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FACULDADE INTERATIVA - COC

Curso de Letras

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Carrasco Bonito/TO
Dezembro/ 2010
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O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Amilton Chagas dos Santos


José Carlos de Souza
Maria Auxiliadora Chagas dos Santos
Leide Pereira Almeida

Curso de Licenciatura em Letras/Inglês


Pólo Carrasco Bonito-TO/Projeto Girassol
Orientador (a): Andréia Bernadinelli

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a grande diversidade linguística que compõe o nosso
idioma, sabendo que cada região do nosso país, cada grupo social ou etário tem seu jeito
peculiar no que diz respeito à fala. A essas particularidades chamamos de dialetos, e a norma
culta, que também é uma variante de prestígio social embora não deva ser colocada como a
forma correta em detrimento das demais maneiras de falar, tem o seu valor, quando
empregada em um contexto adequado. Assim haverá situações nas quais precisaremos acionar
na prática, conhecimentos sobre a norma padrão da língua. Daí a sua importância, nessa
oportunidade, refletiremos ainda sobre o preconceito infundado contra essas variedades
dialéticas. Para isso, nessa investigação foi utilizado como fontes: livros, documentos e
entrevista com pessoas oriundas de regiões, classe social e nível de escolaridade diferentes.
Os resultados apontam que a falta de conhecimento sobre o processo de formação da língua
portuguesa falada no Brasil é a principal causa desse preconceito e embora a solução para essa
problemática venha a longo prazo, é necessário urgentemente haver um investimento por
parte do governo em informação da sociedade por meio da mídia e sobretudo das escolas
desde as séries iniciais.

Palavras-chave: diversidade, linguística, diferença, preconceito.


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1. INTRODUÇÃO

A discriminação lingüística na sociedade em geral é objeto de reflexão deste trabalho


que partiu da indagação: Quais as causas do preconceito lingüístico no Brasil?
Este estudo, alinhado pelo objetivo de refletir sobre as causas que levam muitas
pessoas a serem tão preconceituosas, permitiu que se voltasse a uma questão muito
preocupante. Essa situação vem se perenizando em nossa sociedade e merece mais atenção. A
intenção é buscar respostas para as hipóteses levantadas sobre a falta de conscientização e
conhecimento da língua materna, o que se julga ser o fator gerador do preconceito contra as
diferenças linguísticas.
O presente trabalho partiu de uma pesquisa bibliográfica e de campo realizada com
pessoas oriundas de diferentes regiões, classes sociais e nível de escolaridade distintos, a fim
de analisar o impacto da problemática em questão no contexto da sociedade em geral,
sobretudo nas escolas, haja vista, os prejuízos para o resultado do desempenho escolar que o
preconceito acarreta para aqueles que são vítimas desse tipo de violência, podendo isso levar
o indivíduo/vítima a uma auto-exclusão, quer seja na escola, ou em qualquer outra esfera da
sociedade.
Assim, refletiremos sobre o caráter plurilinguístico de nosso idioma, passando pela
norma culta que também é uma variante linguística e tem o seu prestígio é claro! Porém, não é
superior nem inferior a nenhuma outra variedade, culminando numa viagem sobre a mitologia
do preconceito linguístico, a fim de desconstruirmos esse pensamento arcaico arraigado em
nossa sociedade a tanto tempo.
No entanto, vale lembrar que, não podemos perder de vista o fato de que o domínio da
norma culta é quase inacessível à maioria dos brasileiros, o que acaba criando uma espécie de
segregação em nossa sociedade.
Refletir sobre o preconceito linguístico, descobrindo formas de amenizá-lo, constitui-
se um exercício necessário a todo educador.
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2. A NORMA CULTA

Há quem diga que o domínio da norma culta é sinônimo de ascensão social. Puro
preconceito! Parafraseando Bagno, (1999) “...se o domínio da norma culta fosse realmente um
instrumento de ascensão social os professores de Língua Portuguesa fariam parte da elite do
nosso país...” (p.69).
Para Bagno, (1999) o grande problema é que até hoje, mesmo depois de
aproximadamente dois séculos de sua independência política do Brasil, o ensino continua
preso a norma lingüística de Portugal. (p.26)
De fato, o problema está na cabeça das pessoas, herança cultural dos conquistadores
portugueses quando impuseram a língua portuguesa em detrimento das línguas nativas aqui
existentes, como o tupi, por exemplo, e em alguns veículos de comunicação¹ que a cada dia,
ainda que de forma discreta, tem alimentado a preconceituosa ideia de que há uma língua
superior a todas as outras. A respeito dessa última afirmação Bagno, (1999) afirma:
...o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas
de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais
que pretendem ensinar o que é “certo” ou “errado” sem falar é claro, nos
instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os
livros didáticos. (p.13)

