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Ano XVI – Número 36 - dezembro de 2015

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9 771806 807001
ISSN 1806-8073
Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses

Museu Nacional de Ciências Forenses

Conheça um pouco da história da


criminalística e os detalhes sobre
dois dos mais importantes projetos
da perícia criminal federal

SMARTPHONES CRACK
Perícias frequentes e cada vez mais Um subproduto da cocaína?
desafiadoras
Associação Nacional SUMÁRIO EDITORIAL: André Morisson, presidente da APCF

dos Peritos Criminais Federais

e
Ano XVI – Número 36 - dezembro de 2015

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Caro leitor,

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Diretoria Executiva Nacional

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Dou

9 771806 807001
ISSN 1806-8073
André Luiz da Costa Morisson Marcos de Almeida Camargo
Presidente Vice-Presidente
Centro Nacional de Capacitação e Difusão de Ciências Forenses

Museu Nacional de Ciências Forenses

Felipe Gonçalves Murga Evandro Mario Lorens Bruno Gomes de Andrade João Carlos L. Ambrósio
Secretário-Geral Diretor Técnico-Social Diretor de Assuntos Jurídicos Diretor de Assuntos Parlamentares

Carlos Antônio Almeida de Oliveira Eduardo Roberto Rosa Erick Simões da Camara e Silva Henrique Mendonça Oliveira de Queiroz Ciência e tecnologia são as temáticas da edição
Suplente de Secretário-Geral Suplente de Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Assuntos Jurídicos Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares
Conheça um pouco da história da

36 da revista Perícia Federal. A capa traz uma via-


criminalística e os detalhes sobre
dois dos mais importantes projetos
da perícia criminal federal

Wilson Akira Uezu Hélio Buchmüller Lima Meiga Áurea Mendes Menezes Paulo Roberto Fagundes
gem pelo passado, presente e futuro da perícia cri-
SMARTPHONES CRACK

Diretor Financeiro Diretor de Comunicação Diretora de Administração e Patrimônio Diretor de Aposentados e Pensionistas
Perícias frequentes e cada vez mais Um subproduto da cocaína?
desafiadoras

Fábio da Silva Botelho


Suplente de Diretor Financeiro
Carlos Eduardo Palhares Machado
Suplente de Diretor de Comunicação
Alexandro Mangueira Lima de Assis
Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio
José Arthur de Vasconcelos Neto
Suplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas
minal federal. Convido você, leitor, a entender um
PASSADO, PRESENTE E FUTURO
pouco mais da história da criminalística e conhecer
Conselho Fiscal Deliberativo Danielle Ramos e Taynara Figueiredo
dois dos mais recentes e importantes projetos da
Página 8

André Zímmerer
Willy Hauffe Neto Fabricio Fonseca Theodoro Marco Giovanni Clemente Conde Walvernack Beserra Fábio Caus Sicoli Eduardo Monteiro de Queiroz perícia da Polícia Federal: o Centro Nacional de Ca-
Presidente Vice-Presidente Membro-Titular 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente
pacitação e Difusão de Ciências Forenses e o Museu
Diretorias Regionais
ENTREVISTA
Nacional de Ciências Forenses, um sonho que, em
Dr. Itiel Dror
ACRE MARANHÃO FOZ DO IGUAÇU SÃO PAULO Página 4
breve, se tornará realidade.
Diretor Regional - Diogo Otávio Scalia Pereira
Vice-Diretor - Leandro Bezerra di Barcelos
Diretor Regional - José de Carvalho Azevedo Filho
Vice-Diretor - Lucian Ricardo Guedes Fidelis
Diretor Regional - Denir Valêncio de Campos
Vice-Diretor - Fernando Rosemann
Diretor Regional - Ronaldo de Moura Ramos
Vice-Diretor - Alexandre Bernard Andrea
Em outubro, a Perícia Federal participou da Convido
Diretor Financeiro - Luiz Fernando dos Santos
E-mail - apcf.ac@apcf.org.br
Diretor Financeiro - Gerson Vasconcelos Malagueta
E-mail - apcf.ma@apcf.org.br
Diretor Financeiro - José Ricardo Rocha Silva
E-mail - apcf.pr@apcf.org.br
Diretora Financeira - Roberta G. M. Juliani
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
ÁREAS DA PERÍCIA Semana Nacional de Ciência e Tecnologia realiza-
você, leitor, a
Peritos criminais federais Adriano Maldaner, da em todo o país. Em Brasília, o evento contou
ALAGOAS
Diretora Regional - Keyla Wanderley de Cerqueira MATO GROSSO PERNAMBUCO
ARAÇATUBA
Diretor Regional - Eustaquio Veras de Oliveira
Elvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos
com um estande da Perícia Federal, onde peritos entender um
Diretor Regional - Lenildo Correia da Silva Junior Diretor Regional - Rhassanno Caracciollo Patriota Camargo e Núbia Fernanda Gomes Pereira
pouco mais
Vice-Diretor -Thiago Costantin Sandoval Vice-Diretor - Mario Sergio Gomes de Faria
Diretor Financeiro - Dario Alves Lima Junior Vice-Diretor - Joao Luiz Freixo Vice-Diretor - Felipe Campelo de Melo Moura
Diretor Financeiro - Nevil Ramos Verri Página 6 criminais federais apresentaram alguns dos princi-
E-mail - apcf.al@apcf.org.br Diretora Financeira - Edna Aparecida Silveira Diretor Financeiro - Diogo Laplace C. da Silva
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br pais equipamentos usados na rotina de trabalho.
AMAPÁ
E-mail - apcf.mt@apcf.org.br E-mail - apcf.pe@apcf.org.br
CAMPINAS Confira mais detalhes em uma reportagem que
da história da
CRACK: UM SUBPRODUTO DA COCAÍNA?
criminalística
Diretor Regional - Renato Chacon Vieira Paes MATO GROSSO DO SUL PIAUÍ Diretor Regional - Carlos Henrique Da Silva Pereira
Vice-Diretor - Rafael Guimaraes Alves
Diretor Regional - André Luís de Abreu Moreira Diretor Regional - Ramysés de Macedo Rodrigues Vice-Diretor - Lorival Campos Moreira Danielle Ramos fala do evento.
E-mail - apcf.ap@apcf.org.br Diretor Financeiro - Fernando Juliano de Castro
Vice-Diretor - Rômulo Vilela Ferreira
e conhecer
Vice-Diretor - Frederico Natividade Ortiz
Diretor Financeiro - Gleison Macedo Rocha Diretor Financeiro - Roberto Leopoldo N. Brilhante E-mail - apcf.sp@apcf.org.br Página 16 Quando o assunto é tecnologia, os smartpho-
AMAZONAS
Diretor Regional - Marco Antônio Mota Ferreira E-mail - apcf.ms@apcf.org.br E-mail - apcf.pi@apcf.org.br nes ganham destaque e são uma verdadeira febre.
Vice-Diretor - Ricardo Lívio Santos Marques
Diretora Financeira - Martha Fernanda RIO DE JANEIRO
MARÍLIA
Diretor Regional - Clayton José Ogawa PROVA PERICIAL Leia a reportagem que aborda os desafios dos pe- dois dos mais
MINAS GERAIS Vice-Diretor - Antônio José dos Santos Brandão
Barros Alfaia
E-mail - apcf.am@apcf.org.br
Diretor Regional - Marcelo Carvalho Lasmar
Vice-Diretor - Maurício de Souza
Diretor Regional - Rodrigo Ricart Santoro
Vice-Diretora - Raquel de Souza Lima
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
Perito criminal federal José Viana Amorim
Página 19
ritos criminais federais para acompanhar as atuali- recentes e
Diretor Financeiro - Adriano Arantes Brasil zações e realizar exames periciais nesses aparelhos.
BAHIA
Diretor Regional - Carlos Alberto Doria de M. Neto
Diretor Financeiro - Marcus Vinícius de O. Andrade
E-mail - apcf.mg@apcf.org.br
E-mail - apcf.rj@apcf.org.br
PRESIDENTE PRUDENTE
Diretor Regional - Ricardo Samu Sobrinho
Na coluna ‘Áreas da Perícia’, conheça a Quími-
importantes
projetos
Vice-Diretor - Andrei Rocha de Almeida Vice-Diretor - Raimundo Chabowski UTEC DE RIBEIRÃO PRETO
Diretor Financeiro - Pompílio José S. Araújo Junior
UBERLÂNDIA
RIO GRANDE DO NORTE E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
Perito criminal federal Jesus Antônio Velho
ca Forense. Entre os artigos assinados por colegas,
E-mail - apcf.ba@apcf.org.br Diretor Regional - Clint Eastwood Costa Freitas
o perito José Viana fala sobre o papel da prova pe-
da perícia.
Diretor Regional - Ronaldo Cordeiro Vice-Diretor - Cezar Silvino Gomes SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Vice-Diretor - Jorge Eduardo de Sousa Aguiar Página 24
JUAZEIRO Diretor Financeiro - César de Macedo Rego Diretor Regional - Jose Augusto Melonio Filho
Diretor Regional - Marco Antonio Valle Agostini Diretor Financeiro - Glycon Sousa Rodrigues E-mail - apcf.rn@apcf.org.br Vice-Diretor - Bruno Altoe Duar ricial como elemento minimizador das misérias do
Vice-Diretor - Lucas Martins Evaldt E-mail - apcf.mg@apcf.org.br Diretor Financeiro - Renato Garrido Leal Martins
E-mail - apcf.ba@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br PERÍCIA EM CELULARES processo penal e, o perito Fernando de Jesus, so-
RIO GRANDE DO SUL

CEARÁ
PARÁ Diretor Regional - Marco Antônio Zatta
SANTOS
Taynara Figueiredo bre a forma que a psicologia influencia o trabalho
Diretor Regional - Gustavo Pinto Vilar Vice-Diretora - Carina Maria Bello de Carvalho
Diretor Regional - Eurico Monteiro Montenegro Vice-Diretor - Jordânio José Ribeiro Diretor Financeiro - Leonardo da Cunha
Diretor Regional - Francisco Artur Cabral Gonçalves Página 26 da criminalística.
Vice-Diretor - José Carlos Lacerda de Souza Diretor Financeiro - Luis Felipe Monteiro Vieira Vice-Diretora - Priscila Dias Sily
E-mail - apcf.rs@apcf.org.br
Diretor Financeiro - Daniel Paiva Scarparo E-mail - apcf.pa@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
E-mail - apcf.ce@apcf.org.br PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA
RORAIMA SOROCABA
Boa leitura!
DISTRITO FEDERAL PARANÁ Diretor Regional - Luis Gustavo Canesi Ferreira Diretor Regional - Adriano Jorge Martins Corrêa Perito criminal federal Fernando de Jesus
Diretor Regional - Emerson Santos de Lima Diretor Regional - Marlon Konzen Vice-Diretor - Augusto Cesar Furlanetto Vice-Diretor - Ulisses Kleber de Oliveira Guimarães Página 29
Vice-Diretor - Dângelo Victor Gonçalves Silva Vice-Diretor - Luiz Spricigo Junior Diretor Financeiro - Alexandre Salgado Junqueira Diretor Financeiro - Ricardo Bernhardt André Morisson
Diretor Financeiro - João Carlos Gonçalves Pereira Diretor Financeiro - Ricardo Andres Reveco Hurtado E-mail - apcf.rr@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
E-mail - apcf.df@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br Presidente da APCF
PORTO VELHO
SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ESPÍRITO SANTO SERGIPE
Diretor Regional - Bruno Teixeira Dantas GUAÍRA
Diretor - André Abreu Magalhaes Diretor Regional - Alex Souza Sardinha Taynara Figueiredo
Vice-Diretor - David Gomes Guimaraes Vice-Diretor - André Fernandes Britto
Vice-Diretor - Leonardo Resende Diretor Regional - Devair Aloísio
Diretor Financeiro - Naraiana Ribeiro Santos Página 34
Diretor Financeiro - Cristiano Martins Pinto Vice-Diretor - André Rodrigues Lima Diretor Financeiro - Reinaldo do Couto Passos
E-mail - apcf.es@apcf.org.br E-mail - apcf.se@apcf.org.br
E-mail - apcf.es@apcf.org.br Diretor Financeiro - Eduardo de Olveira Barros
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GOIÁS SANTA CATARINA TOCANTINS
Diretor Regional - Gabriel Renaldo Laureano LONDRINA Diretor Regional - Daniel Pereira de Oliveira Diretor Regional - Eduardo Henrique de Oliveira Mendes
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Diretor Financeiro - Rodrigo Albernaz Bezerra Vice-Diretor - Roberto Maurício Américo do Casala Diretor Financeiro - Antônio Cesar da Silveira Junior Diretor Financeiro - Koichi Ouki
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Revista Perícia Federal

