Vous êtes sur la page 1sur 13

8 - - ~

é~~~~~Lf@W(iW ~
BACKUP DO JORNALISMO D -

18
A práxis jornalística no ciberespaço tem demandado do campo acadêmico a sistematização de concei-
tos, nomenclaturas e processos que permitam delinear características singulares dos produtos - e seus
desdobramentos - que vêm se desenvolvendo nos últimos anos. As perspectivas de estudo são diversas,
como podemos verificar na própria composição desta edição proposta pelo Itaú Cultural, e revelam a
complexidade de uma área em constituição, que dinamiza e desestabiliza fronteiras que tradicionalmente
delimitavam a profissão.

Do interesse pelo mapeamento histórico, podemos passar pelo desenvolvimento e definição de produtos,
por modelos de narrativas e de design, pelo papel dos internautas e seus modos de interação, pelas novas
funções dos jornalistas e suas rotinas de trabalho, pelas novas experiências de tempo e espaço. Enfim, ques-
tões não faltam. Portanto, o desafio primeiro parece ser mesmo o de estabelecer pontos de vista com base
nos quais se possa refletir sobre a riqueza de experiências que o jornalismo digital vem proporcionando.

Como prática social condicionada historicamente, o jornalismo vem atravessando mudanças significativas
desde sua constituição. O desenvolvimento da atividade é sistematizado por Marcondes Filho (2000) em
cinco fases, que compreendem desde as primeiras manifestações do gênero até a contemporaneidade. Em
linhas gerais, a pré-história do jornalismo (1631-Revolução Francesa) assinala um período em que saberes res-
tritos a determinados grupos detentores de poder passam a circular por meio dos jornalistas. O primeiro jor-
nalismo (1789-1830) abarca a profissionalização dos jornais, quando se destacam seus fins pedagógicos e de
formação política. O segundo jornalismo (metade século XIX-início século XX) é marcado pela conformação
da imprensa moderna regida pelas exigências capitalistas, período em que se confrontam mais fortemente
as noções de opinião e informação no campo. O terceirojornalismo (início século XX-década 1960), por sua
vez, é caracterizado pelos monopólios das empresas de comunicação, em que as indústrias publicitárias e
de relações públicas tensionam as práticas jornalísticas. O quarto jornalismo (1970-contemporaneidade) éo
jornalismo da era tecnológica, que se inicia com a introdução dos computadores nos processos editoriais. A
oopularízaçào da internet na década de 1990 assinala o amplo uso das tecnologias digitais, com destaque
oara a interatividade, a velocidade de circulação de informação e a valorização da visualidade, que implica-
-a-n profundas mudanças na profissão. Se, em um primeiro momento, as alterações tecnológicas tiveram
"1aior impacto na produção industrial, no âmbito do trabalho cotidiano dos profissionais na produção das
~ tkias, isso se dá, sobretudo, com a constituição da web como nova mídia.

esse sentido, Machado (2010) afirma que contemporaneamente se destacam dois usos distintos das redes
-2- emáticas: um em que elas auxiliam na coleta de dados para o desenvolvimento de material para os meios
: essícos, e outro em que todas as etapas produtivas se dão no espaço de rede, da pesquisa à circulação. Por
: _tro lado, se na prática profissional os meios tradicionais são frequentemente tomados como referência
__ ~u-ural para a produção de conteúdos dirigidos ao ciberespaço, será justamente na expansão de tal pers-
,:c".;a que se dará a distinção do jornalismo digital. Hipertextualidade, interatividade, multimidialidade,

19
personalização, memória e instantaneidade são características (ver Quadro 1) que demarcam modalidades
diferenciadas do jornalismo que se conforma nesse novo suporte (BARDOEL; DEUZE, 2000; PALACIOS,2003):

