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OS MEIOS DE RAL:

UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

José Domingos Limpo Trigueiros Monteiro Lopes

Orientadoras
Professora Doutora Maria de Lurdes Mesquita
Mestre Rossana Martingo Cruz

Dissertação apresentada
ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave
para obtenção do Grau de Mestre em Solicitadoria

Agosto, 2017
OS MEIOS DE RAL:
UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

José Domingos Limpo Trigueiros Monteiro Lopes

Orientadoras
Professora Doutora Maria de Lurdes Mesquita
Mestre Rossana Martingo Cruz

Dissertação apresentada
ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave
para obtenção do Grau de Mestre em Solicitadoria

Agosto, 2017
RESUMO

A sociedade mudou, evoluiu, devido principalmente à grande revolução tecnológica ocorrida no


último século. Com esta evolução verificou-se no nosso ordenamento jurídico um aumento exponencial da
litigância, ao qual os meios tradicionais de justiça, sobejamente, os tribunais, não conseguiram dar resposta,
tendo-se gerado uma grave crise na Justiça, e um descrédito generalizado por parte da sociedade civil nos
tribunais.
No sentido de dar resposta a esta necessidade de resolver a crise na Justiça, o legislador procedeu à
criação e desenvolvimento de meios extrajudiciais que permitisse retirar processos dos assoberbados tribunais.
O direito de acesso ao Direito e uma tutela jurisdicional efetiva é um dos princípios fundamentais do
Estado de Direito, mas isso não significa uma obrigação de recurso aos tribunais para a resolução de litígios.
Os meios de RAL apresentam-se como alternativas aos tribunais no sentido de dar cumprimento a este
princípio fundamental, apresentando-se como meios assentes em características marcadamente de
desburocratização e desjudicialização de procedimentos, procurando, com isso, a tão desejada celeridade
processual.
Esta alternatividade inerente aos meios de RAL assenta no objetivo de proporcionar diferentes
soluções aos cidadãos para a resolução dos seus litígios.
Apesar de se tratarem de meios alternativos aos tribunais, o mesmo não significa um afastamento
completo da jurisdição estadual.
Os meios de RAL apresentam-se assim como soluções integradas num sistema judicial que terá
sempre como base os tribunais, havendo necessariamente, uma grande inter-relação e influência destes nos
meios de RAL.
Mas será esta inter-relação existente suficiente, ou deverá ser aprofundada no futuro, por forma a
permitir que os meios de RAL ganhem o seus espaço num sistema judicial que se pretende uno.

i
ABSTRACT

Society has changed, evolved, mainly due to the great technological revolution that has occurred in
the last century. With this evolution, there was an exponential increase in litigation in our legal system, which
the traditional mechanisms of justice, superbly the courts, have not been able to respond to, resulting in a
serious crisis in Justice, and a generalized discredit on the part of the civil society in the courts.
In order to respond to this need to resolve the crisis in Justice, the legislator proceeded to the creation
and development of extrajudicial mechanisms that would allow the removal of cases from the overwhelmed
courts.
The right of access to the Law and effective judicial protection is one of the fundamental principles
of the Rule of Law, but this does not mean an obligation to appeal to the courts for the settlement of disputes.
The ADR mechanisms are presented as alternatives to the courts in order to comply with this
fundamental principle, presenting themselves as means based on characteristics markedly of de-
bureaucratization and detrimentalization of procedures, thereby seeking the desired celerity of procedure.
This alternative inherent in the ADR mechanisms is based on the objective of providing different
solutions to the citizens for the resolution of their litigation.
Although these mechanisms are alternatives to the courts, this does not mean a complete departure
from state jurisdiction.
The ADR mechanisms are thus solutions integrated into a judicial system which will always be based
on the courts, and there is necessarily a great interrelation and influence of these in the ADR mechanisms.
But will this existing interrelation be sufficient, or should it be deepened in the future, in order to
allow the ADR mechanisms to gain their space in a judicial system that is intended to be one.

ii
AGRADECIMENTOS

Um trabalho de investigação como este e um trajeto académico como o meu, não são conseguidos
sozinhos, é necessária a colaboração, participação e ajuda de muitas pessoas pelo que, não poderia deixar passar
sem reconhecer esse contributo, estando a todos imensamente agradecido.
Sem querer deixar ninguém de fora, ainda assim, tenho de reconhecer e agradecer a algumas pessoas
em especifico:
Às minhas orientadoras, Professora Doutora Lurdes Varregoso Mesquita e Mestre Rossana Martingo
Cruz, cuja experiência, conhecimento e sabedoria foram uma grande ajuda; e especialmente agradecer pela
paciência e compreensão que sempre me demonstraram.
A todos os professores pelo contributo que cada um teve na minha formação.
A todos os colegas que me acompanharam durante a licenciatura e mestrado, em especial à minha
colega e amiga Maria José Vieira, por toda a ajuda e incentivo em todos os momentos de dúvida e incerteza
que tive durante a realização deste trabalho.
Ao IPCA por ter sido uma “segunda casa” durante este meu percurso. Aos funcionários da biblioteca,
em especial, à Dra. Maria José Neco, por toda a colaboração na pesquisa e recolha de material bibliográfico
que faz parte deste trabalho.
Aos meus pais e à minha família pelo apoio, compreensão, paciência, e por estarem sempre lá nos
altos e baixos. Em especial agradecer ao meu irmão pela ajuda e colaboração na conclusão deste trabalho.
Por último, mas não menos importante, não posso esquecer a minha avó, por ter sempre acreditado
em mim, e cuja fé, incentivo e apoio foram fundamentais para voltar a estudar e durante todo o meu percurso
académico. A quem dedico este trabalho.

iii
ÍNDICE GERAL

Resumo ................................................................................................................................................ i
Abstract .............................................................................................................................................. ii
Agradecimentos ................................................................................................................................ iii
Índice Geral ....................................................................................................................................... v
Índice de Figuras .............................................................................................................................. vi
Índice de Tabelas .............................................................................................................................. vi
Lista de Abreviaturas ...................................................................................................................... vii
Lista de Legislação ......................................................................................................................... viii
I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
II. A NECESSIDADE DE MEIOS EXTRAJUDICIAIS ................................................................ 3
III. OS MEIOS DE RAL ................................................................................................................... 7

1. A Arbitragem ............................................................................................................................. 8
2. Os Julgados de Paz .................................................................................................................. 11
3. A Mediação .............................................................................................................................. 13
4. Outros Meios de RAL ............................................................................................................. 15
4.1. A Conciliação ..................................................................................................................... 16
4.2. A Negociação ..................................................................................................................... 18
5. A Alternatividade dos Meios de RAL .................................................................................... 19

IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS ................................................................................ 21

1. Da Competência ....................................................................................................................... 21
1.1. Previsão Constitucional ...................................................................................................... 21
1.2. Arbitragem ......................................................................................................................... 23
1.3. Julgados de Paz .................................................................................................................. 25
1.4. Mediação ............................................................................................................................ 28
2. Da Organização ....................................................................................................................... 29
2.1. Arbitragem ......................................................................................................................... 29
2.2. Julgados de Paz .................................................................................................................. 32
2.3. Mediação ............................................................................................................................ 33
2.4. Remunerações e Custas ...................................................................................................... 34
3. Das Partes................................................................................................................................. 36
3.1. Arbitragem ......................................................................................................................... 36
3.2. Julgados de Paz .................................................................................................................. 37
3.3. Mediação ............................................................................................................................ 38
3.4. Apoio Judiciário ................................................................................................................. 39
4. Do Processo .............................................................................................................................. 40
4.1. Arbitragem ......................................................................................................................... 40
4.2. Julgados de Paz .................................................................................................................. 44
4.3. Mediação ............................................................................................................................ 45
5. Da Decisão e do Recurso ......................................................................................................... 47
5.1. Arbitragem ......................................................................................................................... 47
5.2. Julgados de Paz .................................................................................................................. 51
5.3. O Caso Particular da Mediação .......................................................................................... 51

v
6. Da Execução ............................................................................................................................. 54
6.1. Arbitragem ......................................................................................................................... 54
6.2. Julgados de Paz .................................................................................................................. 56
6.3. Mediação ............................................................................................................................ 56
7. Os Tribunais e os Meios de RAL ............................................................................................ 57

VI. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL ........................................................................................ 63

1. As Estatísticas dos Meios de RAL .......................................................................................... 63


2. A Solução do Tribunal Multiportas ....................................................................................... 71
2.1. A Arbitragem: Uma Solução Especializada ....................................................................... 73
2.2. Os Julgados de Paz: O Futuro da Pequena Litigância ........................................................ 74
2.3. A Mediação: Uma Solução Integrada ................................................................................. 75

VII. CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 77


VIII. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 79

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução da Arbitragem Cível ......................................................................................... 65


Figura 2 - Evolução da Arbitragem Administrativa .......................................................................... 65
Figura 3 – Evolução da Arbitragem Tributária.................................................................................. 65
Figura 4 – Evolução dos Julgados de Paz.......................................................................................... 67
Figura 5 – Evolução das Formas de Conclusão dos Processos nos Julgados de Paz ......................... 67
Figura 6 – Evolução Comparativa das Taxas de Eficiência .............................................................. 71

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Características diferenciais entre o sistema judicial e os meios extrajudiciais ................... 7


Tabela 2 - Competência Alternativa Vs. Competência Exclusiva ..................................................... 27
Tabela 3 - Competência dos tribunais estaduais: ............................................................................... 43
Tabela 4 - Fundamentos da impugnação da sentença arbitral ........................................................... 49
Tabela 5 - Estatísticas da Arbitragem em Matéria Cível ................................................................... 63
Tabela 6 - Estatísticas do CAAD ....................................................................................................... 64
Tabela 7 - Estatísticas dos Julgados de Paz ....................................................................................... 66
Tabela 8 - Estatística dos Tribunais Judiciais de 1ª Instância ............................................................ 68
Tabela 9 - Estatísticas do Procedimento Especial de Injunção .......................................................... 69
Tabela 10 - Comparativo de Taxas de Eficiência .............................................................................. 70

vi
LISTA DE ABREVIATURAS

• APA – Associação Portuguesa de Arbitragem.


• CAAD – Centro de Arbitragem Administrativa.
• CC – Código Civil.
• CIAB – Centro de Informação, Mediação e Arbitragem do Consumo (Tribunal Arbitral de
Consumo).
• CNIACC – Centro Nacional de Informação e Arbitragem de Conflitos de Consumo.
• CPC – Código de Processo Civil.
• CRP – Constituição da República Portuguesa.
• DGCI – Direcção-Geral dos Impostos.
• DGAIEC – Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos sobre o Consumo.
• DGPJ – Direção-Geral da Política de Justiça.
• LAV – Lei da Arbitragem Voluntária.
• LJP – Lei dos Julgados de Paz.
• LM – Lei da Mediação.
• LOFTJ – Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais.
• LOSJ – Lei da Organização do Sistema Judiciário.
• RAL – Resolução Alternativa de Litígios.
• TAD – Tribunal Arbitral do Desporto

vii
LISTA DE LEGISLAÇÃO

• Código Civil – Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de novembro.


• Código de Processo Civil – Lei n.º 41/2013, de 26 de junho.
• Constituição da República Portuguesa.
• Decreto-Lei que regula a isenção de custas para o exequente em ações de execução para obter
cumprimento de sentença condenatória proferida pelo tribunal arbitral dos centros de arbitragem de
conflitos de consumo – Decreto-Lei n.º 103/91, de 08 de março.
• Despacho que regula a remuneração do mediador de conflitos no âmbito do sistema de mediação
penal – Despacho n.º 2168-A/2008, de 22 de janeiro.
• Despacho que regula o Sistema de Mediação Familiar – Despacho n.º 18778/2007, de 22 de agosto.
• Lei da Arbitragem Voluntária – Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro.
• Lei da Mediação – Lei n.º 29/2013, de 19 de abril.
• Lei da Organização do Sistema Judiciário – Lei n.º 62/2013, de 26 de agosto.
• Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais – Lei n.º 34/2004, de 29 de julho.
• Lei dos Julgados de Paz – Lei n.º 78/2001, de 13 de julho alterada pela Lei n.º 54/2013, de 31 de
julho.
• Lei do Tribunal Arbitral do Desporto – Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro.
• Lei Orgânica da Direção-Geral da Política de Justiça – Decreto-Lei n.º 163/2012, de 31 de julho.
• Lei que regula os mecanismos de resolução extrajudicial de litígios de consumo – Lei n.º 144/2015,
de 8 de setembro.
• Portaria das Custas Judiciais nos Julgados de Paz – Portaria n.º 1456/2001, de 28 de dezembro.
• Portaria que vincula a DGCI e a DGAIEC ao CAAD – Portaria n.º 112-A/2011, de 22 de março.
• Protocolo de Acordo entre o Ministério da Justiça e os Parceiros Sociais que institui o sistema de
mediação laboral, de 5 de maio de 2006.
• Regime de Mediação Penal – Lei n.º 21/2007, de 12 de junho.
• Regime Jurídico da Arbitragem em Matéria Tributária – Decreto-Lei n.º 10/2011 de 20 de janeiro.
• Regulamento do Sistema de Mediação Penal – Portaria n.º 68-C/2008, de 22 de janeiro.
• Regulamento dos Serviços de Mediação nos Julgados de Paz – Portaria n.º 1112/2005, de 28 de
outubro.

viii
LOPES, J. DOMINGOS T. I. INTRODUÇÃO

I. INTRODUÇÃO

“A Justiça é cega”1

A Justiça, é o principal fim ou valor fundamental do Direito, assumindo-se para este como uma
bússola.2 A Justiça deverá assim ser definida como:

"conjunto de valores que impõem ao Estado e a todos os cidadãos a obrigação


de dar a cada um o que lhe é devido em função da dignidade da pessoa humana."3

Tal como enunciámos a Justiça deve ser vista como cega, simbolizando a imparcialidade, mas cega
também pode ser interpretado no sentido de a Justiça poder ser obtida de diversas formas.
Será este o sentido que queremos enunciar com esta dissertação, cingindo-se esta ao papel que os
meios de RAL assumem como alternativas, mas integrados no sistema judicial, daí o tema: “Os Meios de RAL:
Uma Alternativa Integrada”, pelo que, o objeto deste trabalho será analisar os meios de RAL e ver de que forma
estes se integram no nosso ordenamento jurídico, nomeadamente a sua relação com os tribunais.
Numa altura em que os meios de RAL têm mais de 15 anos de experiência, esta temática revela-se
deveras relevante no sentido de perceber que papéis estes assumem no nosso ordenamento jurídico, mas mais
importante que papéis poderão e deverão assumir no futuro.
Para isso será importante perceber de que forma os meios de RAL se estabelecem como alternativas
credíveis aos tribunais, mas também enquanto complementos a estes, num sistema judicial que se pretende
uno.
Em termos de metodologia adotada e no sentido de chegar a conclusões relativamente à integração
dos meios de RAL no sistema judicial, pretendemos partir das razões que levaram à criação de meios
extrajudiciais de resolução de litígios, nos quais se enquadram os meios de RAL, por forma a perceber a sua
necessidade na sociedade atual, passando por uma análise a cada um deles a nível conceptual e à sua
alternatividade em relação aos tribunais.
Analisados estes pressupostos será importante verificar as suas relações com os Tribunais, por forma
a perceber o seu enquadramento no ordenamento jurídico interno, e com isso retirar ilações relativamente à
influência e participação que os Tribunais têm junto dos meios de RAL.
Retiradas essas ilações, será importante verificar quais os papéis que estão reservados aos meios de
RAL no futuro, isto é, perceber qual o lugar que estes deverão ocupar no nosso ordenamento jurídico,
Sabendo de antemão que os Tribunais estão e deverão estar sempre no centro de qualquer ordenamento
jurídico, servindo como última salvaguarda do sistema, cabe-nos perceber de que forma os meios de RAL
deverão ocupar o seu espaço neste ordenamento, sendo este o objetivo principal de todo o nosso trabalho.

1
Provérbio popular, com bases na Grécia Antiga, onde vemos a deusa Thémis, deusa da Justiça, que na simbologia muitas vezes aparece
representada com os olhos vendados a simbolizar a imparcialidade e igualdade de todos perante a Justiça; com uma balança a simbolizar
o equilíbrio, a ponderação, a equidade; e com uma espada a simbolizar o poder, a ordem, a regra.
2
Cfr. AMARAL, Diogo Freitas do, “Manual de Introdução ao Direito”, 2016, p. 53 – “O primeiro e principal fim do Direito é, sem
qualquer dúvida, a Justiça (…). Esta é, para o Direito, uma bússola e um farol.”
3
Cfr. idem, ibidem, p. 117.

1
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Para cumprir com estes objetivos a que nos propusemos este trabalho será dividido em diversos
capítulos.
No primeiro capitulo iremos analisar a necessidade de criação de meios extrajudiciais de resolução
de litígios, onde se enquadram os meios de RAL.
Partindo da incapacidade do sistema judicial em dar resposta às necessidades cada vez mais complexas
de uma sociedade em constante evolução, e percebendo a importância da criação de meios extrajudiciais que
permitissem a redução da morosidade judicial que se tem instalado nos tribunais.
Será neste sentido de ajudar um sistema judicial em descrédito que surgem os meios de RAL, estes
apresentam-se com diversas soluções alternativas aos tribunais.
Como veremos no segundo capítulo sendo a alternatividade uma característica geral destes meios,
ainda assim, estes apresentam características diferentes entre si e os tribunais, mas com um denominador
comum a todos que é o de servir os cidadãos.
Ainda que os meios de RAL se apresentem como alternativas aos tribunais, isso não significa um
afastamento completo da jurisdição estadual, isto porque, no âmbito dos meios de RAL encontrámos uma
grande inter-relação entre os meios de RAL e os tribunais, nomeadamente, no âmbito da sua competência, da
organização, das partes, da decisão e recurso e ainda da execução.
Os tribunais enquanto a base de todo o sistema judicial terão necessariamente uma influência presente
nos meios de RAL, sendo mesmo esta influência um pressuposto essencial para a unidade do sistema judicial
como um todo.
Será esta relação entre os meios de RAL e os Tribunais que iremos analisar no capítulo terceiro.
Por fim, cumpre-nos compreender qual o futuro dos meios de RAL, sendo este o tema sobre o qual
nos iremos centrar no capítulo quarto.
Esta problemática de qual o próximo passo para os meios de RAL é fundamental de forma a que estes
ganhem o seu espaço no nosso ordenamento jurídico, enquanto soluções integradas num sistema judicial que
se pretende uno.
Mais do que fazer uma análise global ao nível conceptual dos meios de RAL, o objetivo deste trabalho
prende-se com apresentar estes meios enquanto soluções integradas num sistema judicial global, e levantar
questões quanto ao aprofundamento desta integração.

2
LOPES, J. DOMINGOS T. II. A NECESSIDADE DE MEIOS EXTRAJUDICIAIS

II. A NECESSIDADE DE MEIOS EXTRAJUDICIAIS

Os tribunais são os órgãos de soberania a quem compete administrar a justiça em nome do povo. 4
No entanto como é sobejamente reconhecido pelos “agentes judiciais”, e não só, o nosso sistema
judicial não tem conseguido dar resposta às necessidades de uma sociedade cada vez mais exigente.
Isto devido a um sistema judicial caracterizado pela morosidade e por procedimentos burocráticos
complexos que afastam os cidadãos dos tribunais, existindo uma grande distância entre o cidadão e o juiz,
formando-se uma barreira invisível que os separa, o que dificulta uma Justiça efetiva e provoca uma descrença
cada vez maior por parte dos cidadãos na efetiva resolução dos seus conflitos através do sistema judicial.
Um dos fatores que mais contribui para esta cultura de morosidade que caracteriza o sistema judicial
é a excessiva carga e falta de estabilidade legislativa existente, apesar de ter de se reconhecer que o mesmo se
deve em grande parte às mudanças ocorridas nesta “sociedade moderna”, tanto a nível social, económico e
tecnológico.5
Esta excessiva carga legislativa agarrada a procedimentos burocráticos, inúteis ou meramente
dilatórios dificulta a condução dos processos de forma célere e eficaz.
Já a falta de estabilidade legislativa existente, com as constantes alterações legislativas verificadas,
cria uma grande incerteza jurídica, que afeta a previsibilidade legal de quem procura estabilidade para a
realização de negócios e contractos,6 e consequentemente afasta ou retrai a iniciativa de investimento. 7 Isto
origina um sentimento de desconfiança e insegurança nos cidadãos e nas empresas, 8 e um consequente repúdio
pelos órgãos judiciais.9
Outra razão que origina esta “cultura de morosidade” prende-se com a excessiva carga de processos
judiciais pendentes nos tribunais, devido às evoluções ocorridas na sociedade, que por ser uma sociedade de
consumo, tem tendência a ser uma sociedade mais litigiosa, com o aumento da litigância em massa.

4
Nos termos do previsto no artigo 202º n.º 1 da CRP.
5
Cfr. AZEVEDO, Belmiro Mendes de, “O Impacto Económico da Morosidade Judicial: Reflexões para uma Reforma Urgente”, 2007,
p. 266 – “A estabilidade no quadro legislativo é necessária para o normal curso da actividade económica, embora não deixe de
reconhecer que a diversificação, especialização e evolução tecnológica a ela associadas, em escala cada vez maior, não facilita a
estabilização do enquadramento legal.”
6
Cfr. idem, ibidem, p. 276 – “Com as reconhecidas morosidade e falta de previsibilidade na obtenção da tutela dos direitos contratuais,
os agentes económicos retraem, naturalmente, a sua exposição ao risco e à iniciativa económica.”
7
Cfr. idem, ibidem, p. 268 – “Enquanto não for ventilada uma imagem de uma economia mais eficiente, menos agarrada a
procedimentos inúteis e meramente dilatórios da materialidade que lhe está subjacente, enquanto o Estado não consolidar e refrear a sua
prática legislativa, o nosso espaço económico não estará dotado da necessária capacidade de seduzir o investimento português e
estrangeiro na necessária escala.”
8
Cfr. CORREIA, João, “Reformar o C.P.C., Para Quê?”, 2012, p. 131. – “Imaginemos um País onde a legislação nuclear sofre de
grande volatilidade, onde os Juízes, Advogados e Ministério Público sofrem as vicissitudes dessas conjunturais mutações legislativas e
cedo compreendemos que nem os cidadãos, nem as empresas podem estabelecer uma relação de confiança e um sentimento de
segurança perante quaisquer órgãos que administram a Justiça.
E este País é o nosso.”
9
Cfr. idem, ibidem, p. 131-132 – “… a conjuntura legislativa tem prevalecido, a prolixidade mantém-se, a morosidade agrava-se, a
insegurança acentua-se e o repúdio pelos órgãos judiciais é cada vez maior.”

3
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Os valores pagos no acesso à justiça são também outro fator que gera desconfiança na sociedade civil,
sejam os montantes pagos em custas judiciais, sejam os valores pagos a “agentes judiciais” no âmbito do
patrocínio judiciário.
Devido a todos estes fatores surgiu uma suspeição e desconfiança generalizada em relação ao sistema
judicial.
Para tentar combater estes problemas, verificou-se por parte do legislador uma tendência legislativa
de criação de mecanismos de desjudicialização, através de meios extrajudiciais de resolução de litígios, por
forma a dar resposta a duas necessidades fundamentais: retirar alguns processos dos tribunais e prestar um
serviço diferente aos cidadãos.
A sociedade mudou, a chamada “sociedade moderna” obriga a Justiça a adaptar-se e a procurar novas
formas de resposta às necessidades desta.10
Os cidadãos procuram/esperam de um Estado de Direito, assente neste princípio fundamental, que
este seja capaz de responder/assegurar as suas necessidades, através de um sistema caracterizado pela clareza,
acessibilidade e estabilidade legislativa;11 e em que as instituições a quem compete administrar a Justiça tenham
capacidade de resposta em tempo útil às questões/situações que lhes são apresentadas. 12
A principal razão para a criação de meios extrajudiciais prendeu-se, e prende-se ainda, com a
necessidade de dar resposta a um princípio fundamental do Estado de Direito, que é o princípio de acesso ao
Direito e a uma tutela jurisdicional efetiva, previsto no artigo 20º da CRP. 13 Este princípio constitui uma
garantia imprescindível da proteção de direitos fundamentais.14
Apesar de a CRP reconhecer a todas as pessoas o direito de obter dos tribunais uma tutela jurisdicional
efetiva, sendo esta uma garantia de natureza universal e geral, isso não significa, nem impõe a obrigatoriedade
de recurso aos tribunais para a resolução dos litígios. 15

10
Cfr. TEIXEIRA, Paulo Duarte, “Os Pressupostos Objectivos e Subjectivos do Procedimento de Injunção”, 2006, p. 212 – “… a
sociedade mudou e com ela o sistema processual terá de mudar sob pena de o direito ser, cada vez mais, um dever ser que, afinal nunca
ou raramente é. A multiplicação de litígios, fruto da sociedade moderna “obrigam” o sistema jurisdicional a abandonar a solenidade em
favor da eficácia e as exigências formais em favor de uma maior rapidez.”
11
Cfr. CORREIA, João, “Reformar o C.P.C., Para Quê?”, 2012, p. 131 – “Para se apurar o grau de eficiência da Justiça, em qualquer
País, temos de averiguar se as leis são claras, acessíveis, estáveis e se os cidadãos confiam nelas e nas instituições que as mandam
aplicar.”
12
Cfr. AZEVEDO, Belmiro Mendes de, “O Impacto Económico da Morosidade Judicial: Reflexões para uma Reforma Urgente”, 2007,
p. 265 – “A “eficiência” de um sistema judicial (o sistema encarregue da aplicação da lei), entendendo tal eficiência como a sua
capacidade de dar resposta, em tempo útil, aos problemas que lhe são colocados, constitui um pilar de essência para a sustentabilidade de
um moderno Estado de Direito;”
13
O artigo 20º n.º 1 da CRP prevê que “A todos é assegurado o acesso ao Direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses
legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.”, já o n.º 4 do mesmo artigo define
que “Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo.”
14
Cfr. CANOTILHO, J. J. Gomes e MOREIRA, Vital, “CRP - Constituição da República Portuguesa Anotada – Artigos 1º a 107º”,
2014, p. 408 – “O direito de acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva (n.º 1 e epígrafe) é, ele mesmo, um direito fundamental
constituindo uma garantia imprescindível da protecção de direitos fundamentais, sendo, por isso, inerente à ideia de Estado de direito.”
15
Cfr. SERRA, Manuel Fernando dos Santos, “A arbitragem administrativa em Portugal: Evolução recente e perspectivas”, 2010, p. 19 –
“A nossa Constituição reconhece a todas as pessoas o direito de obter dos tribunais uma tutela jurisdicional efectiva dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos. Mas isso não implica que todos os litígios devam, forçosamente, passar pelos tribunais ou que neles
tenham de encontrar a sua resolução.”

4
LOPES, J. DOMINGOS T. II. A NECESSIDADE DE MEIOS EXTRAJUDICIAIS

A vida moderna não suporta a demora da justiça estadual e a insuficiência dos mecanismos judiciais.
Daí o surgimento da necessidade de criar alternativas/complementos à justiça judicial tradicional.
Os meios extrajudiciais de resolução de litígios surgem assim, e podem ser definidos como meios
legalmente admitidos de resolução de litígios fora da esfera jurídica do tribunal e da sua função jurisdicional
em sentido estrito.
Assim, por reconhecer e tentando resolver esta necessidade de celeridade processual e de outras
formas de resolução de litígios, o legislador recorreu a diversas soluções:
Por um lado, para responder à necessidade de celeridade processual criou diversas formas legais de
obtenção de títulos executivos que permitissem avançar diretamente para a ação executiva sem necessidade de
uma ação declarativa.16 Por outro, para resolver a necessidade de soluções diferentes, o legislador procedeu à
criação dos meios de RAL.17
No entanto, ainda que a lei admita a resolução extrajudicial dos litígios, isso não significa um
“afastamento” do direito de recurso aos tribunais, 18 nem tão pouco uma obrigação de recurso a estes meios
extrajudiciais.19

16
O artigo 703º n.º 1 d) do CPC prevê que são títulos executivos os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força
executiva. Podem-se incluir nestes o procedimento de injunção (regulado pelo Decreto-lei n.º 269/98), o procedimento europeu de
injunção de pagamento (regulado pelo Regulamento (CE) n.º 189/2006), o procedimento especial de despejo (previsto no artigo 14º – A
da Lei n.º 6/2006 aditada pela Lei n.º 31/2001), a acta da reunião da assembleia de condóminos (prevista no artigo 6º n.º 1 do Decreto-lei
n.º 268/94), a obrigação de depósito ou entrega da prestação devida no âmbito da execução (previsto no artigo 777º n.º 3 do CPC) e a
nota discriminatória de honorários e despesas do agente de execução (prevista no artigo 721º n.º 5 do CPC).
17
Entre os meios de RAL, que analisaremos em seguida, a doutrina tem consensualmente definido a arbitragem, os julgados de paz e a
mediação, aos quais podemos acrescentar a conciliação e a negociação.
18
Cfr. CANOTILHO, J. J. Gomes e MOREIRA, Vital, “CRP - Constituição da República Portuguesa Anotada – Artigos 1º a 107º”,
2014, p. 408 – “De qualquer modo, ninguém pode ser privado de levar a sua causa (relacionada com a defesa de um direito ou interesse
legítimo e não apenas de direitos fundamentais) à apreciação de um tribunal, pelo menos como último recurso.”
19
Cfr. idem, ibidem, p. 409 – “Apesar de ser uma garantia de natureza universal e geral, o direito de acesso aos tribunais não exclui (…)
nem a obrigatoriedade de meios preventivos de resolução extrajudicial, como, por exemplo a conciliação ou mediação ou recurso
administrativo (não jurisdicional).

5
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

III. OS MEIOS DE RAL

A morosidade do sistema judicial com o aumento de pendências processuais centradas nos tribunais
judiciais, que não conseguem dar resposta às necessidades de uma sociedade cada vez mais plural e complexa,
é uma das razões mais apontadas por diversos autores para a criação dos meios de RAL. A criação destes surge
assim, juntamente com outras medidas por parte do legislador, como uma forma de descongestionar,
desburocratizar e impulsionar um sistema de Justiça em descrédito, e com isso proporcionar aos cidadãos uma
forma mais célere de resolução dos seus litígios.
Mas mais do que uma tentativa de descongestionamento dos tribunais, os meios de RAL apresentam-
se como meios diferentes dos tribunais assentando em características que os distinguem destes, tendo com isso
o objetivo de prestar um serviço diferente aos cidadãos, e com isso ajudar na melhoria do acesso à justiça. 20
Os meios de RAL nascem sob o signo da desjudicialização, criando uma multiplicidade de respostas21
e procurando com isso promover uma justiça de proximidade com os cidadãos.
Os meios de RAL apresentam um conjunto de caraterísticas, em sentido amplo, que os distinguem
dos tribunais. Em seguida apresentámos uma tabela que elenca essas diferenças:

Tabela 1 - Características diferenciais entre o sistema judicial e os meios extrajudiciais 22

Sistema Judicial Meios Extrajudiciais


Sistema público. Sistema (tendencialmente) privado.
Modelo impositivo, obrigatório ou unilateral. Modelo voluntário ou bilateral.
Inflexibilidade de procedimentos. Flexibilidade de procedimentos.
Incapacidade de adaptação ao caso concreto. Capacidade de adaptação ao caso concreto.
Menor grau de confidencialidade. Maior grau de confidencialidade.
Controlo endógeno do resultado. Controlo exógeno do resultado.

De referir que compete à DGPJ promover a criação e apoiar o funcionamento de centros de arbitragem,
julgados de paz e sistemas de mediação, nos termos do previsto no artigo 4º n.º1 alínea t) da Lei Orgânica da
Direção-Geral da Política de Justiça.
Os meios de RAL reconhecidamente aceites pela generalidade da doutrina são: a arbitragem, os
julgados de paz e a mediação. Em seguida procederemos à análise de cada um deles.

20
Cfr. FERREIRA, António Casimiro, “Trabalho procura Justiça: os tribunais de trabalho na sociedade portuguesa”, 2005, p. 75 – “…
As suas vantagens podem contribuir para a redução da designada crise dos sistemas judiciais. Por exemplo, pode considerar-se que os
mecanismos alternativos à via judicial desempenham um papel chave na melhoria do acesso à justiça.”
21
Cfr. PEDROSO, João, “Percurso(s) da(s) reforma(s) da administração da justiça – uma nova relação entre o judicial e o não judicial”,
p. 39 – “O novo sistema integrado de resolução de litígios, tem como consequência a assunção e reconhecimento pelo Estado duma
política pública de justiça, que inclui os tribunais judiciais e o denominado “pluralismo jurídico e judicial”, ou seja, que reconhece
também aos meios não judiciais legitimidade para dirimir litígios. A informalização da justiça e a desjudicialização, incluindo todo o
movimento ADR, constituem, assim, caminhos da reforma da administração da justiça desde que defendem a igualdade das partes e
promovam o acesso ao direito. Só deste modo esta multiplicidade de processos pode tornar a justiça mais democrática.”
22
Tabela elaborada com base na tabela apresentada por CEBOLA, Cátia Marques, “La Mediación”, 2013, p. 54.