Planejamento e produção: Assessoria de Comunicação Capa, arte, diagramação e revisão: A revista Perícia Federal é uma publicação Correspondência para: Revista Perícia Federal
da APCF - comunicacao@apcf.org.br Abril Design da APCF e não se responsabiliza por SHIS QI 09, conjunto 11, casa 20 – Lago Sul – Cep: 71.625-110
Redação: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo CTP e Impressão: Athalaia Gráfica e Editora informes publicitários nem opiniões e Brasília/DF Telefones: (61) 3345-0882/3346-9481 - E-mail:
Coordenação e edição: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo Tiragem: 10.000 exemplares conceitos emitidos em artigos assinados. apcf@apcf.org.br - Assinatura da revista: www.apcf.org.br
Perícia Federal 3
ENTREVISTA: Dr. Itiel Dror ENTREVISTA: Dr. Itiel Dror

que “a impressão digital não mente”. Eu res- antes de ver a nova evidência. Portanto, você Ciências (National Academy of Sciences – podemos tomar medidas para otimizar esse eles para fazerem algo, e eu os influencio e
pondia “a impressão digital não mente, mas tem certa expectativa baseada no que você NAS), publicado em 2009, existem algu- processo, para fazer com que os peritos o mostro para eles que todos foram intencio-
a impressão digital não fala. É o examinador espera, e interpreta a informação baseada mas recomendações para a comunidade executem melhor. Uma vez superada essa nalmente influenciados por mim. E todos
forense que tem que comparar a impressão na sua expectativa. Nesse caso, seu estado de ciências forense. Uma delas é a des- fase, a otimização é relativamente fácil. Em ficam chocados “Meu Deus, eu não acredito
digital, ou comparar o DNA, ou a arma de mental está afetando você e isso definitiva- vinculação dos laboratórios ou institu- seguida, há muitas técnicas que desenvolvi que interpretei errado a evidência. Eu não
fogo ou a escrita”. O examinador, o perito mente não é uma questão ética. Eu sei que tos forenses das organizações policiais e que outros pesquisadores também de- acredito que ignorei essa parte da evidên-
criminal, é o principal instrumento dessa viés tem uma conotação negativa, portanto, ou do Ministério Público. Como o senhor senvolveram, para melhorar a tomada de cia”. Mas eles têm que ter essa experiência.
análise e temos que pensar sobre isso. Mas, frequentemente eles não chamam de viés, enxerga essa desvinculação para evitar o decisão forense. Uma medida desenvolvida Não é suficiente dizer a eles.
de uns três anos para cá, já aceitam me- eles chamam de “contaminação cognitiva”. viés cognitivo? para se evitar viés chama-se desvendamen- O senhor mencionou como a tecnologia
lhor. Por exemplo, no Reino Unido, há cinco Peritos criminais entendem a contaminação Eu escrevi um artigo sobre isso critican- to sequencial linear, onde o perito criminal é tem afetado cientistas forenses no senti-
anos, a BBC promoveu um debate comigo física e fazem muito esforço para proteger os do o relatório da NAS nessa questão. Muito cego para informações irrelevantes. O perito do de criar um largo número de combi-

Entrevista e o Regulador Forense do governo. Eu di-


zia que era necessário olhar para a questão
cognitiva, para o viés e para o julgamento.
vestígios. Utilizam luvas e máscaras de for-
ma a não contaminar a evidência. Eu falo de
contaminação cognitiva e dos procedimen-
do relatório da NAS eu acho que é muito
bom, mas retirar os laboratórios forenses
das polícias e colocá-los em outro lugar
não sabe se a pessoa é culpada ou não, se o
suspeito tem uma ficha policial ou tem sen-
tenças passadas por estupro ou assassinato,
nações, o que desvia o examinador em
olhar para as primeiras combinações. E
sobre exames não tecnológicos, você tem

Dr. Itiel Dror Ele dizia que não, que a subjetividade não
era parte das ciências forenses. Porém, em
outubro deste ano, o Regulador Forense do
tos necessários para evitar que as evidências
contaminem a mente do perito. Então, mui-
tas vezes, ao invés de chamar isso de “viés”,
não resolve esse problema [viés cognitivo].
O laboratório forense pode estar dentro da
polícia e ser bem independente. E o labo-
se o suspeito confessou o crime, ou se há
testemunhas oculares. O examinador foren-
se, estando ou não na polícia, não é autori-
alguns estudos sobre como o viés afeta
áreas que não são relacionadas à tecnolo-
gia ou comparação?
Itiel Dror é doutor em psicologia pela
Reino Unido emitiu uma orientação oficial chamam isso de “contaminação cognitiva”. ratório forense pode estar fora da polícia, zado a ver o suspeito, não pode ver a escrita Sim. Em todos os domínios das ciências
Universidade de Harvard e pesquisador que regula a forma que organizações fo- Soa melhor. mas não independente. A questão não é do suspeito, ou as impressões digitais, ou o forenses suas experiências passadas e sua
da University College London. Ele renses devem lidar com viés cognitivo. Por- O senhor falou que viés tem uma conota- se os institutos forenses estão na polícia ou perfil de DNA. Primeiro, eles têm que anali- expectativa influenciam nas decisões, e
tem se dedicado, nos últimos anos, a tanto, não somente eles aceitaram a exis- ção negativa. E, normalmente, quando um não. A questão é como os institutos prote- sar a evidência questionada e documentar não somente se algum investigador te falar
pesquisar em como os viés cognitivo tência do viés cognitivo, como agora eles erro forense ocorre, as pessoas associam gem os peritos criminais para serem inde- todos os passos, todas as análises, todos os que a pessoa confessou o crime ou não. Se
emitiram um guia oficial para os peritos cri- isso a um profissional ruim ou a alguém pendentes e realizarem um bom trabalho resultados. Só após essa etapa de análise e o perito está acostumado a achar a evidên-
influencia os resultados nas ciências
minais.  Na Finlândia, na Holanda, na Itália, que tem motivos ocultos para fazê-lo, ra- baseado nos vestígios. E esse problema documentação é que o perito criminal terá cia em certo lugar, ou está acostumado a
forenses, tendo publicado dezenas de
no Reino Unido, no Canadá, na Austrália, a zão antiética para forjar uma evidência. existe em todos os lugares. Portanto, não acesso ao material de comparação. Dessa achar certos resultados, então, isso influen-
artigos sobre o assunto. Dr. Dror tem comunidade forense está de acordo. Mas Como você faria para eliminar esse mito? acho que você tem que tirar o instituto forma, caminhamos da evidência em dire- cia o perito antes mesmo dele olhar para
ministrado palestras e workshops para não foi sempre assim, porque não era mui- Como faria para mostrar para as pessoas forense da polícia, a questão é como dar ção ao suspeito. Atualmente, parte-se do a evidência. Experiências passadas o colo-
diversas organizações ao redor do to agradável ouvir que você não é perfei- que não tem nada a ver com razões éticas, a eles independência mental para fazer o suspeito e buscam se evidências para con- cam numa expectativa do que irá achar. E
mundo, como o FBI e a polícia de Nova to. Isso não significa que você não é muito mas sim com o viés cognitivo? trabalho deles. firmar essa suspeição. isso é um viés porque não depende da evi-
bom, mas que existem outros problemas e As pessoas precisam entender que co- Por outro lado, acho que seria mais fácil  O senhor já publicou uma série de artigos dência em si: você chega com uma certa
York, nos Estados Unidos, bem como
é preciso consertá-los. metem erros e que a ciência não é perfeita. alcançar isso em um instituto de ciências sobre esse tema*. Em um deles, afirma que hipótese e ideia sobre como olhar para a
na Austrália, na Holanda, na Finlândia, Existe uma confusão entre viés cogniti- E os peritos criminais precisam, algumas forenses independente. Fazer isso dentro é possível treinar o próprio especialista. evidência. Não baseado na evidência, mas
entre outros. Leia abaixo a entrevista vo e questões éticas.  Como os peritos vezes, serem um pouco mais modestos em da polícia é mais difícil, ainda que possível. Sim, é possível. Não somente possível, baseado no que aconteceu no passado. Es-
com o especialista realizada pelos criminais e todos os outros envolvidos, suas afirmações. Nos meus workshops e nas Portanto, acho que é mais fácil constituir mas você deve fazer isso. No mês que vem crevi um artigo sobre viés cognitivo e uso
diretores da APCF, Hélio Buchmüller e como juízes e promotores, deveriam en- minhas aulas eu faço as pessoas comete- um instituto forense independente fora da eu darei esse treinamento no NYPD, Depar- da tecnologia em ciências forenses*. Nele,
João Ambrósio. carar esses conflitos? rem erros e mostro que todos são passíveis estrutura administrativa da polícia, que se tamento de Polícia de Nova York. É o sexto mostramos que a tecnologia te dá expe-
Definitivamente existe uma confusão e de errar. Muitas vezes, a evidência na cena comunica com os promotores e a polícia, workshop que eu estou dando para eles. riências passadas que podem influenciar
Como as organizações policiais em todo isso é um sinal de que eles não entendem o do crime é de baixa qualidade, de pouca mas também com a defesa, e cujo foco No primeiro, houve muita resistência. Eles em decisões. Mas claro, não é somente
o mundo estão lidando com essas novas que é o viés cognitivo. Viés cognitivo é como quantidade e nós temos que extrapolar, seja a aplicação isenta da ciência. estavam muito nervosos comigo, mas você tecnologia, você tem experiências passa-
questões de viés cognitivo? o cérebro processa a informação. Quanto nós temos que interpretar, precisamos fazer Como obter essa independência mental? precisa fazê-los compreender os objetivos. das em muitas outras formas, e concorda
No início, onde quer que eu estivesse, mais inteligente o perito for, quanto mais julgamentos. Quando fazemos isso, existe o O primeiro passo é estabelecer que o E o que faço? Eu não somente explico para com isso e, então, você aprende com isso.
as pessoas ficavam muito nervosas comi- especialista em algo ele for, maior será o seu perigo de cometermos um erro. Erros po- examinador forense é importante, que o eles como o cérebro funciona, e como o sis- Qualquer que sejam suas experiências, elas
go. Elas me diziam que a ciência forense é viés. É um sinal de inteligência. Viés cogniti- dem ser muito raros, mas eles acontecem examinador forense é o instrumento de tema cognitivo processa a informação. Eu guiam e desviam você em como olhar para
objetiva, que não se cometem erros. Dessa vo é inconsciente e baseado na experiência. e precisamos aprender a minimizá-los. As análise, que ele não é irrelevante e, na ver- digo a eles: “Vou influenciar vocês. E desafio informações futuras.
forma, quando comecei a ministrar pales- Isso significa que você usa sua experiência pessoas que reconhecem isso são aquelas dade, é o principal fator de tomada de de- vocês a não serem influenciados. Eu quero
tras nessa área, dez anos atrás, havia muita passada para te ajudar no futuro. Porém, que irão melhorar e aprender com eles. cisão. O passo seguinte é entender o pro- que vocês sejam objetivos”.  Em seguida, * Vários artigos publicados pelo Professor Dr. Itiel Dror
estão disponíveis em http://www.cci-hq.com/index.
resistência. Quando comecei, eles diziam também significa que você tem uma opinião No relatório da Academia Americana de cesso decisório do perito forense e, então, dou a eles um exercício prático e peço a php?sub=drorspublist.

4 Perícia Federal Perícia Federal 5


ÁREAS DA PERÍCIA: Peritos criminais federais Adriano Maldaner, Élvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos Camargo e Núbia Fernanda Pereira. ÁREAS DA PERÍCIA: Peritos criminais federais Adriano Maldaner, Élvio Botelho, Gabriele Hampel, Marcos Camargo e Núbia Fernanda Pereira.

tar resultados obtidos, mantendo-se o rigor ÁREAS DE FORMAÇÃO Análises de Explosivos análise por cromatografia gasosa (GG-FID) A atualização tecnológica e inserção
Áreas da Perícia científico demandado na tarefa da busca
DOS PERITOS Apesar de ser uma especialidade rela- em amostras apreendidas em diferentes da discussão forense em fóruns científicos
pela verdade. tivamente recente do SEPLAB, as análises estados brasileiros. Análise de 210 amos- de alto nível é uma necessidade constan-

A QUÍMICA
A química forense na Polícia Federal Nesta área, atuam predominantemente em explosivos e resíduos de pós-explosão tras, apreendidas entre 2009 e 2012, mostra te da área. As atuais possibilidades globais
atua rotineiramente na verificação da pre- peritos das áreas de formação da química, possuem demanda expressiva e um cres- pureza média de cocaína de 71% (expressa de comunicação e interação devem ser
sença e quantificação de drogas de abuso engenharia química e ciências farmacêuticas. cente número de pedidos de análises está como base). A maioria das amostras não utilizadas pelos peritos para agregar co-

FORENSE e demais substâncias, lícitas ou ilícitas, bem


como na caracterização físico-química de
materiais diversos vinculados com ativida-
A Polícia Federal conta com cerca de
200 peritos criminais federais da área espa-
lhados por todo o País.
sendo encaminhado ao setor. O significa-
tivo aumento de crimes cometidos com o
uso de explosivos e os grandes eventos rea-
oxidadas foi apreendida nos estados que
fazem fronteira com os países produtores.
A forma de base livre é a mais comumente
nhecimento, melhorar as relações de co-
laboração com pesquisadores diversos e
auxiliar na construção de bancos de dados

