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CONFERÊNCIA DOS MINISTROS GERAIS

DA PRIMEIRA ORDEM FRANCISCANA E DA TOR

Constituição da Comissão Interfranciscana


«Para o estudo da Ordem Franciscana como “Instituto Misto"»

Estimados irmãos,
O Senhor vos dê a paz!

Em várias reuniões trimestrais refletimos sobre o problema da Ordem franciscana como


“Instituto misto”. O tema interessa diretamente às três Famílias franciscanas da Primeira
Ordem (OFM, OFMConv., OFMCap.).
Os Frades Menores e os Frades Menores Capuchinhos já realizaram reflexões sobre o assunto
e até prepararam alguns estudos. O desejo agora é de levarmos avante o estudo desse tema em
conjunto, com a participação de alguns irmãos das três Famílias.
Como se sabe, a questão dos “Institutos mistos” foi também objeto de intervenções no Sínodo
dos Bispos sobre a vida consagrada (1994); e na Exortação Apostólica Vita consecrata, o
Santo Padre falou de uma “específica comissão” constituída “para examinar e resolver os
problemas conexos com esta matéria” (n. 61).
Cremos que, mesmo depois que tal comissão tiver concluído o seu trabalho e expresso o seu
juízo sobre a questão, permaneça sempre a possibilidade de continuar a estudar o tema. Ainda
mais que no mesmo número de Vita consecrata o Santo Padre afirma que convém esperar as
conclusões da comissão “para se fazerem depois as opções convenientes segundo aquilo que
for autenticamente estabelecido”. Portanto, o diálogo deveria ficar aberto também na fase de
aplicação das diretivas expressas pela comissão prevista pela Vita consecrata.
Gostaríamos ainda de precisar que o trabalho da comissão não deveria necessariamente levar
as três Famílias franciscanas da Primeira Ordem a seguir o mesmo caminho sobre, por
exemplo, o acesso dos irmãos não-presbíteros ao cargo de superiores: depois, cada Família
deverá poder legislar sobre o assunto, levando em consideração a própria sensibilidade e as
próprias tradições. O que nos parece importante é esclarecer a identidade da Ordem
franciscana no seu “momento de fundação”, ou seja, qual tenha sido a vontade ou a intenção
do Pai São Francisco. E isso, seguindo o ensinamento do Magistério: “Antes de mais - afirma
o Santo Padre em Vita consecrata - exige-se a fidelidade ao carisma de fundação e ao
posterior patrimônio espiritual de cada Instituto. Precisamente nesta fidelidade à inspiração
dos fundadores e fundadoras, dom do Espírito Santo, se descobrem mais facilmente e se
revivem com maior fervor os elementos essenciais da vida consagrada” (n.36).

1
Por isso, à luz dessas considerações, resolvemos constituir uma Comissão interfranciscana
para o estudo da Ordem franciscana como “Instituto misto” (ou seja, para o estudo da
identidade da Ordem).
Oficialmente lhe pedimos que faça parte de tal Comissão. Os irmãos indicados pelos
respectivos Ministro gerais são:
- pela OFM: Frei Andrea Boni, Frei Nikolaus Schöch;
- pela OFMConv.: Frei Giovanni Iammarrone, Frei Piotr Azulewicz;
- pela OFMCap.: Frei Francisco Iglesias, Frei Giampiero Gambaro.
A Frei Francisco Iglesias é confiada a tarefa de coordenar o grupo.
Por terdes já expresso a vossa disponibilidade, desejo agradecer-vos por isso, em nome
também de Frei Giacomo Bini e de Frei John Corriveau, desejando-vos um frutuoso trabalho,
para o bem de toda a Ordem franciscana e de uma sempre maior fidelidade de todos nós ao
carisma e à experiência espiritual de nosso Pai São Francisco.
Com fraternas saudações no Senhor,

Frei Agostinho Gárdin


Ministro geral OFMConv.
Presidente de turno

Roma, 30 de dezembro de 1997.

2
IDENTIDADE DA ORDEM FRANCISCANA
NO MOMENTO DE SUA FUNDAÇÃO

Estudo realizado pela

COMISSÃO INTERFRANCISCANA
(OFM - OFMConv - OFMCap)
«PARA O ESTUDO DA ORDEM FRANCISCANA COMO
“INSTITUTO MISTO"»

3
A IDENTIDADE DA ORDEM FRANCISCANA
NO MOMENTO DE SUA FUNDAÇÃO

INTRODUÇÃO

A 30 de dezembro de 1997, os Ministros gerais das três Famílias franciscanas da Primeira


Ordem instituíram uma Comissão interfranciscana para o estudo da Ordem franciscana
como “Instituto misto"1.
Enquadrando o tema, os Ministros gerais escolheram um ponto de referência muito preciso: o
objeto da pesquisa (estudo da Ordem franciscana como “Instituto misto”) deve referir-se à
identidade da Ordem no “momento de sua fundação”; em outras palavras, naquilo que se pode
considerar a vontade ou a intenção de Francisco como Fundador.
A área da reflexão, portanto, está circunscrita ao fenômeno franciscano das origens, isto é, ao
início da vida da Ordem e ao seu percurso como experiência espiritual e organização sob a
guia do Fundador que culminou com a aprovação da Regra. Portanto, vai do tempo em que o
Senhor deu irmãos a Francisco2 até o dia da confirmação da Regra de sua fraternidade, por
parte de Honório III, a 29 de novembro de 1223, carta fundamental que ele repropôs como
válida para os seus irmãos alguns meses antes da morte3.
Para aproximar-nos o mais possível da mente de Francisco como Fundador, foi feita uma
escolha dos dados essenciais e seguros das assim chamadas fontes franciscanas. Isso levou a
dar um destaque todo particular ao “projeto evangélico” proposto por Francisco para si e para
os seus frades, como foi transmitido através de sua vida, de seu modo de agir como ministro e
servo da fraternidade e dos seus escritos, sobretudo os textos legislativos da Ordem. Na
ocasião, porém, recorreu-se também a informações solidamente fundamentadas encontradas
em alguns documentos escritos no século XIII.
Já que aqui interessa dar atenção à identidade da Ordem franciscana no “momento de sua
fundação”, propositalmente deixar-se-á de fazer referências ao seu dinâmico desenvolvimento
posterior, quer apareçam durante a fixação de uma tradição comum, quer através das
respectivas avaliações divergentes. Por isso, o presente trabalho, como justamente
assinalaram os Ministros gerais, “não deveria necessariamente levar as três Famílias
franciscanas da Primeira Ordem a percorrer o mesmo caminho (...). Depois, cada Família
deve poder legislar sobre o assunto levando em consideração a própria sensibilidade e as
próprias tradições”.4
Para garantir uma correta aproximação à “vontade de fundação” de Francisco, visto no “seu”
tempo, procurou-se também não condicionar a leitura do seu projeto de vida religiosa
utilizando, sem as devidas distinções, os parâmetros teológicos e jurídicos da vida consagrada
na Igreja de hoje. Todavia, pensa-se que valha a pena destacar, como premissa de fundo, o
conhecido princípio vivido de fato já desde os inícios históricos da vida religiosa, tematizado
e sancionado hoje e facilmente percebido no pensamento e nas atitudes de Francisco a
propósito da sua fraternidade: “O estado de vida consagrada, por sua natureza, não é nem
clerical nem laical”5. Portanto, por sua natureza, a vida consagrada tem, tanto para a pessoa
individualmente quanto para a Igreja, um valor próprio, independentemente do valor ou da
identidade do ser clérigo ou do ser leigo6. A partir desta importante verdade teológica e
histórica e além da codificação positiva até agora reconhecida pela Igreja, poder-se-iam
hipotizar quatro tipos de Institutos de vida consagrada: 1. Institutos clericais; 2. Institutos

4
leigos; 3. Institutos clericais e leigos ao mesmo tempo, “mistos”; 4. Institutos nem clericais
nem leigos, isto é, “indiferenciados”, que, por sua natureza prescindem do caráter clerical e
laical.
Por fim, duas observações quanto à impostação e a estrutura do presente trabalho. Tendo em
conta que a qualificação ou não de “Instituto misto” é resultado de alguns elementos
específicos relativos à identidade da Ordem, a impostação deste estudo visa, sobretudo,
esclarecer um conjunto de questões escolhidas que se relacionam com o núcleo essencial da
fraternidade franciscana no “momento de sua fundação”, a fim de dar uma resposta, por
dedução lógica, ao quesito proposto pelos Ministros gerais. À luz desta perspectiva, a
exposição se apresenta como um levantamento seletivo de dados sobre a natureza da Ordem,
assim como foi pensada e querida por Francisco, homem fiel à revelação do Altíssimo e às
exigências da aprovação do seu projeto evangélico de vida por parte do “Senhor Papa”.
Quanto à estrutura do presente estudo, o discurso foi organizado em forma de díptico, em
duas partes complementares. Francisco sempre deu prioridade aos conteúdos evangélicos e
teológicos vividos pelo frade menor com fidelidade criativa e dinâmica à Regra como “vida a
caminho”, sem necessariamente ter pressa e estar preocupado em “institucionalizar”, por meio
do fixismo de uma norma definitiva, o ritmo vital da fraternidade. Por isso, a realidade da
Ordem, no seu “momento de fundação”, aparece como uma realidade existencialmente
integrada e unitária. No entanto, para facilitar um aprofundamento mais especializado e por
motivos práticos de ordem expositiva, o estudo foi estruturado em duas angulações: aspectos
teológicos e aspectos jurídicos da fraternidade franciscana no seu “momento de fundação”.
Do ponto de vista da metodologia, preferiu-se a aproximação direta aos documentos
essenciais, aliviando o discurso de referências à vasta literatura sobre os diversos temas
tratados no estudo. Pensa-se que a escolha tenha sido suficiente e válida. Motivos óbvios de
utilidade prática influíram sobre a escolha do texto-base utilizado: Fonti Francescane. Scritti
e biografie di San Francesco d'Assisi. Cronache e altre testimonianze del primo secolo
francescano. Scritti e biografie di Santa Chiara d'Assis, Padova 1904. [N. do T.: Para a
tradução portuguesa usamos: São Francisco de Assis. Escritos, biografias, crônicas e outros
testemunhos do primeiro século franciscano. Escritos e biografias de Santa Clara de Assis,
Vozes/Cefepal, Petrópolis, 1991].