7
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

1. A ARBITRAGEM

A arbitragem assume-se como um meio de justiça privado de resolução de litígios, legalmente


admitido, enquadrando-se como um sistema alternativo em relação aos tribunais estaduais, isto na medida em
que da mesma forma que no processo judicial a decisão cabe ao juiz, na arbitragem a decisão do litígio compete
a um terceiro imparcial (árbitro).
À arbitragem está subjacente a autonomia da vontade das partes em submeter um determinado litígio
à decisão de um terceiro (árbitro), a quem compete decidir a questão de forma imparcial, é nesta vinculação
das partes à decisão proferida pelo árbitro que assenta a natureza adjudicatória desta.23
A arbitragem constitui assim um meio de resolução de litígios com duas características principais:
uma característica voluntária e outra adjudicatória, na medida em que compete às partes decidir recorrer à
arbitragem para dirimir o seu conflito, no entanto uma vez que o façam atribuem a decisão do mesmo a um
terceiro, o árbitro.24
Uma das vantagens da arbitragem em relação aos tribunais judiciais é, como em geral todos os meios
de RAL, permitir alcançar uma decisão de forma mais célere que no processo judicial, sendo que no caso da
arbitragem esta celeridade processual assenta também na irrecorribilidade da decisão arbitral, como veremos
mais à frente.
Uma característica fundamental da arbitragem é a sua confidencialidade, 25 sendo esta uma
característica muito apetecível entre as grandes empresas multinacionais, que pretendem manter em segredo
os seus negócios e consequentemente os litígios emergentes dos mesmos.
Outra característica principal do processo arbitral, e que está na sua génese, é a convenção de
arbitragem, pois é através desta que as partes dão expressão à autonomia da sua vontade, isto é, é através da
convenção arbitral que as partes determinam o recurso à arbitragem para resolução do seu litígio, afastando-
se, assim, da tutela dos tribunais judiciais. 26
Importa ainda referir que a convenção arbitral pode revestir duas formas: compromisso arbitral ou
cláusula compromissória.27 Sendo que o compromisso arbitral tem por base um litígio atual, isto é, as partes
perante um conflito, decidem atribuir a um tribunal arbitral a resolução do mesmo. Já na cláusula
compromissória estamos perante um litígio eventual, isto é, as partes no âmbito de uma relação jurídica
(contratual ou extracontratual) determinam que se no âmbito dessa relação surgir um litígio, esse litígio será
decidido com recurso à arbitragem.

23
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Manual de Arbitragem”, 2013, pp. 31 e 32 – “A Arbitragem constitui um modo de resolução de
litígios entre duas ou mais partes, efectuada por uma ou mais pessoas que detêm poderes para esse efeito reconhecidos por lei, mas
atribuídos por convenção das partes.”
24
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, p. 119 – “A arbitragem é, assim, um meio de
resolução alternativa de litígios adjudicatório, na medida em que a decisão é proferida por um ou vários terceiros. E essa decisão é
vinculativa para as partes.”
25
O dever de sigilo das partes encontra-se previsto no artigo 30º n.º 5 da LAV.
26
Cfr. MIRANTE, Daniela Filipa Calado, “Os Efeitos da Anulação da Sentença Arbitral”, 2009, p. 7 – “A celebração da convenção
arbitral é o verdadeiro momento voluntário da arbitragem: as partes têm a faculdade de celebrar ou não uma convenção de arbitragem.
Contudo, caso decidam celebrá-la ficam vinculadas ao seu conteúdo, não podendo afastar-se unilateralmente do acordado.”
27
Nos termos do previsto no artigo 1º n.º 3 da LAV.

8
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

Desta dicotomia entre a vontade das partes e a tutela jurisdicional surge a questão: exercem os árbitros
poder jurisdicional? Ou este cabe exclusivamente à esfera do Estado?
Várias teses relativamente à natureza da arbitragem têm surgido: A tese contratualista, a tese
jurisdicional e a tese mista.
Os defensores da tese contratualista defendem que a arbitragem tem natureza contratual, na medida
em que esta assenta num negócio jurídico (convenção arbitral) no qual as partes estabelecem voluntariamente
o recurso à arbitragem para a resolução do seu litígio. 28
Esta tese assenta na ideia que é nas partes que se encontra o poder de recurso à arbitragem, bem como
de escolha do árbitro ou árbitros, cabendo a estes apenas agir em conformidade com a vontade comum das
partes.
Já os defensores da tese jurisdicional, assentam a sua ideia na função do árbitro, que tratando-se de
um terceiro imparcial a quem compete presidir o processo arbitral e proferir decisão para o litígio, vê-se
investido de verdadeiro poder jurisdicional, da mesma forma que um juiz, ganhando com isso autonomia em
relação às partes.29
Esta tese defende que não é na escolha dos árbitros pelas partes que assenta arbitragem, mas sim no
poder jurisdicional exercido pelos árbitros que ganham, após a sua escolha, autonomia em relação ás partes
para presidirem e decidirem o litígio.
Por sua vez, os defensores da tese mista fazem a ligação entre as duas teses anteriores, defendendo
que numa primeira fase a arbitragem é contratual, na medida em que compete às partes, voluntariamente
determinar o recurso à arbitragem, mas uma vez determinado este, estas atribuem ao árbitro um poder
jurisdicional, para presidir o processo e decidir o litígio, sendo essa decisão vinculativa para as partes.30
Esta tese parece-nos a mais sensata na medida em que à arbitragem estão subjacentes duas
características principais: uma característica contratual que assenta na autonomia da vontade das partes,
cabendo a estas, para além da determinação do recurso à arbitragem, a escolha do árbitro ou árbitros que irão
presidir à resolução31 e, ainda, a definição das regras de processo aplicável, e ainda a definição das regras de
processo aplicável; e uma característica jurisdicional na medida em que o árbitro ou árbitros após a sua escolha

28
Cfr. PINA, Pedro, “Arbitragem e Jurisdição”, 2008, p. 137 – “A tese contratualista radica-se e radicaliza-se nesta consideração. A
arbitragem é um simples contrato através do qual se delega num terceiro a solução da controvérsia. Os árbitros não passarão de
mandatários comuns das partes concretizando na sua decisão a vontade comum destas quanto ao futuro do litígio.”
29
Cfr. idem, ibidem, p. 138 – ““A relação jurídica substantiva é aquela que vai ser objecto de uma decisão a que se chegará mediante um
processo presidido por um ou mais terceiros imparciais, os árbitros. Estes, apesar de não constituírem um órgão estadual, vêem-lhe ser
atribuídos verdadeiros poderes jurisdicionais, em abstracto, pelo próprio Estado e, em concreto, pelos contraentes da convenção de
arbitragem.
O contrato não pode, pois, ser o ponto de partida para aquilatar da natureza jurídica do instituto. Importa analisar a própria
actividade dos árbitros e o seu resultado. Mais do que mandatários, com cuja função não se identificam, os árbitros são verdadeiros
julgadores.”
30
Cfr. FOUCHARD apud PINA, Pedro, “Arbitragem e Jurisdição”, 2008, p. 139 – “A arbitragem, tendo génese contratual que limita a
intervenção dos árbitros em face dos concretos poderes de disponibilidade dos direitos das partes, desenvolve-se pela acção de juízes
privados que exercem uma função pública com resultado dirimente de conflitos em termos potencialmente definitivos e susceptíveis de
execução.”
31
O que permite que os árbitros possam ter uma componente mais técnica, situação especialmente importante em matérias altamente
especializadas, como veremos mais à frente.

9
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

ganham autonomia em relação ás partes, gozando mesmo, à semelhança de um juiz de um poder impositivo,
poder jurisdicional relativamente ao litígio existente.
Em relação ao enquadramento legal dado à arbitragem, a lei regula esta através da Lei da Arbitragem
Voluntária.32
O artigo 1º n.º 1 da LAV prevê que desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente
aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza
patrimonial pode ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros.
Ou seja, a LAV prevê a existência de dois tipos de arbitragem: a arbitragem voluntária e a arbitragem
necessária.
No que diz respeito à arbitragem voluntária esta verificar-se-á quando o recurso à arbitragem se
encontra na disposição das partes, dando forma ao princípio da voluntariedade.
Já o recurso à arbitragem necessária verifica-se quando por lei especial é determinado o recurso à
arbitragem,33 isto é, o recurso à arbitragem é imposto por lei. As partes não têm opção, pois a lei obriga a que
determinado litígio seja obrigatoriamente submetido à arbitragem, sendo esta uma exceção ao princípio da
autonomia da vontade das partes.34
Quanto ao âmbito subjetivo da arbitragem, isto é, em relação aos sujeitos do litígio arbitral, este
também pode gerar duas situações: a primeira será quando ambas as partes sejam particulares, a outra será
quando uma das partes é o Estado.
Estando no âmbito dos litígios entre particulares a voluntariedade é característica essencial do
processo arbitral, competindo às partes a determinação do recurso à arbitragem para resolução do seu litígio,
aplicando-se o previsto na LAV.
Já no âmbito dos litígios em que uma das partes seja o Estado, o seu regime será diferente, na medida
em que em matéria administrativa, o CPTA reserva um capitulo para a arbitragem administrativa,35 prevendo
mesmo o seu artigo 180º as matérias no âmbito administrativo em que é admissível o recurso à arbitragem.
De referir que relativamente à arbitragem administrativa, e dando cumprimento ao previsto no artigo
187º n.º 1 do CPTA, foi criado o CAAD, com sede em Lisboa, abrangendo todo o país, e com competência,
tanto em matéria administrativa como fiscal, sendo também esta, a matéria fiscal, uma área em que será possível
o recurso à arbitragem, encontrando-se o seu regime previsto no Regime Jurídico da Arbitragem em Matéria
Tributária, estando vinculadas a esta a DGCI e a DGAIEC, nos termos do previsto no artigo 1º da Portaria n.º
112-A/2011.

32
Isto para além da previsão constitucional prevista no artigo 209º, n.º 2 da CRP, e do estabelecido em outra legislação avulsa.
33
Nos termos dos artigos 1082º a 1085º do CPC.
34
Cfr. FIGUEIRAS, Cláudia Sofia Melo, “Arbitragem em Matéria Tributária: À Semelhança do Modelo Administrativo?”, 2011, pág.
37, nota 58 – “… sendo a arbitragem entendida como um mecanismo alternativo aos Tribunais comuns para a resolução dos litígios é
curioso que a mesma possa ser imposta por lei, pois, ao sê-lo, deixa de ser uma verdadeira alternativa para as partes e impõe-se como
uma verdadeira obrigação. O elemento histórico permite-nos chegar a essa conclusão. Se a arbitragem, nas suas origens, teve sempre
como pressuposto a autonomia da vontade das partes, é estranho que se chame arbitragem a um mecanismo que tem origem legal e que
não pressupõe qualquer acto de vontade.”
35
O título IX do CPTA tem como epigrafe: Tribunal Arbitral e Centros de Arbitragem.

10
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

Em matéria administrativa referir que, a arbitragem apresenta-se como uma solução com diversas
vantagens em relação aos tribunais administrativos, nomeadamente no que diz respeito à celeridade, 36 à
desformalização37 e à adequação de procedimentos, necessária neste mundo atual litigioso complexo,38 para
além do que, a arbitragem em matéria administrativa apresenta menores custos.
Suscitando, no entanto, a arbitragem em matéria administrativa e fiscal especiais cautelas,39 uma vez
que estando os órgãos públicos sujeitos à lei e ao princípio da prossecução do interesse público, não devem os
seus litígios ser confidenciais, dando cumprimento ao princípio da transparência.40

2. OS JULGADOS DE PAZ

É importante em primeiro lugar determinar a razão da criação dos julgados de paz para entender qual
foi a ideia do legislador na criação das normas que determinam o processo nos julgados de paz.

“…os Julgados de Paz têm uma causa-final determinante e imediata: servir os


Cidadãos.”41

Uma das razões mais apontadas por diversos autores 42 para a criação dos julgados de paz foi a
necessidade de descongestionar, desburocratizar e impulsionar um sistema de Justiça em descrédito, e com isso
proporcionar aos cidadãos uma forma mais célere de resolução dos seus litígios.
Estas razões parecem ter tido influência na criação dos julgados de paz, mas não poderá ser entendida
apenas a sua criação pela necessidade de tratamento de um sistema judicial em crise. Os julgados de paz têm
de ser entendidos de forma diferente, devendo-se salientar algumas características, como é caso do estímulo à
participação cívica dos cidadãos, sendo um meio informal e acessível com custas reduzidas, trazendo uma
desjudicialização e desburocratização de processos.43

36
Encontrando-se os tribunais administrativos assoberbados de processos.
37
Uma vez que a justiça administrativa comum apresenta características excessivamente formais
38
Cfr. FONSECA, Isabel Celeste M., “Arbitragem Administrativa: Uma Realidade com Futuro?”, 2013, p. 164 – “No domínio da justiça
administrativa, uma das maiores vantagens diz respeito a razões de ordem conjuntural, que tem que ver com o gigantesco atraso na
apreciação e julgamento dos processos confiados aos tribunais administrativos. E uma outra razão é de tipo estrutural, prendendo-se com
as dificuldades de adequação do processo administrativo face à complexidade dos problemas do mundo actual, o carácter
excessivamente formalista desse processo e a ausência de capacidade técnica especializada dos juízes (em comparação com a dos
peritos).”
39
Cfr. MARTINS, Guilherme d´Oliveira, “Breve Reflexão em torno da Arbitragem Administrativa”, 2013, p. 9 – “Reconhecendo-se as
potencialidades da arbitragem administrativa voluntária, afigura-se-nos que a mesma deve ser objeto de uma abordagem prudente por
parte do legislador. A pluralidade de valores e de princípios que se impõem à atividade administrativa, como os princípios da
prossecução do interesse público, da legalidade, da imparcialidade e da transparência, justificam especiais cautelas legislativas.”
40
Cfr. GAMA, João Taborda da, “Decisões Arbitrais Públicas (Finalmente) Públicas”, 2013, p. 30 – “É sempre ilógico que a decisão de
um tribunal, judicial ou arbitral, seja secreta. É, além disso, democrática e constitucionalmente ilegítimo o segredo de atos arbitrais que,
no âmbito da função jurisdicional, dirimam um litígio em que, direta ou indiretamente, esteja em causa o interesse público ou, o que é
dizer quase o mesmo por outras palavras, o dinheiro dos contribuintes.”
41
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “Julgados de Paz: Organização, competência e funcionamento”, 2011, p. 14.
42
De referir CHUMBINHO, João, FERREIRA, J. O. Cardona, GOUVEIA Mariana França, VARGAS, Lúcia Dias, entre outros.
43
Cfr. VARGAS, Lúcia Dias, “Julgados de Paz e Mediação – Uma nova face da Justiça”, 2006, p. 100 – “Os Julgados de Paz nasceram
sob o signo da desjudicialização, entendida numa dupla vertente, por um lado, retirar alguns processos, que a isso se adaptem, dos

11
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Os julgados de paz devem ser, assim, entendidos, muito mais do que uma simples forma de
descongestionamento dos tribunais, mas sim, como uma forma diferente de servir os cidadãos.44
Os julgados de paz tendo características muito próprias são o meio de RAL que mais se assemelha
com o sistema judicial, uma vez que o litígio é decido por um juiz de paz, que tal como o juiz de direito está
apenas obrigado à lei45, no entanto a principal diferença com o procedimento judicial prende-se com a
desburocratização do processo, tornando este mais próximo e acessível para o cidadão comum, sendo
reconhecido como um meio de resolução de litígios de proximidade.
Os julgados de paz podem, assim, ser entendidos como um meio de RAL, mas também como um
tribunal, na medida em que a estes estão subjacentes duas fases distintas: a primeira assenta na procura de uma
decisão consensual das partes, através de mecanismos de mediação e conciliação, e a segunda assenta numa
decisão proferida pelo juiz de paz, gozando esta da mesma força legal das decisões dos tribunais judiciais.
Os julgados de paz definem-se como tendo uma natureza híbrida na medida em que se procura
estimular, no processo, a justa composição dos litígios por acordo das partes, através de métodos não
adversariais46, no entanto, se tal não se verificar, o processo seguirá para julgamento tendo o juiz de paz o poder
de decidir a questão e proferir sentença vinculativa. 47
Relativamente ao processo nos julgados de paz este é intrinsecamente caraterizado pela proximidade
com os cidadãos, procurando estimular a justa composição do litígio por acordo das partes. 48 A proximidade
com os cidadãos é mesmo a característica principal dos julgados de paz, através de meios de auto-composição
que procuram que as partes cheguem a uma solução por acordo.
O processo nos julgados de paz regendo-se por princípios como a simplicidade, adequação,
informalidade, oralidade e absoluta economia processual,49 apresenta muitas semelhanças com o processo nos
tribunais judiciais, sendo muitos destes princípios também princípios que caracterizam o processo judicial 50.

tribunais judiciais e remetê-los para outras vias de resolução alternativa, por outro lado, prestar um serviço diferente ao cidadão. De
resto, os Julgados de Paz nasceram com o vincado propósito de se traduzirem em verdadeiros tribunais do cidadão.”
44
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “Economia e Justiça”, p. 11 – “O objectivo determinante, a causa – final dos Julgados de Paz,
consiste simplesmente em servir a cidadania, ou seja, contribuir para a realização de Justiça próxima, humana, adequada, oportuna. Este
serviço pode e deve ser prestado por duas formas: resolvendo, directamente, alguns problemas concretos de certas pessoas; e, aliviando,
na medida das suas competências, os Tribunais Comuns, desses problemas, contribuindo para que os Tribunais Comuns, desses
problemas, contribuindo para que os Tribunais Comuns, tenham mais disponibilidade para aqueles casos que terão de ir para a Justiça
Comum. Claro que isto depende, quanto aos Julgados de Paz, de competências e de organização correspondente, ou seja, instalação
sustentada; divulgação; competência material necessária e não simplesmente optativa.”
45
Ressalva-se aqui a possibilidade de o litígio ser decidido segundo a equidade, sobre este assunto veremos mais à frente.
46
A mediação e a concliação.
47
Cfr. VARGAS, Lúcia Dias, “Julgados de Paz e Mediação – Uma nova face da Justiça”, 2006, p. 115 – “O aspecto mais notório dos
Julgados de Paz é, na verdade, a sua estrutura bipartida, que abrange, por um lado, a mediação enquanto método não adversarial de
resolução de conflitos, e, por outro lado, o julgamento presidido por um juiz de paz, a quem compete decidir a questão controvertida, por
via de sentença.”
48
Cfr. previsto no artigo 2º n.º 1 da LJP, a atuação dos julgados de paz é vocacionada para permitir a participação cívica dos interessados
e para estimular a justa composição dos litígios por acordo das partes.
49
Nos termos do artigo 2º n.º 2 da LAV.
50
No processo judicial podem também ver-se princípios como: o princípio da simplicidade, presente nos artigos 130º e 131º do CPC; o
princípio da adequação, presente no artigo 547º do CPC; o princípio da oralidade, presente ao longo do processo, nomeadamente na
audiência prévia, artigo 591º do CPC, e na audiência de julgamento, artigo 604º do CPC; e o princípio da economia processual, muito
presente nas alterações ocorridas recentemente ao CPC com a aprovação da Lei n.º 41/2013, de 26 de junho.

12
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

No entanto, nos julgados de paz estes princípios encontram-se mais presentes, traduzindo-se num carácter de
desburocratização e desjudicialização inerente a estes.
Quanto ao enquadramento legal dado aos julgados de paz, estes encontram a sua organização,
competência e funcionamento regulados pela Lei dos Julgados de Paz.51

3. A MEDIAÇÃO

A mediação é o meio RAL que apesar de ter como objetivo tirar alguns processos dos tribunais, ainda
assim, o seu surgimento visou também prestar um serviço diferente aos cidadãos, sendo que, estamos perante
um meio que deixa na disposição das partes a resolução do conflito, isto é, procura aproximar as partes para
que estas encontrem por si a melhor solução para o seu litígio.

“Se tu queres fazer as pazes com o teu inimigo tens de trabalhar com o teu
inimigo. E então ele torna-se o teu parceiro”52

A mediação será assim um meio de RAL mais vocacionado à resolução de conflitos de proximidade,
nomeadamente no âmbito familiar ou mesmo de vizinhança, em que as relações interpessoais são o centro. 53
A mediação pode ser definida como o meio de RAL através do qual as partes em litígio procuram
voluntariamente alcançar um acordo com assistência de um mediador de conflitos, sendo este um terceiro,
imparcial e independente, desprovido de poderes de imposição, que auxilia as partes na tentativa de construção
de um acordo final sobre o objeto do litígio, 54 isto é, será um meio de resolução de litígios em que caberá às
partes encontrar a melhor solução para o seu conflito, cabendo apenas ao mediador tentar aproximá-las.55
É nesta característica de domínio das partes sobre o processo que assenta o pressuposto da mediação
enquanto meio auto-compositivo e consensual de RAL, assentando no poder das partes (empowerment) a
decisão para o litígio.56

51
Aprovada pela Lei n.º 78/2001, de 13 de julho, e alterada pela Lei n.º 54/2013, de 31 de julho.
52
Frase proferida por Nelson Mandela no seu primeiro discurso de tomada de posse, proferido na Cidade do Cabo, em 9 de maio de
1994, aqui aplicada noutro contexto, mas que enquadra bem o fim principal da mediação.
53
Cfr. CARVALHO, Jorge Morais, “A Consagração Legal da Mediação em Portugal”, 2011, p. 281 – “(…) em alguns litígios,
nomeadamente quando a pacificação da relação entre as partes seja o principal problema (relações de vizinhança, de família ou de
trabalho), o tribunal judicial pode não ter – e normalmente não tem – capacidade para resolver a questão a fundo, sendo muito mais
eficaz uma eventual solução resultante de um processo de mediação.”
54
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “A mediação pré-judicial em Portugal: Análise do Novo Regime Jurídico”, 2010, p. 1 – “A mediação é
comummente definida com um processo extrajudicial de resolução de conflitos, caracterizado pela intervenção de uma terceira pessoa,
cujo objectivo é facilitar o diálogo entre as partes em confronto, por forma a que elas próprias possam construir a solução tida por ambas
como a ideal para o seu problema.”
55
Cfr. FERNANDEZ, Elizabeth, “Um juiz de paz para a paz dos juízes (?)”, 2006, p. 22 – “A mediação é uma modalidade extrajudicial
de resolução de litígios de carácter privado, informal, confidencial, voluntário e de natureza não contenciosa em que as partes, com a sua
participação activa ou directa, são auxiliadas por um mediador a encontrar, por si próprias, uma solução negociada e amigável para o
conflito que as opõe, o que tem subjacente a ideia de que as mesmas se consideram mais vinculadas pelo acordo, nesta sede
eventualmente obtido, do que pela sentença ditada por um juiz, após a produção da prova.”
56
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, p. 48 – “O essencial na mediação é o pleno
domínio do processo pelas partes (empowerment), princípio que é o seu fundamento e, naturalmente, uma sua característica permanente.

13
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

O empowerment é mesmo uma característica essencial da mediação, atribuindo-se às partes, enquanto


as principais interessadas na resolução do litígio, o domínio total do processo, cabendo a estas determinar, com
o auxílio do mediador, a melhor solução a dar ao conflito. 57 Esta será mesmo a filosofia por trás de todo o
processo de mediação, responsabilizando as partes por encontrar a melhor solução para resolver o seu
conflito.58
Esta caraterística de domínio do processo pelas partes não deverá ser vista como uma característica
que torna a mediação como uma alternativa inferior aos tribunais, mas sim uma alternativa diferenciada. 59
Outra característica da mediação e que a distingue dos tribunais judiciais e dos outros meios de RAL,
é o seu fim, pois uma vez que é às partes a quem compete chegar a um acordo, isso permite que estas consigam
sanar o conflito e, com isso, restabelecer a paz social.
Quanto ao seu enquadramento legal, a mediação encontra a sua maior expressão na Lei da Mediação,
sendo nesta que se encontram previstas todas as regras aplicáveis à mediação realizada em Portugal, esta
sistematização e regulação é recente, sendo que, até aí encontravam-se os seus princípios espalhados por
diversos diplomas avulsos, visto que o seu âmbito de aplicação se estende muito para além da matéria cível,
nomeadamente em matéria comercial,60 laboral,61 familiar62 e até penal.63
A LM assenta a mediação em vários princípios aplicáveis a todas as mediações. 64
A voluntariedade das partes para determinarem o recurso à mediação, para a abandonar a qualquer
altura e para a decisão do litígio é um princípio fundamental da mediação. 65

A mediação assenta na ideia de que é nas partes que reside a solução do problema, que é através delas – as donas do litígio – que se
encontra a solução adequada e justa.”
57
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, e GONÇALVES, Marco Carvalho, “Da possibilidade de aplicação de medidas cautelares à
executoriedade do acordo de mediação em Portugal: análise em contexto familiar”, 2016, p. 9 – “Acresce que as partes no seio da
mediação são os sujeitos ativos da solução do problema. O empowerment da sua posição, traduzido na capacidade de decisão
relativamente ao acordo para o seu conflito, bem como a possibilidade de manifestarem as suas ideias e temores, conferem às partes uma
postura oposta à que lhes é outorgada no âmbito do processo judicial ou mesmo arbitral.”
58
Cfr. VARGAS, Lúcia Dias, “Julgados de Paz e Mediação – Uma nova face da Justiça”, 2006, pp. 55 e 56 – “A filosofia da mediação
radica no entendimento segundo o qual, as pessoas envolvidas no conflito são as que melhor capacidade terão para o resolver, pelo que
os participantes devem ter um domínio absoluto do procedimento da mediação, podendo desistir dele sempre que entenderem. Ao
mediador cabe o papel de estimular o diálogo e não o de decidir ou impor soluções, pois prevalece sempre a vontade das partes.”
59
Nesse sentido, a Diretiva 2008/52/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Maio de 2008, relativa a certos aspetos da
mediação em matéria civil e comercial, no seu ponto 19, prevê que a mediação não deverá ser considerada uma alternativa inferior ao
processo judicial pelo facto de o cumprimento dos acordos resultantes da mediação depender da boa vontade das partes.
60
De referir que ao nível comunitário a mediação em matéria cível e comercial foi objeto de sistematização no Livro Verde da Comissão
das Comunidades Europeias de 19 de abril de 2002, e na Directiva 2008/52/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio.
61
No que diz respeito à mediação em matéria laboral referir que o sistema de mediação laboral encontra a sua regulação no Protocolo de
Acordo entre o Ministério da Justiça e os Parceiros Sociais, de 5 de maio de 2006.
62
No que diz respeito à mediação em matéria de família referir que o sistema de mediação familiar (SMF) encontra a sua regulação no
Despacho n.º 18778/2007, de 22 de agosto.
63
No que diz respeito à mediação em matéria penal referir que o sistema de mediação penal encontra a sua regulação no Regime de
Mediação Penal (Lei n.º 21/2007, de 12 de junho) e no Regulamento do Sistema de Mediação Penal (Portaria n.º 68-C/2008, de 22 de
janeiro).
64
Nos termos do previsto no artigo 3º da LM.
65
Nos termos do previsto no artigo 4º da LM.

14
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

A confidencialidade é outro princípio fundamental da mediação a que as partes e o mediador estão


obrigados, 66 e que permite que as partes possam interagir abertamente sem receios de que o que for dito possa
ser futuramente utilizado em processo judicial, salvo por razões de ordem pública ou por forma a garantir a
execução de acordo obtido na mediação, este princípio é essencial para gerar um espaço de confiança que
permita às partes chegarem a um acordo.67 Este será mesmo um principio essencial para a efetividade da
mediação enquanto meio de resolução de litígios. 68
Outros princípios subjacentes à mediação são o princípio da igualdade, da imparcialidade, da
independência, competência e responsabilidade, sendo que estes princípios dizem respeito à função do
mediador, devendo este tratar as partes de forma equitativa, agindo de forma imparcial, também deverá pautar
o seu comportamento pela independência, livre de quaisquer pressões. 69
Um princípio recentemente introduzido pela LM é o princípio da executoriedade que prevê a
atribuição de força executiva ao acordo de mediação sem necessidade de homologação judicial.70 A inclusão
deste principio vem assim dar força à consagração deste meio como meio efetivo de resolução de litígios. 71
Mais à frente iremos ver este princípio quando analisarmos o acordo de mediação.

4. OUTROS MEIOS DE RAL

Para além destes três principais meios de RAL,72 que a doutrina em geral reconhece como sendo os
“verdadeiros” meios de RAL, podem-se ainda referir outros meios com menor expressão como é o caso da
conciliação e negociação.
Estes outros meios apresentam-se com uma natureza mais híbrida, como em seguida veremos:

66
Nos termos do previsto no artigo 5º, conjugado com os artigos 26º d), 28º e 18º n.º 3 da LM.
67
Cfr. VILLALUENGA, Leticia García, “La Mediación a Través de sus Principios.Reflexiones a la luz del Anteproyecto de Ley de
mediación en asuntos civiles y mercantiles”, 2010, p. 733 – “La confidencialidad, principio esencial de la mediación, que permite
generar el espacio de confianza necesario para que las partes definan sus intereses y puedan, en su caso, llegar a acuerdos, alcanza al
procedimiento de mediación y a la documentación utilizada en el mismo,”
68
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “A mediação pré-judicial em Portugal: Análise do Novo Regime Jurídico”, 2010, p. 3 – “Se os
mediados estivessem conscientes de que todas as declarações prestadas poderiam ser utilizadas posteriormente pela parte contrária num
processo judicial, tal faria com que fossem extremamente cautelosos quanto aos seus interesses e razões subjectivas, evitando divulgálos
e dificultando que o mediador pudesse trabalhar um acordo satisfatório para ambas as partes. A previsão da confidencialidade contribui,
assim, para a eficácia da mediação e para a confiança que as partes deverão depositar neste método.”
69
Nos termos do previsto nos artigos 6º a 8º da LM.
70
Nos termos do previsto no artigo 9º da LM.
71
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “Regulamentar a Mediação: Um olhar sobre a nova Lei de Mediação em Portugal”, 2015, p. 60 –
“Aplaudimos a opção do legislador por se considerar não apenas viável à luz do nosso ordenamento jurídico, como também imperiosa à
consagração da efetividade da mediação como método de resolução de conflitos.”
72
A arbitragem, os julgados de paz e a mediação.

15
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

4.1. A CONCILIAÇÃO

A conciliação é um processo, em que as partes solicitam a um terceiro (conciliador) que as ajude nos
seus esforços para chegarem a uma solução amigável para um litígio decorrente de uma relação jurídica,
contratual, ou de diversa natureza.73
A principal diferença entre a mediação e a conciliação prende-se com a possibilidade de o conciliador
poder averiguar os factos, e fazer recomendações às partes, enquanto o mediador apenas auxilia as partes a
encontrarem, por si, soluções para o conflito.74 No entanto, nem um, nem outro, pode impor às partes a solução
do litígio, estas terão de comum acordar o mesmo.
O conciliador terá assim um papel mais impositivo que o mediador, na medida em que este pode fazer
sugestões às partes, sendo que caberá às partes a escolha do meio mais adequado para resolver o seu conflito. 75
Apesar de não ser linear, a conciliação será mais adequada para situações impessoais, em que as partes
não pretendam manter o seu relacionamento,76 pois nas situações pessoais e de convivência será mais adequada
a mediação.
A principal característica da conciliação é, tal como na mediação, a falta de poderes impositivos do
conciliador, isto ao contrário do que acontece na arbitragem e nos julgados de paz.
Aqui tal como na mediação podemos falar do empowerment das partes, pois caberá a estas a decisão
do litígio.
A conciliação pode revestir duas formas: conciliação jurisdicional ou conciliação extrajudicial. A
grande diferença é que a conciliação jurisdicional será aquela realizada no âmbito de um processo,77 enquanto
a extrajudicial é a realizada fora do âmbito de um processo, recorrendo diretamente as partes a este meio para
resolver o seu litígio.
A existência destas duas formas de conciliação é a razão pela qual este meio é visto como um meio
híbrido de RAL, na medida em que a conciliação pode ser realizada tanto fora como dentro do âmbito de um
processo judicial, pelo juiz.
Na conciliação jurisdicional, existe uma tentativa de conciliação que é presidida pelo juiz78 e tem em
vista encontrar a solução mais adequada ao litígio, por acordo das partes.

73
Cfr. BIANCIOTTI, Carla Saad de, “Conciliación Laboral Como Medio de Resolución de Conflictos”, 2005, p. 306 – “La conciliación
es un medio alternativo de resolución de conflictos donde las partes, por sí o representadas por sus letrados, intentan dirimir su conflicto
bajo la dirección de un tercero.”
74
Cfr. MARTINS, João Zenha, “O Sistema de Mediação Laboral – Algumas Notas”, 2005, p. 124 – “… enquanto que na mediação, o
agente, o mediador, apenas assume o encargo de aproximar as partes, de as ajudar a negociar, enquanto são as próprias partes que vão
procurando, com o auxílio do mediador, encontrar um quadro mutuamente aceitável para a resolução do seu litígio, na conciliação as
partes cometem ao conciliador o poder de averiguar os factos e de procurar uma solução para o litígio, recomendando-a à aceitação das
partes.”
75
Cfr. BANDEIRA, Susana Figueiredo, “A Mediação como Meio Privilegiado de Resolução de Litígios”, 2002, p. 108 – “(…) O
conciliador tem um papel mais activo que o Mediador na medida em que sugere soluções e recomenda, a final, uma solução para o
conflito, que embora sugerida por este necessita da anuência de ambas as partes para se tornar efectivamente no acordo conciliatório.”
76
CRUZ, Rossana Martingo, “Mediação Familiar: Limites Materiais dos Acordos e o seu Controlo Pelas Autoridades”, 2011, p. 29 –
“Daí que este mecanismo de resolução de litígios seja aconselhado para casos em que não exista nenhum tipo de relacionamento
duradouro e continuo entre os conciliados.”
77
Quer este seja no âmbito dos tribunais judiciais, dos tribunais arbitrais ou dos julgados de paz.
78
Ou árbitro ou juiz de paz.

