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PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS

DIOCESE DE LINS – FRADES CAPUCHINHOS DE SÃO PAULO

Rua Luiz Osório, 450 – Centro - 16300-000 – Penápolis – SP – Fone/fax: (18) 3652-1008

NULIDADE DO MATRIMÔNIO
São cada vez mais freqüentes os casos de matrimônio fracassado. Se tal foi
validamente contraído na Igreja, não há como o dissolver, pois, segundo a lei de Cristo,
não há divórcio; cf. Mc 10, 11s; Lc 16,18; Mt 19,1-9; 1Cor 7,10. Pode acontecer, porém,
que o vínculo matrimonial nunca tenha existido, pois terá havido um vício que terá
tornado nulo o consentimento dos noivos. Em tais casos, a Igreja pode instaurar um
processo para averiguar a nulidade do matrimônio; se esta é comprovada, a Igreja
declara nulo o casamento. Nem todas as pessoas interessadas estão esclarecidas
Notemos a diferença entre declarar nulo e anular. Anular significa desfazer, destruir
o vínculo matrimonial, ao passo que declarar nulo implica averiguar e tornar público o
fato de que nunca houve vínculo matrimonial a respeito. Por isso sofrem o fracasso de
um "matrimônio" que talvez nunca tenha existido.

1. O CONCEITO DE MATRIMÔNIO SACRAMENTAL

O Código de Direito Canônico, cânon 1055, baseando-se na Constituição Gaudium et


Spes, nº 48, do Concílio do Vaticano II, assim define o matrimônio:
“Cânon 1055 - § 19 A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher
constituem entre si uma comunhão de vida toda, é ordenada por sua índole natural ao
bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à
dignidade de sacramento.
§ 29 Portanto, entre batizados não pode haver contrato matrimonial válido que não
seja, ao mesmo tempo, sacramento".
Como se vê, o cânon define o matrimônio como aliança (ou como contrato), pela
qual duas pessoas se dão totalmente uma à outra, a fim de se ajudarem mutuamente a
atingir as finalidades que o Senhor lhes assinalou. Dessa mútua complementação nasce
a prole, expressão do amor recíproco de esposo e esposa.
Notamos que, conforme o cânon, o matrimônio é uma instituição natural, pré-cristã,
que por Cristo foi elevada a um plano superior, sacramental, realizando uma miniatura
da união de Cristo com a sua Igreja. Isto quer dizer que as propriedades da união
matrimonial - monogamia e indissolubilidade - não vigoram apenas no plano
sacramental, para os fiéis católicos, mas decorrem da própria índole natural do
matrimônio. Uma doação total, por ser total, não pode ser retalhada entre um homem e
várias mulheres (ou uma mulher e vários homens), nem admite condições ("eu te
amarei... até o dia em que me aborreceres").
Corroborando a lei natural, a doutrina católica ensina que o matrimônio sacramental
validamente contraído e consumado (isto é, completado pela cópula sexual) só pode ser
dissolvido pela morte; nunca é anulado. Pode acontecer, porém, que, apesar das
aparências, nunca tenha havido matrimônio. Por quê? - Por ter faltado alguma condição
essencial à validade do casamento. Essa condição essencial falta quando:

1) há falhas no consentimento dos nubentes;

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2) quando o casamento é contraído apesar de impedimentos dirimentes, anulantes
(mantidos ocultos);
3) quando falta a forma canônica na celebração do sacramento.
Examinemos cada qual desses títulos de nulidade.

2. NULIDADE: QUANDO?

Eis, numa visão de conjunto, os motivos pelos quais um casamento pode ser nulo:

A. Falhas de consentimento (cânones 1057 e 1095-1102)

1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095)


2. Ignorância (cânon 1096)
3. Erro (cânones 1097-1099)
4. Simulação (cânon 1101)
5. Violência ou medo (cânon 1103)
6. Condição não cumprida (cânon 1102)

B. Impedimentos dirimentes (cânones 1083-1094)

1. Idade (cânon 1083)


2. Impotência (cânon 1084)
3. Vínculo (cânon 1085)
4. Disparidade de culto (cânon 1086; cf. cânones 1124s)
5. Ordem Sacra (cânon 1087)
6. Profissão Religiosa Perpétua (cânon 1088)
7. Rapto (cânon 1089)
8. Crime (cânon 1090)
9. Consangüinidade (cânon 1091)
10. Afinidade (cânon 1092
11. Honestidade pública (cânon 1093)
12. Parentesco legal por adoção (cânon 1094)

C. Falta de forma canônica na celebração do matrimônio - (cânones 1108-1123).


Há, pois, dezenove títulos que possam tornar nulo um casamento no ato mesmo de ser
contraído. Percorramo-los atentamente.

3. FALHAS DE CONSENTIMENTO (CÂN. 1057 e 1095-1102)

Para contrair matrimônio validamente, os nubentes devem consentir livremente em


unir suas pessoas numa comunhão de vida definitiva e irrevogável:
Cânon 1057 - § 19 – “O matrimônio é produzido pelo consentimento legitimamente
manifestado entre pessoas juridicamente hábeis; esse consentimento não pode ser
suprido por nenhum poder humano”.
§ 29 – “O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual o homem e a
mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir
matrimônio”.
O consentimento matrimonial assim exigido pode ser impedido ou impossibilitado
por:

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3.1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095)

Escolher um(a) consorte, comprometer-se a levar todo o resto da vida com ele(a) na
mais estrita intimidade é, sem dúvida, uma das decisões mais importantes que um
homem ou uma mulher possam tomar. Por isto tal ato, para que seja válido, exige que a
pessoa contraente tenha consciência das obrigações que assume e se decida com plena
liberdade. Eis por que reza o cânon 1095:

“São incapazes de contrair matrimônio:

• § 1º. - os que não têm suficiente uso da razão;


• § 2º. - os que têm grave falta de discrição de juízo a respeito dos direitos e
obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber;
• § 3º. - os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio
por causas de natureza psíquica”.

Examinemos de perto este texto:

§ 1º ... os que não têm suficiente uso da razão.

Este parágrafo não se refere apenas às crianças e aos doentes mentais, mas a todos
aqueles que, por um motivo ou outro, não gozem do pleno uso de suas faculdades no
momento em que exprimem seu consentimento, por estarem perturbados por um
trauma psíquico ou por se acharem sob a ação de drogas ou em estado de embriaguez.
Na verdade, tais observações não são novas, mas hoje encontram mais vasta área de
aplicação do que outrora, porque a psiquiatria melhor conhece as anomalias mentais,
sua evolução e seus efeitos. Outrora julgava-se suficiente que a pessoa tivesse parecido
estar lúcida no momento das núpcias, mesmo se antes tivesse dado sinais de alienação
mental. Atualmente, porém, sabe-se que certas moléstias psíquicas, como a
esquizofrenia, podem estar incubadas por muito tempo antes de se declarar; os
familiares mesmos podem não o perceber, mas a doença já existe e está atuante. Em
outros casos, as moléstias se manifestam em ritmo intermitente, podendo o paciente
parecer normal quando a doença está latente; os acompanhantes o têm por curado ou
sadio, apesar de estar sob o influxo da moléstia. Conta-se o caso, por exemplo, de um
rapaz que julgava ser o Messias, mas, por efeito de prudência ditada pelo seu
subconsciente, jamais o disse à sua noiva. Ora dois dias após as núpcias, certo de que a
esposa não o abandonaria, teve grave crise de "delírio místico"!
Além do uso da razão, requer-se que os nubentes tenham maturidade intelectual e
afetiva proporcional à decisão que vão tomar. Daí prosseguir o cânon 1095:

§ 2º São incapazes... os que têm grave falta de discernimento a respeito dos


direitos e das obrigações essenciais do matrimônio, que se devem dar e
receber mutuamente.