I
ASPECTOS TEOLÓGICOS
DA FRATERNIDADE FRANCISCANA

A identidade da Ordem franciscana e, portanto, a sua categorização na ordem canônica


emerge, sobretudo, da “forma evangélica” que Francisco, em resposta à inspiração do
Altíssimo, propôs e viveu junto com os seus frades como uma particular experiência do
mistério de Cristo e do seu seguimento a serviço da Igreja e do mundo.
Por isso, um primeiro olhar sobre a fisionomia essencial daquele punhado de homens que se
reuniram e cresceram em torno a Francisco deve necessariamente ser do ponto de vista
teológico.

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1. Origem e composição da fraternidade franciscana

A radical conversão de Francisco ao Evangelho atraiu imediata e inesperadamente alguns


homens, desejosos de partilhar a mesma experiência de vida. Assim, sem haver pensado nisso
antes, Francisco tornou-se “fundador”. Fundamentalmente, o Senhor lhe concedeu duas
graças: a graça de saber o que devia fazer, como devia viver, isto é, “segundo a forma do
santo Evangelho”, e a graça do dom dos irmãos.7Assim nasceu a fraternidade franciscana.
Um primeiro dado, de particular significação na mentalidade eminentemente classista da
Idade Média, foi a atitude de Francisco em relação às vocações que vinham engrossando as
fileiras do seu grupo de “homens evangélicos”. O critério básico que ele, inspirado no Evan-
gelho, seguiu por toda a vida, foi o de receber aqueles que vinham a ele impelidos pela
mesma vocação, eliminando qualquer tipo de discriminação devida à condição social,
cultural, eclesiástica do candidato, difundida naquele tempo.
Francisco não excluía ninguém: “Se alguém quiser abraçar esta vida e vier ter com os nossos
irmãos”8; “Os que quiserem abraçar esta vida e para isso vierem ter com os nossos irmãos"9;
“E aqueles que vinham para viver esta vida...”10 O seu acolhimento generoso e aberto foi um
gesto de profundo respeito a Deus, em quem não há acepção de pessoas, e ao seu Espírito, que
pousa igualmente sobre todos, pobres e simples ou nobres e doutos.11
Na prática, a única condição fundamental que exigia e considerava indispensável para a
admissão à fraternidade era a “conversão”. Cada candidato devia ser moralmente um
convertido, movido “por divina inspiração” a assumir o teor evangélico de vida iniciada por
ele e capaz de renegar totalmente a si mesmo, sobretudo mediante a prova da obediência, do
serviço aos leprosos e da renúncia total aos próprios bens, cujo produto de venda devia ser
distribuído aos pobres.12
Existem notícias bastante concretas sobre vários membros da primeira fraternidade e somente
de forma genérica de outros a partir de informações seguras presentes nas biografias e nas
crônicas do tempo, que foram confirmadas e evidenciadas posteriormente por sérias pesquisas
históricas. No seu conjunto, todas confirmam o fato da presença na Ordem de homens
provenientes dos estratos sociais e das categorias eclesiásticas mais diversas: nobres
(maiores) e plebeus (minores), ricos e pobres, profissionais, letrados e sábios ou cultos e
iletrados e simples, que não haviam estudado nas escolas, cavaleiros, feudatários, clérigos e
leigos, artesãos.13
Nos escritos de Francisco, com freqüência, aparecem referências aos membros “clérigos” e
“leigos” da fraternidade.14 Quanto a isso, deve-se ter bem presente o significado destes dois
termos na sua época. Em primeiro lugar, é preciso evitar um fácil engano por causa da própria
terminologia. Na época do Fundador nem sempre tinham o significado que, em sentido
estrito, possuem hoje na teologia e no direito, isto é, como referentes a homens que pertencem
ou não à ordem clerical. Era uma terminologia utilizada também para indicar homens
formados nas escolas e que, portanto, entre outras coisas, sabiam ler e tinham certa cultura,
“letrados” (clérigos), que se distinguiam dos homens simples, sem estudos nem cultura,
ignorantes ou idiotas, “iletrados” (leigos). Em segundo lugar, as referências de Francisco aos
membros “clérigos” e “leigos” da fraternidade tinham o valor de mera constatação de um fato
existencial; nelas jamais aparece que a vontade ou a intenção de Francisco, como Fundador,
tivesse sido a de qualificar a dimensão clerical e laical como elemento essencialmente
constitutivo da Ordem e, menos ainda, que na sua mente e nos seus propósitos tivesse
pensado em fundar uma Ordem exclusiva ou preferentemente laical.15
“A fraternitas minorítica das origens foi uma comunhão de vida com igual título e pleno

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efeito; uma sociedade de membros sem diafragmas nem discriminações; uma verdadeira
família de filhos com tarefas e carismas diferentes, na qual todas as camadas sociais, os vários
graus de instrução (iletrados-letrados), os estados eclesiásticos (leigos-clérigos) e até as
diferentes funções litúrgicas (Ofício divino, Eucaristia) ou as funções de superior (Ministro e
servo) estavam integrados numa síntese original de fraternidade evangélica”.16 Quanto a isso,
Tomás de Celano, depois de realçar as motivações teológicas de fundo da fraternidade querida
por Francisco, afirma: “Queria que reinasse a união entre os maiores e os menores, que os
sábios se ligassem aos simples por um amor fraterno e que, pela força do amor, unidos se
sentissem os que longe se encontravam”.17
Com esta integração concreta numa mesma “família cristã” de homens provenientes de
estratos, cultura e condição eclesial diversas, os homens reunidos em torno a Francisco davam
um luminoso testemunho de fraternidade evangélica, na qual se sentiam, se chamavam e se
apresentavam aos outros como irmãos em tudo e por tudo iguais.

2. Identidade “fraterna” dos membros da Ordem franciscana

O nome completo, eminentemente evangélico, escolhido por Francisco para identificar a nova
família religiosa por ele iniciada, não podia ser mais significativo: “Quero que esta
fraternidade seja chamada Ordem dos Frades Menores”.18
A propósito desta vontade de Francisco, transmitida por Celano, é oportuno fazer duas
observações. Primeiramente, a palavra “fraternidade”, que aparece dez vezes nos escritos de
Francisco (num total de onze vezes no Corpus das Fontes franciscanas), indica sempre o
grupo dos frades, isto é, a realidade pessoal e personalizada de uma comunidade de homens
evangélicos que se apresentavam como autênticos irmãos no plano da vida concreta e não
somente no plano do sentimento de afeto e benevolência típico da virtude cristã da caridade.19
Em segundo lugar, a insistência de Francisco, ao referir-se às pessoas, aos homens que
encarnavam o seu projeto de vida evangélica, identificando-os com a máxima concretude:
“Todos sejam designados indistintamente ‘frades’ menores’”.20 Portanto, a fraternidade vivida
foi o autêntico valor evangélico que conseguiu unificar a pluralidade de proveniências dos
candidatos. Todos indistintamente - nobres e plebeus, ricos e pobres, clérigos e leigos - onde
quer que estivessem e se encontrassem, deviam mostrar-se “irmãos”, familiares entre si,
tratando-se com plena confiança, amando-se com um amor mais que materno.21
A centralidade dos termos “frades”, “irmãos”, “fraternidade” não brotava de premissas
conceituais ou jurídicas apriorísticas, mas do dinamismo da vida consagrada e, no presente
caso, como necessidade específica da família franciscana, que tinha a necessidade de exprimir
o seguimento do “Grande Irmão”, Jesus, assumindo como nota individuante o radicalismo da
caridade fraterna, não só na própria comunidade, mas também em relação a todos os homens
e mulheres, e até em relação a todas as criaturas, “irmãos” e “irmãs” no mistério de amor da
comum paternidade de Deus. A expressão de Francisco, pronunciada num momento crucial
da sua conversão, quando restituiu tudo - dinheiro e roupas - a seu pai Pedro de Bernardone,
revela o pano de fundo teológico da descoberta da nova vida segundo o Evangelho de Jesus:
“De hoje em diante poderei dizer livremente: Pai nosso, que estais nos céus”. 22 Assim, na
luminosidade de uma grande família de filhos do Pai e de irmãos de Jesus, o irmão
primogênito, pensou e viveu, com os seus companheiros, a radical aventura da fraternidade
evangélica.
É então muito significativo que Francisco, na Regra não bulada, tenha lembrado
explicitamente as seguintes palavras de Jesus: “Todos vós sois irmãos; nem vos façais chamar