16
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

No âmbito do processo civil, o CPC prevê a existência de tentativa de conciliação em 2 fases do


processo: na audiência prévia, nos termos do artigo 591º n.º 1 a) do CPC e na audiência final, nos termos do
artigo 604º n.º 2 do CPC, podendo, no entanto, ocorrer em qualquer estado do processo, nos termos do artigo
594º n.º 1 do CPC.
O CPC prevê esta tentativa de conciliação no seu artigo 594.º, sendo que nos termos do n.º 3, a
tentativa de conciliação é presidida pelo juiz, devendo este empenhar-se ativamente na obtenção da solução
mais adequada aos termos do litígio. 79
Não é só no âmbito dos tribunais judiciais que se verifica esta tentativa de conciliação, também no
âmbito do processo arbitral e do processo nos julgados de paz se encontra esta, ou seja, em todos estes meios
adjudicatórios de resolução de litígios, é salvaguardada a possibilidade de ser encontrada uma solução
autocompositiva, em que as partes decidem a melhor solução para o litígio.
No entanto esta tentativa de conciliação no âmbito jurisdicional levanta alguns receios, nomeadamente
a questão de saber se se inclui na função do juiz ou árbitro a função de conciliar. Esta questão tem sido objeto
de muita discussão, particularmente a problemática relativa à pressão que pode existir sobre as partes para
chegarem a um acordo.
O juiz poderá, ainda que inconscientemente, exercer alguma pressão para a obtenção de um acordo,
até porque, ele é, também, “parte interessada” no processo, não no conteúdo, mas na existência do mesmo, 80
o que pode pôr em causa a sua independência e imparcialidade, havendo sempre o perigo de coação. 81
Assim o juiz deverá ter especial cuidado nesta fase do processo, para não pôr em causa estes princípios
fundamentais da sua função.82
E mesmo a postura das partes pode ser afetada pela simples razão de estarem perante quem tem o
poder de decidir o seu conflito, o que só por si pode “constranger” as partes com receio de que isso possa influir
na decisão final.83
Há mesmo, na doutrina, quem defenda que o juiz que intervêm não deve ser o juiz que depois vai
julgar a questão, pois só assim será possível garantir que não existem pressões, por parte de quem julga, para
alcançar um acordo. Neste sentido defendeu Elizabeth Fernandez84, considerando que só assim se afastaria a
suspeição sobre esta figura, tornando-a mais transparente aos olhos dos agentes da justiça. Já Mariana França
Gouveia reconhece os riscos que os juízes correm, defendendo, no entanto, a participação mais ativa dos juízes

79
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “O Direito Fundamental à Justiça. Um Novo Paradigma de Justiça?”, 2009, p. 64 – “Conciliação é
um acto próprio do Juiz. Ao nível do Direito Processual Civil (que é o comum) não podem existir dúvidas. Mas isto implica que o Juiz
se dedique à conciliação como ao julgamento se for caso disso. A conciliação pode concorrer melhor do que um julgamento para a
pacificação.”
80
Na medida em que com a obtenção desse acordo libertará a sua agenda de um processo.
81
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, p. 106 – “… o exercício ativo da conciliação
pelo juiz assume o risco de coação sobre as partes e de pôr em causa a sua independência.”
82
Cfr. idem, ibidem, p. 110 – “Em qualquer caso, o juiz ou árbitro terá de ter o cuidado de não se deixar influenciar pelo que se passou
nas tentativas de conciliação. A independência e imparcialidade têm de estar presentes em todo o processo, pelo que o juiz ou o árbitro
devem renunciar ou pedir escusa caso o desenrolar da conciliação as ponha em causa.”
83
Cfr. NETO, Abílio, “Código de Processo Civil Anotado”, 2009, p. 765 – “… E o receio – quanto a nós justificado! – de uma posterior
consideração dos fundamentos da não conciliação sempre levaria as partes na audiência preliminar a uma posição de circunstância,
reafirmando apenas as suas razões já anteriormente alegadas.”
84
No colóquio “A Nova Medição” realizado na Escola de Direito da Universidade do Minho, no dia 16/11/2013.

17
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

na conciliação.85 Por sua vez, Cardona Ferreira entende que apesar da pressão existente, a tentativa de
conciliação consubstancia-se num ato tão nobre como o de julgar,86 sendo esta tentativa de conciliação por
definição um ato concordatário do juiz, não deveria este termo ser utilizado fora da esfera judicial. 87
No que diz respeito à conciliação extrajudicial, esta sim pode ser definida como um meio RAL em
que as partes através de um terceiro independente procuram chegar a um acordo, sendo que o terceiro não tendo
poder decisório, conduz o processo, podendo propor soluções para o conflito.
Apesar de a tentativa de conciliação mais utilizada ser a jurisdicional, realizada no âmbito de um
processo, será a conciliação extrajudicial, que pode ser verdadeiramente considerada como um meio de RAL.

4.2. A NEGOCIAÇÃO

A negociação é um meio através do qual as partes diretamente ou através dos seus mandatários,
procuram chegar a um acordo para resolver o seu conflito. A negociação será, assim, em princípio, o primeiro
instrumento utilizado pelas partes, isto é, normalmente estas, antes de avançar com um processo tendem a
tentar resolver o litígio por elas próprias, sendo que, no entanto, nem sempre isso se verifica.88
Cabendo às partes negociar diretamente ou através dos seus mandatários, existe alguma relutância em
considerar este meio como um meio autónomo,89 visto que a negociação é uma parte intrínseca de qualquer
processo.
No âmbito judicial a negociação será um dos meios mais utilizados, sendo que em muitas situações,
através dos seus mandatários, as partes chegam a um compromisso, mesmo antes de qualquer intervenção pelo
juiz.

85
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, pp. 114 e 115 – “Os riscos de coação na
conciliação são muito grandes e os juízes ou árbitros têm de ter essa consciência. Quando aceitam conciliar, devem ter bem presente
como esta diligência pode pôr em causa a sua função no desenrolar do processo.
Não se quer, porém, com isto dizer que a conciliação não deve ser utilizada. Pelo contrário: parece-me muito útil oferecer às
partes esta outra forma de resolver o seu litígio. Julgo, aliás, que os juízes portugueses poderiam ter um papel mais ativo na conciliação,
procurando desta forma diferentes modos de aplicação da justiça. O seu fim não deve ser libertar-se de processos – esse será um efeito
positivo, colateral – mas potenciar o seu trabalho enquanto administradores da justiça.”
86
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “Justiça – Os Caminhantes e os Caminhos”, 2010, p. 820 – “Aliás, a meu ver, a conciliação é um acto
tão nobre, do Juiz quanto o julgamento. Oxalá seja, sempre, assumido como tal.”
87
Cfr. idem, “O Direito Fundamental à Justiça. Um Novo Paradigma de Justiça?”, 2009, p. 70 – “A conciliação é, por definição, um acto
concordatário do Juiz. Não faz sentido e só cria confusões utilizar este termo fora da acção jurisdicional, para intervenção de qualquer
outra entidade.”
88
Cfr. CRUZ, Rossana Martingo, “Mediação Familiar: Limites Materiais dos Acordos e o seu Controlo Pelas Autoridades”, 2011, pp. 27
e 28 – “A negociação, em traços gerais, é o primeiro instrumento que normalmente se usa (ou se deveria usar) aquando de um conflito,
na medida em que se trata de um diálogo directo entre as partes, onde ambas expressam o seu ponto de vista e procuram um acordo que
vá de encontro às pretensões mútuas. No entanto, a negociação nem sempre é um método bem sucedido dadas as dificuldades no
relacionamento e as posições extremadas das partes. Apesar de ser o meio mais célere e económico de resolução de conflitos é também o
mais difícil de efectivar.”
89
Cfr. idem, ibidem, pp. 25 e 26 – “Alguns autores autonomizam a negociação como um método próprio e independente de resolução
alternativa de litígios. Outros, porém, pensam que esta não pode ser vista de forma separada dos outros métodos, na medida em que
compõe o cerne dos mesmos.”

18
LOPES, J. DOMINGOS T. III. OS MEIOS DE RAL

Este acordo obtido pelas partes assumirá a forma de uma transacção,90 que nos termos do previsto no
artigo 1248º n.º 1 do CC será o contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante
recíprocas concessões.
No entanto, será fora do âmbito judicial que se poderá considerar a negociação como um meio de
RAL, sendo que neste âmbito esta assume um carácter voluntário, informal e sem um procedimento específico
ou estruturado, pois é diretamente às partes que compete encontrar a melhor solução para o seu conflito. 91

5. A ALTERNATIVIDADE DOS MEIOS DE RAL

A questão da alternatividade dos meios de RAL é uma questão bastante pertinente na medida em que
os diversos meios de RAL surgem da necessidade da sociedade de novas respostas para os problemas que
assolam a Justiça.
Pelo que, tal como enunciam, os meios de RAL assumem-se como verdadeiras alternativas aos
tribunais, no entanto, é necessário perceber qual o sentido desta alternatividade, sendo que, esta alternatividade
pode ser percebida de diversas formas:

• Enquanto opção, na medida em que a escolha de qual o meio mais adequado à resolução do litígio
está na disposição das partes.
• Enquanto substituto, na medida em que a escolha do meio de RAL afasta, até certo ponto, a
intervenção dos tribunais.
• Enquanto diferente, uma vez que os meios de RAL apresentam soluções e características diferentes
dos tribunais. 92
• Enquanto complemento, pois apresentando os meios de RAL soluções diferentes, podem estas
soluções complementar a ação dos tribunais. 93

Apesar da palavra alternativa, à primeira vista, sugerir os meios de RAL como uma opção diferente
que afaste a intervenção dos tribunais, a verdade é que esse sentido será bastante redutor para o papel que estes
meios deverão assumir enquanto meios integrados no nosso ordenamento jurídico.

90
Cfr. CATENA, Víctor Moreno, “La Resolución Jurídica de Conflitos”, 2011, p. 37 – “Su instrumentalización procesal será la
transacción: cuando las partes lleguen a un acuerdo, lo harán valer ante los tribunales a través de la transacción, aunque también
posiblemente de la renuncia, el allanamiento o el desistimiento”
91
Cfr. BANDEIRA, Susana Figueiredo, “A Mediação como Meio Privilegiado de Resolução de Litígios”, 2002, p. 107 – “Faz-se
directamente entre as partes, sem qualquer ajuda nem facilitação de terceiros e não implica necessariamente a existência de um litígio. É
um processo voluntário, predominantemente informal, sem um procedimento específico ou estruturado, que as partes utilizam para
chegar a um acordo mutuamente aceitável.”
92
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “Direito Fundamental à Justiça e Sistemas de Justiça”, 2005, p. 5 – “Meios Alternativos ou
Extrajudiciais porque são diferentes do Sistema Comum (e, mais concretamente, do Judicial) de Justiça.”
93
Cfr. GASPAR, António Henriques, “Tribunais Arbitrais e Tribunais Estaduais” in “VIII Congresso do Centro de Arbitragem
Comercial”, 2015, p. 119, referindo-se aos tribunais arbitrais – “As instituições judiciais do Estado esperam que a função da justiça
arbitral, que deve ser mais complementar do que substitutiva, permita revelar as vantagens da complementaridade, contribuindo, nessa
medida, com eficácia e a excelência da qualidade, para uma justiça melhor.”

19
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Na nossa opinião esta alternatividade não poderá nunca ser entendida apenas num sentido redutor,
devendo, isso sim, ser entendida nos mais diversos sentidos,94 pois os meios de RAL assumem-se como meios
integrados num sistema jurídico,95que se pretende uno e plural.96

94
Cfr. PEDROSO João, “Percurso(s) da(s) reforma(s) da administração da justiça – uma nova relação entre o judicial e o não judicial”,
p. 35 – “Neste sistema de resolução de litígios que os estados e as sociedades estão a construir reconfiguram-se as funções do Estado e
da sociedade civil, desenvolvem-se as parcerias entre o público, a comunidade e eventualmente o mercado e assume-se um novo modelo
de justiça, ou seja, um sistema integrado de resolução de litígios, em que a pluralidade dos ADR (RAL) tanto podem consistir
alternativas aos tribunais judiciais (resolvem litígios que os tribunais também derimem) ou antes um seu complemento (para os litígios
que nunca chegariam a tribunal) ou, ainda, um seu substituto (a transferência de competências de resolução de litígios dos tribunais para
estes meios).”
95
A forma como esta integração deverá ser conseguida será analisada mais à frente no capítulo VI.
96
Uno no sentido de unidade do sistema jurídico, e plural no sentido de criar diversas respostas às necessidades da sociedade.

20
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Os meios de RAL, como vimos, assumem-se como meios à disposição das partes em alternativa aos
tribunais.
Como veremos em seguida, apesar dos meios de RAL se apresentarem como alternativas aos tribunais,
ainda assim, estes assumem diversos papeis ao longo dos processos e procedimentos nos meios de RAL, para
melhor entender estes papeis que os tribunais assumem é necessário analisar os meios de RAL de diferentes
perspetivas, isto é, no que diz respeito à sua competência, à organização, às partes, ao processo, à decisão, ao
recurso e à execução.

1. DA COMPETÊNCIA

A determinação da competência é uma problemática que tem afetado os meios de RAL, na medida de
perceber se a escolha de um destes meios de RAL determina o afastamento da decisão da esfera jurídica dos
tribunais estaduais.

1.1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Como vimos anteriormente, a CRP, no seu artigo 20º consagra o princípio de acesso ao Direito e a
uma tutela jurisdicional efetiva, prevendo que a todos é assegurado o acesso ao Direito e aos tribunais para
defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos, convém, então, perceber de que forma os meios de RAL
se encaixam e dão cumprimento a este princípio fundamental.
Para garantir a efetividade dos meios de RAL, e para dar cumprimento ao princípio da legalidade, o
legislador deu a estes previsão legal ao mais alto nível, isto é, previsão constitucional, embora adotando dois
enquadramentos diferentes, um para os tribunais arbitrais e julgados de paz, e outro para a mediação.
Em relação aos tribunais arbitrais e aos julgados de paz, o legislador constitucional enquadra-os
enquanto uma categoria de tribunais,97 havendo mesmo quem considere estes órgãos de soberania do Estado.98
Este enquadramento é importante, na medida em que, tal como os tribunais estaduais, os tribunais
arbitrais e os julgados de paz assumem-se como verdadeiras jurisdições, sendo independentes 99 e gozando as
suas decisões de carácter vinculativo.

97
Nos termos do previsto no artigo 209º n.º 2 da CRP.
98
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “Economia e Justiça”, p. 12, referindo-se aos julgados de paz, aos quais podemos juntar os tribunais
arbitrais – “Os Julgados de Paz, são Tribunais “lato sensu” e, como tal, Órgãos de Soberania do Estado.”
99
Os tribunais arbitrais e os julgados de paz serão independentes em relação aos tribunais estaduais, na medida em que a “escolha” por
estes meios, afasta, até certo ponto, o recurso aos tribunais estaduais.

21
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Para além do que, a CRP prevê que serão tribunais comuns os tribunais judiciais, 100 podendo, assim,
classificar-se os tribunais arbitrais e os julgados de paz, como órgãos jurisdicionais, enquanto tribunais
incomuns.101
Daí levantar-se a questão se estamos perante alternativas aos tribunais comuns ou sim perante outras
jurisdições.
Estando em causa a definição de meios alternativos, como vimos, a alternatividade não pode ser
entendida apenas num único sentido, pelo que, enquanto meios jurisdicionais que são, os tribunais arbitrais e
os julgados de paz, não são formalmente, meios alternativos aos Tribunais. 102
Uma conclusão se pode retirar: enquanto tribunais que são e consequentemente vias jurisdicionais, a
escolha dos tribunais arbitrais e dos julgados de paz em detrimento dos tribunais judiciais, não põe em causa o
previsto no artigo 20º da CRP, isto é, o direito de acesso ao Direito e aos tribunais para defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.103
Já em relação à mediação, não tendo esta carácter jurisdicional, na medida em que a decisão do litígio
não é atribuída a um decisor, mantendo-se no poder das partes, o legislador constitucional apenas se refere a
esta, determinando que a lei pode institucionalizar instrumentos e formas de composição não jurisdicional de
conflitos.104
Com isto o legislador constitucional deu o mote para a criação destes meios, mas não podemos ver a
alternatividade destes meios não jurisdicionais apenas como uma alternativa à disposição das partes, mas sim
num sentido mais amplo enquanto complementos aos tribunais.
Quer se tratem de meios jurisdicionais105 ou extra-jurisdicionais,106 os meios de RAL têm bases
constitucionais e assumem-se como meios próprios e autónomos, até certo ponto, em relação aos tribunais
comuns,107 vocacionados para a resolução de litígios sem o rigor formal dos tribunais comuns. 108

100
Nos termos do previsto no artigo 211º n.º 1 da CRP.
101
Cfr. idem, “A importância dos meios extrajudiciais de resolução de conflitos no sistema jurídico português”, 2013, p. 229, referindo-
se aos tribunais arbitrais, aos quais podemos juntar os julgados de paz – “Não fazem parte dos Tribunais judiciais, que são comuns, mas
são Órgãos jurisdicionais enquanto Tribunais incomuns.”
102
Cfr. idem, “O Direito Fundamental à Justiça. Um Novo Paradigma de Justiça?”, 2009, p. 64 – “A expressão “meios alternativos”, tão
usada e abusada, tem de ser bem entendida quanto a Julgados de Paz e a Tribunais Arbitrais. Tribunais que são, uns e outros,
seguramente não são, formalmente, meios alternativos aos Tribunais. São, sim, instituições, constitucionalmente, jurisdicionais e, como
tal, a qualificação de alternativos deve ser entendida substancialmente quanto à origem, à jurisdicionalidade, à institucionalização e à
tramitação, ou seja, quanto às suas especificidades identificadoras.”
103
Cfr. idem, ibidem, p. 63 – “É certo que o art. 20 da C.R.P. implica que não seja impedida via jurisdicional perante um litígio jurídico.
Simplesmente, há que não esquecer o que é incontroverso: Julgados de Paz, como Tribunais Arbitrais, são constitucionalmente Tribunais
e, portanto, vias jurisdicionais.”
104
Nos termos do previsto no artigo 202º n.º 4 da CRP.
105
Os tribunais arbitrais e os julgados de paz.
106
A mediação.
107
Cfr. idem, “A importância dos meios extrajudiciais de resolução de conflitos no sistema jurídico português”, 2013, p. 235 – “Para
Portugal, quer os meios extrajudiciais, mas jurisdicionais de resolução de conflitos, como os Tribunais arbitrais, que são os Órgãos
próprios para o exercício da Arbitragem, quer os meios extrajurisdicionais, como a Mediação, têm bases constitucionais, constituem já
experiências úteis assinaláveis e, portanto, são mecanismos jurídicos naturalmente assumidos como meios próprios para solucionar ou
colaborar na solução de diferendos jurídicos.”
108
Cfr. idem, ibidem, p. 235 – “Trata-se de Caminhos da Justiça sem o rigor formal dos Tribunais comuns.”

22
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

1.2. ARBITRAGEM

A arbitragem sendo caracterizada como um meio de RAL de natureza privada, encontrando-se na


disponibilidade das partes o recurso a este meio, o mesmo, não significa que tenha menos valor que os tribunais
judiciais,109 pois como vimos os tribunais arbitrais devem ser qualificados como verdadeiros Tribunais, 110 no
entanto fora da esfera dos tribunais judiciais e sim enquanto tribunais incomuns. 111
Assim e no que diz respeito à determinação da competência do tribunal arbitral em detrimento do
tribunal estadual, importa salientar que será a convenção de arbitragem a determinar essa competência.
No entanto, e apesar de a competência ser determinada pela convenção de arbitragem, relativamente
a esta questão da determinação da competência, surgem duas problemáticas processuais que analisaremos em
seguida: a primeira diz respeito à determinação da competência dos tribunais arbitrais e a segunda à autonomia
da cláusula compromissória.
No que diz respeito à primeira, esta prende-se com compreender a quem compete determinar a
competência dos tribunais arbitrais, estando subjacente a esta questão um princípio determinante do sistema
jurídico, isto é, princípio da competência da competência, 112 que em matéria arbitral comporta dois efeitos: um
efeito positivo que habilita o tribunal arbitral a conhecer da sua própria competência; e um efeito negativo, que
se traduz na determinação de serem os tribunais arbitrais os primeiros a conhecer da sua própria competência. 113
A LAV prevê no seu artigo 18º n.º 1 que o tribunal arbitral pode decidir sobre a sua competência, 114
prevendo ainda o seu artigo 5º n.º 1 que o tribunal estadual no qual seja proposta ação relativa a uma questão
abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a requerimento do réu deduzido até ao momento em que
este apresentar o seu primeiro articulado sobre o fundo da causa, absolvê-lo da instância.115 Aqui a LAV prevê
o princípio da competência da competência nas suas duas dimensões como efeito positivo e negativo.

109
Cfr. GASPAR, António Henriques, “Tribunais Arbitrais e Tribunais Estaduais” in “VIII Congresso do Centro de Arbitragem
Comercial”, 2015, p. 115 – “No sistema jurídico nacional, a arbitragem constitui uma forma de justiça; a existência de tribunais arbitrais
está prevista na Constituição (artigo 209º n.º 2). Não constitui, por isso, «justiça privada», no sentido de «coisa de particulares», mas
forma de realização de justiça, no respeito pelo princípio da autonomia das partes.”
110
Cfr. CHUMBINHO, João, “A Constituição e a Independência dos Tribunais”, 2009, p. 99, defendendo a qualificação dos tribunais
arbitrais como tribunais – “(…) Parece-me o mais adequado, por dois argumentos. Em primeiro, é a própria CRP que qualifica os
tribunais arbitrais como tribunais e, por outro, as decisões dos juízes árbitros são proferidas no âmbito da função jurisdicional e dotadas
de autoridade, como qualquer outra decisão judicial.”
111
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “A Importância dos Meios Extrajudiciais de Resolução de Conflitos no Sistema Jurídico Português”,
2013, p. 229 – “A Arbitragem, em Portugal, é realizada em instituições qualificadas, constitucionalmente, como Tribunais. Não fazem
parte dos Tribunais judiciais, que são comuns, mas são Órgãos jurisdicionais enquanto Tribunais incomuns.”
112
Ou “kompetenz-kompetenz”, como originalmente referido na doutrina alemã; princípio este que consiste em ter competência para
determinar a competência do tribunal.
113
Cfr. CARAMELO, António Sampaio, “A Autonomia da Cláusula Arbitral”, 2008, p. 4 – “A doutrina costuma distinguir na análise
deste princípio um efeito positivo e um efeito negativo. O efeito positivo do princípio da competência da competência do tribunal
arbitral consiste em habilitar este a decidir sobre a sua própria competência; (…) O efeito negativo do sobredito princípio traduz-se em
permitir aos árbitros serem, não os únicos juízes (o que não é aceite em lado nenhum), mas os primeiros juízes da sua competência;”
114
(…) mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou a eficácia da convenção de arbitragem ou do
contrato em que ela se insira, ou a aplicabilidade da referida convenção.
115
(…) a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou inexequível.

23
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

A LAV também prevê no seu artigo 18º n.º 8 dois momentos para o tribunal arbitral se pronunciar
sobre a sua própria competência, podendo decidir sobre esta quer mediante uma decisão interlocutória quer na
sentença sobre o fundo da causa.
No entanto apesar de o tribunal arbitral ser o primeiro tribunal a verificar a sua própria competência,
a LAV salvaguarda em dois momentos o recurso aos tribunais estaduais para a verificação desta questão: o
primeiro será no prazo de 30 dias a contar da notificação às partes da decisão interlocutória em que o tribunal
arbitral se tenha considerado competente;116 o segundo será no prazo de 60 dias a contar da data em que a parte
que pretenda a anulação da sentença arbitral recebeu a notificação desta. 117
Como se pode constatar a LAV não afasta a possibilidade de recurso aos tribunais estaduais para
decisão sobre a competência dos tribunais arbitrais, apenas condicionando esta a dois momentos 118, por forma
a não ser posto em causa o poder jurisdicional do tribunal arbitral, nem a sua autonomia, mas também
garantindo o direito a um duplo grau de jurisdição.119
Já no que diz respeito à segunda problemática, isto é, a autonomia da cláusula compromissória, apesar
desta questão não dizer diretamente respeito à competência do tribunal arbitral ainda assim, esta questão afeta
esta competência.
A questão prende-se com perceber se a convenção de arbitragem estabelecida por cláusula
compromissória num contrato é independente desse contrato ou parte integrante do mesmo.
O princípio da autonomia da cláusula compromissória entende essa cláusula, como autónoma do
contrato em que se encontra inserida, pois, caso assim não o fosse, a possível invalidade, ineficácia ou
inexistência jurídica do contrato, determinaria a incompetência do tribunal arbitral para conhecer dessas
questões; ou seja, segundo este princípio, só considerando a cláusula compromissória como autónoma do
contrato é que se garante a competência do tribunal arbitral. 120

116
Nos termos do artigo 18º n.º 9 da LAV.
117
Nos termos do artigo 46º n.º 6, n.º 3 alínea a) subalíneas i) e iii), e do artigo 5º n.º 3 da LAV.
118
Sobre esta questão dos momentos em que as partes podem recorrer aos tribunais estaduais, levanta-se uma questão relevante, que é a
de perceber quando se preclude o direito de impugnar com esse fundamento, isto é, será que a parte que não tenha impugnado a decisão
interlocutória no prazo estipulado, quando esta tenha sido proferida, poderá depois invocar esse mesmo fundamento na impugnação da
sentença sobre o fundo da causa? A resposta no nosso entender será não, isto é, nessa situação o seu direito precludiu-se quando este não
fez uso do recurso à impugnação da decisão interlocutória no tempo devido. Esta opção parece-nos a mais razoável por forma a não se
pôr em causa o poder jurisdicional do tribunal arbitral, nem todo o processado que ocorreu no processo arbitral. Sobre este assunto vide
TORBAY, Augusto, “A Competência do Tribunal Arbitral – A evolução da consagração do princípio “competência-competência” à luz
das recentes reformas legislativas”, pp. 27 e 28.
119
Cfr. CARAMELO, António Sampaio, “A Autonomia da Cláusula Arbitral”, 2008, p. 6 – “Tais razões de carácter pragmático
radicam, em primeiro lugar, no propósito de impedir ou desencorajar actuações dilatórias das partes que tivessem interesse em suster o
desenrolar do processo arbitral, o que, sendo por demais evidente, dispensa mais explicações.
Em segundo lugar, o preceituar-se que o tribunal estadual só poderá verificar a competência do árbitro depois de este se ter
pronunciado sobre esta questão, tem por efeito que a intervenção do juiz estadual, chamado a controlar essa decisão do árbitro, possa
mesmo ser dispensada (se esta decisão, fundamentada de forma convincente, for acatada pelas partes, como acontece com grande
número de decisões arbitrais) e que, caso tal controlo venha a ter lugar, uma vez que é efectuado com referência a uma decisão
anteriormente tomada, o seu exercício seja mais simples e eficaz. O princípio do duplo grau de jurisdição assenta, aliás, nesta ideia.”
120
Importante referir em relação a esta questão que ainda que a autonomia da cláusula seja comummente aceite, a questão coloca-se
relativamente a este conceito de “autonomia”, pois ao considerarmos a cláusula como autónoma, o mesmo significa considerá-la como
independente do contrato, mas a verdade é que existe uma relação intrínseca entre eles, pois a cláusula compromissória por si só não
teria qualquer âmbito de aplicação, sendo o seu âmbito de aplicação instituído pelo contrato onde esta se insere. Nesse sentido segue

24
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Como se pode verificar a autonomia ou separabilidade da cláusula compromissória e a competência


da competência são duas problemáticas que se interligam, pois, ao determinar a sua própria competência, o
tribunal arbitral deverá atender apenas à cláusula compromissória e não às restantes cláusulas do contrato.
A determinação da competência dos tribunais arbitrais será assim um aspeto fundamental que estará
na génese de todo e qualquer processo arbitral.

1.3. JULGADOS DE PAZ

No que diz respeito à competência dos julgados de paz a LJP determina que esta é exclusiva a ações
declarativas, 121 cujo valor não exceda € 15.000. 122 Já em razão da matéria o artigo 9.º da LJP enuncia quais as
matérias da competência dos julgados de paz, sendo que, da análise deste artigo concluímos que estas matérias
coincidem com matérias que são também da competência dos tribunais judiciais.
Daí surgir a problemática relativa à competência dos julgados de paz, pois não existe nenhuma norma
que esclareça de forma inequívoca esta questão. Estamos assim perante uma situação de conflito jurisdicional,
não resolvido pelo legislador, deixando uma lacuna jurídica com necessidade de interpretação.
Levanta-se, assim, a questão de perceber se a competência dos julgados é alternativa ou exclusiva em
relação aos tribunais judiciais, isto é, a questão centra-se à volta das partes poderem optar ou não pelo recurso
aos julgados de paz ou se estão obrigadas a recorrer ao julgado de paz sob pena de incompetência do tribunal
judicial.
Relativamente a esta matéria surgem várias interpretações, existindo uma divisão na doutrina entre os
que defendem a competência alternativa dos julgados de paz e os que defendem a competência exclusiva dos
julgados de paz.
Entre os que defendem a tese da competência alternativa podem-se referir, entre outros, Filipe Lobo
d´ Ávila, Amadeu Morais e Salvador da Costa.123
A doutrina sustenta esta teoria em vários factos, entre eles:

• O facto de a LJP não esclarecer a questão da competência dos julgados de paz relativamente aos
outros tribunais, aliado ao facto de a criação dos julgados de paz não ter provocado alterações no

António Sampaio Caramelo, quando considera que o termo mais correto a aplicar será o de “separabilidade” da cláusula
compromissória, pois este não porá em causa a necessária interdependência existente entre a cláusula compromissória e o contrato. No
entanto e ainda que se considere a cláusula compromissória como autónoma ou separada do contrato, isso não significa que não possam
existir vícios comuns aos dois que importem a invalidade ou a ineficácia de ambos, como será o caso de algum vício da vontade, por
exemplo, como a coação física ou moral.
Relativamente a esta questão da autonomia da cláusula compromissória a LAV determina no seu artigo 18º n.º 2 e 3 que, uma
cláusula compromissória que faça parte de um contrato é considerada como um acordo independente das demais cláusulas do mesmo,
sendo que o tribunal arbitral que considere nulo o contrato não implica, só por si, a nulidade da cláusula compromissória, sobre este
assunto vide CARAMELO, António Sampaio, “A autonomia da cláusula arbitral”, 2008.
121
Nos termos do artigo 6º n.º 1 da LJP.
122
Nos termos do artigo 8º da LJP.
123
Nos termos do Acórdão Uniformizador de Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça de 24/05/2007, proferido no âmbito do
processo 07B881.

25
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

CPC e na LOFTJ,124 não existindo uma norma que atribua, inequivocamente, competência aos
julgados de paz.
• O facto de mesmo após as recentes alterações introduzidas na LJP, no CPC e na LOSJ, esta questão
não ter sido resolvida;
• O facto de o art.º 209º da CRP colocar os julgados de paz ao nível dos tribunais arbitrais, afastando-
os da categoria dos tribunais judiciais, colocando-os assim a um nível, forçosamente inferior;
• O facto de existir por parte dos julgados de paz alguma dependência em relação aos tribunais
judiciais, nomeadamente em matérias de incidentes processuais, que não possam ser decididos nos
julgados de paz, associado ao facto de em matéria de prova ser o processo remetido para os tribunais
judiciais; e
• O facto do número ainda escasso de julgados de paz a nível nacional (25), apesar de a LJP ter saído
em 2001.

