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Ecológico e Econológico

Participei recentemente de um Seminário sobre descentralização energética, no norte da


Alemanha, onde dois fatos me chamaram a atenção: a capacidade e a vontade dos europeus
em discutir, em conjunto, seus problemas internos e o dialogo entre dois pensamentos
distintos: o ecológico e o econológico, este a fusão de conceitos econômicos e ecológicos. O
verdadeiro “econológico” possui valores ecológicos reais, embora seja guiado por valores de
mercado. Já o falso “econológico” está mais para um “euconológico” do que para qualquer
outra coisa.

O seminário foi realizado em Oldenburg, no noroeste da Alemanha e, talvez por isso, as


discussões foram focadas para assuntos de interesse regional e, por extensão, da Europa como
um todo. Esse exemplo serviu para que eu pudesse compreender melhor as condições de
trabalho e estrutura de planejamento de longo prazo das políticas de energias renováveis na
Alemanha. Até onde meus olhos Brasileiros alcançam, percebe-se um amplo e salutar debate
entre Estado, centros do saber, indústria e sociedade.

Como um país devastado por duas guerras mundiais, ocupado por estrangeiros, que
dilapidaram, a beira do estupro, os recursos nacionais, pôde se desenvolver tanto em
relativamente tão pouco tempo? O caminho, sem dúvida, foi longo e árduo, exigindo muito
esforço, união e, certamente, perseverança. Depois daquele período, olhos, mãos e mentes se
uniram com um só propósito: a solução dos problemas domésticos.

A partir da década de 70, com a morte de muitos rios, o governo alemão foi pressionado por
amplos setores da sociedade, liderados pelos “ecológicos”, a solucionar tão grave situação.
Legislações foram aprovadas e, mais importante, as regras respeitadas. Num país onde sinal
de pedestre é respeitado, mesmo à noite e em rua absolutamente deserta, o difícil é não seguir
as regras. O malandro é malvisto.

A dependência externa de energia, de fontes como petróleo, gás e carvão, o custo crescente da
geração e, principalmente, a vontade política e o apoio da sociedade, impulsionaram, e o
fazem até hoje, a estruturação de um modelo de geração de energia, progressivamente
renovável. O pioneirismo tecnológico e industrial em diversos destes setores já obtém
resultados visíveis. Governo, indústria e universidades investem pesadamente em pesquisa,
para equacionar problemas específicos e localizados.

A EEG, desde 2000, estabelece preços fixos atrativos para venda de energia renovável,
geradas por produtores independentes, às concessionárias locais, que são obrigadas a comprar
a energia assim produzida. Em 2005, o preço médio pago aos 43,7 TWh injetados ao sistema
foi de 9,58 centavos de €/kWh. Segundo o governo alemão esse modelo elevou em 3% o
custo médio da energia elétrica domiciliar, hoje de 18,6 centavos de €/kWh. O programa, que
desde 2000 exigiu dispêndios de 2,4 bilhões de euros, resultou em economia de, pelo menos,
2,8 bilhões de euros em benefícios associados à não geração da energia convencional.

A EEG é um claríssimo exemplo de planejamento de longo prazo e apoio às tecnologias de


geração limpas, como biomassa, eólica, hidráulica, solar e geotérmica. Somente de energia
eólica (dos ventos) estão sendo instalados, aproximadamente, 2 GW por ano, além de 1 GW
de solar fotovoltaica e 500 MW de biomassa para geração de eletricidade.

A capacidade e o pioneirismo do Brasil na utilização de energias renováveis são indiscutíveis.


Falta, porém, abandonar os antigos modelos e concentrar esforços nos problemas locais,
desenvolver tecnologias próprias, pensar mais no futuro e, principalmente, ter mais vontade
política para sincronizar as políticas de planejamento com a efetiva implementação dos
investimentos. O cumprimento de metas e cronogramas precisa ser levado mais a sério neste
país.

O apagão de 2001 impulsionou a eficiência energética industrial e domiciliar, porém altos


investimos em geração térmica foram feitos, no calor dos acontecimentos. Corremos o risco
de um novo apagão caso não se diversifique a geração elétrica brasileira. Para isso, o apoio às
fontes renováveis e, principalmente, à geração privada descentralizada é de extrema
importância.

