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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA
ANO LECTIVO DE 2009/10

NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS:


MOVIMENTOS ECOLÓGICOS

Autor:
Gonçalo Marques Pereira Soares Barbosa

Relatório temático realizado para a disciplina de Sociologia Geral I


leccionada pelas docentes Natália Azevedo e Paula Guerra

Porto, 30 de Dezembro de 2009


Sumário

Introdução ................................................................................................................................. 2
Movimentos sociais ................................................................................................................... 3
Definição ................................................................................................................................ 3
Velhos e novos movimentos sociais: descontinuidades ......................................................... 3
Movimentos ecológicos ............................................................................................................. 4
Ecologia como ciência ............................................................................................................ 4
Ecologia como ideologia ........................................................................................................ 5
A ecologia nos movimentos sociais........................................................................................ 7
Institucionalização dos movimentos ecológicos..................................................................... 8
Movimentos ecológicos e acção colectiva.............................................................................. 9
Movimentos ecológicos e mudança social ........................................................................... 10
Considerações finais ............................................................................................................... 13
Referências bibliográficas...................................................................................................... 14

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Introdução

Este relatório temático foi realizado no âmbito da cadeira Sociologia Geral I da


licenciatura em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Propõe-se uma
abordagem à questão dos novos movimentos sociais, com particular enfoque para os
movimentos ecológicos. Perceber como a Sociologia trata essa temática, compreender como a
ecologia atingiu a dimensão social que tem actualmente e qual a sua relevância na sociedade
moderna são os principais objectivos deste relatório. Numa primeira e breve parte, explora-se
a definição de movimento social, partindo para uma segunda e central parte, com uma extensa
exploração aos novos movimentos ecológicos, com uma análise ao seu surgimento, à sua
institucionalização e à sua ligação aos conceitos de mudança social e acção colectiva.

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Movimentos sociais

Definição

Um movimento social pode ser tido como uma «empresa colectiva que visa
estabelecer uma nova ordem social» (Boudon, 1990, p. 169). É também «um processo […]
através do qual diversos actores […] constróem uma autodefinição, a facção que está do
mesmo lado num conflito social» (Martins, 2004, p. 86). Pode ainda ser considerado como um
«Agrupamento de grande dimensão de pessoas que se juntam para procurar desencadear ou bloquear
processos de mudança social.» (Giddens, 2009, p. 697). Ou seja, por outras palavras, pode-se
considerar um movimento social como uma forma de um determinado conjunto de indivíduos se
reunir e se expressar contra determinada situação que é geradora de um conflito social entre esse
conjunto de indivíduos e um outro conjunto de indivíduos ou organização, e cuja resolução do conflito
social levaria a uma alteração dessa situação. Este conceito está directamente relacionado com outros
dois conceitos, acção colectiva e mudança social, que serão explorados mais à frente.

Velhos e novos movimentos sociais: descontinuidades

Os movimentos sociais são normalmente divididos em dois grupos: os velhos


movimentos sociais e os novos movimentos sociais (NMS). Para compreender a diferença
entre esses dois grupos é necessário identificar que alterações ocorreram na sociedade que
possibilitaram o surgimento do segundo grupo e quais as características que diferem um
grupo do outro.
À medida que as reivindicações na esfera do trabalho foram sendo satisfeitas, algo que
terá sido conseguido essencialmente pelos velhos movimentos sociais, surge um novo
conjunto de preocupações sociais, tais como as questões de género, discriminações de
minorias ou os problemas do ambiente e da qualidade de vida, que seriam essencialmente
satisfeitas pelos novos movimentos sociais (Almeida, 1994). Por outro lado, e como afirma
Susana da Cruz Martins, «ocorreu uma transição do paradigma político, em que o “velho” se
centra essencialmente na distribuição de rendimentos e na segurança e o “novo”, onde os
NMS se inscrevem, torna relevante as questões relacionadas com a identidade e a autonomia»
(Cit. por Offe, 2004, p. 86).

