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O Erro de Canudos

Um movimento de cunho religioso e político surgido no sertão da Bahia em


meados de 1893 ganha da imprensa da época ares e porte de inimigo da recém
proclamada República. E culmina, em 1897, no que poderíamos chamar de o mais
violento e injusto confronto da História do Brasil: A Guerra de Canudos. Euclides da
Cunha, em Os Sertões, descreve seu momento final: “Canudos não se rendeu. Exemplo
único em toda história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palma,
na precisão integral do termo, caiu no dia cinco, ao entardecer, quando caíram seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens
feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”
O arraial de Canudos nasce em 1893, uma época em que o Brasil passava por
uma transição político-ideológica. Após cinco anos da abolição da escravatura e quatro
anos do fim do Império e Proclamação da República, o país buscava se integrar à nova
ordem mundial de economia capitalista e industrialização, mas ainda estava preso ao
modelo de economia rural do período monárquico. O sertão nordestino, onde se
localizava Canudos, sofria com a seca e com o desemprego. A população, vivendo em
condições precárias e de crescente pobreza, tinha nos líderes religiosos sua única
esperança. Característica relevante do catolicismo popular brasileiro herdada do
catolicismo português, viviam o messianismo: crença de que um salvador viria para
colocar fim à vida de miséria e estabelecer um tempo de plena felicidade.
Nesse contexto, Antônio Conselheiro, um beato que percorria o sertão
nordestino pregando o catolicismo e dirigindo críticas ao governo, funda, em 1893, o
povoado de Belo Monte. Povoado localizado no interior da Bahia, às margens do rio
Vaza Barris e que, mais tarde, ficou conhecido como Canudos. O povoado surge como
uma alternativa de sobrevivência da população aos problemas econômicos, políticos e
sociais. Milhares de pessoas, em geral, sertanejos pobres e escravos recém-libertos,
seguiam para Canudos, onde não havia cobrança de impostos e onde podiam encontrar
trabalho para garantir sua sobrevivência. Sob a liderança política e religiosa de Antônio
Conselheiro, o arraial de Canudos chegou a possuir a segunda maior população da
Bahia. Cerca de trinta e cinco mil habitantes alojados em casas desordenadamente
distribuídas em torno de sua única rua. Rua que começava na igreja onde Antônio
Conselheiro pregava contra a excessiva cobrança de impostos, o casamento civil e a
separação entre Igreja e Estado. Que eram nada mais que as recentes medidas que
surgiram com a República. O crescimento de Canudos incomodava a Igreja Católica e
as oligarquias locais. A Igreja perdia seus fiéis e os latifundiários perdiam sua mão-de-
obra explorada para o lugar onde não pesava o jugo de um trabalho que só havia
deixado de ser escravista no papel. Canudos poderia ser o primeiro de vários povoados
que poderiam surgir com os mesmos ideais e, por isso, precisava ser exterminado.

Euclides da Cunha, famoso por seus artigos políticos, e que já nos tempos do Império
criticava o Imperador e defendia a necessidade de revolução política, foi convidado pelo
Ministro da Guerra para ser correspondente oficial do conflito que começou em
novembro de 1896 por um motivo banal e injusto na região de Canudos. Em março e
julho de 1987, respectivamente, publica em O Estado de São Paulo dois artigos
intitulados ‘A Nossa Vendéia’, e mexe com o imaginário de uma população que
desconhecia a realidade do sertão e via o Nordeste como sinônimo de atraso e barbárie.
O movimento religioso de sertanejos pobres, o arraial de Canudos, tendo por
confundida a sua motivação inicial, torna-se aos olhos da população das grandes
capitais, um perigo nacional. Antonio Conselheiro é visto como monarquista e anti-
republicano. Os artigos de Euclides da Cunha revelam, pela maneira com que o
sertanejo é tratado, com quem o Governo acreditou estar lutando: contra a restauração
monárquica. A começar pelo título, que comparava Canudos à Vendéia, rebelião
camponesa, monarquista e católica, ocorrida da Revolução Francesa, de 1793 a 1795.
No primeiro artigo, já se podia perceber a disposição com que Canudos seria
enfrentado: “Este paralelo será, porém, levado às últimas conseqüências. A República
sairá triunfante dessa última prova.”

