Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Como um país devastado por duas guerras mundiais, ocupado por estrangeiros, que
dilapidaram, a beira do estupro, os recursos nacionais, pôde se desenvolver tanto em
relativamente tão pouco tempo? O caminho, sem dúvida, foi longo e árduo, exigindo muito
esforço, união e, certamente, perseverança. Depois daquele período, olhos, mãos e mentes se
uniram com um só propósito: a solução dos problemas domésticos.
A partir da década de 70, com a morte de muitos rios, o governo alemão foi pressionado por
amplos setores da sociedade, liderados pelos “ecológicos”, a solucionar tão grave situação.
Legislações foram aprovadas e, mais importante, as regras respeitadas. Num país onde sinal
de pedestre é respeitado, mesmo à noite e em rua absolutamente deserta, o difícil é não seguir
as regras. O malandro é malvisto.
A dependência externa de energia, de fontes como petróleo, gás e carvão, o custo crescente da
geração e, principalmente, a vontade política e o apoio da sociedade, impulsionaram, e o
fazem até hoje, a estruturação de um modelo de geração de energia, progressivamente
renovável. O pioneirismo tecnológico e industrial em diversos destes setores já obtém
resultados visíveis. Governo, indústria e universidades investem pesadamente em pesquisa,
para equacionar problemas específicos e localizados.
A EEG, desde 2000, estabelece preços fixos atrativos para venda de energia renovável,
geradas por produtores independentes, às concessionárias locais, que são obrigadas a comprar
a energia assim produzida. Em 2005, o preço médio pago aos 43,7 TWh injetados ao sistema
foi de 9,58 centavos de €/kWh. Segundo o governo alemão esse modelo elevou em 3% o
custo médio da energia elétrica domiciliar, hoje de 18,6 centavos de €/kWh. O programa, que
desde 2000 exigiu dispêndios de 2,4 bilhões de euros, resultou em economia de, pelo menos,
2,8 bilhões de euros em benefícios associados à não geração da energia convencional.
O Brasil certamente tem e terá mercado crescente para energias renováveis, sem contar as
grandes centrais hidrelétricas, cujos impactos ambientais merecem ser estudados com mais
profundidade, mas para isso devemos investir domesticamente. Temos, atualmente, condições
de promover muitas melhorias no setor energético, entre as quais:
Melhoria das condições contratuais para compra de energia co-gerada por bagaço,
aumentando, assim, as chances das pequenas usinas venderem seu excedente elétrico, com o
conseqüente aumento da produção nacional de álcool combustível.
Promoção de campanhas para uso de coletores solares de baixo custo, a exemplo do Estado do
Paraná. Benefícios fiscais e/ou linhas de créditos especiais poderiam ser oferecidos a
construtoras que optassem por investir em energia solar. Proposição de alteração na lei de uso
e ocupação do solo incluindo o “direito ao sol no telhado”. O pico do sistema elétrico
agradeceria enormemente.
Temos, por outro lado, alguns avanços a serem destacados. A cláusula de nacionalização do
Proinfa é um exemplo claro de proteção e incentivo à indústria e ao investimento nacional na
área de energias renováveis. Se por um lado não queremos escancarar as portas e sofrer um
choque, por outro precisamos de mais incentivos governamentais para o fomento dessa
indústria doméstica. O atraso na implementação dos projetos do Proinfa me leva a refletir
sobre o fato de não termos um fabricante nacional de turbinas eólicas de alta potência e de
painéis fotovoltaicos, diga-se de passagem, capazes de competir no mercado externo. Outro
grande avanço poderia ser alcançado na eliminação, ou redução, do custo de transmissão de
energia elétrica gerada por produtores independentes. Tal proposição poderia aumentar em
muito a atratividade desta modalidade.
A era fóssil está perdendo espaço. Não desejamos ver o Brasil, país com gigantesca vocação e
competência em energias renováveis, ser estrangulado,em três décadas, pela dependência
energética externa e, ainda, engolindo modelos pensados para outras realidades, porque
passamos mais tempo olhando para nossos próprios umbigos e nos esquecemos de um projeto
nacional. É necessário investir, agora, na geração distribuída de base renovável. Ou nos
esforçamos no presente para gozar dos benefícios no futuro, ou pagaremos por mais uma “era
de energia”, que poderá durar algumas centenas de anos, a exemplo da lenha, carvão e
petróleo. Como disse Péricles, há 2500 anos, “o importante não é predizer o futuro, mas estar
preparado para ele”.
Faço minhas as palavras de um professor: “não foi necessário que acabassem as pedras para
que a idade da pedra terminasse”. Quanto ao “ecológico” e ao “econológico”, conceitos
aparentemente antagônicos, são ambos importantes e vitais. O primeiro lidera e impulsiona a
transformação. Sem o segundo, entretanto, a mudança não se concretizaria.