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de “pai” sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mt 23,9).23 Esta
verdade teológica, profundamente assimilada, levou a famí1ia franciscana a viver e a
testemunhar, desde as origens, a fraternidade evangélica de forma verdadeiramente singular.
Falar de fraternidade também como valor de caráter “religioso”, não é um elemento original e
exclusivo do Evangelho; como falar de “fraternidade evangélica” não é original e exclusivo
de Francisco. A regra e a vida de todo o discípulo de Jesus é o Evangelho, o mandamento
novo do mútuo amor fraterno entra no projeto evangélico como elemento essencial da
identidade cristã (cf. Jo 13,34s.). Além do mais, a comunhão fraterna, enraizada e fundada na
caridade, é um compromisso constitutivo dos membros de todos os Institutos de vida
consagrada e das sociedades de vida apostólica, embora nem todos se chamem “irmãos” e
sejam diferentes as modalidades de acento postas no modo de viver as exigências e as
conseqüências do desafio evangélico da fraternidade.24
Todavia, na história da vida religiosa, desponta com relevo todo particular a peculiaridade da
“vida fraterna” segundo a mente e a experiência de Francisco. O seu constante modo de falar -
inclusive muitos dos seus silêncios - evidenciava como a forma de vida evangélica que lhe foi
revelada pelo Altíssimo teve uma entidade própria, isto é, era algo que existia por si, que
abstraía das condições e das proveniências sociais e eclesiais dos indivíduos. A sua convicção
de fundo, ainda que nem sempre tematizada e expressa, era que a consagração religiosa dizia
respeito primeiramente à vida e à santidade da Igreja e comportava, portanto, um esforço
específico no plano pessoal e comunitário, para se realizar segundo a perfeita caridade
evangélica em chave fraterna.
Francisco pensou e viveu a sua consagração como desafio cristão para chegar à perfeita
caridade simplesmente “como irmão”, como quis e nos indicou Jesus, e assim também
compreendeu a proposta de vida para seus companheiros, chamados a tornar-se, por
fidelidade à vocação e ao próprio título, através de sua vida, autênticos “frades menores”.
No substantivo “frade”, “irmão”, concentrava-se como num só ponto, por assim dizer, o
objetivo global da vontade fundadora de Francisco e o perfil mais claro e convincente da
Ordem franciscana. Com razão, pois, o sujeito teológico-institucional iniciado por Francisco
encontrou o melhor princípio de individuação no compromisso de vida expresso por sua
própria denominação: fraternidade evangélica, ou Ordem de irmãos.
Na dialética evangélica de Francisco, o substantivo “frade” é qualificado por um adjetivo
essencial: menor. O conteúdo real do termo “menor” é muito rico e complexo. Um olhar
profundo para o léxico e para a sensibilidade de Francisco evidencia que por trás da
inspiração evangélica da palavra “menor” estavam as conotações de humildade e
simplicidade, pobreza de espírito e pobreza material, espontaneidade e mansidão, mútua
submissão caritativa, paciência e espírito de serviço. Um conjunto de atitudes e virtudes
decisivas para promover até o fundo todas as exigências do ser “frade”. “Igualmente, nenhum
irmão exerça uma posição ou cargo de mando, e muito menos entre os próprios irmãos. Pois,
como diz o Senhor no Evangelho: ‘Os príncipes das nações as subjugam e os grandes
imperam sobre elas’, assim não deve ser entre os irmãos, mas antes: ‘Aquele que quiser ser o
maior entre eles seja o ministro e servo deles, e quem for o maior entre eles faça-se o
menor’”25; “E ninguém seja intitulado ‘prior’, mas todos sejam designados indistintamente
como ‘frades menores’. E um lave os pés ao outro!”26; “Os irmãos que são ministros e servos
dos demais irmãos (...) caridosa e benignamente os recebam e tratem com tanta familiaridade,
que os irmãos possam falar e haver-se com eles como senhores para com os seus servos; pois
assim deve ser, que os ministros sejam servos de todos os irmãos”. 27 Escrevendo a todos os
cristãos, religiosos, clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que habitam no mundo
inteiro, “Frei Francisco, seu servo e súdito”, assim se expressa: “Aquele ao qual é devida a

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obediência e é considerado o ‘maior’, seja o ‘menor’ e o servo dos outros irmãos (...). Nunca
devemos desejar estar acima dos outros, mas antes devemos ser servos e sujeitos a toda a
humana criatura por amor de Deus”.28 Portanto, em relação aos sistemas verticalistas e
estratificados da sociedade e de certas instituições tradicionais no seio da Igreja e da vida
religiosa, Francisco pensava os “frades menores” como homens votados por profissão a
constituir uma mesma família, mediante um código de comunhão fraterna, enraizada e
fundada na caridade e na minoridade.
Portanto, a alma e a própria estrutura da fraternidade franciscana, nos seus traços essenciais,
estimulavam o crescimento no amor fraterno dos próprios membros e ainda espelhavam a
autenticidade dos “frades menores” que, de fato, compunham a Ordem. Com efeito, viver
como “irmãos menores” torna-se um desafio permanente à máxima familiaridade e
igualdade, em todos os aspectos da dimensão teológica e jurídica da fraternidade, sob o signo
do amor cristão, do respeito, do serviço e da obediência-submissão recíproca; não por motivos
meramente naturais, de simples psico-sociologia dos grupos, mas por motivos de fé, isto é, em
função da caridade cristã, princípio de identidade dos discípulos de Jesus, como claramente
aparece nos seguintes textos: “E onde quer que estiverem e se encontrarem os irmãos,
mostrem-se afáveis entre si. E com confiança, manifeste um ao outro as suas necessidades,
porque, se uma mãe ama e nutre seu filho carnal, com quanto maior diligência não deve cada
um amar e nutrir a seu irmão espiritual? E, se algum deles cair doente, os outros irmãos o
devem servir, como gostariam de ser servidos”29; “A todos os meus irmãos que pregam, oram
ou trabalham, quer clérigos quer leigos, procurem humilhar-se em tudo”30; “Irmãos, vamos
todos nós acautelar-nos de toda a soberba”; “Todos os frades, clérigos ou leigos...”; “Nós,
frades...”; “Todos nós, frades, acautelemo-nos bem...”; “Todos nós, frades, acautelemo-
nos...”31; “Todos os irmãos, tanto os Ministros quanto os outros...”32; “E eu, Frei Francisco, o
menor de vossos servos...”; “Frei Francisco, vosso mínimo servo...”33. Portanto, por causa da
mesma vocação, todos “irmãos”.
Na verdade, não se pode compreender semelhante prática da fraternidade evangélica,
particularmente naquilo que se refere à verdadeira igualdade de todos, da autoridade como
serviço, da obediência como dever recíproco de amor mútuo (descobrindo em cada irmão uma
recordação da vontade do Pai) e da familiaridade maior do que a do natural amor materno, se
não estiver ligada ao outro grande valor evangélico que tanto impressionou Francisco, o da
minoridade. Só o esvaziamento de si por amor ao outro, ao Pai e ao próximo (irmão),
encarnado por Jesus, servo humilde e pobre até a morte, posto por Francisco como
fundamento e modelo da vida de sua fraternidade, podia instilar, manter viva e realizar a
caridade evangélica de forma tão radical.
A identidade da Ordem franciscana, como Ordem de irmãos, ou mais exatamente de irmãos
menores, vista no seu momento de fundação, isto é, à luz da vontade ou da intenção do
Fundador, foi uma “grande novidade”34 no corpus de direito canônico do tempo. Pode parecer
um tanto estranho, mas hoje, depois de tantos séculos de história da Igreja, a realidade
teológico-jurídica sui generis que Francisco pensou e quis e “o Senhor Papa” confirmou, deve
percorrer ainda muito caminho para encontrar um lugar adequado na atual ordem canônica.

3. Dimensão “apostólica” da fraternidade franciscana

Por certo, a dimensão apostólica fez parte das conotações do “projeto de vida evangélica” que
Francisco apresentou ao Papa, para que este o confirmasse. Todavia, a fim de evitar
equívocos na interpretação do momento de fundação da Ordem com os paradigmas e a

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terminologia de hoje, é necessário ler a mensagem de Francisco no contexto da Igreja e da
sociedade do seu tempo.
Uma vez convertido e depois que o Senhor lhe havia dado irmãos, a convicção fundamental
de Francisco era que a sua nova vida e a dos seus companheiros devia ser uma radical
consagração a Deus, vivendo segundo o modelo do Evangelho. Isso, à luz do seu pensamento
e da sua sensibilidade espiritual, incluía, sobretudo, três elementos. Em primeiro lugar, que a
vida consagrada consiste, antes de mais nada, num “especial ser para Deus” e, por
conseqüência, “num especial agir no seu serviço”. Em segundo lugar, que o tipo de
fraternidade evangélica escolhido por ele, constitui, por assim dizer, o objetivo, o princípio
formal e o sinal inconfundível de todo o programa de vida - ser e agir -, seu e dos “frades
menores”. Em terceiro lugar, que o campo de trabalho dos “frades menores” pelo reino de
Deus, seguindo o exemplo de Jesus, é muito amplo; inseridos no mundo, ao lado dos homens,
constroem e servem com o exemplo35, com o trabalho manual, com as atividades caritativas -
particularmente mediante a assistência aos leprosos -, com o esforço itinerante da pregação da
penitência.
Portanto, a vontade de Francisco foi clara e simples: iluminado pela maneira de agir de Jesus
e sensível aos apelos de Deus através da sociedade e da Igreja do seu tempo, pensou num
grupo de “homens evangélicos”, chamados a ser fermento cristão pelas estradas do mundo, de
acordo com as capacidades de cada um e sem privilegiar - pondo limites - algum tipo
particular de ministério ou de finalidade apostólica. Para Francisco, o que mais contava era a
mensagem de fundo: o testemunho evangélico, com a própria vida, dos autênticos “frades
menores”, dedicados a “reparar” a Igreja e a sociedade, respondendo à “graça de trabalhar” de
cada um.
Portanto, a inserção da Ordem nas categorias da regulamentação canônica do tempo não se
identificava com uma específica e bem determinada finalidade apostólica. A dimensão
evangelizadora da Ordem foi uma expressão espontânea da própria profissão evangélica que
igualava a todos - sem discriminação alguma, como regra geral – como irmão,
comprometidos em viver com radicalidade “a vida do Evangelho de Jesus Cristo”36 e em
colaborar na Igreja para a conversão de todos, sem olhar para a condição laical ou clerical de
cada um. Por outro lado, deve-se recordar que Francisco quis que todos os seus frades fossem
homens apostólicos, mas não que todos se dedicassem - e sempre - a um ministério específica
e diretamente pastoral. O primeiro e mais válido apostolado, segundo ele, devia ser a vida
“com o exemplo mais que com as palavras”37, segundo o seu comentário: “Todos os irmãos
podem pregar pelas obras”.38 Quanto a isso, é significativo que exatamente no capítulo da
Regra que fala dos pregadores, Francisco suplicava “a todos os seus irmãos que pregam, oram
ou trabalham, sejam clérigos ou leigos”, a não se envaidecerem “interiormente com as belas
palavras ou obras e nem mesmo com qualquer outro bem que Deus diz ou faz ou alguma vez
tenha operado neles ou por meio deles”.39 Portanto, a gama de possibilidades de
evangelização dos frades, via de regra, foi ilimitada e, do ponto de vista institucional, não
comportou problema algum a qualificação canônica específica dos irmãos. A todos os seus
irmãos, peregrinos e estrangeiros pelas estradas do mundo, Francisco deu a seguinte ordem:
“Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a
penitência”40, em plena coincidência com a aprovação inicial, obtida oralmente de Inocêncio
III, para poder evangelizar sem limites geográficos e eclesiásticos. Não obstante esta
autorização papal, ele sempre quis, por reverência e respeito às autoridades eclesiásticas, que
os seus frades não pregassem contra a eventual proibição de algum bispo, pároco ou
sacerdote. Mais tarde, acrescentou a aprovação particular do Ministro geral da fraternidade
para exercer o ofício da pregação.41