A norma culta é a norma padrão, aquela baseada na gramática normativa e de acordo


com Bagno, (1999) está tradicionalmente vinculada à escrita e à norma literária. (p107) Logo
está presente nos documentos oficias, bem como nos jornais escritos e falados. Porém adverte
que a norma culta é algo reservado a poucas pessoas no Brasil. (p. 105)
Em sua obra A Norma Oculta, (2003) o mesmo autor enfatiza que as pessoas vêem a
norma culta como algo intransponível quase que inacessível na inserção do indivíduo no
grupo dos que tem vez e voz. Segundo ele, não bastaria o domínio da norma padrão para ser
aceito na sociedade. O problema é a cor da pele, o sexo, modo de falar, de vestir, etc. (p. 191)
Entendemos, portanto, que a questão do preconceito linguístico é contra as diferenças
e não contra a língua propriamente. É como o próprio autor (1999) afirma: O preconceito é
social. (p. 43)
Na realidade a norma culta é linda e maravilhosa e deve ser usada no momento
adequado bem como as demais variantes linguísticas; é uma opção a mais dos usuários da
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1- Anovela da Rede Globo Senhora do Destino de Agnaldo Silva exibida em 2004/2005 no horário nobre, Maria do Carmo
interpretada por Suzana Vieira, é um exemplo disso, bem como as novelas da Rede Globo em que os personagens
nordestinos ou caipiras são apresentados como atrapalhados e ignorantes.
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língua. Se o ambiente de interação exige uma formalidade, o locutor deve-se dispor da norma
culta, por exemplo, uma palestra, apresentação de trabalhos escolares, entrevistas para um
emprego formal etc. No entanto, quando se está em casa com a família ou em momentos de
lazer com os amigos não é necessário se preocupar com a formalidade, a linguagem
apropriada tende a ser mais descontraída, espontânea e coloquial. Quanto maior o domínio
das variedades, maior será o êxito na comunicação, pois o mais importante é a compreensão
da fala por parte dos interlocutores. Quem não conhece o texto A Lenda de Rui Barbosa de
Eduardo Teatera, (2007): Diz a história que certo dia ao chegar à sua chácara, se deparou com
um ladrão que levava seus patos e ao abordar o meliante que vivia à margem da sociedade,
talvez nunca tivesse tido oportunidade de freqüentar uma escola, utiliza uma linguagem
incompreensível na repreensão ao seu interlocutor que cheio de dúvida pergunta: Dotô, eu
levo ou deixo os patos?
O suposto Rui Barbosa utilizou a linguagem inadequada para a situação, uma vez que
o objetivo da interação oral é que haja compreensão por parte de seus sujeitos, se tornando
incompreensível ao seu interlocutor. Ainda se pode observar nessa história, um grande choque
cultural – de um lado, um cidadão hiperculto, participante da política e dos bens culturais e do
outro, um excluído, vivendo à margem da sociedade. Nesse caso, a interação de fato, foi
bastante comprometida.

3. AS VARIANTES LINGUÍSTICAS
Para início de conversa é pertinente dizer que, variantes lingüísticas são as distintas
maneiras de falar uma mesma língua. Assim basta observarmos o modo de falar de um nordes
tino e de um gaúcho, de um carioca e de um mineiro por exemplo, veremos que cada região
ou estado tem suas características peculiares no que diz respeito a fala. É o oxente do
nordestino, o tchê do gaúcho, o uai do mineiro, sem falar do léxico e a fonética que varia de
região para região.
Os PCN’S (Parâmetros Curriculares Nacionais) de terceiro e quarto ciclos,
publicados pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1998, dizem:
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis.
Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação
normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de
uma unidade que se constitui de muitas variedades. (p. 29)