Associada à tese da competência alternativa surge a tese da competência alternativa consensual


defendida por Miguel Teixeira de Sousa,125 que entende que os julgados de paz apenas terão competência para
a ação, se, autor e réu concordarem em atribuir jurisdição aos julgados de paz, isto é, se houver consenso entre
as partes.126 Nesta tese verifica-se uma aproximação à arbitragem, passando assim a atribuição da jurisdição a
estar dependente da vontade consensual das partes.
Em contraposição à tese da competência alternativa dos julgados de paz surge a tese da competência
exclusiva dos julgados de paz. Entre os que defendem esta tese podem-se referir, entre outros, Cardona Ferreira,
Joel Timóteo Ramos Pereira, Lúcia Dias Vargas, Mariana França Gouveia, 127 e ainda João Chumbinho.128
A doutrina sustenta esta teoria em vários factos, entre eles:

• O facto de a LJP incluir uma norma transitória (art.º 67º) a determinar que as ações pendentes à data
da criação e instalação dos julgados de paz prosseguissem os seus termos nos tribunais onde foram
propostas, dando a entender que após essa data deveriam ser propostas nos julgados de paz; 129
• O facto de o art.º 209º da CRP arredar os julgados de paz da categoria dos tribunais judiciais, dando
a entender que estes se tratam de uma outra ordem jurisdicional, aliado ao previsto no art.º 64º do

124
Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, em vigor à data da criação da LJP, entretanto revogada e substituída
pela LOSJ.
125
Nos termos do Acórdão Uniformizador de Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça de 24/05/2007, proferido no âmbito do
processo 07B881.
126
Cfr. SOUSA, Miguel Teixeira de, “A Competência dos Julgados de Paz – A Alternativa Consensual”, 2008, p. 58 – “Qualquer outra
solução – que implicaria necessariamente que o réu ficaria sujeito à propositura da acção num julgado de paz – seria contrária aos
princípios da igualdade no acesso à justiça (cfr. art. 13.º da CRP) e da igualdade das partes em processo (art. 3.º-A do CPC).”
127
Nos termos do Acórdão Uniformizador de Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça de 24/05/2007, proferido no âmbito do
processo 07B881.
128
Cfr. CHUMBINHO, João, “A Constituição e a Independência dos Tribunais”, 2009, pp. 97 e 98, e CHUMBINHO, João, “Julgados de
Paz na Prática Processual Civil”, 2007, p. 47.
129
Cfr. idem, “Julgados de Paz na Prática Processual Civil”, 2007, p. 47 – “A competência dos Julgados de Paz é exclusiva por duas
ordens de razões: em primeiro lugar, a Lei dos Julgados de Paz é uma Lei Especial e a Lei Especial prevalece sobre a Lei Geral. Além
disso por argumento “a contrario” do artigo 67.º da LJP, conclui-se que todos os processos posteriores à criação dos julgados de paz,
devem ser propostos naqueles tribunais.”

26
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

CPC e o art.º 40º n.º 1 da LOSJ que determinam que são da competência dos tribunais judiciais as
causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional;
• O facto de a competência ao ser alternativa apenas o ser para o autor/demandante, violando assim o
princípio da igualdade das partes; e
• O facto de das decisões dos julgados de paz poder caber recurso para os tribunais judiciais de 1ª
Instância.

Mariana França Gouveia vai mais longe ao considerar que apenas a competência exclusiva dos
julgados de paz garante a lógica do sistema judicial português. 130
Para melhor se entender as divergências de pontos de vista defendidas por ambas as teses, abaixo
apresenta-se uma tabela com os diversos pontos defendidos:

Tabela 2 - Competência Alternativa Vs. Competência Exclusiva131

Competência Alternativa Competência Exclusiva


A LJP inclui uma norma transitória a determinar
que as ações pendentes à data da criação e
A LJP não esclarece a questão da competência dos
instalação dos julgados de paz prosseguissem os
julgados de paz relativamente aos outros tribunais.
seus termos nos tribunais onde foram propostas.
(art.º 67º)
O art.º 209º da CRP coloca os julgados de paz ao Os julgados de paz têm previsão constitucional
nível dos tribunais arbitrais, afastando-os da (art.º 209º da CRP), arredada da categoria dos
categoria dos tribunais judiciais, colocando-os tribunais judiciais, dando a entender que estes se
assim a um nível, forçosamente inferior. tratam de uma outra ordem jurisdicional.
A questão de a criação dos julgados de paz não ter O art.º 64º do CPC e o art.º 40º n.º 1 da LOSJ
provocado alterações no CPC e na LOFTJ, não determinam que são da competência dos tribunais
existindo uma norma que atribua competência aos judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra
julgados de paz. ordem jurisdicional.
O facto de ao ser suscitado algum incidente
processual, o processo transitar para os tribunais
O facto de a competência ao ser alternativa apenas
judiciais, não fazendo sentido que os tribunais
o ser para o autor/demandante, violando assim o
judiciais, inicialmente incompetentes, adquiram
princípio da igualdade das partes.
competência apenas quando sejam suscitados
incidentes, ou requerida prova pericial.
A questão de das decisões dos julgados de paz
Apesar da LJP ter saído em 2001, estes ainda serem
poder caber recurso para os tribunais judiciais (1ª
escassos. (apenas 25)
Instancia).

Para além das divergências doutrinais surgiram também ao longo dos anos diversas divergências ao
nível jurisprudencial, havendo diversas sentenças dos tribunais em ambos os sentidos.

130
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, p. 321 – “Penso que do ponto de vista da
coerência do sistema, a solução mais adequada é a da exclusividade. Vejo com alguma dificuldade a criação de tribunais pelo Estado
numa lógica concorrencial. Por outro lado, porém, o argumento da violação do princípio da igualdade – ao obrigar-se o réu a sujeitar-se
à vontade do autor – não pode ser ignorado. Há aqui um desequilíbrio que não tem qualquer justificação. Este desequilíbrio não se
verifica em nenhum outro meio alternativo de resolução de litígios, pois em todos eles se exige a adesão das duas partes envolvidas.”
131
Tabela elaborada com base nos dados anteriormente referenciados, para sinteticamente apontar as diferenças entre os pontos de vista
de quem defende a competência alternativa e de quem defende a competência exclusiva dos julgados de paz.

27
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Para resolver esta questão o STJ proferiu o Acórdão Uniformizador de Jurisprudência de 24/05/2007,
proferido no âmbito do processo 07B881, considerando que a competência dos julgados de paz é alternativa
relativamente aos tribunais judiciais. 132
No entanto em 12/07/2007 o TRL proferiu um Acórdão, no âmbito do processo 6403/2007-6,
contrariando o Acórdão do STJ relançando assim a discussão em torno da competência dos julgados de paz.
Este Acórdão do TRL contraria o Acórdão do STJ, invocando para isso a violação do princípio da igualdade,
afirmando que a competência dos julgados de paz terá de ser exclusiva para que as partes estejam numa posição
de igualdade.133
Por todas estas divergências existentes, tanto a nível doutrinário como jurisprudencial, esta indefinição
legislativa quanto à questão da competência dos julgados de paz parece-nos, no mínimo, estranha, até pelas
recentes alterações ocorridas ao nível legislativo tanto na LJP, como no CPC.
Este lapso, por parte do legislador, não se compreende uma vez que diariamente surgem dúvidas
relativamente a esta questão. Tendo em conta que, em Portugal, a jurisprudência ainda não goza de força
vinculativa apenas servindo de indicação ao aplicador das normas na sua interpretação, a resolução desta
questão pelo legislador torna-se imprescindível.

1.4. MEDIAÇÃO

Já a mediação, por sua vez, relativamente à determinação da sua competência não suscita tantas
dúvidas, uma vez que, o recurso à mediação estará sempre dependente da vontade das partes, podendo qualquer
das partes abandonar o processo de mediação a todo o instante.
No entanto, e apesar não estarmos a falar de um órgão jurisdicional, as partes podem ainda assim,
numa primeira fase, afastar o recurso aos tribunais, ao celebrarem uma convenção de mediação.
O artigo 12º da LM determina que, no âmbito de um contrato, podem as partes prever que os litígios
eventuais emergentes dessa relação jurídica contratual sejam submetidos a mediação, assumindo esta a forma
de convenção de mediação,134 devendo adotar a forma escrita. 135

132
“Entre os julgados de paz e os tribunais da ordem judicial da primeira instância não há qualquer relação de limitação de competência,
porque o nexo é de paralelismo e de concorrência.
Os julgados de paz são órgãos jurisdicionais de resolução alternativa de litígios e, consequentemente, não sucederam na
competência dos tribunais da ordem judicial, nem são seus substitutos, integrando-se na categoria de tribunais de resolução de conflitos
de existência facultativa.”
133
“A interpretação que foi produzida no douto Acórdão uniformizador de jurisprudência, no sentido de que a competência dos julgados
de paz é meramente facultativa, viola o princípio da igualdade no acesso à justiça na medida em que coloca apenas nas mãos do autor a
opção pelo recurso ao tribunal ou ao julgado de paz, como lhe aprouver, ficando o réu, afinal sem alternativa nenhuma, mesmo quando
entenda, quando demandado, no julgado de paz, que o tribunal é que lhe oferecia as garantias de defesa de que carecia.”
“A interpretação feita no mesmo aresto viola o princípio, ou regra, do processo equitativo, que é assegurado, nomeadamente,
através da igualdade de armas.”
134
Esta possibilidade de celebração de uma convenção de mediação, assume semelhanças com o previsto no âmbito arbitral para a
convenção de arbitragem, sendo que também em relação a esta existe a obrigação de adoção da forma escrita.
135
Cfr. LOPES, Dulce, e PATRÃO, Afonso, “Lei da Mediação Comentada”, 2014, pp. 78 e 79 – “A nosso ver, porém, andou bem o
legislador português, determinando a nulidade da convenção de mediação que não seja reduzida a escrito (n.º 3 do art. 12º). A imposição
de forma ad substantiam prende-se com o propósito legislativo de que as partes reflitam na celebração do negócio. Ora, tendo em conta
que a convenção de mediação limita (protela) de alguma forma o direito de acesso aos tribunais, não parece despicienda a exigência que

28
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Com a celebração da convenção de mediação estão as partes, num primeiro momento, a afastar o
recurso aos tribunais judiciais,136 no entanto, este afastamento não cria uma obrigatoriedade de resolver o litígio
através da mediação, pois como vimos a mediação assenta principalmente no princípio da voluntariedade das
partes, isto implica, que as partes podem a qualquer momento desistir da mediação, e avançar para os tribunais
judiciais.137
É nesta voluntariedade das partes durante todo o processo de mediação que assenta a principal
diferença entre este meio de RAL em relação aos tribunais arbitrais e aos julgados de paz. Não estamos assim
perante uma jurisdição diferente pois não está afastado o acesso aos tribunais judiciais, apenas suspenso no
âmbito da convenção.

2. DA ORGANIZAÇÃO

2.1. ARBITRAGEM

No que diz respeito à sua organização, em primeiro lugar temos de fazer a distinção entre duas formas
de arbitragem: arbitragem institucionalizada ou arbitragem ad hoc.
A arbitragem institucionalizada será aquela que é realizada no âmbito de um centro de arbitragem
com carácter de permanência, para o qual as partes remetem a resolução do seu litígio, isto é, as partes apenas
determinam o recurso a esse centro, pré-existente, aceitando, com isso, seguir as suas regras e regulamentos
previamente estabelecidos. Nesse sentido, a Portaria 81/2001, de 8 de fevereiro, veio enumerar as entidades
autorizadas à prática da arbitragem com carácter institucionalizado.138

a própria validade material da convenção dependa da observância da solenidade. Só assim terá o legislador alguma certeza de que as
partes ponderaram e perceberam o compromisso a que se vincularam.”
136
Nos termos do previsto no artigo 12º n.º 4 da LM, o tribunal no qual seja proposta ação relativa a uma questão abrangida por uma
convenção de mediação deve, a requerimento do réu deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre o
fundo da causa, suspender a instância e remeter o processo para mediação.
137
Cfr. idem, ibidem, p. 74, nota 147 – “… pois são as partes que combinam a submissão do litígio a mediação e tal não obsta a que as
mesmas desistam a qualquer momento.”
138
A Associação Comercial de Lisboa - Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa; a Associação Comercial do Porto - Câmara de
Comércio e Indústria do Porto; a Universidade Católica Portuguesa; os Drs. Manuel Mendes Gonçalves, Artur Manuel Fernandes
Gonçalves e Carlos Maria Romba Teixeira Martins, advogados, com escritório em Loulé, sendo o primeiro o responsável pelo centro; a
Associação de Conciliação e Arbitragem; a Arbitral - Sociedade de Arbitragem; o ICA - Instituto de Conciliação e Arbitragem; o
Serviço Regional de Conciliação e Arbitragem do Trabalho; a Associação Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo da Cidade de
Lisboa; o Instituto Português da Qualidade, Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, Associação do Comércio Automóvel de
Portugal, Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel e Associação Nacional do Ramo Automóvel; o
Instituto da Autodisciplina da Publicidade; a Associação Centro de Informação de Consumo e Arbitragem do Porto; a Liga Portuguesa
de Futebol Profissional e Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol; a Associação Comercial de Braga - Comércio, Serviço e
Turismo; a Associação de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Distrito de Coimbra; a Associação dos Industriais da Construção
Civil e Obras Públicas – AICCOPN; a ADJUVA - Serviços Empresariais, Lda.; a Associação Centro de Arbitragem de Conflitos de
Consumo do Vale do Ave/Tribunal Arbitral; o Centro de Arbitragem da UAL; o Instituto dos Valores Mobiliários; a Região de Turismo
do Algarve; o Centro de Arbitragens Voluntárias do Conselho Nacional de Profissões Liberais; a Associação Empresarial de Portugal; a
Federação Portuguesa de Basquetebol, Liga dos Clubes de Basquetebol, Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol e
Associação de Jogadores de Basquetebol; a Associação Portuguesa de Direito Intelectual; e o Centro de Informação, Mediação e
Arbitragem de Seguros Automóveis (CIMASA).

29
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Já a arbitragem ad hoc será o inverso, isto é, as partes que se encontram em litígio estabelecem todos
os trâmites do processo arbitral, sendo o tribunal criado por determinação destas apenas para a resolução
daquele litígio e, quando o mesmo for resolvido o tribunal extingue-se.
Independentemente da forma que a arbitragem siga, no que diz respeito à sua organização, será a
função dos árbitros que terá um papel determinante no sucesso desta, pois será aos árbitros que caberá a decisão
do litígio.
Como vimos anteriormente, no âmbito da natureza da arbitragem esta tem numa primeira fase um
carácter voluntário que, também, na escolha dos árbitros terá um papel principal, determinando o artigo 10º n.º
1 da LAV que as partes podem, na convenção de arbitragem ou em escrito posterior por elas assinado, designar
o árbitro ou os árbitros que constituem o tribunal arbitral ou fixar o modo pelo qual estes são escolhidos.
De referir ainda que os árbitros deverão ser sempre em número impar.139 Sendo que no caso do tribunal
arbitral ser composto por três ou mais árbitros, cada parte deverá designar igual número de árbitros, que depois
conjuntamente deverão nomear outro árbitro, que atuará como árbitro presidente. 140
No entanto e caso as partes ou os árbitros designados por estas não cheguem a acordo na nomeação
do árbitro ou árbitros, a escolha será feita, a pedido de qualquer das partes, pelo tribunal estadual, 141 isto é, pelo
Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem. 142
Como vimos, a LAV prevê que cada parte pode designar o seu árbitro,143 designando-se este árbitro
de árbitro de parte. No entanto não poderemos ver este como um mandatário da parte, estando obrigado a agir
em cumprimento dos mesmos deveres dos árbitros não nomeados, pois após a sua nomeação o árbitro de parte
ganha autonomia em relação à parte que o nomeou. 144 Ainda assim, logicamente, este tendo sido nomeado pela
parte terá sempre maior recetividade à posição da parte que o nomeou. 145
No que diz respeito à jurisdição dos árbitros para decidir o litígio esta estará dependente da assinatura
de um contrato de arbitragem entre as partes e os árbitros, segundo o qual são impostos a estes direitos e
deveres. Será este contrato que assegurará aos árbitros a sua capacidade para a condução do processo arbitral
e consequente decisão sobre o mesmo.146

139
Nos termos do previsto no artigo 8º da LAV.
140
Nos termos do previsto no artigo 10º n.º 3 da LAV.
141
Nos termos do previsto no artigo 10º n.º 2, 4 e 5 da LAV.
142
Nos termos do previsto no artigo 59º n.º 1 a) da LAV
143
Aqui quando nos referimos ao árbitro, estaremos também a incluir uma pluralidade de árbitros.
144
Cfr. RAPOSO, Mário, “Os Árbitros”, 2012, p. 500, referindo-se ao árbitro de parte – “Enquanto nesta veste, os árbitros são
profissionais independentes – e estará mesmo aí o seu determinante (e condicionante) atributo deontológico e jurídico. É, pois, de
rejeitar qualquer enquadramento como mandato, mesmo sui generis, ou como figura próxima.”
145
Cfr. idem, “Imparcialidade dos Árbitros”, 2005, p. 4 – “Os árbitros indicados pelas partes não serão necessariamente árbitros
partidários, no sentido de deliberadamente “não-neutrais”. Mas a realidade é que, desde logo, terão a humana propensão para encarar
com maior receptividade a posição da parte que os indicou.”
146
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Processo Arbitral Correto ou Guerrilha Arbitral? O Mau Exemplo de Maus Profissionais”, 2012,
p. 1087 – “Cada árbitro e o conjunto das partes estão ligados entre si por um vínculo jurídico-contratual que lhes impõe certos deveres e
também lhes atribui certos direitos.
Este contrato (contrato de árbitro) tem uma natureza jurídica peculiar, porque vincula as partes e o(s) árbitro(s) quanto aos
direitos e deveres que lhes são próprios, mas, simultaneamente, só pode ser executado desde que esteja assegurada a plena
independência dos árbitros no âmbito da sua capacidade decisória do litígio e da condução do processo.”

30
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

A LAV prevê que quanto à responsabilidade dos árbitros, estes apenas serão responsáveis pelos danos
decorrentes das decisões por eles proferidas, sendo esta responsabilidade apenas perante as partes, 147 salvo nos
casos em que os magistrados judiciais o possam ser.148
No que diz respeito aos direitos e deveres dos árbitros estes podem provir de diferentes fontes: alguns
provêm diretamente da lei, outros podem provir do acordo celebrado, e ainda dos regulamentos a que poderá
estar sujeito o centro de arbitragem, no âmbito da arbitragem institucionalizada. 149
Relativamente aos deveres dos árbitros a LAV prevê que estes estão sujeitos ao dever de
independência e imparcialidade,150 para além do que, estão também sujeitos a um dever, que é também um
princípio fundamental do processo arbitral, que é o dever de confidencialidade ou sigilo. 151
Ainda referir em relação aos deveres dos árbitros, que a APA elaborou e aprovou um Código
Deontológico do Árbitro,152 encontrando-se previstos neste para além dos deveres de independência,
imparcialidade e confidencialidade,153 os deveres de revelação154 e a proibição de comunicação com as
partes155, e o dever de diligência. 156
Para além do Código Deontológico do Árbitro da APA, também os diversos Centros de Arbitragem
estabeleceram regras deontológicas próprias, que os árbitros dos respetivos centros deverão cumprir, quer em
códigos deontológicos bem como nos regulamentos dos mesmos. 157 Também no âmbito da arbitragem
administrativa e fiscal, o CAAD, elaborou o seu código deontológico, onde estabelece todos os preceitos que
deverá o árbitro seguir.158

147
Esta obrigação de indemnizar encontra-se consagrada no artigo 485º n.º 2 do CC.
148
Nos termos do previsto no artigo 9º n.º 4 e 5 da LAV.
149
Cfr. MIRANDA, Agostinho Pereira de, “O Estatuto Deontológico do Árbitro – Passado, Presente e Futuro”, 2010, p. 61 – “Como é
sabido, os direitos e obrigações do árbitro têm fontes muito diversas. Alguns provém directamente da lei; outros, daquilo que tiver sido
acordado entre as partes, particularmente em sede de convenção de arbitragem; e, por último, tratando-se de arbitragem
institucionalizada, do regulamento ou regulamentos da respectiva instituição.”
150
Nos termos do previsto no artigo 9º n.º 3 da LAV.
151
Nos termos do previsto no artigo 30º n.º 5 da LAV.
152
Aprovado em Assembleia Geral da APA em 12 de maio de 2010, e alterado em Assembleia Geral de 11 de abril de 2014.
153
Previstos nos artigos 3º e 8º do referido diploma.
154
Este dever de revelação do árbitro encontra-se previsto no artigo 13º n.º 1 da LAV determinando este que quem for convidado para
exercer as funções de árbitro deve revelar todas as circunstâncias que possam suscitar dúvidas sobre a sua imparcialidade e
independência. Este dever encontra-se diretamente ligado com a aceitação do encargo, previsto no artigo 12º da LAV, sendo que este
estatui que ninguém pode ser obrigado a atuar como árbitro, no entanto caso tenha aceite o encargo, só será admitida a escusa quando
fundada em causa superveniente que o impossibilite de exercer a função. Sobre esta matéria ainda referir que a incapacitação ou inação
de um árbitro pode dar origem a cessação das suas funções, nos termos do previsto no artigo 15º da LAV.
155
Antes de aceitar o encargo deverá revelar qualquer facto que suscite dúvidas quanto à sua independência e imparcialidade, não
devendo comunicar com as partes para além do estritamente necessário, nos termos do previsto nos artigos 4º e 5º do referido diploma.
156
Previsto no artigo 6º do referido diploma.
157
De entre outros referir o Código Deontológico do Árbitro elaborado pelo Centro de Arbitragem Comercial da Câmara do Comércio e
Indústria Portuguesa.
158
O artigo 1º do Código Deontológico do CAAD, determina que os árbitros devem julgar com estrita independência, imparcialidade,
isenção e objetividade, bem como respeitar, e fazer respeitar, o prestígio da arbitragem como meio justo e célere de resolução de litígios.

31
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Ainda de referir na doutrina uma referência feita por Juan Carlos Mendonza quanto aos
“Mandamentos do Árbitro”, referindo que o árbitro deve: ser honesto, ser justo, ser paciente, ser diligente, ser
imparcial, ser independente, ser respeitoso, ser discreto, e ser competente. 159
Em conclusão, e no que se refere à arbitragem, como refere Cardona Ferreira:

“De todo o modo e como em todas as instituições, a “chave” decisiva do mérito


são as pessoas que exercem a Arbitragem e o respeito que evidenciem, mormente, pela
ética e pela deontologia, e nenhuma razão há para presumir que tal não aconteça.” 160

2.2. JULGADOS DE PAZ

No âmbito dos julgados de paz, e em relação à sua organização esta é composta por secções dirigidas
por um juiz de paz, por um serviço de mediação e por um serviço de atendimento e administrativo. 161
Nos julgados de paz a questão relevante relativamente à sua organização, prende-se com o papel do
juiz de paz, que muito à semelhança de um juiz de direito, tem a função de administrar a justiça e a quem
compete dirimir o conflito.
O exercício de função de juiz de paz está, desta forma, sujeito ao mesmo regime de impedimentos e
suspeições que os juízes,162 e a determinados requisitos específicos, sendo um deles o possuir licenciatura em
Direito, estando, também, sujeitos a um processo de recrutamento, seleção, de provimento e nomeação
próprios.163 Para além do que a LJP determina a incompatibilidade do juiz de paz poder desempenhar qualquer
outra função pública ou privada de natureza profissional, com exceção das funções de docente ou de
investigação científica.164
Também à semelhança de um juiz de direito, o juiz de paz deverá proferir as decisões de acordo com
a lei ou a equidade, logo não está apenas sujeito a critérios de legalidade estrita, podendo decidir segundo juízos
de equidade quando o valor da ação não exceda metade do valor da alçada do julgado de paz, isto é, 7.500 €.165
Para além do que, o juiz de paz tem também o poder de conciliação das partes à semelhança do juiz de direito.
Como se pode depreender o juiz de paz tem um papel e função muito semelhante com a função dos
juízes judiciais, não se vendo, em sentido estrito, uma grande diferença entre os julgados de paz e os tribunais
judiciais. No entanto, a verdade é que, se analisarmos esta questão em sentido amplo, pelas características de
desjudicialização dos julgados de paz, em que se assumem princípios como simplicidade e informalidade, o
papel do juiz de paz é consideravelmente diferente, havendo uma maior proximidade com os cidadãos, com o
propósito de obtenção de uma paz justa, que leve a uma consequente pacificação social.

159
Cfr. MENDONZA, Juan Carlos, apud LEMES, Selma Maria Ferreira, “Árbitro. O Padrão de Conduta Ideal”, 1999, pp. 8 a 12.
160
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “A importância dos meios extrajudiciais de resolução de conflitos no sistema jurídico português”,
2013, p. 229.
161
Nos termos do previsto nos artigos 15º, 16º e 17º da LJP.
162
Nos termos do previsto no artigo 21º da LJP.
163
Nos termos do previsto nos artigos 23º, 24º e 25º da LJP.
164
Nos termos do previsto no artigo 27º da LJP.
165
Nos termos do previsto no artigo 26º da LJP.

32
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

2.3. MEDIAÇÃO

No que diz respeito à organização da mediação, a função do mediador assume um papel essencial para
o sucesso da mediação,166 sendo que este auxilia e assiste as partes na obtenção de um acordo, não tendo
qualquer poder para impor às partes a solução para o litígio. 167
Devido à importância do papel do mediador, a LM reservou um capítulo onde estabelece o estatuto
dos mediadores de conflitos, prevendo os seus direitos e deveres, impedimentos e escusas. 168
Algumas situações se colocam relativamente aos deveres do mediador, sendo que a LM prevê que
este deverá garantir o carácter confidencial das informações que vier a receber no decurso da mediação, 169
tratando-se a confidencialidade, como já vimos, de um princípio fundamental da mediação, não podendo o
mediador, ser testemunha, perito ou mandatário em qualquer causa relacionada, ainda que indiretamente, com
o objeto da mediação,170 com isto pretende-se salvaguardar este carácter confidencial da mediação, por forma
a incentivar as partes revelarem informações importantes no processo de obtenção do acordo, sem receio de
que isso possa ser usado para as prejudicar futuramente.
Outro dever importante do mediador é o dever de zelar pela qualidade dos serviços prestados e pelo
seu nível de formação e de qualificação,171 conjugado com dever de o mediador sugerir aos mediados a
intervenção de ou consulta de técnicos especializados, quando considere tal situação necessária ou útil para o
processo,172 estes dois deveres são importantes pois estamos perante um litígio, isto é, estão em causa duas
partes com direitos e interesses opostos e, não sendo obrigatório que a formação do mediador seja numa área
do direito, pode esta situação levantar alguns constrangimentos quanto à defesa dos direitos das partes.
O papel do mediador será, assim essencial para o sucesso da mediação, devendo este assumir uma
posição de assistência às partes, mas com a consciência da importância desse papel, por forma a não exceder
as suas funções e atribuições, mantendo uma ética profissional que se manifeste no tratamento das partes com
igualdade, imparcialidade e independência.
Ainda de referir que no que diz respeito à organização a LM prevê a existência de sistemas de
mediação públicos e de sistemas de mediação privados.
A grande diferença assenta em que os sistemas públicos são geridos por entidades públicas, enquanto
os sistemas privados encontram-se desvinculados de qualquer sistema.173

166
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “Regulamentar a Mediação: Um olhar sobre a nova Lei de Mediação em Portugal”, 2015, p. 62 – “O
mediador é o elemento fundamental de qualquer mediação. O carácter distintivo deste procedimento advém, entre outras
particularidades, do papel desempenhado pelo mediador no âmbito da tentativa de resolução do conflito através de acordo das partes.”
167
Cfr. CRUZ, Rossana Martingo, “Mediação Familiar: Limites Materiais dos Acordos e o seu Controlo Pelas Autoridades”, 2011, p. 33
– “O mediador não impõe uma solução, nem tão pouco a deve propor. Cabe-lhe acompanhar as partes, incrementar a comunicação entre
elas (ou resgatar quando esta seja inexistente), favorecer a troca de ideias e de pontos de vista até que as partes por si, encontrem a base
do consenso que levará a um acordo.”
168
Cfr. capítulo IV da LM, artigos 23º a 29º.
169
Nos termos do previsto no artigo 26º d) da LM.
170
Nos termos do previsto no artigo 28º da LM.
171
Nos termos do previsto no artigo 26º h) da LM.
172
Nos termos do previsto no artigo 26º e) da LM.
173
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “Regulamentar a Mediação: Um olhar sobre a nova Lei de Mediação em Portugal”, 2015, p. 57 –
“Efetivamente, no ordenamento jurídico português e de forma inovadora face ao panorama europeu, foram sendo criados serviços
públicos de mediação geridos por entidades públicas, responsáveis pela receção e tratamento dos pedidos de mediação no âmbito da

33
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Quanto ao sistema público de mediação podem-se referir: os serviços de mediação nos julgados de
paz, o sistema de mediação familiar, o sistema de mediação laboral e o sistema de mediação penal.

2.4. REMUNERAÇÕES E CUSTAS

Uma questão relevante no que diz respeito à organização dos meios de RAL prende-se com as
remunerações e custas pagas aos diversos agentes judiciais, no âmbito dos processos que corram termos nestes
meios.
Nos tribunais arbitrais, em matéria de remunerações e custas, determina o artigo 17º da LAV que os
honorários e despesas dos árbitros devem ser estabelecidos na convenção arbitral ou em acordo escrito
estabelecido entre as partes e os árbitros até à designação do último árbitro, pois, caso assim não o seja, os
árbitros podem defini-los, devendo para isso atender à complexidade das questões, ao valor da causa e ao tempo
despendido ou a despender com o processo arbitral, podendo estes na falta de pagamento suspender ou dar por
concluído o processo arbitral.
De referir que se as partes não concordarem com os honorários e despesas apresentados pelos árbitros
podem recorrer para o tribunal estadual para que este fixe os montantes que considere adequados.174
No entanto, a LAV apenas enuncia as regras de estabelecimento dos honorários e despesas do árbitro
de um modo geral e abstrato, pelo que a arbitragem, como meio de RAL de carácter privado que é, não goza
de uma determinação do montante de remunerações e custas pagas para todas as arbitragens realizadas em
Portugal. Sendo assim, esses valores serão determinados pelos diferentes institutos arbitrais, nos seus
regulamentos, estatutos ou acordos.
De referir que no âmbito da arbitragem em matéria administrativa, o regulamento do CAAD no seu
artigo 29º prevê quais as regras de pagamento dos encargos processuais, encontrando-se estes tabelados.
Também em matéria tributária, o artigo 12º do Regime Jurídico da Arbitragem em Matéria Tributária remete
para o CAAD a determinação da taxa de arbitragem, estando esta prevista no Regulamento de Custas nos
Processos de Arbitragem Tributária do CAAD, encontrando-se estes montantes tabelados.
Já no âmbito da arbitragem em matéria cível, realizada em centros de arbitragem institucionalizada, a
determinação dos montantes pagos pela arbitragem estará dependente do que for determinado nos respetivos
regulamentos dos centros.175
Ainda de referir que nos processos executivos, nos termos previsto no Decreto-Lei 103/91, de 8 de
março, o exequente está isento de preparos e custas na execução para obtenção do cumprimento das sentenças
condenatórias proferidas pelos tribunais arbitrais dos centros de arbitragem de conflitos de consumo.

competência material do sistema, bem como, pela elaboração de listas de mediadores habilitados a prestar serviços nos mesmos e
fiscalização da sua atividade. Estes sistemas contrapõem-se, assim, à designada mediação privada ou ad-hoc que consistirá na
contratação pelas partes de um mediador para a resolução do seu conflito concreto, que exerce a sua atividade profissional a título
individual desvinculado de qualquer sistema.”
174
Nos termos do previsto no artigo 17º n.º 3 e artigo 59º n.º 1 d) da LAV.
175
A titulo de exemplo refere-se: o CIAB, no artigo 16º do seu regulamento prevê que os procedimentos podem ser sujeitos ao
pagamento de taxas de valor reduzido; já o Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (Centro de Arbitragem
Comercial) estabelece no Capítulo VII (artigos 48º a 56º) do seu regulamento as regras referentes aos encargos da arbitragem, prevendo
ainda regras especificas para as arbitragens rápidas estabelecidas no Capítulo V (artigos 18º e 19º) do Regulamento de Arbitragem
Rápida.

34
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Já nos julgados de paz, em matéria de remunerações dos juízes de paz, determina o artigo 28º da LJP,
que a mesma é correspondente ao escalão mais elevado da categoria de assessor principal da carreira técnica
superior do regime geral da Administração Pública.
No que diz respeito às custas judiciais no âmbito dos julgados de paz estas encontram-se reguladas no
artigo 5º da LJP e pela Portaria das Custas Judiciais nos Julgados de Paz,176 determinando esta que a taxa é de
70€ (cabendo 35€ a cada parte), podendo ser reduzida para 50€ caso seja alcançado acordo através de mediação.
No que diz respeito à mediação, o artigo 29º da LM prevê a regra geral quanto à remuneração do
mediador de conflitos, sendo que a remuneração é acordada entre este e as partes, responsáveis pelo seu
pagamento, e fixada no protocolo de mediação celebrado no início de cada procedimento.
No entanto, no âmbito da mediação realizada nos sistemas públicos de mediação, determina o artigo
42º da LM que a remuneração é estabelecida nos termos previstos nos atos constitutivos ou regulatórios de
cada sistema.
No âmbito dos serviços de mediação nos julgados de paz prevê o artigo 36º da LJP 177 que a
remuneração do mediador é atribuída por cada processo de mediação, independentemente do número de
sessões realizadas, sendo o montante fixado pelo membro do Governo responsável pela área da Justiça.
No âmbito do sistema de mediação familiar prevê o artigo 10º do despacho que regula o SMF 178 que
pelo procedimento de mediação é devida a remuneração ao mediador de 120€ ou 100€, quer seja alcançado
acordo ou não, respetivamente, e de 25€ quando apesar das diligências comprovadamente efetuadas pelo
mediador familiar, não se obtenha consentimento, se verifique que não existem condições para a realização da
mediação familiar ou venha a verificar-se algum tipo de impedimento por parte do mediador familiar.
No âmbito do sistema de mediação laboral prevê o artigo 4º alínea l) do protocolo que institui o sistema
de mediação laboral179 que pelo procedimento de mediação é devida a remuneração ao mediador de 120€ ou
100€, quer seja alcançado acordo ou não, respetivamente.
Já no âmbito do sistema de mediação penal prevê o artigo 1º do Despacho n.º 2168-A/2008, de 22 de
janeiro, que pelo procedimento de mediação é devida a remuneração ao mediador de 125€ ou 100€, quer seja
alcançado acordo ou não, respetivamente, e de 25€ quando apesar das diligências comprovadamente efetuadas
pelo mediador de conflitos, não se obtenha consentimento, se verifique que o arguido ou o ofendido não reúnem
condições para a participação na mediação, ou caso se verifique algum tipo de impedimento por parte do
mediador de conflitos.
Referir ainda que, no âmbito dos sistemas públicos de mediação, no que diz respeito a custas, a
mediação não está sujeita às mesmas, mas sim ao pagamento de taxas. 180
Relativamente ao serviço de mediação realizado no âmbito dos julgados de paz, este está sujeito às
custas previstas para os processos nos julgados de paz.
No âmbito do sistema de mediação familiar determina o artigo 6º n.º 2 do despacho que regula o SMF
que pela utilização do sistema de mediação familiar é devida a taxa de 50€ por cada uma das partes.