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Deve-se, porém, destacar outro aspecto significativo: nem falando do ministério
especificamente pastoral encontramos, nos escritos e na maneira de Francisco se comportar,
condicionamentos especiais e/ou explícitos sobre o sacerdócio ou não de seus frades. Em
primeiro lugar estava serem realmente “frades menores” - do ponto de vista religioso, uma
vida completa em si mesma e, além disso, por profissão marcada por uma coerente igualdade
evangélica - e, portanto, igualmente participantes também da missão da Ordem, com iguais
direitos e deveres, excetuados, evidentemente - tratando-se dos leigos - daqueles que de-
rivavam da Ordem sacra. Nas Regras franciscanas, a Ordem sacra foi considerada, naquilo
que dizia respeito à identidade religiosa de todos os frades, como um elemento circunstancial,
concomitante, um “acréscimo” ao ser consagrado para viver segundo a forma do santo
Evangelho, que constituía o proprium do projeto de Francisco. Isso em nada diminuía a fé, o
respeito e a veneração de Francisco e de seus irmãos pelos sacerdotes e pelos c1érigos.42 A
vida religiosa e o sacerdócio eram vistos, com absoluta naturalidade, como realidades
teológica e existencialmente diferentes, separadas, e por elas cada candidato devia trazer para
a Ordem a própria graça e capacidade de servir e trabalhar. Ao manter esta riqueza de
carismas, Francisco inspirou-se na afirmação de S. Paulo na Primeira Carta aos Coríntios:
“Cada um permaneça no estado em que foi chamado” (1Cor 7,20).43 Por isso, nenhum “frade
foi obrigado ao sacerdócio.
Nos capítulos das duas Regras que se referem ao serviço apostólico da evangelização direta -
“Dos pregadores” e “Daqueles que vão entre os sarracenos e outros infiéis”, isto é, para a
missão ad gentes44 – Francisco dirigiu-se aos seus com absoluta espontaneidade, sem
discriminação e até silenciando qualquer referência à Ordem sacra, nos seguintes termos: “Os
irmãos...”; “Nenhum irmão...”; “Aqueles que quiserem ir entre os sarracenos e outros
infiéis...”.45 Bastava que fossem humana e religiosamente idôneos e considerassem o serviço
uma resposta à “divina inspiração” ou à vontade do Senhor.
Portanto, os franciscanos nasceram como fraternidade aberta indistintamente a clérigos e a
leigos. Ela não sentiu uma particular necessidade, nem para o serviço da evangelização, de
promover expressamente a presença de irmãos sacerdotes na Ordem. A impostação inicial da
fraternidade franciscana foi bem documentada pelas biografias do século XIII, como mostra,
por exemplo, o Anônimo Perusino: “E O Senhor Papa aprovou a Regra para ele e seus irmãos
presentes e futuros. Deu-lhes também autorização para pregar em qualquer lugar, conforme a
graça dada pelo Espírito Santo; autorizou também os outros irmãos a pregarem, a quem o
bem-aventurado Francisco quisesse conceder o ministério da pregação”.46 Um testemunho,
entre muitos outros, da comum consagração e missão dos frades menores, aparece no envio
dos frades a Marrocos, vários anos antes da morte de Francisco: o grupo era formado de
clérigos e leigos.47 Com razão, Pio XII, a 31 de maio de 1956, na Constituição apostólica
Sedes sapientiae escrevia que os mendicantes, “etsi mirabili spiritu apostolico imbuti, ad
sacerdotium non omnes Regula adigebantur, ipso sancto Padre Assisiensi eo minime aucto”.48
Do que ficou dito, deduz-se que a dimensão apostólica da Ordem, inspirada no modelo de
Jesus e de seus discípulos, foi vivida e testemunhada em plena coerência com o tipo de
“fraternidade” querida por Francisco.

4. Os irmãos Ministros e os outros irmãos

Um tema de particular relevância para compreender a identidade da Ordem no seu momento


de fundação é o do relacionamento entre os irmãos Ministros e os outros irmãos. Quanto a
isso, merecem destaque, sobretudo, dois critérios evangélicos e teológicos de fundo que

11
explicam, segundo a intenção de Francisco, o significado e o dinamismo da “autoridade” no
seio da Ordem: dois critérios que emergem do núcleo de identificação do franciscano, isto é,
da “fraternidade” e da “minoridade” evangélicas condensadas no nome e sobrenome
indicados por Francisco para aqueles que abraçavam o seu projeto de vida. O primeiro critério
pode ser traduzido nos termos com os quais o Evangelho define a autoridade na Igreja: não o
poder que domina, mas a caridade que serve. O segundo critério é o da acessibilidade de todos
os irmãos, como regra geral, ao exercício do poder eclesial de governo – ao ministerium
fratrum49 na Ordem.
Francisco conhecia bem as estruturas verticalistas e estratificadas da “sociedade cristã” do seu
tempo. Ele, porém, a partir de sua conversão, ficou profundamente impressionado com uma
imagem bíblica de Jesus: não a imagem do Jesus Chefe, Mestre, Sacerdote, Rei, mas a do
Jesus Servo, nu, pobre, humilde e crucificado, do Jesus que lava os pés. É muito significativa
a sua insistência sobre estas idéias, por certo inspiradas diretamente no Evangelho e básicas
do ponto de vista teológico no seu conceito de “minoridade”. Nas Admoestações escreve:
“Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), diz o Senhor. Os que estão
constituídos sobre os outros não se vangloriem dessa superioridade mais do que se estivessem
encarregados de lavar os pés aos irmãos (cf. Jo 13,14). E se a privação do cargo de superior
os perturba mais que a privação do encargo de lavar os pés, amontoam para si tanto mais
riquezas com perigo para a sua alma”.50 Aqui Francisco acena para uma metáfora que indica a
falta de pobreza de espírito, porque, acumulando para si mesmo, alguém se “apropria” - o
contrário de viver “sem nada de próprio”51 do verdadeiro frade menor - do poder e dos cargos,
escravo da soberba, da vanglória, da avareza, do desejo de dominar, em evidente contradição
com a atitude de Jesus que está em meio aos seus “como aquele que serve” (Lc 22,27; cf. Mc
10,45). Por isso, ele também afirma: “Nenhum Ministro se arrogue o cargo de ministro dos
irmãos como sua propriedade, mas à mesma hora que lhe for ordenado, deponha o seu cargo,
sem nenhuma objeção”.52
Quando o sentido da autoridade se expressa tão evangelicamente, os irmãos Ministros, com
sua profunda minoridade e familiaridade fraterna, não apenas servem os outros irmãos, mas
na realidade também se submetem a eles por amor de Deus; se a atitude dos Ministros e
servos permite que o coração dos outros irmãos se abra, estes poderão “falar e haver-se com
eles como senhores para com seus servos”.53 A dinâmica da obediência torna-se amor e
serviço mútuo, em função da vontade de Deus, o que significa o exercício da minoridade em
chave de caridade fraterna. Eis a identidade teológica do “frade menor”, desenvolvida através
dos relacionamentos entre os irmãos Ministros e os outros irmãos.
A partir da própria lógica interna do ser frade menor, como quer Francisco, a ninguém estava
fechado o acesso à função de guia da fraternidade, tanto em nível local (de grupos pequenos),
quanto em nível provincial e geral. Em nenhum texto das Regras ou dos escritos de Francisco
se afirma que os Ministros devam ser clérigos. Na Regra definitiva foi sancionada a normal
presença de irmãos Ministros provinciais não-sacerdotes54 e a obrigação de ter, como
“Ministro geral e servo de toda a fraternidade um dos irmãos da Ordem”, sem alguma
discriminação.55 Uma norma tão aberta e radical não é encontrada nas Regras ou nas
Constituições de outras Ordens surgidas no mesmo período.56 O dado profundamente
significativo é também uma prova da sensibilidade e abertura da Sé Apostólica quanto à
multiforme ação do Espírito que sempre enriquece a Igreja com a variedade dos seus dons.
Vale a pena recordar que a amplíssima igualdade fraterna da Ordem franciscana no seu
momento de fundação foi aprovada sem especiais dificuldades pela Cúria romana, onde, a
começar por Inocêncio III e pelo Cardeal Hugolino (mais tarde Gregório IX), estavam
presentes famosos e competentes juristas. No plano dos fatos, a confirmação pontifícia do
projeto de vida de Francisco não ficou, obviamente, apenas uma possibilidade jurídica. Nas

12
primitivas crônicas da Ordem existem exemplos concretos, ainda em vida de Francisco, que
falam da práxis neste ponto.
Para concluir, uma importante avaliação: o acesso de todos os frades à responsabilidade do
ministerium fratrum na Ordem nunca foi considerado uma simples reinvindição de direitos
em nível humano ou um elemento meramente estrutural ou sociológico; foi proposto ao
“Senhor Papa” e vivido como necessária conseqüência da impostação evangélica da
identidade dos frades menores segundo a vontade ou a intenção de Francisco Fundador.