Por conseqüência de um carregamento de madeira comprado por Conselheiro na cidade


de Juazeiro e não entregue, espalhou-se a notícia de que os habitantes de Canudos
pretendiam invadir Juazeiro para tomar o que lhes era devido. Temendo o conflito, o
presidente da Bahia envia uma tropa de cem homens a Canudos com a intenção de
reprimir os seguidores de Conselheiro. Estes, para se defenderem, resolvem atacar de
surpresa a tropa que, àquele momento, estava acampada no povoado de Uauá, entre
Canudos e Juazeiro. Tinha, então, início a Guerra de Canudos. Derrotado num primeiro
momento, o governo da Bahia pediu ajuda ao Exército Brasileiro afirmando num
relatório que um sujeito perigoso pregava idéias subversivas ao Estado Republicano. O
Exército organiza, a partir daí, uma seqüência de quatro expedições a Canudos. Foram
derrotados nas três primeiras, sendo a terceira considerada a maior derrota sofrida pelo
Exército até então. A população estava aterrorizada diante da vitória dos fanáticos
supostamente monarquistas de Canudos. Apesar do grande aparato de artilharia, os
soldados do Exército encontravam dificuldades por não conhecerem e não estarem
devidamente preparados para o confronto no sertão. A quarta expedição, porém, teria
um desfecho diferente. Já havia se tornado uma questão de honra. Quatro mil soldados,
quatrocentos oficiais de todo o Brasil, dois generais e o próprio Ministro da Guerra se
empenharam arduamente durante quatro meses, de junho a setembro de 1897, até
derrotarem Canudos, precisando receber o reforço de cinco mil soldados na metade
desse tempo. Em vinte e dois de setembro morria o maior inimigo da República,
Antonio Conselheiro. Na tarde de cinco de outubro, a última trincheira de canudos
resistia sob a proteção de seus quatro defensores ainda vivos: um negro, um caboclo,
um velho e um jovem de dezesseis anos. A guerra havia terminado, mas o massacre
persistiria ainda um pouco mais. A ordem do Ministro da Guerra era de degolar os cerca
de mil sobreviventes sem poupar nem mulheres nem crianças, e destruir todas as casas
que restassem de pé para exterminar qualquer lembrança da comunidade dos sertanejos
de Canudos.
Os artigos de Euclides da Cunha, que escreveu como correspondente do jornal O
Estado de São Paulo, cobrindo a Guerra de Canudos, deram origem ao clássico da
Literatura Brasileira ‘Os Sertões’ após cinco anos do fim do conflito. O contato direto
que Euclides teve com o sertanejo, com suas condições físicas e seus ideais, acabaram
desmentindo o imaginário de bárbaro e monarquista criado injustamente em torno deste.
No livro, Euclides da Cunha abandona a idéia de rebelião monárquica e critica a
comparação de Canudos à Vendéia quando mostra que a rebelião dos seguidores de
Antonio Conselheiro era muito mais social e religiosa que política. E conclui que a
Guerra de Canudos foi um erro, devendo o governo ter mandado mestres-escolas ao
invés de soldados para educar a população que só necessitava ter sido integrada
dignamente ao Brasil.
Canudos foi a reação do sertanejo às condições precárias de vida e ao sistema
político repressor e excludente da República, que ainda engatinhava em se tratar de
democracia. Foi a única alternativa que aquele povo encontrou para solucionar o
problema social em que, sequer sabiam estar inseridos. Para tentar transformar a
realidade, se apegaram à religião. Mario Vargas Llosa, em um artigo de 1993 sobre a
Guerra de Canudos diz que “os jagunços eram gente muito primitiva (...) e, ao menos,
explica que confundissem a República com o diabo. Mas, que os republicanos, gente
que representava o Brasil mais ocidentalizado, confundisse um movimento campesino
de tipo religioso com um uma conspiração anti-republicana dos monárquicos, dos
latifundiários, ou da Inglaterra, foi muito mais grave(...)”

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