O Brasil é um país plurilinguístico; quanto a isso, não há dúvida. O português, que


aqui se fala hoje, é consequência da contribuição dos portugueses na época do descobrimento,
dos indígenas que aqui viviam, dos negros africanos que foram trazidos como escravos e
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posteriormente dos imigrantes europeus². Mas como isso foi possível? A língua portuguesa
ao entrar em contato com as línguas desses povos, foi de certa forma influenciada, por
exemplo, hoje temos em nosso vocabulário palavras de origem indígenas: banana, abacaxi,
canoa, ; africanas: caximbo, maxixe, macumba; italiana: bandolim, cascata, muçarela; alemã:
pizza, blitz, díesel etc.
A esse respeito expressou Henrique Suguri³, (1999) - apud Bagno, (1999) que o
“Brasil hoje não é europeu, africano, asiático, indígena. Nós somos a mistura exata de tudo
isso, completamente diferentes das nossas origens, únicos.” (P.27)
Esses grupos, com suas contribuições culturais inclusive a língua, foram se infiltrando
e se propagando nas regiões do Brasil. O resultado foi essa grande diversidade dialética que
hoje se pode contemplar.
A respeito disso o módulo 4.1 Língua Homem e Sociedade do curso de letras da
Faculdade Interativa COC, (2009) afirma que: “a língua portuguesa trazida pelos
colonizadores foi-se propagando em variação e sofrendo influências sobre os falares
indígenas, a partir dos pólos Pernambuco e Bahia, os mais antigos propagadores e fixadores
desta língua européia na terra de pau-brasil.”(p.116)
O resultado foi essa grande diversidade dialética que hoje se pode contemplar. Assim
podemos dizer que falamos o idioma brasileiro.
De acordo com o site wikipédia (variação linguística), essas variações são basicamente
de ordem geográfica, histórica e social, etc.
Variação geográfica: Do ponto de vista geográfico, a mesma língua pode sofrer
modificações tanto no aspecto léxico e semântico, quanto no fonético e sintático, dependendo
da região ou país, como é o caso do português falado em Portugal. Localizado na Europa,
Portugal foi influenciado por outras culturas, graças a isso, há certas diferenças no modo de
falar em relação ao português falado no Brasil.
Este país, recebia sempre povos de todos os lugares do mundo. Seus portos eram rota
de comércio e de migrações. O contato com estrangeiros estimulava, no povo português,
linguagem de vários lugares4.
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2-Disponível no site wikipédia/Cultura do Brasil.


3-Henhique Suguri,17 anos, é autor de uma das melhores redações apresentadas ao vestibular da Universidade de São Paulo,
1999
.4- Módulo 4.1 do livro didático do curso de Letras da Faculdade Interativa / 2009 COC. P.120
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No Brasil, a língua varia de região para região: no Nordeste, por exemplo, usa-se
muitas palavras que são desconhecidas pelos sudestinos ou sulinos; cada região tem seu
próprio dialeto, seu próprio sotaque, fenômenos linguísticos que diferem de região para
região, mas, em se tratando de diferenças, elas não se restringem ao “contexto Brasil”. Sendo
assim, é pertinente traçar um paralelo entre o português falado no Brasil e o falado em
Portugal e observar que há uma variabilidade maior, sobretudo, no campo fonético. Sobre
esse assunto Lobato (1934)- apud Bagno (1999) escreveu: “... Também no modo de pronunciar
as palavras existem muitas variações. Aqui, todos dizem peito; lá, todos dizem [pái-tw], embora
escrevam a palavra da mesma maneira. Aqui se diz verão e lá se diz [v´rãw. ]” . (p.33)
Variação histórica: Do ponto de vista histórico, a língua sofre variações, porque é
viva e de caráter dinâmico, uma vez que, vocábulos, gírias são faladas em determinada época
e depois podem dar lugar a novas gírias e neologismos. Um exemplo disso é o pronome você
que corresponde à 2ª pessoa do singular, no passado já foi vossa mercê, vosmecê, vancê, o
que fica evidenciado nas novelas de época como A escrava Isaura, por exemplo. Atualmente
há uma tendência para a simplificação, pois é comum o uso de cê em vez de você.
Bagno, (1999), afirma: “toda língua viva é uma língua em decomposição, em
permanente transformação.” (p.117).
A esse respeito ainda, Lobato apud Bagno, (1999) expressa: “... uma língua não para
nunca. Evolui, isto é, muda sempre”. (p.32) Sendo assim, dificilmente uma pessoa mais idosa
compreenderia as gírias de um jovem de hoje, pois o português dos nossos antepassados é
diferente do que falamos hoje. A crônica: Retratos de Velho de Carlos Drummond de
Andrade a qual retrata a história de um avô ranzinza de 85 vivendo em casa de um e de outro
filho, nunca se entende com os filhos e netos, pois seus valores são diferentes de todos que ali
vivem ocorrendo, portanto, um conflito cultural entre gerações, inclusive no aspecto da fala
evidenciado no texto incorporado de vocábulos como: bandalho, mandriona, broto,
escaramuçar e etc, atualmente em desuso, respalda essa tese.
Variação social: Nessa perspectiva, o nível sócio-econômico de um indivíduo e seu
grau de escolaridade podem exercer influência sobre sua maneira de falar, gerando muitas
vezes, o chamado, preconceito lingüístico.
Além desses fatores, a língua, por ser um sistema aberto, oferece inúmeras
possibilidades de variação de uso. Há também os dialetos que são as variantes comuns a um
grupo social, a saber, os guetos dos morros e favelas das grandes metrópoles brasileiras que
acabam criando as suas gírias próprias - uma espécie de identidade dialética. Vale ressaltar,
portanto que, a variação social é oriunda de grupos menos favorecidos, mas que pode atingir a
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variação de maior prestígio. Se por um lado há os que gozam de fartura e prestígio na