176
Portaria n.º 1456/2001, de 28 de dezembro.
177
E o artigo 18º do Regulamento dos Serviços de Mediação nos Julgados de Paz
178
Despacho n.º 18778/2007, de 22 de agosto.
179
Protocolo de Acordo entre o Ministério da Justiça e os Parceiros Sociais que institui o sistema de mediação laboral, de 5 de maio de
2006.
180
Nos termos do previsto no artigo 33º da LM.

35
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

No âmbito do sistema de mediação laboral prevê o artigo 4º alínea c) do Protocolo que institui o
sistema de mediação laboral que pelo procedimento de mediação é devida a taxa de 100€ (50€ por cada uma
das partes).
Já no âmbito do sistema de mediação penal, e nos termos do previsto no artigo 9º do Regime de
Mediação Penal181 e do artigo 13º do Regulamento do Sistema de Mediação Penal, 182 o processo de mediação
não se encontra sujeito ao pagamento de custas.

3. DAS PARTES

As partes são um pressuposto essencial de qualquer litígio pois, são estas que estão na base do conflito,
quer seja do lado ativo183, quer seja do lado passivo.184
No que diz respeito aos meios de RAL, como vimos, o acordo das partes em submeter a resolução do
litígio a estes meios, e o consequente afastamento dos tribunais judiciais, é essencial. 185
Posto isto, é importante referir que no que diz respeito às partes a principal questão que se levanta
prende-se com a representação destas.
Sendo que, uma das vertentes principais do princípio de acesso ao Direito e a uma tutela jurisdicional
efetiva assenta no direito assegurado a todos ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado
perante qualquer autoridade.186
O patrocínio judiciário assenta o seu fundamento no mandato judicial que será o ato pelo qual se
atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e termos do processo judicial, podendo
ser este atribuído a advogado, advogado estagiário ou solicitador, conforme o caso. 187
Assim, e no que diz respeito aos tribunais judiciais, o patrocínio judiciário constitui um elemento
essencial na administração da justiça.188 Levantando-se a questão de perceber qual o seu papel nos meios de
RAL.

3.1. ARBITRAGEM

A autonomia da vontade das partes, como vimos, é um princípio fundamental que caracteriza a
arbitragem, estando na disponibilidade destas o acesso à arbitragem, bem como o poder de estabelecerem as
regras do processo arbitral.189
No que diz respeito ao patrocínio judiciário é curioso verificar que a LAV nada prevê relativamente a
esta matéria, ao contrário do previsto para o processo civil, em que, em determinados casos é mesmo obrigatória
a constituição de mandatário.

181
Lei n.º 21/2007, de 12 de junho.
182
Portaria n.º 68-C/2008, de 22 de janeiro.
183
Enquanto autor, demandante, exequente, etc.
184
Enquanto réu, demandado, executado, etc.
185
Salvo as situações referentes aos julgados de paz que vimos no capitulo IV, ponto 1.3, relativamente à competência destes.
186
Nos termos do previsto no artigo 20º n.º 2 da CRP.
187
Nos termos do previsto no artigo 1157º do CC e dos artigos 40º e 44º do CPC.
188
Nos termos do previsto no artigo 12º e 15º da LOSJ.
189
Como veremos mais à frente.

36
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Assim, e tendo em conta a falta de previsão da LAV em relação ao patrocínio judiciário, conjugado
com facto de caber às partes definir as regras do processo arbitral, para além do que é um principio fundamental
do processo arbitral que as partes devem ser tratadas com igualdade e deve ser-lhes dada a oportunidade
razoável de fazerem valer os seus direitos, 190 pode-se inferir que apesar de não haver uma imposição de
constituição de mandatário, esta decisão caberá às partes.191
Estando na disposição das partes a decisão sobre a constituição ou não de mandatário, será de bom
senso que quando se encontrem perante um litígio que envolva questões eminentemente jurídicas, deverem as
partes constituir mandatário para melhor defenderem os seus direitos, 192 podendo ainda em questões mais
técnicas optar por apenas se fazerem acompanhar por técnicos especializados dispensando a constituição de
mandatário.
No entanto esta falta de previsão explicita é difícil de perceber, pois sendo um pressuposto processual
geral essencial dos processos judiciais, também no âmbito da arbitragem deveria este encontrar-se
especificamente regulado.
Ainda assim, apesar da falta de previsão da LAV, podemos encontrar algumas referências ao
patrocínio judiciário em outras disposições arbitrais, nomeadamente nos regulamentos dos diversos centros de
arbitragem.
No Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa – Centro de Arbitragem
Comercial, por exemplo, o seu regulamento prevê no artigo 17º que as partes podem mandatar quem as
represente e podem nomear quem as assista.
Já o regulamento do CIAB – Tribunal Arbitral de Consumo, por sua vez, prevê no seu artigo 14º n.º
4 que as partes podem fazer-se representar ou ser assistidas por terceiros, nomeadamente por advogados,
associações de consumidores ou associações empresariais.
Também no âmbito do consumo a Lei n.º 114/2015, de 8 de setembro, que regula os mecanismos de
resolução extrajudicial de litígios de consumo, prevê no seu artigo 12º n.º 1 alínea b), como princípio a respeitar
nos procedimentos de RAL, que às partes deve ser assegurado o direito de se fazerem representar ou
acompanhar por advogado ou outro representante com poderes especiais, ou o direito de serem assistidas por
terceiros em qualquer fase do procedimento.

3.2. JULGADOS DE PAZ

Já nos julgados de paz, como vimos, um dos princípios estruturantes do seu processo é a participação
cívica dos interessados na administração da Justiça.
Esta participação cívica dos interessados torna-se visível na obrigação de as partes terem de
comparecer pessoalmente, podendo fazer-se acompanhar por advogado, advogado estagiário ou solicitador.193

190
Nos termos do previsto no artigo 30º n.º 1 alínea b) da LAV.
191
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Manual de Arbitragem”, 2013, p. 394 – “Assim, é livre, em Portugal, a constituição ou não de
advogado num processo arbitral, salvo convenção em contrário das partes.”
192
Cfr. idem, ibidem, p. 394 – “Por razões de bom senso e de utilidade prática é lógico que sempre que o litígio envolva questões
jurídicas ou a sua resolução tenha um determinado enquadramento jurídico é elementar a necessidade de constituição de advogado.”
193
Nos termos do previsto no artigo 38º n.º 1 da LJP.

37
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Esta obrigação de comparência pessoal das partes é também expressa na audiência de julgamento em
que estas são ouvidas.194
Assim, o patrocínio judiciário assume um carácter voluntário, adotando a forma de assistência aos
interessados, ao contrário do que sucede, por norma, no processo civil. Contudo, convém ressalvar que no
próprio processo civil nem sempre é obrigatório o patrocínio judiciário.
No entanto, esta não obrigatoriedade de patrocínio judiciário encerra um perigo ou dificuldade, que
será as situações em que uma das partes recorre ao patrocínio judiciário e a outra não, podendo originar um
desequilíbrio quanto à defesa dos interesses das partes, nomeadamente na elaboração dos articulados e mesmo
na audiência de julgamento. A capacidade de alegação que um advogado ou solicitador poderá trazer à parte
que representa, poderá deixar a outra parte numa situação de inferioridade, devendo nestas situações o juiz
apreciar a necessidade de patrocínio judiciário pela parte que dele prescindiu.
Ainda de referir que, caso o processo seja objeto de recurso já será obrigatória a constituição de
advogado.195

3.3. MEDIAÇÃO

No que diz respeito à mediação, a LM salvaguarda no seu artigo 18º, que as partes podem comparecer
pessoalmente ou fazer-se representar nas sessões de mediação, podendo ser acompanhadas por advogado,
advogado estagiário ou solicitador.
A assistência por advogado196 poderá ser a única forma de serem garantidos os direitos das partes, ao
mesmo tempo que, poderá ser uma forma de controlo do papel do mediador, pois, como vimos, não é
obrigatório o mediador ter formação numa área do Direito.
Apesar de sermos da opinião que só com o patrocínio judicial poderá ser garantido às partes a defesa
dos seus direitos legalmente estabelecidos,197 causa alguma admiração que o mesmo artigo 18º da LM preveja
que as partes podem fazer-se representar, não sendo obrigatória a sua comparência pessoal nas sessões de
mediação, ao contrário do previsto nos julgados de paz, pois se para as pessoas coletivas fará sentido, para as
pessoas singulares já não,198 uma vez que, sendo a mediação um meio de resolução de litígios caracterizado
pela proximidade, até que ponto a representação poderá garantir essa proximidade entre as partes.
No entanto, quer seja no âmbito da assistência ou da representação, fundamental será o papel que o
advogado deverá assumir na mediação, pois terá de ser obrigatoriamente diferente do papel deste em tribunal,
pois na mediação o papel principal deverá caber às partes e não ao advogado.199

194
Nos termos do previsto no artigo 57º n.º 1 da LJP.
195
Nos termos do previsto no artigo 38º n.º 3 da LJP e do artigo 40º n.º 1 c) do CPC.
196
Apesar de se referir o advogado, o que se referirá relativamente a este também se aplicará ao advogado estagiário e ao solicitador.
197
Cfr. SIMAC, Srdan, “Attorneys and Mediation”, 2009, p. 10 – “It is particularly advisable for a party to be represented by an attorney
in mediation wich involves complex legal issues and requires expert legal knowledge;”
198
A não ser, claro está, em situação de impossibilidade manifesta da parte de comparecer pessoalmente.
199
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Mediação e Processo Civil”, p. 7 – “O papel do advogado numa sessão de mediação é muito
diferente daquele que desempenha em tribunal judicial ou arbitral. Desde logo, na mediação não é necessário convencer ninguém quanto
aos factos ou ao direito, em mediação são as partes que têm o papel principal, não o advogado.”

38
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Assim, no âmbito da mediação o papel do advogado deverá ser o de auxiliar a parte na procura da
melhor solução para o litígio, tendo uma intervenção secundária no processo de mediação. Nesta perspetiva, o
advogado assumirá um papel de consulta e auxilio da parte, 200 servindo mais como um garante dos direitos
desta, para além do que, funcionará como meio de controlo da atividade do mediador, quer do ponto de vista
deontológico, quer da sua competência.

3.4. APOIO JUDICIÁRIO

Outro aspeto que nos parece importante abordar, no que diz respeito às partes, prende-se com o apoio
judiciário, pois, como vimos, o princípio de acesso ao Direito e a uma tutela jurisdicional efetiva assegura o
direito ao patrocínio judiciário, prevendo também que a justiça não pode ser denegada por insuficiência de
meios económicos,201 Nesse sentido foi criado o regime do apoio judiciário para garantir a todos a defesa dos
seus direitos.
O regime do apoio judiciário encontra-se previsto na Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais,
prevendo esta no seu artigo 1º n.º 1, que o sistema de acesso ao direito e aos tribunais destina-se a assegurar
que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou por insuficiência
de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos seus direitos. Ao garantir o direito de acesso
ao Direito e aos Tribunais, este regime garante também um dos princípios estruturantes do nosso sistema,
plasmado na CRP, isto é, o principio da igualdade.202
Em relação aos meios de RAL, a Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais determina, no seu artigo
17º n.º 1, que o regime de apoio judiciário aplica-se em todos os tribunais, qualquer que seja a forma do
processo, nos julgados de paz e noutras estruturas de resolução alternativa de litígios; enunciando, para esse
efeito, o anexo referido no artigo 9º da Portaria n.º 10/2008 de 3 de janeiro, quais os meios de resolução de
litígios em que é admitido o recurso ao apoio judiciário.203
Quanto aos julgados de paz para além do artigo 17º n.º 1 da Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais,
o artigo 40º da LJP determina que o regime jurídico do apoio judiciário é aplicável aos processos que corram
os seus termos nos julgados de paz e ao pagamento da retribuição do mediador.204

200
Cfr. SIMAC, Srdan, “Attorneys and Mediation”, 2009, p. 10 – “The most important function of attorneys in mediation proceedings is
their consultative role, regardless of whether such consultation takes place before, during or after mediation.”
201
Nos termos do artigo 20º n.º 1 da CRP.
202
Nos termos do previsto no artigo 13º da CRP, isto é, ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer
direito ou isento de qualquer dever em razão da sua situação económica.
203
Onde se incluem: os Julgados de Paz, o Sistema de Mediação Laboral, o Sistema de Mediação Familiar, o Sistema de Mediação
Penal, o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo de Lisboa, o Centro de Arbitragem do Sector Automóvel, o Centro de
Informação de Consumo e Arbitragem do Porto, o Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de Consumo do Vale do Cávado, o
Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Distrito de Coimbra, o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo do Vale do
Ave / Tribunal Arbitral, o Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de Conflitos de Consumo do Algarve, o Centro de Informação,
Mediação e Arbitragem de Seguros Automóveis, o Centro Nacional de Informação e Arbitragem de Conflitos de Consumo, o Centro de
Arbitragem para a Propriedade Industrial, Nomes de Domínio, Firmas e Denominações, e o Centro de Arbitragem Administrativa.
204
Cfr. COSTA, Ana Soares da, e LIMA, Marta Samúdio, “Os Julgados de Paz – Análise do Regime Jurídico”, 2002, p. 216 – “Assim,
em relação a um processo que seja da competência do Julgado de Paz, não haverá qualquer obstáculo a que seja requerido apoio
judiciário em qualquer das modalidades previstas na referida lei.”

39
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Já relativamente à mediação é curiosa a referência feita, no anexo referido no artigo 9º da Portaria n.º
10/2008 de 3 de janeiro, apenas aos Sistemas de Mediação Laboral, Familiar e Penal, sendo que o legislador
nada refere relativamente à matéria civil, pelo que, esta caberá apenas no âmbito do processo nos julgados de
paz.

4. DO PROCESSO

4.1. ARBITRAGEM

No que diz respeito à arbitragem, esta, sendo um meio de RAL de natureza privada, apresenta
características próprias no que diz respeito ao seu processo.
Como vimos, a principal característica do processo arbitral, e que está na sua génese, é a convenção
de arbitragem, devendo esta adotar a forma escrita, 205 podendo esta revestir duas formas: compromisso arbitral
ou cláusula compromissória.206 O compromisso arbitral tem por base um litígio atual, isto é, as partes perante
um conflito, decidem atribuir a um tribunal arbitral a resolução do mesmo, e com isso extinguir a instância em
processo civil.207 Já na cláusula compromissória estamos perante um litígio eventual, isto é, as partes no âmbito
de uma relação jurídica (contratual ou extracontratual) determinam que se surgir um litígio, esse será decidido
com recurso à arbitragem.
É através da convenção de arbitragem que as partes dão expressão à autonomia da sua vontade, ou
seja, é através da convenção arbitral que as partes determinam o recurso à arbitragem para resolução do seu
litígio, afastando-se assim da tutela dos tribunais judiciais, sendo este um pressuposto essencial do processo
arbitral.
O processo arbitral inicia-se na data em que o pedido de submissão do litigio à arbitragem é recebido
pelo demandado,208 determinando com isso a interrupção da prescrição. 209
No que diz respeito às regras do processo arbitral não se deverá esperar o mesmo formalismo do
processo civil, pois um dos objetivos da arbitragem é a celeridade processual, o que não se coaduna com
formalismos, mas sim com desburocratização de procedimentos. 210
É importante referir que, a arbitragem, como meio privado que é, está na disposição das partes, sendo
que, no que diz respeito às regras de processo, estas poderão ser convencionadas por acordo das partes e dos

205
Nos termos do previsto no artigo 2º da LAV.
206
Nos termos do previsto no artigo 1º n.º 3 da LAV.
207
Nos termos do previsto no artigo 277º alínea b) do CPC.
208
Nos termos do previsto no artigo 33º n.º 1 da LAV.
209
Nos termos do previsto no artigo 324º do CC; referir ainda que a interrupção durará até ao transito em julgado da decisão, ou até
quando se verificar a desistência, absolvição da instância ou a sua deserção, nos termos do previsto no artigo 327º do CC.
210
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Manual de Arbitragem”, 2013, pp. 384 e 385 – “O processo arbitral não deve adotar o
formalismo próprio do processo civil. Deve mesmo afastar-se dele tanto quanto possível. Na verdade, o método e as características da
intervenção do árbitro no litígio são diferentes das do processo judicial. O processo arbitral visa resolver o litígio no mais curto tempo
possível. (…) Na verdade, uma das características essenciais da arbitragem consiste na simplificação de processos em vista de uma
maior celeridade e da obtenção de uma correta resolução do litígio. A introdução no processo arbitral de normas legais do processo civil
contraria esta intenção.”

40
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

árbitros, aplicando-se as regras previstas na LAV apenas de forma supletiva, isto é, salvo convenção das partes
em contrário.
No entanto, e apesar da definição das regras de processo estar na disposição das partes, ainda assim,
a LAV prevê no seu artigo 30º n.º 1 princípios fundamentais que o processo arbitral deverá respeitar, 211 tendo
o árbitro a faculdade de fixar outras regras que as partes não tenham regulado, mas que sejam necessárias para
dar seguimento ao processo; aplicando-se também as regras previstas na LAV apenas de forma supletiva, isto
é, salvo convenção das partes em contrário.
A LAV prevê relativamente ao processo arbitral, que os articulados são a petição inicial apresentada
pelo demandante e a contestação apresentada pelo demandado212. Já no que diz respeito às audiências e à
produção de prova, estas serão determinadas pelo tribunal arbitral, podendo este também determinar a
intervenção de terceiros no processo,213 e mesmo nomear um perito.214 O tribunal arbitral tem também o poder
de decretar providências cautelares e ordens preliminares. 215
Referir também que, estando na disponibilidade das partes a definição das regras do processo, ainda
assim, estas regras serão distintas quer estejamos perante a arbitragem ad hoc ou a arbitragem
institucionalizada, pois, no que diz respeito à arbitragem institucionalizada, como vimos, esta tem lugar em
instituições previamente constituídas, em que as regras de processo se encontram previamente estabelecidas,
para além do que as partes ao determinarem o recurso a estes meios estão também a aceitar essas regras de
processo; já no que diz respeito à arbitragem ad hoc as partes podem determinar por si todas as regras de
processo aplicáveis, desde que não contrárias à lei.
Como vimos, o processo arbitral não deverá seguir estritamente as regras do processo civil, sob pena
de se perder o objetivo de celeridade e desformalização inerente ao processo arbitral, mas isto não significa
que não exista uma interdependência entre os tribunais arbitrais e os tribunais estaduais. 216
No que diz respeito à intervenção dos tribunais estaduais no processo arbitral, a verdade é que a
arbitragem necessita dos tribunais estaduais, verificando-se esta ao longo de todo o processo arbitral, prevendo
a LAV que os tribunais estaduais só podem intervir nos casos em que esta prevê. 217
Em primeiro lugar, como vimos, o tribunal estadual no qual seja proposta ação relativa a uma questão
abrangida por uma convenção de arbitragem só pode intervir na determinação da competência do tribunal
arbitral, quando se verifique que a convenção de arbitragem, é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível, 218
sendo esta intervenção feita pré processo arbitral.

211
O artigo 30º n.º 1 da LAV refere como princípios fundamentais a obrigatoriedade de citação do demandado, o princípio da igualdade
e o princípio do contraditório.
212
Nos termos do previsto no artigo 33º da LAV.
213
Nos termos do previsto no artigo 36º da LAV.
214
Nos termos do previsto no artigo 37º da LAV.
215
Nos termos do previsto nos artigos 20º a 29º da LAV.
216
Cfr. GASPAR, António Henrique, “Tribunais Arbitrais e Tribunais Estaduais” in “VIII Congresso do Centro de Arbitragem
Comercial”, 2015, p.117 – “A autonomia da justiça estadual e da jurisdição arbitral não afecta a interdependência material da função
jurisdicional que exercem.”
217
Nos termos do previsto no artigo 19º da LAV.
218
Nos termos do previsto no artigo 5º n.º 1 da LAV.

41
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Ainda no que diz respeito à competência do tribunal arbitral, como vimos, esta cabe em regra, ao
tribunal arbitral que pode decidir sobre esta quer mediante uma decisão interlocutória quer na sentença sobre
o fundo da causa, podendo no entanto, qualquer parte impugnar esta perante o tribunal estadual. 219
Também na escolha dos árbitros pode o tribunal estadual ser chamado a designar o árbitro ou árbitros
quando as partes não estejam de acordo quanto à escolha deste ou destes, 220 podendo ser ainda chamado para
saber da recusa ou destituição dos árbitros, e mesmo dos honorários e despesas apresentados por estes. 221
No que diz respeito a procedimentos cautelares e ordens preliminares, o tribunal arbitral tem
competência para os decretar, podendo, no entanto, ser necessária a intervenção do tribunal estadual para a
execução coerciva destas,222 isto é, quando alguma parte se recuse a cumprir com uma providência cautelar ou
ordem preliminar decretada pelo tribunal arbitral, pode a outra parte requerer ao tribunal estadual a sua
execução coerciva para fazer impor a decisão proferida pelo tribunal arbitral. 223
Quanto à produção de prova, pode ser solicitada a intervenção do tribunal estadual quando a prova a
produzir dependa da vontade de uma das partes ou de terceiros e estes se recusem a colaborar, sendo, neste
caso, a prova produzida perante o tribunal estadual e os resultados enviados para o tribunal arbitral,224 uma vez
que, os tribunais arbitrais carecem de força coerciva.225
Como veremos mais à frente o tribunal estadual também poderá ser chamado para a impugnação,
recurso e execução da decisão arbitral,
Importante ainda referir que no que diz respeito ao tribunal estadual competente, será necessário
determinar qual o tribunal estadual concretamente competente. Determina para isso, o artigo 59º n.º 1 da LAV
quais as questões em que será competente o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem;
prevendo ainda o n.º 4 do mesmo artigo que nas questões não abrangidas pelo Tribunal da Relação, será
competente o tribunal judicial de 1ª instância.

219
Nos termos do previsto no artigo 18º n.º 8 e 9 e artigo 46º da LAV.
220
Nos termos do previsto no artigo 10º n.º 4, 5, 6 e 7 da LAV.
221
No que diz respeito à recusa esta encontra-se prevista no artigo 14º da LAV, enquanto que a destituição encontra-se prevista no artigo
15º da LAV, já a matéria dos honorários e despesas dos árbitros encontra-se prevista no artigo 17º da LAV.
222
Cfr. GERALDES, António Santos Abrantes, “Assistência e Cooperação dos Tribunais Judiciais aos Tribunais Arbitrais” in “VIII
Congresso do Centro de Arbitragem Comercial”, 2015, p. 55 – “Assim, a necessidade de intervenção do tribunal judicial em situações de
não acatamento espontâneo da medida cautelar por falta de poder de coerção determina que o interessado deva avaliar antecipadamente a
utilidade ou a conveniência do recurso imediato a esse tribunal.”
223
Nos termos do previsto no artigo 27º da LAV; podendo o tribunal estadual recusar com fundamento no previsto no artigo 28º da
LAV.
224
Nos termos do previsto no artigo 38º da LAV.
225
Cfr. idem, ibidem, p. 44 – “… a necessidade ou a conveniência da solicitação aos tribunais estaduais da sua colaboração encontra
justificação no facto de o tribunal arbitral carecer de instrumentos de coerção quer das partes, quer de terceiros.”

42
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

De forma esquemática apresenta-se a tabela seguinte que ilustra quais os tribunais concretamente
competentes para intervir no processo arbitral:

Tabela 3 - Competência dos tribunais estaduais: 226

Tribunal Competência Determinação Legal (LAV)

Nomeação do árbitro
Artigos 10º n.º e 59º n.º 1 alínea a), e n.º 3.
(Presidente do Tribunal da Relação)

Recusa do árbitro Artigo 59º n.º 1 alínea b)

Destituição do árbitro Artigos 15º e 59º n.º 1 alínea c)

Redução das despesas e honorários


Artigo 59º n.º 1 alínea d)
apresentados pelo árbitro
Tribunal
da Recurso da decisão interlocutória sobre
Artigos 18º n.º 9 e 59º n.º 1 alínea f)
Relação a competência do tribunal arbitral

Recurso da sentença arbitral Artigos 39º n.º 4 e 59º n.º 1 alínea e)

Ação de impugnação da sentença


Artigos 46º e 59º n.º 1 alínea g)
arbitral

Reconhecimento de sentença arbitral


proferida em arbitragem localizada no Artigos 55º e 59º n.º 1 alínea h)
estrangeiro

Determinação da competência do
Artigo 5º n.º 1
tribunal arbitral, pré processo arbitral

Decretamento de providências
Artigo 29º
cautelares

Execução coerciva e apreciação da


Artigos 27º e 28º
Tribunal recusa de providências cautelares
de 1ª
Instância Obtenção de provas Artigo 38º

Liquidação de sentença arbitral genérica Artigo 47º n.º 2

Execução de sentença arbitral Artigos 47º e 59º n.º 9

Apreciação de oposição à execução de


Artigo 48º
sentença arbitral

226
Tabela elaborada com base na LAV e em dados recolhidos em GERALDES, António Santos Abrantes, “Assistência e Cooperação
dos Tribunais Judiciais aos Tribunais Arbitrais” in “VIII Congresso do Centro de Arbitragem Comercial”, 2015, pp. 60 e 61.

43
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

4.2. JULGADOS DE PAZ

Já no que diz respeito ao processo nos julgados de paz, este tem características marcadamente de
desjudicialização e desburocratização processual.
Começando pelos articulados, estes nos julgados de paz são o requerimento pelo demandante, 227 a
contestação pelo demandado,228 e ainda quando esta seja admitida a resposta à reconvenção, 229 podendo estes
ser apresentados tanto verbalmente230 como por escrito. Esta é uma característica que os diferencia dos tribunais
judiciais onde o processo escrito e formal impera. 231
Referir ainda que a apresentação do requerimento pelo autor determina a interrupção dos prazos
prescrição.232
Quanto aos procedimentos de citação e notificação nos julgados de paz, estes são também
caraterizados por esta desburocratização processual, podendo mesmo a notificação ser realizada por telefone.
233

Em matéria de procedimentos cautelares e de incidentes processuais, a recente alteração à LJP 234 veio
aumentar a competência e autonomia dos julgados de paz, reduzindo significativamente a dependência destes
relativamente aos tribunais judiciais; prevendo agora a LJP que são apreciados e decididos pelo juiz de paz os
incidentes processuais suscitados pelas partes,235 para além de prever que sempre que alguém mostre fundado
receio de que outrem cause lesão grave ou dificilmente reparável ao seu direito, pode requerer junto do julgado
de paz competente a providência conservatória e antecipatória concretamente adequada a assegurar a
efetividade do direito ameaçado.236
Outra característica essencial do processo nos julgados de paz é a inclusão de meios de RAL não
adjudicatórios, como é o caso da mediação 237 e da conciliação,238 sendo o processo nos julgados de paz
marcadamente caracterizado por esta procura de resolução do litígio através de acordo das partes, antes de se
atribuir o poder de decisão ao juiz de paz.

227
Nos termos do previsto no artigo 43º da LJP.
228
Nos termos do previsto no artigo 47º da LJP.
229
Nos termos do previsto no artigo 48º da LJP.
230
Situação em que o funcionário deve reduzir a escrito, nos termos do previsto nos artigos 43º n.º 3 e 47º n.º 1 da LJP.
231
Nos termos do previsto nos artigos 552º e 572º do CPC.
232
Nos termos do previsto no artigo 43º n.º 8 da LJP e artigo 323º n.º 1 do CC.
233
O artigo 46º da LJP reduz as formas de citação, não sendo admitida a citação edital, quanto à forma das notificações esta também é
mais simplificada em comparação com as notificações efetuadas no âmbito dos processos nos tribunais judiciais.
234
Com a aprovação da Lei n.º 54/2013, de 31 de julho, que procedeu à primeira alteração à Lei n.º 78/2001, de 13 de julho.
235
Nos termos do previsto no artigo 41º da LJP.
236
Nos termos do previsto no artigo 41º-A da LJP.
237
Nos julgados de paz existe um serviço de mediação que está disponível às partes, visando estimular com isso a resolução de litígios
por acordo das partes, nos termos do artigo 16º da LJP.
238
Tal como no processo nos tribunais judiciais, nos julgados de paz, o juiz de paz antes de dar início à audiência de julgamento tentará
conciliar as partes, tentando com isso que as partes cheguem a um acordo amigável para a resolução do seu conflito, nos termos do
previsto no artigo 26º n.º 1 parte final da LJP.

44
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

No entanto, não sendo possível às partes encontrar uma solução para o litígio através de acordo, o
processo seguirá para a audiência de julgamento, sendo nesta ouvidas as partes, produzida a prova239 e proferida
a sentença,240 à semelhança do que se verifica nos tribunais judiciais.

4.3. MEDIAÇÃO

Quanto ao processo de mediação é importante em primeiro lugar referir que a mediação estará sempre
dependente da vontade de ambas as partes.
Esta característica de voluntariedade das partes é essencial no processo de mediação, podendo mesmo
estas subscrever , como vimos anteriormente, 241 uma convenção de mediação, que muito à semelhança da
cláusula compromissória arbitral, traduz-se numa cláusula de um contrato em que as partes determinam em
que em caso de litígio eventual deverão recorrer à mediação para resolver esse litígio. 242 Determinando, assim,
com isso a obrigação de, em primeira instância, recorrerem à mediação, isto é, caso seja proposta uma ação
num tribunal243 relativa a uma questão que se encontre abrangida por uma convenção de mediação deverá o
tribunal, a requerimento do réu, suspender a instância e remeter as partes para a mediação. 244
No entanto esta prévia vinculação à mediação levanta algumas dúvidas, pois caso as partes assinem
uma convenção de mediação, sendo a mediação voluntária em todas as suas fases, até que ponto ficam estas
obrigadas a encontrar uma solução para o litígio através da mediação. Poderá a convenção de mediação servir
apenas como meio dilatório, pois se uma das partes interpõe uma ação num tribunal manifesta a sua falta de
vontade de recorrer à mediação, pelo que a obrigação de recorrer à mediação, não significa a obrigação de
encontrar a solução para o litígio através desta.
Outra questão relevante prende-se com a mediação pré-judicial, que implica que uma vez que as partes
acordem ir para a mediação suspender-se-ão os prazos de prescrição e caducidade, retomando-se
eventualmente caso a mediação termine sem acordo das partes.245
Também no âmbito de um processo judicial pode ser remetido o processo para mediação,
suspendendo-se a instância, podendo tanto o juiz, quando entender conveniente, como as próprias partes por
acordo suspender a instância e remeter o processo para mediação. No entanto, caso não seja obtido acordo no
âmbito da mediação, o mediador dá conhecimento deste facto ao tribunal cessando com isso a suspensão da

239
Referir que, no que diz respeito à matéria da prova, ainda se verifica alguma dependência em relação aos tribunais judiciais, prevendo
o artigo 59º n.º 2 e 3 da LJP que requerida a prova pericial e ouvida a parte contrária, se o juiz de paz entender que a diligência é
pertinente ou não dilatória, manda remeter os autos ao tribunal de 1.ª instância competente, para a produção da prova necessária;
produzida a prova pericial, são os autos devolvidos ao julgado de paz onde a ação corria termos para aí prosseguir o julgamento da
causa.
240
Nos termos do previsto no artigo 57º n.º 1 da LJP.
241
No capitulo IV ponto 1.4.
242
Nos termos do previsto no artigo 12º n.º 1 da LM.
243
Aqui quando se refere tribunal, deverá ser entendido em sentido amplo que se aplica ao tribunal judicial, tribunal arbitral e julgados
de paz.
244
Nos termos do previsto no artigo 12º n.º 4 da LM.
245
Nos termos do previsto no artigo 13º da LM.

