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Uma “sociologia crítica do conhecimento”: Michael Löwy e sua

proposta de sociologia do conhecimento


Rodrigo Bischoff Belli∗

Resumo: Este texto vem apresentar o resultado de uma série de leituras iniciais sobre o estudo
dos limites de uma sociologia do conhecimento de influência marxista. Para tal empreitada,
toma-se como ponto de partida, e objeto da análise deste artigo, alguns textos do sociólogo
Michael Löwy sobre o assunto. Sua escolha foi definida pelo tratamento crítico específico que
o autor aplica à tradição sociológica referente aos estudos sobre a atividade do conhecimento,
partindo das premissas do materialismo histórico-dialético.
Palavras-chave: Marxismo, Sociologia do Conhecimento, Michael Löwy

Abstract: This text comes to present the result of initial readings about the limits of a
sociology of knowledge of Marxist influence. For such taskwork, the starting point and object
of this article is Michael Löwy's texts about the subject. His choice was defined by the specific
critical treatment that the author applies to the sociological tradition regarding the studies
about the activity of knowledge, leaving of the premises of the historical-dialectic materialism.
Key words: Marxism, Sociology of Knowledge, Michael Löwy


Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Email: digaobelli@bol.com.br
Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – http://www.urutagua.uem.br/015/15belli.pdf
Nº 15 – abr./mai./jun./jul. 2008 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178

Apresentação realidade social. Estas são as afirmações que


As ciências humanas, e em especial as norteiam a análise de Löwy na formulação
ciências sociais, se caracterizam como um de uma metodologia própria às ciências
campo científico distinto dos demais devido humanas e na elaboração de uma “sociologia
à ênfase atribuída ao subjetivismo – embora crítica do conhecimento” (LÖWY, 1994, p.
isso nem sempre seja reconhecido, até 9).
mesmo em seu interior. Subjetividade esta A tese geral de Löwy é desenvolvida pelo
determinada pela relação particular entre próprio autor através da análise e síntese de
sujeito e o objeto. Ao contrário do que três correntes específicas dentro das ciências
ocorre em outras ciências, o cientista social, sociais – positivismo, historicismo e
ao estudar um determinado fenômeno, é marxismo – que proporcionaram os
capaz de conceituá-lo e abstraí-lo a ponto de paradigmas epistemológicos e
relacionar essa experiência ao seu modo de metodológicos para os estudos sobre a
vida, proporcionando, em maior ou menor construção social do conhecimento,
grau, uma reflexão crítica de sua posição na distinguindo-se, assim, do tratamento dado
sociedade. Ocorre também a situação de que pela filosofia a este objeto até então. Löwy
o objeto estudado é consciente e capaz de descreve os determinantes históricos de cada
estabelecer uma relação mais complexa com corrente, ou seja, quais as condições
o cientista do que nas outras ciências; um históricas que proporcionaram o surgimento,
grupo social que não concordasse com a reprodução e a superação de cada maneira
aquilo que um cientista escrevesse sobre de pensar. Sua tese geral é formada por três
eles, mesmo que ele estivesse correto, aspectos:
exerceria, certamente, uma coerção maior
Primeiro: o objeto das ciências sociais é
sobre o pesquisador do que qualquer outro
completamente distinto do das ciências
objeto das ciências naturais sobre o
naturais, pois que ele está diretamente
pesquisador desta área.1 Dada essa situação
ligado, em maior ou menor grau, a vida do
específica entre sujeito e objeto do saber, é pesquisador. A eficácia de compreensão do
necessário definir qual é relação entre os objeto aumenta à medida que o pesquisador
valores do pesquisador social e a produção conhece os determinantes sociais de seu
do conhecimento. Traçados esses limites, pensamento, ao contrário do que pensam os
seria preciso então utilizar um método mais adeptos da neutralidade científica.
adequado para uma melhor compreensão da
Segundo: essa posição distinta da dos outros
cientistas evidencia o caráter político da
1
Seria difícil imaginar que uma rocha reclamasse da atividade do pesquisador social. Por mais
classificação que um geólogo atribuiu a ela de
que ele tente manter uma posição de
maneira equivocada ou que uma espécie da fauna ou
da flora desenvolvesse uma crise de identidade numa resguardo com relação ao restante da
situação semelhante. É claro que se deve ressaltar que sociedade, o produto de seu trabalho provoca
estudos equivocados nos ramos das ciências naturais uma série de reações dentro da mesma.
denotam uma série de conseqüências problemáticas
tanto quanto nas ciências humanas. E isto é próprio da Terceiro: dado o caráter histórico da
atividade científica. Entretanto, nas ciências humanas, construção e reprodução do saber, que
a crítica pode vir do próprio objeto de estudo, legitima uma certa forma de dominação
enquanto que noutras vertentes científicas a crítica social que se apresenta incoerente e
surge ao cientista quase que exclusivamente de seus
pares. destrutiva, aliado ao reconhecimento da