sociedade, tendo acesso irrestrito aos bens culturais e de consumo como cinema, bons livros,
assinaturas de periódicos, melhores escolas, viagens, parques de diversão, etc. por outro, há os
marginalizados que talvez nunca tenham tido uma dessas oportunidades na vida. Para esses, o
que falta? Oportunidades! De freqüentar uma boa escola, ter um emprego, lazer e acima de
tudo, dignidade. Sendo assim, não há razão alguma para discriminarmos o modo como falam.
Parafraseando Soares, (1999), o preconceito leva tanto leigo como especialista a
atribuir superioridade a certos dialetos criando assim esteriótipos anaceitáveis. Concordando
com o pensamento de Bagno,(1999) a autora afirma que isso não se deve a razões lingüísticas,
e sim a razões sociais. Ou seja, o julgamento é sobre os falantes e não sobre a fala. (p.38-40)
Dentro desse fator de variação, há também, os idioletos que são as variantes de uso de
cada sujeito na situação concreta de interação de oralidade. Isso ocorre porque cada indivíduo
constrói ao longo da vida um vocabulário próprio e adquire consequentemente características
muito peculiares a partir da mistura de vários dialetos que constituem a sua fala.
Para entendermos melhor isso, Bagno, (1996) através de sua obra : A Língua de
Eulália nos permite uma viagem ao mundo da linguística e nos mostra que nem sempre um
modo diferente de falar o português é considerado um erro. O autor através dessa novela
sociolingüística explica a influência de outros idiomas sobre o nosso português-padrão que é
tido como correto, porém, só mais uma das variedades possíveis dentre tantas outras e que
formas consideradas erradas tem fundamento de fato, em outras línguas como na língua
indígena, por exemplo, podemos ver a construção “mim fazer” que no caso, é iniciada com
um pronome oblíquo, o que no português-padrão é inadmissível.
Enfim, Bagno enfatiza que o português é uma língua formada por várias outras línguas
e o maior preconceito apontado, enfatiza nessa obra, não são as diferenças lingüísticas e sim,
as diferenças sociais.

