinematográfica de Miguel Gomes.
(D) a importância dos planos estáticos na obra de Miguel Gomes.
1.7. Na passagem «o país […] descobre que sobreviveu» (linhas 27-28), encontramos uma
(A) metonímia.
(B) sinestesia.
(C) metáfora.
(D) anáfora.
1.8. O ato de «vingança» (linha 28) de Miguel Gomes distingue-se do que é praticado por Quentin
Tarantino porque
(A) o filme triplo As mil e uma noites, no seu todo, é fiel à realidade histórica.
(B) o filme triplo As mil e uma noites ignora, por completo, a realidade histórica.
(C) a obra combina estilos narrativos diversos, numa complexidade admirável.
(D) o filme triplo As mil e uma noites não propõe uma outra versão da História.

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1.9. O conector «de facto» (linha 35) introduz uma ideia de
(A) confirmação.
(B) explicitação.
(C) consequência.
(D) reformulação.
1.10. Com a enumeração presente no fim do excerto, a autora destaca
(A) os atores profissionais que contribuíram para o sucesso do filme.
(B) as histórias ficcionais responsáveis pela força emocional do filme.
(C) a força emocional que advém das histórias de pessoas reais.
(D) o poder emocional da ficção.

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