A
des delituosas, tais como: metais ou mine- lizados no Brasil (Copa do Mundo e Olim- encontrada (59%) e mais de 50% das amos- e informações de inteligência forense. Nes-
identificação de substâncias como
rais; produtos químicos precursores de dro- píadas) reforçaram a necessidade de ter-se tras analisadas não apresentaram nenhum se contexto, diversas atividades de coo-
ferramenta na análise de vestígios
gas de abuso; medicamentos; agrotóxicos; uma estrutura bem equipada e efetiva de adulterante majoritário. Dentre os fármacos peração com professores/pesquisadores
é a atribuição da química forense
explosivos ou resíduos de explosões e in- perícias de explosivos. Reconhecendo essa adulterantes identificados, fenacetina foi a universitários têm agregado valor aos pro-
na perícia criminal. A tarefa, contudo, está
cêndios; bebidas alcoólicas; combustíveis; necessidade, a SESGE/MJ aprovou a com- mais abundante (30% das amostras). Leva- cedimentos periciais, uma vez que técnicas
longe de ser trivial, uma vez que qualquer
tintas e pigmentos; resíduos e poluentes; pra de novos equipamentos (Cromatógrafo misol, cafeína e lidocaína também foram e conhecimentos científicos são incorpora-
tipo de substância – sólida, líquida ou gaso-
e, também, em análises toxicológicas que de Íons e Cromatografia Líquida/Q-TOF) e a identificadas. O projeto PeQui tem sido uti- dos do contexto acadêmico e utilizados na
sa – poderá necessitar de identificação ine-
envolvam determinação de drogas ou me- realização de treinamentos específicos de lizado regularmente para prover informa- produção de laudos periciais.
quívoca dependendo da situação delituosa
tabólitos em matrizes biológicas. análise e coleta. A expectativa é que os pro- ções técnicas cientificamente embasadas
em questão. Além do número incrivelmen- EXEMPLOS DO USO DA cedimentos estejam validados e que, até para a análise de inteligência em segurança
te elevado de tipos de vestígios que podem
ser utilizados para a produção de provas
ACREDITAÇÃO QUÍMICA FORENSE junho de 2016, as análises em explosivos e pública e de dados estatísticos que podem
resíduos de pós-explosão já façam parte do contribuir para um melhor entendimento
materiais por meio da análise química, de-
Análise de Agrotóxicos escopo da acreditação ISO 17025. do tráfico de cocaína2.
ve-se considerar, também, quais técnicas e
Contrabandeados
equipamentos estão disponíveis para a pe-
Em um trabalho em cooperação com dos Principais Ingredientes Ativos em Agrotóxicos Ilegais
Apreendidos pela Polícia Federal do Brasil; Revista Virtual de Exames Toxicológicos
rícia, bem como se os peritos designados
o IQ/UnB, foi realizada uma compilação de Química, 2015; in press. Apesar da inexistência na PF de um la-
para o caso têm a formação e a capacitação
laudos de agrotóxicos apreendidos pela boratório específico para análises toxico-
para executar tarefas de análise e interpre-
PF, que mostraram que metsulfurom-me- lógicas, é observado um aumento na de-
tílico, imidacloprido, fipronil, tebuconazol, manda por análises forenses post mortem,
clorimurom-etílico e glifosato são os prin- tais como suspeitas de envenenamento
cipais ingredientes ativos (IA) importados de animais e indígenas, incidentes envol-
ilegalmente. Esses IA não estão entre os vendo viaturas e aeronaves, e até mesmo
agrotóxicos mais comercializados no País, solicitações relacionadas a inquéritos das
No Instituto Nacional de Criminalística, o provavelmente devido ao alto preço das polícias civis. Eventos de grande reper-
Serviço de Perícias de Laboratório (SEPLAB) formulações registradas. Com base nesse cussão também desafiam a toxicologia
recebeu, em setembro de 2014, o certifica- estudo, amostras de agrotóxicos contra- do SEPLAB, como as recentes suspeitas
do de acreditação pelo cumprimento da bandeados apreendidos contendo tebu- de morte por envenenamento durante
Norma ISO/IEC 17025:2005, que define re- conazol e metsulfurom-metílico foram o período da ditadura militar brasileira,
quisitos para a gestão da qualidade em la- analisadas quantitativamente utilizando, onde a PF teve papel importante na coor-
boratórios analíticos. respectivamente, cromatografia gasosa e Perfil Químico Quantitativo denação técnica dos trabalhos de exu-
O certificado foi concedido pela AN- líquida. Tebuconazol apresentou concen- de Cocaína e Adulterantes mação do ex-presidente João Goulart e
SI-ASQ (National Accreditation Board/FQS trações concordantes com as informações Desde 2006, a Polícia Federal tem tra- nas análises dos seus restos mortais, que
Forensic Accreditation), um organismo inter- dos rótulos, enquanto que a maioria das balhado em seu próprio perfil químico foram realizadas em laboratórios estran-
nacional que atesta a qualidade de análises amostras de metsulfurom-metílico, rotu- de impurezas da cocaína (projeto PeQui), geiros, com acompanhamento de peritos
realizadas em laboratórios forenses, sendo lado como 600g/kg, apresentou concen- que inclui resultados para identificação toxicologistas da PF.
o SEPLAB o primeiro laboratório da área de trações mais baixas nas análises químicas de componentes majoritários (pureza da
química forense da América Latina a rece- (média de 337g/kg)1. cocaína, grau de oxidação e fármacos uti- 2. Botelho, E.D. e colaboradores; Chemical profiling of
cocaine seized by Brazilian Federal Police in 2009-2012: Major
ber esse reconhecimento internacional. 1. Fraga, W. G. e colaboradores; Identificação e Determinação lizados como adulterantes), por meio da components; J. Braz. Chem. Soc., Vol. 25, No. 4, 611-618, 2014.

6 Perícia Federal Perícia Federal 7


PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

PASSADO, PRESENTE
E FUTURO NA PERÍCIA
CRIMINAL FEDERAL
A leitura das próximas páginas será como uma viagem no
tempo. Nesta edição, a Perícia Federal convida o leitor a
entender um pouco mais do histórico da perícia criminal federal
e vislumbrar dois dos grandes projetos que irão transformar e
contribuir ainda mais para as ciências forenses do País

O
Departamento de Polícia Federal conta hoje com 1.160 peritos criminais federais,
muitos mestres e doutores, lotados em todo o território nacional. Parte desses
profissionais está lotada no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.
A maioria está espalhada nas 50 unidades descentralizadas da criminalística federal, pre-
sente em todas as capitais e em 23 cidades do interior e, a outra parte, lotada na Acade-
mia Nacional de Polícia e outras diretorias.
O INC é o órgão central de investigação científica da Polícia Federal e referência da
criminalística mundial. O Instituto existe desde quando Brasília tornou-se a capital federal
e possui uma estrutura moderna e inovadora com equipamentos e tecnologia de ponta,
que o torna comparável aos institutos forenses de países como Estados Unidos, Inglaterra
e França. Agora com os novos projetos da perícia como o Centro Nacional de Capacitação
e Difusão de Ciências Forenses e o Museu Nacional das Ciências Forenses, a criminalística
avança ainda mais.

Prédio que abrigará o CNCDCF Futura sede do Museu


8 Perícia Federal Perícia Federal 9
PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

Atualmente, o Instituto Nacional de Cri-

O INSTITUTO NACIONAL minalística ocupa cerca de 10 mil metros


quadrados e possui uma estrutura moder-

DE CRIMINALÍSTICA
na, inovadora e com equipamentos e tec-
nologia de ponta. A ideia da construção
do atual prédio teve início na década de 90

O
Instituto de Criminalística (IC) foi nal de Polícia de Brasília. Segundo o perito com o chefe do Serviço de Perícias de La-
instalado em Brasília no ano de Maurício, a primeira sede do Instituto ficava boratório, o perito criminal federal Octávio
1960, juntamente com a mudança em um barracão de madeira, localizado na Brandão Costa Netto, que vislumbrou a ne-
da capital. O IC fazia parte do Departamen- atual Candangolândia, região administrati- cessidade de ampliação do corpo de peritos
to Federal de Segurança Pública (DFSP), lo- va do Distrito Federal, onde funcionou de e do parque de equipamentos da crimina-
calizado no Rio de Janeiro e com atuação 1957 a 1960. lística federal, tanto do órgão central como
regional. Naquele ano, com a transferência das unidades descentralizadas. Foi na ges-
da capital, o Departamento Regional de tão do diretor do INC, Antônio Augusto, que
Polícia de Brasília (DRPB) foi extinto e subs- o projeto começou a ganhar corpo.
tituído pelo DFSP, que passou oficialmen- Após algumas pausas nas negociações,
te a ter abrangência nacional. O então IC em 1998, o contrato foi assinado e o projeto
transformou-se em INC. O diretor Antônio executado a partir de 2002, na administra-
Carlos Villanova foi removido para Brasília ção do diretor do INC Eustáquio Márcio de
e se tornou o primeiro diretor do Instituto Oliveira. No ano seguinte, começaram ser
Nacional de Criminalística. feitas as primeiras aquisições de equipa-
mentos para o novo instituto, inaugurado
somente em 2005 quando Geraldo Bertolo
era diretor técnico-científico e Octávio Bran-
dão já ocupava o cargo de diretor do INC.
Dois anos depois da inauguração do
prédio, Bertolo constituiu um grupo de
trabalho formado por peritos criminais fe- Complexo do Instituto Nacional de Criminalística - INC .
derais de diferentes áreas para elaboração
Primeira sede do Instituto ficava em um barracão de madeira, de projeto básico para contratação de uma Naquela mesma época, o projeto Pro- dicina e odontologia, apesar do corpo téc- mostravam necessários diante da demanda
localizado na atual Candangolândia, região administrativa do
Distrito Federal. empresa especializada em engenharia e motec/Pró-Amazônia proporcionou à perí- nico contar com profissionais dessas gra- que chegava nessas áreas de perícia.
arquitetura para construção do anexo do cia federal a aquisição de instrumentos que duações. “Esses peritos socorriam o INC na No ano de 2007, com a chegada do novo
prédio, que viria a abrigar, inicialmente, a os antigos profissionais não dispunham, análise de atos médicos e outras demandas diretor técnico-científico, perito criminal fe-
Divisão de Medicina Legal (DML) e os labo-
“No início da perícia e tudo isso proporcionou uma revolução na área de medicina, mas eles não tinham deral Paulo Roberto Fagundes, a proposta do
Vista do antigo prédio do INC na época da mudança da capital ratórios de ensaios físico-mecânicos e de positiva na ampliação, na qualidade e na di- ingressado no quadro de peritos criminais Bloco F foi reanalisada e deu um grande salto.
da república.
na nova capital eram análise ambiental. Essa construção fora de- versidade dos exames realizados. “Naquele federais com essa formação. Só em 2004 Antes se tratava de um projeto que pretendia
Alguns dos peritos que faziam parte nominada de Bloco F do complexo do INC. momento já contávamos com computa- que foi aberto o concurso para o ingres- atender às novas demandas que alcançavam
daquele órgão permaneceram na capital
muitas ocorrências de “O complexo do INC já era formado dores poderosos para análise complexa de so de peritos com formação nessas áreas”, a Perícia Federal, mas passou a ser o projeto
carioca, o que implicou a necessidade de local de crime. Era morte por cinco edificações (blocos A a E) que sistemas de informática, de áudio e de vídeo completou o perito Murga. de uma construção que abrigaria salas de
formação de uma turma de novos peritos, compreendiam salas e laboratórios de e de geoprocessamento. Enfim, uma infini- A concepção inicial do Bloco F era para treinamento e laboratórios em diversas áreas
coordenada por Villanova.
violenta, acidente de perícia, túnel balístico, toda a área admi- dade de equipamentos que vinham sendo contemplar laboratórios e salas de perícia das ciências forenses com o objetivo de via-
O perito criminal federal aposentado e tráfego, arrombamentos, nistrativa, de logística e de tecnologia da utilizados para colocar a Perícia Federal na da área de medicina e odontologia legal, bilizar a efetiva integração e cooperação da
ex-diretor do INC, Maurício José da Cunha, informação, auditório e estacionamento vanguarda das ciências forenses na América como câmaras frias, ginecologia, histopa- Perícia Federal e Estadual por meio da troca
participou ativamente da consolidação do afogamentos no Lago subterrâneo. Naquela época se questiona- Latina”, relatou Murga. tologia, antropologia, salas de radiografia, contínua de conhecimento e de capacita-
va se haveria demanda para essa amplia-
INC em Brasília. Em 1957, o pioneiro da cri- Paranoá” No entanto, o INC praticamente não toxicologia, além de laboratórios de análise ção conjunta. Dessa reestruturação nasceu o
minalística no Distrito Federal já trabalhava ção”, comentou o perito criminal federal e contava com uma equipe consolidada de ambiental e de ensaios físico-mecânicos, Centro Nacional de Capacitação e Difusão de
na Policia Técnica do Departamento Regio- diretor da APCF Felipe Murga. peritos criminais federais das áreas de me- que não havia no complexo do INC e já se Ciências Forenses (CNCDCF).

10 Perícia Federal Perícia Federal 11


PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo.

criminalística em âmbito nacional e tam- Além disso, o fato do Instituto Nacional O projeto tem um cronograma de exe-

O NOVO PRÉDIO bém internacional.


A reestruturação do INC com a adição
de uma nova edificação visa a harmoniza-
de Criminalística apresentar capilaridade em
todos os estados da Federação, por meio de
unidades descentralizadas de Criminalística,
cução de dois anos. O investimento é de
mais de 41 milhões de reais em obras de
engenharia, serviços e bens permanentes.
ção e a difusão de melhores metodologias que são, em parte, dotadas de salas de mul- A construção do novo prédio está em es-
relativas à produção de provas nas diversas timídia para treinamento à distância, é um tágio avançado, com previsão de término
áreas da criminalística. Além do foco em fator de peso, já que podem proporcionar em 2016.
treinamento e capacitação, a implantação maior disseminação das propostas deste
desta infraestrutura será essencial para o projeto por meio da integração com as Se- RECOMENDAÇÕES DO
desenvolvimento de novas técnicas e da cretarias de Segurança Pública. RELATÓRIO DA ACADEMIA
NACIONAL DE CIÊNCIAS DOS
padronização de procedimentos no âmbito Com a construção do Bloco F, o Instituto
ESTADOS UNIDOS PRESENTES
da perícia criminal brasileira. Nacional de Criminalística passa definitiva- NO ESCOPO DO PROJETO DO
O INC já atua de forma inovadora, porém mente a exercer a função de Centro Nacio- CNCDCF
limitada, como um centro de treinamento, nal de Capacitação e Difusão de Ciências
capacitação, pesquisa e desenvolvimento Forenses. Com uma área total aproximada a) O Instituto Nacional de Ciências Forenses
de metodologias de trabalho em crimina- de 20 mil metros quadrados, o Instituto Na- (National Institute of Forensic Science, NIFS)
lística. Diversas ações de treinamento e ca- cional de Criminalística contemplará salas deve ter uma cultura fortemente relaciona-
pacitação são desenvolvidas em conjunto de aula multiuso integradas a laboratórios da às ciências, ligada à pesquisa nacional e
com as Secretarias de Segurança Pública forenses, tais como: à comunidade científica, incluindo os labo-
nas mais diversas áreas de perícias, sendo ratórios federais;
que mais de duzentos profissionais já parti- b) O NIFS deve focar-se em garantir as
ciparam de tais ações, demonstrando assim melhores práticas para os laboratórios de
a capacidade técnica e o compromisso da ciência forense, assim como estabelecer
instituição proponente em executar ações padrões para a acreditação dos laboratórios
Análise forense de crimes
em um projeto desta envergadura. e certificação dos cientistas forenses em