Quadro 1 - Definições das principais características do jornalismo digital


Características do jornalismo digital
Convergência dos formatos das mídias tradicio-
Multimidialidade nais (imagem, texto e som) na narração do fato
jornalístico
Capacidade de fazer com que o leitor se sinta
mais diretamente parte do processo jornalístico.
Isso pode acontecer de diversas maneiras: pela
Interatividade troca de e-mails entre leitores e jornalistas; pela
disponibilização da opinião dos leitores, como é
feito em sites que abrigam fóruns de discussões;
através de chats com jornalistas etc.
Interconexão de textos através de links. Possibili-
dade de, partindo do texto noticioso, fazer links
Hipertextualidade para outros textos complementares (fotos, sons,
vídeos, animações etc), outros sites relacionados
ao assunto, material de arquivo de jornais, textos
jornalísticos ou não, publicidade etc.
Também denominada individualização. Consiste
Cu stom ização! persona Iização na opção oferecida ao leitor para configurar os
produtos jornalísticos de acordo com seus inte-
resses individuais
Acumulação de informações, mais viável técnica
Memória e economicamente na web do que em outras
mídias
A rapidez do acesso, combinada com a facilidade
de produção e disponibilização propiciada pela
Instantaneidade!atualização contínua digitalização da informação e pelas tecnologias
telemáticas, permite uma extrema agilidade de
atualização do material nos jornais da web
Fonte: PALACIOS,2002, p. 3-4.

o jornalismo digital aparece, então, como uma atividade diferenciada, que cresce e se expande na web
como espaço de publicação e distribuição de notícias (RODRIGUES;BARRETO,2009).

20
OPÇÕES TERMINOLÓGICAS E ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO

A expressão jornalismo digital aqui adotada remete ao computador e à rede como determinantes tanto
na produção como na circulação das informaçôes, circunscrevendo, desse modo, o objeto de estudo.

Outros termos têm sido usados em sentido similar: webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo on-líne. jor-
nalismo eletrônico e jornalismo multimídia. Mielniczuk (2003) demonstra que não há consenso quanto à
terminologia mais adequada quando nos referimos ao jornalismo praticado na internet, para a internet ou
com o auxílio da internet. Aponta, assim, distinções que podem ser feitas, tendo como referência Bastos
(2000), Canavilhas (2001), Lemos (1997), Machado (2000) (ver Quadro 2):

Quadro 2 - Síntese de definições de nomenclaturas


Nomenclatura Defini ão
Jornalismo eletrônico Utiliza equipamentos e recursos eletrônicos
Jornalismo digital ou jor- Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implique o
nalismo multimídia tratamento de dados na forma de bits
Ciberjornalismo Envolve tecnolo ias que utilizam o ciberespaço
Jornalismo on-line É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e
em tempo real
Webiornalismo Diz respeito à utiliza ão de uma parte específica da internet, que é a web
Fonte: MIELNICZUK, 2003, p. 44.

Uma vez que as práticas e os produtos jornalísticos contemporâneos podem atravessar mais de uma esfera
concomitantemente, a autora entende que as definições não são excludentes. Observa, ainda, que pensa-
dores norte-americanos costumam utilizar "jornalismo on-llne" ou "jornalismo digital'; enquanto espanhóis
oreferern "jornalismo eletrônico': De forma genérica, conforme Mielniczuk (2003), pode-se dizer que autores
orasllelros seguem a tendência norte-americana.

"endo em vista o suporte, Machado (2000, p. 20) prefere a denominação"jornalismo digital" a "jornalismo on-
''1e~uma vez que a metáfora "on-line" designa a forma de circulação da notícia nesse novo formato jornalísti-
:0. Já o conceito digital- que estaria se impondo como hegemônico - assinala a particularidade do suporte
ce transmissão dessa forma de jornalismo. Em uma definição sintética, o jornalismo digital é descrito como
.odo produto discursivo que constrói a realidade por meio da singularidade dos eventos, que tem como
:..Jporte de circulação as redes telemáticas de qualquer outro tipo de tecnologia pelo qual se transmitam
:''lais numéricos e que incorpora a interação com os usuários ao longo do processo produtivo. É, portanto,
_"1a das atividades que se desenvolvem no ciberespaço.