II
ASPECTOS JURÍDICOS DA FRATERNIDADE FRANCISCANA

Outra dimensão da Ordem franciscana, que completou a precedente, mais teológica, foi a
dimensão do perfil jurídico que deu consistência e configuração própria, no seio do corpus do
direito canônico da época, ao projeto de vida iniciado por Francisco.

1. Momento histórico e significado do ato constitutivo da fraternidade franciscana como


“realidade eclesial'

O momento que deu origem à fraternidade franciscana como “realidade eclesial” identifica-se
com o fato, historicamente inegável, do encontro entre Francisco e Inocêncio III (1209-l2l0?).
Com a aprovação formal do Papa, que aconteceu naquela ocasião, a fraternidade franciscana
foi canonicamente ereta, isto é, tornou-se pessoa jurídica institucionalmente reconhecida na
Igreja e, ao mesmo tempo, Francisco recebeu o poder/autoridade necessário de poder guiá-la.
Uma avaliação dos pedidos feitos ao Papa, das concessões obtidas e das conseqüências
previsíveis, que constituíram o objeto deste encontro, deve ser efetuada, sobretudo, à luz do
objetivo de Francisco e do contexto jurídico-eclesial da época.57
Quanto ao significado do ato que esteve na origem da subsistência eclesial da fraternidade
franciscana, as fontes, na sua surpreendente concisão, informam sobre alguns dados
fundamentais.
Em primeiro lugar, é claro que se tratou de aprovar um “projeto (inédito) de vida religiosa”,
não uma “regra (verdadeira e própria) de vida religiosa”. Ao nascer, a fraternidade franciscana
compunha-se de homens que haviam aderido a um específico projeto de vida evangélica. Este
projeto ou propositum vitae evangelicae, depois de contínuos e constantes exames, foi
finalmente formalizado e expresso, por meio de uma série de valores, experiências e normas,
na Regra. A Regra franciscana, portanto, foi uma “Regra de vida” exatamente porque
codificou a experiência vivida e repensada dentro de um determinado núcleo programático de
“vida segundo o Evangelho de Jesus Cristo”.
Em segundo lugar, o ato juridicamente constitutivo da fraternidade franciscana foi posto pela
autoridade eclesiástica competente. Foi o próprio Inocêncio III que, acolhendo a súplica de
Francisco, inseriu na ordem jurídica da Igreja esta nova forma de vida religiosa e lhe conferiu
os direitos e deveres suficientes e necessários para tornar-se uma realidade eclesial. Em

13
linguagem moderna, poder-se-ia afirmar que a fraternidade franciscana obteve assim
personalidade jurídica na Igreja.
Em terceiro lugar, existe o dado essencial e característico do compromisso que Francisco e
seus primeiros companheiros assumiram nas mãos do Papa: Francisco prometeu obediência
ao Papa e os outros irmãos, segundo a ordem do Papa, prometeram obediência a Francisco.
Poder-se-ia afirmar que foi o momento no qual Francisco e seus primeiros irmãos emitiram
juridicamente a sua profissão.58 Os dois versantes da obediência foram o eixo da eclesialidade
e da estrutura interna da fraternidade, sustentada pela autoridade e respeitabilidade de
Francisco e dos seus sucessores.

2. Configuração e tarefa inicial da fraternidade franciscana

Quando Francisco se dirigiu a Roma para o encontro com Inocêncio III já havia concebido, ao
menos em linha de máxima, o seu projeto de vida evangélica como uma nova forma de vida
religiosa.59 Desde o início, pois, o movimento franciscano teve uma configuração jurídica
com alguns traços próprios em relação aos esquemas canônicos institucionais da época. .
O projeto de Francisco não era um projeto de vida evangélica de índole eremítica, monástica
ou canonical. Na sua singular realidade, o seu projeto partiu de uma estrutura essencial
específica, reduzida ao mínimo do ponto de vista organizativo e do direito próprio. As
normais exigências do rápido desenvolvimento da fraternidade e certas medidas no quadro do
direito canônico da época promoveram uma gradual definição do propósito inicial de
Francisco.
De fato, Francisco ideara um projeto de vida supra-diocesano (que nenhum bispo teria podido
aprovar), não baseado em lugares fixos como mosteiros, casas e comunidades estáveis,
colocando-se assim em clara oposição ao delineamento da vida religiosa tradicional e também
às outras fundações do tempo, por exemplo os Trinitários e os Dominicanos, itinerante por
todas as estradas do mundo (o mundo era “o seu claustro” 60), composto de grupos variáveis na
composição, próximos ao povo e aos necessitados e evangelizadores mediante o apelo à
conversão evangélica e, sobretudo, com o exemplo de um profundo amor fraterno e de uma
absoluta pobreza.
Nesta perspectiva, o movimento franciscano nasceu sem quadros intermédios de superiores
verdadeiros e próprios, baseados na dinâmica dos grupos, firmes na espontânea familiaridade
e na mútua obediência caritativa e na submissão de todos a Frei Francisco, segundo a vontade
do Papa. A centralização do governo da Ordem na pessoa de Francisco, o menor dos frades e
servo de todos61, garantia o sentido de fraternidade universal e de unidade de espírito no
compromisso de fidelidade a certos valores evangélicos fundamentais.
Francisco percebeu imediatamente que um projeto assim não podia ser realizado sem a
autorização do Papa e sem uma sólida comunhão de espiritualidade e de vida entre todos. E
Inocêncio III, analisada a intenção daqueles homens de fé, concedeu-lhes a possibilidade de
encarnar uma inédita forma de vida religiosa e de levar adiante uma missão evangelizadora
nova e a Francisco a responsabilidade de “Ministro geral e servo” de toda a fraternidade. Esta
importância da figura do Fundador, responsável por todos os frades, espalhados no amplo
“mosteiro do mundo”, tem uma remota analogia - e talvez uma inspiração - no sistema secular
da vida monástica centrada na pessoa do abade.
Em coerência com a essencialidade e a simplicidade da configuração jurídica do modus
vivendi evangelicus que o Altíssimo revelou a Francisco, compreende-se facilmente a

14
conotação institucional da fraternidade franciscana do ponto de vista da condição clerical ou
laical de seus membros.
Evidentemente, naquela época não existia a distinção entre Institutos clericais e laicais e,
muito menos, existia o conceito jurídico e a denominação de Instituto misto. Quando nasceu a
fraternidade franciscana, os esquemas do direito comum vigente relativos à vida religiosa
refletiam os modelos fundamentais da vida monástica comunitariamente organizada em forma
descentralizada. Por certo, no mosteiro existiam monges sacerdotes e não-sacerdotes, mas
para os efeitos da organização comunitária do mosteiro podiam assumir a responsabilidade de
governo tanto uns quanto outros: eram eleitos em vista de seus méritos pessoais, enquanto
monges, então em razão de sua condição eclesial de clérigo ou leigo. São Bento não era
sacerdote e na história monástica do primeiro milênio costumeiramente os abades não eram
sacerdotes.
Nessa perspectiva, baseados nas informações históricas de que dispomos, parece certo dever-
se afirmar que no momento da constituição da fraternidade franciscana a sua responsabilidade
jurídica tivesse sido confiada a um frade não-sacerdote (Francisco); que para a fraternidade
franciscana das origens o fato da presença de sacerdotes e/ou não sacerdotes não tenha
constituído nenhum problema de conotação jurídica da fraternidade (no sentido laical,
clerical, mista...); e que na vida e nos escritos de Francisco não tenha aparecido uma reflexão
e/ou uma proposta explícita, premeditada e formal sobre a qualificação ou sobre a categoria
eclesial, neste sentido, da Ordem que nasceu dele. Na sua mente e no seu modo de agir,
naquilo que se refere à identidade religiosa e à conseqüente estrutura e à organização da
fraternidade, fez completa abstração da conotação clerical-laical-mista da Ordem.
Um aspecto importante para a identificação eclesial da fraternidade franciscana foi a tarefa
própria, determinada pelo Fundador.
Francisco, após um sério discernimento diante do Senhor, escolheu a dimensão apostólica do
seu projeto de vida evangélica62; e assim o manifestou nos pedidos dirigidos ao Papa
Inocêncio III. A resposta do Papa, concedendo à fraternidade franciscana uma personalidade
jurídica na regulamentação eclesiástica, foi clara e estimulante: confiou a Francisco e aos seus
primeiros companheiros o serviço da evangelização, no sentido, sobretudo, de pregar a
penitência, isto é, a conversão da vida ao Evangelho.63 As fontes históricas atestam sem
incertezas este importante “mandato/encargo eclesial - de poenitentia praedicanda - como
parte essencial das concessões pontifícias durante o encontro havido em 1209/10. Deve-se
destacar que Inocêncio III conferiu este mandato eclesial à fraternidade franciscana in
solidum; portanto, não só aos frades sacerdotes, mas também aos frades não-sacerdotes.64
Além da pregação pelo exemplo, mediante a credibilidade da própria vida - “todos os frades
preguem com as obras”65 - Francisco, por força do mandato recebido do Papa e de sua
autoridade “ministerial” sobre a fraternidade, por sua vez enviou regularmente os frades a pre-
gar, sem levar em especial consideração o seu respectivo estado jurídico pessoal (clérigos ou
leigos), contanto que tivessem o Espírito do Senhor e o dom da palavra, confiando-lhes áreas
geográficas específicas.66