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posição intervencionista do cientista na conhecimento produzido pelas ciências


sociedade, é possível conceber a existência sociais é, pois, definido, em grande medida,
de um ponto de vista calcado nas relações pela visão de mundo da classe social da qual
sociais capaz de fornecer uma melhor o cientista pertence:
compreensão do real. Conseqüentemente, A realidade social, como toda a
abre-se a possibilidade da adoção de uma realidade, é infinita. Toda ciência
prática transformadora da realidade mais implica uma escolha, e nas ciências
eficaz. históricas essa escolha não é um produto
Apresentamos agora como Löwy desenvolve do acaso, mas está em relação orgânica
com uma certa perspectiva global. As
sua análise. visões do mundo das classes sociais
A recusa do modelo científico-natural de condicionam, pois, não somente a última
objetividade às ciências sociais etapa da pesquisa científica social, a
interpretação dos fatos, a formulação das
Um dos fundamentos da tese de uma teorias, mas a escolha mesma do objeto
sociologia crítica do conhecimento é a de de estudo, a definição do que é essencial
que não se pode utilizar nos estudos das e do que é acessório, as questões que
ciências sociais a mesma metodologia de colocamos à realidade, numa palavra, a
análise aplicada aos fenômenos naturais. Os problemática da pesquisa (LÖWY, 1978,
fenômenos sociais apresentam uma série de p. 15, grifo do autor).
especificidades que inviabilizam a aplicação A posição metodológica defendida por Löwy
do modelo científico-natural de objetividade vai de encontro às concepções
pelas ciências sociais. metodológicas positivistas, em suas diversas
Segundo Löwy, o método de observação variações históricas. Tanto naquilo que
adequado às ciências sociais deve poderíamos identificar como positivismo
reconhecer que seu objeto de estudo possui clássico, ligado às figuras de Auguste Comte
um caráter histórico, ou seja, suscetível de e Èmile Durkheim, quanto em autores não
transformação pela ação humana (LÖWY, positivistas que, apesar de seus discursos,
1978, p. 15). Também deve ser observado não superaram certos paradigmas dessa
que a relação entre sujeito e objeto do corrente, caso de Max Weber. Vejamos
conhecimento é completamente parcial. rapidamente as características principais
Disto, apreende-se que o objeto de estudos indicadas por Löwy de cada variação
do pesquisador social se apresenta como positivista.
parte atuante de sua vida, levando-o a O positivismo clássico adota uma postura de
perceber que a análise que ele empreende homogeneidade epistemológica entre
não é apenas a do objeto em si, mas de sua ciências naturais e sociais (LÖWY, 1978, p.
relação com aquele e dos dois com o restante 10). Em outras palavras, significa que os
da sociedade. A atividade científica não se objetos de ambas as ciências são concebidos
apresenta como uma esfera dissociada do como possuidores das mesmas
restante da atividade social; os problemas características, exigindo do cientista social o
vividos pelo cientista em sua relação com as mesmo método e a mesma postura do
várias determinações de sua existência cientista que se encarrega de estudar os
influenciam na maneira como ele analisa e fenômenos naturais. Com esta concepção,
compreende o seu objeto, assim como na deixa-se de lado a constatação de que o
maneira de utilizar o conhecimento. O cientista é, apesar de suas especificidades

