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I. Análise Paradigmática
1. Segmentação
2. Quadro de Segmentação
I. Análise Paradigmática
1. Segmentação: separação dos elementos básicos que compõem
determinada obra musical
2. Quadro de Segmentação: organização desses elementos básicos em um
quadro que demonstra correspondências existentes entre eles
primeiro tema (c. 6-56), a outro tipo, no segundo tema, em que é trabalhado
como o baixo de acompanhamento (c. 63-93).
d) sentido: é a significação que determinada proposição pode assumir, isto
é, seu conteúdo semântico ou aquilo que comunica, que se pode entender de
determinado trecho musical. Este campo da análise está mais ligado aos estudos
semânticos da música vocal (óperas, cantatas, canções, etc.) do que da música
instrumental. Mesmo assim, há várias peças instrumentais em que se pode
perceber claramente a intenção de comunicar um sentido extramusical1, como As
Quatro Estações, de Vivaldi, ou a Sinfonia Fantástica, de Berlioz. Esta é uma
área da análise que tem interessado mais aos semiólogos europeus do que norte-
americanos. Nas últimas décadas, têm-se desenvolvido os estudos de retórica
musical, com atenção especial para a retórica da música barroca e a Teoria dos
Afetos, devido à grande quantidade de estudos de músicos e teóricos dos séc.
XVII e XVIII sobre o assunto.
e) nível: é a camada da estrutura a que cada elemento pertence. Na
música tradicional, podemos dividir as camadas da estrutura musical, da menor à
maior unidade, em: inciso, semifrase, frase, período simples, período composto,
seção, parte, movimento (em certas peças, alguns desses elementos podem ser
coincidentes). Alguns autores preferem usar termos menos carregados de
historicidade, como estrutura de primeiro nível, estrutura de segundo nível, etc.;
ou, ainda, estrutura de superfície, estrutura de nível intermediário, estrutura de
profundidade, etc.
2. Lista Fisionômica: é uma espécie de catalogação das características
essenciais de cada um dos elementos básicos constitutivos de determinada obra
musical, conforme as propriedades da composição (ritmo, melodia, harmonia,
contraponto, etc.). Em geral, são criados símbolos específicos para designar cada
uma dessas propriedades. Por exemplo, o aspecto melódico (distribuição das
notas) do primeiro motivo da Sinfonia Nº 5, de Beethoven, poderia ser
catalogado como 3NR/-4 (3NR: 3 notas repetidas; -4: salto descendente de
quatro semitons).
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Leonard Meyer, no seu livro Music, Arts and Ideas, distingue dois tipos de significado musical: 1.
o significado designativo – aquele que possui um caráter simbólico, onde o significante é
diferente do significado, isto é, a música refere-se a algo que está fora dela, é representativa e
descritiva; 2. o significado incorporado – onde o significante confunde-se com o significado,
refere-se aos elementos sintáticos e formais da linguagem musical, à sua organização em frases e
seções e à sua estrutura interna.
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I. Análise Paradigmática
1. Segmentação
A segmentação consiste em destacar cada um dos elementos que
compõem a melodia do hino japonês, conforme exemplificado abaixo.
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A nota si pode ser explicada como transposição, de duas maneiras: 1. surge pela transposição do
motivo cadencial (solÌmiÌré, c. 1; réÌsiÌlá, c. 4); 2. surge por transposição de escala, já que a
escala pentatônica que deu origem à melodia (ré-mi-sol-lá-dó-ré), incorpora a nota si quando
transposta à quinta superior (lá-si-ré-mi-sol). A técnica de transposição de escala é um método
de composição comum, há muitos séculos, na música do Extremo Oriente.
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Os intervalos de terça menor (mi-sol e lá-dó) não são considerados saltos, mas graus conjuntos,
nesta escala pentatônica, já que seguem a seqüência das notas da escala, sem saltar nenhuma
delas (ré-mi-sol-lá-dó-ré). Assim como as escalas diatônicas ocidentais possuem dois tipos de
intervalo (meio-tom e tom), também são utilizados dois tipos de intervalo para a construção de
escalas pentatônicas orientais (tom e tom-e-meio). Por isso, o intervalo de tom-e-meio (grafado,
em nossa notação musical, como 3ªm) pode ser considerado como grau conjunto.
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2. Quadro de Segmentação
1. Relações Sintagmáticas
a) linearidade
A linearidade já está anotada na partitura original e pode ser identificada
pela leitura do exemplo anterior, da esquerda à direita e de cima para baixo.
b) função
As funções estruturais podem ser identificadas da seguinte forma (os
termos que indicam as funções estão marcados em negrito):
⇒ Motivo de Impulso (réÌdóÊré): tem função de impulso inicial
⇒ Motivo Cadencial (solÌmiÌré): tem função de conclusão, pois
conclui o primeiro grupo frásico e o final da melodia
⇒ Motivo contrastante (miÊsolÌré, c. 8): tem função de contraste
⇒ Movimento escalar ascendente-descendente (c. 3-5, 7-8 e 9-10):
tem função de elaboração melódica, através de
⇒ expansão da melodia em toda a extensão da escala (c. 3-4) e de
⇒ variação dos elementos básicos (c. 7; c. 9-10)
c) tipo
O Motivo de Impulso pertence a diferentes categorias, pois contém
características distintas e qualidades específicas, em cada vez que aparece.
