Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
br
Introdução
A prescrição de oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) é
indubitavelmente o tratamento padrão para corrigir a hipoxemia crônica em
pacientes com doença pulmonar estável.
Estudos clássicos sobre ODP foram realizados em pacientes com doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mas portadores de outras pneumopatias
com hipoxemia crônica também se beneficiam com seu uso. Já se comprovou
que há aumento da sobrevida e melhora na qualidade de vida com a correta
utilização de ODP. Acredita-se que o aumento do fluxo sanguíneo para os
órgãos centrais decorrente da melhora na capacidade do exercício com o uso
de oxigênio contínuo durante esforços é a melhor explicação para a obtenção
destes benefícios.
A suplementação de oxigênio para pacientes com pneumopatia crônica
hipoxêmica se baseia no conceito de que a manutenção de um nível mínimo e
estável de oxigênio no sangue (PaO2 ≥ 60 mmHg) é imprescindível para uma
adequada homeostase orgânica.
Os principais efeitos benéficos da ODP no organismo são: diminuição do
trabalho ventilatório e melhora do metabolismo orgânico, com conseqüente
melhora das funções cardiovascular e muscular. O uso contínuo de ODP
também estabiliza as complicações sistêmicas da hipoxemia crônica, diminui
as internações, reverte a policitemia secundária a hipóxia, aumenta o peso
corporal, previne a descompensação da insuficiência cardíaca direita, melhora
o sono, o desempenho em testes neuropsicológicos e a capacidade de realizar
as atividades de vida diária.
Desta forma a ODP está indicada na insuficiência respiratória aguda e na
crônica decorrentes de várias pneumopatias crônicas hipoxêmicas, atualmente
denominadas de doenças pulmonares avançadas.
O termo doença pulmonar avançada (DPA) designa toda doença pulmonar
crônica não neoplásica, que determina uma constante limitação nas tarefas
rotineiras de vida diária em seus portadores. Os pacientes com DPA
usualmente possuem função pulmonar e trocas gasosas bastante reduzidas (o
1
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
2
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
pneumonia, mas que se salvou com este tratamento. Foi somente no início do
século XX que o uso de cateteres nasais foi introduzido como uma forma mais
viável de se administrar oxigenoterapia.
Em 1919, John S. Haldane publicou um artigo científico no British Medical
Journal no qual ele escreveu: “a anóxia parcial não somente abrevia a vida,
mas talvez determine um dano irreparável à estrutura humana”. Naquela época
Haldane prognosticou que provavelmente no futuro o oxigênio seria
rotineiramente usado em hospitais.
Alvan Barach foi o primeiro a prescrever oxigênio para o tratamento de
pneumonia bacteriana de forma sistemática. Foi ele quem modificou a tenda de
oxigênio originalmente inventada por Leonard Hill e que em 1958 desenvolveu
um sistema de oxigênio portátil, que consistia de um pequeno cilindro de
oxigênio recarregável, para ser usado durante exercícios e dar mobilidade aos
usuários de oxigênio (figura 1).
Figura 1. Desenho feito por Dr. Barach que enfatiza a importância do oxigênio portátil
3
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
4
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
5
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Figura 3. Volume dos prontuários antes e após o uso de oxigênio, durante intervalos
semelhantes de 18 meses.
6
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Figura 4. Comparação da sobrevida dos pacientes no estudo MRC com oxigênio 15 h/ dia (por
uma fonte estacionária) versus sem oxigênio.
Estudo Nocturnal Oxygen Therapy Trial (NOTT) - o estudo NOTT avaliou 203
pacientes em 6 centros médicos. O critério de inclusão foi: PaO2 ≤ 55 mmHg
após um período de estabilização da doença, no qual o tratamento
farmacológico era otimizado e os pacientes realizavam exercícios físicos
diariamente. Após este período 45 pacientes apresentaram melhora das trocas
gasosas e foram retirados do estudo. Alguns poucos pacientes que possuíam
PaO2 entre 55-59 mmHg entraram no estudo por terem apresentado
anteriormente sinais clínicos de cor pulmonale ou hematócrito ≥ 55%. Também
foram retirados quatro pacientes considerados muito graves e que não
poderiam ficar sem oxigênio no período inicial de estabilização. Outros critérios
de exclusão foram: presença de co-morbidades graves, recusa do paciente em
seguir o protocolo do estudo e residir longe do centro médico.
Os pacientes foram randomizados para receber oxigênio suplementar
somente noturno (NOT) usando uma fonte de oxigênio estacionária ou para
receber oxigênio contínuo (COT) usando uma fonte de oxigênio ambulatória ou
portátil.
7
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Figura 5. Sobrevida dos pacientes no estudo NOTT, no qual as “24 horas de oxigênio” na
verdade foram equivalentes a uma média de 17,7 horas, com mediana de 19,4 horas. A média
do uso de oxigênio apenas noturno foi de 11,8 horas por uma fonte estacionária.