O discernimento implica:

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• o suficiente conhecimento das obrigações que o(a) nubente contrai,...
conhecimento que não seja abstrato, mas aplicado à vida e às circunstâncias
concretas do sujeito;
• "saber que o matrimônio é um 'consórcio permanente entre homem e mulher,
ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual" (cânon
1096); "cooperação sexual" é expressão assaz genérica, que não inclui necessaria-
mente o conhecimento de todos os pormenores do processo fisiológico da
reprodução;
• ter consciência de que, entre os deveres conjugais, está a obrigação de comunhão
de vida entre os cônjuges, com as exigências que isto implica; "amar não é querer
o outro construído, mas é querer construir o outro", diz-se popularmente.

O discernimento supõe que o noivo ou a noiva, tendo ultrapassado a idade mental


da adolescência, tenha adquirido a estabilidade necessária para se comprometer de
modo irrevogável - o que implica autonomia em relação aos genitores (independência
frente a pai e mãe), como também autodomínio para dispor de sua pessoa e entregá-la
ao(à) consorte de sua vida.
A falta de discernimento pode provir de causas várias: imaturidade afetiva, retardo
intelectual, o hábito da volubilidade, da instabilidade, do provisório, do "descartável"
(tão incutido pelos meios de comunicação social). Acontece que pessoas dotadas de bom
quociente intelectual e habitualmente equilibradas experimentem, nas proximidades do
casamento, uma fase de perturbação que não lhes permita pronunciar-se de maneira
livre e refletida. Tal foi o caso de uma jovem, bastante sensata e ponderada, que
hesitava seriamente entre o noivo que seus pais lhe impingiam, e o rapaz que ela amava
realmente; dois dias antes do casamento, foi procurar um psiquiatra, pois já não sabia
como proceder; faltava-lhe o discernimento. Claro está que quem se acha assim
perturbá-lo, não tem condições de assumir um compromisso para o resto da vida.

§ 3º. Ineptos... os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do


matrimônio, por causas de natureza psíquica.

Supõem-se, neste caso, pessoas que tenham o discernimento necessário, mas


sofram de um desvio de personalidade que as impede de sustentar a comunhão ma-
trimonial. É o que acontece com homossexuais, mesmo quando capazes de procriar; não
lhes é possível viver uma vida conjugal normal, pois dificilmente escapam à atração por
um parceiro fora do lar. É o que acontece também com mulheres lésbicas e com
linfomaníacas (mulheres que tendem patologicamente ao abuso do coito). É o que
ocorre outrossim com pessoas muito ciumentas, visto que se torna muito difícil a um(a)
consorte viver com alguém que repete várias vezes por dia, sem fundamento: "Estou
certo(a) de que tu me enganas".
Incluem-se ainda sob o mesmo título de incapacitação os estados obsessivos, que
resultam de idéias fixas, neuroses e outras perturbações mentais.
o cânon 1095, que trata da falta de capacidade para consentir, é o mais evocado
atualmente nos processos de declaração de nulidade. Toca em pontos nevrálgicos, que,
sem dúvida, merecem consideração, mas que estão sujeitos a interpretações, por vezes,
laxas demais. Na verdade, é difícil dizer qual o limite entre maturidade e imaturidade
afetiva, entre capacitação para comunhão de vida e incapacidade... Em não poucos
casos, os tribunais eclesiásticos têm que recorrer a peritos em psicologia - o que não

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exclui certa margem de subjetivismo ao julgar. Por isto a Santa Sé tem recomendado
prudência na aplicação do cânon 1095.

3.2. Ignorância (cânon 1096)

Suponhamos que alguém tenha plena capacidade para dar consentimento matri-
monial válido. Poderá acontecer, porém, que ignore os pontos essenciais do com-
promisso conjugal. Reza o cânon 1096:

• § 1º. - Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os


contraentes não ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio
permanente entre homem e mulher, ordenado aprocriação da prole por meio de
alguma cooperação sexual.
• § 2º. - Essa ignorância não se presume depois da puberdade.

Este cânon exige que os nubentes saibam, ao menos, que o matrimônio é:

• um consórcio, ou seja, uma comunidade de vida e interesses...


• permanente, isto é, estável...
• entre um homem e uma mulher, isto é, tal que exclui uniões paralelas (ainda que
transitórias) e requer necessariamente pessoas de sexo diverso;
• ... ordenado à procriação, embora esta nem sempre aconteça de fato;
• ... por meio de alguma cooperação sexual, sem que os contraentes conheçam
necessariamente todos os pormenores do processo fisiológico da reprodução.
Presume-se que, após a puberdade, rapazes e moças conheçam as noções
fundamentais de tal processo (cânon 1096 § 2º).

3.3. Erro (cânones 1097 e 1099)

O erro distingue-se da ignorância, pois esta significa ausência de noções, ao passo


que o erro implica presença de noções não verídicas ou falsas. Ora pode-se conceber
que os nubentes tenham concepções errôneas no tocante ao que assumem. Verdade é
que nem todas as concepções errôneas invalidam o matrimônio: as mais graves o
tornam nulo, pois quem dá seu consentimento na base de um erro decisivo, dá-o a algo
que não existe; por conseguinte, não contrai matrimônio.
Quais seriam, pois, as modalidades de erro que tornam o casamento nulo?

3.3.1. Erro a respeito do próprio matrimônio (cânon 1099)

O matrimônio sacramental é uma comunhão de vida monogâmica e indissolúvel,


elevada por Cristo a uma dignidade singular. Quem tem concepções falsa a propósito,
incorre no que se chama "erro de direito".
Sabemos que em nossos dias mesmo os fiéis católicos não estão bem esclarecidos a
respeito, especialmente após a introdução da lei civil do divórcio. Muitos talvez se casem
pensando em dissolver seu casamento, se não for feliz, a fim de contrair nova união.
Pergunta-se então: há, nestes casos, autêntico consentimento matrimonial?
O problema não é de fácil solução. Para encaminhá-la, o Direito Canônico distingue
entre "pensar" e "querer". Alguém pode pensar que o casamento é rescindível, mas
talvez não queira que ele seja dissolvido de fato; faz questão de que o seu casamento

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dure a vida inteira. Ora em tal caso o consentimento dado é válido. Eis o que diz o
cânon 1099:

“O erro a respeito da unidade, da indissolubilidade ou da dignidade sacramental do


matrimônio, contanto que não determine a vontade, não vicia o consentimento
matrimonial”.
Para evitar o erro de direito e os problemas daí decorrentes, a Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil emitiu a seguinte norma:
“Cuidem os sacerdotes de verificar se os nubentes estão dispostos a assumir a
vivência do matrimônio com todas as suas exigências, inclusive a de fidelidade total, nas
várias circunstâncias e situações de sua vida conjugal e familiar. Tais disposições dos
nubentes devem explicitar-se numa declaração de que aceitam o matrimônio tal como a
Igreja o entende, incluindo a indissolubilidade” (Orientações Pastorais sobre o
Matrimônio, nº 2. 15).

