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pedagógicas, não podendo-se portanto ter uma visão reducionista, uniforme e padronizada
das experiências realizadas.
Este ano, por ocasião da preparação do “Fórum Mundial de Educação”, realizado em
Dakar do 24 ao 28 de abril, tendo por objetivo analisar os resultados da avaliação da década
de Educação para Todos e aprovar uma nova declaração e um novo Marco de Ação, que
estenderão seu prazo até o ano 2015, um grupo de educadores e intelectuais latino-americanos
elaborou um “pronunciamento” com o objetivo de socializar suas preocupações e reflexões.
Partindo da afirmação de que Nossos povos merecem mais e melhor educação e de que “as
políticas recomendadas e adotadas nos últimos anos não estão correspondendo
satisfatoriamente às expectativas da população latino-americana, às realidades do sistema
escolar e dos docentes em particular e não obtiveram os resultados esperados”(p.3), propõe
que sejam feitas retificações no sentido de que as políticas educativas adotem concepções que
não se reduzam a questões de cobertura e de eficiência nem encarem os sistemas de ensino
como peças a serviço da economia e sim se inspirem em valores humanos fundamentais,
enfatizem o plano ético, a necessidade de destinar recursos e esforços que favoreçam a
qualidade da educação para todos , especialmente os grupos excluídos, reconheçam a
diversidade cultural e recuperem uma visão multisetorial para enfrentar os problemas
educativos. Na última parte, o documento faz uma especial chamada a, no contexto atual de
globalização, trabalhar questões relativas às identidades latino-americanas e aos valores nelas
presentes e à participação da sociedade, especialmente dos educadores, não só na execução
mas também na formulação e discussão das políticas educacionais.
Ë neste novo cenário que se situa nossa agenda de trabalho.
categorias que perpassaram a produção dominante na área. Certamente este universo pode ser
identificado como característico da modernidade, enquanto enfatiza a capacidade dos
indivíduos situarem-se criticamente diante da realidade, exercerem sua responsabilidade
social e construírem o mundo e a história a partir de um horizonte utópico baseado na
liberdade, na igualdade e na racionalidade.
Para muitos de nós que mergulhamos com muito entusiasmo nestas águas, não é fácil
navegar em outras, nas turvas e extremamente voláteis da chamada crítica pós-moderna, por
instigante que seja penetrar neste universo que engloba pluralidade de abordagens e enfoques:
subjetividade dão elementos para perguntarmos pelas bases que sustentam o ideal moderno de
uma vida boa e humana, levantam questões sobre a construção de narrativas e seu significado
e papel regulador, questionam as formas tradicionais de poder, fornecem uma variedade de
discursos que permitem questionar a dependência do modernismo em relação a teorias
totalizantes baseadas no desejo de certezas e de absolutos, propõem um discurso capaz de
incorporar a importância do contingente, do específico, do histórico como aspectos centrais
de uma pedagogia libertadora, entre outras contribuições. Talvez se possa afirmar que a
principal contribuição da perspectiva pós-moderna à educação seja uma visão mais rica,
complexa e abrangente das relações entre cultura, conhecimento e poder. No entanto, esta
afirmação não quer dizer que não sejamos conscientes dos limites da visão pós-moderna,
particularmente no plano epistemológico e no nível da radicalização de processos
democráticos. No entanto, segundo o mesmo autor já mencionado, “para os educadores, a
preocupação modernista com sujeitos lúcidos, quando combinada com a ênfase pós-
modernista na diversidade, na contingência e no pluralismo cultural aponta para o objetivo
de se educar os estudantes para um tipo de cidadania que não faça uma separação entre
direitos abstratos e domínio do cotidiano e não defina a comunidade como prática
legitimadora e unificadora de uma narrativa histórica e cultural unidimensional” .(p.65)
A guisa de conclusão....
Voltamos a nossa preocupação do início. Toda reflexão pedagógica exige um
horizonte utópico. Na construção da nossa agenda de trabalho é necessário reconhecer o
cenário em que hoje estamos imersos. Articular a perspectiva crítica com as contribuições da
visão pós-moderna. Romper fronteiras epistemológicas e articular saberes. Favorecer
ecossistemas educativos. Reinventar a didática escolar. Afirmar a multidimensionalidade do
processo educativo. Apostar na diversidade. Revisitar os temas “clássicos” da didática.
Certamente esta é uma agenda que suscita muitas perguntas, debates e enriquecimentos e
admite muitos desdobramentos, tanto na ótica do ensino como da pesquisa.
Terminamos com estas palavras de Paulo Freire (2000) que nos animam a seguir
afirmando o horizonte útopico que inspira nossa reflexão pedagógica e didática:
“É certo que mulheres e homens podem mudar o mundo para melhor, para
fazê-lo menos injusto, mas a partir da realidade concreta a que “chegam” em sua
geração. E não fundadas ou fundados em devaneios, falsos sonhos sem raízes, puras
ilusões.
O que não é porém possível é sequer pensar em transformar o mundo sem
sonho, sem utopia ou sem projeto. As puras ilusões são os sonhos falsos de quem, não
importa que pleno ou plena de boas intenções, faz a proposta de quimeras que, por
isso mesmo, não podem realizar-se. A transformação do mundo necessita tanto de
sonho quanto a indispensável autencidade deste depende da lealdade de quem sonha às
condições históricas, materiais, aos níveis de desenvolvimento tecnológico, científico do
contexto do sonhador. Os sonhos são projetos pelos quais se luta. (p.53-54)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS