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soidní 13

sumário

15 Prefácio
21 Introdução

28 Índios
76 Negros
110 Escritores
140 Samba
170 Guerra do Paraguai
200 Aleijadinho
220 Acre
242 Santos Dumont
268 Império
292 Comunistas

343 Bibliografia
355 Índice

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im rio pé

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elogio à monarquia

o Se você teve um professor ranzinza nas aulas de


história da escola, deve ter aprendido a se envergonhar
do Brasil do século 19. Enquanto revolucionários e li-
bertadores de boa parte do mundo travavam batalhas he-
roicas e conseguiam se livrar das garras das elites e dos
países colonialistas, por aqui não aconteceu nada, nada:
ficamos sempre no quase. As revoltas populares quase
deram certo, mas foram sufocadas; os heróis quase ven-
ceram, mas foram perseguidos e mortos. As mudanças
que aconteceram foram todas de cima para baixo, com
pouca participação do povo. Fomos o último país a abo-
lir a escravidão, o último a proclamar a República. Até
a Independência decepciona, já que foi proclamada pelo
próprio príncipe do reino português no Brasil. Quando o
professor revelava esse passado monótono, baixávamos a
cabeça desanimados com a história nacional. Mal imagi-

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návamos que aquele aparente fracasso era motivo, se não


de orgulho, pelo menos de alívio.
Basta ver o século 19 pelo lado dos nossos vizinhos.
As revoluções populares da América espanhola foram
vitoriosas – e deram, quase todas, em tragédia. Guerras
civis, ditaduras e assassinatos em massa brotaram do Mé-
xico à Argentina, com o Chile como única exceção. A re-
gião se despedaçou, dando origem a diversas e pequenas
repúblicas inimigas entre si. A Venezuela, depois de se ver
livre da Espanha e se separar do vice-reinado da Grande
Colômbia, caiu em guerras civis e raciais com resultados
genocidas. A estimativa de mortos nos conflitos venezue-
lanos varia muito, mas é sempre assustadora: vai de 3%
a 30% da população.1 Na Argentina, as decisões ficaram
nas mãos de caudilhos, líderes militarizados cheios de vi-
rilidade, bravura e proezas equestres, como Juan Manuel
de Rosas e Facundo Quiroga. Quando esses homens che-
gavam ao poder, fechavam jornais, interrompiam eleições
e praticavam atrocidades contra os inimigos e o povo em
Já a Bolívia começava geral. A autonomia teve contornos bizarros no Paraguai. O
naquela época sua
carreira de campeã
primeiro presidente, José Gaspar Rodríguez de Francia,
de golpes de expulsou todos os empresários e comerciantes do país e
Estado no mundo.
Da independência
decidiu se meter até mesmo na vida sexual dos cidadãos.
até hoje, foram mais Só casamentos inter-raciais eram permitidos para os des-
de 150 tomadas
de poder não cendentes de europeus: os homens eram obrigados a casar
constitucionais. com as índias. Em toda a América espanhola, a economia
foi à ruína, e demorou décadas para voltar aos níveis ante-
riores às revoluções.
O Brasil tomou um rumo diferente não só por ignorar
a voz do povo, por “pressão dos grandes proprietários de
terras”, como geralmente se diz, ou por uma suposta mania

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do brasileiro de deixar as coisas como estão. Os mais in-


fluentes deputados, senadores, ministros e conselheiros do
Estado eram tão idealistas quanto os libertadores da Amé-
rica, mas de uma ideologia que desprezava revoluções, mu-
danças bruscas e atos heroicos contrários à realidade. Num
livro já clássico, A Construção da Ordem, o historiador José
Murilo de Carvalho revelou o perfil comum dos políticos
e magistrados daquela época. A maioria deles tinha uma
formação profissional e ideológica muito parecida: eram
bacharéis formados na Universidade de Coimbra, um dos
polos do pensamento conservador da Europa.
No fim do século 18 e começo do século 19, quem
quisesse ser político, advogado, juiz ou funcionário pú-
blico de um bom escalão tinha que estudar fora do Bra-
sil. Como ainda não havia faculdades de direito por aqui
(as primeiras, de São Paulo e Olinda, são de 1828), qua-
se todos os jovens mais ricos se mudavam para Portugal.
Entre 1822 e 1831, todos os ministros brasileiros que ti-
nham educação superior haviam estudado em Portugal –
72% deles em Coimbra. Enquanto as teorias flamejantes
que motivaram a Revolução Francesa tomavam o mundo,
a Universidade de Coimbra tentava manter seus alunos
à distância das ideias libertárias da moda. “Coimbra foi
particularmente eficaz em evitar contato mais intenso de
seus alunos com o Iluminismo francês, politicamente pe-
rigoso”, afirma José Murilo de Carvalho em A Construção
da Ordem.2 Era preciso contrabandear livros de Voltaire e
Rousseau, pois a universidade os proibia. O iluminismo
propagado em Coimbra era mais comedido e cauteloso. Os
estudantes liam Adam Smith, o pai do liberalismo econô-
mico, e Edmund Burke, o pai do conservadorismo britâni-