3. Reconhecimento da personalidade jurídica e Regras da fraternidade franciscana

Existe um fato da máxima importância, necessário para compreender os acontecimentos da


ulterior evolução da fraternidade franciscana: trata-se, como recordamos, do momento em que
Inocêncio III acolheu o propositum vitae evangelicae de Francisco. Exatamente então, a

15
fraternidade franciscana adquiriu personalidade jurídica própria e se tornou uma realidade
eclesial autônoma na ordem canônica.
Este momento, porém, de extraordinária relevância jurídica, não coincidiu nem deve ser
associado à sucessiva aprovação da legislação fundamental verdadeira e própria (as assim
chamadas Regras) da fraternidade. A aprovação da fraternidade franciscana tem um valor
jurídico e eclesial maior do que a aprovação de sua legislação. De fato, esta, segundo o direito
então vigente, não estava sujeita à aprovação da Sé Apostólica, mas apenas a uma
confirmação, direta ou indireta, do Papa, como garantia, para os frades e para a Igreja (dentro
e fora da fraternidade), da autenticidade evangélica.
Francisco confiou na plena autonomia de sua experiência de vida evangélica, quando afirmou
no seu Testamento que ele fez escrever o seu projeto de vida evangélica em poucas e simples
palavras e que o Papa lho “confirmou”.
Enquanto se elaborava uma legislação verdadeira e própria, a fraternidade franciscana
exprimia a sua específica personalidade jurídica mediante um lento e progressivo processo de
codificação da própria vivência evangélica e através da forma de relacionamento com as
outras entidades eclesiais do tempo. Quanto a isso, vale a pena recordar um exemplo histórico
de grande significado: ainda antes da Regra não bulada, em 1220, a fraternidade franciscana
pediu ao Papa Honório III que proibisse as outras Ordens religiosas de acolher os frades
trânsfugas (privilégio já obtido por todos os outros religiosos). O Papa concedeu o que se
pedia (com algumas condições) e ainda deu aos superiores da fraternidade franciscana o poder
de impor as censuras eclesiásticas aos frades que com “o hábito da fraternidade “andavam
vagando fora da obediência.67
Deste exemplo histórico, vê-se que não foi difícil constatar que por força da própria
personalidade jurídica a fraternidade franciscana encontrou-se na mesma condição canônica
das demais instituições eclesiais no âmbito da vida religiosa comunitariamente organizada.
Aquilo que era concedido pelo direito comum aos superiores das comunidades monásticas
(abades e priores), sacerdotes e não-sacerdotes, mas prevalentemente não-sacerdotes, foi
concedido também aos superiores (Ministros) da fraternidade franciscana, no preciso
momento histórico em que Francisco, Ministro geral e servo, era certamente um frade não-
sacerdote.68 Já que a Regra beneditina fora associada ao Corpus Iuris Canonici, aquilo que
estava no direito comum era também participado, em iguais condições, por todos.

4. Autoridade/poder jurídico na fraternidade franciscana

Um capítulo importante e significativo da dimensão jurídico-eclesial da fraternidade


franciscana é o que se refere à autoridade ou ao poder institucional no seio da mesma. O tema
pode ser examinado em dois momentos: no momento constitutivo da fraternidade (poder
fundacional) e no momento ulterior da organização mais completa do poder eclesiástico de
governo no seio da fraternidade (poder estrutural).
No momento em que Francisco fez a profissão de obediência ao “Senhor Papa” e todos os
outros frades fizeram a profissão de obediência a Francisco, o Papa, Bispo de Roma, entendeu
associar Francisco a si como seu cooperador, no governo da fraternidade franciscana, não o
sujeitando ao poder de nenhum outro bispo diocesano; obviamente, isso aconteceu levando
em conta a respeitabilidade e a direta autoridade de Francisco e o limitado esquema estrutural
da vida dos frades, testemunhas e pregadores do Evangelho pelos caminhos do mundo.
Por isso, o fato que, desde o momento da fundação da Ordem, a autoridade/poder jurídica na

16
fraternidade tenha tido uma peculiar forma de centralização na pessoa de Francisco e dos seus
sucessores, deixou uma importante marca na dinâmica interna do franciscanismo. Com efeito,
depois de Francisco, como estabelecia a Regra bulada, todos os Ministros e os demais frades
encontravam-se na mesma condição: “E os demais irmãos estejam obrigados a obedecer... aos
sucessores [de Frei Francisco]”.69
Neste ponto, impõe-se uma pergunta fundamental: com que autoridade Francisco pôde dispor
de seus frades? Em que ordem canônica pôde inspirar-se o plano de poder da fraternidade
franciscana, centrado na obediência ao Ministro geral e servo, garantia de fidelidade ao
projeto de vida evangélica e vínculo vivo que unia os frades à autoridade da Igreja e entre si?
Para introduzir-nos neste discurso, deve-se observar que, naquela época, a distinção entre
poder de ordem e poder de regime ainda não havia sido teorizada e, muito menos, a distinção
entre poder de jurisdição e poder de domínio (que hoje sobrevive no assim chamado ex-poder
de domínio) e a distinção entre poder institucional e poder carismático. Na esteira da doutrina
patrística, naquela época conhecia-se apenas o poder pastoral de santificar, de ensinar e de
governar, conferido por Cristo aos apóstolos.
Porque é Cristo quem governa a sua Igreja através dos canais sacramentais, o sacerdócio
batismal e o sacerdócio ministerial resumem-se no seu único sacerdócio. Por força do
sacerdócio batismal, o Christi fidelis não é constituído “pastor”, mas por força da identidade
teológica e jurídica que lhe confere o batismo, adquire a capacidade de lhe ser entregue o
poder de cooperar cum clerico et non sine clerico no exercício do poder de governo, sempre
que se tomar necessário, nas mansões (cargos eclesiásticos) que não prevejam a necessidade
da sagrada ordenação (ordem sacra).
Como se sabe, com a “benção abacial”, o bispo do território conferia ao abade neo-eleito o
poder pastoral que lhe era necessário para governar o seu mosteiro. Os monges eram parte da
Igreja particular (diocese), mas sua vida exigia que fosse governada por um delegado do
bispo, com o poder necessário para cumprir a sua tarefa. Por ocasião da “bênção abacial”, ao
entregar ao abade neo-eleito este poder, o bispo conferia-lhe também as “insígnias” da
autoridade recebida (cruz peitoral, mitra, báculo etc.) Isso acontecia também com as
abadessas.
Por analogia com o caso dos abades, aos quais o bispo do seu território conferia o poder
pastoral, o bispo de Roma (o Papa) conferiu a Francisco, como seu cooperador no governo da
fraternidade franciscana, o poder pastoral sobre todos os frades, espalhados no grande
“mosteiro do mundo”.
Portanto, a centralidade do governo da Ordem na legislação franciscana fundamental (a Regra
não bulada e a Regra bulada), em virtude da qual foi conferido ao Ministro geral o direito de
admitir à Ordem, de examinar e de conferir a missão canônica aos pregadores, assim como a
possibilidade de organizar periódicos encontros dos Ministros provinciais e dos Custódios70,
pareceu óbvio que tivesse encontrado inspiração e fundamento jurídico na analogia com a
estrutura monástica. Certamente, a partir do encontro inicial de Francisco com o Papa
Inocêncio III, na ossatura da regulamentação interna da Ordem desponta esta norma
fundamental, depois incluída na Regra bulada: “Todos os irmãos devem ter sempre um dos
irmãos desta Ordem como Ministro e servo desta fraternidade. E estão rigorosamente
obrigados a obedecer-lhe”.71
Sob outro aspecto, podemos falar do “poder estrutural”, isto é, do poder eclesiástico de
governo, concedido pelo direito comum à organização comunitária da vida religiosa
(mosteiro), historicamente desenvolvido e institucionalizado na fraternidade franciscana com
a regulamentação da própria experiência de vida evangélica.72