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São três as diferenças ou descontinuidades que estão presentes nos novos movimentos
sociais, relativamente aos velhos movimentos sociais: desafio à importância do Estado;
origem mais recente das novas ideologias; posicionamento crítico relativamente às ideologias
tradicionais (Hoffman e Graham, 2006). Por outro lado, os velhos movimentos sociais
normalmente têm uma amplitude política restringida ao nível nacional, ao passo que os novos
movimentos sociais apresentam uma amplitude de nível internacional (Hoffman e Graham,
2006).
OS NMS (Costa, 1992) são movimentos de opinião e de acção, que colocam
propositadamente um dado assunto em discussão e debate público, assunto que até à altura era
ignorado pela sociedade, sendo detentores de novos estilos de vida, novos valores ou formas
diferentes de encarar aspectos da vida social.
A partir deste ponto vamos focalizar as atenções num tipo específico de NMS, os
movimentos ecológicos tentando compreender como surgiram, como a sociologia os encara e
aplicando conceitos específicos a estes movimentos.

Movimentos ecológicos

Ecologia como ciência

O termo ecologia surge no século XIX, com o biólogo alemão Ernest Haekel, contudo apenas
surge em manuais científicos no século seguinte, altura em que surge como uma ciência que daria uma
percepção do mundo da vida como um sistema de interdependências dinâmicas, e contou com o
grande contributo de Darwin, ao nível de conceitos base. Surgem, em diferentes momentos, três ramos
da ecologia científica: a ecologia vegetal, que é a primeira a sofrer um desenvolvimento mais
acelerado; a ecologia animal; e a ecologia humana, que surge nos anos 20 do século XX (Nazareth,
1993, p. 879).
A ecologia humana constitui algo sem precedentes nesta ciência, dado que dá um enfoque
numa só espécie em específico, é uma ecologia antropocêntrica. A ecologia humana iria debruçar-se
sobre o estudo interdisciplinar das interacções entre o homem e o ambiente (Nazareth, 1993).
Estes três ramos contribuíram para a concepção da ecologia geral, que seria a responsável pelo
estudo das relações entre todas as formas de vida e destas com o meio. Surgem rapidamente, nesta
ciência, um conjunto de ideias e conceitos, que distanciam a ecologia da biologia, possibilitando a

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acumulação de conhecimentos e a subsequente necessidade de especialização (Nazareth, 1993, p.
880).
No âmbito das ciências sociais, mais especificamente da sociologia, Giddens (p. 634, 2009)
refere a importância de uma sociologia do ambiente, na medida em que apesar de as consequências da
intervenção do homem na natureza serem de carácter meramente físico, essas mesmas consequências
foram criadas, ainda que indirectamente, pelo homem através das tecnologias modernas da produção
industrial. Daqui se pode concluir que a ecologia deverá ter uma igual presença nas ciências sociais, na
medida em que, também na análise sociológica, o homem é uma peça chave nas questões do ambiente,
com o qual interage constantemente.
Para a sociologia, os NMS revestem-se de grande importância. Quando for desenvolvida a
questão da mudança social, será possível perceber ainda melhor essa importância. Contudo, é
pertinente referir desde já três aspectos relevantes sobre a forma como a sociologia encara a temática
da ecologia, mais especificamente no âmbito da sociologia do ambiente: em primeiro lugar, a
importância de uma abordagem ao tema feita numa perspectiva transdisciplinar, «recorrendo a
diferentes saberes e saberes-fazer disciplinares com um intuito progressivamente instrumental e
actuante» (Craveiro, 1996), incluindo-se ciências não sociais, como é o caso da Engenharia Civil;
outro aspecto é a ainda presente dificuldade em isolar, na ciência, as causas da degradação ecológica e
as suas consequências sociais, o que denota uma especial complexidade da temática da ecologia, onde
ciências naturais e ciências sociais se entrecruzam de forma complexa (Craveiro, 1996); por último, de
referir um dos aspectos centrais de análise desta ciência, o confronto paradigmático entre a apologia
do crescimento económico, sem atender aos seus custos ecológicos, e os valores verdes (Craveiro,
1996).

Ecologia como ideologia

É apenas na década de 60 do século XX que a ecologia surge plenamente como ideologia.