21
Na cibercultura, o suporte digital permite ao jornalismo uma modalidade de conhecimento do presente,
criadora de sentido e de interpretação do real. O material jornalístico pode ser veiculado e acessado por
meio de computadores, celulares, assistentes pessoais, entre outros equipamentos, por meio dos quais pos-
sibilidades de construções narrativas - que convergem para um único suporte textos, sons, imagens está-
ticas e dinâmicas - se diversificam. No âmbito digital, os dispositivos ativados para cada um dos suportes
em que historicamente se amparou o jornalismo - primeiro a imprensa, em seguida o cinema, o rádio e a
televisão - estão integrados (BARBOSA,2002).

Pavlik (2001) entende que as transformações no campo passam pela natureza do conteúdo, do trabalho
jornalístico, da estrutura das redações e das empresas jornalísticas, bem como pelas relações entre orga-
nizações de notícias, jornalistas e seus diferentes públicos. Para o autor, é possível identificar estágios ou
fases do jornalismo na web: a primeira, assinalada pelo uso de conteúdos produzidos originalmente pelo
jornal impresso e sua adaptação para veiculação na internet. A segunda fase, já voltada para a circulação
on-line, abrangeria tanto aspectos de design como de edição de conteúdos direcionados. O terceiro estágio
implicaria o desenvolvimento de projetos específicos para a rede, incorporando a atualização contínua de
informações. Aplicados dentro de intervalos de tempo bastante reduzidos, praticamente de forma contínua,
romperam com a periodicidade diária. Mielniczuk (2003), utilizando o termo webjornalismo e em linha simi-
lar a Pavlik, propõe a divisão em três gerações:

1) Webjornalismo de primeira geração: os produtos oferecidos, num primeiro momento, eram reproduções
de partes dos grandes jornais impressos, agora publicados na internet. As primeiras experiências realizadas
não passavam da transposição de uma ou duas das principais matérias de algumas editorias. A dinâmica de
publicação seguia o ritmo do jornal impresso, com atualização a cada 24 horas. Nessa fase, os produtos são,
em sua maioria, cópias para a web do conteúdo de jornais existentes no papel. Logo, a rotina de produção
de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos jornais impressos. Não há evidências de uma
preocupação em inovar na apresentação da narrativa jornalística com base nas novas possibilidades ofere-
cidas pelo suporte digital.

2) Webjornalismo de segunda geração: no fim da década de 1990, com o aperfeiçoamento e desenvolvimento


da estrutura técnica da internet no país, identifica-se uma segunda fase do jornalismo digital. Mesmo atrelado
ao modelo do jornal impresso, começam a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar
as características oferecidas pela rede. As publicações para a internet, ao mesmo tempo em que se ancoram no
modelo do jornal impresso para a elaboração das interfaces dos produtos, começam as explorar as potencialida-
des do novo suporte. Surgem os links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as
edições impressas,o e-mail passaa ser utilizado como ferramenta de comunicação, sejaentre jornalistas e leitores,
seja entre leitores e outros leitores, em fóruns e listas de discussão. A elaboração das notícias passa a explorar os
recursos oferecidos pelo hipertexto. A tendência, nesse momento, ainda é a existência de produtos vinculados

22
- -o só ao modelo do jornal impresso como produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e
::- bilidade estavam associadas ao jornalismo impresso.

'ebjornalismo de terceira geração: com a crescente popularização da internet e com o surgimento de


- _. ivas empresariais e editoriais destinadas a esse suporte, o cenário começa a se modificar. Os sites jor-
-: L·COS extrapolam a ideia de uma versão para a web de jornais impressos existentes. É possível observar

=--::2 . as de explorar e aplicar as potencialidades oferecidas pela web para fins jornalísticos. Os produtos
:~'T\ a apresentar recursos multimídia, como sons e animação; recursos de interatividade, como chats,
: :_e es e fóruns; e disponibilizam opções para a configuração personalizada. O hipertexto, nesse mo-
-=----0, passa a ser utilizado não apenas como um recurso de organização das informações da edição, mas
~-:::;érr)começa a ser empregado na narrativa dos fatos. Além dessas características, destaca-se, também,
. -=- ória (PALAClOS,2002), já que a acumulação de informações é mais viável técnica e economicamente
= _8 do que em outras mídias. Ou seja, o volume de informação produzida é maior no jornalismo digital
__ leias publicadas podem ser armazenadas por meio da criação de arquivos, que podem ser acessados
r jornalistas quanto por leitores.