4. O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

O preconceito sobre a língua pode surgir tanto da parte de quem tem domínio da
norma culta quanto da parte daqueles chamados analfabetos funcionais5 ou analfabetos
absolutos.
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5- De acordo com Bagno, (1999) analfabetos funcionais são aquelas pessoas que freqüentam a escola por um período
insuficiente para desenvolver plenamente as habilidades de leitura e redação. (p.106)
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Sendo que esse último é mais grave e pode levar o indivíduo (vítima) desse ato rude a uma
exclusão maior na sociedade uma vez que esses indivíduos já são em tese, os menos
favorecidos e vivem à margem da sociedade, sem direito algum.
Esse disparate não ocorre apenas contra a fala de determinadas classes sociais, há
também o preconceito contra os sotaques de certas regiões como é o caso dos nordestinos que
frequentemente são retratados nas novelas televisivas como criaturas ignorantes e grotescas.
Com os humildes caipiras, o ataque preconceituoso vai mais além, certos veículos de
entretenimento chegam a tratá-los como loucas criaturas, motivo de escárnio.
Essa atitude infeliz é uma forma de exclusão e marginalização além de um desrespeito
para com as diferenças humanas. Ora, diferença não é sinônimo de deficiência; portanto,
alimentar essa ideia retrógrada nos dias atuais, é degradante.
Segundo Bagno (1999), o português que é falado pela maioria da população apresenta
um alto grau de diversidade e de variabilidade não somente pela extensão do país que gera as
diferenças regionais, sendo algumas delas vítimas de preconceito, mas, sobretudo, por causa
da trágica injustiça social. (P.16)
Afinal, qual a razão para o preconceito linguístico? E o que fazer para romper com o
mito da unidade linguística e de que só existe uma forma correta de falar? Ora, a causa pode
estar na falta de conscientização e ignorância de muitas pessoas, simultaneamente, e também
na falta de respeito às diferenças étnicas e socioeconômicas. Dessa forma, o preconceito pode
ocorrer involuntário ou intencionalmente, se por um lado o indivíduo que não teve acesso à
escolaridade e não foi conscientizado a esse respeito, pode cometer essa barbárie,
inconscientemente, por outro, há aqueles escolarizados que tem pleno conhecimento da língua
e dos direitos e deveres, porém, o praticam sem nenhum escrúpulo, deliberadamente.
É necessário que as pessoas entendam que não há uma maneira correta ou errada de
falar e sim saibam utilizar cada variante no momento certo.
Os PCN´s de terceiro e quarto ciclos, afirmam que: “ A questão não é de erro, mas de
adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada de linguagem” (p.31).
Para Bagno, (1999) há o mito de que o português mais bem falado é o de Portugal, por
isso se origina de um processo histórico jamais esquecido, desde a época do Brasil Colonial, e
isso reflete num complexo de inferioridade, infelizmente perdurado até os dias atuais. Tinha-
se, em mente, Portugal como um país “civilizado”, na verdade esse sentimento histórico de
dependência também acabou se arraigando na mente de muitos brasileiros, nesse sentido. Para
reforçar essa tese, Sérgio Nogueira Duarte, (1998) - apud Bagno, (1999) Diz:
“Sempre me perguntaram onde se fala o melhor português. Só pode ser em Portugal! Já viajei
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muito pelo Brasil e já estive em todas as regiões. Sinceramente, não sei onde se fala melhor.
Cada região tem suas qualidades e seus vícios de linguagem.” (p.20)
Bagno, (1999), afirma que essa história de dizer que o “brasileiro não sabe português”
e “só em Portugal se fala bem o português”. (p.23) trata-se de uma grande bobagem
transmitida de geração para geração. O brasileiro fala bem sim o português, a diferença é que
há nesse país uma peculiaridade que não ocorre em nenhuma outra região ou talvez em muitas
outras, as variações lingüísticas.
Nisso, pode se dizer que o Preconceito Lingüístico parte-se daqueles de concepções
ignorantes e não exitam para analisar as verdadeiras causas dessa variabilidade lingüística que
compõe a fala do povo brasileiro. É pertinente ainda, falar um pouco a respeito de pelo menos
um dos fenômenos fonéticos presentes na fala da maioria dos brasileiros e que é alvo desse
ciclo vicioso do preconceito lingüístico, o rotacismo.
Rotacismo é um fenômeno fonético que consiste em trocar o L por R, para planta se
diz pranta, para inglês se diz ingrês, por exemplo. As pessoas que falam assim geralmente são
vistas como pessoas ignorantes. Basta uma viagem ao passado na formação da língua
portuguesa para entender que esse fenômeno lingüístico era absolutamente normal, se não
fora assim, então, porque Luís de Camões, autor do maior clássico da Literatura Portuguesa,
“Os Lusíadas” (1572), não teria empregado nessa obra palavras como ingrês, pranta, pubricar
etc. Será que Camões era leigo, não dominava o português contemporâneo? Ou Seria um
louco? Pelo contrário! Ora, se na época de Camões se escrevia dessa forma, Sem dúvida
alguma se falava assim também. É claro que a língua que é cultura, é dinâmica como toda
cultura o é, está sempre se modificando e o que era correto para a época de Camões, hoje não
é mais, além disso, a escola está aí para ensinar a norma culta respeitando sempre as
diferenças, mas nada justifica o preconceito descabido sobre os diferentes modos de falar.
Portanto, é necessário que esse problema seja atacado de frente e que haja mais
discussões acerca do assunto de forma mais aberta nas escolas e na mídia é claro, com o
respaldo do estado que deve se preocupar mais com as leis do nosso país para que
efetivamente, possam valer a pena e antes de tudo, oferecer uma educação mais eficaz com
melhor qualidade à nossa sociedade desde as séries primárias
É claro que este trabalho não se encontra totalmente acabado, nem as discussões
tampouco, as sugestões nele apontadas, em função da complexidade do assunto. É maleável e
sujeito a futuras análises e reflexões.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretende-se aqui desarraigar esse mito, o qual tem perdurado por séculos em nossa
sociedade, atacando o mal pela raiz, através de ações políticas voltadas para essa questão,
criadas pelo estado em parceria com órgãos públicos, sobretudo, com as escolas, desde as
séries iniciais.
A orientação e o diálogo sobre essa problemática devem permear toda a prática
pedagógica. À medida que houver essa preocupação no âmbito das escolas, de conscientizar o
indivíduo desde a mais tenra idade, em relação às diferenças, sem sombra de dúvidas com as
próximas gerações teremos uma sociedade mais justa e menos preconceituosa.
O preconceito lingüístico não parte de uma única causa, e o principal fator que
alimenta essa ideia é a falta de conhecimento da grande variedade linguística em nosso país.
Esse problema precisa ser encarado com o intuito de desmistificar essa visão errônea de fazer
acepção do que é certo ou errado na língua.
De acordo com os PCN”s de terceiro e quarto ciclos, afirmam que: “ A questão não é
de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada de linguagem”(p.
31). Assim, não há forma certa ou errada de falar, mas é necessário utilizar a fala de acordo
com o contexto ou situação, exigida.
Portanto, é necessário que o estado, a escola e a sociedade em geral, unam as forças e
ataquemos essa problemática de frente, a fim de desmistificarmos e desconstruirmos o
chamado preconceito lingüístico. É necessário que as concepções a respeito do assunto sejam
repensadas a começar pelas as nossas próprias, assim poderemos pensar em uma mudança. Se
quisermos de fato, ser uma nação livre e mais independente, devemos aprender a conviver e
respeitar as diferenças. Afinal, é como diz Bagno, (1999) “diferença não é deficiência”. (p.29)
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REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico o que é, como se faz 13º edição. São Paulo:
Edições Loyola, 2002.