3.3.2. Erro sobre a identidade da pessoa (cânon 1097 § 19)

Reza o cânon 1097, § 19: "O erro de pessoa torna inválido o matrimônio".
Distingamos entre identidade física e identidade moral.
A identidade física refere-se à pessoa como tal. Tal foi o caso, narrado pela Bíblia,
de Jacó, que queria esposar Raquel e que, na noite de núpcias, viu que estava com Lia
(Gn 29,15-25). Este caso hoje em dia praticamente não ocorre.
A identidade moral diz respeito à personalidade. Há certos predicados que
caracterizam uma personalidade bem formada. Se após o casamento um dos cônjuges
verifica que o(a) consorte não é absolutamente aquela pessoa ideal ou idealizada, terá
cometido erro de pessoa? Terá contraído um matrimônio inválido?
A resposta a tais questões é muito difícil, pois muito depende da noção subjetiva
que alguém tenha de consorte ideal.
Na verdade, todo ser humano está sujeito a falhas e a causar decepções; a nenhum
nubente é lícito imaginar que encontrará a pessoa perfeita que ele deseja. Por
conseguinte, uma certa margem de decepções é quase normal no casamento e não
invalida a este. Todavia pode haver atitudes de cônjuge posteriores ao casamento que
revelem uma personalidade fundamentalmente diferente daquela que o outro cônjuge
quis abraçar; caso essa diferença seja realmente básica ou fundamental, pode-se dizer
que houve erro de pessoa, erro que tornou nulo o casamento. Deve-se reconhecer que é
difícil definir os limites entre predicados básicos e predicados não básicos, no caso.
Deve-se também notar que as pequenas decepções inerentes à vida conjugal não são
algo de extraordinário ou desconcertante na vida de um cristão, visto que este, em
qualquer vocação, é sempre chamado a seguir o Cristo portador de sua Cruz em
demanda da vida plena ou da ressurreição. Exemplo de erro de personalidade ocorreu
na França logo após a segunda guerra mundial (1939-1945). Uma jovem, de excelente
família, conheceu um rapaz que passava por Oficial do Exército, herói da resistência aos
nazistas e Cavaleiro da Legião de Honra. Casaram-se entre si. Todavia pouco depois das
núpcias a esposa descobriu que o "herói" da Legião de Honra não era senão um foragido
dos cárceres. O processo terminou com a declaração de nulidade de tal casamento, pois
realmente um réu procurado pela Polícia não é a mesma pessoa moral que um honesto
e brilhante Oficial do Exército.
Tal é a opinião que o Pe. Jesus Hortal, S.J. emite em caráter estritamente pessoal (o
que quer dizer que o assunto não é claro e permite sentença contraditória):

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“Quando a personalidade de um cônjuge se revela completamente diferente de
como era conhecida antes do casamento, pode-se dizer que o consentimento matri-
monial do cônjuge que errou, é verdadeiro? Não acabou por casar com uma pessoa
inexistente, que formou em sua imaginação? Ao nosso modo de ver, nesse caso, poderia
ser invocado, como causa de nulidade, o erro sobre a pessoa de que trata o cânon 1097
§ 19. O problema está em determinar o limite entre o que é apenas uma qualidade, mas
que não muda fundamentalmente a personalidade, e a própria personalidade. A
dificuldade, porém, não deve impedir de reconhecer que pode haver matrimônios nulos
por erro sobre a personalidade do cônjuge” (Casamentos que nunca deveriam ter
existido. Uma solução pastoral, São Paulo 1987, p. 19).
Mais difícil é o julgamento quando se trata não de erro de pessoa (ou personali-
dade), mas de erro sobre as qualidades da pessoa. Daí o cânon 1097 § 2º.

3.3.3. Erro sobre as qualidades da pessoa (cânon 1097 § 2º)

Eis o texto em pauta:


“O erro de qualidade da pessoa, embora seja causa do contrato, não torna nulo o
matrimônio, salvo se essa qualidade for direta e principalmente visada” - (cânon 1097 §
2º).
O caso é assaz complexo. Trata-se de determinar o limite entre uma simples qua-
lidade, que não muda a personalidade, e a própria personalidade.

Eis um exemplo:

Uma jovem esposa exclamou: "Esposei Tibúrcio, que eu julgava portador de todas
as prendas. Infelizmente estou frustrada. Ele não me dá atenção; deixa-me sozinha aos
domingos para ir à pesca ou jogar futebol".
Tibúrcio, por sua vez, alega: "Mariana não sabe pôr ordem em casa. Gasta dinheiro
à toa, não tem interesse pelas crianças".
Pode-se dizer que houve então erro sobre qualidades das pessoas tomadas em
casamento? - Somente o contato direto com os dois esposos pode ajudar a responder.
Afinal de contas, qual das qualidades visadas, mas não encontradas na vida conjugal,
tornou nulo o matrimônio? Onde está o limite entre falhas humanas previsíveis e
aceitáveis, e falhas inaceitáveis, que permitem dizer que houve erro sobre as qualidades
da pessoa? O Código de Direito Canônico, no cânon citado, ensina que o erro sobre
qualidades não invalida o casamento a não ser que se trate de qualidade direta e
principalmente visada, ou seja, qualidade que o(a) consorte fazia muita questão de
encontrar no(a) parceiro(a).

3.3.4. O erro doloso (cânon 1098)

Chama-se dolo o erro cometido por fraude ou má fé do(a) pretendente, ciente de


que, se não enganar, não conseguirá casar-se. A propósito reza o cânon 1098:
“Quem contrai matrimônio, enganado por dolo perpetrado para obter o consenti-
mento matrimonial, a respeito de alguma qualidade da outra parte, qualidade que, por
sua natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai-o
indevidamente”.
É capital para o bom êxito de um casamento que haja boa fé e transparência de um
cônjuge para outro. Quando, porém, isto não se verifica, mas um dos cônjuges quis

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deliberadamente induzir o(a) consorte ao erro para poder casar-se, tal matrimônio é
nulo. É o que se dá quando o rapaz aparenta ser sadio, mas na verdade sofre de AIOS e
não o diz, ou quando a noiva esconde ao futuro esposo o fato de que lhe amputaram os
ovários de modo que não pode ter filhos.

3.4. Simulação (cânon 1101)

Eis o teor do cânon 1101:


“Presume-se que o consentimento interno está em conformidade com as palavras ou
os sinais empregados na celebração do matrimônio” (§ 1º).
“Contudo, se uma das partes ou ambas, por ato positivo de vontade, excluem o
próprio matrimônio, algum elemento essencial do matrimônio ou alguma propriedade
essencial, contraem invalidamente” (§ 2º ).
Um princípio geral do Direito leva a supor que as pessoas dizem a verdade,
enquanto não se pode provar o contrário; daí o § 1º do cânon 1101.
Existe, porém, a mentira... mentira ocorrente no próprio ato do casamento; é
chamada simulação. Esta pode ser total ou parcial.
É total quando um dos contraentes, embora profira com os lábios o seu con-
sentimento, recusa interiormente o seu Sim. Isto pode acontecer quando se obriga um
rapaz a casar-se, à revelia sua, com a moça que ele fez engravidar, ou quando uma
moça é constrangida por terceiros a casar-se com um play-boy que só pensa em
divertir-se e nada quer levar a sério.
A simulação é parcial quando um dos parceiros aceita, sim, o casamento, mas
recusa uma das propriedades essenciais do matrimônio: a monogamia, a indissolu-
bilidade e a abertura para a procriação. É nulo, portanto, o casamento quando alguém
declara, no ato de casar-se, que aceita a indissolubilidade, mas na verdade quer poder
usar do divórcio (não basta que o nubente pense que o casamento é solúvel; é preciso
que queira usar do divórcio, para que o casamento seja nulo). Também é nulo o
casamento de quem, de antemão, rejeita ter filhos, embora declare o contrário ao casar-
se.