8
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
9
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
10
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
11
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
matriz pode ser trocado a cada 10 dias, pois cada litro de oxigênio líquido se
transforma em 863 litros de oxigênio gasoso. O seu custo é mais barato do que
o custo dos cilindros, aproximadamente menos da metade para o consumidor
individual, considerando-se um uso contínuo com fluxo equivalente nos dois
sistemas por 24 h/dia.
12
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Umidificação
Referências Bibliográficas
1. Barach AL: Historical background. Symposium on inhalation therapy.
Anesthesiology 1962; 23: 407-421.
2. Petty TL, Burtis BB, Bigelow DB: Oxygen, an important pharmacologic agent
(review). Rocky Mtn Med J 1967; 64: 66-71.
3. Encyclopedia Britannica. Joseph Priestley. 1967; 9:696-697.
4. Foreword: a new kind of special issue. Respir Care 1986; 31: 761-763.
5. Sackner MA. A history of oxygen usage in chronic obstructive pulmonary
disease. Am Rev Respir Dis 1974; 110:25-34.
6. Haldane JS; Symptoms, causes, and prevention of anoxemia. British Med J.
1919: 65-72.
7. Hill L: A simple oxygen bed tent and its use in a case of edema and chronic
ulcer of the lung. Proceedings of Physiological Society. J Physiol 1921; 55:
20-21.
8. Barach AL: The therapeutic use of oxygen. JAMA 1922; 79:693-699.
9. Cotes JE, Gilson JC: Effect of oxygen in exercise ability in chronic
respiratory insufficiency: use of a portable apparatus. Lancet 1956; 1: 822-
826.
10. Levine BE, Bigelow DB, Hamstra RD et al.: The role of long-term continuous
oxygen administration in patients with chronic airway obstruction with
hypoxemia. Ann Intern Med 1967; 66: 639-650.
11. Petty TL: Historical highlights of long term oxygen. Resp Care 2000; 45: 29-
36.
12. Abraham AS, Cole RB, Bishop JM: Reversal of pulmonary hypertension by
prolonged oxygen administration to patients with chronic bronchitis. Circ Res
1968; 23: 147-157.
13. Petty TL, Finigan MM: Clinical evaluation of prolonged ambulatory oxygen
therapy in chronic airway obstruction. Am J Med 1968; 45: 242-252.
13
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
14. Stark RD, Finnegan P, Bishop JM: Daily requirement of oxygen to reverse
pulmonary hypertension in patients with chronic bronchitis. Br Med J 1972;
3: 724-728.
15. Stark RD, Finnegan P, Bishop JM: Long-term domiciliary oxygen in chronic
bronchitis with pulmonary hypertension. Br Med J 1973; 3:467-470.
16. Neff TA, Petty TL: Long-term continuous oxygen therapy in chronic airway
obstruction: mortality in relationship to cor pulmonale, hypoxia, and
hypercapnia. Ann Intern Med 1970; 72:621-626.
17. Long term domiciliary oxygen therapy in chronic hypoxic cor pulmonale
complicating chronic bronchitis and emphysema. Report of the Medical
Research Council Working Party. Lancet 1981; 1(8222): 681-686).
18. Continuous or nocturnal oxygen therapy in hypoxemic chronic obstructive
lung disease: a clinical trial. Nocturnal Oxygen Therapy Trial Group. Ann
Intern Med 1980; 93: 391-398.
19. Timms RM, Kvale PA, Anthonisen NR, et al: Selection of patients with
chronic obstructive pulmonary disease for long-term oxygen therapy. JAMA
1981; 245: 2514-2515.
20. Krop HD, Block AJ, Cohen e: Neuropsychologic effects of continuous
oxygen therapy in chronic obstructive pulmonary disease. Chest 1973;
64:371-322.
21. Grant I, Heaton RK, McSweeny AJ, et al: Psychologic effects of continuous
and nocturnal oxygen therapy in hypoxemic chronic obstructive pulmonary
disease. Arch Intern Med 1983; 143: 1941-1947.
22. Pauwels RA, Buist AS, Calverly PM, Jenkins, Hurd SS. Global strategy for
the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary
disease. NHLBI/WHO Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease
(GOLD) Workshop summary. Am J Resp Crit Care Med 2001; 163:1256-
1276.
23. Jardim JR, Oliveira JA, Nascimento O. II Consenso Brasileiro de DPOC /
SBPT. J Bras Pneumol 2004; 30: S1-S42.
24. Viegas CAA, Adde FV, Paschoal IA, Godoy I, Machado MCLO. I Consenso
Brasileiro de Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada / SBPT- J Pneumologia,
2000; 26: 341-350.
14
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Autora
Maria Christina Lombardi de Oliveira Machado
• Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
• Coordenadora dos Ambulatórios de Doença Pulmonar Avançada da
Disciplina de Pneumologia da Unifesp e do Hospital do Servidor Público
Estadual de São Paulo.
• Coordenadora da Comissão de Doença Pulmonar Avançada da Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
15
Temas em revisão. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. sbpt.org.br
Dá mobilidade ao paciente,
É uma fonte estacionária
mas necessita de outra fonte estacionária
16