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psicológicas e sociológicas, um ser social Costuma-se dizer, e eu concordo, que a


como outro qualquer, e que, portanto, suas política não tem seu lugar nas salas de
paixões e preconceitos estão intimamente aulas das universidades. [...] Com efeito,
vinculados com o produto de seu trabalho. uma coisa é tomar uma posição política
prática, e outra coisa é analisar
O caso de Max Weber é curioso. Este autor cientificamente as estruturas políticas e
clássico da sociologia supera os autores as doutrinas dos partidos (WEBER,
positivistas ao considerar a necessidade de 1999, p. 38).
uma metodologia própria às ciências sociais, Weber, por mais que aparente superar a
dada a constatação de que os fenômenos posição positivista da eliminação dos
estudados por este ramo do conhecimento pressupostos num primeiro momento,
possuem características diversas às dos assimila na totalidade de sua metodologia a
outros ramos científicos, em especial no que dicotomia entre ciência e política; mais
tange a problematização do estudo. precisamente, a dicotomia entre ciência e
Weber reconhece que os valores do atividade social prática. Deste modo, tanto
observador, nas ciências sociais, Weber quanto os outros positivistas não
desempenham um papel destacado na vislumbram a contradição existente em suas
seleção do objeto da pesquisa científica, concepções: a saber, se o pesquisador orienta
na determinação da problemática [...]. sua pesquisa a um determinado nível de
Mas ele assinala que as respostas isenção, não estaria ele predispondo si
fornecidas, a pesquisa mesma [...],
próprio e o objeto em questão a um roteiro
devem estar livres de qualquer
valoração[...] (LÖWY, 1978, p. 14, grifo de investigação determinado? Sim, ele
do autor). estará. E é por isso que constituição de uma
metodologia que promova uma maior
Entretanto, Weber ainda admite a eficácia de compreensão do real está, entre
necessidade, própria da atividade científica, outras tarefas, na superação das contradições
de que a análise e a exposição do objeto do ideário positivista.
devem ser os mais livres possíveis de juízos
de valor. Isso porque o papel do cientista é o A necessidade mediadora do relativismo
de esclarecer os fatos, e não o de mudar os A negação da neutralidade científica traz à
rumos do mundo, atributo próprio do sujeito tona a necessidade de se conceber um
político. modelo de objetividade para as ciências
É interessante observar o que pronunciou o sociais que leve em consideração a
próprio Weber em duas palestras que se constatação de que todo conhecimento sobre
transformaram em textos sobre ciência e o social “é relativo a uma certa perspectiva,
política como vocações distintas (Cf. orientada para uma certa visão social de
WEBER, 1999). Inicialmente, ele afirma que mundo, vinculada a um ponto de vista de
“só aquele que se coloca pura e uma dada classe social em um momento
simplesmente ao serviço de sua causa histórico determinado
possui, no mundo da ciência, (Standortgebundenheit)” (LÖWY, 1994, p.
‘personalidade’” (WEBER, 1999, p. 27, 204, grifo do autor). Cabe ressaltar,
grifo do autor). Porém, o entusiasmo e a entretanto, que não se trata de um
paixão provindos da causa do pesquisador relativismo absoluto, que considera válida
parecem ser nocivos em outro momento do qualquer tentativa de explicação do mundo
texto: por acreditar que a objetividade do