3.5. Violência ou medo (cânon 1103)

O consentimento matrimonial há de ser expresso com liberdade ou sem cons-


trangimento (nem interior nem exterior). Daí o cânon 1103:
“É inválido o matrimônio contra/do por violência ou por medo grave proveniente de
causa externa, ainda que não dirigido para extorquir o consentimento, e quando, para
dele se livrar, alguém se veja obrigado a contrair o matrimônio”.
Observemos a respeito:

1. O mal que a pessoa receia, se não aceitar o casamento, deve ser grave. A
gravidade pode ser avaliada subjetivamente: o mesmo mal pode ser tido como
grave por certas pessoas, e como leve por outras. Basta, porém, que haja
gravidade subjetiva ou relativa.
2. O medo há de ser incutido por causa extrínseca (ameaça de morte, de denúncia,
de vingança...). Não seja fruto da imaginação de quem se casa. Não é necessário
que o medo ou a violência visem diretamente ao consentimento matrimonial, mas
basta que o(a) nubente, pressionado(a) por uma situação embaraçosa qualquer,
julgue não ter outra saída senão o casamento.

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Chama-nos a atenção ainda o medo reverencial ou o receio de desagradar a pai ou
mãe, caso o(a) filho(a) recuse determinado casamento. Tal medo é geralmente leve,
mas pode tornar-se grave, especialmente quando a moça ouve seu pai repetir-lhe
constantemente: "Esqueces tudo o que fiz por ti! Tu me farás morrer de tristeza!".

3.6. Condição não cumprida (cânon 1102)

Eis outra fonte de falhas de consentimento. Imaginemos que alguém faça o seu
consentimento depender de uma determinada condição, que acaba por não se cumprir:
da parte do rapaz, por exemplo, seria a exigência de que a consorte seja virgem; da
parte da moça, a condição de que o noivo não tenha tido outra mulher na sua vida. Se,
após o casamento, a comparte interessada verifica que a condição não se realizou,
esteja certa de que o casamento foi nulo.
Não é desejável que se coloquem tais condições antes do casamento. Por isto o
Código prescreve que, para colocá-las, os nubentes precisam da licença prévia da
autoridade eclesiástica. - E diverso o caso aqui mencionado do caso da simulação: neste
existe má fé ou o desejo de enganar, ao passo que, no caso de condição, pode a
comparte silenciar um ou outro traço de seu passado simplesmente de boa fé ou porque
não lhe ocorre abordar tal assunto.
Eis o teor do cânon 1102:

• “§ 1. Não se pode contrair validamente o matrimônio sob condição de futuro.


• § 2. O matrimônio contraído sob condição de passado ou de presente é válido ou
não, conforme exista ou não aquilo que é objeto da condição.
• § 3. Todavia a condição mencionada no § 2 não pode licitamente ser colocada sem
a licença escrita do Ordinário local”.

4. IMPEDIMENTOS DIRIMENTES (CÂNONES 1083-94)

A Igreja, como também o Direito Civil, estipula certas normas que restringem o
direito ao casamento em doze casos, todos eles graves, tendo em vista o próprio bem
dos interessados e da sociedade em geral.

1 - Idade mínima

A idade mínima para a validade de um casamento sacramental é 14 anos para as


moças e 16 anos para os rapazes. Os Bispos podem dispensar dessa condição, mas
rarissimamente o fazem. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil exige dois anos
mais para os casamentos no Brasil, ou seja, 16 e 18 anos respectivamente; todavia esta
exigência incide sobre a liceidade, não sobre a validade do casamento. Cf. cânon 1083.
Isto é, condição de que isto ou aquilo venha a acontecer: por exemplo, "o con-
sentimento valerá se meu marido conseguir um bom emprego" ou "... se minha esposa
se formar em Música".
A invalidade equivale à nulidade; torna sem efeito determinado ato. A iliceidade não
torna nulo o ato, mas dele faz uma infração ou uma violação da lei (eventualmente, um
pecado). Por exemplo, um roubo é ato ilícito, ilegal e pecaminoso, mas o dinheiro
roubado conserva seu valor de dinheiro e serve para pagar dívidas (embora seja
pagamento ilícito, porque realizado com dinheiro roubado). Uma fruta roubada é uma

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fruta que não me é l/cito comer, mas que nem por isto deixa de alimentar a quem a
come.

2 - Impotência

A impotência (ou incapacidade de praticar a cópula conjugal) anterior ao ca-


samento e perpétua, absoluta ou relativa, é impedimento dirimente. Cf. cânon 1084.
A relação sexual realizada de modo humano é considerada pela legislação como
consumação daquilo que se prometeu no ato do casamento. Por isso, as pessoas que
são incapazes de ter uma relação sexual autêntica não podem se casar validamente
(Cân. 1084). Não basta a esterilidade e a impotência deve ser anterior ao matrimônio e
perpétua.
Por "impotência" entende-se não a esterilidade, mas a incapacidade de realizar uma
autêntica relação sexual. Ora a impotência anterior ao matrimônio e perpétua
(incurável) torna nulo o casamento, mesmo que o outro cônjuge conheça previamente e
aceite tal situação. Notemos bem: há pessoas que não são impotentes (são capazes de
cópula sexual), mas são estéreis (jamais o seu ato sexual poderá redundar em prole);
tais indivíduos podem casar-se validamente. Não há dispensa da Igreja para esse
impedimento, porque a relação sexual, realizada de modo humano, é a consumação do
contrato matrimonial.
Impotência relativa é a que impede relacionamento sexual somente com alguma ou
algumas pessoas. Só é impedimento para o matrimônio com tais pessoas. É indiferente
a causa (física ou psíquica) donde procede a impotência. Compete aos médicos e
psiquiatras averiguar se é perpétua ou se há esperança de cura.

3 - Vínculo

É impedimento dirimente o vínculo de um matrimônio validamente contraído,


mesmo que não consumado. Cf. cânon 1085.
A Igreja Católica afirma e sempre afirmou que o matrimônio é indissolúvel. Por isso,
se alguém está validamente casado e realizasse uma cerimônia de casamento com outra
pessoa, essa cerimônia não teria nenhum valor (Cân. 1095).

4 - Disparidade de Culto

Entre um católico e uma pessoa não batizada (por exemplo, um judeu ou um


muçulmano) existe uma diferença tão grande de religião que dificilmente vão conseguir
realizar uma comunhão de vida plena. A disparidade do culto também é causa de
nulidade de casamento, desde que a parte católica não tenha obtido dispensa do
impedimento. Com outras palavras: é inválido o casamento entre um católico e uma
pessoa não batizada, se a parte católica não pede dispensa do impedimento. Esta pode
ser concedida pelos Bispos desde que:

• a parte católica declare estar disposta a afastar os perigos de abandono da fé e


prometa fazer tudo para que a prole seja batizada e educada na Igreja Católica;
• a parte não católica seja informada desse compromisso;
• ambas as partes sejam instruídas a respeito dos fins e propriedades essenciais do
matrimônio, que nenhum dos contraentes pode excluir.

10
A propósito convém dizer algo sobre o impedimento de mista religião, ou seja, sobre
o casamento de um católico com uma pessoa batizada fora do Catolicismo (protestante
ou ortodoxa). Tal impedimento não é dirimente, isto é, não invalida o casamento, mas
torna-o ilícito; cânon 1124. A parte católica pode contrair tal matrimônio válida e
licitamente desde que obtenha a dispensa do respectivo Bispo mediante as três
condições atrás mencionadas para o caso da disparidade de culto.

5 - Ordem Sagrada

Os que receberam o sacramento da ordem, ou seja, os diáconos, os presbíteros e os


bispos não podem casar validamente (C. 1087). No caso dos diáconos casados, porém,
permite-se que alguém, previamente casado, seja ordenado diácono e atue como tal.