17
Por uma certa analogia com o direito comum dos religiosos, a legislação franciscana conferiu
forma jurídica às próprias estruturas de governo, sobretudo em razão do crescimento
numérico e das distâncias em que viviam os irmãos, das múltiplas exigências comunitárias e
da finalidade apostólica da Ordem. Assim, Francisco teve a necessidade de inserir na estrutura
da Ordem certos cargos, isto é, irmãos especialmente responsáveis pelo serviço fraterno aos
outros (Ministros provinciais, Custódios, Guardiães73, conferindo a eles, direta ou
indiretamente, o poder que era necessário para cumprir a própria tarefa. A Igreja,
“confirmando” a legislação da Ordem, ratificou e tomou próprio o quadro das
autoridades/poderes, também intermédias, da fraternidade franciscana.
Recorde-se, porém, que a pessoa e o cargo de Ministro geral continuou no centro de toda a
estrutura de poder da fraternidade franciscana. Por força daquilo que estabelece a legislação
franciscana, no momento de sua eleição foi pressuposta a sua profissão de obediência ao Papa
e a entrega, por parte do Papa, do poder que lhe é necessário para desenvolver o seu cargo ex
ipso iure de servidor geral de toda a fraternidade.
Embora o Ministro geral (cargo) fosse o alicerce de toda a estrutura de poder da fraternidade
franciscana (como por analogia o abade no próprio mosteiro), o cargo não era vitalício (semel
abbas semper abbas) nem era eleito ad tempus praefinitum, mas somente pelo tempo em que
fosse idôneo para o serviço, isto é, ad explendam idoneitatem servitii. “Se, em qualquer
tempo, parecer à totalidade dos Ministros e Custódios, que o dito Ministro não seja idôneo
para o serviço e comum utilidade dos irmãos, têm os ditos irmãos, aos quais cabe o direito de
eleição, o dever de, em nome do Senhor, eleger um outro”.74
A propósito, merecem destaque dois dados muito importantes: na legislação franciscana, os
Capítulos não foram instituídos primeiramente para renovar os cargos, mas para tratar das
coisas de Deus75 e nos, Capítulos gerais eletivos a escolha dos candidatos não foi vinculada à
condição eclesial das pessoas (sacerdotes ou não-sacerdotes): um dos irmãos desta Ordem,76
conquanto idôneo para o serviço e para a comum utilidade dos outros.
Na codificação da legislação franciscana devem-se pressupor também muitas coisas sobre a
“constituição” dos Ministros provinciais. Mesmo se eleitos por seus irmãos no Capítulo
provincial, deviam ser confirmados, direta ou indiretamente, pelo Ministro geral e recebiam
dele o poder necessário para o cumprimento de sua tarefa. No início, muitos Ministros
provinciais foram leigos. Todavia, existe um texto que leva em consideração a eventualidade
de serem sacerdotes: “Os Ministros, porém, se são sacerdotes, com misericórdia lhes
imponham a penitência; (aos frades que tenham pecado mortalmente); se, porém, não são
sacerdotes, façam-lha impor por outros sacerdotes da Ordem”.77 Este texto é de notável valor
jurídico, pois se encontra na Regra bulada de 1223, e revela muito o pensamento e a vontade
de Francisco sobre a condição das pessoas que deviam ocupar o cargo de Ministro e servo de
seus frades. Indo além do âmbito estritamente sacramental, em nenhum nível o poder de
governo está ligado ao sacerdócio e, muito menos, ao estado clerical. Os irmãos sacerdotes
podiam administrar os sacramentos dentro e fora da fraternidade. Mas não tinham, como,
aliás, já no “mundo monástico”, nenhuma precedência no seio da Ordem, como também,
nenhum título particular para se tomarem superiores.
Portanto, pode-se concluir que todos os cargos e ofícios na Ordem, segundo a vontade ou a
intenção fundacional de Francisco, foram igualmente acessíveis a todos os irmãos,
independentemente de seu estado clerical ou laical, conquanto conferidos em base à
idoneidade de cada um; uma idoneidade - como é óbvio - que devia ser medida em função da
natureza e do dinamismo específico da vida consagrada, dom do Espírito que interessa por si
mesmo à vida e à santidade do povo de Deus e que, portanto, dispensa qualquer outra
conotação em referência à divina e hierárquica constituição da Igreja.78

18
CONCLUSÃO

A Ordem franciscana, vista no seu momento de fundação, em outras palavras, segundo a


vontade ou a intenção de Francisco como Fundador, pode ser considerada um “Instituto
misto”?
Atendo-nos aos dados de sua vida e dos seus escritos, Francisco não pensou em articular uma
reflexão sobre o tema dos “Institutos mistos” nos termos (conteúdo e vocabulário) dos nossos
esquemas mentais de hoje. Todavia, iniciou uma nova forma de vida religiosa, uma realidade
eclesial institucionalmente identificada que, do conjunto de sua identidade teológico-jurídica,
segundo o nosso modo de ver, dá uma clara resposta à pergunta que nos foi posta.
Daquilo que sinteticamente se expôs, é possível afirmar que a Ordem franciscana, no seu
momento de fundação, tenha sido de fato um Instituto misto, no sentido que foi uma realidade
existencial e efetiva na qual co-existiam irmãos sacerdotes (clérigos) e irmãos não-sacerdotes
(leigos). A presença de fato de clérigos e leigos é um dado histórico do momento de fundação
da Fraternidade franciscana.
No entanto, se considerarmos a questão do ponto de vista do direito (de iure), concretamente,
se houve a vontade formal de Francisco de considerar como componentes fundamentais, e
portanto necessárias, da fraternidade os irmãos clérigos e os irmãos leigos, à luz daquilo que
se estudou, deve-se dizer que não houve. Houve Fundadores que escolheram expressamente a
identidade mista do Instituto no sentido verdadeiro e próprio, isto é, segundo o esquema de
fundação, por direito e em realidade, composta de membros sacerdotes e não-sacerdotes.
Francisco não se pronunciou de maneira formal sobre este ponto; e até, no seu projeto de vida
e na sua legislação abstraiu institucionalmente de conotações clericais e leigas, como traços
constitutivos, dos membros da Ordem. O “frade menor”, para ser “religioso” segundo o
projeto de Francisco, não precisa necessariamente ser clérigo ou leigo.
“Quero que esta fraternidade se chame Ordem dos Frades Menores”. Eis a vontade de
Francisco. Simplesmente “frades” e “menores”, sem discriminações e preferências motivadas
pelas condições “eclesiais” das pessoas, que não entram na fórmula da profissão para a vida
franciscana.

19
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
(das Fontes franciscanas)

Adm Admoestações
AnPer Anônimo Perusino
BF Bullarium Franciscanum
1Cel Vita prima de São Francisco de Tomás de Celano 2Cel Vita secunda de São
Francisco de Tomás de Celano 2Cfi Carta a todos os fiéis (2a redação)
Cord Carta enviada a toda a Ordem, São Francisco
Leg3C Legenda dos três Companheiros
Fiar I Fioretti de São Francisco
LegM Legenda maior de São Boaventura
Legm Legenda menor de São Boaventura
RegB Regra bulada
RegNB Regra não bulada
SCom Sacrum Commercium Sancti Francisci cum Domina Paupertate
EsPer Espelho da Perfeição
TestSe Testamento de Sena (maio de 1226)
Test Testamento de São Francisco (1226)
VitryHoc A Ordem e a pregação dos frades menores: da Historia occidentalis de Jacques
de Vitry
1Vitry Carta de Jacques de Vitry, de Gênova, outubro de 1216
2Vitry Carta de Jacques de Vitry, sobre a tomada de Damieta em 1220