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conhecimento seja puramente subjetiva2. O A questão mais uma vez se coloca: quem
relativismo a que Löwy se refere reconhece faria esta síntese? Mannheim responde: os
que certas posições sociais, em determinados intelectuais; a intelligentsia sem vínculos.
períodos históricos, são mais favoráveis à Antes ligados a uma determinada classe, os
verdade objetiva do que outras. Qual seria, intelectuais teriam assumido uma nova
então, o ponto de vista de classe mais posição social com o desenvolvimento da
privilegiado epistemologicamente para o atividade científica, a ponto de
conhecimento da realidade social atual? reconhecerem a si próprios como uma
Löwy busca a resposta analisando as classe.
concepções de Mannheim e dos chamados [...] (existe) entre todos os grupos de
marxistas historicistas (Gramsci, Lúkacs, intelectuais, um vínculo sociológico de
Goldmann e Bloch). unificação, ou seja, a educação, que os
Mannheim reconhece o caráter relativo do enlaça de modo surpreendente. A
conhecimento, tal como Löwy apresenta participação em uma herança cultural
comum tende progressivamente a
(LÖWY, 1998, p. 78-9). Entretanto,
suprimir as diferenças de nascimento,
Mannheim considera que o marxismo, visão status, profissão e riqueza, e a unir os
de mundo que originalmente aponta a indivíduos instruídos com base na
relatividade do conhecimento, não fora educação recebida.
capaz de desenvolver suas premissas
[...] o homem instruído é determinado,
epistemológicas entre os seus adeptos
quanto ao seu horizonte intelectual, de
(MANNHEIM, 1982, p. 151). Aliás, múltiplas maneiras. Essa herança
nenhuma ideologia teria sido capaz de cultural adquirida sujeita-o à influência
desenvolver essa atitude reflexiva. de tendências opostas na realidade
Constatação que leva Mannheim a conceber social, enquanto a pessoa cuja orientação
que todo o conhecimento produzido pela face ao todo não se processa em virtude
sociedade sobre ela mesma seria unilateral e da sua instrução, mas que participa
fragmentado. Para uma compreensão mais diretamente no processo social de
eficaz da realidade seria necessário uma produção, tende simplesmente a
síntese de perspectivas, capaz de adequar os absorver a Weltanschauung (visão social
diferentes conhecimentos produzidos numa de mundo) desse grupo particular e a
agir exclusivamente sob a influência das
unidade coerente e dinâmica (MANNHEIM,
condições impostas por sua situação
1982, p. 172-8). social imediata (MANNHEIM, 1982,
p.180-1).
2
Um exemplo dessa atitude epistemológica no campo O que Mannheim não percebe, segundo
da sociologia é o método fenomenológico proposto Löwy, é que a posição dos intelectuais
por Alfred Schutz. Para este autor, e para outros que
parece ser uma tentativa de conciliação do
concordam com sua teoria, seria real apenas aquilo
que se apresenta a nossa experiência primeira, ou radicalismo do proletariado e do
seja, à simples aparência. Como existem diversas conservadorismo da burguesia. Um ponto de
maneiras de apreender o real, a realidade seria vista próprio da classe média, da pequena
conformada de acordo com a prática transcendente burguesia da qual boa parte dos intelectuais
das diversas percepções. A objetividade passaria a ser
está ligada (LÖWY, 1998, p. 85). Os
formada pelo confronto de diversas interpretações do
fenômeno observado, e não mais pela análise material intelectuais, portanto, não estariam
do próprio objeto (Cf. SCHUTZ apud WAGNER, desvinculados das já existentes posições
1979).