6 – Votos

Profissão religiosa perpétua: os religiosos, ou seja, os membros de certas insti-


tuições que têm gênero de vida especial aprovado pela Igreja, fazem voto de castidade,
pobreza e obediência. Isto se chama profissão religiosa. Quando é feita de modo
perpétuo ou definitivo, torna nula qualquer tentativa de matrimônio (Cân. 1088).

7 - Rapto

Uma mulher conduzida ou retida à força não pode casar validamente com quem está
exercitando essa violência contra ela enquanto não for posta em liberdade em lugar
seguro. cf. cânon 1089.

8 – Crime

A fim de proteger a vida do marido ou da mulher traídos, a Igreja declara que os


que matam seu cônjuge para facilitar um matrimônio posterior ficam impedidos de
realizar validamente este casamento. E também se um homem ou mulher em comum
acordo, matam o esposo ou a esposa de um deles, não podem casar-se entre si (Cân
1090). A dispensa está reservada à Santa Sé.

9 – Consangüinidade

Não há dispensa na linha vertical (pai com filha, avó com neto...); na linha hori-
zontal, o impedimento (dispensável) vai até o quarto grau, isto é, atinge tio e sobrinha e
primos irmãos, cânon 1091.

10 - Afinidade na linha vertical

Não há matrimônio válido entre o marido e as consangüíneas da esposa e entre a


esposa e os consangüíneos do marido, suposta a viuvez previamente ocorrida. Na linha
horizontal não há impedimento: um viúvo pode casar-se com uma irmã (solteira) de sua
falecida esposa, cf. cânon 1092.

11 - Honestidade pública

11
Quem vive uma união ilegítima, está impedido de se casar com os filhos ou os pais
de seu (sua) companheiro (a), cf. cânon 1093.

12 - Parentesco legal

Não é permitido o casamento entre o adotante e o adotado ou entre um destes e os


parentes mais próximos do outro. Este impedimento, como outros desta lista, podem ser
dispensados por dispensa emanada da autoridade diocesana, cf. cânon 1094.

5. FALTA DE FORMA CANONICA NA CELEBRAÇÃO DO MATRIMONIO (CÂNONES


1108-23)

"Forma canônica" é o conjunto de elementos exigidos para a celebração ritual do


casamento. Requer-se, com efeito, que a cerimônia se realize perante o pároco do lugar
e, pelo menos, duas testemunhas (padrinhos). O pároco pode delegar a sua atribuição a
outro sacerdote, a um diácono ou, em algumas dioceses do Brasil que gozam de especial
licença da Santa Sé, também a certos leigos.
A forma canônica só obriga os católicos. Basta, porém, que um dos noivos seja
católico para que a forma canônica seja obrigatória, isto é, para que o casamento deva
ser celebrado na Igreja Católica sob pena de nulidade.
Pode haver dispensa da forma canônica. O Bispo tem a faculdade de concedê-la
quando se trata de um casamento entre um católico e um não católico, especialmente
se é um cristão batizado no Protestantismo ou na Ortodoxia. Em tais casos, porém, o
prelado determina qual outra cerimônia (civil ou religiosa) substitui a católica.
Além disto, há casos em que não é possível encontrar, sem demora, um padre
credenciado para assistir ao casamento sacramental; é o que acontece em territórios de
missão, por exemplo, pelos quais só algumas vezes ao ano passa um missionário. O
próprio Direito Canônico prevê, para esses casos, a dispensa da forma canônica nos
seguintes termos:

Cânon 1116 - § 1. “Se não é possível, sem grave incômodo, ter o assistente compe-
tente de acordo com o direito, ou não sendo possível ir a ele, os que pretendem contrair
verdadeiro matrimônio podem contraí-o válida e licitamente só perante as testemunhas:

• 1º em perigo de morte;
• 2º fora do perigo de morte, contanto que prudentemente se preveja que esse
estado de coisas vai durar por um mês. .
§ 2. Em ambos os casos, se houver outro sacerdote ou diácono que possa estar
presente, deve ser chamado, e ele deve estar presente à celebração do matrimônio,
juntamente com as testemunhas, salva a 'validade do matrimônio só perante as tes-
temunhas".

6. DISPENSA DO CASAMENTO (VÍNCULO NATURAL)

Até o presente momento tratamos da verificação de nulidade de certos casamentos;


desde que esta conste, após o devido exame, a Igreja reconhece publicamente a
nulidade e considera solteiras as duas partes interessadas.

12
Há, porém, casos em que o matrimônio validamente contraído no plano natural é
dissolvido pela Igreja em favor de um matrimônio sacramental. Examinemo-los. Com
outras palavras: a Igreja não tem o poder de dissolver um casamento sacramental
validamente contraído e consumado. Quando, porém, o matrimônio não é sacramental
(é sustentado pelo vínculo natural apenas), a Igreja, em casos raros, pode dissolvê-lo
em vista da fé ou de uma vivência matrimonial sacramental.

6.1. O Privilégio Paulino (cânon 1143-47)

Em 1 Cor 7,15 São Paulo considera o caso de dois pagãos unidos pelo vínculo
natural; se um deles se converte à fé católica e o(a) consorte pagã(o) lhe torna difícil a
vida conjugal, o Apóstolo autoriza a parte católica a separar-se para contrair novas
núpcias, contanto que o faça com um irmão ou uma irmã na fé. Antes, porém, da
separação, é necessário interpelar a parte não batizada, perguntando-lhe se quer re-
ceber o Batismo ou se, pelo menos, aceita coabitar pacificamente com a parte batizada,
sem ofensa ao Criador. Isto se explica pelo fato de que, para o fiel católico, o
matrimônio sacramental é obrigatório: ou ele o contrai com o cônjuge pagão ou, se este
não o propicia, contrai-o com uma pessoa católica. Cf. cânones 1143-47.

6.2. O Privilégio Petrino (privilégio da fé); cf. cânones 1148-1150

O privilégio da fé é como que uma extensão do anterior. Como dito, a Igreja não
pode dissolver um casamento sacramental validamente contraído e consumado. Há,
porém, uniões matrimoniais não sacramentais entre pessoas não batizadas.
Suponhamos que alguma dessas uniões fracasse: em conseqüência, uma das duas
partes (convertida ao Catolicismo ou não) quer contrair novas núpcias com uma pessoa
católica, habilitada a receber o sacramento do matrimônio. Esta pessoa católica pode
então recorrer à Santa Sé e pedir a dissolução do vínculo natural do(a) seu (sua)
pretendente, assim como a eventual dispensa do impedimento de disparidade de culto
(caso se trate de um judeu, um muçulmano, um budista...); realiza-se então a
cerimônia do casamento católico. Está claro, porém, que os cônjuges que se separam,
deverão prover à subsistência e à educação (católica, se possível) dos respectivos filhos.
O privilégio petrino ou da fé tem especial aplicação nos países em que vigora a
poligamia. Se o homem não batizado que tenha simultaneamente várias esposas não
batizadas, receber o Batismo na Igreja Católica, poderá escolher a mulher que preferir,
e deverá casar-se com ela na Igreja (observadas as prescrições relativas a matrimônios
de disparidade de culto, se for o caso). O mesmo vale para a mulher não batizada que
tenha simultaneamente vários maridos não batizados. Evidente, porém, que o homem
que se converte, tem que prover às necessidades das esposas afastadas, segundo as
normas da justiça e da caridade; cf. cânon 1148.
Diz-se que a dissolução do vínculo natural em favor de um casamento sacramental
se faz para o bem da fé (in bonum fidei), isto é, para permitir que ao menos um dos
cônjuges (a parte católica) se possa casar de acordo com a sua fé ou na Igreja.