: cerando que os processos produtivos incorporam cada vez mais a automatização e as bases de dados,
_=-ra-se uma quarta geração. Nela, as estruturas de apuração, produção e circulação de conteúdos são
::: :: as às características do ciberespaço e dependentes de tais bases (MACHADO et al, 2007). Na etapa
::-5 ção entre a terceira e a quarta geração, dá-se o surgimento do modelo de jornalismo em base de
: ;!-, BOSA,2008), proposto como um paradigma para sites jornalísticos de perfil dinâmico. Conforme
_ :: a atual geração parece ter as bases de dados como um elemento estruturante. Entre as principais
-=- ícas que definem o período, ela destaca:
=-: _ :>E'S mais especializadas;
-:-,,- olvimento de sistemas de gestão de conteúdos mais complexos, baseados em softwares e
= _agens de programação open source;
-~- - expandido por meio de conexões banda larga;
_ -'"::-açãode plataformas móveis;
---~ 'dação do uso de blogs;
-:::: adoção de recursos da web 2.0;
ração de sistemas que habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças

__ -= s diferenciados criados e mantidos de modo automatizado;


_: âmicos;
:: . -asmultimídia;
-=,.:: de recursos como RSS(Real/y Simple Syndication) para recolher, difundir e compartilhar

23
aplicação da técnica do tagging na documentação e na publicação das informações;
uso crescente de aplicações mash-up;
uso crescente do conceito de geolocalização de notícias;
uso do podcasting para distribuição de conteúdos em áudio;
ampla adoção do vídeo em streaming;
novos elementos conceituais para a organização da informação;
maior integração do material de arquivo na oferta informativa;
produtos experimentais que incorporam o conceito de web semântica;
emprego de metadados e data mining para categorização e extração de conhecimento;
aplicação de novas técnicas e métodos para gerar visualizações diferenciadas para os conteúdos
jornalísticos que auxiliam a sobrepujar a metáfora do impresso como padrão.

Levando em conta a relevância que as plataformas tecnológicas têm, na medida em que estruturam
as sistemáticas produtivas, Schwingel (2008) trata especificamente dos sistemas de publicação que
perpassam as diferentes fases. Destaca experiências pioneiras que abrangeram a circulação de dados
via fax, Telnet e provedores de internet de acesso restrito a clientes, que ocorreram no fim da década
de 1960; experiências de primeira geração, que correspondem à transposição do impresso para a web
a partir de 1992; e experiências de segunda geração, que se iniciam a partir de 1995, quando a me-
táfora do impresso segue sendo utilizada, mas o processo produtivo começa a apresentar algumas
funções diferenciadas. As experiências de terceira geração denotam autonomia gradual em relação
ao modelo impresso; é quando se introduzem os sistemas de gestão de conteúdos e os bancos de
dados integrados ao produto, o que começa a ocorrer a partir de 1999. As experiências ciberjornalís-
ticas que se iniciam em 2002 destacam-se pelo uso de bancos de dados integrados e sistemas de
produção de conteúdos. O usuário, por sua vez, passa a ser incorporado na produção por meio do
jornalismo colaborativo.

Portanto, à medida que o ciberespaço se desenvolve, observamos a ocorrência de mudanças no jornalismo


digital, que, conforme Machado et aI. (2007, p. 117), podem ser assim sintetizadas:

1995-1997: reaproveitamento dos conteúdos dos meios convencionais;


1997-1999: metáfora dos meios convencionais;
1999-2000: lançamento de produtos adaptados ao novo meio;
2002 em diante: desenvolvimento de produtos articulados em torno de bases de dados complexas.

