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Alfredina Nery*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação
histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três
diferentes fenômenos.
1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com
diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que nalíngua
escrita;
2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso,
sejam situações formais, informais ou de outro tipo;
3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais,
profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as
gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser
evidenciados abaixo.
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Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita
gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça.
Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma V
V:
Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O
Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O
Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem
gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.
Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação linguística
relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.
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"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando
a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."
Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta
lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era
usado na época medieval.
Nem todas as variações linguísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações
usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para percebers que há preconceito em relação a elas.
Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.
Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do
Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou
conhecida mesmo na Europa.
Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por
uma "língua brasileira".
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Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades linguísticas dentro do país, o que acaba por
rejeitar algumas manifestações linguísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são
construídos, a partir do preconceito linguístico.
@ Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para
professores na área de língua/linguagem/leitura.
http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u60.jhtm
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portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em
todo o território brasileiro; ?
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l importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo
mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis
não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem. ?
O - por exemplo, o final de sílaba é pronunciado como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase
todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um; o caipira; o chiado do carioca. ?
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- muitas vezes, por
, por exemplo, algumas pessoas conjugam verbos irregulares como
se fossem regulares: "manteu" em vez de "manteve", "ansio" em vez de "anseio"; certos segmentos sociais não
realizam a concordância entre sujeito e verbo, e isto ocorre com mais freqüência se o sujeito está posposto ao verbo.
Há ainda variedade em termos de regência: "eu lhe vi" ao invés de "eu o vi".?
- algumas palavras são empregadas em um sentido específico de acordo com a localidade.
Exemplos: em Portugal diz-se "miúdo", ao passo que no Brasil usa-se " moleque", "garoto", "menino", "guri"; as
são, tipicamente, um processo de variação vocabular. ?
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$%&&'(, discutindo questões relativas ao ensino da gramática no primeiro e segundo graus, apresenta, com
base em Halliday, McIntosh e Strevens (1974), um quadro bastante claro sobre as possibilidades de variação
lingüística, chamando a atenção para o fato de que, apesar de reconhecer a existência dessas variedades, a escola
continua a privilegiar apenas a norma culta, em detrimento das outras, inclusive daquela que o educando já conhece
anteriormente. ?
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http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/variacao.html