7. DISSOLUÇÃO DO MATRIMÔNIO NÃO CONSUMADO

Diz o cânon 1142:

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"O matrimônio não consumado entre batizados ou entre uma parte batizada e outra
não batizada pode ser dissolvido pelo Romano Pontífice por justa causa, a pedido de
ambas as partes ou de uma delas, mesmo que a outra se oponha".
Este caso pode ocorrer; todavia não é fácil comprovar que não houve consumação
carnal do matrimônio. O cânon nº 1061 observa que a consumação do matrimônio deve
ser praticada humano modo, isto é, de modo livre e normal; na hipótese contrária, não
se pode falar de consumação. A exigência de modo humano é muito oportuna, pois
exclui os casos de inseminação artificial (mesmo que desta nasça uma criança); exclui
também os casos em que a esposa é constrangida ou colhida num momento de
transtorno mental provisório. Outrora julgava-se que o matrimônio estaria consumado e
feito indissolúvel mesmo que a esposa, recusando por medo iniciar a vida sexual, fosse
violentada.
Como se vê, a temática matrimônio é muito complexa. O que há de novo na le-
gislação da Igreja datada de 1983, é a compreensão mais apurada do psiquismo
humano e das suas potencial idades, como também dos seus limites. Este fator é im-
portantíssimo, pois não se pode julgar o comportamento de alguém unicamente pelo seu
foro externo. É decisivo o foro interno, que nem sempre transparece. Em conseqüência,
verifica-se que muitos matrimônios outrora tidos como válidos hoje podem ser
considerados nulos, porque faltaram ao(s) nubente(s) as condições psicológicas para
contrair as obrigações matrimoniais.

8. OS PRINCIPAIS PASSOS DE UM PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL

Chamamos processo à seqüência de atos que se realizam para resolver a questão


proposta. Um processo começa com o libelo (carta) da demanda, apresentado ao
Tribunal por quem pede a causa, a parte autora. Nesse documento deve-se indicar
claramente o que se pede (a declaração nulidade do casamento), as razões de fato e de
direito e as provas em que se apoia a petição (Cân. 1501 a 1504), pelo menos
transcrevendo o rol de testemunhas. O autor pode designar um advogado que o
defenda e um procurador que o represente no Tribunal (Cân. 1481).
O juiz admite por decreto o libelo e cita por convocação a outra parte que nas cau-
sas matrimoniais é chamado(a) demandado(a). o demandado então contesta o libelo:
pode por sua posição e então indicará também razões e provas ou pode não opor-se,
submetendo, desde o princípio, a justiça do Tribunal (Cân. 1507).
Com aquilo que expuseram o autor e o demandado nos seus escritos de demanda e
contestação, o juiz redige a fórmula da concordância da dúvida (Cân. 1513), que
explicita e define claramente o que se vai estudar e decidir.
Nas causas de nulidade é declarado se consta, no caso, a nulidade do matrimônio
em apreço, pelo(s) capítulo(s) de nulidade. Em continuação o juiz decreta a abertura da
fase de instrução, a etapa probatória de recolhimento dos elementos demonstrativos
que confirmarão ou não o sustentado no libelo.
Ouve-se primeiro o demandante, depois o demandado, em separado; a seguir, as
testemunhas que tenham sido arroladas pelas partes. Em certas causas é requisitado o
relatório e o laudo pericial e ainda examina-se, se houver, a prova documental, ou seja,
os documentos públicos ou privados com os quais se intenta provar alguma coisa.
Com isto dá-se por terminado o período probatório e decreta-se a publicação dos
autos do processo, para que o autor e o demandado e seus respectivos advogados
14
possam conhecer e estudar todas as peças processuais. Os advogados apresentam
então suas defesas, em favor ou contra, do que se pediu ao Tribunal.
O defensor do vínculo faz seu relatório ao qual devem oferecer réplica os advogados,
ficando-lhes assegurado o direito de tréplica, que tem sempre a última palavra na fase
discussória.
Encerrando as alegações das partes, o Juiz decreta a conclusão da causa e convoca
a sessão para decidir, reunindo o trio dos juizes que juntos apresentarão seus votos
fundamentados e por maioria definirão a causa ditando a sentença em 1a instância.

9 - ROTEIRO PARA EXPOSIÇÃO DO CASO

• O relatório tem a finalidade de oferecer dados concretos para averiguar se há base


jurídica para a declaração de nulidade de matrimônio. Em caráter confidencial.
• Descreva com clareza, objetividade e riqueza de detalhes os fatos e atos que
envolveram a separação do casal.
• Os itens elencados têm a finalidade de orientá-la(o) na descrição, para que tenha
seqüência e não esqueça dados importantes. Consequentemente, não devem ser
transcritos nem numerados.

IDENTIFICAÇÃO DO CASAL:

I. Parte Demandante:

1) Nome, filiação, localidade e data de nascimento.


2) Grau de instrução. Profissão.
3) Endereço residencial completo (atual) e endereço para correspondência (se for o
caso). Telefone.
4) Qual a sua religião, a pratica? Onde foi batizado? Conhece algum sacerdote?
5) Data completa do matrimônio religioso e civil. Em que igreja? idade?
6) Como era sua família e seu relacionamento com ela?

II. Parte demandada

Informe sobre a parte demandada seguindo a ordem e os dados cfr. os itens 01 a


06 da parte Demandante.

EXPOSIÇÃO DO CASO

I. Preparação do matrimônio

1) Como, quando e onde conheceu a parte Demandada?


2) Como, quando e onde iniciou o namoro? Quanto tempo durou só o namoro? Como
foi o tempo de namoro: havia brigas e desentendimentos? Por que? Houve
intimidades? Gravidez? Chegou e desmanchar o namoro, quantas vezes e por
quanto tempo? Quem procurava a reconciliação e por que?
3) Como, quando e onde iniciou o noivado? Quanto tempo durou o noivado? Como foi
o tempo de noivado: havia brigas e desentendimentos? Por que? Houve
intimidade, gravidez, chegou desmanchar o noivado? Quantas vezes e por quanto

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tempo? Quem procurava a reconciliação e por que? Se havia brigas na época do
noivado, por que chegaram então ao casamento?

II. Matrimônio

1) Ambos foram livremente para o matrimônio, ou alguém ou alguma circunstância


os obrigou ao matrimônio (quem? Qual circunstância?)
2) Como foi o dia do matrimônio, tudo correu normal na função religiosa e civil? E na
festa que se seguiu? Notou alguma coisa no dia do casamento que levasse a
duvidar do feliz êxito do mesmo?

III. Vida matrimonial

1) Houve lua de mel, onde e por quanto tempo? O matrimônio foi consumado?
Houve dificuldades?
2) Quando surgiram os primeiros problemas do casal? Eles já existiam anteriormente
ao casamento?
3) Relate pormenorizadamente os principais fatos (concretos) que prejudicaram o
relacionamento do casal e levaram o casamento a um final indesejável.
4) Algum problema psíquico ou mental prejudicou o relacionamento? Esse problema
era anterior ao casamento? (relate de forma clara e objetiva os fatos e atos
praticados pela parte envolvida).
5) Houve infidelidade conjugal: de quem? Antes, durante ou depois do casamento?
(relate fatos concretos)
6) Tiveram filhos? Quantos? Se não, por que? As partes assumiram as suas
obrigações de casados com referência ao lar, ao outro cônjuge e aos filhos?
7) Amavam-se de verdade? Com que tipo de amor? Amavam-se com amor marital
capaz de fundamentar o matrimônio? Quando descobriram que não havia mais
amor entre ambos?
8) Quanto tempo durou a vida conjugal?