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co – dois autores que foram traduzidos para o português


por José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Cairu foi o homem que
aconselhou dom
No Segundo Reinado, ex-alunos de Coimbra se torna- João VI, quando
ram os cabeças do Partido Conservador, o principal partido este chegou à Bahia,
a abrir os portos
do Império. Os políticos do grupo saquarema se inspiravam brasileiros às
nos grandes teóricos do conservadorismo para fundamen- nações amigas.

tar a missão de evitar revoluções e o caos no Brasil. O vis-


conde de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e
conselheiro de dom Pedro II, acreditava que era preciso
“empregar todos os meios para salvar o país do espírito re-
volucionário, porque este produz a anarquia, e a anarquia
destrói, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar
com a ordem”.3 Bernardo Pereira de Vasconcelos, o mais sar-
cástico e influente orador do Parlamento brasileiro e autor
do Código Criminal de 1830, não tinha vergonha de dizer
que vinha da classe dos “capitalistas, dos negociantes, dos
homens industriosos, dos que se dão com afinco às artes e
ciências: daqueles que nas mudanças repentinas têm tudo a
perder, nada a ganhar”.4
Criou-se assim um ambiente em que era deselegante
e infantil pregar revoluções e reformas radicais. Havia um
consenso, mesmo entre os políticos brasileiros de grupos ini-
migos, que mudanças, se necessárias, deveriam passar por
um processo lento e gradual, sem sobressaltos e traumas,
Desse ponto de vista,
garantindo liberdades individuais. A maioria dos políticos a monarquia teve
tanto era contra o Antigo Regime (em que o rei tinha poder para o século 19 o
mesmo papel da
absoluto nas decisões), mas ninguém defendia revoluções ditadura militar no
século 20: evitar
que cortassem a cabeça dos padres e dos reis e resultassem
que baixarias
em caos da economia e terror entre os cidadãos, como acon- ideológicas
instaurassem
teceu na França a partir de 1789.“Buscavam mudanças ino-
o caos entre
vadoras, mas ao mesmo tempo queriam conservar o espírito os cidadãos.

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das antigas estruturas econômico-sociais”, explica a histo-


riadora Lúcia Bastos Pereira das Neves no livro Corcundas e
Constitucionais, outro clássico sobre a mentalidade política
daquela época.5 No meio do caminho entre as reformas e a
necessidade de manter a tradição, esses políticos são cha-
mados hoje de liberais-conservadores.6
Aqueles homens participaram de uma escolha cons-
ciente, um projeto bem pensado e posto em prática para
manter a unidade do Brasil e modernizá-lo sem correr o ris-
Diferentemente dos co de entregá-lo a aventureiros a cavalo. Não que tenham so-
heróis bravos e
fortes do resto da
lucionado os problemas do país ou ficado livres de picare-
América Latina, tagens e privilégios, como a nomeação de amigos e parentes
muitos dos políticos
imperiais eram
a deliciosos cargos públicos. Mas o Império teve virtudes
velhos curvados e que são frequentemente esquecidas, ao mesmo tempo em
doentes. Dois deles,
Bernardo Pereira de que é alvo de acusações injustas e da visão simplista de que
Vasconcelos e o teria atendido somente a “interesses da elite”. Por mais fora
padre Feijó,
tinham problemas de moda que isso pareça, é preciso defender a política da
de locomoção.
época. A seguir, três defesas a ataques comuns que se fazem
Discutiam no
Parlamento à monarquia no Brasil.
esticando-se numa
cadeira de rodas.
a acusação:

o brasil foi um dos últimos países da américa a virar república

a defesa:

a monarquia brasileira era mais republicana que as repúblicas vizinhas

No fim de 1889, quando um grupo de militares li-


derado pelo marechal Deodoro da Fonseca proclamou a
República e mandou a família real embora do Brasil, os
observadores mais atentos dos países vizinhos entende-
ram muito bem o que a mudança significava. Rojas Paúl,
presidente da Venezuela, resumiu a queda da monarquia

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