F
ambientais
agundes havia reunido os peritos O projeto do CNCDCF antecipou uma toda a rede;
criminais federais Hélvio Peixoto, Fe- série de recomendações presentes um ano Genética forense c) O NIFS deve trabalhar em conjunto com
lipe Murga, Carlos Perruso e Joseane mais tarde no relatório da Academia Nacio- os laboratórios estaduais, as universidades,
Reconstrução forense 3D
Granja de Souza, que fizeram a elaboração nal de Ciências dos Estados Unidos, publi- os laboratórios privados e os grupos de tra-
do Plano de Trabalho do Centro Nacional de cado em 2009 e intitulado Strengthening Análise forense de registros de balhos científicos, de modo a desenvolver
Capacitação e Difusão de Ciências Forenses Forensic Science in the United States: A Path áudio e processamento digital ferramentas e estabelecer protocolos, mé-
de imagens
(CNCDCF), cujo projeto foi apresentado em Forward. Mais detalhes podem ser vistos a todos e práticas para os exames forenses;
maio de 2008 ao PRONASCI. O projeto foi seguir. Toxicologia forense d) O NIFS deve desenvolver estratégias para
aprovado dentro do programa juntamente A visão vanguardista do então diretor aperfeiçoar os programas de treinamento e
Análise de vestígios de
com outros projetos prioritários definidos Paulo Fagundes tinha por finalidade propi- pesquisa nas ciências forenses em âmbito
locais de crime
pelo então diretor-geral da Policia Federal, ciar às forças periciais brasileiras uma infraes- nacional; e
delegado Luiz Fernando Corrêa. trutura nacional que viabilizasse a coopera- Pós-explosão e incêndio e) O NIFS deve estabelecer uma terminolo-
O Centro tem como objetivo tornar o Brasil ção e a integração entre a União, o Distrito Medicina legal gia padrão que deve ser usada nos diversos
referência mundial na pesquisa, qualificação, Federal e os Estados, no que diz respeito à laudos e na defesa oral, bem como deve
validação, doutrina e disseminação de proce- qualificação, democratização, racionalização Antropologia forense propor padronização de laudos em diferen-
dimentos e técnicas de perícias e identificação. e implementação de ações de treinamento Odontologia legal tes áreas das ciências forenses e especificar
E o projeto contempla também a criação de e capacitação nas ciências forenses. as informações mínimas que neles devem
uma Rede Brasileira de Laboratórios Forenses Essa foi a contrapartida que a Polícia Análise de solos e pavimentos estar incluídas.
centralizada no Instituto Nacional de Crimina- Federal deu ao Pronasci para que o pro- Informática forense
lística, com a finalidade de reunir e difundir po- grama financiasse a ampliação. Ou seja,
líticas para promover a garantia da qualidade, que o INC se transformasse em um gran- Documentoscopia Colaboraram os peritos criminais federais: Felipe
Murga, Hélvio Peixoto, Paulo Roberto Fagundes e
na busca por resultados de excelência. de Centro de Difusão de boas práticas de Crimes financeiros Harley de Moraes.

12 Perícia Federal Perícia Federal 13


PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

O MUSEU
implantação do projeto, complementou: verá, também, laboratórios de experimen- O PRÉDIO
“O MNCF funcionará como uma espécie tação simulada, em que o visitante poderá
de museu-universidade, elevando e disse- vivenciar a experiência de se tornar “perito O MNCF será implantado no edifício
minando o uso das ciências na análise das por um dia”, praticando metodologias apli- antes ocupado pela Faculdade de Odon-
provas materiais em prol da Justiça. A ideia cadas pelas ciências forenses. tologia da UFMG. O prédio tem seis mil
é que discussões aconteçam por meio de Além disso, o MNCF também abrigará o m² e estava sem utilização desde 2002. Em
linhas de pesquisa, exposições, seminários, Setor Técnico Científico da Superintendên- setembro de 2013, foi tombado pelo Con-
debates e conferências.” cia da Polícia Federal de Minas Gerais, onde selho Deliberativo do Patrimônio Cultural
Para o perito criminal federal e mem- peritos criminais federais desenvolverão do Município e destinado à Polícia Federal. do Maria Ignez, o Brasil conta com cerca
bro da comissão Wenderson Carmo Maia, o suas atividades cotidianas e produzirão co- Agora, será revitalizado para receber as mo- de 3.200 museus e somente 190 são des-
museu irá ajudar a divulgar aos operadores nhecimento científico. dernas instalações do museu. tinados à popularização de ciência, ou seja,
do direito as modernas metodologias utili- A construção será de acordo com proje- apenas 6% dos museus são dedicados à
zadas pelas ciências forenses na elucidação tos arquitetônicos e museológicos que res- ciência e à técnica.
das questões judiciais. peitam as diretrizes de tombamento e a Lei No mês de setembro, como resultado
Com previsão para ser inaugurado Municipal que regulamenta a área ocupada da mobilização dos moradores durante
em 2019, alguns lugares do mundo con- pelo prédio. “O imóvel possui três pavimen- o ato cívico, o prefeito de Belo Horizonte,
tam com museus com esta proposta. Em tos e um subsolo. Foi construído numa qua- Márcio Lacerda, escalou uma equipe do
Washington, o Crime Museum, que foi inau- dra de formato triangular sem afastamentos, Serviço de Limpeza Urbana para retirar o
gurado em 2008, tem como objetivo ofe- resultando em um volume arquitetônico de entulho de dentro do imóvel. Foram reti-
recer aos visitantes de todas as idades uma
São objetivos do museu: forte presença visual no entorno”, destacou rados 10 caminhões de lixo da edificação,
visão do crime e suas consequências, a apli- Promover e realizar estudos e o perito Alexandre Sausmikat. cerca de 40 toneladas de entulho.
cação da lei, as ciências forenses e a investi- pesquisas no campo da histó- No mês de maio deste ano, durante a Em que pé está – As autoridades legis-
gação da cena do crime por meio de uma ria das ciências forenses Semana Nacional de Museus, moradores do lativas vislumbraram o projeto como uma
experiência, interativa, divertida e educativa. bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul iniciativa de grande alcance social. Vinte e
Pesquisar, preservar e tornar
Eduardo Cardoso, outro membro da co- acessíveis à sociedade acervos de Belo Horizonte, se mobilizaram para de- seis deputados federais e um senador da
missão de implantação, destaca que: “Mu- de ciência e coleções ligadas à fender a recuperação do prédio em que será bancada de Minas Gerais destinaram, ao

A
s ciências forenses do País têm mais Segundo o superintendente Sérgio Me- seus de ciência são polos indutores e disse- história das ciências forenses instalado o museu. Por iniciativa de peritos orçamento federal de 2016, emendas par-
um motivo para comemorar. Em nezes, o museu é uma ferramenta inovado- minadores do conhecimento. O Museu de criminais federais, cerca de 800 pessoas com- lamentares individuais, totalizando o mon-
Promover e difundir o ensino
2016, começam as obras do Museu ra nessa área. “Dentro da Polícia Federal é Londres, por exemplo, é o quinto lugar mais das ciências forenses em diver- pareceram ao local e se juntaram para reali- tante de R$6.850.000,00 para o início das
Nacional de Ciências Forenses (MNCF), que um projeto que virá agregar valores interes- visitado do Reino Unido e o Museu de Paris sos níveis zar um abraço ao prédio como ato simbólico obras. Também, o escritório da UNESCO no
ficará na capital mineira, na Rua Conde de santes à atuação da nossa perícia criminal, é o sétimo lugar mais visitado da França. O para chamar a atenção das autoridades. Brasil propôs um acordo de cooperação
Desenvolver ações de difusão Na oportunidade, a senhora Maria Ignez
Linhares 141, Cidade Jardim. O projeto é interagindo com a sociedade, com o públi- projeto do MNCF é um projeto estruturante internacional para participar do processo
cultural por meio de exposi-
inovador e inédito na América Latina e tem co e sendo um novel nas práticas relacio- de cérebros”. Mantovani, presidente do Conselho Inter- de implantação do MNCF. Aqueles que qui-
ções públicas permanentes,
como objetivo criar um centro de tecnolo- nadas à área da perícia. É um museu vivo”, O museu oferecerá ao público, entre temporárias e itinerantes nacional de Museus no Brasil, participou serem saber mais ou contribuir com ideias
gia forense de padrão internacional, focado afirmou Menezes. outras atrações, a possibilidade de visitar do ato cívico e expressou a importância para o projeto podem enviar um email para
em educação, cultura, ciências e justiça. De acordo com o perito criminal fede- Prestar serviços à comunidade de museus de ciência para o País. Segun-
um circuito interativo de laboratórios, onde museu.mncf@dpf.gov.br.
na sua área de atuação
Inicialmente foi instituída uma comis- ral Gyovany Gomes, o MNCF também será as pessoas poderão observar o trabalho pe-
são especial de trabalho com a finalidade um canal para se discutir polícia preventiva. ricial sendo executado em tempo real. Ha- Manter uma biblioteca espe-
de coordenar as ações relativas à implanta- “Quando em pleno funcionamento, o MNCF cializada em publicações na
ção desse projeto. Com o apoio do supe- promoverá ações educativas itinerantes, le- área de ciências forenses
rintendente da Polícia Federal em Minas vando os programas de ciência aplicada de Desenvolver ações educativas
Gerais, Sérgio Barboza Menezes e também combate ao crime a todo território nacional, de polícia cidadã por meio de
da Direção Geral da Polícia Federal, o proje- com estimativa de alcançar entre 100 a 120 programas voltados para estu-
to se concretizou formalmente com a pu- mil pessoas por ano”, destacou Gomes. dantes do ensino fundamental,
médio e superior, profissionais
blicação da Portaria nº 913, de 2 de junho Marcus Vinícius de Oliveira Andrade,
do ensino e comunidade em
de 2014, assinada pelo ministro da Justiça, chefe do Setor Técnico-Científico de Minas geral, notadamente para as
José Eduardo Cardozo. Gerais, e um dos membros da comissão de populações de baixa renda
Colaboraram os peritos criminais federais Gyovany F.
Gomes, Marcus Vinícius O. Andrade, Wenderson Carmo
Maia, Eduardo Cardoso e Alexandre Sausmikat.
14 Perícia Federal Perícia Federal 15
PEQUI: Danielle Ramos PEQUI: Danielle Ramos

CRACK:
632 amostras de drogas de rua de cinco federais a realizarem, juntos, análises das Foram recebidos peritos criminais do
estados do País foram analisadas utilizando amostras de drogas de rua no laboratório Distrito Federal, de Goiás, de São Paulo, da
a metodologia do PeQui – Perfil Químico, do INC em Brasília. A metodologia aplicada Bahia e do Mato Grosso sendo que as amos-
desenvolvida pelo Serviço de Perícias de La- nas análises faz parte do escopo do projeto tras trazidas pelo perito Leonardo Kasakoff,
boratório (Seplab) do Instituto Nacional de de “Perfil Químico de Drogas” (PeQui) e tem do Mato Grosso, foram apreendidas no esta-
Criminalística (INC). Os resultados das análises como objetivo analisar quimicamente as do do Acre. Para cada etapa realizada, foram
apontam que o produto consumido por usuá- drogas de abuso de forma detalhada, com elaborados relatórios parciais segmentados
rios de crack desses estados possui elevado o intuito de identificar as características de por estados e o artigo agora publicado reu-
grau de pureza de cocaína, que chega até a origem e permitir a ligação entre as amos- niu o resultado global. “Já existem vários tra-

um subproduto da cocaína?
70%. O artigo reafirma que o crack não é um tras. “Os peritos estaduais passaram de duas balhos de perfil químico de drogas de rua,
subproduto da cocaína, mas sim uma droga a três semanas conosco no laboratório até mesmo feitos pela perícia federal, mas
com alta concentração desta substância. e realizamos as análises em conjunto. As esse trabalho analisou 632 amostras, o que,
Durante aproximadamente um ano e amostras analisadas eram todas oriundas em termos de número de amostras analisa-
meio, peritos criminais de diferentes esta- de apreensões”, contou o perito criminal fe- das, é de grande relevância por ser o maior”,
Em artigo aceito para publicação no Journal of the Brazilian Chemical Society, peritos dos foram convidados por peritos criminais deral Adriano Maldaner. destacou o perito Maldaner.
criminais federais, em parceria com peritos oficiais dos estados e junto a um professor Tabela 1 – Massa média percentual das amostras de canabis.
da USP, afirmam que o crack não está sendo significativamente adulterado e que os
Estado Região Número de amostras
usuários dessa droga estão consumindo um produto com alto conteúdo de cocaína. Acre (AC) Norte 61
Bahia (BA) Nordeste 50
Distrito Federal (DF) Centro-Oeste 34
Goiás (GO) Centro-Oeste 206
São Paulo (SP) Sudeste 291

O artigo conta com a assinatura de três


peritos criminais federais: Adriano Malda-
ner, Élvio Botelho e Jorge Zacca; junto aos
peritos estaduais Raimundo Melo (DF), José
Costa (SP), Ivomar Zancanaro (GO), Celinalva
Oliveira (BA) e Leonardo Kasakoff (MT); e do
professor da USP, Thiago Paixão. “Esse tipo de
publicação é de grande valia para os peritos
criminais, tanto para o crescimento acadê-
mico quanto de grande contribuição para a
área pericial e investigativa, já que possibilita
olharmos diferentes locais, com uma mesma
metodologia”, completou o perito.
De acordo com o perito Maldaner, exis-
tem diversas maneiras de se obter o perfil
químico da droga. Cada maneira é aplicada
de acordo com as diferentes técnicas dispo-
níveis nos laboratórios. No caso da que foi
aplicada neste trabalho, foi possível quan-
Principais pontos de entrada: fronteiras com países produtores como Colômbia, Peru e Bolívia.
tificar a cocaína, dosar algumas das subs- Pontos de exportação e principais mercados nacionais: Rio de Janeiro e São Paulo.