45
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

instância. Por sua vez, caso se verifique acordo das partes na mediação, o mesmo é remetido para o tribunal
para homologação judicial.246
Também nestas situações há o risco de a mediação ser utilizada com um meio dilatório, podendo
qualquer das partes apenas aceitar o recurso a esta para tentar ganhar tempo e adiar a resolução do litígio,
cabendo ao mediador estar atento a essa situação e, quando verificar que a mesma não irá ter sucesso, dar por
encerrado o procedimento de mediação.247
No que diz respeito ao procedimento de mediação, propriamente dito, este inicia-se com a sessão de
pré-mediação, na qual o mediador dá a conhecer às partes o procedimento e deverá explicar-lhes as regras e o
funcionamento da mediação, e caso estas aceitem deverão assinar um protocolo de mediação conjuntamente
com o mediador.248 Existe quem defenda que esta sessão de pré-mediação deveria ser implementada no âmbito
do processo judicial, por forma a dar a conhecer este meio de resolução de litígios e com isso, possivelmente,
retirar alguns processos dos tribunais.
A lei já determina a obrigação de dar a conhecer a mediação, prevendo o artigo 1774º do CC que antes
do início do processo de divórcio, a conservatória do registo civil ou o tribunal devem informar os cônjuges
sobre a existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar, tentando com isto incentivar a adesão a
este meio de RAL, o que, na nossa opinião, é manifestamente insuficiente, uma vez que, sem um contato direto
das partes com este meio será difícil convencê-las que esta poderá ser a melhor solução para a resolução do
seu litígio.
Uma vez assinado o protocolo de mediação dá-se início ao procedimento de mediação, que deverá ser
o mais célere possível e concentrar-se no menor número de sessões possíveis,249 sendo as sessões de mediação
presididas pelo mediador que deverá levar as partes a encontrarem, por si, 250 um acordo para o conflito que as
separa. De referir ainda que, nas sessões de mediação deverão estar presentes ambas as partes, podendo, no
entanto, o mediador, no interesse do procedimento, reunir individualmente com as partes, caso estas o
aceitem.251

246
Nos termos do previsto no artigo 273º do CPC.
247
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “A mediação pré-judicial em Portugal: Análise do Novo Regime Jurídico”, 2010, p. 4 – “(…) caberá a
cada mediador, perante cada sessão de mediação, avaliar da viabilidade de prosseguir a resolução do conflito por este método ou
terminar com a mesma, evitando que as partes façam uma utilização abusiva e dilatória deste mecanismo.”
248
Nos termos do previsto no artigo 16º da LM. Tratando-se este dever de esclarecer as partes, quanto à natureza, finalidade e regras a
observar no processo, um dever do mediador, nos termos do previsto no artigo 26º a) da LM.
249
Nos termos do previsto no artigo 21º da LM.
250
Um dos deveres do mediador é o de abster-se de impor qualquer acordo aos mediados, nos termos do previsto no artigo 26º b) da LM.
251
Nos termos do previsto no artigo 26º c) da LM. A esta reunião com apenas uma das partes a doutrina chama da técnica de “caucus”,
sendo que pode o mediador empregar esta técnica para reunir informação sensível que poderá depois ajudar no desenvolvimento do
procedimento de mediação. Cfr. HOPT, Klaus e STEFFEK, Felix, “Mediation: Comparison of Laws, Regulatory Models, Fundamental
Issues” in “Mediation: Principles and Regulation in Comparative Perspective”, 2013, p. 49 – “The caucus, that is the discussion between
the mediator and only one party, is employed to offer an opportunity to convey sensitive information which the mediator may use to
develop solution scenarios.”
Esta técnica poderá ser importante quando exista uma situação de desconfiança entre as partes que não lhes permita revelar os seus
interesses, no entanto a utilização desta técnica implica sempre algum perigo, podendo pôr em risco a confiança das partes no processo e
na imparcialidade do mediador.

46
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

O procedimento de mediação finda quando alguma das partes desista, quando o mediador o decida,
quando se verifique impossibilidade de obtenção de acordo, nomeadamente quando se atinja o limite máximo
de secções, ou ainda quando se atinja o objetivo do procedimento, isto é, quando haja acordo entre as partes.252

5. DA DECISÃO E DO RECURSO

5.1. ARBITRAGEM

Como vimos, o carácter jurisdicional da arbitragem atribui aos árbitros o poder para decidir o litígio,
devendo estes nos termos do previsto na LAV julgar segundo o direito constituído, podendo, no entanto, as
partes determinar que os árbitros julguem segundo a equidade, 253 ficando, assim, estes com a possibilidade de
decidir o litígio sem a submissão a critérios de legalidade estrita.
No que diz respeito à decisão dos árbitros esta assume a forma de sentença arbitral, 254 prevendo nesse
sentido o artigo 42º da LAV que esta deverá ser reduzida a escrito e assinada pelos árbitros, e sendo esta
proferida deverá ser imediatamente notificada às partes.
Ainda referir que a sentença arbitral de que não caiba recurso e que já não seja suscetível de alteração,
tem o mesmo carácter obrigatório entre as partes que a sentença de um tribunal estadual transitada em julgado
e a mesma força executiva que a sentença de um tribunal estadual.255
A equiparação da sentença arbitral à sentença de um tribunal estadual é fundamental para dar
autonomia e credibilidade aos tribunais arbitrais, na medida em que, só com sentenças arbitrais com força
impositiva entre as partes e com força executiva, é que é possível considerar a arbitragem como um meio de
resolução de litígios efetivo, até porque, como vimos, apesar de estarmos a falar de entidades privadas, os
tribunais arbitrais continuam a ser tribunais constitucionalmente previstos.256
Ainda no que diz respeito à sentença arbitral, é importante referir que a esta está ligado um princípio
característico da arbitragem, que é o princípio da irrecorribilidade257 da sentença arbitral, prevendo nesse
sentido o artigo 39º n.º 4 da LAV que a sentença arbitral só é suscetível de recurso para o tribunal estadual
competente258 no caso de as partes terem expressamente previsto essa possibilidade na convenção de

252
Cfr. previsto no artigo 20º da LM.
253
Nos termos do previsto no artigo 39º n.º 1 da LAV.
254
Referir ainda que o litígio poderá terminar através de outras formas, nomeadamente, acordo de mediação, quando as partes tenham
convencionado o recurso à mediação no âmbito do processo arbitral; ou transacção, prevendo o artigo 41º da LAV que as partes podem
terminar o litígio mediante esta, podendo mesmo solicitar ao tribunal arbitral que lhe dê a forma de sentença.
255
Nos termos do previsto no artigo 42º n.º 7 da LAV.
256
Cfr. SILVA, Paula Costa e, “A Execução em Portugal de Decisões Arbitrais Nacionais e Estrangeiras”, 2007, p. 6 – “O sistema
português, ao equiparar a decisão arbitral à decisão judicial, toma uma opção claramente favorável a este modo de resolução de
conflitos, concorrendo para uma dignificação do estatuto da arbitragem e dos árbitros: o legislador não manifesta qualquer reserva ou
desconfiança quanto à administração da justiça por tribunais arbitrais.”
257
Ou definitividade.
258
O tribunal estadual competente será, nos termos do previsto no artigo 59º n.º 1 alínea e) da LAV, o Tribunal da Relação em cujo
distrito se situe o lugar da arbitragem.

47
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

arbitragem e, caso o litígio não tenha sido decidido com recurso à equidade ou mediante composição
amigável.259
Ao contrário do previsto para o processo civil nos tribunais estaduais, 260 a LAV prevê o recurso como
uma exceção, dando um carácter de definitividade às suas decisões, tendo com isso, o objetivo de tornar os
tribunais arbitrais independentes dos tribunais estaduais, para além do que, tratando-se a arbitragem de um
meio de RAL que se caracteriza pela sua celeridade, só a irrecorribilidade das suas decisões é que permitirá
que o litígio termine de forma célere.
Importante referir que nos casos em que o recurso é admitido pelas partes, este será sempre para um
tribunal estadual, o que na nossa opinião põe em causa a instância arbitral, pois, como vimos, os tribunais
arbitrais são tribunais constitucionalmente previstos, sendo que, no entanto, podem-se considerar como uma
jurisdição diferente da dos tribunais judiciais e dos tribunais administrativos e fiscais. Assim, as partes ao
optarem pelos tribunais arbitrais pretendem que o seu litigio seja dirimido de forma privada e confidencial,
pelo que, o recurso ao ser para um tribunal estadual põe em causa esta confidencialidade. Esta opção do
legislador será no mínimo contraproducente para a dignificação dos tribunais arbitrais no âmbito do
ordenamento jurídico interno.
Mencionar ainda que no âmbito dos centros de arbitragem institucionalizada, encontramos referências
a este principio da irrecorribilidade da sentença arbitral.261
No entanto, e apesar da LAV afastar o recurso para os tribunais estaduais, ainda assim, esta
salvaguarda às partes a possibilidade de impugnação da sentença arbitral perante um tribunal estadual, 262
revestindo esta a forma de pedido de anulação,263 sendo este direito irrenunciável.
No que diz respeito aos fundamentos de impugnação da sentença arbitral, a LAV no seu artigo 46º n.º
3, enuncia-os, sendo que será apenas com base nestes que se poderá obter o efeito anulatório da sentença
arbitral.264

259
Cfr. MENDES, Armindo Ribeiro, et al., “Lei da Arbitragem Voluntária”, 2012, p. 78 – “Admite-se o recurso para os tribunais
estaduais apenas no caso de as partes o terem convencionado expressamente, mas proíbe-se tal recurso, em qualquer caso, se o tribunal
arbitral dever julgar segundo a equidade ou mediante composição amigável, já que os tribunais estaduais não estão vocacionados para
tais tipos de julgamento. Consequentemente, será ineficaz a convenção das partes que nestes casos preveja o recurso para os tribunais
estaduais.”
260
O CPC prevê no seu artigo 632º, como exceções ao direito de recurso nos tribunais judiciais, a renúncia ao recurso e a perda do
direito de recorrer.
261
No âmbito cível o regulamento de arbitragem do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa prevê no seu
artigo 42º que a sentença arbitral não é suscetível de recurso; já o regulamento do CIAB prevê no seu artigo 15º n.º 4 que a sentença
arbitral tem o mesmo carácter obrigatório e a mesma força executiva de uma sentença de um tribunal judicial, sendo apenas suscetível de
recurso se o valor do processo for superior ao da alçada do tribunal judicial de primeira instância e tiver sido decidida segundo o direito.
Já no âmbito administrativo, o regulamento do CAAD prevê no seu artigo 27º n.º 2 que se as partes não tiverem renunciado aos recursos,
da decisão arbitral cabem os mesmos recursos que caberiam da sentença proferida pelos tribunais de 1.ª instância.
Também no âmbito fiscal, o regime jurídico da arbitragem em matéria tributária admite o recurso para os tribunais estaduais, nos termos
do previsto no seu artigo 25º.
262
O tribunal estadual competente para analisar o pedido de impugnação da sentença arbitral será, nos termos do previsto no artigo 59º
n.º 1 alínea g) da LAV, o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem.
263
Nos termos do previsto no artigo 46º n.º 1 e n.º 5 da LAV.
264
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Lei de Arbitragem Comentada”, 2013, p. 171 – “É muito importante observar, face aos
fundamentos tipificados da ação de anulação e ao facto de não existir recurso da sentença arbitral para os tribunais estaduais, salvo
quando as partes nisso tenham acordado expressamente (artigo 39º, número 4.), que a interpretação ou aplicação erradas ou a não

48
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

Sendo estes fundamentos essenciais para a anulação da sentença, em seguida iremos analisá-los de
forma esquemática, para melhor se entender em que circunstâncias é que a anulação da sentença poderá ocorrer:

Tabela 4 - Fundamentos da impugnação da sentença arbitral265

Artigo
46º n.º 3 Análise da fundamentação
da LAV
No que se refere à incapacidade de uma das partes, esta refere-se à incapacidade legal de
exercícios de direitos das pessoas singulares. 266
i) Quanto à invalidade da convenção por outro motivo referir que um dos motivos pode ser,
por exemplo, a falta de forma, a não arbitrabilidade objetiva do litígio, a ilicitude do objeto
da convenção, o erro ou coação de uma das partes, etc. 267
No que se refere aos princípios fundamentais do processo arbitral, 268 como vimos, estes são
inderrogáveis, isto é, não podem ser afastados pelas partes ou pelos árbitros, pelo que a
ii)
violação de qualquer deles, quando tenham influência decisiva na resolução do litígio, é
fundamento de anulação da sentença arbitral.
Como vimos, a convenção de arbitragem está na génese da arbitragem, sendo mesmo um
a) pressuposto essencial de todo o processo arbitral, pelo que, os árbitros só poderão se
iii)
pronunciar sobre um litígio que esteja abrangido por esta, e ao mesmo tempo não poderão
ultrapassar o seu âmbito.
No que diz respeito à composição do tribunal arbitral e às regras do processo arbitral, como
vimos, estas, através de acordo, encontram-se na disposição das partes, podendo-se referir a
título de exemplo, o número de árbitros, o perfil dos árbitros, os poderes de voto e decisão
dos árbitros, o número de articulados, os prazos e trâmites processuais, as regras sobre a
iv) prova, etc.;269
Apesar de estar na disposição das partes o acordo não pode contrariar disposição legal que
as partes não possam derrogar, nomeadamente a LAV.
Referir ainda que a violação do acordo das partes ou da LAV só será motivo de anulação
quando tenha influência decisiva na resolução do litígio.

observância de uma norma legal, imperativa ou supletiva, não constitui, só por si, fundamento de anulação de uma sentença arbitral. Este
efeito anulatório só pode ser obtido desde que seja pertinente e provado qualquer dos fundamentos previstos no artigo 46º, número 3, e
apenas estes.”
265
Referir que os fundamentos previstos no artigo 46º n.º 3 da LAV dividem-se em duas alíneas, sendo que, os fundamentos previstos na
alínea a) têm de ser alegados e provados pela parte que faz o pedido, enquanto os fundamentos previstos na alínea b) são de
conhecimento oficioso do tribunal.
266
Cfr. idem, ibidem, p. 172 – “A incapacidade a que se refere o artigo 46º, número 3, alínea a), subalínea i), é a incapacidade legal de
exercícios de direitos por pessoas singulares. A incapacidade relativa a pessoas coletivas afere-se pela lei ou pelos estatutos.”
267
Cfr. idem, ibidem, p. 173 – “Entre os motivos que podem conduzir à invalidade da convenção de arbitragem conta-se a forma. Sendo
aplicável a LAV, a forma deve ser a escrita (artigo 2º) como se sabe.
Mas, também a convenção de arbitragem pode ser inválida por não arbitrabilidade objetiva do litígio (vício regulado no número 3, alínea
b), subalínea i)), ou por ilicitude do objeto da convenção (por exemplo, a submissão a arbitragem de um facto-crime, atribuindo ao
tribunal arbitral competência para o julgar e punir criminalmente o autor). Igualmente, a convenção de arbitragem celebrada por uma das
partes sob erro ou coação, etc.”
268
Previstos no artigo 30º n.º 1 da LAV.
269
Cfr. idem, ibidem, p. 174 – “- a composição do tribunal arbitral (número de árbitros, perfil dos árbitros, etc.) ou o processo arbitral
(poderes de voto e de decisão dos árbitros, número de articulados, prazos e trâmites processuais, regras sobre a prova, etc.) não foram
conformes com a convenção das partes.”

49
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Tal como os tribunais estaduais, os tribunais arbitrais estão obrigados pelo pedido
formulado, ou seja: não poderá condenar em quantia superior ao pedido,270 não poderá
v)
condenar em objeto diverso do pedido, nem conhecer de questões que não podia conhecer, 271
e não poderá deixar de se pronunciar sobre questões que devia apreciar.272
O artigo 42º n.º 1 e 3 diz respeito à forma e conteúdo da sentença, isto é, a sentença deverá
vi)
ser reduzida a escrito e assinada pelo árbitro,273 para além de fundamentada.
Uma das características principais da arbitragem, e que a tornam num meio de resolução de
litígios apetecível é a sua celeridade. A LAV prevê mesmo no seu artigo 43º um prazo
máximo de 12 meses a contar da data de aceitação do último árbitro para ser proferida a
vii)
sentença, podendo, no entanto, ser estabelecido outro ou ser este prorrogado por acordo.
Assim, é natural que, sendo a celeridade um cartão de visita da arbitragem, a violação do
prazo ser fundamento de anulação da sentença arbitral.
O artigo 1º n.º 1 e 2 da LAV estabelece as regras de arbitrabilidade dos litígios, pelo que,
i) qualquer sentença que se pronuncie sobre litígio fora do âmbito de aplicação destas
disposições poderá ser motivo para a anulação da sentença.
O respeito pelos princípios da ordem pública internacional do Estado português é outra
obrigação do tribunal arbitral na elaboração da sentença arbitral, sendo mesmo a ordem
pública um elemento delimitador da autonomia das partes e da atuação do árbitro. 274
b) No entanto o conceito de ordem pública é um daqueles conceitos abstratos do Direito, não
se encontrando definido na lei, necessitando de uma interpretação sensitiva do aplicador.275
ii)
É um conceito que deve ser entendido em sentido amplo, como as regras ou normas de
natureza ética, social, económica e jurídica, constituindo-se como princípios e valores
fundamentais de uma sociedade.276
É um conceito que tal como a sociedade é mutável, isto é, mudará em consonância com
esta.277

270
Isto é, sentença arbitral ultra petita, tratando-se esta de uma sentença em que o juiz ultrapassa o que foi pedido, ou seja, vai além dos
limites do pedido.
271
Isto é, sentença arbitral extra petita, tratando-se esta de uma sentença em que o juiz concede algo distinto do que foi pedido.
272
Isto é, sentença arbitral infra petita, tratando-se esta de uma sentença em que o juiz concede menos do que foi pedido.
273
Ou árbitros.
274
Cfr. MONTEIRO António Pedro Pinto, “Da Ordem Pública no Processo Arbitral”, 2013, p. 674 – “Com efeito, o travão imposto pela
ordem pública far-se-á sentir sempre em todos os momentos do processo arbitral, designadamente na sua fase genética (rectius, na
convenção de arbitragem), no decurso do processo (impondo sempre o respeito pelos princípios fundamentais da nossa ordem jurídica)
e, claro, findo o processo arbitral (não podendo o conteúdo da sentença arbitral ofender a ordem pública). Por outro lado, e ao mesmo
tempo, a ordem pública actuará, igualmente, perante as partes, perante os árbitros e perante os juízes.”; e Cfr. TARANTA, Ângela,
“Conceito de Ordem Pública e Bons Costumes e seus Reflexos nos Contratos”, 2008, p. 6 – “Na arbitragem, onde vigora o Princípio da
Autonomia Privado, ordem pública é elemento limitador da liberdade das partes em contratar, é, também, questão delimitadora da
actuação do árbitro, que deve atentar para os aspectos de ordem pública ao realizar procedimentos arbitrais e proferir sua decisão, sob
pena de não se revestir de validade.”
275
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “A Ordem Pública na Arbitragem”, 2014, p. 129 – “O conceito de ordem pública não está
definido na lei, nem em convenções internacionais. Resulta mais da avaliação que seja feita aos princípios e ao conteúdo fundamentais
em que se baseia a ordem jurídica, económica, social e ética de uma determinada comunidade nacional do que da existência de uma
norma escrita ou mesmo costumeira. Assim, a avaliação deve centrar-se mais na sensibilidade axiológica do que numa constatação
positiva e evidente. Tratando-se de um conceito abstrato, apenas pela via da sensibilidade valorativa é possível chegar a uma conclusão
fundamentada do conteúdo da ordem pública internacional de uma determinada comunidade nacional.”
276
Cfr. PRATA, Ana, “Dicionário Jurídico”, 2016, p. 1016 – “Ordem pública – Conjunto de princípios basilares de uma dada ordem
jurídica, fundados em valores de moralidade, de justiça ou de segurança social, que regulam interesses geria e considerados
fundamentais da colectividade, e que informam um conjunto de disposições legais.”
277
Não sendo o objeto deste trabalho, sobre este tema da ordem pública na arbitragem vide BARROCAS, Manuel Pereira, “A Ordem
Pública na Arbitragem”, 2014; MONTEIRO António Pedro Pinto, “Da Ordem Pública no Processo Arbitral”, 2013; e TARANTA,
Ângela, “Conceito de Ordem Pública e Bons Costumes e seus Reflexos nos Contratos”, 2008.

50
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

No que diz respeito ao prazo, o artigo 46º n.º 6 da LAV prevê que o pedido de anulação só pode ser
apresentado no prazo de 60 dias a contar da data em que a parte que pretenda essa anulação recebeu a
notificação da sentença.
Ainda referir que, nos termos do artigo 46º n.º 9 da LAV, o tribunal estadual que anule a sentença
arbitral não pode conhecer do mérito da questão ou questões por aquela decididas, isto é, o tribunal estadual
apenas terá poderes para analisar a impugnação da sentença arbitral com base nos fundamentos que referimos
supra, estando impedido de fazer qualquer determinação quanto ao mérito da causa.
Uma vez anulada a sentença arbitral, se alguma das partes pretender que o litígio seja novamente
resolvido deverá submeter este a outro tribunal arbitral, sendo que com a anulação da sentença arbitral a
convenção de arbitragem volta a produzir efeitos;278 podendo, ainda assim, a anulação da sentença arbitral
afetar a produção de efeitos da convenção de arbitragem: quando as partes tenham acordado em sentido
diferente; quando a sentença declarou a convenção de arbitragem inválida; ou quando, entretanto, cessou o
prazo de vigência da convenção de arbitragem.

5.2. JULGADOS DE PAZ

Tal como na arbitragem, nos julgados de paz a validade da decisão é uma questão fundamental, pois
também estes são tribunais constitucionalmente previstos, sendo as suas decisões obrigatórias. Nesse sentido,
determina o artigo 61º da LJP que as decisões proferidas pelos julgados de paz têm o valor de sentença proferida
por tribunal de 1.ª instância.
No entanto apesar das sentenças dos julgados de paz terem o mesmo valor das sentenças dos tribunais
de 1ª instância, a verdade é que no caso de ser admissível recurso, o mesmo deverá ser intentado junto de um
tribunal de 1ª instância.279 Esta situação causa alguma estranheza pois mostra a dependência dos julgados de
paz em relação aos tribunais de 1ª instância e transforma os tribunais de 1ª instância numa instância de recurso
de decisões, ainda mais, uma vez que as sentenças proferidas nos julgados de paz têm o mesmo valor que as
sentenças proferidas por um tribunal de 1ª instância.
De referir ainda que só será admissível recurso das decisões cujo valor exceda metade do valor da
alçada do tribunal de 1ª Instância, 280 isto é, processos com valor superior a € 2.500. No entanto, este recurso
terá efeito meramente devolutivo.281

5.3. O CASO PARTICULAR DA MEDIAÇÃO

Em matéria de mediação não se pode falar de decisão e de recurso, uma vez que em mediação estamos
perante um acordo, pelo que o que analisaremos em seguida será esse acordo de mediação.

278
Nos termos do artigo 46º n.º 10 da LAV, com a anulação da sentença a convenção de arbitragem volta a produzir efeitos
relativamente ao objeto do litígio, salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente.
279
Nos termos do previsto no artigo 62º n.º 1 da LJP.
280
Que nos termos do previsto no artigo 44º n.º 1 da LOSJ é de € 5..000,00.
281
Nos termos do previsto no artigo 62º n.º 2 da LJP.

51
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Como vimos, a obtenção de um acordo entre as partes é o objetivo principal de todo o procedimento
de mediação, sendo este acordo livremente fixado pelas partes, reduzido a escrito, assinado por estas e pelo
mediador.
É sobre este acordo que mais questões se levantam, nomeadamente, no âmbito da executoriedade do
mesmo, isto é, deverá o acordo de mediação ser homologado judicialmente para que as partes tenham garantias
judiciais em caso de incumprimento, ou bastará o acordo para garantir os direitos das partes.
O artigo 9º da LM282 prevê que o acordo de mediação tem força executiva sem necessidade de
homologação judicial quando sejam cumpridas as seguintes premissas relativamente ao objeto da mediação, à
capacidade das partes, à legalidade, ao conteúdo, e ao mediador:
Quanto ao objeto, a alínea a) do artigo 9º da LM prevê dois requisitos: primeiro que o acordo diga
respeito a litígio que possa ser objeto de mediação, prevendo o artigo 11º da LM que só podem ser objeto de
mediação litígios em matérias civil e comercial, que respeitem a interesses de natureza patrimonial, ou ainda,
aqueles que não o sejam mas em que as partes possam celebrar transação;283 segundo que o acordo diga respeito
a litígio para o qual a lei não exija homologação judicial, isto é, não se aplicará ao acordo obtido por mediação
no âmbito de um processo nos julgados de paz, 284 nem aos processos instaurados em Tribunal, suspensos e
remetidos para a mediação.285
Quanto à capacidade das partes, a alínea b) do artigo 9º da LM prevê que as partes têm de ter
capacidade para a celebração do acordo, remetendo, implicitamente, para as regras gerais da capacidade
judiciária286 e da representação.287
Quanto à legalidade, prevê a alínea c) do artigo 9º da LM que o acordo deverá ser obtido por via de
mediação realizada nos termos legalmente previstos, ou seja, deverão ser cumpridos todos os princípios e regras
previstas na LM e outros diplomas que regulem o procedimento de mediação. 288
Relativamente ao conteúdo do acordo, prevê a alínea d) do artigo 9º da LM que o conteúdo do acordo
não pode violar a ordem pública,289 sendo que, relativamente a esta obrigação, cumpre-nos questionar quem
irá verificar a violação ou não deste princípio, tendo em conta que o mediador poderá não ter formação na área
do Direito, e que as partes podem não constituir mandatário. Parece-nos, assim, que a violação ou não deste
princípio poderá nunca ser verificada, uma vez que, só se eventualmente alguma das partes recorrer a tribunal
é que esta questão poderá ser analisada. 290
Quanto ao mediador, a alínea e) do artigo 9º da LM prevê que o mediador deverá constar da lista de
mediadores de conflitos organizada pelo Ministério da Justiça, mais precisamente pela DGPJ, no âmbito do

282
Referir que este artigo surge na sequência da transposição feita do artigo 6º da Directiva 2008/52/CE do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 21 de maio.
283
Nos termos do previsto no artigo 1248º do CC.
284
O artigo 56º n.º 1 da LJP prevê que se as partes chegarem a acordo, é este reduzido a escrito e assinado por todos os intervenientes,
para imediata homologação pelo juiz de paz, tendo valor de sentença.
285
O artigo 273º do CPC prevê que alcançando-se o acordo de mediação, o mesmo é remetido a tribunal, preferencialmente por via
eletrónica, seguindo os termos definidos na lei para a homologação dos acordos de mediação.
286
Previstas nos artigos 15º e seguinte do CPC.
287
Previstas nos artigos 40º e seguintes do CPC e nos artigos 258º e seguintes do CC.
288
Nomeadamente nos diplomas que regulam a mediação familiar, penal e laboral.
289
Sobre esta matéria da ordem pública ver as referências feitas no Capítulo IV, ponto 5.1, relativamente à arbitragem.
290
Por exemplo no âmbito de um processo executivo poderá esta situação ser verificada pelo juiz de execução.

52
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

regulamentado na Portaria n.º 344/2013, de 27 de novembro; 291 no entanto este requisito de constar da lista não
se aplica às mediações realizadas no âmbito de um sistema público de mediação, 292 isto é, os serviços de
mediação criados e geridos por entidades públicas. 293
Esta executoriedade dos acordos de mediação tem como objetivo principal dar credibilidade à
mediação enquanto um meio autónomo de resolução de litígios, pois só assim, é que será possível à mediação
ser realmente independente dos tribunais. 294
De referir que, ainda que a lei não obrigue a homologação judicial do acordo, ainda assim, as partes
têm a faculdade de requerer a homologação judicial do acordo obtido em mediação pré-judicial, nos termos do
previsto no artigo 14º n.º 1 da LM. 295
Este pedido de homologação judicial tem como vantagens: a verificação por um juiz do acordo, sendo
que, o juiz não irá, no entanto, analisar o processo, apenas o acordo de mediação; 296 e ainda a equiparação do
acordo a uma sentença judicial. Como desvantagem verifica-se a diminuição da confidencialidade do acordo,
pois este passará a ser público na mesma medida que as sentenças judiciais o são.297
Entre o acordo com executoriedade própria e o acordo objeto de homologação judicial encontram-se
duas grandes diferenças: em relação ao critério de legalidade do processo de mediação, o mesmo no primeiro
caso é estrito, devendo a mediação realizar-se nos termos legalmente previstos, no segundo caso o processo
poderá não seguir estritamente o previsto na lei, sendo que o juiz analisará apenas o respeito dos princípios
gerais de direito; já em relação ao mediador no primeiro caso exige-se que este faça parte da lista de mediadores
ou dos sistemas públicos de mediação, enquanto no segundo caso essa exigência já não se verificará. 298

291
Nos termos do previsto no n.º 3 do artigo 9º da LM.
292
Nos termos do previsto no n.º 2 do artigo 9º da LM.
293
Nos termos do previsto no artigo 30º e seguintes da LM.
294
Cfr. LOPES, Dulce, e PATRÃO, Afonso, “Lei da Mediação Comentada”, 2014, p. 57 – “A executoriedade dos acordos alcançados é
pressuposto do sucesso da mediação, porquanto só desta forma podem as partes confiar no termo do litígio, tal como se a deliberação
tivesse sido determinada por um Juiz. No fundo, só muda o autor do veredicto que põe fim à contenda: deixa de ser decidido por um
terceiro para ser sentenciado pelas próprias partes, mas cuja execução é judicialmente exigível.”
295
Esta previsão leva-nos a concluir que a mediação no âmbito judicial, isto é, cujo processo foi suspenso da instância deverá via de
regra ser obrigatoriamente objeto de homologação judicial.
296
Isto é, o juiz irá verificar o cumprimento dos princípios gerais de direito, a boa-fé, e que o acordo não viole a ordem pública, nem
constitua abuso de direito.
297
Cfr. idem, ibidem, p. 96 – “A opção de solicitar a homologação tem, como reverso, alguma atenuação da confidencialidade,
porquanto o acordo (mas já não o processo que conduziu até ao mesmo) passará a ser tão público quanto qualquer outra decisão judicial.
Nessa medida, as partes terão sempre de ponderar entre a confidencialidade estrita do acordo ou a recolha das vantagens indicadas na
homologação judicial”.
298
Cfr. idem, ibidem, p. 97 – “De facto, entre a formulação do art. 9º e a formulação do art. 14º é constatável um conjunto relevante de
diferenças: por um lado não se exige neste último artigo que a mediação haja cumprido a lei mas apenas que respeite os princípios gerais
de direito, a boa-fé e não constitua um abuso de direito; por outro, também não se exige que o mediador esteja inscrito na lista
organizada pelo Ministério da Justiça (...). O que significa que sempre que esteja em causa um acordo de mediação que não tenha sido
concluído por mediador incluído naquela lista ou sempre que aquele acordo tenha sido obtido na sequência de uma tramitação que não
obedeça estritamente ao modelo previsto na Lei 29/2013, a única via à disposição das partes para lhe conferir força executória (no caso,
similar a sentença) parecer passar pela homologação judicial.”

53
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

6. DA EXECUÇÃO

A execução é uma parte crucial do poder jurisdicional, tendo uma função essencial de garantir a
efetivação dos direitos e deveres das partes. Isto é, tal como a lei enuncia as ações executivas são aquelas em
que o credor requer as providências adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida, podendo
esta consistir no pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa, ou prestação de um facto. 299
Importa ainda referir que toda a ação executiva tem por base um título executivo, sendo este um
pressuposto essencial do processo executivo pelo qual se determinam o fim e os limites da execução; 300
prevendo o artigo 703º n.º 1 do CPC quais os títulos que podem servir de base à execução, referindo-se a alínea
a) deste artigo às sentenças condenatórias, onde se inserirão as sentenças dos tribunais arbitrais e dos julgados
de paz, enquanto a alínea d) refere-se a documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força
executiva, sendo nesta alínea que caberão os acordos de mediação.