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sociais. A ciência se apresenta mais uma cientistas afinados ao status quo são mais
vez, com contornos menos definidos do que perspicazes em reconhecer as contradições
no positivismo, como que distinta da sociais do que aqueles que se colocam como
atividade social. revolucionários. Adotar essa tese é, em
ultima ratio, ceder a solução eclética
Descartada a possibilidade de uma solução
proposta por Mannheim.
eclética para o problema do ponto de vista
epistemologicamente privilegiado, Löwy O que deve ser percebido de leituras mais
busca no marxismo não positivista a resposta atentas dos textos marxianos e marxistas é a
da questão. “especificidade do ponto de vista do
proletário com relação ao das classes
Alguns marxistas consideram que o ponto de
revolucionárias do passado” (LÖWY, 1994,
vista favorável ao conhecimento estaria
p. 207, grifo do autor). Ao contrário da
vinculado à atividade revolucionária. Eles
burguesia, o proletariado só pode cumprir o
teriam deduzido isso de algumas passagens
seu papel revolucionário se reconhecer e
de Marx, que atenta como a burguesia foi
tomar como bandeira a busca pela verdade,
capaz de colocar como históricas as
pois seu objetivo é o fim da luta de classes.
instituições feudais outrora tachadas de
O proletariado não pode esconder os motivos
eternas, mas que não conseguiu aplicar esta
de sua luta e nem tampouco se fiar na sorte
crítica a suas próprias instituições, tarefa que
para o estabelecimento de uma nova ordem;
caberia ao proletariado.
sua posição social exige uma ação
[...] vimos que os meios de produção e consciente, atrelada o máximo possível com
de troca que serviram de base à a realidade.
formação da burguesia foram gerados na
sociedade feudal. Em certo estágio do Esta necessidade vital, que permite ao ponto
desenvolvimento [...], as condições da de vista do proletariado o atual privilégio
propriedade feudal deixaram de epistemológico, não pode ser entendida
corresponder às forças produtivas já como uma posição científica suprema, como
desenvolvidas. Entravavam a produção se fosse a garantia de um conhecimento
em vez de a incrementarem. verdadeiro. O próprio Marx reconhece,
Transformaram-se em meros grilhões. segundo Löwy, a importância superior das
Era preciso arrebentá-los, e assim
análises de Ricardo, um ideólogo burguês,
sucedeu.
em relação com as de Sismondi, teórico
[...] suíço anticapitalista (LÖWY, 1998, p. 101).
Diante de nossos olhos, desenrola-se um A ciência, pois, é uma atividade que não
movimento análogo. pode ser concebida simplesmente pelos
[...]
limites da luta de classe. Ao tomar esta
posição, como fazem os chamados marxistas
As armas que a burguesia usou para positivistas ao enfatizarem a existência de
abalar o feudalismo voltam-se agora uma ciência proletária e uma ciência
contra ela mesma (MARX & ENGELS, burguesa (LÖWY, 1978, p. 24), comete-se
2001, p.32-4).
erro semelhante ao dos positivistas:
Porém, essa tese nega a capacidade dos considera-se de maneira unilateral,
cientistas que adotam o ponto de vista incompleta, uma atividade social totalizante.
conservador em produzir conhecimento A ciência perde, com os positivistas
objetivo. Não são raros os casos em que clássicos, seu caráter particular, histórico; já

