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A
s dificuldades associadas desejo de compreender o mundo: processo da pesquisa científica, fa-
ao ensino e à aprendizagem os modelos. zendo parte do processo natural de
de Química perpassam, ge- Um modelo pode ser definido aquisição do conhecimento pelo ser
ralmente, o aspecto abstrato dessa como uma representação parcial humano. Esse processo é inerente
ciência. Lidar com aspectos intangí- de um objeto, evento, processo ou ao pensamento de todas as pessoas,
veis aos nossos sentidos proporciona idéia, que é produzida com propósi- cientistas ou leigos, mesmo que com
uma sensação de inépcia e vulnera- tos específicos como, por exemplo, graus de organização e complexida-
bilidade do que é possível apreender facilitar a visualização; fundamentar de diferentes.
frente à amplitude e complexidade do elaboração e teste de novas idéias; Saber, muitas vezes, que é im-
universo em que estamos inseridos. e possibilitar a elaboração de expli- possível apreendermos diretamente
Essa sensação e essas dúvidas, con- cações e previsões sobre compor- a “verdade”, que lidamos com um
tudo, não são negativas. Ao contrário, tamentos e propriedades do sistema universo de modelos, que nem sem-
elas são cruciais para despertar a modelado (Gilbert e Boulter, 1995). pre podemos afirmar que algo “é as-
vontade de descoberta, decifrando Assim, um modelo não é uma cópia sim” e que aquilo é apenas mais um
os fenômenos que nos cercam. A da realidade, muito menos a verdade modelo para determinado fenômeno
compreensão des- em si, mas uma for- faz parte do “saber ciência”. Esse é
ses fenômenos exige ma de representá-la um conhecimento que pode instigar
não apenas a repeti- Lidar com aspectos originada a partir de e motivar os alunos, mas do qual eles
ção ou a aplicação intangíveis aos nossos interpretações pes- são, geralmente, privados.
de uma série de co- sentidos proporciona uma soais desta. Quando pensamos no ensino,
nhecimentos previa- sensação de inépcia e Os modelos es- principalmente na forma como ele
mente memorizados, vulnerabilidade do que é tão no centro de vem sendo tradicionalmente desen-
mas, mais do que possível apreender frente à qualquer teoria: são volvido, o conhecimento científico é
isso, a elaboração amplitude e complexidade as principais ferra- apresentado como mais um “con-
de hipóteses e inves- do universo em que mentas usadas pelos teúdo”, sem que seja estudado o
tigações, associadas estamos inseridos. cientistas para pro- processo humano envolvido por trás
à criatividade, à ló- duzir conhecimento daquele conhecimento, sem emoção,
gica e, é claro, aos e um dos principais sem busca, sem motivação. Pensar
conhecimentos anteriores, o que produtos da ciência (Nersessian, sobre como um fenômeno ocorre se
vem a culminar em algo que sacia, 1999). A construção e o emprego torna cada vez mais difícil, à medida
mesmo que parcialmente, nosso de modelos são fundamentais no que o saber na escola se associa à
1. Como em Português não existe uma única palavra que seja consensualmente usada como sinônimo de processo de elaboração e reformulação de modelos, fizemos opção por
nos referirmos a tal processo usando a palavra modelagem.
2. Aqueles realizados apenas na mente do indivíduo.
3. É importante ressaltar que a associação da presença de determinado gás à coloração do sistema foi realizada a partir do conhecimento da coloração de cada substância (gás
NO2 e gás N2O4), que foi informado pela professora no começo da atividade, junto com suas respectivas fórmulas.
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Abstract: Modelling and “Doing Science”. Due to the role of models in science, learning about models implies in learning about the nature of science. Therefore, the use of teaching strategies
focused on modelling can contribute to the development of both content knowledge and knowledge about the production of scientific knowledge. This paper presents the description of a modelling-
based teaching strategy for the theme chemical equilibrium, which aimed at students´ learning from this perspective.
Keywords: modelling, production of knowledge, chemical equilibrium