16 Perícia Federal Perícia Federal 17


PEQUI: Danielle Ramos PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

O papel da prova
tâncias (alcaloides) que apontam se aquela O PeQui é uma ferramenta no enfren- ao leitor, e, pelo fato do preço do crack ser bai-
droga foi refinada ou não (que é o chamado tamento ao tráfico internacional de drogas, xo, o entendimento sobre esse tipo de droga
grau de oxidação) e também quantificar sendo desenvolvido desde 2006 a partir é esse. Mito! O crack possui cocaína, e muita.
nove fármacos adulterantes. Entre os resul-
tados, conclui-se que 34% das amostras não
da análise de amostras apreendidas nos
seguintes estados: Amazonas, Acre, Mato
‘“Os resultados mostram que, no Brasil, o crack
não passa por processos de refino para ser
produzido, ele é produzido diretamente por
pericial como elemento
minimizador das
possuem nenhum adulterante. Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Pau-
lo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. meio da pasta base”, disse Maldaner.


Após as análises de amostras apreen- O artigo aponta que o crack não está sen-

“misérias do processo
didas pelas polícias civis dos estados, o do significativamente adulterado antes de
PeQui constatou que a droga consumida alcançar o mercado de rua, e os consumido-
A grande maioria das nessas regiões possui um teor elevado de res estão consumindo um produto com alto
amostras de rua na forma
fumada (cocaína base
cocaína (até 70 %, com valor médio de
49,8 %). Esses dados apontam que a co-
conteúdo de cocaína, não apenas em São
Paulo, mas também em todas as outras re- penal”, descritas na
obra de Francesco
caína fumada e que é consumida no mer- giões que foram analisadas. Essa informação
livre) não sofre oxidação, cado de rua é similar ao perfil do tráfico é crucial para profissionais da área de saúde,
isto é, deve chegar pasta internacional encontradas nas apreensões envolvendo aspectos médicos, psicológicos

base do exterior e ser


simplesmente convertidas
realizadas pela PF, ou seja, não apresentam
grandes distinções no que diz respeito ao
grau de pureza.
e toxicológicos da dependência de crack.
“O trabalho do perfil químico também
tem a função de nortear esses profissionais.
Carnelutti
em crack ou vendida Como não se trata de um produto legal, é
O artigo a seguir tem como objetivo contextualizar a
da forma como está QUEBRANDO MITOS importante ter informações cientificamen-
te embasadas do que são feitas essas dro- máxima, afirmada por Carnelutti, que diz que “o direito
sem refino significativo Quando se pensa em crack, o senso co- gas, se trata-se de um produto com alto ou
não pode fazer milagres e, o processo, ainda menos”.
(purificação por oxidação). mum leva ao conceito de que se trata de um baixo percentual de cocaína, quais são os
Já as amostras de cocaína subproduto oriundo do refino da cocaína. A adulterantes contidos nela e quais as con- Nessa ótica, o texto insere o debate pontuando o
imprensa reforça a informação dessa forma sequências”, finalizou.
sal, que são comumente sistema de justiça criminal brasileiro e o papel da prova
conhecidas como “pó”, pericial como elemento minimizador dos efeitos das
sofrem uma maior “misérias” do processo penal.
incidência de refino

E
m sua obra “Le Miserie del Processo ficiência de provas. Esse quadro leva Carne- este artigo pretende contextualizar o de-
(oxidação). Outra coisa Penale”, Francesco Carnelutti (1957), lutti a afirmar que “o processo penal não é, bate com a realidade do sistema de justiça
importante é que temos jurista italiano e titular das Universi- infelizmente, mais que uma escola de inci- criminal brasileiro. Para isso, abordará, espe-
uma série de amostras dades de Milão e Roma, revela o drama da vilização”, não só porque o delito decorre de cificamente, o papel da prova pericial como
Justiça Penal, abordando alguns dilemas um drama da inimizade e da discórdia, mas elemento minimizador dos efeitos das “mi-
que não conseguimos
vivenciados por seus atores na tentativa de também porque, na relação estabelecida sérias” do processo penal, face à potencia-
classificar como forma reconstruir a história do ilícito para identifi- entre quem é acusado e aqueles que atuam lidade que possui para subsidiar os atores
de apresentação base ou car a autoria e a materialidade do delito e no processo penal ou o assistem, muitas ve- desse sistema (peritos criminais, delegados,
sal, porque na rua são decidir, ao final do processo, se o acusado é zes influenciados pelos efeitos da mídia, o promotores/procuradores, juízes, advoga-
inocente ou culpado. homem acaba sendo tratado como coisa, dos e assistentes técnicos das partes). Dessa
misturadas a tantas outras Para o autor, é preciso reconhecer que principalmente quando, ao final do proces- forma, buscará reconstruir, principalmente
coisas que o método o mecanismo jurídico do processo penal, so, é sentenciado a ficar fechado nas jaulas, sob o ponto de vista objetivo e técnico-
não consegue identificar “ infelizmente, é imperfeito e imperfectível, parecendo homens de mentira ao invés de -científico, a história do fato ilícito passado
pois, além de produzir alguns erros ou “mi- homens de verdade. e a encontrar a verdade real ou, ao menos,
exatamente o que é
sérias”, é também incapaz de evitá-los, a Diante dessa perspectiva, apesar de se aproximar dela, permitindo, ao final do
exemplo de quando condena um inocente Carnelutti afirmar que “o direito não pode processo, que o Estado-juiz tome a decisão
ou absolve um culpado, inclusive por insu- fazer milagres e, o processo, ainda menos”, mais acertada possível ao sentenciar.

18 Perícia Federal Perícia Federal 19


PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

O PAPEL DO SISTEMA DE Figura 1 – Estrutura orgânica e processual do sistema de justiça criminal brasileiro. justiça criminal no Brasil há muito tempo zação, expressam a proporção das perdas
apresenta índices insatisfatórios, levando a ocorridas em cada etapa da persecução
JUSTIÇA CRIMINAL
sociedade a ter baixos níveis de confiança penal, calculando a parcela registrada pela
Antes de tratar da relevância da pro- nas instituições. Polícia, a parcela esclarecida, transformada

Fase execução Penal


va pericial em si, é preciso lembrar que o Para Lemgruber (2001), a efetividade em processo, e a parcela que resultou em
Subsistema de
Estado moderno, visando evitar a prática Execução Penal
dos órgãos que atuam nesse sistema pode condenação. Nesse contexto, Ribeiro e Sil-
Cadeia/Presídio
da vingança privada (fazer justiça com as (punir/recuperar) ser mensurada por meio das chamadas va (2010) apresentam as seguintes taxas
ca
próprias mãos), possui um aparato orgâ- lísti “taxas de atrito”, as quais, partindo-se do para avaliar o desempenho dos órgãos que
nico e processual atualmente conhecido ina total de crimes cometidos, estimado por atuam nesse sistema:
im
Cr
Judiciario
(julgar) meio de pesquisas domiciliares de vitimi-
como sistema de justiça criminal. No caso,
as instituições são responsáveis pelo con- Conj.
trole sobre a violência e a criminalidade
Polícia
Científica Probatório Tabela 1 – Taxas sobre o fluxo do Sistema de Justiça Criminal, de acordo com a agência e com o significado das informações.
Polícias Min. Público Acusado
como um bem coletivo, mediante a obe- CRIME Federal e Civil (invest./acusa) (defender)

diência a diversos institutos legais que


(investigar)
Subsistema Policial Subsistema da Justiça Criminal
TAXA SIGNIFICADO AGÊNCIA
estabelecem os fluxos de suas atividades Esclarecimento § Percentual de inquéritos esclarecidos, considerando o total de ocorrências registradas. Polícia Civil
Fase pré-processual Fase processual ou judicial
e os parâmetros de seus poderes de atua-
ção (Sapori, 2009). § Percentual de processos iniciados, considerando o total de crimes registrados.
Processamento § Percentual de processos iniciados, considerando o total de ocorrências registradas. Ministério Público
A figura 1, adaptada de Amorim (2014,
§ Percentual de processos iniciados, considerando o total de inquéritos cuja autoria fora esclarecida.
p. 185), ilustra como esse sistema está or- a. Subsistema Policial ou de Segurança exercer o poder-dever de promover a Justi-
gânico e processualmente estruturado no Pública: executa a fase pré-processual ça como um bem coletivo, mobilizando os § Percentual de processos que alcançaram a fase de sentença, considerando o total de ocor-
Brasil para executar a persecução penal, da persecução penal, na qual as polícias órgãos que atuam nesse sistema para, ini- rências registradas.
Sentenciamento Judiciário
destacando o fato de os órgãos responsá- judiciárias realizam os procedimentos in- cialmente, investigar e denunciar a pessoa § Percentual de processos que alcançaram a fase de sentença, considerando o total de proces-
sos iniciados.
veis pela produção da prova pericial, ge- vestigatórios necessários à identificação sobre a qual recaem os indícios de autoria e
ralmente conhecidos como Institutos de do crime e da autoria, reduzindo-os a materialidade do delito. Dessa forma, cabe § Percentual de condenações, considerando o total de ocorrências registradas.
Condenação Judiciário
Criminalística ou Polícias Científicas, terem um instrumento administrativo, formal posteriormente ao Estado-juiz analisar a re- § Percentual de condenações, considerando o total de sentenças proferidas.
uma atuação transversal1 ao longo de todas e escrito, denominado inquérito policial; construção da história dos fatos, por meio
as fases da persecução penal e se encon- b. Subsistema de Justiça Criminal: exe- do conjunto probatório, e decidir se o réu
trarem, na maioria dos Estados, atualmente cuta a fase processual ou judicial da é culpado ou inocente, sendo essa decisão, Outra utilidade das taxas de atrito diz sado narrado na ação penal, aumentando to tempo a investigação dos crimes, nota-
desvinculados da estrutura orgânica das persecução penal, que se inicia quando segundo Carnelutti, um dos principais pro- respeito ao fato de explicarem o chamado o drama do julgador, no momento de to- damente contra a vida e a integridade física
Polícias Civis (Brasil, 2013)2. a denúncia feita pelo Ministério Público blemas (ou miséria) do processo penal. “efeito funil” (SAPORI, 2008) na dinâmica mada de decisão, e o próprio risco dessa das pessoas, tem exigido conhecimentos
Essa figura demonstra que, após a ocor- contra o acusado, após receber o in- do Sistema de Justiça Criminal, à medida decisão acentuar o efeito da incivilidade técnico-científicos para analisar os vestígios
rência de um crime, o fluxo da persecução quérito policial ou concluir as próprias EFETIVIDADE DO que demonstram a diferença entre o nú- do processo penal. Daí porque, segundo relacionados ao fato criminoso, sendo a
penal é realizado por três subsistemas dis- investigações, é aceita pelo Judiciário, SISTEMA DE JUSTIÇA mero de crimes cometidos (topo do funil), Carnelutti, o magistrado precisa entender Medicina Legal a primeira ciência forense a
tintos, mas interrelacionados. Cada um é formando-se a tríade processual, na qual CRIMINAL BRASILEIRO conhecidos nas pesquisas de vitimização, o valor que tem o processo penal para a prestar esse auxílio à Justiça.
responsável pela execução de uma fase es- as partes (acusação e defesa), sob o crivo e o número de crimes cujos autores são civilidade de um povo. Contudo, na sociedade moderna, mui-
pecífica, a saber: do princípio da paridade das armas, de- De acordo com os dados do “Sistema condenados (base do funil). Segundo Ri- tos crimes foram se tornando cada vez
vem atuar em igualdade de condições; e de Indicadores de Percepção Social-SIPS" beiro e Silva (2010), quanto mais elevadas RELEVÂNCIA DA mais complexos e praticados mediante
PROVA PERICIAL PARA
1 A despeito de os órgãos de criminalística estarem
inseridos no subsistema policial, Amorim (2012) justifica c. Subsistema de execução penal ou e do ”Anuário Brasileiro de Segurança Pú- forem essas taxas, maior será o efeito funil uso de técnicas delituosas mais avançadas,
blica”, publicados pelo IPEA3 e FBSP4, res-
A EFETIVIDADE DO
a transversalidade da função no fato de a prova pericial prisional: sendo o réu julgado “culpado”, e, subsequentemente, maior será a ideia demandando, consequentemente, o uso
não servir de suporte decisório apenas para os delegados
ao final do processo penal, cabe ao juiz pectivamente, a efetividade do sistema de de impunidade nesse sistema. Contextua- instrumental de técnicas e métodos cientí-
SISTEMA DE JUSTIÇA
de polícia, mas também para diversos outros atores do
sistema de justiça criminal, ao longo de toda as fases da
definir a pena, cujo cumprimento dará lizando essa questão com a obra de Carne- ficos de outras áreas das ciências forenses
persecução penal, com destaque para o juiz, seu destinatário
principal e final, ao qual compete apreciar o conjunto início à fase da execução penal, cabendo
3 Desde 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) usa o Sistema de Indicadores de Percepção Social lutti, depreende-se que a intensificação do CRIMINAL para solucioná-los. A título de exemplo, isso
probatório e decidir a lide penal, segundo o princípio do livre (SIPS) para pesquisar a percepção da população em relação a
convencimento motivado. ao Estado assumir a custódia e, em tese, a diversos serviços de utilidade pública. efeito funil pode ser decorrente de diver- Relatos de que, desde a época do Im- ocorre, atualmente, nos crimes cibernéticos,
2 De acordo com o estudo realizado pelo Ministério
da Justiça (2013), os órgãos de perícia encontram-se recuperação social. 4 O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) publica, sos problemas (ou “misérias”) do processo pério Romano, médicos eram chamados nos crimes de falsificação que usam moder-
por meio do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dados
desvinculados das Polícias Civis em 16 Estados, quais sejam: Sendo assim, ao tomar conhecimento e estatísticas sobre a área de segurança pública no Brasil, penal, com destaque para aqueles relacio- pelos governantes para esclarecer as cir- nas tecnologias (e.g. papel moeda, medica-
AP, AL, BA, CE, GO, MT, MS, PA, PR, PE, RN, RS, SC, SE, SP e TO.
Recentemente, nos estados de Rondônia e Amazonas a desalinhado de um ato considerado crimi- a exemplo do Índice de Confiança na Justiça Brasileira nados à incapacidade de seus autores para cunstâncias de morte (França, 1998, apud mentos, pirataria etc.), nos crimes contábeis
perícia também se desvinculou da Polícia Civil. (ICJBrasil), da Escola de Direito da FGV/SP, elaborado desde
noso e passível de punição, o Estado deve 2009 a cada trimestre. reconstruírem a história do fato ilícito pas- Velho et al. 2011) demonstram que há mui- e financeiros (e.g. corrupção, lavagem de