IV. Separação

1) De quem foi a iniciativa da separação e qual o verdadeiro motivo dessa


separação?
2) Houve tentativa de reconciliação, de quem e qual o seu resultado?
3) Com quem vivem hoje as Partes?
4) Qual o motivo que o(a) levou a introduzir este processo no foro eclesiástico?

DOCUMENTOS ANEXOS

1) Certidão do casamento religioso


2) Certidão do casamento civil (com averbação da separação)
3) Rol de testemunhas: 05 (cinco) pessoas que esteja a par dos fatos acima
relatados, podendo ser familiares (nome e endereço atual completo).

10 - Como fazer um libelo

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O libelo deve ser feito com simplicidade, pois é uma carta em que o demandante
solicita ao Presidente do Tribunal Eclesiástico Regional a declaração de nulidade
matrimonial, apresentando a ele os motivos que o levam a fazer o pedido. Para se
guiarem, tentaremos deixar um exemplo de como se faz.

Libelo (modelo - 1)

lImo. Sr. Presidente do Tribunal Eclesiástico Regional de................... (escreva o


nome do Tribunal Regional a que pertence a Paróquia onde foi feito o casamento ou
então onde reside a demandada), João da Silva, filho de Pedro e Joana da Silva, nascido
em Taubaté, São Paulo, no dia 4 de abril de 1970, com o primeiro grau completo,
pedreiro, residente à Rua Carlos Chagas, no.14, CEP 95.000-470 - Caxias do Sul, RS.
Fone 222-0002, católico praticante, casado aos 10 de maio de 1990, na Catedral de
Caxias do Sul, vem solicitar a declaração de nulidade do seu casamento, celebrado com
a demandada:
Maria de Oliveira, nascida em Bento Gonçalves, no dia 11 de maio de 1975, com o
primeiro grau completo, costureira, residente à rua Tamandaré, n 20 - Bairro Jardim
CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS. Fone 456-3443.
João conheceu Maria numa festa, no bairro Jardim. Conversaram e ele ficou logo
apaixonado porque era bonita. Pediu para se encontrarem. Ela disse que era muito
nova, e que os pais não admitiriam nenhum tipo de namoro. Mesmo assim se
encontravam. Com o andar do tempo, os encontros se tornaram mais freqüentes.
Notava-se que ela não correspondia à paixão de João. Ela falava que tinha problemas
em casa, com os pais, e que queria casar de qualquer maneira, para sair de casa.
Um dia tiveram intimidades e ela engravidou. Quando o pai dela soube, quis
expulsá-la de casa. Ela contou o fato para o João e ele decidiu livrá-la das iras do pai,
casando com ela, embora notasse que ela não o amava. Sabia que o casamento era
uma fuga de casa e uma maneira de solucionar um problema para Maria. Mesmo assim
decidiu casar.
O namoro teria durado uns seis meses (desde que se conheceram até a notícia da
gravidez). Durante o namoro eles se desentendiam em quase todos os encontros. Ela
sempre repetia que desejava sair da casa dos pais porque eram muito ruins para com
ela. Principalmente, o pai, que era muito severo e exigente.
Ficando ela grávida, os pais não queriam ter em casa uma filha que fosse mãe
solteira. Diante do fato, ela aceitou casar com o demandante. Os pais de ambos in-
sistiram para que eles assumissem o erro. Desde o primeiro dia do casamento houve
problemas entre os dois. Não fizeram lua- de-mel. Não se entendiam. Ela vivia como se
fosse solteira. Nada servia para uni-los. Da parte dela não havia amor. Nem carinho.
Quando nasceu a criança, a deixou com a mãe dela. Não assumiu as obrigações nem
com o esposo nem com a filha. Vivia quase sempre fora de casa. Não queria ter relações
conjugais com o demandante.
Depois de um ano de casados, ela decidiu deixar o demandante e viver sozinha.
Disse que casou porque estava grávida e os pais forçaram. E também Iara poder sair de
casa. Hoje, ela vive com outro homem. O demandante vive com outra mulher, com a
qual se entrosa muito bem. Mas, falta a bênção da Igreja. Por isso, solicita a declaração
de nulidade porque acredita que seu casamento não foi válido e deseja regularizar sua
situação perante Deus e perante a Igreja.

Caxias do Sul, 10 de maio de 1997.

17
João da Silva - Demandante.

Rol das Testemunhas:

1. Joana da Silva: Rua Pirapó, 14 - 95,700-000 - Bento Gonçalves-RS. Fone....


2. Pedro da Silva: Mesmo endereço da testemunha acima.
3. Ana da Silva: Rua Duarte, 200 - 95.000-000 - Caxias do Sul-RS. Fone....
4. Paulo de Oliveira: Rua Gomes, 40 - 95.020-567- RS. Caxias do Sul-RS. Fone....
5. Pedro de Souza, Rua Cruzada, 15 - 95.180-000 - Farroupilha-RS. Fone....

Libelo (modelo - 2)

limo Sr. Presidente do Tribunal Eclesiástico Regional de (Porto Alegre).


Eu, Paulo Gomes, filho de Luiz e Luíza Gomes, nascido em Garibaldi, no dia 3 de junho
de 1968, com curso superior completo, professor, residente à Rua Sinimbu, 28 - 95.180-
000, Garibaldi - RS. Fone 2343, católico praticante, casado aos 7 de janeiro de 1990 na
Igreja de Santo Antônio de Bento Gonçaives, RS, venho solicitar a declaração de
nulidade do meu casamento celebrado com a demandada:

Inês da Paz, nascida em Vacaria, no dia 20 de maio de 1970, com o segundo grau
completo, enfermeira, residente à Rua Parnaíba, 55 - 95.020-00 - Caxias do Sul-RS.
Fone 222-3423.
Eu conheci Inês num baile quando eia tinha 15 anos de idade. Namoramos quase
cinco anos. Eu desejava constituir uma família. O meu sonho era ter uma família
numerosa. No entanto, depois de casados, tive a notícia de que Inês era estéril. Ela
sabia do seu problema antes de casarmos. Mas escondeu o fato para poder casar
comigo. Ela sabia que eu desejava casar e ter filhos. Notava que, quando falava em ter
filhos, ela sempre mudava de assunto. Tenho comprovações de testemunhas e também
um documento de exames realizado a pedido dela antes de casar, onde aparece o seu
problema de esterilidade. Quando lhe perguntei por que não falou antes de casar, ela
respondeu que silenciou porque não queria perder-me. Queria casar comigo. Como eu
desejava constituir família e ela era estéril, o nosso relacionamento se tornou, no início,
bastante formal. Depois, frio. Diante do fato, eu decidi me separar e arranjar outra
companheira, com a qual hoje vivo e tenho dois filhos.
Minha ex-esposa voltou para a casa dos pais e continua trabalhando como
enfermeira.
Diante do fato, e, desejando regularizar minha união com a atual esposa, venho
solicitar a declaração de nulidade matrimonial devido ao engano a que fui submetido,
uma vez que Inês me escondeu que era estéril para conseguir que eu casasse com ela.
Caso ela tivesse dito antes de casar que era estéril, eu não teria casado com ela.
Esperando seja aceito o meu pedido, me submeto ao julgamento do Tribunal da Igreja.