Associadas à ecologia, à crise ambiental e aos movimentos sociais ecológicos, surgem dois tipos de
ideologias: o ecologismo e o ambientalismo (Hoffman e Graham, 2006). Torna-se então necessária
efectuar uma distinção entre essas duas ideologias. A tabela seguinte, e que foi construída com base na
proposta de Hoffman e Graham, lista as suas principais características e pontos de conflito:

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Tabela 1:
Semelhanças e diferenças entre o ecologismo e o ambientalismo

Ecologismo Ambientalismo
Maior valorização da natureza Centrada no homem (antropocêntrica)
Defende que a vida humana só tem valor Os indivíduos são colocados acima ou fora da
enquanto entrelaçada com a natureza natureza
Face à crise ambiental, demonstram pessimismo Face à crise ambiental, demonstram optimismo
Causa da crise: comportamento racional dos
Causa da crise: atitudes humanas
indivíduos
Ambos aceitam a existência de uma crise ambiental
Mas diferem na forma como identificam as causas e consequências dessa crise

No que concerne à ideologia ecologista, há dois nomes que se destacam: Aldo Leopoldo e
Arne Naess.
Aldo Leopoldo foi um dos primeiros grandes activistas e teóricos ecologistas. Cria uma ética
da terra, na qual a terra é entendida como um sistema interdependente e não como uma mercadoria; já
os seres humanos fazem parte da comunidade da terra e não são donos dela. Leopoldo entendeu por
terra aquilo que actualmente os ecologistas vêm a chamar de ecossistema ou biosfera. Já por
comunidade, o ecologista entende como um todo interdependente que inclui todas as espécies e não
apenas as humanas (Hoffman e Graham, 2006).
Uma das suas grandes conclusões foi a de que os indivíduos deveriam mudar obrigatoriamente
as suas motivações para se alcançar o respeito pelo ambiente. Leopoldo argumenta que este é um mote
central para os movimentos ecológicos, uma vez que o aumento da educação ambiental, sem a
necessária alteração nas atitudes e motivações das pessoas, seria inútil. O reconhecimento das
obrigações para com a terra é, de acordo com o ecologista, a motivação central da existência dos
movimentos ecologistas (Hoffman e Graham, 2006).
Outra característica de Aldo Leopoldo é a de comparar o mundo actual como um todo a um
corpo doente, no qual algumas partes funcionam bem, mas onde o todo está ameaçado de morte. O
aumento da população é apontado como uma das causas dessa doença (Hoffman e Graham, 2006).
O principal contributo de Arme Naess foi a criação de dois tipos de ecologia: a shallow
ecology e a deep ecology. Associada a essa dualidade, estão quatro níveis de articulação, que por sua
vez traduzem uma maior proximidade às ideologias ecologistas e ambientalistas. Pela tabela 2, que foi
elaborada com base na proposta de Hoffman e Graham, é possível concluir a associação entre a

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shallow ecology e o ecologismo e a associação entre deep ecology e ambientalismo (Hoffman e
Graham, 2006).
Tabela 2
Relação dos tipos de ecologia com as respectivas ideologias

Shallow ecology Acções: comportamentos Maior ligação


Nível 4
Interpretação meramente política dos individuais ao ecologista

Associados a 4 níveis de articulação


valores ambientais. Políticas: realizadas por
Nível 3 agências governamentais e
não governamentais
Princípios base: políticas
Nível 2 derivadas de uma ideologia
ou movimento
Deep ecology: Valores superiores:
Concepção compreensiva do bem dos baseadas na compreensão Maior ligação
Nível 1
indivíduos e sociedade e que foca a da posição religiosa ou ao
interdependência da natureza. filosófica ambientalista

A ecologia nos movimentos sociais

Para João Ferreira de Almeida (1994), a industrialização teve por base a crença de que os
recursos naturais seriam inesgotáveis e de que a natureza conseguiria absorver os lixos produzidos
pelos humanos, quer na indústria, quer na agricultura. Por outro lado, a industrialização impulsionou a
ideia de que o principal critério para se medir o grau de riqueza de um país seria através da produção
económica, que teria de ser tão elevada quanto possível, independentemente de ter em conta
preocupações ecológicas, atitude que era igualmente transportada para as famílias, cujo bem-estar era
concebido pelo acesso ao consumo de todo o tipo de produtos, também sem qualquer preocupação
sobre a existência de cuidados ambientais. Contudo, «a partir da crise do petróleo de 1973, ganhou-se
consciência de que os recursos eram limitados, que muitos deles corriam o risco de se esgotarem
rapidamente e que a poluição ameaçava tornar impossível a vida na terra» (Almeida, 1994, p. 50).
O facto dos vários problemas ambientais que estão na origem da crise ambiental, desde o
aquecimento global às chuvas ácidas, passando pela ameaça à qualidade da água, todos estes
problemas tem uma projecção global e ameaçam as sociedades na sua totalidade. Será essa a razão,
segundo João Ferreira de Almeida (1994), que motivou o surgimento dos movimentos ecológicos.