20 Perícia Federal Perícia Federal 21


PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim PROVA PERICIAL: perito criminal federal José Viana Amorim

dinheiro, evasão de divisas etc); nos crimes além de reconhecer como peritos ofi- seguintes aspectos: (f.) Dos Direitos Humanos: face à natureza 38), os vestígios criminais são verdadeiras lecimento dos Institutos de Criminalística
que exigem exames laboratoriais de alta ciais os peritos criminais, os peritos objetiva e técnico-científica, além de ser “testemunhas silenciosas ou mudas”, so- ou das Polícias Científicas apresenta-se
(a.) Técnico-científico: trata-se de uma pro-
tecnologia (e.g. confronto balístico, exames médico-legistas e os peritos odonto- produzida com isenção, a prova pericial mente sendo possível comprovar a ocor- como uma das medidas necessárias para
va produzida por um especialista em
de DNA, drogas sintéticas etc.), entre outros. legistas com formação superior. contribui para a garantia dos direitos in- rência dos crimes após sua revelação, por minimizar as misérias do processo penal
determinada área das ciências foren-
Adequando-se a essa perspectiva do dividuais do cidadão à medida que pode meio da análise pericial. a que se refere esse autor em sua obra,
A título de exemplo, essa relevância ses, que faz uso de técnicas ou méto-
uso das ciências forenses na solução dos servir tanto para condenar como para Como resultado da análise realizada tendo em vista o papel que tem a prova
pode ser visualizada na hipótese em que dos científicos para analisar os vestígios
crimes, o ordenamento jurídico brasileiro absolver uma pessoa indevidamente sobre o pensamento de Carnelutti, pon- pericial no sentido de iluminar o caminho
uma pessoa inocente tenha sido submetida relacionados ao crime investigado;
tem conferido relevância ao exame pericial investigada ou acusada em processo pe- derado pela análise da relevância da pro- obscuro da reconstrução histórica do fato
a uma investigação policial ou a um proces-
desde a edição original do Código de Pro- (b.) Objetivo: do caráter técnico-científico nal, refutando a tese acusatória desenvol- va pericial para a efetividade do sistema ilícito passado, auxiliando os atores da
so penal por um crime que não cometeu.
cesso Penal (1941) – quando essas ciências resulta, por conseguinte, em sua na- vida no curso da persecução penal. de justiça criminal, o presente estudo persecução penal, notadamente o juiz, a
Nesse caso, a prova pericial pode for-
sequer eram desenvolvidas e valorizadas –, necer subsídios técnico-científicos para tureza objetiva, face à possibilidade Conforme ratifica GUZMÁN (2000, p. conduz ao entendimento de que o forta- tomar decisões mais acertadas.
estabelecendo as seguintes regras básicas: que os principais destinatários possam, em de permitir que outros profissionais, a
qualquer fase da persecução penal, identifi- exemplo dos assistentes técnicos das
(i.) quando ocorrer um crime, a autorida-
car esse ato de incivilidade e repará-lo, ado- partes, reexamine o objeto periciado,
de deve preservar o local até a chega-
tando, para esse fim, as seguintes medidas: confirmando ou refutando os resul-
da dos peritos (Art. 169);
tados obtidos nos exames realizados
(ii.) se o crime deixar vestígios, será in- (vii.) delegado de polícia: pode decidir pelo perito criminal;
dispensável o exame pericial, não não indiciar a pessoa investigada e
podendo supri-lo a confissão do acu- pedir o arquivamento do inquérito (c.) Instrumental: há determinados exa-
sado (Art. 158), devendo o exame ser policial; mes (falsidade de documentos, crimes
realizado por perito oficial, podendo cibernéticos, balística forense, exame
(viii.) membro do Ministério Público: pode
ser nomeado perito ad hoc, somente de DNA etc.) que, geralmente, só po-
não oferecer a denúncia, mesmo
em sua falta (Art. 159 e § 1º); dem ser realizados, de forma mais pre-
que o delegado tenha efetuado o
cisa, por meio do uso instrumental das
(iii.) não sendo possível o exame pericial, indiciamento;
técnicas e metodologias desenvolvi-
por terem desaparecidos os vestígios, (ix.) juiz: pode decidir pela absolvição das pelas ciências forenses;
a prova testemunhal poderá suprir- sumária, pela absolvição ao final do
-lhe a falta (Art. 167); processo penal ou, ainda, pela absol- (d.) Teleológico: significa que, embora te-

(iv.) a não realização do exame pericial im- vição de um condenado, na fase da nha uma destinação transversal ao lon- BIBLIOGRAFIA
execução penal, ao final de um pro- go da persecução penal, à medida que
plica a anulação absoluta do processo BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJ). Diagnóstico da perícia criminal no Brasil. Senasp, 2013.
cesso de revisão criminal. De modo in- pode ser demandada em todas as fases
penal, com a ressalva da possibilidade Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/ MJA21B014BPTBRNN.htm> Acesso em: 20 fev. 2013.
verso, esse mesmo ato de incivilidade por diversos atores do sistema de justiça
de a prova testemunhal suprir-lhe a CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Tradução de: CARDINALLI, José Antônio, 1995, CONAN - N. Cham. 343.1 C289. Pc.
também pode ocorrer em relação à criminal, a prova pericial tem como fina-
falta (art. 564, III, b); Composição e editoração: ORMACHEA, Márcia C. Neiva. Revisão: RAZERA, Luiz Antonio.
vítima, quando, por exemplo, o verda- lidade precípua atender ao Estado-juiz,
(v.) o exame pericial deve ser requisitado subsidiando a decisão ao sentenciar; SAPORI, Luís Flávio. Segurança pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
deiro agressor é absolvido por insufi-
pela autoridade ao diretor da reparti- AMORIM, José Viana. Autonomia da perícia criminal oficial no âmbito da Polícia Federal: percepções e reflexões dos profissionais do Sistema
ciência de provas. Por isso, de acordo
(e.) Ontológico: está no “ser” da prova pe- de Justiça Criminal. Dissertação (mestrado em administração pública) – Escola de Administração Pública e de Empresas, Fundação Getú-
ção (Art. 178); com Carnelutti, no momento da esco-
ricial a imparcialidade, razão pela qual lio Vargas, 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/10438/9987 >. Acesso em: 05 out. 2014.
(vi.) o perito, ainda quando não oficial, está lha entre o “não” do defensor e o “sim”
quanto maior for a garantia de que foi AMORIM, José Viana; FRAGA, Valderez Ferreira. Autonomia da perícia criminal oficial no âmbito da Polícia Federal: percepções e reflexões dos
sujeito à disciplina judiciária (Art. 275) do acusador, os termos “absolver” ou
produzida de forma isenta e qualifi- profissionais do Sistema de Justiça Criminal. In: DE VASCONCELOS, Flavio Carvalho; FONTES FILHO, Joaquim Rubens; TSUNODA, Márcia
e, face ao requisito da imparcialidade “condenar” precisam ter o verdadeiro
cada, com lastro na autonomia técni- Aiko. Gestão pública: a perícia criminal em foco. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2014.
de sua função, também é extensivo significado desvelado pelo juiz.
co-científica e funcional, maior será a LEMGRUBER, Julita. Mesa redonda 1: verdades e mentiras sobre o sistema de justiça criminal. In: Revista CEJ. n. 15. p. 12-29. Set./dez./2001. Disponível:
a ele o disposto sobre suspeição dos Nesse contexto, a partir de outro es- probabilidade dos seus destinatários <http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/cej/article/viewFile/ 427/608> Acesso: 12 fev. 2015.
juízes, no que for aplicável (Art. 280). tudo realizado por este autor (Amorim, tomarem a decisão mais justa e acer- RIBEIRO, Ludmila; SILVA, Klarissa. Fluxo do sistema de justiça criminal brasileiro: um balanço da literatura. Caderno de Segurança Pública, Rio de Janeiro, ano
Recentemente, a Lei nº 12.030/2009 2012), depreende-se que a relevância da tada possível, especialmente quanto 2, n. 1, p. 14-27, ago./2010. Disponível: <http://www.isp.rj.gov.br/revista/download/Rev20100102.pdf >. Acesso em: 12/02/2011.
passou a assegurar a autonomia téc- prova pericial para a efetividade do sistema à decisão tomada pelo Estado-juiz, ao VELHO, Jesus Antônio; GEISER, Gustavo Caminoto; ESPÍNDULA, Alberi. Ciências Forenses: uma introdução às principais áreas da criminalística moderna.
nica, científica e funcional à atividade de justiça criminal decorre de sua própria final da persecução penal; Campinas-SP: Millennium, 2011.
de perícia oficial de natureza criminal, natureza, a qual pode ser subdividida nos GUZMÁN, Carlos Alberto. Manual de criminalística. Bueno Aires-ARG: Ediciones La Rocca, 2000.

22 Perícia Federal Perícia Federal 23


UTEC: perito criminal federal Jesus Antônio Velho UTEC: perito criminal federal Jesus Antônio Velho

A UTEC DE RIBEIRÃO EM NÚMEROS


Ano de criação 2008

Espaço físico da unidade 140 m2


Número de peritos lotados 9
Número de municípios atendidos 162
População da circunscrição 4,63 milhões de habi-
de atendimento tantes (IBGE, 2010)
Delegacias da Polícia
Federal atendidas
3

Sala de peritos

Equipe da UTEC/DPF/RPO/SP

A Unidade O
Estado de São Paulo possui nove
Unidades/Setores Federais de
Criminalística, sendo oito unida-
des localizadas no interior e destinadas a

Técnico-
atender às demandas de 15 delegacias da
Polícia Federal de São Paulo. Dessa forma,
as demandas das delegacias Araraquara,
Ribeirão Preto e São José do Rio Preto são

Científica de
direcionadas para a UTEC de Ribeirão, dis-
tante cerca de 300 km da capital do estado.
A UTEC de Ribeirão foi criada em janeiro
de 2008 e, hoje, ocupa 140 m2 da Delegacia

Ribeirão Preto
da Polícia Feral da localidade, divididos em:
laboratório de documentoscopia, de infor- Laboratório de Documentoscopia e Informática
mática, de química forense, salas de peritos
e secretaria.A responsável pela unidade, a Segundo dados do Sistema Nacional de se comparada a todos os setores/unidades químicos e ações educativas voltadas para
perita criminal federal Andrea Nicole Pey, diz Criminalística, no ano de 2015, a Utec de de perícia federal do Brasil. Por outro lado, o combate a drogas de abuso (palestras).
que as demandas mais frequentes são em Ribeirão Preto possuía em seu quadro 0,9% apresenta a quarta maior pendência por pe- Apesar da elevada demanda por perito,
Esta edição da revista Perícia Federal traz, na série perícias documentoscópicas e de informáti- do efetivo nacional de peritos federais, mas rito do país, evidenciando um claro descom- bem superior à média nacional, a unidade,
ca, seguidas de exames em veículos, de quí- recebeu uma demanda equivalente a 2,0% passo entre requisições de perícia e efetivo que já contou com 13 peritos, hoje dispõe
de reportagens sobre o processo de interiorização da mica forense e de meio ambiente. “Um dos das requisições nacionais, se destacando pericial. Segundo a perita Andrea, além das de apenas nove, das seguintes áreas: infor-
Perícia Federal, mais detalhes sobre o funcionamento maiores problemas da unidade é o baixo efe- como a segunda maior produtora de lau- atribuições de realização de perícias, a equi- mática (4), ciências contábeis (1), engenha-
tivo frente à alta demanda que recebemos”, dos por perito do Estado de São Paulo e a pe acumula ainda funções de fiscalização ria agronômica (1), engenharia florestal (1),
da Utec de Ribeirão Preto/SP afirmou a perita. sexta maior produtora de laudos por perito de contratos da delegacia, fiscalização de ciências biológicas (1) e química (1).