Paulo Gomes - Demandante


(Assinado)

Rol das testemunhas:

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1. Luiz Gomes: Rua Princesa, 18 - 89.056-000 Jaquari-RS. Fone 222-3456.
2. Rosa Gomes: Mesmo endereço da testemunha precedente.
3. Gabriela Gomes: Rua dos Andrades, 11 - 90.000000 - Panambi-RS. Fone...
4. Enio da Silva: Rua caçador, 88 - 70.000-000 Curitiba-PR. Fone...
Os nomes das pessoas e das cidades foram trazidos sem corresponder aos lugares
indicados. Mas foram trazidos aqui para se ter uma idéia de como se faz um libelo. E
uma simples carta em que se pede a declaração de nulidade do matrimônio, explicando
o motivo que o leva a pedir. E simples. Qualquer um poderá fazer, sem pedir auxílio de
advogado.
É importante que se faça o pedido escrito a máquina. Não a mão. Sem enfeites e
sem muitos pormenores com explicações inúteis.

Processo documental (Cân. 1.686)

Quando há evidência irrefutável de que no casamento existiu um impedimento ou


um defeito de forma, que tornaram o casamento nulo, não é necessário que se faça um
processo ordinário.
Neste caso, o Juiz, ao receber o pedido, cita as partes e o Defensor do Vínculo e já
pode declarar por sentença a nulidade do matrimônio. Isto o faz quando não pairam
dúvidas sobre o impedimento, como, por exemplo, de uma menina que casou com
menos de 14 anos de idade, sem dispensa do Ordinário do lugar. Ou, então, de primos
irmãos que casaram sem dispensa do impedimento de consangüinidade.
O Cân. 1.686 é bem claro. Diz: “Recebida a petição proposta de acordo com o Cân.
1.677, o Vigário Judicial ou o Juiz por ele designado, omitindo as formalidades do
processo ordinário, mas citando as partes e com a participação do Defensor do Vínculo,
pode declarar, por sentença, a nulidade do matrimônio se, por documento não
susceptível de nenhuma contradição ou exceção, constar com certeia a existêiicia de um
impedimento dirimente ou a falta de forma legítima, contanto que com a mesma certeza
se evidencie que não foi dada a dispensa, ou então, que faltava mandato válido ao
procurador”.
O pedido se faz normalmente através do Libelo. E o processo tem a vantagem de
não se precisar convocar testemunhas. Basta o documento que indique que houve
impedimento ou então defeito de forma.
Este processo documental não pode ser utilizado se a nulidade depende de um vício
de consentimento.

Presunta morte do cônjuge (Cân. 1.707)

Trata-se da morte do cônjuge que não pode ser demonstrada por documento
autêntico eclesiástico ou civil. Neste caso, a pedido do cônjuge interessado, o Bispo
Diocesano realizará o inquérito junto às testemunhas, ouvirá a opinião pública a respeito
do caso e tentará descobrir indícios que possam ajudá-lo a chegar à certeza moral para
declarar a presunta morte do cônjuge. Não basta a probabilidade. A ausência do
cônjuge, ainda que prolongada, não é suficiente. O bispo deve chegar à certeza moral
de sua morte.
Depois da declaração do Bispo Diocesano, o cônjuge interessado poderá celebrar
novas núpcias.

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O inquérito é de caráter administrativo e pode ser feito pelo bispo Diocesano ou
pode ser confiado a um Tribunal ou a um sacerdote.
O Decreto do Bispo ou a sentença do juiz se fundamentam na presunção de que o
cônjuge desaparecido tenha morrido. Seria, por exemplo, do cônjuge que se supõe
viajava num avião desaparecido. Ou, então de um caminhoneiro que, quando saía de
casa, se comunicava com a família diariamente e de repente silencia desaparecendo ele
e também o caminhão. Se o cônjuge considerado morto fosse ainda vivo, o novo
casamento seria nulo de acordo com o Cân. 1.085 § 1. E caso os dois cônjuges das
novas núpcias chegassem à certeza de que o presunto morto estivesse vivo, teriam a
obrigação de se separarem.

Os depoimentos

Os depoimentos das partes e das testemunhas são sempre individuais. Feitos diante
do Juiz Auditor e do notário. Às vezes, com a presença do Defensor do Vínculo, do
Procurador ou do Advogado da parte. Todos os depoentes, ao serem chamados para
depor, devem trazer consigo um documento de identidade que tenha fotografia.
No início do depoimento, cada depoente é convidado a fazer um juramento, com a
mão sobre a Bíblia, de dizer a verdade.
No fim pode repetir o juramento de ter dito a verdade e também prometendo
guardar sigilo sobre o que falou em juízo.
O processo é sigiloso e é feito para verificar a verdade dos fatos, por isso, não aceita
influências de quem quer que seja.

Tempo exigido para julgar a causa

Aqui depende de cada caso. Em geral, vai mais dc um ano e meio. Depende da
disponibilidade de juízcs que se dedicam nesta espinhosa mas nobre missão que é a de
restabelecer a justiça de quem foi injustiçado. Para o rápido andamento depende dos
endereços exatos, principalmente da parte demandada. Toda a correspondência é
mandada pelo correio em A.R. Se não encontra o destinatário, a correspondência
retorna ao Tribunal e atrasa muitíssimo o andamento do processo.

Quais os passos do processo?

Chegado o libelo do demandante ao Tribunal Eclesiástico Regional:

1) É formado um Tribunal de três Juízes Eclesiásticos.


2) O presidente deste Tribunal examina o libelo e julga se aceita a demanda. Se
aceita, já propõe a questão a que o processo deverá responder.
3) E fixada a dúvida e o processo terá andamento para encontrar a resposta a esta
dúvida proposta. (Caso a parte demandada não queira participar do processo, por
qualquer motivo, mesmo assim o processo continua seu andamento.)

4) São colhidos os depoimentos das partes e das testemunhas.

5) Concluídos os depoimentos, as partes são convidadas ao Tribunal, caso queiram,


para tomar conhecimento dos depoimentos e caso desejem poderão apresentar mais

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fatos a favor de suas teses.

6) Tudo concluído, o Defensor do Vínculo apresenta o seu parecei Ele examina o


processo para ver se existem motivos de validade do matrimônio em questão. Ele
não inventa. Examina e procura dar seu parecer baseado nos fatos que encontra nos
autos.

7) Tudo concluído, os três Juízes individualmente examinam a causa. Depois se


reúnem e julgam se é válido ou não o matrimônio em questão.

8) Se o matrimônio for declarado nulo, o demandante e a demandada ainda não


poderão celebrar novo casamento na Igreja, pois a causa vai automaticamente para
um segundo julgamento, na Segunda Instância.
9) Se também na Segunda Instância o matrimônio for declarado nulo, então, sim, é
comunicado às partes que poderão casar pelo religioso, na Igreja, uma vez que o
primeiro casamento foi inválido.

10) Se na Primeira Instância for declarado nulo e na segunda Instância for


declarado válido. Então, vai para a Terceira Instância, que é a Rota romana, em
Roma. A decisão da Rota é a definitiva. Para que o demandante e a demandada
possam casar novamente, são necessárias duas sentenças conformes a favor da
nulidade, isto é, dois Tribunais devem declarar a nulidade do matrimônio.

ENDEREÇOS:

TRIBUNAL ECLESIÁSTICO INTERDIOCESANO DE BOTUCATU


Rua Dom José Lázaro Neves, 414
19814-391 – Assis – SP
Fone: (18) 3322-5202
tribunaldebotucat@id.com.br

MARCAR ENTEVISTA COM O PE. BETO AS QUARTAS-FEIRAS NA CÚRIA


DIOCESANA DE LINS

Pe. Beto – 4ª. feira


CÚRIA DIOCESANA DE LINS
RUA 9 DE JULHO, 1010
16400-000 – LINS
Fone: (14) 3522-1622

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