_______________. A Norma Oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo:


Parábola, 2003.

_______________. A Língua de Eulália. novela sociolingüística.15ª Ed. São Paulo:


Contexto,2006.

B823p BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua
portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. 106 p.

COC. Língua, Homem e Sociedade. Módulo 4.1. São Paulo: COC / segundo semestre 2009.

Disponível em: http://pt,wikipedia.org/wiki/culturadobrasil.Acesso em: 17 nov. 2010

Disponível em :http//pt.wikipédia/wik/variação-(linguística) acesso em: 20/11/2010.

MAGDA, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1999. p.38-43.

MICHAELS: moderno dicionário da Língua Portuguesa/


São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998 .

Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II. Língua Portuguesa: caderno de Teoria
e Prática 1 – TP1: Linguagem e Cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Básica, 2006.

TEATERA, Eduardo. A lenda de Rui Barbosa. Disponível em:


http://recantodasletras.Uol.com.br/crônicas/465588

www.estudeadistância.com.br.alunooline/AVA.Referênciadigitais.COC.
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ANEXOS

A Lenda de Rui Barbosa

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um ruído estranho vindo do
seu quintal. Chegando lá constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro
com seus amados patos disse-lhe:
_ O bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes
palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação,
levando os meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isto por necessidade, transijo, mas se
é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com
minha bengala fosfórica, bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto, que te
reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz: _ “Dotô, eu levo ou deixo os patos?”.

Retrato de Velho
Tem horror a criança. Solenemente, faz queixa do bisneto, que lhe sumiu com a palha
de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao
chegar a avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
No trocar de roupa, atira no chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, para
lavar. Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha, retira o que é seu, lava-o,
passa-o. Mal, naturalmente.
_ Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele
desperdice água.
Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde já se viu? Isso aqui é o
paraíso das criadas. A patroa acorda cedo para despertar a cozinheira. Ele se levanta mais
cedo ainda, e vai acordar a dona de casa:
_ Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
As empregadas regem contra tirania, despendem-se. E sem empregadas, sua presença
ainda é mais terrível.
As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de mal
súbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca – vergonha é
essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem é mais
virgem?
_ Vovô, o senhor é um monstro!
E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.
_ A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhor
deixa?
_ Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
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_ Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudo enquanto
é festa.
_ Papai, agente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
_ É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito é
guardá-lo por três meses e deixá-lo ir para outra casa, brigado. Mais três meses, e nova
mudança, nas mesmas condições. O velho é duro:
_ Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! – queixa-se ao sair. Mas
volta.
_ Descobri que paciência é uma forma de amor – diz-me uma das filhas, sorrindo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Retrato de Velho. In A bolsa & a vida. Rio de Janeiro,
1962. p. 207-209.

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