O Brasil certamente tem e terá mercado crescente para energias renováveis, sem contar as
grandes centrais hidrelétricas, cujos impactos ambientais merecem ser estudados com mais
profundidade, mas para isso devemos investir domesticamente. Temos, atualmente, condições
de promover muitas melhorias no setor energético, entre as quais:

Ampliação dos incentivos fiscais ao biodiesel, com o correspondente aumento do número de


culturas a serem beneficiadas nas regiões priorizadas, incentivando as nativas, de modo a
permitir o cumprimento dos prazos estabelecidos no Programa Nacional de Biodiesel.

Melhoria das condições contratuais para compra de energia co-gerada por bagaço,
aumentando, assim, as chances das pequenas usinas venderem seu excedente elétrico, com o
conseqüente aumento da produção nacional de álcool combustível.

Discussão de novo modelo de combustíveis para o setor de transportes, mais descentralizado.


Isso incluiria um programa de óleo vegetal in natura (OVN), com amplas possibilidades da
transformação do agricultor familiar em vendedor de produto com alto valor agregado. Os
benefícios podem ser maiores do que os que vêm sendo obtidos com o programa do biodiesel.

Estruturação e incentivo a programas de Biogás familiar, espelhado em modelos já utilizados


por Nepal, Camboja e Vietnã. Poderia utilizar-se o já instituído Pronaf como linha de crédito
social. Valorização do tratamento de resíduos, através de legislações apropriadas e novos
modelos de gestão, induzindo o aproveitamento de biogás gerado em aterros sanitários,
tratamento aeróbico ou anaeróbico dos resíduos orgânicos, entre outros benefícios. Embora o
ainda instável Protocolo de Kyoto tenha possibilitado investimentos nesta área, maior
atratividade ao uso do biogás e não a pura e simples queima como é feito hoje no tratamento
sanitário e de resíduos sólidos, facilitaria o surgimento de uma indústria nacional no setor,
diversificando as fontes de geração elétrica, melhorando as condições de saneamento básico e
reduzindo as pressões ambientais.

Promoção de campanhas para uso de coletores solares de baixo custo, a exemplo do Estado do
Paraná. Benefícios fiscais e/ou linhas de créditos especiais poderiam ser oferecidos a
construtoras que optassem por investir em energia solar. Proposição de alteração na lei de uso
e ocupação do solo incluindo o “direito ao sol no telhado”. O pico do sistema elétrico
agradeceria enormemente.

Temos, por outro lado, alguns avanços a serem destacados. A cláusula de nacionalização do
Proinfa é um exemplo claro de proteção e incentivo à indústria e ao investimento nacional na
área de energias renováveis. Se por um lado não queremos escancarar as portas e sofrer um
choque, por outro precisamos de mais incentivos governamentais para o fomento dessa
indústria doméstica. O atraso na implementação dos projetos do Proinfa me leva a refletir
sobre o fato de não termos um fabricante nacional de turbinas eólicas de alta potência e de
painéis fotovoltaicos, diga-se de passagem, capazes de competir no mercado externo. Outro
grande avanço poderia ser alcançado na eliminação, ou redução, do custo de transmissão de
energia elétrica gerada por produtores independentes. Tal proposição poderia aumentar em
muito a atratividade desta modalidade.

A era fóssil está perdendo espaço. Não desejamos ver o Brasil, país com gigantesca vocação e
competência em energias renováveis, ser estrangulado,em três décadas, pela dependência
energética externa e, ainda, engolindo modelos pensados para outras realidades, porque
passamos mais tempo olhando para nossos próprios umbigos e nos esquecemos de um projeto
nacional. É necessário investir, agora, na geração distribuída de base renovável. Ou nos
esforçamos no presente para gozar dos benefícios no futuro, ou pagaremos por mais uma “era
de energia”, que poderá durar algumas centenas de anos, a exemplo da lenha, carvão e
petróleo. Como disse Péricles, há 2500 anos, “o importante não é predizer o futuro, mas estar
preparado para ele”.

Faço minhas as palavras de um professor: “não foi necessário que acabassem as pedras para
que a idade da pedra terminasse”. Quanto ao “ecológico” e ao “econológico”, conceitos
aparentemente antagônicos, são ambos importantes e vitais. O primeiro lidera e impulsiona a
transformação. Sem o segundo, entretanto, a mudança não se concretizaria.

Marcelo de Lima Vasconcellos, ou Marcelo Theo, é Engenheiro e mestrando de Fontes


Renováveis de Energia. Atualmente na Alemanha, desenvolve projetos em energias
renováveis, principalmente em coletores solar de garrafas PET, biogás e gerenciamento de
resíduos.

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