20
NOTAS

21
1
Cf. as duas cartas de Fr. AGOSTINHO GARDIN OFMConv, Presidente de turno da Conferência dos Ministros gerais
da Primeira Ordem franciscana e da TOR: a primeira aos membros da Comissão interfranciscana (Fr. Andrea Bani OFM
e Fr. Nikolaus Schöch OFM, Fr. Giovanni Iammarrone OFMConv e Fr. Piotr Anzulewicz OFMConv, Fr. Francisco
Iglesias OFMCap e Fr. Giampiero Gambaro OFMCap), Roma, 30 de dezembro de 1997, e a segunda a Fr. Francisco
Iglesias coordenador da Comissão, Roma, 30 de dezembro de 1997.
2
Cf. Test 14.
3
Cf. Test 34ss.
4
Carta de Fr. AGOSTINHO GARDIN OFMConv aos membros da Comissão interfranciscana, Roma, 30 de dezembro de
1997.
5
CDC, Can 588§1.
6
Cf. JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica pós-sinodal Vita consecrata, 25 de março de 1996, n. 60.
7
Cf. Test 14.
8
RegNB 2, I.
9
RegB 2, I.
10
Test 16.
11
Cf. 2Cel 193.
12
Cf. RegNB 2,4ss; RegB 2,4ss.
13
Cf. 1Cel 24; 1Cel 25; I Cel3l; 1Cel 37; 1Cel 56; lCe157; 1Cel 62; 2Cel 109; 2Cel 193; Legm II 2; Legm II 8; Leg3C29;
Leg3C 54; Leg3C73; AnPer II; AnPer47; EspPf85; RegB 2,7; RegB 2,9; Test 16; 1Vitr 8ss; 2Vitr 3ss; Vitr Hoc 10s. “E
os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o
bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente (...). E podem ter as ferramentas necessárias ao seu ofício”
(RegNB 7,4.8).
14
Cf. RegNB 3,3ss; RegNB 15,1; RegNB 17,5; RegNB 20,1; RegB 3,2; Test 18; Test 38.
15
Esser afirma: “Desde as origens, a nova Ordem não é nem um movimento laical nem uma comunidade clerical” (C.
ESSER OFM, Origini e valori autentici dell'Ordine dei Frati Minori, Milano 1972, n. 5, p. 59). Hardick confirma:
“Francisco não tinha a intenção específica de fundar nem uma Ordem clerical nem uma laical” (L. HARDICK OFM,
Storia della Regola e sua osservanza agli inizi dell'Ordine minoritico, in AA.VV., Introduzione alia Regola
francescana, Milano 1969, p. 56).
16
D. SCHMUCKI OFMCAP, Iniziazione all vita francescana alla luce della Regola e di altre fonti primitive, in L’ltalia
Francescana 60 (1985) 403s, Cf. K ESSER OFM, o.c. pp, 45 ss, Também nos mosteiros femininos havia uma distinção
entre moniales conversa e et clericae, Cf. J. F. NIERMEYER, Mediae latinitatis lexicon minus, Leiden 1993, p. 191.
17
2Cel l91.
18
1Ce1 38.
19
Cf. T. DESBONNETs, OFM, Dalla Fratemità ali” Ordine, in AA. Vv., Lettura delle Fonti francescane. Temi di vita
francescana - La Fraternità, Roma 1983, pp. 70ss.
20
RegNB 6,3. Cf. RegNB 7,3; RegB 1,2. Nos escritos de Francisco o termo “frater” é encontrado, em média, uma vez a
cada 73 palavras. Cf. T. DESBONNETS OFM, a.c., p. 71.
21
Cf. RegB 6,8; RegNB 9,13s.
22
2Ce1 12; cf. 2CFi 9,56.
23
Cf. RegNB, 22,31.
24
Cf. CDC, cânon 602.
25
RegNB 5,12-15. Cr. Mt 20,25 ss,. e Lc 22,26.
26
RegNB 6,3. Cf. Jo 13,14.
27
RegB 10, 1.5-6.
28
2CFi 1.42.47.
29
RegB 6,7-9; RegNB 9,14; RegB 10,1.
30
RegNB 17,5.
31
RegNB 17,10; RegNB 3,3; RegNB 22,19.25; Adm 6,1.
32
RegNB 22,23.
33
Test 41; 2CFi 86.
34
“Minorum fratrum sacra religio (...) cuius vita tanta est novitas quod de ea in corpore iuris non reperitus auctoritas”
(BARTOLO DA SASSOFERRATO, Tractatus minoricarum (proemio), in Miscellanea luris Franciscalis, auctore
Jacobo a Grumello OFM, Brescia 1502, fl. 177).
35
cf. LegM 8,1; Leg3C 36.
36
RegNB, prol., 2.
37
“Consideremos, irmãos caríssimos, a nossa vocação, para a qual Deus nos chamou com misericórdia, não só para a
nossa salvação, mas para a salvação de muitos, a fim de que andemos pelo mundo, exortando a todos, mais com o
exemplo que com a palavra, a fazer penitência de seus pecados e guardar na memória os mandamentos de Deus” (Leg3C
36).
38
RegNB 17,3.
39
RegNB 17,5ss.
40
1Cel 29; LegM III, 7; COrd 2ss; RegNB 21; RegB 9,4.
41
Cf. RegB 9,2; Test 8; 2Ce1146.
42
Ct. RegNB 19,3s; TestSe 5; Test 8ss; Adm 26; 2CFi 33s.
43
RegNB 7,7.
44
Cf. RegNB 1; RegB 9 e 12.
45
Cf. RegNB 16,3; RegNB 17,1; RegB 9,2ss; RegB 12,2.
46
AnPer 36.
47
Cf. Martyrologium Romano-Seraphicum, Romae 1953, 16 Ianuarii.
48
PIO XII, Constituição apostólica Sedes sapientiae, 31 de maio de 1956, in Acta Aposrolicae Sedis 48 (1956), 355.
49
RegNB 17,4.
50
Adm 4,lss. Cf. RegB 6,2.
51
Cf. RegNB 1,1; RegB 1,2.
52
RegNB 17,4.
53
RegB 10,6.
54
Cf. RegB 7,3s.
55
RegB 8,2.
56
Na Regra de vida dos Frades da Santíssima Trindade, aprovada por Inocêncio III (1198), todos os membros da Ordem
também se chamam “frades” e “irmãos” e os superiores “ministros” (o Superior geral “minister maior” e os outros
Superiores. «minister minor”, inclusive os Superiores locais, “minister domus”). Os Superiores são normalmente
chamados de “ministros”, não “irmãos ministros” e o critério geral é muito claro: “Minister vero, sive maior sive minor,
sacerdos sit”. Cf. The Trinitarians Rule of Life: Texts of the six principal Editions. Transcribed and edited by J. J. Gross,
Romae 1983, pp. 9-15. Nas origens da Ordem dos Frades Pregadores existem critérios estruturais e de governo também
muito significativos. À idéia original da Ordem, constituída de presbíteros pregadores e confessores, sobrepõe-se, não
sem problemas, a estrutura dos irmãos conversas ou cooperadores, com as conseqüentes diferenças. Cf. A. GONZÃLEZ
FUENTE OP, Il carisma della vita domenicana, Roma 1998, pp. 68, 84ss, 123ss.
57
Para compreender as intenções de Francisco são importantes os acontecimentos narrados pelas fontes, como por
exemplo, a Legenda dos três Companheiros: “Vendo o bem-aventurado Francisco que Deus fazia crescer seus irmãos
em número e mérito, sendo eles já doze homens perfeitíssimos e tendo os mesmos sentimentos, disse aos onze, ele que
era o duodécimo, guia e pai deles: ‘Vejo, irmãos, que Deus, por sua misericórdia, quer que nossa irmandade cresça.
Vamos, pois à nossa Mãe a Santa Igreja romana, notifiquemos ao Sumo Pontífice o que o Senhor começou a fazer por
nosso intermédio, a fim de que, conforme a sua vontade e ordem, continuemos naquilo que começamos’” (Leg3C 46).
58
Cf. Leg3C 52. O Anônimo Perusino narra o encontro havido entre Francisco e Inocêncio III nos mesmos termos que a
Legenda dos três Companheiros, mas na exposição dos fatos segue uma linha cronologicamente mais lógica. Narra o
Anônimo Perusino: “Em seguida, o bem-aventurado Francisco inclinou-se e prometeu ao Senhor Papa obediência e
reverência com humildade e devoção. Em volta dele os outros irmãos, que ainda não tinham prometido obediência, por
ordem do Papa prometeram, do mesmo modo, obediência e reverência a Francisco. E o Senhor Papa aprovou a Regra...”
(AnPer 36).
59
Ao ouvir a “missão” dos apóstolos, depois de certificar-se da exegese do texto evangélico, havia exclamado: “É isso
que eu quero, isso que procuro, é isso que eu desejo fazer de todo o coração” (1Cel 22).
60
Cf. SCom 63; Vitry Hoc 17.
61
Cf. Test 41.
62
Cf. LegM XII, 2; Fior 16; 1 Cel 22.
63
Este encargo foi defendido contra as pretensões dos párocos pelo Papa Honório III com a bula Cum dilecti fllii, de Ii de
junho de 1219 (BF I, n. 2, p. 2). S. Boaventura considera fundamental a missão da pregação obtida da Sé Apostólica
para a identidade da Ordem: “... missi sunt Fratres a Sede Apostolica per mundum muniti eius testimonio” (S.
BOAVENTURA, Quare Fratres Minores praedicent et confessiones audiant, in Opera omnia VIII, 380).
64
(O Papa) “abençoou-os dizendo: “Ide com o Senhor, innãos, e assim como ele se dignar inspirar-vos pregai a penitência
a todos'“ (Leg3C 49). Cf. AnPer 36; Vitry Hoc 6; 1Cel 33; JULIANO DE ESPIRA, Vita Sancli Francisci 21, in
Analecla Franciscana 10, 345. Na Legenda Maior (LegM 10), S. Boaventura julga que Francisco e seus primeiros
companheiros tenham recebido a tonsura ministerial (clerical), com o qual lhes teria sido conferido o nobre encargo da
pregação. Segundo o testemunho da Legenda dos “três Companheiros (Leg3C52) e do Anônimo Perusino (AnPer 36),
ao contrário, os frades que com Francisco foram admitidos à presença de Inocêncio III receberam todos a tonsura
conversional (monástica) como testemunho público de sua consagração a Deus (propter eorum devotionem).
Provavelmente S. Boaventura foi induzido à referida interpretação a fim de ter um apoio para defender o direito dos
Frades Menores ao exercício da pregação e de ouvir confissões, reservado aos sacerdotes. Cf. S. BOAVENTURA,
Quare Fratres..., in Opera omnia VIII, 375-385.
65
RegNB 17,3.
66
Cf. Leg3C 59; AnPer 40.
67
HONÓRIO III, Cum secundum consilium, 22 de setembro de 1220, in BF I, 6
68
A afirmação que Francisco tenha sido diácono (quando foi ordenado?) não contradiz a constatação de fato, da qual se
trata. Ao contrário, com toda a probabilidade, o próprio “diaconato” de Francisco deve ser explicado nesta ordem de
idéias. Não se pode excluir que ele (mais presumido que comprovado) deva ser inscrito na faculdade que a Regra
beneditina concedia e concede ao abade de cantar o Evangelho (com breves palavras de comentário), revestido das
vestes litúrgicas (cap. lI). Tratar-se-ia dos leviticis ornamentis indutus de que fala Celano (1Cel 86), quando Francisco,
servindo-se da faculdade concedida pelo direito comum a um superior leigo; canta o Evangelho na noite de Natal, em
Greccio. Não se deve esquecer que no tempo de Francisco o diaconato permanente não estava mais em uso. Tudo isso,
evidentemente, não tem nada a ver com a afirmação que Bento e Francisco tenham renunciado ao sacerdócio por
humildade (nem se puseram no caminho para o sacerdócio).
69
RegB 1,3.
70
Cf. RegNB 17,lss; RegNB 18; RegB 8,3s; RegB 9,3. Convém recordar também a carta “obediencial” a Antônio, pela
qual Francisco lhe confia o encargo de ensinar Teologia. Cf. Carta a Santo Antônio.
71
RegB 8,1.
72
Cf. Regra não bulada e Regra bulada.
73
Cf. K. ESSER OFM, O.C., pp. 218ss.
74
RegB 8,4.
75
Cf. RegNB 18,1; 1Vitry.
76
Cf. RegB 8,1.
77
RegB 7,2.
78
Cf. Lumen Gentium 43-44; Perfectae caritatis 1; JOÃO PAULO II, Exortação apostólica Vita consecrata, 25 de março
de 1996, n. 60.

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