No c. 1, a bordadura está escrita na oitava mais grave da melodia; no c. 6,
é transposta à oitava superior; no c. 3 e no c. 7, aparece como bordadura
superior no interior de segmentos melódicos mais amplos, sendo transposta à
quarta superior (solÊláÌsol); no c. 3 e nos c. 10-11, aparece como bordadura
inferior no interior de segmentos melódicos mais amplos, sendo transposta à
quinta superior (láÌsolÊlá).
As transformações da bordadura, suas transposições, sua posição em
contextos distintos e as diversas funções que cumpre no decorrer da melodia
(impulso, expansão, variação) fazem com que ela pertença a diferentes tipos
sintagmáticos. Por isso, a bordadura é o elemento melódico mais importante do
hino.
Ao contrário, o motivo contrastante aparece apenas uma vez, de uma
forma específica e com uma única função, ou seja, não sofre transformações
nem cumpre diferentes funções. Por isso, apresenta-se como somente um tipo
sintagmático.
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d) sentido
Em geral, há dois tipos de análise, quanto ao sentido musical: o estudo de
sentido designativo e de sentido incorporado.
Autores que se dedicam ao estudo de sentido designativo preferem
analisar peças compostas com base em alguma espécie de texto (ópera, canção,
música programática, etc.), pois o entendimento do sentido musical se dá
através das correspondências que podem ser percebidas na interação entre
música e literatura. Também é possível buscar correspondências entre música e
outras artes, como artes visuais, cinema, teatro ou dança. Em todos esses casos,
é necessário buscar referências sobre as intenções denotativas do compositor ou
analisar correspondências diretas ou explícitas entre as diferentes artes.
A análise do sentido incorporado faz coincidir o significado musical com
seus elementos constitutivos, isto é, neste campo da análise, entende-se que o
significado musical está nas inter-relações entre os sons e suas qualidades
psicoacústicas. Um exemplo simples disso seria a conotação que geralmente se
faz ao considerar o acorde de tônica como um ponto de repouso, a subdominante
como afastamento desse estado de inação e a dominante como um acúmulo de
tensão que exige resolução. Essas metáforas fazem coincidir elementos
psicoacústicos com significações emocionais e seu uso corrente tem criado
sentido musical na música tonal.
O hino japonês tem sua origem em cerca de 905 d.C. Sua letra, Kimi ga yo
(título traduzido por: Reino Imperial), faz parte do Kokinwakashu, o mais antigo
livro de canções da história japonesa. Trata-se de um poema waka de autor
anônimo do Período Heian4 (794-1185). Waka, que significa ‘poesia’ em japonês,
é considerado o primeiro tipo de poema autêntico do Japão, diferente dos estilos
importados da China. A poesia waka tem origem aristoccrática e contém 31
sílabas, em seis versos.
Em 1869, oficiais militares escolheram o poema Kimi ga yo como hino
nacional do Japão. Inicialmente, a música foi encomendada ao inglês John
William Fenton. Por ter origem estrangeira, a melodia de Fenton foi abandonada
em 1876. A melodia atual foi composta em 1880, pelo japonês Hiromori Hayashi.
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Período Heian significa Período da Paz.
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e) nível
Um dos métodos mais comuns de segmentação da música em níveis, no
aspecto melódico, é a análise fraseológica.
Naturalmente, não seria apropriado realizar uma análise melódica com
base nos conceitos da fraseologia clássica européia, como inciso, frase conclusiva
e suspensiva, quadratura, período paralelo, etc. Por isso, vamos usar termos mais
neutros, como: elemento melódico, grupo melódico, segmento melódico, etc.
Já vimos que há dois elementos melódicos básicos, na constituição da
melodia, o motivo de impulso e o motivo cadencial. Além desses dois elementos,
há um terceiro, no c. 8, que cumpre função de contraste, pois ocorre somente
neste ponto.
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Geralmente, na análise de música vocal com texto, um bom critério de segmentação da música
em diferentes níveis seria partir da divisão já existente no texto.
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2. Lista Fisionômica
Após os diferentes tipos de análise realizados, torna-se uma tarefa simples
apresentar a lista fisionômica, pois já elucidamos os aspectos mais importantes
da melodia do hino japonês.
Legenda:
E = elemento
Im = impulso
Cd = candencial
Ct = contrastante
El = Elaboração
Mt = movimento melódico
A = ascendente
D = descendente
GC = graus conjuntos
St = salto
Numerais arábicos (2, 3, 4, etc.) = intervalos de 2ª, 3ª, 4ª, etc.
M = intervalo maior
m = intervalo menor
J = intervalo justo
B = bordadura
I = inferior
S = superior