24 Perícia Federal Perícia Federal 25


PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo

As análises em telefones são diversas. OS APLICATIVOS DE volume de dados dos perfis e de comuni-

Em alta!
Com o uso de equipamentos específicos, cações é mantido em servidores da rede
e em questão de minutos, é possível re-
COMUNICAÇÃO social na Internet. E, uma vez que os perfis
cuperar ligações realizadas, perdidas, não E se os smartphones são um sucesso, não são totalmente acessíveis, muitas vezes
atendidas, mensagens SMS, de voz, todos muito se deve aos aplicativos e às redes é necessário solicitar os dados à empresa
os dados registrados no aparelho, mesmo sociais, que também viraram objeto de in- proprietária da rede social. Sediado dos Es-
que tenham sido apagados. vestigação criminal. Mais um desafio para o tados Unidos, o Facebook frequentemente
O perito Lorens explica que os apa- corpo de peritos federais. cria obstáculos à cessão de dados e nem
O crescimento de smartphones, aplicativos e relhos mais novos, às vezes, demandam O WhatsApp, um dos aplicativos mais sempre acata os pedidos das polícias bra-
redes sociais têm desafiado a perícia criminal mecanismos específicos para a quebra de famosos do momento, permite a troca de sileiras no curso das investigações ou as
senhas para que, em seguida, sejam anali- mensagens e informações pelo celular de determinações dos mandados judiciais da
federal. Os profissionais da criminalística
sados. “Usamos uma grande variedade de forma instantânea, por meio da Internet. O justiça brasileira.


precisam estar sempre atualizados para equipamentos na perícia de smartphones, problema é a que ferramenta sofre atualiza-
realizar esse tipo de perícia, cada vez mais dada a variedade de tipos de aparelhos e ções das configurações frequentemente, o

frequente no Brasil
de mecanismos de proteção como senhas, que dificulta o trabalho pericial. “Precisamos Mesmo com a vigência de
criptografia, biometria, bloqueios e outros”, estar sempre buscando novos programas
explicou o perito.
alguns termos de ajuste
que acessem as novas versões dos siste-

D
e acordo com a Anatel, em julho de Os exames periciais em celulares po- mas, que extraiam o conteúdo de dados de conduta firmados pelo
2015, o Brasil tinha 281,5 milhões de dem demorar horas ou até meses, depen- dos aplicativos. Às vezes, um equipamento Facebook e por outras
celulares, uma média 137 aparelhos dendo da importância da prova. “Tudo acessa os dados de uma versão mais antiga empresas de tecnologia
para cada 100 habitantes. Os smartphones precisa ser feito com muito cuidado, para de um aplicativo, mas não consegue aces-
viraram febre entre as pessoas e, conse- que não sejam perdidos os dados que bus- sar os de uma versão mais recente”, expli-
estrangeiras, é comum
quentemente, se tornaram uma importan- camos. Um simples erro pode colocar tudo cou Lorens. a demora ou a negativa
te ferramenta de investigação criminal. a perder”, destacou. Mas o perito diz que não há nenhum de informações à justiça
A perícia da Polícia Federal recebe hoje, Por isso, a perícia conta com profissio- dado que não possa ser recuperado. “Se a
em média, 25 aparelhos para serem pericia- nais capacitados para esse tipo de análises.
do Brasil. A falta de uma
gente não consegue no primeiro momen-
dos por dia. Segundo o perito criminal fede- Dada a evolução rápida das tecnologias e a to, é uma questão de tempo. Sempre en- legislação específica para
ral da área de informática, Evandro Lorens, necessidade de ferramentas que acompa- contramos um método mais eficiente de esses casos faz com que,
a grande maioria dos casos é solucionada, nhem a evolução tecnológica, os próprios acesso, especialmente em casos difíceis, em muitas situações, a “
mesmo considerando aqueles aparelhos peritos também desenvolvem programas em que a prova depende muito da análise
recém-lançados com tecnologia de ponta. e ferramentas para uso da criminalística que fazemos”, afirma.
verdadeira justiça não seja
em todo o Brasil. Muitas dessas são con- Apesar da popularidade do WhatsApp, a realizada
sideradas melhores e mais completas que maior demanda direta de análise em smar-
as soluções comerciais desenvolvidas por tphones ainda está relacionada às ligações
empresas especialistas em todo o mundo. realizadas e recebidas e à base de contatos
“Com o crescimento acelerado do uso contida nos aparelhos. Entretanto, à medida
de smartphones, é importante que este- em que o WhatsApp e os aplicativos simi-
jamos atualizados, porque a expectativa lares crescem em preferência como ferra-
é que, em pouco tempo, o número des- menta de comunicação entre as pessoas,
ses aparelhos supere o de computadores. a importância de se recuperar esses dados
Atualmente, o crescimento da demanda também cresce.
por perícias em smartphones cresce à
ordem de 85% ao ano, enquanto o cres- FACEBOOK
cimento da demanda por perícias em Diferentemente dos aplicativos que
mídias convencionais cresce em 35%”, re- guardam dados e comunicações nos apa-
velou Lorens. relhos dos usuários, no Facebook, o maior

26 Perícia Federal Perícia Federal 27


PERÍCIA EM CELULARES: Taynara Figueiredo PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

Psicologia
Foi o caso de Raíssa Lopes, de apenas Abreu Magalhães, por meio do dispositivo Para o perito Lorens, outra questão
15 anos. Em setembro de 2012, a jovem de cooperação jurídica internacional entre que precisa evoluir no Brasil é a lacuna de
foi assassinada cruelmente pelo ex-namo- Brasil e Estados Unidos da América (MLAT autonomia das polícias na interação com
rado em um ponto de ônibus, na cidade - Mutual Legal Assistance Treaty), requisitou empresas que mantêm dados de comuni-
de Porto Velho, Rondônia. O Caso Raíssa,
como ficou conhecido popularmente na
região onde o homicídio ocorreu, teve
informações sobre o perfil do Facebook de
Raíssa Lopes, tendo este sido negado pelas
autoridades estadunidenses, sob o argu-
cação de pessoas, como as de redes e de
telecomunicações. “Em países como os Es-
tados Unidos, por exemplo, a polícia pode
Criminalística
A inteligência
uma peculiaridade em relação aos moti- mento de que as evidências fornecidas não solicitar direto e, formalmente, ao operador
vos que levaram o autor do crime a prati- eram suficientemente fortes para que se de rede social os dados de perfil de um
cá-lo: supostas mensagens postadas pela concedesse a quebra de sigilo telemático. usuário que esteja praticando crimes pela
vítima via Facebook.
O autor do crime, que respondia em
liberdade, alegou que a ex-namorada pos-
O tema foi debatido na CPI de Crimes
Cibernéticos, na Câmara dos Deputados.
“Nós, peritos criminais federais, participa-
Internet, o que agiliza as investigações e a
solução dos crimes. Mais uma vez, no Brasil,
a falta de uma legislação que viabilize esse
pericial na cena
tou mensagens na rede social, as quais lhe
causaram desarranjo emocional, fato que o
levou a desferir disparos de arma de fogo,
mos da audiência onde ficou demonstra-
da a necessidade de se melhorar os acor-
dos de cooperação internacional, tendo a
tipo de requisição com a devida responsa-
bilização da polícia pelo uso dos dados en-
tregues, oferece aos criminosos tempo para
do crime
em plena via pública, contra a vítima, que CPI colocado como prioridade a celebra- apagar vestígios de seus delitos e dificultar
veio a óbito no local. ção de novos acordos internacionais e a sua captura, já que dados assim só são en-
Sendo assim, a autoridade judiciária, as- melhoria dos já existentes”, afirmou o pe- tregues mediante um mandado judicial”,
sessorada pelo perito criminal federal André rito André Magalhães. ponderou.

“A legislação brasilei-
ra precisa ser mais
dura com empresas
que não colaboram

A
com a justiça e que criminalística baseia-se no pressuposto de
colaboram com o que um criminoso (na maior parte das ve-
zes, sem estar consciente) deixa sempre, no
crime, porque obstru- local (cena) do crime, alguns vestígios; e que, por
ir, atrasar ou invia- outro lado, também recolhe, na pessoa, na roupa e
bilizar o trabalho da no material, outros vestígios presentes no ambiente
polícia e da justiça (LOCARD, 2010). Estes vestígios geralmente são im-
é colaborar com os perceptíveis visualmente, mas possíveis de serem
identificáveis e processados como prova material.
criminosos”, perito No entanto, também existirão situação nos locais de
criminal federal Evan- crime e nos fatos criminais em que os vestígios não
dro Lorens serão obtidos ou estarão contaminados, destruídos
ou perdidos pelos mais variados motivos. Nestes ca-
sos, resta a necessidade de que o perito possa utili-
zar os conhecimentos da psicologia criminal.

28 Perícia Federal Perícia Federal 29


PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

Daí advém a importância de conheci- algumas situações, variáveis de restrição de informação que não deverá ser maior mações e dos conhecimentos, visando a nam efetivas se realmente forem aplicadas, dades, mesmo porque o seu acesso é visi-
mentos da ciência Psicologia para que se nesse tratamento, como tempo, dinheiro, nem menor do que a capacidade da or- solução de uma necessidade, para a toma- ou seja, é difícil imaginar um analista de velmente mais fácil (JESUS, 2014).
possa compreender qual a explicação e a custo de oportunidade etc. ganização em manter a qualidade no pro- da de decisão. inteligência que deseja ter sucesso despro- Quando uma informação é comuni-
previsão do comportamento criminal e, Assim, a necessidade de informação cessamento e na aplicação útil das infor- O perito irá utilizar os recursos dispo- vido de um raciocínio crítico desenvolvido. cada, ocorrerá uma premissa inicial e um
dessa maneira, discutirmos qual a dinâmica para a tomada de decisão surge para suprir mações geradas. níveis para dar o tratamento adequado O perito deve ser dotado de um racio- objetivo. A premissa é a informação de que
da ocorrência do fato criminal (criminalísti- uma lacuna do conhecimento. A pessoa Conforme Popper (1999), a tarefa da aos dados e às informações. O tratamento cínio crítico que inclui em seu desenvolvi- um indivíduo pronunciou ou escreveu cer-
ca dinâmica), conforme Garrido (1994). que conhece tudo e sabe tudo não terá ne- ciência é buscar explicações satisfatórias, da informação pressupõe duas grandes mento (JESUS, 2005): ta sentença. O objetivo é descobrir o que o
Baseando-nos nessa premissa é que po- cessidade de informação, mas sabe-se que que dificilmente podem ser compreen- etapas: a aquisição e a análise. A análise indivíduo processava em pensamentos ao
deríamos sustentar, em última análise, que se atualmente essa pessoa não existe. didas sem o fundo da realidade (observa- deve ser capaz de avaliar a credibilidade Espírito indagador e formulador emitir essa sentença.
possuirmos todos os vestígios de um crime, Inicialmente, temos que quantificar e ção). A explicação satisfatória é a que não de uma informação e de fazer uma síntese de perguntas; A premissa e a conclusão de um pro-
seria possível reconstruir todas as fases e che- qualificar qual é a real necessidade da in- somente atende a um caso, mas a que de um conjunto de variadas informações cesso interpretativo bem-sucedido são ori-
gar até ao autor. Na realidade, trata-se sim- formação. A correta avaliação da necessi- pode ser aplicada a outros também. Essa de forma integrada. Busca manter-se constantemente ginariamente complexas, todavia em graus
plesmente de procurar a prova de uma culpa- dade possibilitará buscarmos os recursos explicação deverá ser aprofundada para O raciocínio pericial pode ser reconheci- informado com qualidade de fontes; diferentes. Por exemplo, quando alguém
bilidade baseando-se em indícios aos quais se e os conhecimentos necessários para sa- as camadas mais profundas da explicação, do como uma forma de pensamento, pois Atenção para o uso de raciocínio crítico; diz: “É tarde”. A conclusão pode ser que essa
aplicarão todos os métodos de investigação tisfazê-la. Logo, a necessidade irá preceder que quanto mais simples, mais significa- está inserido em processos como a percep- pessoa tenha que ir para casa (horário), po-
Confiança e certeza no uso do
científicos necessários e quais os comporta- à aquisição do saber porque irá fornecer a tivas são. Ainda Popper (1999, p. 177) diz: ção, a solução de problemas, a categoriza- rém, essa premissa e conclusão envolvem
processo lógico;
mentos dos atores na cena de crime. elaboração da informação essencial, que é “De fato, é com as nossas teorias mais ou- ção e a tomada de decisão. Por outro lado, uma metarrepresentação, isto é, possuem
O conceito de sistema está fortemente a formulação das perguntas e quesitos. sadas, inclusive as que são errôneas, que a atividade de inteligência busca o ofereci- Mente aberta para ouvir as opiniões uma representação da representação, não
relacionado com a doutrina criminalística. mais aprendemos. Ninguém está mento de conhecimento essencial de outras pessoas, afastando devendo representar exatamente o signi-
A doutrina de que todo contato deixa um isento de cometer enganos; e relevante para que o toma- modelos mentais; ficado que foi apresentado anteriormente.
vestígio remete-se à necessidade de com- a grande coisa é aprender dor de decisão possa oti-
A questão fundamental: Flexibilidade na aceitação de
preender qual o papel do sistema na Crimi-
qual é a pergunta
com eles”. mizar a sua resposta dian-
ideias diversas; A PERCEPÇÃO DA
nalística (SAFERSTEIN, 2011). A inteligência pericial te de um determinado
Esse entendimento não é novo porque essencial? Geralmente, pode ser definida como a problema (JESUS, 2005). Reconhecimento dos próprios SUBJETIVIDADE PARA
Hans Gross, em 1893, quando publicou a ignora-se a pergunta mais coleta, a análise, o pro- As habilidades cog- preconceitos, estereótipos e A PRODUÇÃO DA
obra System der Kriminalistik, já tratava do cessamento e a disse- nitivas descritas ante- tendências egocêntricas; PROVA MATERIAL
conceito de sistema dentro do pensamen-
profunda sobre direção e minação das infor- riormente só se tor- Prudência na suspensão, mudança
to criminalístico em seu livro mais funda- resultados esperados em ou alteração de julgamentos;
Os mais variados estados da inteligência,
diante da verdade, estão ligados à prova e,
mental. O mesmo realizou no livro Psicolo- longo prazo, buscando- Disposição para reconsiderar e
gia do crime sobre a aplicação da psicologia consequentemente, à tomada de decisão.
se somente a solução da revisar conceitos contrários; e A prova é o somatório dos meios utili-
na elucidação da autoria criminal (GROSS,
2009), sendo considerado, assim, o funda- crise atual. motivação para buscar sempre zados para a produção da verdade. Logo, a
dor da Criminalística. a melhoria da qualidade em sua prova, quer em processo civil, quer em pro-
atividade. cesso penal, tem por objetivo a certeza. Ain-
INFORMAÇÃO E A permanência da negligência em rela- da, a prova pode ser definida como o meio
pelo qual o raciocínio atinge a descoberta
PROVA PERICIAL ção à pergunta faz com que outra crise surja
A comunicação linguística possui uma
com aspectos diferentes, provocando nova- da verdade (JESUS, 2010, HANEY, 1980).
O tratamento de dados consiste em importância fundamental para o analista A verdade é a conformidade da arquite-
mente a reflexão: qual é a causa subjacente?
dar sentido aos fatos e indícios. Ele busca de inteligência, porque sem ela não haveria tura das provas com a realidade. A decisão
Provavelmente, a necessidade não foi satis-
iluminar um pouco o presente e o futuro literatura, nem ciência, nem lei. Em síntese, do juiz é a conformidade do pensamento
feita, isto é, a pergunta não foi totalmente
para que possamos tomar decisões com nenhum acúmulo de conhecimento, seja do julgador com a realidade contida no
respondida.
maior segurança. Estamos frequentemen- ele teórico ou prático. Dessa forma, pode- processo, pois ele julga secundum acta e
Constatar que se trata de um ciclo de
te tratando dados de forma consciente ou ríamos dizer que as pessoas expressam um probata. Surge, então, o adágio processual
perguntas e respostas que continuamen-
inconsciente. Quando planejamos uma via- comportamento linguístico que as identi- que diz: “O que não está no processo, não
te busca o aprimoramento do tratamento
gem, buscamos dados e informações ne- fica e que revela suas características pecu- está no mundo”. Sendo assim, existem si-
dos dados e o fornecimento de informa-
cessários para maximizar nossa satisfação, liares. Esse será um dos principais materiais tuações dentro do processo em que as
ções úteis ao processo de tomada de de-
ao mesmo tempo em que teremos, em sobre os quais o analista exercerá suas ativi- informações apresentadas não estão ba-
cisão. Existirá, então, uma rotação do ciclo