Esses diferentes modelos, conforme os autores, são complementares, podendo coexistir ou não em um
mesmo período. O que determina as diferentes fases é a passagem, em cada uma delas, para um novo tipo
de modelo que se torna predominante, relegando os demais a posições secundárias.
ClAS PROFISSIONAIS

-= ::~::2oor profissionais capazes de se adequar ao mercado de trabalho passa atualmente pela capaci-
ar com as mudanças constantes e rápidas que afetam o campo da comunicação. Convergência
- : - _ ca e pulverização do controle dos meios pontuam o tensionamento entre práticas jornalísticas
.:: ca as - sustentadas por estruturas, rotinas e instituições - e outras em constituição. Estas eviden-
-- - cia ivas diversas que se estabelecem para além dos espaços institucionais reconhecidos pelo âmbito
_= íco ou empresarial e que colocam em crise estruturas naturalizadas.
tratando de jornalismo digital, a flexibilidade acentuada dos processos e rotinas na rede impõe atualiza-
-:.: constantes, Assim, softwares, hardwares ou mesmo modos de proceder são rapidamente substituídos. Seu
iamento exige nova formação ou, pelo menos, o estudo de outros recursos para o domínio de uma última
~ _Talvez seja possível afirmar que um instrumento ainda não é plenamente dominado e o profissional já é
°
_ do a aprender um novo para realizar seu trabalho. fluxo de aprendizado técnico tornou-se acelerado,
_ ndo a desacomodação constante dos profissionais já formados, dos professores e dos alunos em formação .
.: à bito acadêmico, a infraestrutura dos laboratórios de informática vincula-se ao gerenciamento de diferentes
::::-oos que permeiam o ensino no jornalismo digital: o formativo, marcado pela grade curricular; o de aperfeiço-
~~ ente tecnológico, regido por contínuos lançamentos; o da internet, constantemente atualizado.

campo profissional, são exigidas do jornalista digital competências em todas as formas de tecnologia
c-esentes na rede de comunicação (ADGHIRNI; RIBEIRO,2001). Essedomínio de múltiplas formas tecnológi-
3S transforma o jornalista digital em uma espécie de jornalista multimídia (JORGE;PEREIRA,2009). Trata-se
:::0 jornalismo produzido no contexto digital, que precisa trabalhar com áudio, vídeo e texto para apresenta-
;ão e distribuição na internet (DEUZE, 2004).

- apropriação das inovações tecnológicas pela sociedade e pelos grupos profissionais constitui processos
complexos. Assim foi com o surgimento da imprensa, do rádio e da televisão. As mudanças acontecem de
-naneíras diferentes em cada profissão. No caso do jornalismo, um dos ganhos seria uma autonomia relativa,
como pontua Machado (2000). Conforme o autor, no âmbito das empresas jornalísticas, quando se confi-
gura uma modalidade narrativa e se extrapola o domínio das habilidades vinculadas exclusivamente a uma
técnica determinada, a profissão assume contornos diferenciados - em vez de desaparecer frente a uma
nova revolução tecnológica, adapta-se aos meios emergentes. No jornalismo digital, mesmo que grande
parte dos jornalistas ainda trabalhe na sede das empresas, a redação tende a deixar de ocupar um espaço
central de encontro da equipe de profissionais para tornar-se um espaço virtual, a partir do qual se hierar-
quiza e edita a notícia. A informatização das redações, que atendia essencialmente à redução de custos para
as empresas, agora pode também dotar os jornalistas de novos instrumentos de trabalho - de um lado,
facilitando tarefas; de outro, exigindo novos conhecimentos técnicos. Isso não significa que as redações

25
físicas tendem a desaparecer - a reforma da Folha de SPoulo, que unificou as redações do jornal impresso e
do digital, é um indício da importância que o espaço continua tendo para as empresas jornalísticas.

o modo como o profissional se relaciona com a informação e as mudanças no processo de apuração têm
levantado questões como: Quem é o jornalista digital? Ele é, de fato, um jornalista? Que valores balizam
seu trabalho? Em que ele se difere do jornalista tradicional? A produção de notícias para a internet, que, em
muitos casos, se resume à transposição (com ou sem adaptação) de material informativo produzido por
outros meios (jornalísticos ou não), relaciona-se, de certa forma, com a imagem do "jornalista sentado'; que
se contrapõe ao "jornalista de pé'; responsável pelo trabalho convencional de apuração (PEREIRA,2003).