6.1. ARBITRAGEM

Como vimos anteriormente, as decisões proferidas pelos tribunais arbitrais têm o mesmo carácter
obrigatório entre as partes e a mesma força executiva que a sentença de um tribunal estadual. 301 Logo, a
sentença arbitral será titulo executivo, nos termos do previsto no artigo 703º n.º 1 a) do CPC.
No que diz respeito à execução da sentença arbitral em primeiro lugar levanta-se uma questão relativa
à competência executiva em matéria arbitral, sendo que, em Portugal a instância arbitral não tem competência
em matéria executiva, pois apesar dos tribunais arbitrais serem dotados de poder jurisdicional, ainda assim,
não têm poderes coercivos, cabendo aos tribunais estaduais, enquanto órgãos do Estado, o monopólio do uso
da força de modo legítimo. 302
Cabendo a competência executiva das decisões arbitrais aos tribunais estaduais, esta determinação
põe em causa dois princípios que caracterizam os tribunais arbitrais:
O primeiro que é posto em causa é o principio da celeridade, na medida em que a necessidade de um
processo de execução subsequente a uma sentença arbitral comporta atrasos na satisfação efetiva do interesse
do credor.
O outro principio posto em causa é o principio da confidencialidade. Sendo a confidencialidade uma
das características principais dos tribunais arbitrais, esta é posta em causa ao ser interposto o processo executivo
nos tribunais estaduais, pois caindo o processo na esfera dos tribunais estaduais, o mesmo é dizer que caí no
domínio público, isto é, sujeita-se as partes a uma publicidade, que em principio ao recorrerem à esfera arbitral

299
Nos termos do previsto no artigo 10º n.º 4 e 6 do CPC.
300
Nos termos do previsto no artigo 10º n.º 5 do CPC.
301
Nos termos do previsto no artigo 42º n.º 7 da LAV.
302
Cfr. SILVA, Paula Costa e, “A Execução em Portugal de Decisões Arbitrais Nacionais e Estrangeiras”, 2007, p. 1 – “… Detendo o
Estado o monopólio do uso da força de modo legítimo, qualquer actividade que implique o seu uso só pode ser exercida ou pelo Estado
ou por alguém, mesmo que sujeito privado, por sua delegação. Esta delegação não existe no caso dos tribunais arbitrais pelo que não
pode admitir-se que pratiquem actos de coerção, seja em tutela cautelar, seja em tutela definitiva.”

54
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

quereriam evitar.303 Sendo os tribunais arbitrais órgãos de composição transacional, não se coadunam com a
publicidade e transparência inerentes aos órgãos de administração da justiça pelo Estado. 304
O objetivo principal de uma sentença condenatória, quer esta seja judicial ou arbitral, é condenar uma
ou ambas as partes ao cumprimento de uma ou várias obrigações, no entanto, caso uma das partes não cumpra
com o determinado pela sentença terá a outra parte que avançar para a execução por forma a poder efetivar o
seu direito; sendo este o objetivo principal da sentença, o mesmo não pode ser posto em causa pela opção por
um tribunal arbitral, sob pena de ineficácia da sentença arbitral.
Estamos assim, perante um confronto, isto é, o principio da autonomia das partes ligado ao principio
da confidencialidade versus o direito de ação, sendo que, neste caso, terá que ser dada primazia ao direito de
ação pois a opção por um tribunal arbitral não pode pôr em causa a efetivação dos direitos das partes.
Assim, quanto ao tribunal estadual competente para a execução da sentença arbitral, determina o artigo
59º n.º 9 da LAV que a execução corre os seus termos no tribunal estadual competente, nos termos da lei de
processo aplicável.
Já no que diz respeito à forma de processo aplicável, a sentença arbitral seguirá, em condições
305
normais, a forma de processo sumário, ou seja, em princípio o executado só será citado após a penhora. 306
Quanto à forma e regras a seguir para a interposição da execução da sentença arbitral, o artigo 47º da
LAV estabelece-as. O n.º 1 deste artigo prevê que a parte que pedir a execução da sentença arbitral deverá
fornecer o original ou cópia certificada desta; determinando mesmo o n.º 3 que o pedido de anulação da
sentença arbitral só suspende a execução se o impugnante requerer o efeito suspensivo e prestar caução.
Relativamente à oposição à execução baseada em sentença arbitral, o artigo 730º do CPC determina
que podem servir de fundamentos a esta: os fundamentos de oposição à execução baseada em sentença
judicial307, e os fundamentos da anulação sentença arbitral previstos no artigo 48º da LAV.308
Com esta opção o legislador pretendeu dignificar os tribunais arbitrais, equiparando-os, o mais
possível, mesmo no âmbito da oposição à execução, aos tribunais estaduais.

303
Cfr. idem, ibidem, p. 2 – “Com efeito, a execução determinará um contacto necessário da decisão com o sistema de justiça estadual.
Este contacto, para além de comportar atrasos na satisfação efectiva do interesse do credor, sujeitará as partes a uma publicidade, que
regra geral visam evitar.”
304
Cfr. idem, ibidem, p. 2 – “Com efeito, se a publicidade serve fins de transparência quanto à administração da justiça pelo Estado, que
para si reservou esta função, concorrendo para a credibilidade dos sistemas judiciais e para a ideia de Estado de Direito, dificilmente se
pode encontrar a necessidade de tutela destes fins quando a função jurisdicional não é exercida através de um sistema
formal/institucional, mas por recurso a um órgão de composição transacional.”
305
Ou seja, quando não se aplique o disposto no artigo 550 n.º 3 do CPC.
306
Nos termos do previsto nos artigos 550º n.º 2 a), 855º n.º 3 e 856º n.º 1 do CPC.
307
Nos termos do previsto no artigo 729º do CPC.
308
Quanto aos fundamentos de anulação da sentença o artigo 48º prevê duas circunstâncias: Os fundamentos de alegação pelas partes
previstos no artigo 46º n.º 3 a) da LAV, só podem servir de fundamento à oposição à execução se não tiver decorrido o prazo de 60 dias
previsto no artigo 46º n.º 6 da LAV; já relativamente aos fundamentos de conhecimento oficioso do tribunal arbitral, previstos no artigo
46º n.º 3 b) da LAV, o juiz pode conhecer destes independentemente do prazo previsto no artigo 46º n.º 6 da LAV.

55
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

6.2. JULGADOS DE PAZ

No que diz respeito aos julgados de paz, como vimos, as decisões proferidas por estes têm o valor de
sentença proferida por um tribunal de 1ª instância, sendo que em matéria de execução das suas decisões
determina o artigo 6º n.º 2 da LJP que para a execução das decisões dos julgados de paz aplica-se o disposto
no CPC e legislação conexa sobre execuções das decisões dos tribunais de 1.ª Instância.
A equiparação das decisões dos julgados de paz às sentenças dos tribunais de 1ª instância é essencial
para determinar o tratamento que lhes é dado em matéria de execução, sendo que, as decisões dos julgados de
paz serão título executivo nos termos do previsto no artigo 703º n.º 1 a) do CPC.
Sendo título executivo é importante também referir que quanto à forma de processo estas, tal como as
sentenças arbitrais, seguirão, em condições normais,309 a forma de processo sumário, ou seja, em princípio o
executado só será citado após a penhora.310
Quanto à oposição à execução quando baseada em sentença de um julgado de paz, a equiparação
desta à sentença de um tribunal de 1ª instância, determina que servirão de fundamentos de oposição a esta os
mesmos fundamentos da sentença previstos no artigo 729º do CPC.
Tal como nos tribunais arbitrais, esta opção do legislador relativamente aos julgados de paz tem como
objetivo dignificar estes, equiparando-os, o mais possível, aos tribunais estaduais.

6.3. MEDIAÇÃO

Em primeiro lugar é importante referir que apesar do acordo de mediação ser obtido de forma
consensual pelas partes, o mesmo não quer dizer que este seja cumprido posteriormente por estas, podendo o
seu incumprimento obrigar uma das partes a recorrer aos tribunais por forma a obrigar a outra a cumprir com
este, o mesmo significa avançar com um processo executivo.
Relativamente ao acordo de mediação convém referir que este será título executivo nos termos do
previsto no artigo 703º n.º 1 d) do CPC e dos artigos 9º e 14º da LM.
Como vimos anteriormente, em relação à validade do acordo de mediação este pode revestir duas
formas: acordo com executoriedade própria ou acordo objeto de homologação judicial.
Sendo que, no que diz respeito ao processo executivo aplicável haverá diferentes tratamentos quer
estejamos perante um ou outro.
Quanto à forma de processo de referir que em relação ao acordo de mediação com executoriedade
própria este poderá seguir a forma de processo ordinário ou sumário, dependendo do valor do acordo. 311 Já o
acordo de mediação objeto de homologação judicial seguirá, em condições normais, 312 a forma de processo
sumário.313 A forma de processo aplicável poderá ser um fator importante de análise para ambas as partes, mas

309
Ou seja, quando não se aplique o disposto no artigo 550 n.º 3 do CPC.
310
Nos termos do previsto nos artigos 550º n.º 2 a), 855º n.º 3 e 856º n.º 1 do CPC.
311
A título de exemplo, seguirá a forma de processo ordinário se o valor do acordo exceder o dobro da alçada do tribunal da 1ª Instância
(mais de 10.000,00 €), nos termos do artigo 550º n.º1 do CPC e artigo 550º n.º 2 d) do CPC (à contrário); ou seguirá a forma de processo
sumário se o valor do acordo não exceder o dobro da alçada do tribunal da 1ª Instância (menos de 10.000,00 €), nos termos do artigo
550º n.º 2 d) do CPC.
312
Ou seja, quando não se aplique o disposto no artigo 550 n.º 3 do CPC.
313
Nos termos do previsto no artigo 550º n.º 2 a) do CPC, equiparando-se nesta medida ao aplicável à decisão judicial.

56
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

em especial para o devedor/executado, pois ao aplicar-se o processo sumário verá a penhora dos seus bens
antes de ter conhecimento da execução, havendo um risco maior ao seu património. 314
Por forma a permitir um maior equilíbrio entre as partes e um maior controlo da validade dos acordos
de mediação considerámos que a solução deveria passar pela obrigação de o acordo de mediação seguir a forma
de processo ordinário.315
Será a forma do processo que irá determinar se, em regra, e uma vez recebido o requerimento de
execução e havendo este de prosseguir, iniciar-se-á o processo pela citação prévia do executado, 316 ou pela
imediata penhora de bens.317
Por forma a permitir um maior controlo da validade dos acordos de mediação considerámos que a
solução
No entanto, e independentemente da forma de processo, será sobre a oposição à execução mediante
embargos que mais diferenças se encontra entre o acordo de mediação com executoriedade própria e o acordo
de mediação objeto de homologação judicial, mais precisamente relativamente aos fundamentos que poderão
ser alegados pelo executado na oposição.
Enquanto no processo executivo baseado em acordo de mediação objeto de homologação judicial, os
fundamentos da oposição mediante embargos serão os mesmos aplicados à execução baseada em sentença,
reduzindo-os aos previstos no artigo 729º do CPC.
Já em relação aos fundamentos da oposição mediante embargos, quando o processo executivo se
baseie em acordo de mediação com executoriedade própria, estes serão, nos termos do previsto no artigo 731º
do CPC, para além dos previstos para a sentença, também quaisquer outros que possam ser invocados como
defesa no processo de declaração.
Assim, verifica-se que a opção pela homologação judicial ou não do acordo de mediação pode
produzir um efeito de redução de garantias do executado, na fase de oposição à execução, e pode também, em
determinados casos, implicar a aplicação de uma forma de processo diferente, com as consequentes limitações.

7. OS TRIBUNAIS E OS MEIOS DE RAL

Ao nível da competência dos meios de RAL, como se pôde constatar, existe uma nítida independência
em relação aos tribunais judiciais.

314
Cfr. FARIA, Paulo Ramos de, LOUREIRO, Ana Luísa, “Primeiras Notas ao Novo Código de Processo Civil”, 2014, p. 465 – “A
forma de processo sumário é caracterizada pela realização da penhora previamente ao oferecimento do contraditório ao executado, ao
contrário do previsto para a forma ordinária. Comporta, por isso, um risco maior de agressão infundada ao património do putativo
devedor.”
315
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, e GONÇALVES, Marco Carvalho, “Da possibilidade de aplicação de medidas cautelares à
executoriedade do acordo de mediação em Portugal: análise em contexto familiar”, 2016, p. 39 – “Parece-nos, por isso, que o legislador
devia submeter a execução baseada em acordo de mediação ao processo executivo ordinário (aditando, para o efeito, uma nova alínea ao
art. 550.º, n.º 3, do CPC), garantindo-se, por conseguinte, a verificação judicial, prévia à adoção de medidas coercivas, da conformidade
das estipulações pactuadas pelos mediados. Desta forma, o processo executivo português permitiria um controlo de validade dos
contratos mediados (…) Trata-se de uma solução que reforçaria o papel e a eficácia da mediação na resolução de conflitos jurídicos.”
316
No processo ordinário, o processo inicia-se com citação do executado, nos termos do previsto no artigo 726º n.º 6 do CPC.
317
No processo sumário, o processo inicia-se com diligências prévias à penhora pelo agente de execução e subsequentemente com a
penhora, sendo apenas citado o executado no ato da penhora, nos termos do previsto nos artigos 855º n.º 3 e 856º n.º 1 do CPC.

57
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

No caso dos tribunais arbitrais e dos julgados de paz esta independência assenta numa definição destes
como jurisdições diferentes e independentes dos tribunais judiciais, com a opção pelos tribunais arbitrais e os
julgados de paz a implicar o afastamento do acesso aos tribunais judiciais.
Já no caso da mediação esta independência assenta na voluntariedade das partes em pretender que o
seu litígio seja resolvido através desta, isto é, apenas as partes podem afastar, voluntariamente, o acesso aos
tribunais judiciais e/ou aos outros meios de RAL.

Quanto à organização dos meios de RAL, como vimos, a função dos árbitros, juízes de paz e dos
mediadores assume um papel fundamental no sucesso destes meios.
Sendo que, no que diz respeito à arbitragem e aos julgados de paz, como se pôde constatar os árbitros
e os juízes de paz assumem muitas semelhanças com os juízes dos tribunais judiciais, cabendo a estes o poder
de decidir o litígio.
Já na mediação, o mediador é figura completamente diferente, não tendo este qualquer poder
impositivo perante as partes, trata-se de um mero facilitador, tentando mediar o conflito, por forma a que estas
cheguem a uma solução para o seu litígio.
No entanto mesmo o mediador tem semelhanças com o juiz, na medida em que o papel do mediador
e o do juiz enquanto conciliador, no âmbito da conciliação judicial, não é muito diferente, pois ambos procuram
que as partes cheguem a um acordo, a grande diferença assenta, como vimos, na possibilidade que o juiz tem
de propor uma solução e o mediador não.
Ou seja, em conclusão, em sentido amplo, o papel quer do árbitro, quer do juiz de paz e mesmo do
mediador, não é, assim, tão diferente do papel do juiz do tribunal judicial, sendo que, no entanto, devido às
caraterísticas próprias dos diversos meios de RAL, em sentido estrito, estes serão consideravelmente diferentes.

No que diz respeito às partes, a questão principal que se levanta prende-se, como vimos, com o
patrocínio judiciário.
Sendo que, no âmbito do patrocínio judiciário pode-se constatar uma regra transversal a todos os
meios de RAL que é possibilidade das partes se poderem fazer acompanhar por advogado, no entanto é curioso
verificar que apenas os julgados de paz preveem a obrigatoriedade de presença das partes.
Posto isto, a verdade é que, apesar dos diferentes tratamentos dados pelos diversos meios, não existe
propriamente uma problemática com os tribunais relativamente a esta matéria, mas sim com os agentes
judiciais em geral, pois o papel dos agentes judiciais, em especial dos advogados, é fundamental para que os
meios de RAL se consigam implementar no ordenamento jurídico interno.
Sendo os advogados os principais agentes judiciais, estes encontram-se numa posição privilegiada
junto das partes, aconselhando estas no melhor caminho a seguir para a resolução dos seus litígios.318
No entanto, a grande parte dos advogados mostram alguma relutância em relação aos meios de RAL,
muito devido à falta de conhecimento e familiaridade com estes meios, para além do receio de diminuição das

318
Cfr. SIMAC, Srdan, “Attorneys and Mediation”, 2009, p. 13, referindo-se à mediação – “Attorneys play an extremely important part
in encouraging their clients to choose mediation.”

58
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

suas receitas.319 Mas então, porque razão deverão os advogados recomendar estes meios de RAL aos seus
clientes? A resposta será porque é no melhor interesse dos seus clientes. 320
Deste modo, caberá aos meios de RAL e ao Estado promover estes meios junto dos advogados e
outros agentes judiciais por forma a incentivar a divulgação por parte destes aos seus clientes. Pois só a adesão
dos advogados aos meios de RAL é que permitirá que estes se implementem verdadeiramente no nosso
ordenamento jurídico.321

No âmbito do processo nos meios de RAL encontrámos uma grande influência e participação dos
tribunais neste.
No que diz respeito à arbitragem, como vimos, apesar de se tratar de um meio de RAL privado e
independente, ainda assim no seu processo arbitral verifica-se uma clara dependência em relação aos tribunais
estaduais, uma vez que são variadíssimas as circunstâncias em que pode ser requerida a intervenção dos
tribunais estaduais. No entanto, a verdade é que, quanto maior for a intervenção dos tribunais estaduais, menor
será a efetividade desta enquanto meio de RAL. 322
Também vistas as principais características dos julgados de paz assalta-nos logo uma conclusão, que
devido às semelhanças que o processo nos julgados de paz encontra com o processo judicial, 323 e às
características idênticas e de dependência a que está sujeita a decisão dos juízes de paz, até que ponto não
deverão os julgados de paz ser integrados no próprio processo judicial, por forma a alargar o âmbito territorial
destes e permitir uma maior proximidade dos cidadãos com a justiça.
Já em relação ao procedimento de mediação pode-se verificar que este é completamente diferente do
processo judicial e na mesma medida do processo arbitral e do processo nos julgados de paz. No entanto, o
mesmo não significa que a mediação não tenha relação com o processo judicial, pois, como vimos, querendo
as partes podem suspender o processo judicial avançando para o procedimento de mediação, e havendo acordo
de mediação o mesmo pode ser remetido ao tribunal judicial para homologação. 324
Para além do que, no âmbito do processo de divórcio já existe a obrigação de dar a conhecer a
mediação familiar, sendo este um ótimo indicador da lei no sentido de recurso à mediação, havendo mesmo
quem defenda uma sessão de pré-mediação obrigatória no processo judicial, por forma a promover a resolução
de litígios através deste meio auto-compositivo.

319
Cfr. idem, ibidem, p. 14, referindo-se à mediação – “Why is this so? The reasons for attorneys’ reluctance to come to grips with
mediation can be found in their lack of familiarity, or insufficient familiarity, with mediation as a method for resolving disputes. There is
also their (unjustified) fear of diminished earnings if mediation were to become a more frequent means of settling disputes.”
320
Cfr. idem, ibidem, p. 14, referindo-se à mediação – “Therefore, the answer to the questions: Why should attorneys follow this course?
or Why is mediation good for attorneys?, is quite simply: “Because it is in the best interest of their clients!”.”
321
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Mediação e Processo Civil”, p. 8, referindo-se à mediação, podendo, no entanto, este
entendimento também se estender aos outros meios de RAL – “É importante ganhar os advogados para a causa da mediação. Quando se
conseguir essa adesão (e só então) a mediação terá condições para ser bem sucedida em Portugal. O cidadão comum não sabe o que é
mediação. Se tiver um problema, recorrerá a um advogado, não a um mediador. O advogado é, por isso, a pessoa ideal para aconselhar o
método mais adequado ao caso concreto.”
322
Cfr. BARROCAS, Manuel Pereira, “Manual de Arbitragem”, 2013, p. 391 – “Paradoxalmente, porém, quanto maior for a intervenção
dos tribunais estaduais na arbitragem, para além do necessário, menor eficácia terá a arbitragem.”
323
Ainda que reconhecidamente com uma clara desburocratização e desjudicialização de procedimentos.
324
Como veremos mais à frente.

59
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Em matéria de decisão e recurso, como vimos, existe uma equiparação da sentença arbitral e da
sentença dos julgados de paz à sentença dos tribunais de 1ª instância, sendo este um fator importante de
credibilização destes meios de RAL.
No que diz respeito ao processo arbitral, em regra, este não admite o recurso da decisão arbitral,
estando inerente aos tribunais arbitrais o princípio da irrecorribilidade da sentença arbitral. 325
Se por um lado se percebe o sentido deste princípio, pois tendo a arbitragem como característica
principal a sua celeridade processual, a possibilidade de recurso das suas decisões poderá implicar uma
morosidade que vai contra esta característica, por outro, esta definitividade da sentença arbitral, pode pôr em
causa os direitos das partes, ficando assim estas restringidas ao pedido de impugnação da sentença arbitral, que
como vimos tem critérios muito restritos de invocação.
Para além do que, quando seja admitido pelas partes o recurso das decisões arbitrais, este será sempre
para tribunais estaduais, pondo, a nosso ver, esta opção do legislador, em causa a legitimidade e dignidade dos
tribunais arbitrais, enquanto meios efetivos de resolução de litígios.
Defendemos assim que a melhor opção seria atribuir força em matéria de recurso das suas decisões
aos tribunais arbitrais, criando assim uma segunda instância em matéria arbitral.
Relativamente aos julgados de paz, tal como vimos, tratando-se estes de uma jurisdição diferente da
jurisdição judicial, levanta-se uma questão: até que ponto não se deveria pensar na criação de uma 2ª instância
para recurso das suas decisões, dando competência recursória à jurisdição dos julgados de paz, 326 ou tal como
já referimos anteriormente, e defendemos, incluir os julgados de paz no âmbito da jurisdição dos tribunais
judiciais.
Já em relação à mediação a questão que se coloca em matéria de validade do acordo de mediação é de
perceber até que ponto, não havendo homologação judicial se garantem os direitos das partes e o cumprimento
das regras de direito, tendo em conta que estas podem não se encontrar representadas por um mandatário, e
que o mediador poderá não ter formação em Direito.

Já no que diz respeito à execução, importa em primeiro lugar referir que esta, independentemente do
título executivo se tratar de uma sentença arbitral, de uma sentença dos julgados de paz ou de um acordo de
mediação, apenas terá lugar nos tribunais.
No que diz respeito à arbitragem, como vimos, a opção por esta não deverá pôr em causa o direito das
partes à execução da sentença arbitral, sendo que, no entanto, tal opção não significa atribuir aos tribunais
arbitrais competência executiva, pois, apesar de estes serem tribunais constitucionalmente previstos, tendo
poderes jurisdicionais, o mesmo não significa que tenham também poderes coercivos, que por regra são
atribuídos a instâncias estaduais, nomeadamente em matéria executiva é atribuída aos tribunais judiciais e a
agentes de execução. Assim, considerámos que a opção do legislador de não atribuir força executiva aos

325
Previsto no artigo 39º n.º 4 da LAV.
326
Como defende FERREIRA, Cardona J.O., “Economia e Justiça”, pp. 17 e 18 – “Penso que os Julgados de Paz que não são um
subsistema deveriam ser dotados, também, de competência executiva (pelo menos das suas próprias decisões) e recursória (…) Creio
que, embora gradativamente, lá chegaremos.”

60
LOPES, J. DOMINGOS T. IV. OS MEIOS DE RAL E OS TRIBUNAIS

tribunais arbitrais é a mais correta, na medida em que, sendo estes organismos privados, não deverão ser
dotados de força pública coerciva.
Já no que diz respeito aos julgados de paz, levanta-se a mesma questão, isto é, deverão estes ser
dotados de competência executiva?
Tal como defendemos em relação aos tribunais arbitrais, consideramos que os julgados de paz não
deverão ter competência executiva, sendo que, tal como estes, se encontram desprovidos de força pública
coerciva.
Já relativamente ao acordo de mediação como se pode constatar a questão que se levanta é referente
à executoriedade deste, sendo que em matéria de oposição à execução torna-se fundamental o tipo de acordo
obtido, isto é, acordo com executoriedade própria ou acordo objeto de homologação judicial, para perceber
quais os fundamentos que o executado poderá utilizar. A opção pela homologação ou não do acordo terá, assim,
consequências importantes em matéria de execução.

61
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

VI. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

1. AS ESTATÍSTICAS DOS MEIOS DE RAL

Os meios de RAL têm assumido, ao longo das últimas décadas, um papel cada vez mais importante, 327
sendo que para perceber qual poderá/deverá ser o seu papel no futuro é necessário em primeiro lugar perceber
a sua efetividade em matéria de números.
Assim, em termos estatísticos podemos verificar a evolução que os meios de RAL tiveram ao longo
dos anos, e com isso perceber a sua efetividade como meios de resolução de litígios.
No que diz respeito aos tribunais arbitrais as bases estatísticas que se possam apresentar serão sempre
incompletas, uma vez que, tendo os tribunais arbitrais como uma das suas principais características a
confidencialidade, para além do que, no âmbito da arbitragem ad-hoc a arbitragem realiza-se sem a égide de
uma instituição,328 torna-se quase impossível quantificar o recurso à arbitragem para a resolução de litígios.
Ainda assim, a DGPJ apresenta os seguintes dados estatísticos referentes à arbitragem realizada em
Portugal em matéria cível:

Tabela 5 - Estatísticas da Arbitragem em Matéria Cível329

Anos Processos Entrados Processos Findos Processos Pendentes


1996 3.766 3.914 346
1997 4.842 4.823 419
1998 5.364 5.408 387
1999 5.736 5.562 589
2000 6.672 6.384 877
2001 6.908 6.962 826
2002 7.412 6.994 1.224
2003 7.834 7.639 1.214
2004 9.383 9.148 1.493
2005 10.395 10.462 1.468
2006 8.550 8.462 1.472

327
Cfr. SCHMIDT, Jan Peter, “Mediation in Portugal: Growing Up in a Sheltered Home” in “Mediation: Principles and Regulation in
Comparative Perspective”, 2013, p. 810 – “Mechanisms of alternative dispute resolution have become increasingly important in Portugal
over the last fifteen years and continue to be developed.”
328
Podendo a mesma ser realizada apenas com o conhecimento das partes
329
Tabela elaborada com dados obtidos na página da DGPJ na internet, em http://www.siej.dgpj.mj.pt, acedido em 10/08/2017. Referir
ainda que os dados obtidos apenas se referem aos seguintes centros de arbitragem institucionalizada: o CIAB - Tribunal Arbitral do
Consumo; o Centro de Arbitragem da Ordem dos Advogados; o Centro de Arbitragem de Conflitos do Consumo de Coimbra; o Centro
de Arbitragem de Conflitos do Consumo de Lisboa; o Centro de Arbitragem de Conflitos do Consumo do Vale do Ave; o Centro de
Arbitragem de Litígios de Reparação Automóvel; o Centro de Arbitragem de Litígios Laborais Desportivos; o Centro de Arbitragem de
Loulé; o Centro de Informação de Consumo e Arbitragem do Porto; o Serviço Regional de Conciliação e Arbitragem do Trabalho; o
Centro de Arbitragem da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas – AICCOPN; o Centro de Arbitragem de
Conflitos de Consumo do Algarve – CIMAA; a Federação Portuguesa de Basquetebol; o Centro de Informação, Mediação e Arbitragem
de Seguros Automóveis; e a PROJURIS – Centro de Estudos Processuais Civis e Jurisdição.

63
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

2007 8.709 9.076 1.090


2008 9.185 8.808 1.467
2009 9.401 9.540 1.328
2010 9.036 8.443 1.921
2011 9.305 9.173 2.053
2012 9.473 9.506 2.020
2013 10.088 9.784 2.324
2014 11.020 10.638 2.706
2015 11.021 11.026 2.701
2016 12.759 12.422 3.041

Pelos dados apresentados pode-se constatar que a arbitragem, com alguns altos e baixos, demonstra
um crescimento desde 1996 até 2016, atingindo mesmo em 2016 um máximo de processos entrados dos últimos
vinte anos. Ainda referir que, em termos globais, entre 1996 e 2015, entraram nos tribunais arbitrais 164.079
processos.
Já no âmbito administrativo e fiscal a estatística será mais concreta, pois esta como vimos apenas
ocorre no âmbito do CAAD, apresentando os seguintes dados estatísticos:

Tabela 6 - Estatísticas do CAAD330

Arbitragem Administrativa331 Arbitragem Tributária332


Anos
Processos Entrados Processos Findos Processos Entrados
2009 43 5 -
2010 53 89 -
2011 70 60 26
2012 84 72 150
2013 66 69 311
2014 104 51 850
2015 101 155 789
2016 82 54 772
2017 - - 78

No que diz respeito ao CAAD, apesar dos poucos anos em que se encontra em funcionamento, pode-
se constatar uma tendência de crescimento, sendo que, em matéria administrativa desde a sua criação até 15 de
novembro de 2016 apenas entraram no CAAD um total de 603 processos, já em matéria tributária até 23 de
janeiro de 2017 tinham entrado um total de 2.976 processos.

330
A tabela apresentada tem como base dados fornecidos pelo CAAD.
331
A arbitragem em matéria administrativa surgiu em 2009 com a criação do CAAD, sendo que tabela apresentada foi elaborada com
dados até 15 de novembro de 2016.
332
A arbitragem em matéria tributária surgiu em 2011, sendo que tabela apresentada foi elaborada com dados até 23 de janeiro de 2017.

64
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Pelos dados apresentados nas tabelas 5 e 6, tanto em matéria cível como em matéria administrativa e
tributária pode-se constatar a evolução que a arbitragem tem tido, nomeadamente no que diz respeito ao
crescimento da procura deste meio de RAL para a resolução de litígios nas diversas áreas.
Para mostrar esta evolução da arbitragem nos diversos âmbitos, em seguida apresentam-se os
seguintes gráficos que demonstram esta tendência de crescimento.

Figura 1 – Evolução da Arbitragem Cível

Figura 2 - Evolução da Arbitragem Administrativa

Figura 3 – Evolução da Arbitragem Tributária

65
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Já no que diz respeito aos julgados de paz, e tendo em conta que os 25 julgados de paz atualmente
existentes não foram criados todos ao mesmo tempo, 333 apresenta-se a seguinte tabela que mostra bem a
evolução que estes tiveram ao longo dos anos:

Tabela 7 - Estatísticas dos Julgados de Paz334

Processos Findos
Findos por Findos
Processos Processos Findos Processos
Ano Julgamento por
Entrados Analisados por Totais em Curso
Decisão Outro
Mediação Transação
do Juiz Motivo

2005 3.541 4.155 898 594 894 761 3.147 1.008


2006 5.061 6.040 1.143 890 1.365 1.224 4.622 1.418
2007 6.003 7.463 1.438 893 1.682 1.241 5.254 2.209
2008 6.453 8.663 1.460 885 1.693 1.807 5.845 2.818
2009 7.160 9.977 1.644 1.163 2.512 2.145 7.464 2.513
2010 8.143 10.596 1.853 1.346 2.453 2.109 7.761 2.835
2011 10.025 12.922 2.070 2.021 2.923 2.633 9.647 3.275
2012 11.297 14.539 2.167 2.055 3.306 3.443 10.971 3.568
2013 10.617 14.071 2.006 1.381 3.227 3.769 10.383 3.688
2014 10.461 14.089 1.664 1.559 3.048 3.437 9.708 4.381
2015 9.317 13.575 1.419 1.509 2.982 3.239 9.149 4.426
2016 8.104 12.804 1.241 1.367 2.905 2.949 8.462 4.342

Pelos dados apresentados na tabela 7, pode-se constatar que os julgados de paz tiveram um
crescimento desde 2005 até 2012, sendo que desde então até ao final de 2016 verifica-se uma tendência de
redução anual. Em seguida apresenta-se o seguinte gráfico que demonstra estas tendências:

333
Em 2002 surgiram os primeiros em Lisboa, Oliveira do Bairro, Seixal e Vila Nova de Gaia; em 2004 surgiram em Miranda do Corvo,
Terras do Bouro, Vila Nova de Poiares, Tarouca, Santa Maria de Penaguião, Cantanhede, Porto e Aguiar da Beira/Trancoso/Vila Nova
de Paiva; em 2006 surgiram em Sintra, Trofa, Coimbra e Santa Maria da Feira; em 2008 surgiram em Odivelas, Palmela/Setúbal, e
Aljustrel/Castro Verde; em 2009 surgiram em Proença-a-Nova/Sertã/Vila de Rei, Óbidos, Carregal do Sal e Funchal; e em 2010
surgiram em Belmonte e Cascais.
Não tendo implicações para análise estatística apresentada, achamos importante referir que, entretanto, foi aprovado o Decreto-Lei n.º
41/2017, de 5 de abril, que aprovou a criação do Julgados de Paz do Oeste e com isso a extinção do Julgado de Paz do Agrupamento dos
Concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha, Nazaré e Óbidos.
334
Tabela elaborada com dados obtidos na página da DGPJ na internet, em http://www.siej.dgpj.mj.pt, acedido em 10/08/2017.

66
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Figura 4 – Evolução dos Julgados de Paz

Ainda de referir que em termos globais no final de 2016, nos julgados de paz, tinham sido distribuídos
99.881 processos e findos 95.540, sendo que apenas 951 dos processos entrados nos julgados de paz deram
origem a recursos, numa percentagem de 0,95%.335
Já no que diz respeito à mediação, tal como a arbitragem, será difícil apresentar dados concretos que
mostrem a evolução desta, sendo que, ainda assim, se podem retirar algumas conclusões estatísticas em relação
a esta.
No âmbito dos julgados de paz, pelos dados apresentados na tabela 7, em relação ao número de
processos findos por mediação verifica-se um crescimento desde 2005 até 2012, desde então até ao final de
2015 estes apresentam uma redução. O gráfico seguinte ilustra esta evolução da mediação em comparação com
as outras formas de conclusão dos processos nos julgados de paz:

Figura 5 – Evolução das Formas de Conclusão dos Processos nos Julgados de Paz

335
Recolha e análise realizada com base em dados obtidos na página do Conselho dos Julgados de Paz na internet, em
http://www.conselhodosjulgadosdepaz.com.pt/ficheiros/Estatisticas/2016/CJP_2016-12.pdf, acedido em 10/08/2017.