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para os marxistas positivistas a ciência perde pesquisas anteriores que, fracassadas ou não,
seu caráter universalmente humano, que contribuíram para o seu desenvolvimento.
perpassa a condição de classe. Evitando o Mesmo influenciada por determinados
erro destas concepções, Löwy admite a pontos de vista, a atividade científica possui
existência de uma ”autonomia relativa da um propósito claramente universal: o
ciência social” (LÖWY, 1978, p. 33, grifo conhecimento da realidade. Se se esquece
do autor). essa premissa, a ciência se torna
exclusivamente instrumento de dominação
A realidade e o cientista como uma
(LÖWY, 1994, p. 214).
paisagem e um artista
É por isso que as pesquisas de Löwy
Löwy demonstra essa autonomia científica
ressaltam o caráter científico da atividade
recorrendo a metáfora do artista. Para ele, a
revolucionária do proletariado já apontado
atividade do cientista é semelhante a de um
por Marx, Engels e tantos outros. O
artista. O objeto de estudos do cientista
proletário se apresenta como uma classe
social se assemelha a paisagem que o artista
social que precisa de verdade para se
procura retratar. Para ambas as atividades é
libertar, permitindo àqueles que se colocam
crucial o ponto de observação daquilo que
em seu ponto de vista reconhecer tanto o
será examinado ou retratado. A posição do
caráter particular quanto o universal do
artista ou do cientista vai definir o que pode
conhecimento: respectivamente, o de que
ser observado. Um artista que se estabelece
conhecer é uma atividade ligada
aos pés de uma montanha poderá desenhar
intimamente a vida dos indivíduos e de que
apenas aquilo que se apresenta a ele: a
esse conhecimento é necessário a toda
montanha e qualquer outro objeto que esteja
sociedade (LÖWY, 1994, p. 217-8).
próximo à sua base; se ele sobe a montanha
e faz do cume o seu mirante de observação, Considerações finais
terá, de certo, um horizonte inteiro a retratar. A tese de Löwy, a “sociologia crítica do
O mesmo ocorre com o cientista, claro que conhecimento”, se constitui, a princípio,
de uma maneira mais complexa, mas não como uma tentativa de superação das
menos inteligível de se compreender se contradições metodológicas existentes nas
comparada a este exemplo tópico. Como correntes teóricas que unilateralizam a
todo o estudo de Löwy deixa perceber, o que relação sujeito-objeto nas ciências humanas.
define o mirante do cientista é o ponto de
vista de classe que ele toma para Ao negar o suposto distanciamento
compreender a realidade, a paisagem a ser valorativo do cientista social diante de seu
retratada (LÖWY, 1994, p. 212-3). objeto, demonstrando como a ciência é uma
atividade social distinta das outras – mas
Mas apenas a posição do mirante não é mesmo assim atividade social, Löwy propõe
capaz de garantir um retrato pleno da um modelo de ação para todos os ramos da
paisagem. Apresenta-se como determinante chamada ciência humana. A “sociologia
a técnica do artista. É a sua experiência que crítica do conhecimento” não seria um novo
define como a paisagem será retratada. Para ramo da ciência acadêmica, seria sim um
o cientista, sua técnica é o método de marco de renovação para todas as ciências
pesquisa. Método este que não se define sociais; seria uma tentativa de superação dos
exclusivamente pelo ponto de vista que entraves de uma postura cientificista que se
toma, mas sim por uma imensidão de pretende desvinculada da atividade social.

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É certo que nas obras analisadas no presente


texto, esse plano de ação está muito
generalizado. Ele aponta apenas os
pressupostos necessários para evitar os erros
já cometidos por outros cientistas que
trataram do assunto, não descrevendo um
método propriamente dito. Mas Löwy deixa
claro que esse método é o método marxista:
o materialismo histórico-dialético.

Referências
LÖWY, Michael. “Objetividade e ponto de vista de
classe nas ciências sociais”. In Método dialético e
teoria política. 2ª ed. – Rio de Janeiro : Paz e Terra,
1978.
_____________. As aventuras de Karl Marx
contra o Barão de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociologia do conhecimento
[tradução de Juarez Guimarães e Suzanne Felicie
Léwy]. 5ª ed. rev. – São Paulo : Cortez, 1994.
_____________. Ideologias e ciência social:
elementos para uma análise marxista. 12ª ed. – São
Paulo : Cortez, 1998.
MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia [tradução de
Sérgio Magalhães Santeiro]. 4ª ed. – Rio de Janeiro :
Zahar, 1982.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do
Partido Comunista [tradução de Suely Tomazini
Barros Cassal]. Porto Alegre : L&PM, 2001.
SCHUTZ, Alfred. “O mundo da vida” e
“Transcendências e realidades múltiplas”. In
WAGNER, Helmut R. (org.). Fenomenologia e
relações sociais: textos escolhidos de Alfred Schutz
[tradução de Ângela Melin]. Rio de Janeiro : Zahar,
1979, respectivamente, p.72-6 e p.241-3.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações
[tradução de Leônidas Hegenberg & Octany Silveira
da Mota]. 14ª ed. – São Paulo : Cultrix, 1999.

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