Ferrari (2004) entende que, no jornalismo digital, a produção de reportagens deixou de ser um item do
exercício do jornalismo. Em seu lugar, teríamos o "empacotamento" de notícias: a recepção de um material
produzido, na maioria das vezes, por uma agência de notícias, que passaria pela mudança de título, abertura,
alteração de alguns parágrafos, adição de foto ou vídeo etc. As funções de editor se misturariam com a de
empacotador. Para a autora, haveria uma releitura da função do copidesque, na medida em que se daria um
trabalho sobre um texto alheio.

Nessa linha, outro aspecto a ser considerado diz respeito ao reaproveitamento (ou "reernpacotarnento") de
conteúdos editoriais de um veículo para outro em grupos multimídia, o que pode acarretar uma padroniza-
ção de conteúdos editoriais. Corre-se o risco de reduzir a multiplicidade de fontes, explorar de modo limitado
recursos específicos dos diferentes meios, priorizar a integração de conteúdos por justaposição - texto, áudio,
vídeo etc. acessíveis de maneira independente (SALAVERRrA,2005) - em lugar de multimídia por integração.

Se a redução de custos e a velocidade de produção representam ganhos para as empresas, a publicação


de conteúdo original continua sendo defendida por muitos especialistas e profissionais da área. Para Hall
(2001), as competências exigidas dos profissionais que lidam com a informação digital não se restringem ao
empacotamento de notícias, já que, além da habilidade no uso de softwares de publicação, eles necessitam
de conhecimentos e experiência para ponderar as questões que perpassam os valores-notícia nos proces-
sos editoriais. Além disso, o autor afirma que, na web, a oferta jornalística, ao proporcionar experiências cada
vez mais interativas, permite que se ultrapasse o conceito tradicional de notícia, incluindo ideias, relatos,
diálogos, fontes etc.

Diante de um quadro em mutação, alteram-se as habilidades técnicas exigidas dos profissionais. Em entre-
vista a Jorge e Pereira (2009), um dos dirigentes do portal UOL, veículo do Grupo Folha, destaca, entre as
qualidades do "jornalista de internet": "Boa formação cultural, bom texto, domínio excelente do português
escrito, uma língua, de preferência o inglês'~ À formação, acrescentam-se dados específicos: "Que [o profis-
sional] não tenha preconceito nem dificuldade com internet, nem com equipamentos e software novos.

26
Que tenha curiosidade, disposição para aprender, enfrentar novas tecnologias e gadgets. Não pode ser es-
tranho a nenhuma tecnologia".

Na mesma pesquisa, outro líder de produção do site destaca que se deve "ser mais editor que repórter, mas
que se esteja apto a fazer matéria quando precisar'; e sinaliza para outros atributos pessoais: ter pique e, no
mínimo, saber o que é notícia. Com base nesses dados, os autores analisam que, embora a destreza tecno-
lógica não seja um requisito na decisão de contratar novos jornalistas - e, sim, a vontade de aprender e a
disposição de explorar as tecnologias -, a ausência de preconceito quanto a novos métodos e a habilidade
de entender e pensar, relacionando diversos conhecimentos, é que vem sendo uma espécie de trunfo dos
jornalistas para o século XXI.