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No contexto português as questões ambientais surgem de forma tardia, mais concretamente
num processo que apenas se iniciou com a revolução de Abril de 1974, a par da integração na CEE,
actual UE. É este surgimento tardio que é responsável pelo igual atraso no desenvolvimento de um
ramo da sociologia ligado ao ambiente (Craveiro, 2000). De certa forma, o tardio surgimento da
questão ambiental na ciência e na política, veio a fomentar um igual atraso no surgimento de
movimentos ecológicos. Só com a inserção da ecologia na ciência e na política é que possibilitou o
surgimento dos movimentos ecológicos. É a percepção da qualidade ambiental que conduz a uma
ligação entre as estruturas sociais e os movimentos sociais (Craveiro, 2000).
Como consequências desse desenvolvimento tardio, por um lado a «quase imediata absorção
administrativa do movimento ecologista» (Craveiro, 2000), algo que é materializado através do
surgimento de órgãos como o Ministério do Ambiente e, por outro lado, Portugal «não conheceu um
período de gestação da consciência ecológica» (Craveiro, 2000), ou seja, a ecologia nunca foi
considerada uma contra-cultura, algo que aconteceu nos outros países durante a década de 60.

Institucionalização dos movimentos ecológicos

Quando surgiram, os novos movimentos sociais posicionaram-se fora da esfera político-


institucional, assumindo «um carácter informal, semi-organizado, espontâneo, não-negocial»
(Almeida, 1995, p. 151). Contudo, nos movimentos sociais que abordem questões fundamentais da
sociedade e apresentem um carácter universalista, estarão diante de uma constante «tensão entre não-
institucionalização e institucionalização» (Almeida, 1995, p. 151), que acabaria sempre por gerar
divisões dentro dos próprios movimentos. À medida que os movimentos se vão expandindo, ganhando
uma estrutura e programas mais definidos e uma maior base organizativa, as componentes de nível
formal e institucional sofrem o mesmo aumento (Duarte, 2004). Este raciocínio pode ser aplicado aos
movimentos ecológicos, em várias dimensões de análise.
Uma primeira dimensão é a política. No final do século XX, inicia-se uma institucionalização
política dos movimentos sociais ecológicos, com o surgimento dos chamados partidos verdes.
João Ferreira de Almeida aponta como melhor exemplo o caso do movimento ecologista na
Alemanha que, tendo inicialmente um carácter exterior ao campo político, atingindo elevados níveis
de mobilização e expressão, acabando por ver os ambientalistas alemães reunirem-se para formar um
partido político (1995, p. 151). De seu nome Partido Verde Alemão, Bündnis 90/Die Grünen, foi
fundado em Maio de 1993. De acordo com informações do próprio partido na sua página online, é
dado um destaque às questões ambientais, de direitos humanos, questões de género, iniciativas para a
reforma económica e social, contando actualmente com mais de 46.000 membros