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PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus PSICOLOGIA CRIMINALÍSTICA: perito criminal federal Fernando de Jesus

seadas em provas diretas (materiais) e sim Logo, acessar a mente criminosa é uma
indiretas, necessitando de que as provas in- ferramenta que começa a adquirir grande
diretas sejam processadas de forma a serem importância no processamento de um
mais objetivas para a inserção no processo. local (cena) de crime, embora outras eta-
A atuação criminal tem sido indesejável pas devam ser vencidas para que possam,
em nossa sociedade desde tempos remotos também, serem produzidas provas sufi-
e durante séculos existe o desejo de pene- cientes para o convencimento judicial. Daí
trar na mente do autor do delito para desco- a possibilidade de usar os conhecimentos
brir o que o diferencia dos demais cidadãos. da Psicologia e da Criminalística para obter
A maior parte das pesquisas encontrava informações relevantes para a solução do
dificuldades de execução somente sendo caso, resultando em aplicação da Psicolo-
dirigidas a identificar características físicas gia Criminalística.
dos criminosos conhecidos, sendo limitada
desde então a resultados distorcidos. CONCLUSÃO
Hans Gross, magistrado austríaco, pro-
A validade da aplicação dos conheci-
fessor universitário de Criminologia na
mentos da ciência Psicologia na análise
Universidade de Praga e depois de Direito
do comportamento e da mente humana
Penal na Universidade de Graz, considera-
é provada internacionalmente, auxilian-
do o fundador da Ciência Criminalística, já
do, assim, os operadores do Direito em
dizia que um dos requisitos importantes
suas atividades de justiça (PETRELLA;
para permitir que um investigador criminal
POYTHRESS, 1983)
trabalhe com precisão é possuir um conhe-
Conclui-se então que o perito criminal
cimento profundo do ser humano, em sua mas também com a atuação dos persona- filme O Silêncio dos Inocentes, baseado
pode utilizar de conhecimentos da ciência
obra System der Kriminalistik, publicada em gens envolvidos com a cena criminal. Sendo na obra de um romance de Thomas Harris, A partir deste raciocínio foi que surgiu a ideia da Psicologia
Psicologia por meio da Psicologia Crimina-
1893. Dessa forma, deverá ser capaz de, a assim, quando a Criminalística não obteve que retrata um sociopata canibal, Dr. Han-
Criminalística, que não se preocupa somente com a prova lística, aplicando os conhecimentos de inte-
partir da natureza do crime, definir o modus sucesso em apresentar vestígios, evidências nibal Lecter, que já surgira em uma obra
material, mas também com a atuação dos personagens ligência para a produção de prova material
operandi do autor. À medida que a ciência ou provas materiais, foi necessária a produ- anterior denominada Dragão Vermelho,
e elucidação de casos criminais, especial-
se desenvolvia, novas metodologias foram ção de informações que possam subsidiar o publicada em 1981. envolvidos com a cena criminal.
mente quando se tratar de locais de locais e
formuladas, concentrando atenção tanto início do processo de investigação. Não foi surpresa o êxito que o filme O Si-
cenas de crime, quando não existirem vestí-
nos métodos de identificação de crimino- Ocorrem discussões profissionais sobre lêncio dos Inocentes originou a várias séries
gios materiais a serem processados.
sos quanto na prevenção dos delitos. No qual instituição utilizou primeiramente, aos televisivas de ficção muito populares. Essas
entanto, somente nos últimos cem anos foi perfis, os termos psicológico ou criminal, séries trouxeram o grave inconveniente da
que as autoridades legais e policiais conse- embora a primeira aplicação sistematizada população acreditar que os perfis criminais REFERÊNCIAS
guiram compreender que uma análise de da técnica se tenha verificado em 1972 pela e as análises comportamentais possuem GARRIDO, E. M. Relaciones entre la psicología y la ley. In: ARCE, R.; PRIETO, A. SOBRAL, R. Manual de psicología jurídica. Barcelona: Paidós, 1994.
comportamento de uma pessoa não iden- Unidade de Ciência do Comportamento do um poder mágico e que eram infalíveis na GROSS, Hans. Criminal Psychology. London: General Books, 2009.
tificada poderia fornecer indícios acerca do FBI e com o conseguinte desenvolvimento captura de um criminoso. Embora a expe- HANEY, C. Psychology and legal change: on the limits of a factual jurisprudence. Law and Human Behavior, 4, 147-199, 1980.
aspecto físico, educação, personalidade, do VICAP (Violent Criminal Apprehension Pro- riência clínica e intuição sejam importantes, JESUS, Fernando. Perícia e Investigação de fraude: uma análise psicológica e operacional na evidenciação de fraude. 3. ed. Goiânia: AB
posição social e de outras variáveis que po- gram) em 1984. Inicialmente, houve uma a chave do sucesso reside na integração Editora, 2005.
deriam auxiliar o investigador a construir concentração nos crimes em série, de vio- de dados, indícios e provas dispersas. John ____ Psicologia aplicada à Justiça. 3ª edição. Goiânia: AB Editora, 2010.
um perfil criminal. Com o desenvolvimento lação e rapto, isto é, crimes contra a pessoa, Douglas, um dos primeiros policiais a par- ____ Delitos de cuello blanco y corrupción: mecanismos subyacentes de inteligencia jurídica en la producción de prueba subjetiva. Tesis pos
da tecnologia de informação nos dias de porém, gradualmente a técnica foi aplicada ticipar da Unidade de Ciências Comporta- doctoral inédita. Universidad Nacional de La Matanza, 2014.
hoje, é possível trabalhar com um número a outros tipos criminais. mentais do FBI, disse que o espetáculo te- LOCARD, Edmond. Manual de Técnica Policíaca. Valladolid (Espana): Editorial Maxtor, 2010.
elevado de informações e processar tal aná- A utilização de perfis criminais especial- levisivo faz crer ao telespectador que tudo NASCIMENTO, E. D. Lógica aplicada à advocacia: técnica de persuasão. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1995.
lise de forma mais acurada. mente para casos de assassinatos em série é psíquico, mas o sucesso é o resultado de PETRELLA, R. C., POYTHRESS, N. G. The quality of forensic evaluations: an interdisciplinary study. Journal of Consulting and Clinical Psychology,
A partir desse raciocínio foi que surgiu e violações desenvolveu-se rapidamente entrevistas, pesquisas, discussões dos com- n. 51, p. 76-85, 1983.
a ideia da Psicologia Criminalística, que não por mais de duas décadas, até tornar-se portamentos dos envolvidos e reunião com POPPER, Karl. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Tradução Milton Amado. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1999.
se preocupa somente com a prova material, bastante conhecida em 1992, por meio do outras informações. SAFERSTEIN, Richard. Criminalistics: an introduction to Forensic Science. 10th edition. Upper Sadle River (NJ): Prentice Hall, 2011.

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SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara Figueiredo

Uma das atrações que mais chamou por meio dos óculos conhecidos como car- e ajudam nos exames periciais que exigem
a atenção dos visitantes foram os óculos dboard ou rift. Os roteiristas, os produtores uma visão aérea do local de crime.
com um vídeo gravado em 360°. Na plata- e os atores dos vídeos somos nós mesmos, Na área de documentoscopia, o trues-
forma de realidade virtual, o usuário pôde peritos” explicou Márcia. can foi o grande atrativo. O aparelho permi-
experimentar a sensação de ser um perito O scanner a laser 3D, que produz ima- te, por meio de luzes branca, infravermelho
criminal, assistindo a um vídeo por diversos gens de alta precisão em três dimensões, e ultravioleta, a rápida verificação de auten-
ângulos e visualizando tudo o que acontece também estava exposto no evento. Foi com ticidade de qualquer documento impresso,
em uma cena de crime. esse equipamento que os peritos reprodu- como passaportes, cédulas (dinheiro), car-


ziram o acidente com o avião da Tam em tões de identificação, entre outros.
2007, responsável por tirar a vida de 187 pes- Os peritos federais também deram no-
soas, assim como em diversos outros casos, ções da matemática utilizada nos locais
Participar do evento foi cujos vídeos foram exibidos para o público. dos crimes e demonstraram o uso da luz
uma experiência muito O robô antibombas foi outro destaque. forense. Foram exibidos vídeos explicativos
rica, de mão dupla, pois A ferramenta é utilizada pelos esquadrões sobre a perícia criminal e também sobre o
antibombas para desativar diferentes ti- projeto do Museu Nacional de Ciências Fo-
Foto: André Zímmerer

pudemos explicar para pos de explosivos em espaços abertos e renses, em Minas Gerais.
a população o papel fechados. Nos grandes eventos, como as Um teatro de fantoches com o texto
do perito e, ao mesmo Olimpíadas de 2016, é um equipamento do Cordel “A peleja do diabo com o perito
que não pode faltar. Assim como os veí- criminal”, de autoria do perito José Alysson
tempo, pudemos receber
culos aéreos não tripulados, os drones são Medeiros, agradou as crianças.

Perito
o retorno de como o responsáveis por colherem imagens aéreas
cidadão vê o nosso
trabalho. Ficamos felizes
por percebermos como
I q u e barre
te m CS Abraços

High Tech
somos reconhecidos e ã o
“ ns. N ês.
como a perícia desperta o Parabé etência de voc li Rios
interesse das pessoas. a comp Gracie

Muito boa a iniciativa.


Disse o perito criminal federal Guilherme de Miranda.

l-
Espero que o projeto cresça le a
Tecnologias usadas por peritos criminais no dia a dia são apresentadas na A perita Márcia Aiko conta que o vídeo
12ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia foi gravado por eles mesmos, na sede da
APCF. “O vídeo foi feito com uma câmera
cance escolas do Brasi
P e até do mundo
especial que faz esse tipo de gravação, em
ela primeira vez, a perícia criminal federal compare- Os peritos tiveram 130m² à disposição para mostrar 360 graus. Quando visualizado com os ócu-
ceu à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que as tecnologias que utilizam no dia a dia e que desper- los, nos dá a sensação de estarmos dentro
ocorreu entre os dias 19 e 25 de outubro. Em sua tam a atenção dos curiosos e dos interessados nos CSI do vídeo, participando dele. Gravamos a si- Aline Rocha
12º edição, o evento, realizado em todo território nacional, brasileiros. Crianças, jovens e adultos passaram pelo lo- mulação de duas cenas de local de crime:
trouxe para este ano o tema  Luz, Ciência e Vida, em refe- cal nos sete dias de exposição e puderam tirar dúvidas uma de arrombamento (que foi utilizada na Para mim, esse foi o mel
feira. Estão todos de par hor estande da
rência ao Ano Internacional da Luz, estabelecido pela Or- sobre o que é o trabalho e o que fazem os peritos, que Semana Nacional de Ciência e Tecnologia,
ganização das Nações Unidas (ONU) para 2015. Em Brasília, foram esclarecidas pelos próprios profissionais. Peritos
um dia está do mesmo laabéns e espero
pois o público era formado principalmente
uma exposição tecnológica chamou a atenção do público, criminais federais do Distrito Federal, de Goiás, Minas por crianças), e uma de morte violenta (vol-
com destaque para o estande da criminalística, idealizado Gerais, São Paulo e Piauí fizeram questão de responder a tada ao público adulto). O vídeo foi transfe- do que vocês
pela Diretoria Técnico-Científica (Ditec), com apoio da As- todas perguntas do público e mostrar o funcionamento rido para aparelhos celulares, reproduzidos
sociação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF). de cada equipamento. Anônimo
e visualizados com um aplicativo específico,

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SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara Figueiredo SEMANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Taynara Figueiredo

Fotos: André Zímmerer

A perícia em documentos atraiu o público O presidente da APCF, André Morisson, visitou o estande

As crianças adoraram o teatro de fantoches O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera,
visitou o estande e acompanhou o funcionamento do robô
antibomba

Perito demonstra o funcionamento da luz forense O Scanner 3D chamou a atenção do público

O estande tinha 130m²

Visitantes tiveram a oportunidade de experimentar a sensação de ser um perito criminal, assistindo a um vídeo, como se
Os peritos tiraram as dúvidas dos estudantes Os óculos 3D foram a sensação do estande Maleta de local de crime estivessem dentro de uma cena de crime

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5º ENCONTRO NACIONAL DE QUÍMICA FORENSE

JUSTITIA
PER
SCIENTIA
2016

A Sociedade Brasileira de Ciências Forenses (SBCF) confirmou a realização da quinta edição do Encontro Nacional
de Química Forense – ENQFor, simultaneamente ao 2º Congresso da SBCF, no período de 2 a 6 de setembro de 2016,
na cidade de Ribeirão Preto-SP.
Segundo o presidente da SBCF, perito criminal federal Jesus Antonio Velho, estarão entre os temas de destaques
da próxima edição:

• as novas drogas sintéticas e os avanços para a classificação das novas substâncias psicoativas;
• a perícia em movimentos migratórios;
• o gerenciamento de erros em exames periciais;
• a gestão da qualidade em análises forenses;
• a maconha e o uso de produtos à base de Canabidiol;
• a perícia em obras de artes;
• a obtenção de padrões forenses, entre outros.

A última edição do evento foi realizada em 2014 e reuniu, aproximadamente, 500 participantes, integrando peritos
criminais, professores universitários, pesquisadores, membros do Judiciário e do Ministério Público, estudantes de
graduação e pós-graduação.

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