Em pesquisa sobre as competências digitais, para a qual foram ouvidos professores e profissionais de co-
municação de Salvador (BA), Machado e Palácios (2007) apontam a existência de uma disparidade entre as
demandas identifica das no mercado e a inserção das tecnologias digitais no ensino dos profissionais do
campo da comunicação:

o futuro profissional do campo da comunicação deverá ser capaz de adaptar-se a uma variedade
de funções decorrentes do processo de convergência nos sistemasde produção das empresas.Se
este tipo de inferência estiver correto, tudo indica que o profissional mais adequado para o novo
mercado terá que ter condições de compreender processos,planejar ações,interpretar cenários e,
mais importante, ser suficientemente flexível para, por um lado, se adaptar e, por outro, reagir de
forma criativa aos constantes ajustes dos processos produtivos por que passam as empresas de
comunicação. (MACHADO;PALAClOS,2007,p. 81)

A dicotomia teoria versus prática, que não representa novidade no campo do jornalismo, reaparece, então,
quando se discute o exercício e, também, o ensino do jornalismo digital:

Da recorrente tensão entre formação teórica e prática,entre um jornalista crítico e um bom técnico,
surgem problemas em torno da estruturação do currículo e da buscae adaptação de uma bibliogra-
fia pertinente para o ensino do jornalismo (Mackinnon, 2008).Essatensão passaainda pela forma-
ção de quadros no corpo docente que possuam adequada base teórica e experiência profissional
em redaçõesmultimídia. Ora,seriano mínimo ingênuo acreditar que asadaptaçõesfeitas por conta
do jornalismo pós-internet tenham dado conta dessesproblemas.Todo essequestionamento pare-
ce,enfim, ter sido reapropriado e reinserido na pauta de discussõessobre a formação profissional do
jornalista e deve ganhar nova dimensão com o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício
profissional,no Brasil(JORGE;PEREIRA, 2009,p. 60).

Em estudo recente, Amara! Quadros e Caetano (2009) abordaram o ensino do jornalismo em redes de
convergência, por meio da análise de disciplinas e formação docente. A pesquisa, inicial naquele momento,

-.
./
mostrou que atitudes e procedimentos têm sido acionados, pelas instituições de ensino superior estudadas,
para a abordagem da prática jornalística tanto na esfera digital quanto na convergência desse meio com as
mídias tradicionais. Essas iniciativas, no entanto, ainda são tímidas em relação ao processo efetivado nas re-
des sociais, ou seja, no cenário contemporâneo em que tais cursos se inserem e para o qual devem preparar
os futuros profissionais. Conforme as autoras, os resultados da pesquisa, ainda que parciais, evidenciam que
o avanço do ensino na compreensão do movimento da sociedade não depende de atitudes isoladas, mas
de discussões e reflexões conjuntas, operações sistemáticas e institucionais, às quais o.referido trabalho se
alia. Nesse sentido, o Mapeamenta da Ensina de Jarnalisma Digital na Brasil em 2010 dialoga com as demais
investigações empreendidas atualmente nesse campo, para fazer emergir os avanços, as dificuldades e os
tensionamentos da área, assim como para sinalizar caminhos possíveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADGHIRNI, Z; RIBEIRO,G. S.N. Jornalismo on-line e identidade profissional do jornalista. Anais do X Encontro Anual
da Com pós, Brasília,2001.
AMARAL, A.; QUADROS, C; CAETANO, K. E.O ensino do jornalismo digital e as práticas de convergência: análise
de disciplinas e formação docente. Trabalho apresentado no VII Encontro Nacional de Pesquisadores
em Jornalismo. São Paulo: ECA-USp,2009.
BARDOEL,J; DEUZE, M. Network journalism: converging competences of media professionals and professionalism.
Australian Jaurnalism Review 23 (2),2001, p. 91-103.
BARBOSA,S.Modelo JDBD e o cibeljarnalisma de quarta geração. Trabalho apresentado no GT 7 - Cibercultura y Ten-
dencias de Ia Prensa en Internet, do III Congreso Internacional de Periodismo en Ia Red. Faro Web 2.0:
Blogs, Wikis, Redes Sociales y e-Participación, na Facultad de Periodismo da Universidad Complutense
de Madrid. 2008.
BASTOS,H.Jarnalismaelectrónica.lnternet e reconfiguração de práticas nas redacções. Coimbra: Minerva, 2000.
CANAVILHAS,J M. M. Dajarnalismaan-lineao. webjarnalisma:formação para a mudança. Biblioteca On-Line de Ciên-
cias da Comunicação, 2006. Disponível em: http//www.bocc.ubi.pVpag/canavilhas-joao-jornalismo-on-line-
webjornalismo.pdf Acesso em: 10jul. 2010.
CANAVILHAS,J M. (2001) Webjornalismo: considerações gerais sobre jornalismo na web. Disponível em: httpJ/www.
bocc.ubi.pVpag/ _texto.php3?htmI2=canavilhas-joao-webjornal.html. Acesso em: 8 jul. 2010.
DEUZE,M. What is multimedia journalism? Journalism Studies, v. 5, n. 2, 2004, p. 139-152.
FERRARI,P.Jarnalisma digital. São Paulo: Contexto, 2004.
HALL,J On-Linejaurnalism: a critica I primer. Londres: Pluto Press,2001.
JORGE,T. M.; PEREIRA,F.H.Jornalismo on-line no Brasil:reflexões sobre perfil do profissional multimídia. RevistaFame-
cos, n. 40, Porto Alegre, dez. 2009.
LEMOS, A. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais. Disponível em:
http//www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html. 1997.