67
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Ainda de referir que, no âmbito dos julgados de paz, em termos globais, até ao final de 2016, dos
99.881 processos distribuídos, 20.103 tinham sido findos por mediação, numa percentagem de 20,13%. 336
Já no âmbito da arbitragem, será mais difícil encontrar estatísticas referentes à mediação, sendo que,
no entanto, no CAAD em matéria administrativa, até 15 de novembro de 2016, dos 505 processos findos,
apenas 27 foram resolvidos através da mediação, numa percentagem de 4,9%. 337
Para perceber a implementação e efetividade dos meios de RAL será ainda importante comparar estes
com os tribunais. Nesse sentido, apresenta-se a tabela seguinte relativa à jurisdição cível dos tribunais judiciais
de 1ª Instância, no âmbito das ações declarativas.

Tabela 8 - Estatística dos Tribunais Judiciais de 1ª Instância338

Anos Processos Entrados Processos Findos Processos Pendentes


1993 132.662 109.504 125.027
1994 186.474 150.367 154.129
1995 165.458 127.561 191.519
1996 185.818 141.279 234.453
1997 233.886 152.305 319.857
1998 186.320 141.032 365.232
1999 186.135 160.951 389.548
2000 164.877 175.052 377.422
2001 133.244 159.890 350.084
2002 139.481 167.243 319.495
2003 144.451 178.785 283.478
2004 127.963 138.319 272.933
2005 114.197 133.997 250.052
2006 100.047 143.170 187.497
2007 102.193 137.124 154.626
2008 102.540 110.540 146.626
2009 116.887 125.788 137.725
2010 84.588 98.651 123.662
2011 84.266 95.964 111.964
2012 89.736 97.125 104.575
2013 62.356 78.518 88.413
2014 149.434 150.782 87.065
2015 61.416 81.949 66.532
2016 54.431 66.091 54.872

336
Recolha e análise realizada com base em dados obtidos na página do Conselho dos Julgados de Paz na internet, em
http://www.conselhodosjulgadosdepaz.com.pt/ficheiros/Estatisticas/2016/CJP_2016-12.pdf, acedido em 10/08/2017.
337
Recolha e análise realizada com base em dados fornecidos pelo CAAD.
338
Tabela elaborada com dados obtidos na página da DGPJ na internet, em http://www.siej.dgpj.mj.pt, acedido em 10/08/2017.

68
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Também poderá ser importante comparar os meios de RAL com outro meio extrajudicial de resolução
de litígio, muito utilizado no âmbito da justiça cível, como é o caso do procedimento especial de injunção, para
isso, apresenta-se a tabela seguinte que mostra a adesão a este meio de resolução extrajudicial de litígios ao
longo dos anos.

Tabela 9 - Estatísticas do Procedimento Especial de Injunção339

Anos Processos Entrados Processos Findos Processos Pendentes


1998 - - 7.643
1999 118.173 104.380 20.636
2000 146.802 145.604 21.774
2001 190.511 178.210 35.567
2002 232.564 225.489 42.674
2003 293.958 271.395 65.401
2004 298.382 269.666 94.626
2005 252.019 224.040 125.440
2006 283.406 234.712 175.822
2007 285.021 269.144 191.699
2008 498.153 498.923 190.929
2009 441.901 536.877 95.953
2010 427.134 431.758 91.329
2011 317.817 354.854 54.292
2012 209.882 228.727 35.447
2013 185.024 182.341 38.130
2014 206.980 196.774 48.336
2015 168.692 177.004 40.024
2016 137.968 147.689 30.303

Como se pode constatar, se compararmos no âmbito da justiça cível os meios de RAL com os tribunais
judiciais de 1ª instância e com o procedimento especial de injunção, vemos que os números que estes
apresentam já têm algum significado.
A titulo de exemplo, em 2016, enquanto nos tribunais de 1ª instância e no balcão nacional de injunções
entraram 54.431 e 137.968 processos, respetivamente, já nos julgados de paz e no âmbito da arbitragem cível
apenas tinham entrado 8.104 e 12.759 processos, respetivamente, o que mostra que apesar de estes já
apresentarem uns números consideráveis ainda têm uma grande margem de crescimento e evolução para se
imporem no nosso ordenamento jurídico.
Ainda assim, e apesar de apresentarem números mais reduzidos, em seguida apresentamos uma tabela
que demonstra a eficiência destes enquanto meios de resolução litígios efetivos.

339
Tabela elaborada com dados obtidos na página da DGPJ na internet, em http://www.siej.dgpj.mj.pt, acedido em 10/08/2017.

69
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Tabela 10 - Comparativo de Taxas de Eficiência340

Tribunais Procedimento
Tribunais Julgados de
Anos Judiciais de Especial de
Arbitrais Paz
1ª Instância Injunção
1994 48,27% - - -
1995 39,91% - - -
1996 37,44% - - -
1997 32,52% 92,96% - -
1998 27,86% 93,52% - -
1999 29,19% 90,84% - 82,96%
2000 31,57% 87,92% - 86,96%
2001 31,31% 89,43% - 83,95%
2002 34,16% 84,90% - 84,10%
2003 38,54% 84,33% - 80,62%
2004 33,62% 86,33% - 74,13%
2005 34,61% 88,00% - 64,63%
2006 40,89% 84,43% 76,16% 57,41%
2007 47,33% 89,19% 70,80% 58,40%
2008 42,98% 85,79% 67,48% 72,32%
2009 47,74% 87,83% 74,80% 84,84%
2010 44,37% 81,53% 72,83% 82,54%
2011 46,15% 81,76% 75,02% 86,73%
2012 48,15% 82,60% 75,29% 86,58%
2013 47,04% 80,88% 73,20% 82,71%
2014 63,39% 79,77% 68,61% 80,28%
2015 55,19% 80,36% 66,79% 81,56%
2016 54,64% - - 82,98%

Para além da tabela supra apresentamos o gráfico seguinte que ilustra a evolução comparativa das
taxas de eficiência dos diferentes meios de resolução de litígios.

340
Tabela elaborada com base numa fórmula de cálculo da taxa de eficiência empregue pela DGPJ aos tribunais judiciais: Taxa de
Eficiência = N.º processos findos/(N.º processos pendentes no início do período + N.º processos entrados) x 100; este indicador de
eficiência pretende aferir a capacidade de resposta de um meio de resolução de litígios face à procura enfrentada.

70
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Figura 6 – Evolução Comparativa das Taxas de Eficiência

Como podemos verificar os meios de RAL, nomeadamente a arbitragem e os julgados de paz,


apresentam, a par do procedimento especial de injunção, taxas de eficiência superiores aos tribunais judiciais
de 1ª instância. Se considerarmos uma taxa de eficiência média341 dos últimos dez anos, verificámos que nos
tribunais esta é apenas de 49,70%, enquanto nos tribunais arbitrais e nos julgados de paz é de 82,95% e 71,24%,
respetivamente. Ainda referir que relativamente ao procedimento especial de injunção a taxa de eficiência
média é de 79,89%.

2. A SOLUÇÃO DO TRIBUNAL MULTIPORTAS

“Se um paciente está doente, o médico deverá sempre operá-lo? É claro que
não. O médico e o paciente devem discutir todas as soluções possíveis. De igual modo,
no campo jurídico – para cada enfermidade jurídica, uma variedade de opções necessita
de ser discutida.”342

Será nesta ideia de encontrar a melhor solução para cada litígio que assenta o tribunal multiportas,
sendo que este pode definir-se como um organismo central, no qual estejam englobados os diferentes meios de
resolução de litígios, nomeadamente os tribunais estaduais e ainda os meios de RAL, tendo este como objetivo
direcionar as partes para o meio mais adequado ao seu litígio. 343

341
Taxa de eficiência média calculada com base na seguinte fórmula de cálculo: Taxa de Eficiência Média = Soma das Taxas de
Eficiência / N.º de anos a considerar.
342
Numa tradução da referência de SIMONSON, Terry apud RAY, Larry, e CLARE, Anne L., “The Multi-Door Courthouse Idea:
Building the Courthouse of the Future … Today”, 1985, p. 7 – “If a patient is ill, does the doctor always operate? Of course not. The
doctor and patient discuss all possible solutions. Likewise with the legal field - for each legal ailment, a variety of options need to be
discussed.”
343
Cfr. AZZATO, Lisa, “The Multi-door Courthouse Approach: A Look Across the Threshold”, 2006, p. 1 – “What is a multi-door
courthouse? No, it is not a courthouse with many doors, but is instead a means of directing cases filed in court to various “dispute
resolution doors” or options. Parties are referred to different dispute resolution options in an effort to select that option which best suit
the needs of their particular dispute.”

71
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

O tribunal multiportas assentará, nesta medida, numa figura supra meios de resolução de litígios, que
coordenará à priori os processos que lhe sejam presentes, aconselhando e encaminhado as partes para o meio
mais adequado à resolução do seu litígio.344 Deverá ser tido em conta em primeiro lugar as características de
cada meio de resolução de litígios por forma a se encontrar aquele que, à priori, melhor se enquadrará ao litigio
apresentado.345
Para isso, será necessário que o tribunal multiportas apresente uma grande coordenação de meios, que
permita a serviços competentes e com capacidades sensitivas fazer uma triagem dos processos apresentados e
encaminhar estes para o meio mais adequado.346

A criação deste tribunal multiportas terá vários objetivos:

• Reunir “debaixo do mesmo teto” diversas formas de resolução de litígios, agrupando-as;


• Apresentar aos cidadãos as diferentes formas de resolverem os seus litígios;
• Encaminhar as partes para o meio mais indicado para a resolução do seu litígio; e consequentemente
• Promover os meios de RAL; e
• Permitir a libertação dos tribunais estaduais para questões mais complexas. 347

Esta figura, no nosso ordenamento jurídico, é uma figura ficcionada, pelo que a figura mais próxima
desta serão os julgados de paz,348 tendo sido estes criados com base no modelo dos tribunais multiportas. 349

344
Cfr. VARGAS, Lúcia Dias, “Julgados de Paz e Mediação – Uma nova face da Justiça”, 2006, pp. 87 e 88 – “O Tribunal multiportas é
um modelo de oferta de justiça que permite avaliar o método mais adequado para cada tipo de conflitos, orientando nesse sentido e
organizando os processos em função das especificidades dos respectivos litígios.”
345
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “La Mediación”, pp. 69 e 70 – “Por las razones indicadas consideramos que la determinación del
método adecuado a cada conflicto deberá partir de las características de cada mecanismo (atendiendo también a su ámbito de aplicacíon
legal) relacionándolas con las especificidades del conflicto que se pretende resolver.” (…) “Por fin, consideramos que la teoría expuesta
es un buen camino para reflexionar e implementar en Europa un modelo adaptado de los «tribunales multipuertas» o, en la expresión
americana, Multidoor Courthouse,”
346
Cfr. RAY, Larry, e CLARE, Anne L., “The Multi-Door Courthouse Idea: Building the Courthouse of the Future … Today”, 1985, p.
9, fazendo uma referência ao modelo de tribunal multiportas proposto por SANDERS, Frank E. A. – “The ideal model proposed by
Professor Sander includes a center offering sophisticated and sensitive intake services along with an array of dispute resolution services
under one roof. A screening unit at the center would "diagnose" citizen disputes, then refer the disputants to the appropriate "door" for
handling the case Hence, the title "Multi-Door Courthouse.”
347
Cfr. FERREIRA, J. O. Cardona, “O Direito Fundamental à Justiça. Um Novo Paradigma de Justiça?”, 2009, p. 63 - “Os Tribunais
judiciais, para além de deverem ser simplificados na sua espartilhante tramita-ção (mormente na 1.ª instância, que é onde se julga mais
completa e dificilmente) devem ser, a meu ver, descongestionados, mormente, das questões juridicamente mais simples ou,
casuisticamente, emergen-tes de temática disponível, para que possam ter mais algum tempo para se dedicarem às questões juridi-
camente mais complexas. É nesta perspectiva que se justificam as intervenções próprias dos Julgados de Paz e dos Tribunais Arbitrais.”
348
Nos quais encontramos a presença de meios de auto-composição, como a mediação e a conciliação e um meio adjudicatório, a
decisão pelo juiz de paz.
349
Cfr. GOUVEIA, Mariana França, “Curso de Resolução Alternativa de Litígios”, 2015, p. 323 - “Os Julgados de Paz foram criados
com base no modelo dos tribunais multi-portas. A ideia seria ter um centro de resolução de litígios que teria num único lugar diversas
ofertas de justiça – judicial, justiça de proximidade, arbitragem, mediação, conciliação, negociação, entre outras – que poderiam ser
escolhidas pelos utentes à entrada. Haveria uma espécie de triagem do processo e aconselhamento, cabendo ao autor a opção de escolher
o meio mais adequado. Neste sistema ideal, a competência seria, entre todos, verdadeiramente alternativa, como se se tratassem de várias
especialidades da mesma ciência. Em função da patologia, as pessoas seriam encaminhadas para a respetiva especialidade.

72
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Acreditamos que a implementação deste modelo de tribunal multiportas no nosso ordenamento


jurídico, apesar de implicar uma alteração legislativa de fundo complexa, traria grandes benefícios para
resolver a crise da Justiça.

2.1. A ARBITRAGEM: UMA SOLUÇÃO ESPECIALIZADA

As características principais da arbitragem, que a diferenciam dos tribunais estaduais e que a tornam
num meio de resolução de litígios apetecível para as partes, especialmente no âmbito comercial, são, como
vimos, a sua confidencialidade e a possibilidade de as partes poderem livremente escolher os árbitros.
No que diz respeito à confidencialidade esta é uma característica que tem muita importância no âmbito
empresarial e comercial, pois pode ser importante para as empresas manterem os seus negócios sigilosos, e
consequentemente os litígios emergentes destes negócios.
Também a possibilidade de as partes poderem livremente escolher os árbitros que irão decidir o seu
litígio permite obter uma componente mais técnica na resolução deste. Esta será mesmo uma característica
especialmente importante quando se esteja perante matérias altamente especializadas. 350
A arbitragem deverá, assim, explorar áreas de componentes mais técnicas, em que o papel do “árbitro
especialista” possa fazer a diferença na obtenção de uma decisão mais justa.351
Esta especialização pode ser importante, por exemplo, em matérias como a construção civil,
urbanismo,352 ambiente,353 desporto,354 e ainda na área da medicina e farmacêutica. 355
Apesar de já existir o CAAD com competência em matéria administrativa cujo seu objeto visa a
resolução de litígios emergentes de contratos e de relações jurídicas de emprego público, nos termos do previsto
no artigo 2º do seu regulamento, ainda assim este, não dá resposta a algumas matérias administrativas previstas
no artigo 187º do CPTA, nomeadamente em matéria urbanística, sendo que só com o aprofundamento destas

Este sim seria o melhor modelo para os Julgados de Paz, aliás para a oferta pública de justiça, uma oferta diversificada e
integrada.”
350
Cfr. QUADROS, Fausto de, “A arbitragem em Direito Administrativo”, 2010, p. 105 – “As grandes vantagens da arbitragem sobre a
jurisdição obrigatória são a de que a primeira permite alcançar mais rapidamente uma decisão transitada em julgado (o que em países
como Portugal é muito relevante) e permite obter uma decisão mais acertada, sobretudo quando o litígio é muito complexo e toca em
matérias de Direito altamente especializadas, já que as partes podem escolher os árbitros em função da sua especialidade, enquanto que,
na jurisdição obrigatória, os juízes que vão decidir o litígio são escolhidos por sorteio.”
351
Cfr. CAUPERS, João, “A Arbitragem nos Litígios entre a Administração Pública e os Particulares”, 1999, p. 7 – “Num mundo de
complexidade crescente, o juiz administrativo tem de enfrentar conflitos cuja resolução exige conhecimentos técnicos cada vez mais
sofisticados. Ser um técnico do direito, mesmo que excepcional, já não basta. De uma certa maneira, pode dizer-se que o triunfo da via
arbitral representa o fracasso dos juízes e o êxito dos peritos.”
352
Em que especialistas como engenheiros e arquitetos podem ter mais conhecimento técnico, que poderá fazer a diferença na hora da
decisão do litígio.
353
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “A Arbitragem em Contexto Ambiental e Urbanístico”, 2013, pp. 76 e 77 – “Arriscaríamos dizer que
os litígios em matéria ambiental poderão representar um dos maiores filões no recurso à arbitragem, sendo vários os exemplos a
apontar.” Sobre esta matéria vide o seu referido artigo.
354
Existindo já, com competência nessa matéria, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), criado com a aprovação da Lei n.º 74/2013, de
6 de setembro. Sobre este assunto vide CAUPERS, João, “Arbitragem Administrativa nos Conflitos Desportivos?”, 2013.
355
Sendo estas áreas de natureza, iminentemente, cientifica a participação de médicos e cientistas especializados na área do litígio,
enquanto árbitros, pode favorecer uma melhor compreensão deste, e com isso permitir obter-se uma solução mais justa.

73
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

matérias ambientais e urbanísticas no âmbito do CAAD ou através da criação de um Centro de Arbitragem


Ambiental é que se poderá dar resposta a esta necessidade.356
Ainda assim, e apesar de ser um meio de resolução de litígios privado, a arbitragem deveria ser trazida
à colação aquando da escolha pelas partes do meio mais adequado para a resolução do seu litígio. Pelo que,
como já referimos, e defendemos a arbitragem deveria ser enquadrada no nosso ordenamento jurídico no
âmbito de tribunais multiportas, permitindo assim às partes tomarem contato e conhecimento com este meio
de resolução de litígios.

2.2. OS JULGADOS DE PAZ: O FUTURO DA PEQUENA LITIGÂNCIA

Com as recentes alterações ao CPC, o processo cível mudou, sendo um dos principais objetivos desta
mudança o aumento da celeridade processual, tal como enunciado na exposição de motivos do CPC:

“A celeridade processual, indispensável à legitimação dos tribunais perante a


comunidade e instrumento indispensável à realização de uma das fundamentais
dimensões do direito fundamental de acesso à justiça, passa necessariamente por uma
nova cultura judiciária, envolvendo todos os participantes no processo, para a qual
deverá contribuir decisivamente um novo modelo de processo civil, simples e flexível,
despojado de injustificados formalismos e floreados adjetivos, centrado decisivamente
na análise e resolução das questões essenciais ligadas ao mérito da causa. A
consagração de um modelo deste tipo contribuirá decisivamente para inviabilizar e
desvalorizar comportamentos processuais arcaicos, assentes na velha praxis de que as
formalidades devem prevalecer sobre a substância do litígio e dificultar, condicionar ou
distorcer a decisão de mérito.” 357

Com esta alteração o processo civil passou a assumir forma única, 358 para além do que, com as recentes
alterações à LOSJ, os tribunais de 1ª instância mudaram, determinando esta que os tribunais judiciais de
primeira instância são, em regra, os tribunais de comarca,359 desdobrando-se estes em juízos, que podem ser de
competência especializada, de competência genérica e de proximidade, 360 podendo ainda existir tribunais de
competência alargada,361 o que se traduziu numa tendência de desburocratização e celeridade do processo cível.
Mas será esta tendência de desburocratização do processo civil suficiente? Ou deverá seguir-se o
exemplo dos julgados de paz?

356
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, “A arbitragem em contexto ambiental e urbanístico”, 2013, p. 79 – “Propugnamos, assim, que este
ímpeto impulsionador da criação de centros de arbitragem administrativa não se esgote no CAAD e que, a breve trecho, possamos contar
com a iniciativa de entidades do sector ambiental na criação de um Centro de Arbitragem Ambiental, tanto mais que o próprio artigo
187º faz referência expressa ao urbanismo.”
357
Proposta de Lei n.º 113/XII
358
Nos termos do previsto no artigo 548º do CPC.
359
Nos termos do previsto no artigo 79º da LOSJ.
360
Nos termos do previsto no artigo 81º n.º 1 da LOSJ.
361
Nos termos do previsto no artigo 83º da LOSJ.

74
LOPES, J. DOMINGOS T. V. O FUTURO DOS MEIOS DE RAL

Como vimos, os julgados de paz pelas suas características, é sem dúvida o meio de RAL que mais se
assemelha com os tribunais, tendo, no entanto, uma natureza vincada de desjudicialização e desburocratização
assente na sua génese, que os diferencia destes.
Será suficiente aos julgados de paz este enquadramento como meio de RAL? 362
Com mais de 15 anos de experiência, 363 os julgados de paz demonstraram, como vimos, um
crescimento considerável até ao final de 2012, sendo que desde então a adesão a este meio tem vindo a reduzir,
coincidindo esta redução com as alterações ocorridas ao CPC. Levanta-se assim a questão de perceber se, com
as alterações ocorridas ao CPC, os julgados de paz perderam o seu espaço no ordenamento jurídico?
Parece-nos que não, sendo que, também nos parece que o próximo passo dos julgados de paz deverá
passar pelo seu alargamento e integração no sistema judicial, 364 dando-lhes, assim, a legitimação que estes
precisam enquanto meio de resolução de litígios credível e efetivo perante a sociedade civil, sendo este, um
passo fundamental para se conseguir a tão desejada celeridade processual e com isso a consequente pacificação
social.
Daí considerarmos que o futuro da pequena litigância365 deverá passar pela inclusão dos julgados de
paz no âmbito da justiça cível dos tribunais judiciais. 366

2.3. A MEDIAÇÃO: UMA SOLUÇÃO INTEGRADA

A mediação sendo o meio de RAL que mais se distingue dos tribunais, ainda assim, será aquele que
mais sentido fará inserir no âmbito do processo nos tribunais.
Tratando-se a mediação de um meio que procura a auto-composição do litígio, ao integrar esta num
meio adjudicatório, como os tribunais, possibilitar-se-á que o litígio possa ser resolvido de forma consensual.
Como vimos, no âmbito de um processo judicial a mediação pode ser suscitada, quer pelo juiz, quer
pelas partes, tendo como consequência o envio do processo para mediação e a suspensão da instância, 367 no
entanto, esta inclusão da mediação não é obrigatória, o que torna bastante difícil a sua implementação enquanto
meio complementar ao processo judicial.

362
Apesar de, como vimos, a jurisprudência e em grande parte a doutrina considerar já a competência dos julgados de paz como
exclusiva, o que teve um grande papel na sua implementação.
363
Apesar de o artigo 64º n.º 1 da LJP ainda prever estes como projetos experimentais, o que levanta a questão de perceber porque razão
o legislador ainda não abordou esta questão, isto apesar da alteração ocorrida em 2013, em que a Proposta de Lei n.º 115/XII que deu
origem à Lei 54/2013, de 31 de julho (alteração LJP), previa que “(…) A presente proposta de lei serve, igualmente, o propósito de
tornar definitivo o projeto que ainda vem sendo tratado pela lei como projeto experimental.”
364
Já em 2004 José Miguel Júdice e João Correia defendiam a expansão dos Julgados de Paz a todas as comarcas, cfr. JÚDICE, José
Miguel e CORREIA, João, “Acabar com a (des)organização judiciária”, 2004, p. 1 – “Aqui vão, pois apesar disso, algumas propostas: 1.
Criação urgente de Julgados de Paz em todas as comarcas do País, devendo nas com número de processos inferior nos últimos anos a um
mínimo a determinar, o Julgado de Paz resultar da transformação do Juízo que em tal Comarca existir, que assim será extinto.”
365
Quando referimos pequena litigância queremo-nos referir a questões de matéria cível de reduzido valor (até € 15 000), já que no
âmbito da LOSJ a figura que concorre com os julgados de paz são os juízos locais cíveis, tendo estes, no entanto, uma competência mais
alargada, nomeadamente em razão do valor (até € 50 000).
366
Aliás como projetado pelo Projecto de Lei n.º 83/VIII, que deu origem à Lei n.º 78/2001, de 13 de julho (LJP), que previa: “Tal como
afirmámos no preâmbulo do projecto de lei que altera a Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, por forma a consagrar os julgados de paz
na orgânica judiciária, a criação destes tribunais de 1ª Instância aparece hoje pressionada pela grave crise que a justiça atravessa.”
367
Nos termos do previsto no artigo 273º do CPC.

75
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

Já no âmbito do processo nos julgados de paz a situação será diferente, sendo que, as partes têm uma
sessão de pré-mediação incluída no seu processo,368 onde o mediador vai informá-las das condições desta.
Como se viu, em termos estatísticos no âmbito dos julgados de paz a percentagem de processos que
termina através da mediação ultrapassa os 20%, pelo que se implementada no processo judicial poderia
proporcionar às partes o contato com uma nova forma de resolver o seu litígio.
Também no âmbito da arbitragem, de referir que, em alguns centros de arbitragem institucionalizada
encontramos a implementação da mediação nos seus processos. 369
No âmbito dos processos judiciais, a única obrigação de informar as partes deste procedimento será,
como vimos, no âmbito do processo de divórcio, devendo a conservatória do registo civil ou o tribunal informar
os cônjuges sobre a existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar, no entanto esta informação
parece-nos ser superficial.
Para além do que, também o Estado, através da DGPJ370 tem tentado promover a mediação e outros
meios de RAL através de campanhas publicitárias.371
Apesar destas campanhas publicitárias chamarem a atenção para os meios de RAL, estas iniciativas
parecem-nos, manifestamente, insuficientes.
Por tudo o que foi exposto defendemos que para que a mediação se consiga implementar efetivamente
no nosso ordenamento jurídico, serão necessárias alterações legislativas significativas que permitam incluir
esta no âmbito do processo judicial. Nomeadamente, a inclusão de uma sessão de pré-mediação obrigatória
para as partes nos processos judiciais, que permitiria dar a conhecer aos cidadãos este meio de resolução de
litígios de forma generalizada e efetiva.372
Outra solução passaria, tal como referimos, pela instituição de tribunais multiportas no nosso
ordenamento jurídico, permitindo à priori às partes terem contato com este meio de resolução de litígios.
Ainda assim:

“A implementação da mediação é um caminho sem retorno, sendo essencial o


estabelecimento de pilares sólidos, que ofereçam aos cidadãos as garantias de justiça
imprescindíveis a todos os meios de resolução de conflitos.”373

368
A não ser que afastem essa possibilidade, nos termos do artigo 49º n.º 1 da LJP.
369
Por exemplo: o CIAB, nos termos do previsto no artigo 2º n.º 2 do seu regulamento; o CNIACC, nos termos do previsto no Capitulo I
do seu regulamento; o Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, nos termos do seu regulamento
de mediação; o CAAD no âmbito administrativo, nos termos do previsto no artigo 4º do seu regulamento.
370
A quem compete promover a criação e apoiar o funcionamento de centros de arbitragem, julgados de paz e sistemas de mediação, nos
termos do previsto no artigo 4º n.º 1 t) da Lei Orgânica da Direção-Geral da Política de Justiça.
371
Sendo que estas podem-se ver no sítio na internet da DGPJ, em http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/campanhas-sobre, acedido em
10/08/2017.
372
Cfr. CARVALHO, Jorge Morais, “A Consagração Legal da Mediação em Portugal”, 2011, p. 281 – “(…) Admite-se eventualmente
que a presença numa sessão de pré-mediação, destinada exclusivamente ao esclarecimento das partes, possa ser imposta, sem que os
princípios fundamentais da mediação sejam desvirtuados.”
373
Cfr. CEBOLA, Cátia Marques, e GONÇALVES, Marco Carvalho, “Da possibilidade de aplicação de medidas cautelares à
executoriedade do acordo de mediação em Portugal: análise em contexto familiar”, 2016, p. 42.

76
LOPES, J. DOMINGOS T. VI. CONCLUSÃO

VII. CONCLUSÃO

O nosso objetivo com este trabalho prendia-se com mostrar os meios de RAL sob um ponto de vista
diferente do abordado pela maioria da doutrina, isto é, não nos cingindo às bases concetuais que os distinguem
dos tribunais, mas mais às suas bases organizacionais, enquanto meios que fazem parte de uma organização
jurídica, e com isso abordar as suas relações com os tribunais.
Em primeiro lugar abordámos a criação dos meios de RAL, mas sob um ponto de vista das razões que
deram origem à sua criação, ao invés de um enquadramento histórico destes, por forma a demonstrar os
fundamentos que terão estado nas suas origens.
Sendo que, sobre esta questão algumas conclusões se podem retirar: A principal, e que está na origem
da criação dos meios de RAL, foi a incapacidade dos meios tradicionais, isto é, dos tribunais em darem resposta
às necessidades de uma sociedade cada vez mais complexa. A cultura de morosidade processual que se instalou
nos tribunais terá sido mesmo o ponto de rutura para o descrédito generalizado da sociedade nestes.
Mas mais do que responder a esta necessidade de celeridade processual, os meios de RAL nasceram
para dar resposta a outras necessidades da sociedade, nomeadamente a necessidade de desburocratização e
desjudicialização. As características e os princípios dos meios de RAL são o que esta na sua génese e que os
distinguem dos tribunais.
Esta alternatividade inerente aos meios de RAL tem, como vimos, vários significados, no entanto, em
qualquer desses sentidos não poderão estes ser vistos como fora do sistema jurídico, que terá sempre no seu
centro os tribunais.
Esta inter-relação entre os meios de RAL e os tribunais será mesmo essencial para a coesão do sistema,
pelo que, analisando os diversos meios de RAL ao seu nível organizacional, isto é, em todas as fases dos seus
procedimentos, podemos concluir pela influência e participação dos tribunais nestes.
É, no entanto, curioso verificar que atendendo às características únicas de cada meio de RAL, a
influência e presença dos tribunais é diferente, mas ainda assim, os tribunais agirão sempre enquanto última
salvaguarda de garantia dos direitos cidadãos.
Tendo em conta esta inter-relação existente, achamos necessário perceber até que ponto os meios de
RAL se conseguiram implementar no nosso ordenamento jurídico, e como vimos, ao nível estatístico a adesão
aos meios de RAL tem vindo a crescer, sendo que, no entanto, ainda têm um longo caminho a percorrer.
Esta análise estatística permitiu-nos também perceber os meios de RAL têm um papel a cumprir na
aplicação da Justiça, que não poderá estar apenas nas mãos dos Tribunais.
Então qual o caminho para os meios de RAL? O que deverá reservar-lhes o futuro?
A resposta a nosso ver só poderá ser uma: Um aprofundamento da integração dos meios de RAL no
sistema judicial.
Este aprofundamento poderá surgir de diversas formas é verdade, no entanto, parece-nos que seria
importante criar uma maior proximidade entre os diversos meios de resolução de litígios, que numa primeira
fase poderia passar por uma maior integração dos julgados de paz e da mediação no sistema judicial.
Os julgados de paz na medida em que estes competem, como vimos, em muitas matérias com os
tribunais judiciais estando, no entanto, mais preparados para litígios de proximidade e de valor reduzido, sendo
uma ótima solução para retirar processos de valor mais baixo, aquilo a que podemos chamar de pequena

77
OS MEIOS DE RAL: UMA ALTERNATIVA INTEGRADA

litigância, da esfera dos tribunais judiciais, contribuindo de forma ainda mais efetiva para a resolução da
morosidade processual.
Também a integração da mediação no processo nos tribunais judiciais seria de salutar, através da
obrigatoriedade de uma sessão de pré-mediação para questões que em regra se revelem adequadas a este
sistema, nomeadamente litígios de proximidade, poderia permitir que as pessoas tivessem contato com este
meio, e também com isso retirar alguns processos dos tribunais judiciais, à semelhança do que já acontece nos
julgados de paz.
Já numa segunda fase a integração dos meios de RAL no sistema judicial deveria, a nosso ver, passar
pela criação da figura do tribunal multiportas.
Sendo que este tribunal multiportas, enquanto meio supra organizacional, deverá à priori fazer um
rastreio dos litígios e encaminhar as partes para o meio mais adequado à resolução do seu litígio, ou seja, mais
do que reunir todos os meios de resolução de litígios no mesmo espaço, o papel que deverá competir a este
tribunal multiportas será o de encaminhar as pessoas para os meios existentes, procurando com isso fazer com
que apenas chegassem aos tribunais, aos tribunais arbitrais, aos julgados de paz e à mediação, os processos que
melhor se adequassem a essa forma de resolução de litígios, permitindo com isso, uma maior celeridade
processual, mas mais do que isso, prestar um melhor serviço aos cidadãos.
Estas reformas parecem-nos por demais necessárias por forma a combater este sentimento de
descrédito generalizado que se tem abatido sobre a nossa sociedade em relação às instituições a quem compete
administrar a Justiça.
Não se poderá continuar a tratar a “doença” que afeta a Justiça apenas com soluções “paliativas”, será
necessária uma verdadeira reforma institucional que permita finalmente encontrar uma “cura”. A coesão do
sistema jurídico a isso obriga.
Os meios de RAL enquanto meios de resolução de litígios não poderão continuar a ser vistos como
estranhos a um sistema judicial, até porque o princípio fundamental do nosso sistema jurídico é, como vimos,
a Justiça, cabendo ao Estado garanti-lo.

“I have a dream”374 - A procura do ideal de Justiça.

374
Eu tenho um sonho – expressão que ficou célebre por Martin Luther King no seu discurso realizado no dia 28 de agosto de 1963 nos
degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C., aqui aplicada noutro contexto, tal como referida por FERREIRA, J. O. Cardona,
em “O Direito Fundamental à Justiça. Um Novo Paradigma de Justiça?”, 2009, p. 71.

78
LOPES, J. DOMINGOS T. VII. BIBLIOGRAFIA

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