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No caso de Portugal, o melhor exemplo é o Partido Ecologista “Os Verdes”, nascido em 1982,
sendo nessa altura denominado de Movimento Ecologista Português – Partido “Os Verdes”. Conta
actualmente com mais de 5300 membros. Pode-se ler no programa do partido, aprovado a Maio de
2003: «A ecologia como concepção política é portadora de uma nova forma de pensar o mundo e a
organização das sociedades. A ecologia política toma a espécie humana como uma componente da
Natureza, tal como outras espécies, constatando a sua dependência em relação a elementos naturais
imprescindíveis à sua sobrevivência – como o ar, a água, o solo, a fauna e a flora.» É também
destacado nesse programa que o partido está empenhado em «alertar a opinião pública para os desafios
ecológicos», algo que com “Os Verdes”, foi transportado para o mais alto nível institucional, a par de
acções locais, com o objectivo de aumentar a consciência ecológica dos cidadãos.
Outra dimensão de análise é a institucionalização por via do direito. Madalena Duarte
considera que o recurso à opção da mobilização legal é «uma estratégia menos efémera e mais
consistente do que outras formas de acção directa, por exemplo, o corte de estradas.» (2004, p. 45) no
sentido em que possibilita um maior acompanhamento mediático da causa defendida pelo movimento
social. Por outro lado, considera que é uma ferramenta que pode potenciar a mudança social e servir
de instrumento para a emancipação contra o poder hegemónico.
Um exemplo de nível nacional é o caso da Quercus que, em 2008, abordou a temática do
enquadramento legal na responsabilidade ambiental, numa das suas Jornadas de Ambiente. Na página
online desta organização foi possível perceber a relevância dada para a dimensão legal. Afirmam que
se por um lado é essencial considerar-se crime e aplicar-se contra-ordenações a determinadas situações
de danos ambientais, por outro lado é necessário o direito como uma via de dissuasão a agressões,
sendo que a garantia de uma protecção dos danos ambientais revela-se imprescindível.
Ainda nessa página online é possível perceber algumas das garantias que o direito permitiu a
nível ambiental como o princípio do poluidor-pagador ou a obrigatoriedade de seguro de
responsabilidade civil para quem exerça actividades de alto risco para o Ambiente. Outro aspecto
destacado é a importância da criação de um regime de responsabilidade civil próprio para a área
ambiental, que permita ter em conta as especificidades dos vários danos ambientais

Movimentos ecológicos e acção colectiva

Acção colectiva pode ser definida como uma «acção concertada de grupos mais ou
menos numerosos de pessoas visando a concretização de interesses comuns.» (Almeida, 1995,
p. 225). Uma acção colectiva pode estar ligada a uma determinada categoria social, seja uma
classe ou uma minoria étnica, ou pode estar ligada a uma pluralidade de categorias sociais,
como acontece com alguns dos novos movimentos sociais (Almeida, 1995). A motivação dos

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indivíduos para aderirem à acção colectiva, argumenta João Ferreira de Almeida, é a de se
«obter através da concertação de acções individuais aquilo que cada pessoa não consegue
obter isoladamente» (1995, p. 149).
Existe uma pluralidade de formas de acção colectiva, dependendo do seu grau de
institucionalização. Estão incluídos como forma de acção colectiva os novos movimentos
sociais, que surgem enquadrados num grau de reduzida institucionalização, desligados dos
partidos políticos, organizações patronais e sindicais e pelas associações profissionais
(Almeida, 1995). Falar em novos movimentos sociais é, portanto, falar numa forma específica
de acção colectiva. «[…] tais formas de acção colectiva só se constituem enquanto
movimentos sociais se tiverem como meta explícita a modernização da sociedade» (Martins,
2004, p. 86).

Movimentos ecológicos e mudança social

Uma possível definição de mudança social é «Qualquer alteração das características


culturais, estruturais, demográficas ou ecológicas de um sistema social, como uma sociedade»
(Johnson, 1997, p. 155). A relevância do estudo da mudança social para o trabalho
sociológico passa pelo facto de que os próprios sistemas sociais estão num constante processo
de mudança. Para a compreensão do funcionamento dos sistemas sociais e da forma como
estes se mantêm, é necessário compreender como eles mudam ou se dissolvem (Johnson,
1997). A sociologia moderna é centrada nas tentativas de perceber as fortes mudanças que
levaram à destruição do mundo tradicional e que fizeram emergir novas formas de ordem
social (Giddens, 2009)
O mesmo autor, aquando da definição que dá de movimento social, estabelece uma
relação com o conceito de mudança social, ao afirmar que «Um movimento social é um
esforço colectivo contínuo e organizado que se concentra em algum aspecto de mudança
social. […] Os movimentos sociais sempre despertaram grande interesse sociológico porque
constituem uma grande fonte de mudança e conflitos sociais». Também Giddens (2009)
relaciona os dois conceitos, ao afirmar que os movimentos sociais têm como função
desencadear ou bloquear processos de mudança social. Ou seja, os movimentos sociais são
relevantes para a sociologia, na medida em que são causa e consequência da mudança social.
Por um lado são causa, pois normalmente estão associados à conquista de direitos ou de