28
':'CHAOO, E. La estructura de Ia noticia en Ias redes digitales. Tese (Doutorado em Comunicação) - Universidade
Autónoma de Barcelona, Barcelona, 2000.
__ o O ciberespaço como fonte para jornalistas. Disponível em: http!/www.boccuffbr/pag/machado-elias-cibe-
respaco-jornalistas.pdf Acesso em: 10 mar. 201 O.
__ o O ensino de jornalismo em tempos de ciberespaço. In: MACHADO, E.;PALÁCIOS,M. (Org.). O ensino do jorna-
lismo em redes de alta velocidade: metodologias & software. Salvador: Edufba, 2007. p. 11-22.
~ PALACIOS,M. Competências digitais dos profissionais de comunicação: confrontando demandas de merca-
do e experiências pedagógicas. In: MACHADO, E.;PALÁCIOS,M. (Org.). O ensino do jornalismo em redes de alta
velocidade: metodologias & software. Salvador: Edufba, 2007. p.61-84.
__ .; PALACIOS,M.; SCHWINGEL, C; ROCHA, L. Plataforma Panopticon: um jornal laboratório, multiusuário e des-
centralizado. In: MACHADO, E.;PALÁCIOS,M. (Org.). O ensino do jornalismo em redes de alta velocidade: meto-
dologias & software. Salvador: Edufba, 2007. p. 111-128.
CONDES FILHO, C J. R.Comunicação ejornalismo. A saga dos cães perdidos. São Paulo: Hacker, 2000.
~ICZUK, L. Jornalismo na web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual.
Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) - Faculdade de Comunicação, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2003.
__ o Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web. In: MACHADO, E.;PALACIOS,M. Modelos de
jornalismo digital. Salvador: Edições GJOUCalandra, 2003, p. 38-54.
::UClOS, M. Ruptura, continuidade e potencialização no jornalismo on-line: o lugar da memória.ln: MACHADO, E.;
PALACIOS,M. Modelos dejornalismo digital. Salvador: Edições GJOUCalandra, 2003, p. 13-36.
__ o Jornalismo on-line, informação e memória: apontamentos para debate. Comunicação apresentada nas Jor-
nadas de Jornalismo On-Line, Universidade da Beira Interior, Portugal, 2002.
:Y".=REIRA, F O jornalista on-line: um novo status profissional? Uma análise sobre a produção da notícia na internet a
partir da aplicação do conceito de "jornalista sentado': Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação. 2003.
~RIGUES, C; BARRETO,I. Jornalismo on-line: formação universitária e prática jornalística. Anais do VII Encontro
Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, São Paulo, 2009.
- .\t.AVERRfA,R.Redacción periodistica en internet. Navarra: Eunsa, 2005.
5CHWINGEL, C Sistemas de produção de conteúdos no ciberjornalismo: a composição e a arquitetura da informa-
ção no desenvolvimento de produtos jornalísticos. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contempo-
râneas) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.

29

Vous aimerez peut-être aussi