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valores inexistentes na sociedade mas, por outro lado, a própria mudança social fomenta o
surgimento de novas causas, a que os novos movimentos sociais se poderão relacionar.
A mudança social deve ser considerada como um fenómeno pluridimensional e
pluricausal. Ao nível da modernidade, são consideradas três dimensões de influência: as
económicas, mais especificamente com o capitalismo e a emersão de um sistema de produção
que visa a contínua expansão da produção e acumulação da riqueza; as políticas,
nomeadamente com as decisões dos políticos a passarem a afectar a esmagadora maioria da
população, tanto ao nível interno como externo e havendo aqui uma complementaridade com
as influências económicas; e as culturais, com o desenvolvimento da ciência racional, com um
carácter crítico e inovador, o que fomentou uma alteração da forma como se pensa e do
conteúdo das ideias, levando à ocorrência de revoluções e mobilizações para mudanças
políticas e sociais (Giddens, 2009).
Aplicar este raciocínio ao caso dos movimentos sociais, passa por perceber, por um
lado, de que forma as mudanças sociais que estão na base da modernidade motivaram o
surgimento dos NMS e, por outro lado, compreender quais as mudanças sociais que os
próprios NMS estão a operar.
Giddens (2009) apontou o crescimento populacional como uma das principais
mudanças sociais, neste caso de nível demográfico, que estiveram na origem do surgimento
das preocupações ambientais, na medida em que relativizaram ainda mais a questão da
escassez de recursos. Por outro lado, e a nível económico, surge o já mencionado sistema
capitalista, que também acentuou a escassez de recursos e que não apresentou qualquer
preocupação na preservação de recursos.
Já a nível das mudanças que os NMS têm em vista provocar, estão ao nível da
alteração dos comportamentos e práticas sociais e dos valores. Quanto à alteração das práticas
sociais, os movimentos ecológicos deram um forte contributo, «não deixa de ser importante o
peso que as preocupações ecológicas vão ganhando nas crenças, nos valores e nalgumas das práticas
quotidianas de muitas pessoas. Reciclar papel ou vidro, recusar aparelhos nocivos à camada do ozono,
são algumas das coisas que as pessoas começam a fazer.» (Almeida, 1994, p. 53). No
quadrante político, os movimentos sociais também tiveram o mérito de pressionar os órgãos
estatais a agirem de uma forma mais responsável e consciente da importância da preservação
ambiental (Almeida, 1994, p. 53).

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Com base nas exposições apresentadas anteriormente, é possível, neste momento, e em
jeito de síntese final, estabelecer a relação entre alguns conceitos chave desta temática, onde o
centro de análise é o conceito de NMS, tal como é representado pela figura abaixo:

Figura 1:
Ligação de conceitos chave

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Considerações finais

Tendo sempre em conta que esta análise não é representativa da totalidade do tema dos
novos movimentos sociais, é possível contudo concluir que é um assunto de extrema
relevância para a sociologia, pois está em íntima ligação com a mudança social, conceito
central na sociologia moderna
Na focalização aos movimentos ecológicos, observou-se como o termo ecologia
emergiu nos vários campos do saber, nas ciências naturais e sociais, bem como na ideologia,
com destaque para uma análise à sociologia do ambiente e às ideologias ecologista e
ambientalista.
Contudo, algumas questões ficaram em aberto, ou com uma abordagem reduzida ou
mesmo inexistente. Na análise à institucionalização dos movimentos sociais, não foram
referidas todas as dimensões, ficando de fora, por exemplo, o associativismo. Qual será a
tendência geral destes movimentos no eixo institucionalização/não institucionalização? Por
outro lado, não foram amplamente exploradas as mudanças sociais que os movimentos
ecológicos possibilitaram. Em que medida é que estes movimentos efectivamente alteraram os
comportamentos da população? Outra questão que não foi mencionada é a evolução da adesão
da população às acções dos movimentos ecológicos. Estará a registar-se um crescimento da
sua adesão?

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Referências bibliográficas

Artigos online

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NAZARETH, J. Manuel – Demografia e ecologia humana. Análise Social [Em linha].
XXVIII: 123-124 (1993) 879-885 [Consult. 6 Dez. 2009]. Disponível em:
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Monografias

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GIDDENS, Anthony – Sociologia. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009. ISBN
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Páginas online

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